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Como rezar com fruto o Santo Rosário?

Para que possamos colher da récita do Rosário os frutos espirituais que ele nos
oferece, temos de rezá-lo com pureza de intenção, paciente atenção, reverência e
perseverança. Pois o Santo Rosário, longe de ser uma repetição mecânica de
umas tantas fórmulas, é um caminho de verdadeira santidade, simples e profundo,
aberto a todos os fiéis que dele sabem tirar proveito.

Nesta última aula do curso "O Segredo do Rosário", você irá descobrir como fazer
dessa devoção mariana uma das colunas mestras de sua vida espiritual.

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Para encerrarmos este curso de reflexão sobre O Segredo Admirável do


Santíssimo Rosário, resta-nos pontuar, de forma bastante esquemática, alguns
dos conselhos que São Luís Maria Grignion de Montfort oferece aos que
desejam rezar o Rosário de forma mais proveitosa. Trata-se, trocando em
miúdos, de uma questão de método, abordada nas dez últimas rosas em que se
divide este pequeno e precioso livro. São Luís fala-nos aqui das disposições
interiores que nos são necessárias para que a récita do Rosário, mais do que a
repetição mecânica de certas fórmulas, seja um caminho de santificação e
meditação dos mistérios da vida de Nosso Senhor. A primeira dessas
disposições, segundo ele, é a pureza ou retidão de intenção, pois ao fiel não
basta fazer o que é certo; também lhe é preciso fazê-lo pela razão certa. Por
isso, quem recita o Rosário de forma presunçosa, crendo-se já muito adiantado
na vida espiritual, ou por mero interesse pessoal, esperando com isso receber do
alto favores indevidos ou de ordem puramente material, não só não agrada o
Coração de nossa Mãe como, o que é pior, ofende-o gravemente. Devemos
rezar o Rosário, antes de tudo, com o propósito de agradar a Deus e a Virgem
Maria e pedir, se estamos em graça, a perseverança na justiça ou, se estamos
em pecado, a contrição e o perdão [1].

Nas rosas quarenta e dois e quarenta e três, São Luís fala-nos da importância
da atenção e dos meios de que podemos nos servir para lutar contra as
distrações, porque "Deus", escreve, "ouve mais a voz do coração que a da boca"
[2] e as distrações voluntárias durante a oração, lembremo-nos bem, são uma
séria falta de respeito com Aquele que se digna dar-nos ouvido.

Na rosa quarenta e quatro, o autor esquadrinha-nos um método para rezar o


Rosário cujos pontos de maior interesse para os propósitos deste curso são os
seguintes [3]: a) antes de começar a rezar, convém pedir a vinda e as luzes do
Espírito Santo; b) antes de cada dezena, é oportuno fazer uma breve pausa para
contemplar o mistério a ser meditado; c) em seguida, pede-se a Deus que, por
meio do mistério correspondente, conceda pela intercessão de Maria Santíssima
algumas das virtudes que nele resplandecem. O santo também nos chama a
atenção para a necessidade de rezar esta devoção sempre por alguma intenção:
"[...] sempre que rezar o Rosário, tenha certeza de pedir alguma graça especial.
Peça o auxílio de Deus em fomentar uma das maiores virtudes cristãs ou que
Ele o auxilie a combater os seus pecados" [4]. Devemos, além disso, precaver-
nos do perigo tão frequente de rezar o Rosário às pressas, com o único objetivo
de chegar logo ao fim de tamanho "fardo":

É realmente lamentável ver como a maioria das pessoas reza o Santo Rosário.
Elas o rezam extremamente rápido e murmurando, fazendo com que as palavras
não sejam pronunciadas claramente. Não se pode esperar que alguém, mesmo
aquele mais sem importância, pense que uma saudação relaxada como esta seja
um cumprimento, e contudo nós esperamos que Jesus e Maria estejam satisfeitos
com isto! Não é de se espantar que as sacratíssimas orações de nossa santa
religião pareçam não ter frutos e que após rezarmos milhões de Rosários não nos
tornemos melhores do que éramos antes [5]!

