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Ma cas DOH PLO Aer AArAVAV AVANTE Nt avant ut, . V2 WANES VAL MOR OCOOO DOOD Sen ns cr ace: ce nes PREFACIO Este livro resulta de uma amizade e de um seminario, ambos tenda a ver com a teoria de Ausubel. A amizade rnasceu de um encontro casual tempos airés. Conversa vay conversa'vem, descobrimos que haviamos usado a teoria de ‘Ausubel como fundamentagdo tebrica de nossas teses, uma ro ensino de Fisica ¢ outra no de Biologia, O seminar foi ‘ealzado emi Campinas de 10 a 15/12/1978, com o patroc hio da CAPES (Coordenasio do Aperfeigoamento do Pessoal de Nivel Superior) © do antigo DAU (Departamento de ‘Assuntos Unversitrios), sob 0 titulo “Seminario sobre ‘Aprendizagem e Ensino a0 Nivel da Escola Superior". Nav verdade, foi uma espécie de curso sobre as abordagens de Carl Rogers, B. F. Skinner, David Ausubel e Jean Piaget sobre aprendizagem e suas implicagdes para o ensino. Fea ‘mos encarregados da abordagem ausubeliana e, consequen- temente, de preparar ow selecionar alguns materials sobre a teoria de Ausubot que pudessem ser usados no seminéri. Pactimos logo para a preparacao de um texto, pois sabiamos due, na época, pouco ou nada havia sobre Ausubel em por- tugués que servsse aos objetivos do seminario © que, por varias razdes, ndo faria © menor sentido usar textos origi ais. Chegamos, entdo, a0 que se poderia chamar de versio preliminar dest ivro: uma apostila mimeografada contendo lum resumo da teoria e alguns exemplos. Discutindo como deveria ser essa apostila ocorreu-nos que, se ela passasse pelo u teste do seminirio, poderia ser revisada, reformulada e am- pliada de modo a tornar-se um pequene livro sobre a teoria de Ausubel, 'A tealizago do semindrio confirmou nossa suspeita de que valeria a pena eserever um texto dessa natureza. A trande maioria dos participantes, dos professores univer Srios Brasileiros envolvidos em programas de melhoria do ensino em suas universidades, ou nunca tinha ouvido falar fem Avubel ou tinha apenas um conhesimento superficial de sua teoria, Nao foi esse, no entanto,o aspecto que reforgou ‘nossa intengo de escrever este texto, pois Ausubel &, ainda, bastante desconhecido em outros paises, talver até mesmo nos Estados Unidos, seu pais natal. O que nos incentivou foi fo fato de que, para muitos, a abordagem ausubeliana havia Sido uma "greta surpresa" que ‘fazia sentido” e que pode ria ser iil como sistema de referéncia tebrico para a organi ago de seu ensio. ’Passados quase dois anos desde a reaizago do semi- nario, apos sucessivas revisbes, mudangas, ampliagdes © ‘cortes, #apostila transformou-se, finalmente, em um peque- no liv. Como tal, ele no € um estudo completo sobre a teoria de Ausubel. Entretanto, esperamos que seja atil a, pelo menos, dois tipos de letores: 1) aos que pretendem se profundar no estudo dessa teoria, mas que gostariam de tma visio geral simplificada © acessvel, antes de penetrar ‘na complexidade dos textos de Ausubel; 2) aos que, cansados {de abordagens tecnicistas a0 ensino © aprendizagem, sta0 ‘procura de outra talvez mais humana esignifiativa. ‘Agradecemos a Marli Merker Moreira por suas contri- buigdes to capitulo 4 e pela leiura critica do manuseito. [Nostos agradecimentos também a Clarice Franco pelo exaus- tivo trabalho de dactilografia decorrente das inimeras modi Ficagdes sofridas pelo original deste texto. (5 Awtores Porc Alesre Sto Paulo 1980 INTRODUCAO LOCALIZACAO DO COGNITIVISMO (PSICOLOGIA DA COGNIGAO) NO QUADRO DA PSICOLOGIA ‘Todos nds estamos, constantemente, na vida familiar ou no trabalho, fora ou dentro da escola, comand decisdes, Sozinhos ou com outras pessoas. Algumas vezes, a tomada, Ge decisdes € fruto daquilo que queremos;_outras, & resultante do determinismo, do que devemos — do que esti, estabelecido em leis, estatutos, senso comum etc. E esse ddevemos, muitas vezs, resulta da consciéncia que tems do fisco de sermos eliminados de fungbes das quais depende ‘nossa sobrevivencia; outras vezes, 0 devemos impoe-se pelo hhdbito estabelecido ou porque se considera que a maioria pensa melhor do que apenas um individuo, ¢, portanto, 0 {que a maioria costuma fazer & 0 que deve estar certo. TEssas duas situagoes que levam & agd0 pelo dever parecem caracterizay-se pelo fato de que o homem que a pra tica renuncia a sud maneira pessoal de ver, compreender € agir. O significado pessoal & um mero reflexo do significado ‘de outra pessoa: ha um papel passivo de quem age. A medida {que o processo se torna mais impessoal, reduz-se a responsa- Dilidade e a participagao ativa nas detisbes, sendo, assim, nnecessirio apenas executa ‘Como afirma Rollo May (19732), a forma de sair dessa condito de ser passivo e entrar na de ser ativo, res Ponsével, particpante, € mediante ampliagao ¢ aprofunda- mento da conscitacia, Ea conseigncia que atribui significado 4405 objetos que rodeiam o individuo. A intencionalidade tenconira-se no Amago da consciéncia; €a ponte entre Sujeito © Objeto; é a estrutura que dé