EM MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. ANULAÇÃO DO ATO DE NOMEAÇÃO. FRAUDE AO CONCURSO. NÃO-COMPROVAÇÃO. LAUDO ESTATÍSTICO. INSUFICIÊNCIA. RECURSO PROVIDO.
1. Não há discricionariedade no ato administrativo que impõe sanção
disciplinar a servidor público, pelo que o controle jurisdicional de tal ato é amplo. Precedentes do STJ.
2. A aplicação da sanção disciplinar deve estar amparada em
elementos probatórios contundentes, mormente em se tratando de anulação do ato de nomeação. Não se presta para tal finalidade mera probabilidade construída a partir de laudo estatístico.
A embargante sustenta, em síntese, que o acórdão embargado foi
omisso quanto ao fato de que "a análise judicial da aplicação de pena disciplinar restringe-se aos aspectos formais, mas não pode adentrar ao chamado mérito administrativo" (fl. 1.343), de modo que, "Não ocorrendo defeitos por ilegalidade do ato, tais como a incompetência da autoridade, a inexistência de norma autorizadora da pena e a preterição de formalidade essencial, é incabível o mandado de segurança contra ato que aplica pena disciplinar" (fl. 1.344).
Alega que "Não há se cogitar, também, quanto à força probante do
laudo estatístico, uma vez que foi utilizado como prova indiciária que, juntamente com a análise de todo o acervo probatório, culminou na aplicação da pena" (fl. 1.349), de modo que a revisão de tal entendimento demandaria dilação probatória, o que é inviável em mandado de segurança.
É o relatório.
EDcl no RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 24.503 - DF
DECLARATÓRIOS NO RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. PRETENSÃO DE SE REDISCUTIR A LIDE. EMBARGOS REJEITADOS.
1. Os embargos de declaração consubstanciam instrumento
processual apto a suprir omissão do julgado ou dele excluir qualquer obscuridade ou contradição. Não se prestam para rediscutir a lide.
2. Embargos de declaração rejeitados.
VOTO
MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA (Relator):
Presentes os requisitos de admissibilidade dos embargos de
declaração, deles conheço. Não há, entretanto, omissão, contradição ou obscuridade a serem sanadas, conforme exige o art. 535 do Código de Processo Civil.
Com efeito, no tocante aos limites do controle judicial dos atos
administrativos, o acórdão embargado foi expresso ao decidir que (fls. 1.328/1.329):
De início, cumpre salientar que a Terceira Seção do Superior Tribunal
de Justiça firmou entendimento no sentido de que não há discricionariedade no ato administrativo que impõe sanção disciplinar a servidor público, pelo que o controle jurisdicional de tal ato é amplo. Nesse sentido:
MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO DISCIPLINAR.
DISCRICIONARIEDADE. INOCORRÊNCIA. PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA AUSENTE. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. ORDEM DENEGADA.
I - Tendo em vista o regime jurídico disciplinar, especialmente os
princípios da dignidade da pessoa humana, culpabilidade e proporcionalidade, inexiste aspecto discricionário (juízo de conveniência e oportunidade) no ato administrativo que impõe sanção disciplinar.
II - Inexistindo discricionariedade no ato disciplinar, o controle
jurisdicional é amplo e não se limita a aspectos formais.
III - A descrição minuciosa dos fatos se faz necessária apenas quando
do indiciamento do servidor, após a fase instrutória, na qual são efetivamente apurados, e não na portaria de instauração ou na citação inicial.
IV - Inviável a apreciação do pedido do impetrante, já que não consta,
neste writ, o processo administrativo disciplinar, o qual é indispensável para o exame da adequação ou não da pena de cassação de aposentadoria aplicada, considerando, especialmente, a indicação pela Comissão Disciplinar de uma série de elementos probatórios constantes do PAD, os quais foram considerados no ato disciplinar.
Ordem denegada, sem prejuízo das vias ordinárias. (MS 12.983/DF,
Rel. Min. FELIX FISCHER, Terceira Seção, DJ 15/2/08)
Também não prospera a alegação de que o exame da pretensão do
embargado demandaria dilação probatória. Com efeito, a concessão da ordem foi fundamentada exclusivamente com base na prova pré- constituída que instruiu o mandamus, ou seja, os autos do próprio processo administrativo disciplinar a que foi submetido o embargado.
Da análise do referido processo administrativo, realizada com base no
entendimento exposto acima, de que não há discricionariedade no ato que impõe sanção disciplinar a servidor público, foi constatada a ausência de fundamentos que justificassem a anulação da nomeação do embargado para o cargo que ocupava.
Com efeito, não obstante haja menção no relatório final da Comissão
Disciplinar quanto à existência de outros indícios que comprovem a participação do embargado na fraude ao concurso, a anulação da sua nomeação se deu exclusivamente com base no laudo estatístico, que, segundo afirma a própria embargante, serviria apenas como prova indiciária.
Porém, conforme salientado no acórdão embargado, com exceção do
laudo estatístico, nenhum dos outros indícios foi objeto de investigação capaz de infirmar as alegações da defesa apresentada pelo embargado, tanto que ele sequer foi indiciado no inquérito policial instaurado para apurar a fraude ao concurso. E, por estar fundado em probabilidades, tal laudo não pode servir como único fundamento para a anulação do ato de nomeação do embargado. Nesse sentido:
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO
DISCIPLINAR. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CORRUPÇÃO. DEMISSÃO. REEXAME DAS PROVAS. AUTORIDADE COMPETENTE. FORMALIDADES ESSENCIAIS. PROPORCIONALIDADE. NÃO FORMAÇÃO DE CONJUNTO PROBATÓRIO SUFICIENTE. ORDEM CONCEDIDA.
2. A infração funcional consistente em recebimento de vantagem
econômica indevida (propina), e de resto todas as infrações que possam levar à penalidade de demissão devem ser respaldadas em prova convincente, sob pena de comprometimento da razoabilidade e da proporcionalidade. Precedente: MS 12.429/DF, Rel. Min. FELIX FISCHER (DJU 29.06.2007).
3. O acervo probatório não se mostra suficiente para revelar, de
maneira ampla e indubitável, a corrupção supostamente cometida pelo Policial Rodoviário Federal, eis que se resume só e apenas aos depoimentos, de mesmo conteúdo, prestados pelo própria vítima e seu patrão, que descreveram o ato de corrupção sofrido.
4. A proporcionalidade da sanção aplicada resta comprometida
quando não se vislumbram, no conjunto de provas colacionado aos autos, elementos de convicção que desafiem a persistência de dúvidas ou incertezas quanto ao fato típico imputado ao agente.
5. Segurança concedida para anular a Portaria 513, de 07.03.2007,
que demitiu o impetrante do cargo de Policial Rodoviário Federal, promovendo-se a sua reintegração no cargo. (MS 12.957/DF, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Terceira Seção, DJe 26/9/08)
Desta forma, mostra-se nítido o caráter exclusivamente infringente
que a embargante pretende atribuir ao presente recurso. E, não obstante doutrina e jurisprudência admitam a modificação do acórdão por meio dos embargos de declaração, essa possibilidade sobrevém como resultado da presença dos vícios que ensejam sua interposição, o que, conforme visto acima, não ocorre no presente caso, em que a questão levada à apreciação do órgão julgador foi devidamente exposta e analisada, não havendo omissão ou contradição a serem sanadas. Ante o exposto, rejeito os embargos de declaração.