São Luís aconselha-nos também que, depois de pedirmos a vinda do Espírito


Santo e antes de começarmos o Rosário propriamente dito, façamos o seguinte
oferecimento:

Uno-me a todos os santos que estão no Céu, a todos os justos que estão na
terra, a todas as almas fiéis que estão neste lugar. Uno-me a vós, meu Jesus,
para louvar dignamente vossa santa Mãe, e louvar-vos nela e por ela. Renuncio a
todas as distrações que me vierem durante este Rosário, que quero recitar com
modéstia, atenção e devoção como se fosse o último de minha vida. Ofereço-vos,
Trindade Santíssima, este Credo para honrar os mistérios todos de nossa fé; este
Pai-Nosso e estas três Ave-Marias, para honrar a unidade de vossa essência e a
trindade de vossas pessoas. Peço-vos uma fé viva, uma esperança firme e uma
caridade ardente. Amém [6].

As três Ave-Marias principais costumam ser rezadas por algumas pessoas ou


em honra da Santíssima Trindade, com a invocação explícita de cada uma das
divinas Pessoas, ou como parte da oração do Angelus, recitado tradicionalmente
ao meio-dia. São costumes piedosos que podem ser praticados sem nenhum
problema. São Luís recomenda ainda que a cada dezena preceda um
oferecimento em que se honrem as obras de Deus nos mistérios contemplados e
se peça, pela intercessão de Maria Santíssima, a virtude que mais se destaca no
respectivo mistério. Assim, por exemplo, o primeiro mistério gozoso pode
começar da seguinte maneira, antes do Pai-Nosso, das dez Ave-Marias e do
Glória:

Nós Vos oferecemos, Senhor Jesus, esta primeira dezena, para honrar a vossa
Encarnação no seio da Virgem Maria; e vos pedimos, por este mistério e por
intercessão dela, uma profunda humildade [7].

Essa primeira dezena pode encerrar-se, enfim, com um pedido: "Graças do


mistério da Encarnação, descei às nossas almas. Assim seja" [8]. Este esquema
recitativo pode ser aplicado a todas e cada uma das dezenas do Rosário, que se
torna assim uma roseira de oferecimentos a Cristo, em honra dos mistérios de
sua Vida, Paixão, Morte e Ressurreição, e uma cadeia de pedidos das virtudes
que nos são mais necessárias. Convém notar, por último, que no tempo de São
Luís Maria ainda não se havia enraizado o costume de concluir o Rosário com
uma Salve-Rainha; o santo mesmo nos propõe outra oração, que pode ser
acrescentada ou omitida sem prejuízo da integridade desta devoção:

Nós vos rogamos, amável Senhor Jesus, pelos quinze mistérios de vossa Vida,
Morte e Paixão, por vossa glória e pelos méritos de vossa Santíssima Mãe:
convertei os pecadores e ajudai os que estão morrendo, livrai as santas almas do
Purgatório e dai a nós todos a vossa graça, para que vivamos bem e morramos
bem e por caridade; dai-nos a luz de vossa glória, para que possamos ver vossa
face e vos amar por toda a eternidade. Amém. Assim o seja [9].

O essencial, mais do que o conjunto de orações com que iremos enriquecer o


nosso Rosário, é rezá-lo com reverência e perseverança, com amor e
delicadeza, fazendo dele um verdadeiro caminho de santificação, aproveitando a
oportunidade que nele encontramos de adorar a Nosso Senhor e honrar nossa
Mãe Santíssima, tendo-o sempre por uma das mais sólidas colunas de nossa
vida espiritual. Que a Virgem Imaculada e São Luís Maria Grignion de Montfort
alcancem-nos neste Ano Jubilar mariano a graça de amarmos esta dulcíssima
devoção e sermos seus assíduos praticantes. — Nossa Senhora do Santo
Rosário de Fátima, rogai por nós.

Referências

1. Cf. Luís Maria Grignion de Montfort, O Segredo Admirável do Santíssimo


Rosário. Trad. port. de Geraldo P. Faria Jr. [S.l.: s.n.], 1997, p. 68.

2. Id., p. 69.

3. Cf. Id., p. 71.

4. Id., ibid.

5. Id., p. 72.

6. Id., p. 86.

7. Id., ibid.

8. Id., ibid.

9. Id., p. 90.

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