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VERSOS DA D.

PIEDADE

Eis alguns dos textos que a D. Piedade leu aquando do seu encontro com o
Clube do Património Local:

Eu tenho tanta saudade


Do meu tempo de criança,
Mesmo sem grande liberdade,
Havia mais amor e confiança.

Brincava-se muito mais


E eram outras brincadeiras,
Respeitando sempre meus pais
E morávamos junto às ribeiras.

Gostava de brincar à marreca


E saltar à corda também,
Nunca tive uma boneca,
Hoje todas as crianças têm.

Quando andava de baloiço,


Aquilo era demais!
Às vezes parecia um moço.
Ó vida que não volta atrás!

Só fiz a quarta classe


E passei bem todos os anos,
Cada dia que passasse,
Não queria ter enganos.

Passei também muita fome,


Hoje há muito mais fartura,
Para que a vida se transforme,
Temos que passar pela amargura.

Quando saía da escola,


Chegando a casa à tardinha,
Pegando na minha sacola,
Já ajudava a minha mãezinha.

Tempos que não voltam mais,


Mas ficaram as recordações,
Também dei na vida muitos “ais”
E fui feliz entre milhões.

O mundo deu tantas voltas


E a velhice vai chegando,
Quando faço quadras soltas
De tudo me vou lembrando.
Com esta nova geração Pois nunca estão parados
Já não há nenhum preceito, E fazer loucuras é a sua alegria.
Tudo é permitido e então
Estragam tudo ao seu jeito. Por mais que sejam ensinados,
Mas não querem dar ouvidos,
Pelas ruas da cidade Alguns são demais mimados
Destroem tudo por onde vão, E muito intrometidos.
Mas que triste mocidade,
Não sabem fazer o que é bom. São demais barulhentos
E não ouvem os adultos,
Com pensamentos desvairados, Por serem tão rabugentos,
Seja de noite ou de dia, Nunca serão muito cultos.

SER CRIANÇA

Ser criança é pensar livremente,


É não ter medo e estar sempre contente,
Ser criança, tudo lhe é permitido,
E, também, nada fica esquecido.

Ser criança é espalhar a amizade,


Quando quer fazer amigos de verdade.
Ser criança é pensar tudo num instante,
Mas, por vezes, anda sozinha e distante.

Ser criança é como barco navegando


Nas águas tranquilas de um rio,
É como a aventura de estar sonhando
Coisas que seus olhos nunca viu.

Ser criança é sentir sempre vontade


De compartilhar sua alegria,
É viver com a ternura que, na verdade,
Está no seu espírito de Magia.

Ser criança é estar sempre em festa,


Vivendo a esperança de um dia ser alguém,
É também saber rejeitar o que não presta
Para, um dia, ser feliz também.
Ó meu amor, meu amado, Só quero que me dês valor,
Minha vida dou por ti, Foi pr’a te amar que nasci.
Só quero estar ao teu lado,
Foi o que no Altar prometi. Toda a vida eu sonhei
Vir a ter um grande amor,
Não duvides do meu amor Mas nunca imaginei
Porque é puro e verdadeiro, Que fosse com tanto fervor.
Só por ti eu sofro a dor
Se alguém te é traiçoeiro. Esta paixão tão secreta
Que vive dentro de mim,
Ó meu amor, meu amor, Sou a tua predilecta
Eu gosto tanto de ti, Pr’a te amar até ao fim.

Amor que foste o primeiro Neste mês de Fevereiro,


E o único da minha vida, Fazemos cinquenta anos de casados,
Pois foi logo certeiro Para mim és um guerreiro
E não estou arrependida. E para sempre enamorados.

Eu vivo para te amar Romântica eternamente


E ter-te bem junto do peito, E enquanto eu viver,
Meu amor é como o mar Quero estar perdidamente
Que transborda do seu leito. Enamorada até morrer.

E deste tão grande amor Eu sinto dentro de mim


Nasceram dois filhos lindos, Minha alma a cantar,
Lindos sim! Como uma flor, Versos que não têm fim,
Tão queridos e bem-vindos. É tão bom saber amar.

Amar-te até ao fim da vida No dia dos namorados,


É todo o meu desejo, Vamos os corações unir,
Não sentir a despedida, Não fiquemos atrapalhados
Vem junto a mim, dá-me um beijo. E vamos poder sorrir.
VISITAR O ALGARVE

Vem ao Algarve! Vem ao Algarve!


Para veres o sol brilhar! Que dominam os corações!
Vem ao Algarve! Vem ao Algarve!
A esta terra de encantar! E levarás recordações!
Vem ao Algarve! Vem ao Algarve!
E não te arrependerás! Pr’a comeres bom caracol!
Vem ao Algarve! Vem ao Algarve!
E nova vida terás. Se quiseres apanhar sol.

Vem ao Algarve! Vem ao Algarve!


Ver as praias e o mar! Ver dançar o corridinho!
Vem ao Algarve! Vem ao Algarve!
Onde podes vir morar! Comer também bom figuinho!
Vem ao Algarve! Vem ao Algarve!
Pois amigos encontrarás! Contemplar as açucenas!
Vem ao Algarve! Vem ao Algarve!
Tudo o que é belo verás. Ver lindas moças morenas.

Foi assim a minha vida em 1951

Embora não houvesse a liberdade que hoje temos depois do 25 de Abril, fui
uma criança alegre e feliz, cantando por todo o lado as cantigas de antigamente.
Brincando com a minha turma na escola, fazia espectáculos imitando os artistas da
Rádio, pois ainda não havia televisão.
Foi uma infância muito simples e muito rápida, pois que comecei a trabalhar
logo que saí da escola com treze anos de idade porque, quando entrei para a
primeira classe, já tinha quase nove anos… Mas graças a Deus que me deu a
inteligência para passar todos os anos e sempre com dezoito valores, sem dar um
erro sequer nos ditados que fazíamos.
Enfim, tudo consegui com empenho e muita força de vontade, mas apenas
fiz a quarta classe e com muita pena de não ter podido continuar mais, pois os
meus pais eram muito pobres e não podiam comprar os livros que também não
havia como há hoje.
As brincadeiras engraçadas desse tempo já não se fazem hoje, como por
exemplo: jogar à cabra cega, à marreca, ao trapinho queimado, saltar à corda, ao
baile de roda e as cantiguinhas engraçadas de que muitas
já esqueci. Esta me veio à memória:

Oliveirinha da Serra,
O vento leva a flor,
Ó vai ó linda
Que eu não tenho quem me leve,
Ó vai ó linda
Cartinhas ao meu amor.

E assim fico por aqui, senão não chego ao fim!

As fotografias que ilustram os textos são do famoso


fotógrafo francês Robert Doisneau (1912-1994).

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