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Teste 2
Profissionalização
Curitiba
2010
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cleide Cavalcanti Albuquerque CRB9/1424
FAEL
Diretor Acadêmico Osíris Manne Bastos
Diretor Administrativo-Financeiro Cássio da Silveira Carneiro
Coordenadora do Núcleo de Vívian de Camargo Bastos
Educação a Distância
Coordenadora do Curso de Ana Cristina Gipiela Pienta
Pedagogia EaD
Secretária Geral Dirlei Werle Fávaro
EDITORA FAEL
Coordenador Editorial William Marlos da Costa
Edição Silvia Milena Bernsdorf
Projeto Gráfico e Capa Denise Pires Pierin
Diagramação Denise Pires Pierin
Ilustração da capa Cristian Crescencio
Capítulo
apresentação
apresentação
Escrever um livro sobre formação e profissionalização docente
é uma tarefa complexa, tarefa essa que a autora Josiane se propôs a
cumprir, percorrendo um caminho que traz para nossa reflexão algumas
questões relevantes sobre o tema, como a profissionalização docente;
os processos de formação inicial e continuada; a identidade profissional,
a ética e o compromisso; o exercício da docência; os saberes e fazeres
envolvidos na profissão; e a urgência de políticas públicas que valorizem
o professor e sua profissão. Esse foi o caminho escolhido.
Discutir esse tema exige, também, que nos situemos em um tempo e
um espaço marcados por profundas transformações no mundo do traba- 3
lho, por mudanças aceleradas nos processos de comunicação e informa-
ção, por avanços significativos no conhecimento científico e tecnológico,
entre outras mudanças que ainda estão por vir.
Nesse contexto, refletir sobre a questão da formação e profissio-
nalização docente torna-se imperativo, pois todas essas transformações
trazem consigo a necessidade, ou melhor, o desafio para a educação de
também acompanhar essas mudanças. A profissão docente apresenta‑se,
assim, a cada dia mais complexa, os contextos de trabalho são cada vez
mais diversificados. Tudo isso exige dos profissionais novos conhecimen-
tos e competências de diferentes campos, implicando uma revisão dos
processos de formação. A formação inicial precisa ser repensada, a con-
tinuada ou em serviço torna-se uma constante. A profissionalização da
docência ainda é um desafio, e a ética profissional é uma necessidade
indissociável de todo esse contexto.
Paradoxalmente, os profissionais da educação convivem com difi-
culdades significativas no cotidiano no que se refere às condições de
trabalho e salário, à possibilidade de progressão na carreira, aos proble-
mas, como a indisciplina em sala de aula, as drogas e a violência nas es-
colas, e aos processos de gestão que interferem de modo expressivo no
apresentação
apresentação
trabalho didático-pedagógico. É sob esse pano de fundo que devem ser
compreendidos o desânimo, o estresse, enfim, a crise de identidade que,
muitas vezes, acomete os professores, diante dos múltiplos obstáculos e
dificuldades que enfrentam em seus caminhos.
Certamente, expor esses paradoxos pode causar certo mal estar.
Porém, mais do que nunca, essas reflexões também trazem no seu bojo
a premência de novas políticas públicas voltadas, efetivamente, para o
enfrentamento dos problemas existentes, com o objetivo de resgatar a
dignidade e a valorização da profissão docente. A obra de Josiane aponta
essa necessidade.
Creio que esses parágrafos ilustram brevemente um pouco do per-
curso percorrido pela autora, um pouco das reflexões realizadas em cada
trecho do caminho que ela já vem percorrendo como profissional da educa-
ção e que compartilha conosco, por meio do seu trabalho e, a partir deste
momento, por meio deste livro. Suas palavras nos mostram que, nesse ca-
minho, há, ainda, muito por fazer, mas não podemos desistir de caminhar.
Marília Marques Mira*
2 A profissionalização docente.................................................... 19
Referências............................................................................... 85
Glossário.................................................................................... 89
prefácio Capítulo
prefácio
N o decorrer dos tempos, muitos ofícios e saberes foram aban-
donados ou substituídos por outros, considerados mais modernos e
avançados, resultado da industrialização e da sociedade global em que
vivemos. No entanto, mesmo com as dificuldades enfrentadas, a fun-
ção de professor – o ofício de mestre – não desapareceu.
Essa realidade propicia uma reflexão interessante sobre a relação
entre oo trabalho
trabalhodo doprofessor
professore ea aeducação,
educação, pois,
pois ao mesmo
ao mesmo tempotempoem 7
em
que que se reconhece
se reconhece a importância
a importância da educação
da educação para opara o desenvolvi-
desenvolvimento
mento socioeconômico
socioeconômico das nações,das para
nações, para o da
o exercício exercício
cidadaniada ecidadania
para a me-e
para a melhoria das condições de vida dos seres
lhoria das condições de vida dos seres humanos, deparamo-nos humanos, depara-
com
mo-nos com a pouca
a pouca valorização dos valorização
professores, dos professores,
profissionais profissionais
da educação, muitasda
educação, muitas vezes
vezes mal formados, commal formados,
baixos salários,com
poucabaixos salários,cultural,
“bagagem” pouca
“bagagem”
desmotivados cultural,
com seu desmotivados
ofício e, pior,com seu ofício e,socialmente.
desacreditados pior, desacredi-
tados socialmente.
