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TEMPO PASCAL. QUINTA SEMANA.

SÁBADO

81. O SANTO ROSÁRIO


– No Rosário, Nossa Senhora ensina-nos a contemplar a vida do seu Filho.

– O terço em família. É “arma poderosa”.

– As distracções no terço.

I. O AMOR A NOSSA SENHORA manifesta-se na nossa vida de formas


muito diversas. No Santo Rosário – a oração mariana mais recomendada pela
Igreja ao longo dos séculos –, a piedade mostra-nos um resumo das
principais verdades da fé cristã; através da consideração de cada um dos
mistérios, a Santíssima Virgem ensina-nos a contemplar a vida do seu Filho.
Em alguns deles, Maria ocupa o primeiro lugar; em outros, é Cristo quem atrai
primeiro a nossa atenção. Maria fala-nos sempre do Senhor: da alegria do
seu nascimento, da sua morte na Cruz, da sua Ressurreição e Ascensão
gloriosa.

O Rosário é a oração preferida da nossa Mãe, e “com a consideração dos


mistérios, a repetição do Pai-Nosso e da Ave-Maria, os louvores à Beatíssima
Trindade e a constante invocação à Mãe de Deus, é um contínuo ato de fé, de
esperança e de amor, de adoração e reparação”1.

Segundo a sua etimologia, o Rosário “é uma coroa de rosas, costume


encantador que em todos os povos representa uma oferenda de amor e um
símbolo de alegria”2. “É o modo mais excelente de oração meditada,
constituída à maneira de mística coroa em que a saudação angélica, a oração
dominical e a doxologia à Augusta Trindade se entrelaçam com a
consideração dos mais altos mistérios da nossa fé: nele, através de muitas
cenas, a mente contempla o drama da Encarnação e da Redenção de Nosso
Senhor”3.

Nesta oração mariana, a oração vocal funde-se com a meditação dos


mistérios cristãos, que é como que a alma do Rosário. É uma meditação
pausada, que permite desenvolver a oração pessoal ao ritmo das palavras.
“Introduzir-se como mais um personagem” nas cenas que se contemplam no
Rosário ajuda a rezá-lo bem. Assim, “viveremos a vida de Jesus, Maria e
José”.

“Todos os dias Lhes havemos de prestar um novo serviço. Ouviremos as


suas conversas de família. Veremos crescer o Messias. Admiraremos os seus
trinta anos de obscuridade... Assistiremos à sua Paixão e Morte...
Pasmaremos ante a glória da sua Ressurreição... Numa palavra:
contemplaremos, loucos de Amor – não há outro amor além do Amor –, todos
e cada um dos instantes de Cristo Jesus”4.

Com a consideração dos mistérios, vivifica-se a oração vocal – o Pai-Nosso


e as Ave-Marias –, e a vida interior se vê enriquecida pelo profundo conteúdo
dessas cenas, que se tornam fonte de oração e contemplação ao longo do
dia. Pouco a pouco identificamo-nos com os sentimentos de Cristo e
passamos a viver num clima de intensa piedade: alegramo-nos com Cristo
gozoso, sofremos com Cristo padecente, vivemos antecipadamente na
esperança a glória de Cristo ressuscitado. “Ainda que em planos de realidade
essencialmente diversos – dizia Paulo VI –, (a liturgia e o Rosário) têm por
objecto os mesmos acontecimentos salvíficos realizados por Cristo. A
primeira torna presentes [...] os maiores mistérios da nossa redenção; a
segunda, pelo piedoso afecto da contemplação, volta a evocar os mesmos
mistérios na mente de quem ora e estimula a sua vontade para deles extrair
normas de vida”5.

II. O CONCÍLIO VATICANO II pede “a todos os filhos da Igreja que


promovam generosamente o culto à Bem-aventurada Virgem [...], que dêem
grande valor às práticas e aos exercícios de piedade recomendados pelo
Magistério no curso dos séculos”6.

Sabemos bem com que insistência a Igreja sempre recomendou a oração


do Santo Rosário. Concretamente, é “uma das mais excelentes e eficazes
orações em comum que a família cristã é convidada a rezar”7, e muitas vezes
será um bom objectivo de vida cristã para muitas famílias. Em alguns casos,
bastará começar com a recitação de uma única dezena, aproveitando talvez
ocasiões tão especiais como o mês de Maio ou a visita a um Santuário ou
ermida da Virgem... Ganha-se muito e poupam-se muitas preocupações se se
começa a introduzir os filhos desde pequenos nesta prática.

O terço em família é uma fonte de bens para todos, pois atrai a


misericórdia de Deus sobre o lar. Diz o Papa João Paulo II: “Tanto a recitação
do Angelus como a do terço devem ser para todo o cristão e muito mais para
as famílias cristãs como que um oásis espiritual no decorrer do dia, para
ganharem coragem e confiança”8. E o Santo Padre insiste: “Conservai
zelosamente esse terno e confiado amor à Virgem que vos caracteriza. Não o
deixeis esfriar nunca [...]. Sede fiéis aos exercícios de piedade mariana
tradicionais na Igreja: a oração do Angelus, o mês de Maria e, de modo muito
especial, o terço. Oxalá ressurgisse o belo costume de rezar o terço em
família!”9

Hoje podemos examinar na nossa oração se nos valemos do Santo


Rosário como “arma poderosa”10 para conseguir da Virgem as graças e
favores de que tanto necessitamos, se o rezamos com atenção, se
procuramos aprofundar no seu conteúdo riquíssimo, particularmente detendo-
nos por uns momentos a meditar em cada um dos mistérios, se procuramos
que os nossos familiares e amigos comecem a rezá-lo e assim procurem e
amem mais a nossa Mãe do Céu.