significado & experiencia: se vou ver uma casa para comprar, percebo-a de modo dife Fente do que se fosse la para visitar amigos, Essa capacidade humana de ter imtengdes, a que denominamos intencionali- dade, & a estrutura do sentido que nos possibilita, sujitos ue somos, a ver e compreender o mundo (May, 1973b). ‘A Pricologia, nesse enfoque, voltase para o estudo do dinamismo da consciencia, de como o homem desenvolve sua “compreensto” do mundo e passa a agir, segundo essa J “compreensio”, de forma consciente e participante. Assim, considera a agao do individu dirigida para algum fim; est a, pois, a acdo a partir do ato, ou seja, 0 que significa a ago para o agente que a pratica. Estuda as agoes do indi viduo a partir da tomada de consciéneia que ele tem de sua asto, Para esses psicdlogos, a intencionalidade da conscién cia deve ser tomada em termos de atos: o significado de ver 0 existe quando hi algo para ser visto, O ato contém os objelos da intencionalidade. O ato da consciéncia coloce 0 individuo diante do objeto em busca de sua identidade ow identificacao. E signiticativa uma situasao do ponto de vista “feno. menoldgico", quando o individuo decide de forma ativa, ‘Por meio de uma ampliagto e aprofundamento da consci ia, por sua propria elaboracao ¢ compreensao. E a con cncia que aribui significado aos objetose stuacdes. Esta letra €significativa para quem a est fazendo? (© que fez com que voce se voltasse para procucar este texto € ‘io outro? Quais foram os pontos anteriores que deraty ‘origem a essa procura? Qual a origem das escolhas signifi- cados de cada um de nos? ‘© cognitivismo de Ausubel é um eaminho que busea responder a essas questOes, ao se propor estudar 0 ato da formarao de significados ao nivel da consciéncia ov, em coutras palavras, ao estudar 0 ato da cognigao. © COGNITIVISMO OU PSICOLOGIA DA COGNICAO. © cognitivismo procura descrever, em linhas geris, 0 aque sucede quando o ser humana se situa, organizando o seu ‘mundo, de forma a distinguirsistematicamente 0 igual do diferente, Cognigo @ 0 processo através do qual o mundo de significados tem origem, A medida que 0 ser se silua no ‘mundo, estabelece relagdes de significagto, isto &, atibul significados a realidade em que se encontra. Esse signif fados nao so entidades estticas, mas pontos de partida para a aribuigdo de outros signiticados. Tem origem, ent20, 8 estrutura cognitiva (os primeiros signficados), consti: tuindo-se nos “pontos basicos de ancoragem™ dos quais dlerivam outros signiticados, ‘A Paicologia cognitivista preocupa-se com 0 prosesso dda compreensao, transformagdo, armazenamento € Uso da informagao envolvida na cognigdo, e tem como objetivo iden tificar 0§ padeoes esiruturados dessa transformagao, E uma teoria particular, eujaassereao,central € @ de que ver, ouvir, cheirar etc, assim como lembrar, so atos de construe que podem fazer maior ou menor uso dos estimulos externos, ependendo da circunsténcia, isto &, das condigaes pessoas ‘de quem realiza 0 processo. UM PONTO DE VISTA COGNITIVISTA EM. APRENDIZAGEM: A TEORIA DE DAVID AUSUBEL Ausubel (1968) & um representante do copnitivisma e, como al, prope uma explicagdo tebrica do processo de aprendizagem, segundo um ponto de vista cognitivis embora reconheca a importancia da experiéncia afetiva, ‘Quando se fala em aprendizagem segundo 0 consiruto cognitvsta, esta se encarando a aprendizazem como un processo de armazenamento de informagdo, condensagio em lasses mais genéricas de conhecimentos, que S80 incorpo- rados uma estrutura no cérebro do individuo, de modo que cee ‘4 esta possa ser manipulada e uilizada no futuro. € a habilida- ‘dede organizapao das informagBes que deve ser desenvolvida, Para Ausubel, aprendizagem significa organizagao € itegragéo do material na estrutura cognitiva. Como outros tedricos do cognitivismo, ele se baseia na premissa de que ‘existe uma estrutura na qual a organizacdo a integracao se processam. E a estrutura cognitiva, entendida como “con- feido total de idtias de um certo individuo ¢ sua organiza 0; ou conteido e organizagdo de suas idéias em uma area particular de conhecimentos” (1968, pp. 37-39). E 0 com= plexo organizado resultante dos processos cognitivos, ou ja, dos processos mediante os quais se adquite ¢ utiliza 0 conheciment. "Novas idéias e informagBes podem ser aprendidas retidas na medida em que conceltos Felevantes inclusivos fstejam adequadamente claros e disponiveis na estrutura fognitiva do individuo e Tuncionem, dessa forma, como ponto de ancoragem para as novas idéas'e conceitos. ‘A experiencia cognitiva ndo se restringe a influtncia dlireta dos conceitos j& aprendidos sobre componentes da hnova.aprendizagem, mas abrange também modificagdes significalivas nos atributos relevantes da estrutura cognitiva pla influéneia do novo material. Ha, pois, um processo de Interapdo pelo qual conceitos qiais felevantes e inclusivos| interagem com 0 novo material, funcionando como ancora

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