Não há dúvidas de que a transformação desse quadro é muito
Não há
complexa dúvidas de diversos
e impulsiona que a transformação
debates. Talvez desse quadro é sejam:
os primeiros muito
complexa
“Por que somose impulsiona diversos
professores?”; debates.
“Por Talvez osserprimeiros
que queremos sejam:
professores?”
“Por que somos professores?”; “Por que queremos ser professores?”
Ser professor é mais do que apenas desempenhar uma função.
Ser professor
O trabalho docente é mais
não sedo esgota
que apenas
quando desempenhar
saímos da uma sala defunção.
aula,
O
ele trabalho
nos seguedocente
até nossosnãolares,
se esgota
quando quando
levamossaímos da sala
conosco de aula,
as provas, os
ele nos segue
trabalhos, até nossos
os livros lares, quando
de chamada levamos conosco
ou as atividades as provas,
que precisam os
ser an-
trabalhos, os livros de chamada ou as atividades que
tecipadas para que tenhamos sucesso em nossa função. Nossa posturaprecisam ser an-
tecipadas para quesão
e nosso linguajar tenhamos sucesso“viciados”
influenciados, em nossa função. Nossapedagó-
de expressões postura
egicas
nosso linguajar são
incorporadas influenciados,
como uma segunda “viciados”
pele. de expressões pedagó-
gicas incorporadas como uma segunda pele.
Também sofro essa influência. Muitas das reflexões neste livro
Também são
apresentadas sofrodecorrentes
essa influência. Muitasatuação
de minha das reflexões neste livro
profissional, seja
apresentadas são decorrentes de minha atuação profissional, seja
prefácio
prefácio
como pedagoga e diretora de escola na Rede Municipal de Ensino
de Curitiba, como técnica da Secretaria Municipal de Educação de
Curitiba ou
Curitiba, ou como
como professora
professora do
do Ensino
Ensino Superior
Superior em cursos de for-
mação de professores.
Assim, os temas aqui abordados buscam, fundamentalmente,
possibilitar a reflexão e o debate sobre diferentes questões que envol-
vem a formação docente, entre elas: Que tipo de trabalho é a docên-
cia? Quais conhecimentos são necessários para o trabalho docente?
8
Quais requisitos são necessários para que o professor se desenvolva e
se aprimore como profissional? O que significa a profissionalização
da docência? Quais processos formativos contribuem para profissio-
nalização do professor?
Para tanto, trataremos sobre a constituição histórica do trabalho
docente, os aspectos determinantes na profissionalização do profes-
sor, a formação inicial e continuada, a identidade, a ética profissional
e o compromisso social da função docente, os saberes e fazeres dessa
ação, as políticas públicas e os movimentos de valorização profissio-
nal do professor.
Espero que o conteúdo desenvolvido contribua para a formação
de todos aqueles
aqueles que
queseseinteressam
interessampela
pelaeducação,
educaçãomas,
e, essencialmente,
essencialmen-
te, para
para a melhoria
a melhoria
do trabalho
do trabalho
pedagógico
pedagógico
desenvolvido
desenvolvido
pelospelos
docentes
do-
centes
de nosso
de imenso
nosso imenso
país. país.
A autora.* A autora.*
* Josiane Gonçalves Santos é Mestre em Educação
educação e professora do curso de Pedagogia
da Faculdade
Fael (EaD eEducacional
presencial)dae Lapa
de cursos
– FAELde– Pós-Graduação
(EaD e presencial)
em eEducação.
de cursosPedagoga
de Pós-Gra-
da
duaçãoMunicipal
Rede em Educação.
de Ensino
Pedagoga
de Curitiba,
da Redeatualmente
Municipal de
é assessora
Ensino de técnico-pedagógica
Curitiba, atualmentedoé
assessoraMunicipal
Conselho técnico-pedagógica
de Educação dode
Conselho
Curitiba.Municipal de Educação de Curitiba.
A constituição
histórica do
trabalho docente 1
E ntre as lembranças que a maioria de nós traz consigo, estão
aquelas vividas na escola. Muitas dessas memórias estão relacionadas
às amizades e aos aprendizados, mas a maioria delas estão ligadas às
lembranças dos professores que tivemos.
Sem dúvida, os professores exercem grande influência sobre a vida
de seus alunos, que tanto podem ser boas, quanto podem ser más. In-
fluências que contribuem para a escolha da profissão de mestre, que
provocam a aversão pela matemática, que despertam o interesse pela 9
poesia. Enfim, a relação que o professor estabelece com seu aluno pode
produzir tanto “frutos” positivos, quanto negativos.
A profissão de professor é o único ofício que forma seres humanos
para sua vivência no mundo. Essa é uma formação que não é apenas
para o trabalho, mas também para a vida. Assim, todo docente, prin-
cipalmente aquele que atua com os primeiros anos da educação esco-
larizada, deve desenvolver uma prática pedagógica que, além de possi-
bilitar a apropriação dos conhecimentos historicamente construídos,
forme sujeitos éticos, solidários, comprometidos com o próximo e com
o mundo em que vivem.