III. ÀS VEZES, QUANDO PROCURAMOS difundir a recitação do terço


como uma forma de manter diariamente um trato de intimidade com a Virgem,
deparamos com pessoas, mesmo de boa vontade, que se desculpam dizendo
que se distraem com frequência e que “se é para rezá-lo mal, é melhor não
rezá-lo” ou algo semelhante. Ensinava o Papa João XXIII que “o pior terço é
aquele que não se reza”. Nós podemos dizer aos nossos amigos que, ao
invés de abandoná-lo, devem compreender que é mais grato à Virgem
procurar rezá-lo da melhor forma possível, ainda que se tenham distracções.
Também pode acontecer que – como escreve Santo Afonso Maria de Ligório
– “se tens muitas distracções durante a oração, talvez seja porque o demónio
se sente muito incomodado com essa oração”11.

Há quem compare o terço a uma canção: a canção da Virgem. Por isso,


ainda que por vezes não sejamos conscientes da “letra”, a melodia nos
levará, quase sem o percebermos, a ter o pensamento e o coração postos em
Nossa Senhora. As distracções involuntárias não anulam os frutos do terço,
nem de qualquer outra oração vocal, desde que se lute por evitá-las.

São Tomás diz que pode haver uma tríplice atenção na oração vocal: a de
quem pronuncia correctamente todas as palavras, a daquele que repara mais
no sentido dessas palavras e a dos que se concentram na finalidade da
oração, quer dizer, em Deus e naquilo por que se ora. Esta última é a atenção
mais importante e necessária, e é acessível mesmo a pessoas pouco cultas
ou que não entendem bem o sentido das palavras que pronunciam, “podendo
ser tão intensa que arrebate a mente para Deus”12.

Quando há esforço, pode-se rezar o terço cada vez melhor; cuidando da


pronúncia, das pausas, da atenção, detendo-se por uns instantes a considerar
o mistério que se inicia, oferecendo talvez essas dez ave-marias por uma
intenção concreta (a Igreja Universal, o Sumo Pontífice, as intenções do bispo
da diocese, a família, as vocações sacerdotais, o apostolado, a paz e a justiça
em determinado país, um assunto que nos preocupa...), procurando que
essas “rosas” oferecidas à Virgem não estejam fanadas ou murchas pela
rotina ou pelas distracções mais ou menos consentidas... Será muito difícil, e
às vezes praticamente impossível, evitar todas as distracções, mas a Virgem
também o sabe e aceita o nosso desejo e o nosso esforço.

Para recitá-lo com devoção, é conveniente fazê-lo num momento


adequado: “Uma triste forma de não rezar o terço: deixá-lo para o fim do dia.
Quando se deixa para o momento de deitar-se, recita-se pelo menos de má
maneira e sem meditar os mistérios. Assim, dificilmente se evita a rotina, que
afoga a verdadeira piedade, a única piedade”13. “Sempre adias o terço para
depois, e acabas por omiti-lo por causa do sono. – Se não dispões de outros
momentos, reza-o pela rua e sem que ninguém o note. Isso te ajudará
também a ter presença de Deus”14.

Uma das vantagens do terço é que se pode rezá-lo em qualquer lugar: na


igreja, na rua, no carro..., sozinho ou em família, enquanto se aguarda na sala
de espera do médico ou na fila da agência bancária. Poucos cristãos poderão
dizer com sinceridade que não arranjam tempo para rezar “a oração mais
querida e recomendada pela Igreja”.

Um dia o Senhor nos mostrará as consequências de termos rezado o terço


com devoção, ainda que também com algumas distracções: desastres que se
evitaram por especial intercessão da Virgem, ajudas a pessoas queridas,
conversões, graças ordinárias e extraordinárias para nós e para outros, e as
inúmeras pessoas que se beneficiaram desta oração e que nem sequer
conhecemos.

Esta oração tão eficaz e grata a Nossa Senhora será em muitos momentos
da nossa vida o meio mais eficaz de pedir e de agradecer, como também de
reparar pelos nossos pecados: “«Virgem Imaculada, bem sei que sou um
pobre miserável, que não faço mais do que aumentar todos os dias o número
dos meus pecados...» Disseste-me o outro dia que falavas assim com a
Nossa Mãe. – E aconselhei-te, com plena segurança, que rezasses o terço:
bendita monotonia de ave-marias, que purifica a monotonia dos teus
pecados!”15

(1) São Josemaría Escrivá, Santo Rosário, pág. 9; (2) Pio XII, Alocução, 16-X-1940; (3) João
XXIII, Enc. Grata recordatio, 26-IX-1959; (4) São Josemaría Escrivá, op. cit., pág. 13; (5)
Paulo VI, Enc. Marialis cultus, 46; (6) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 67; (7) Paulo VI,
op. cit., 54; (8) João Paulo II, Angelus em Otranto, 5-X-1980; (9) idem, Homilia, 12-X-1980;
(10) Josemaría Escrivá, op. cit., pág. 7; (11) Santo Afonso M. de Ligório, Tratado sobre a
oração; (12) São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 83, a. 3; (13) São Josemaría Escrivá, Sulco,
n. 476; (14) ib., n. 478; (15) ib., n. 475.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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