Para tanto, além da formação teórica é preciso que o professor as-
suma seu compromisso social em uma sociedade que a cada dia percebe
mais o valor e importância da educação, afinal, não se trata apenas de
formar a população para atender às exigências da sociedade capitalista,
mas de formar integralmente o educando.
Podemos, portanto, dizer, utilizando-se das palavras de Gramsci,
que o professor se trata de um “condutor de mentes” e, como tal, sua
formação não pode estar descontextualizada de uma contínua reflexão,
Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 1
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 1
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
Dica de Filme
O filme Adorável professor possibilita refletir sobre os desafios de ensinar
em uma concepção tradicional, bem como nos mostra os efeitos dessa con-
cepção sobre o processo de ensino e de aprendizagem.
O filme conta a história de um professor que abraça a profissão apenas
para compor seu currículo. Ao assumir sua cadeira de professor de música,
inicia suas aulas com uma “postura bancária”, demonstrando que estava
ali apenas para passar os conhecimentos da música, o que era comum
à realidade da escola, pois se tratava de uma instituição que seguia um
modelo tradicional.
No decorrer do filme, depois de avaliar sua postura, e mais sensível às difi-
culdades dos alunos, o professor passa a respeitar as diferenças.
FAEL
Capítulo 1
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 1
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
Síntese
Na contemporaneidade, a profissão docente sofre as interferências
de movimentos ocorridos na sociedade, no decorrer dos tempos.
18
Historicamente, o ofício docente manifesta, em diferentes mo-
mentos, ações que caracterizam pouca preocupação com a formação
dos professores e com a instrução da população.
A escola normal, no Brasil, desenvolveu-se com a preocupação de
garantir aos estudantes a formação teórica e prática. A legislação apon-
tava as disciplinas necessárias para uma formação integral, que possi-
bilitasse, além do domínio dos procedimentos pedagógicos, o conheci-
mento sobre o desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes.
No entanto, os tempos mudaram e, mesmo que ainda seja preciso
avançar nesse processo, exige-se e espera-se muito desse profissional.
Para tanto, é preciso, primeiramente, compreender sobre as funções
que a escola tem desempenhado na sociedade, em uma espécie de res-
gate histórico do movimento dos professores.
FAEL
A profissionalização
docente 2
Q uando se pensa no ensino ofertado pelas instituições brasi-
leiras, uma das primeiras temáticas que afloram é sobre a formação
de professores, afinal, não há como desconsiderar que a qualidade do
ensino e a efetiva aprendizagem dos educandos “sofre” a interferência
direta do trabalho docente.
Para que esse trabalho seja
qualificado e resulte verdadeira-
Saiba mais 19
mente na aprendizagem dos estu-
Para contribuir com as reflexões iniciais sobre a
dantes é preciso que o professor,
profissionalização docente, sugere-se a leitura
além de possuir boa formação teó do texto É preciso reconstruir um compromisso
rica, atue com profissionalismo, social com a escola pública, de Antônio Nóvoa,
assumindo o compromisso social reitor da Universidade de Lisboa e renomado
e as responsabilidades decorrentes educador português. Nele, o autor reflete
da função. Todavia, nem sempre sobre a importância da valorização e do trabalho
a realidade se apresenta da forma do professor, especialmente da escola pública.
desejada. São vários os fatores Disponível em: <http://www.sprc.pt/paginas/
que interferem nesse processo, e Novidades/Pdfs/Docs9Congresso/9Cong_Interv_
revertê-lo em prol da garantia de AntonioNovoa.pdf>.
um ensino de qualidade para to-
dos é urgente e necessário.
No entanto, nesse contexto, contradições se manifestam. Se os
estudantes apresentam um bom desempenho acadêmico, por exem-
plo, não é mais do que o resultado esperado de uma ação profissional
eficaz. Porém, se os estudantes possuem um baixo desempenho, é cul-
pa de um profissional mal formado, mal qualificado, pouco criativo
e mal remunerado.
Profissionalização Docente
Profissionalização
Desde o prefácio deste livro, estamos em diferentes momentos,
abordando esse tema que parece tão comum a todos nós; porém, pensar
a profissionalização do professor pressupõe, primeiramente, compreen
der o significado da palavra “profissão”, conceito construído a partir
do desenvolvimento das funções e das ocupações e que, em geral, está
relacionado à demonstração da competência técnica, do discernimento
profissional e da responsabilidade no desempenho da função.
“Profissão” é um termo polissêmico. Seu significado varia de acor-
20
do com os diferentes contextos, países, culturas e referências teóricas,
ou seja, caracteriza uma construção sociológica, feita a partir de mode-
los socialmente estabelecidos.
No caso da função de professor, esse processo de profissionaliza-
ção decorre muito da construção e reconstrução da prática. Resulta
da capacidade de articular a relação entre o conteúdo aprendido com
as situações e demandas do cotidiano, o que diferencia um aprendiz
de um profissional e que conduz à profissionalização. Assim, segundo
Ramalho, Nuñez e Gauthier (2004, p. 50), profissionalização é:
[...] desenvolvimento sistemático da profissão, fundamenta-
da na prática e na mobilização/atualização de conhecimentos
especializados e no aperfeiçoamento das competências para a
atividade profissional. É um processo não apenas de raciona-
lização de conhecimentos, e sim de crescimento na perspec-
tiva do desenvolvimento profissional. A profissionalização é
um processo socializador de construção das características da
profissão, fundamentada em valores de cooperação entre os
indivíduos e o progresso social.
FAEL
Capítulo 2
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 2
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 2
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
1 O Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) foi criado pelo Governo Federal em
1990. Foi a primeira iniciativa, em âmbito nacional, no sentido de desenvolver uma ação que
propicie conhecer mais profundamente o sistema educacional brasileiro. As avaliações são
amostrais e são realizadas por estudantes que estão no final de cada ciclo de estudos, ou
seja, 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e no 3º ano do Ensino Médio. Além das provas,
estudantes, professores e diretores respondem a questionários, que, aliados à coleta de
informações sobre as condições físicas da escola, propiciam identificar os aspectos que
interferem no processo de ensino e aprendizagem.
2 A Prova Brasil é uma avaliação das áreas de língua portuguesa e de matemática realizada
pelos alunos do 5º e 9º ano do Ensino Fundamental (4ª e 8ª série do Ensino Fundamental
de 8 anos). Seus resultados auxiliam os governantes nas decisões e no direcionamento
de recursos técnicos e financeiros, pois produz informações sobre o ensino oferecido por
município e escola, individualmente.
3 O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é um exame individual, de caráter voluntário,
oferecido anualmente aos estudantes que estão concluindo ou que já concluíram o Ensino
Médio em anos anteriores. Tem como objetivo avaliar os conhecimentos do estudante ao
término da escolaridade básica. A prova é interdisciplinar e contextualizada, privilegiando o
conhecimento e não apenas a memorização.
FAEL
Capítulo 2
Dica de Filme
Para auxiliar na reflexão sobre a profissionalização docente uma boa su-
gestão é o filme Nenhum a menos, que trata sobre as dificuldades encontra-
das por uma menina de 13 anos, quando tem de substituir seu professor,
que viaja para ajudar a mãe doente. Antes de partir, ele recomenda à garo-
ta que não deixe nenhum aluno abandonar a escola durante sua ausência.
Quando um garoto desaparece da escola, a jovem professora descobre que
ele deixou o vilarejo em direção à cidade, em busca de emprego, para aju-
dar no sustento da família. Seguindo os conselhos de seu professor, ela vai
atrás do aluno.
Vale a pena assistir e refletir sobre as dificuldades decorrentes da pouca
idade e da falta de formação da menina para a função que acaba desempe-
nhando, ao mesmo tempo em esses obstáculos são superados com muita
dedicação e esforço.
NENHUM a menos. Direção de Zhang Yimou. China: Bejing New Picture
Distribution Company; Columbia Pictures Corporation; Film Productions 27
Asia; Guangxi Film Studio: Dist. Columbia Pictures, 1999. 1 filme (106
min), color.
Dica de Filme
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
Síntese
Pensar a profissionalização do professor é pensar sobre sua formação
pessoal e profissional, para o desempenho competente das inúmeras atri-
28 buições que a função acarreta, mas é, tamb ém, pensar sobre os aspectos
relacionados à valorização e ao reconhecimento social desse profissional.
A profissionalidade e o profissionalismo do professor frente ao
compromisso social de sua função são aspectos que caracterizam a pro-
fissionalização, que é uma construção social, ou seja, resulta de valores
estabelecidos em uma determinada comunidade e que são determinan-
tes para o desenvolvimento dos sujeitos e da sociedade.
A profissionalidade corresponde aos saberes pedagógicos e às habili-
dades que viabilizam ao professor exercer sua função. O profissionalismo,
por sua vez, é um processo político relacionado ao serviço prestado em uma
determinada comunidade, exigindo mais do que o domínio de conteúdo.
Podemos, portanto, considerar que a profissionalização docente
resulta da articulação entre a profissionalidade e o profissionalismo.
Isso pressupõe o domínio de saberes e práticas que, quando bem arti-
culados, favorecem o aprendizado dos educandos.
FAEL
3
A formação
inicial e continuada
do professor
A formação inicial
Nas últimas décadas, ocorreram no Brasil movimentos em prol
da melhoria da qualidade do ensino, especialmente da escola pública.
Nesse contexto marcado pela modernização econômica, pelos avan-
ços tecnológicos e pela valorização da cidadania, a formação inicial do
professor ganhou destaque, pois quanto “mais nos aproximamos do
cotidiano escolar mais nos convencemos de que ainda a escola gira em
torno dos professores, de seu ofício, de sua qualificação e profissionalis-
mo” (ARROYO, 2009, p. 19).
30
Objeto de contínua atenção, a formação do professor tem im-
pulsionado, entre outros, a implementação de políticas públicas, o
desenvolvimento de pesquisas, a realização de debates e os movi-
mentos sindicais da categoria. No entanto, esse importante tema
manifesta uma realidade contraditória, pois se de um lado se desta-
ca a necessidade e importância dessa formação, de outro, ainda se
questiona a qualidade do ensino ofertado por muitas das instituições
formadoras. Essa realidade, sem dúvidas, exige repensar a formação
inicial e básica de todo docente, afinal, é nessa etapa de sua forma-
ção que ele adquire as bases que possibilitam saber desenvolver com
competência o processo pedagógico.
A Lei de Diretrizes da Educação Nacional n. 9.394/1996 tam-
bém traz essa preocupação, dedicando uma parte de seu texto ex-
clusivamente aos profissionais da educação. Esse enfoque se dá do
artigo 61 ao 67:
Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a
atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de
ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do
educando, terá como fundamentos:
FAEL
Capítulo 3
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 3
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
A formação continuada
A cada dia, os profissionais da educação e das demais áreas se dão
conta da importância e necessidade da atualização e do aprimoramento
profissional. São exigências de uma sociedade capitalista, globalizada,
tecnológica, de contínuas transformações e inúmeras demandas.
34 Nesse contexto, ganha importância a formação continuada, pro-
cesso que, como o próprio nome indica, está relacionado à continuação
de estudos e aos cursos que têm como objetivo principal o aperfeiçoa-
mento técnico, possibilitando melhores resultados práticos, avanços na
carreira e reconhecimento profissional.
Todavia, vale destacar a ambiguidade que existe na conceituação
de formação continuada. Para alguns, esse conceito está relacionado à
formação obtida em cursos de pós-graduação, lato sensu e stricto sensu.
Para outros, é uma atividade com caráter de complementação, realizada
pela instituição em que o profissional atua ou por iniciativa do pró-
prio professor, com o objetivo de propiciar novos conhecimentos ou
aperfeiçoamento. Para Gatti (2000, p. 4), trata-se de “uma formação
complementar do professor em exercício, propiciando-lhe a titulação
adequada a seu cargo, que deveria ser dada nos cursos regulares, mas
que lhe é oferecida como um complemento de sua formação, uma vez
que já está trabalhando na rede”.
Especialmente na formação continuada de professores é preciso
organização e responsabilidade, pois, apesar de sua importância para a
melhoria do ensino, essa modalidade de formação pode acabar atuando
FAEL
Capítulo 3
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 3
Dica de Filme
No filme Meu mestre, minha vida, o arrogante e autoritário professor Joe
Clark é convidado por seu amigo, Frank Napier, a assumir o cargo de di-
retor em uma problemática escola em Paterson, New Jersey, de onde ele
havia sido demitido. Com seus métodos nada ortodoxos, Joe se propõe a
fazer uma verdadeira revolução no colégio – marcado pelo consumo de
drogas e por disputas entre gangues e considerado o pior da região. Com
isso, ao mesmo tempo em que ele colecionava admiradores e também ti-
nha muitos inimigos.
Esse é um bom filme para refletir sobre a formação de professores para a
atuação em contextos sociais em que se manifestam situações de violência
e suas consequências.
MEU mestre, minha vida. Direção de John G. Avildsen. EUA, Norman
Twain, 1989. 1 filme (109 min), color.
Dica de Filme 37
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
Síntese
A formação inicial do professor relaciona-se aos conhecimentos
e subsídios que possibilitam o desenvolvimento de uma prática pe-
dagógica responsável e com compromisso social. Isso significa que a
instituição formadora, por meio de seu projeto político-pedagógico e
da matriz curricular, deve garantir uma sólida “bagagem” pedagógica,
cultural, contextual, social, psicológica e política.
A formação continuada deve auxiliar o professor e todos que tra-
balham com a educação a desenvolver um conhecimento profissio-
nal que lhes permita aprimorar suas práticas pedagógicas, de forma a
atender com competência a heterogeneidade de alunos existentes nas
salas de aulas.
É por meio da formação inicial e da formação continuada que os
professores adquirem os conhecimentos que os levam ao “saber-fazer”.
38
FAEL
A identidade, a
ética profissional e o
compromisso social
da função docente
4
A identidade pessoal e profissional de um sujeito resulta de um
processo social, historicamente construído, característico da evolução
do ser humano e decorrente das experiências de vida de cada um.
No caso do professor, responsável pela formação de crianças,
adolescentes, jovens e adultos, homens e mulheres, não há como des-
considerar que, além do domínio de saberes especializados e estrutu-
rados, a prática docente também decorre de experiências vivenciadas
39
socialmente, pois esse profissional, antes de ser um professor ou uma
professora, é filho, mãe, pai, aluno, irmão, avó, integrante de uma co-
munidade religiosa ou líder sindical. Enfim, é um sujeito forjado em
diferentes contextos que caracterizam e interferem na história de vida
e na ação profissional.
A ética profissional é outro importante elemento para o êxito da
ação docente. Não raro ouvimos alguém comentar: “Fulano não agiu
com ética”, “Beltrano demonstrou muita ética na atitude que teve” ou,
ainda, “Fulano realmente é um cara de ética”. Muitos desses comentá-
rios estão embasados em valores e experiências pessoais. No entanto, a
ética está sempre relacionada à atuação competente. Mas o que carac-
teriza a ética profissional? Como ela se manifesta no desempenho da
função de professor?
Esses e outros questionamentos levam a reflexões mais complexas
sobre a prática pedagógica e, consequentemente, sobre seu compromis-
so social, que vai além do processo de ensino, pois traz a responsabili-
dade com a efetiva preparação dos alunos para se tornarem socialmente
ativos e participantes.
Profissionalização Docente
A construção da identidade
A frequente desvalorização da função docente e a frágil formação
acadêmica têm contribuído para que muitos professores se frustrem
com a profissão, colocando em crise sua identidade profissional.
A identidade não é algo externo, adquirido, que pode ser incor-
porado como uma propriedade ou vestimenta. Ao contrário, é um
processo interno, de construção do sujeito historicamente situado e
decorrente da formação, dos conflitos, reivindicações e “lutas” que
caracterizam a profissão. Em outras palavras, além de determinações
decorrentes dahistória de vida e da formação acadêmica, a identidade
profissional sofre a interferência de movimentos sociais (NÓVOA,
1992, p. 16).
Nesse sentido, a identidade docente tem relação direta com a qua-
lificação profissional e a do trabalho, pois o professor acredita verda-
deiramente em sua capacidade de contribuir para a transformação da
sociedade. Essa é a compreensão de Lopes e Macedo (2008, p. 82) ao
40 afirmarem que o professor é “um sujeito consciente de seu papel polí-
tico, capaz de problematizar a realidade e atuar na construção de uma
sociedade justa e democrática”.
Vários são os elementos que constituem a identidade profissional
de um sujeito. Vamos destacar três deles – história de vida, formação
e prática pedagógica – que, segundo Farias et al. (2009, p. 60), re-
presentam as duas dimensões que envolvem o professor: a pessoal e a
profissional.
●● História de vida: é comum os professores realizarem relatos so-
bre suas vidas, demonstrando como as mais diversas situações in-
fluenciaram sua opção pelo magistério e revelando como a ação
profissional de um sujeito também é determinada por “marcas”
históricas, sociais e culturais da sua existência. Professores não são
seres abstratos, nem essencialmente intelectuais. São pessoas co-
muns, inseridas em um determinado grupo social no qual “parti-
lham uma cultura, derivando seus conhecimentos, valores e atitu-
des dessas relações, com base nas representações construídas nesse
processo que é, ao mesmo tempo, social e intersubjetivo” (GATTI,
2002, p. 197).
FAEL
Capítulo 4
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 4
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
A ética profissional
O ser humano não vive só, é um ser social que adquire sua hu-
manidade por meio das relações que estabelece com seus semelhantes.
Essas relações ocorrem no campo pessoal e profissional e manifestam
44 interesses, habilidades e aptidões.
Os seres humanos são sujeitos diferentes entre si que, interagindo,
compartilham valores e estabelecem comportamentos, regras e normas.
Essa convivência entre eles necessita de uma regulação, sendo preciso,
portanto, estabelecer parâmetros para essa definição. É aqui que entra a
ética, possibilitando que o ser humano direcione suas ações e atitudes.
No entanto, a discussão sobre a ética nas relações entre os sujeitos
está sempre ligada a questões de moralidade. Ética e moral seriam a
mesma coisa? Rios (1995, p. 123) ajuda-nos a esclarecer: “ética vem
do grego ethos, que significa costume, jeito de ser, caráter (no sentido
de marca). Moral vem do latim mores, que tem o mesmo significado,
indica também costume, hábito.”
Farias et al. (2009, p. 84) auxiliam a esclarecer ainda mais:
A distinção entre moral e ética situa-se nesse ponto: a primeira
está consorciada à ideia do bem, estabelece o que é bom, o que
cada pessoa deve fazer, tendo em vista esta direção; a segunda
interroga criticamente os valores que estão na base do fazer
humano tendo como referência o bem comum – aquilo que
é bom para o conjunto da sociedade e não para um segmento
social específico.
FAEL
Capítulo 4
O compromisso social
Os pais, as famílias e a sociedade em geral esperam que seus filhos,
ao ingressarem em uma instituição de ensino, adquiram conhecimen-
tos fundamentais para a vida social e para um bom desempenho no
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 4
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 4
Dica de Filme
Escritores da liberdade é um excelente filme para a reflexão sobre o compro-
misso social do professor.
Erin Gruwell é uma jovem professora que leciona em uma pequena escola
de um bairro periférico nos EUA. Por meio de relatos de guerra, ela ensina a
seus alunos os valores da tolerância e da disciplina, realizando uma reforma
educacional em toda a comunidade.
ESCRITORES da liberdade. Direção de Richard LaGravenese. Alemanha;
EUA, Paramount Pictures, Double Feature Films, MTV Films, Jersey Films,
Kernos Filmproduktionsgesellschaft & Company: Dist. UIP, Paramount 49
Pictures do Brasil, 2007. 1 filme (123 min), color.
Dica de Filme
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
Síntese
Este capítulo apresentou reflexões sobre a identidade do professor,
a ética profissional e o compromisso social da ação docente.
A identidade é um processo interno, decorrente da história de vida
e da formação acadêmica de cada sujeito. Em nosso ponto de vista, três
elementos são determinantes na construção da identidade do professor:
história de vida, formação e prática pedagógica.
A ética orienta as ações e atitudes do ser humano. No caso do profes-
sor, agir com ética é fundamental, pois muitas de suas práticas manifes-
tam emoções e juízos de valor, colocando professor e alunos em situações
de conflito e interferindo no processo de ensino e de aprendizagem.
O compromisso social do professor se efetiva no domínio dos con-
teúdos e na forma como são desenvolvidos, levando os educandos à
reflexão crítica, elemento essencial para a transformação da sociedade
desigual e excludente em que vivemos.
50
FAEL
O ensino:
concretização da
ação docente 5
S e sairmos pelas ruas per-
guntando às pessoas o que faz um
Saiba mais
Carlos Rodrigues Brandão, em seu texto Huma-
nizar é educar, discute a importância de a edu-
professor, obteremos da maioria cação formar integralmente o sujeito. O texto
uma resposta bem simples: “en- está disponível no endereço eletrônico <http://
sina”. Podemos, portanto, afir- www.pde.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/Textos_
mar que o ensino é o processo Videos/Carlos_Rodrigues_Brandao/4_
que mais caracteriza a profissão HUMANIZAR_EH_EDUCAR.pdf>.
docente. É uma ação pedagógi- 51
ca, organizada e intencional que exige do professor a formação teóri-
co-prática para o desenvolvimento de diferentes processos (LIBÂNEO,
1994, p. 89).
O ensino é uma prática social, por meio do qual ocorre a mediação
entre o sujeito e a sociedade. Isso caracteriza a função humanizadora
do ato educativo, que se preocupa com a formação de um ser humano
mais justo e solidário com o próximo e com o mundo em que vive
(FREIRE, 1987, p. 29).
Daí a importância de uma harmoniosa relação entre professor e
alunos, afinal, é por meio da mediação dos saberes, estabelecida por
esse relacionamento, que se possibilita a assimilação dos conhecimentos
e consequente apropriação dos conteúdos trabalhados.
FAEL
Capítulo 5
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 5
Paulo Freire já afirmava que alguém só aprende se existir uma pessoa que
deseja lhe ensinar. Da mesma forma, alguém só ensinará se houver um
sujeito predisposto a aprender. Ensinar e aprender são ações recíprocas,
uma não existe sem a outra, devem ser decorrentes de uma relação de-
mocrática. Portanto, esse é um importante aspecto a ser considerado na
formação e na prática do professor, pois estabelecer relações horizontais
e práticas democráticas não é fácil, principalmente quando se tem um
imaginário docente que ainda acredita que o professor é aquele que de-
tém o saber. Essa compreensão, historicamente construída, leva muitos
docentes a agir de forma autoritária, interferindo inclusive no aprendi-
zado dos estudantes.
O professor obtém sucesso em seu ensino quando o aluno de-
monstra ter aprendido, desenvolvendo-se intelectualmente. No entan-
to, sempre vale à pena destacar que o processo de ensino e a aprendi-
zagem dos alunos não acontecem de forma automática e vão muito
além da simples transmissão dos conteúdos por parte do professor e
da recepção por um aluno que aprende. É um processo complexo que,
segundo Libâneo (1994, p. 99),
55
Em cada um dos momentos do processo de ensino o professor
está educando quando: estimula o desejo e o gosto pelo estudo,
mostra a importância dos conhecimentos para a vida e para o
trabalho, exige atenção e força de vontade para realizar as ta-
refas; cria situações estimulantes de pensar, analisar, relacionar
aspectos da realidade estudada nas matérias; preocupa‑se com
a solidez dos conhecimentos e com o desenvolvimento do
pensamento independente; propõe exercícios de consolidação
do aprendizado e da aplicação dos conhecimentos. A realiza-
ção consciente e competente das tarefas de ensino e aprendiza-
gem torna-se, assim, fonte de convicções, princípios de ação,
que vão regular as ações práticas dos alunos frente a situações
postas pela realidade.
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
56
Dica de Filme
O filme O sorriso de Mona Lisa tem Julia Roberts no papel principal, viven-
do Katherine Watson, uma recém-graduada professora que consegue um
emprego no conceituado colégio para moças Wellesley, para dar aulas de
história da arte.
Katherine, porém, não concorda com o conservadorismo da sociedade
e do colégio e busca, por meio de suas aulas, lutar contra essas normas e
inspirar suas jovens alunas a enfrentar os desafios da vida. No elenco há,
ainda, outras grandes atrizes, entre elas Kirsten Dunst, Julia Stiles e Marcia
Gay Harden.
O filme possibilita uma boa reflexão sobre a prática docente.
O SORRISO de Mona Lisa. Direção de Mike Newell. EUA: Columbia
Pictures Corporation, Revolution Studios, Red Om Films: Dist. Columbia
Pictures, 2003. 1 filme (117 min), color.
Dica de Filme
FAEL
Capítulo 5
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
Síntese
O ensino caracteriza-se como a principal ação docente. É uma
prática social, pois por meio dele acontece a mediação entre o sujeito
58 e a sociedade, processo que caracteriza a função humanizadora da
educação. No entanto, alguém só aprende se existir uma pessoa que
deseja lhe ensinar. Podemos considerar que ensinar e aprender são
ações recíprocas.
De acordo com Libâneo (1994), são três as funções do ensino: a
organização e transmissão dos conteúdos, o estabelecimento dos obje-
tivos de aprendizagem e o desenvolvimento nos alunos de suas possibi-
lidades de aprendizagem.
É preciso destacar, também, a aula, momento em que o professor
executa seu trabalho pedagógico, possibilitando ao aluno a apropriação
dos conteúdos que lhes são de direito.
FAEL
Os saberes e os
fazeres docentes 6
N o cotidiano escolar, o docente desempenha um trabalho de
muita responsabilidade e com forte significado social. Esse trabalho, como
dito anteriormente, exige um domínio teórico e prático dos processos que
envolvem o ato de ensinar do professor e a aprendizagem dos educandos.
A ação docente efetiva-se,
fundamentalmente, por meio de Saiba mais
um conhecimento especializado Para complementar as ideias iniciais sobre o
que caracteriza a profissão e que tema deste capítulo, sugerimos a leitura do 59
se legitima na prática através do texto Saberes docentes e formação de pro-
ensino, ação intencional que co fessores: um breve panorama da pesquisa
brasileira, de Célia Maria Fernandes Nunes,
loca em movimento diversos ele-
disponível em <http://www.scielo.br/pdf/es/
mentos que, quando articulados,
v22n74/a03v2274.pdf>.
caracterizam o trabalho educa
tivo. Entre eles, temos o projeto político-pedagógico, o currículo, o
planejamento, os objetivos de ensino, os conteúdos, a metodologia e a
avaliação da aprendizagem. São saberes e fazeres docentes, conhecimen-
tos teóricos e práticos necessários ao exercício competente do ofício e à
obtenção de uma vida digna, possibilitando aos alunos a efetiva constru-
ção do conhecimento e o desenvolvimento de suas capacidades cognos-
citivas. Portanto, é necessário que o professor possua os saberes essenciais
para a qualidade do trabalho desenvolvido, pois essa é a condição para o
seu reconhecimento e a sua valorização.
O saber, por sua vez, resulta de uma práxis social, histórica e in-
tencional e implica a realização de uma prática reflexiva, comprometida
com a formação do ser humano.
Os professores, especificamente, constroem seus saberes a partir
das vivências em campos sociais. Tardif (2000) destaca cinco fontes dos
saberes docentes.
1. Conhecimentos pessoais: aqueles que resultam da própria história
de vida do sujeito;
2. Conhecimentos escolares: aqueles que o sujeito incorpora em de-
corrência do processo de escolarização;
3. Conhecimentos provenientes da formação profissional: aqueles
que resultam da prática profissional, de estágios e/ou de cursos de
aperfeiçoamento;
4. Conhecimentos provenientes de programas e manuais escolares:
aqueles que decorrem da prática como ferramenta de trabalho;
FAEL
Capítulo 6
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
62 Projeto político-pedagógico
Continuamente, a escola vem assumindo responsabilidades que
exigem repensar e reorganizar os processos pedagógicos, de modo a
possibilitar a formação de um cidadão mais responsável, ético, justo e
solidário com seu próximo. São demandas para as quais os professores
nem sempre estão habilitados, pois as instituições formadoras raramen-
te desenvolvem um currículo emancipatório, que leve o estudante a
compreender a importância de sua função na formação de uma socie-
dade mais justa e igualitária.
No entanto, não basta ao professor possuir apenas boa intenção
para desenvolver um ensino eficaz e de qualidade, que resulte na forma-
ção integral de seus alunos. É preciso que a escola se organize em prol
desse objetivo. E como fazer com que isso aconteça?
A proposta de um trabalho pedagógico comprometido com a
efetiva aprendizagem dos alunos e com a transformação social ini-
cia‑se por meio do projeto político-pedagógico, instrumento que
define os objetivos, as ações e as diretrizes do processo educativo,
sempre em acordo com a legislação vigente e com as expectativas da
comunidade escolar.
FAEL
Capítulo 6
Currículo
63
O currículo é o elemento principal de um projeto pedagógico,
portanto, é o viabilizador do processo de ensino-aprendizagem.
O posicionamento que a escola e seus profissionais têm diante
da cultura socialmente produzida, traduz uma intencionalidade que
se manifesta por meio do currículo, pois, mais do que um conceito,
é uma construção cultural que sofre a interferência dos movimentos
econômicos e políticos que se manifestam na sociedade. O currículo é,
portanto, muito mais do que o conjunto de disciplinas que o estudante
terá no decorrer de um ano letivo.
O sucesso da prática pedagógica do professor decorre, entre ou-
tros, de domínio teórico sobre um conteúdo ou teoria. Especificamente
no caso do currículo, esse movimento se faz necessário, pois, segundo
Eyng (2007, p. 110), “uma teoria do currículo ou teoria curricular é um
conjunto de conhecimentos, estratégias e aplicações, mais ou menos
sistematizadas, em torno a determinadas propostas relacionadas, relati-
vas ao processo pedagógico”.
Em outras palavras, podemos considerar que se trata de um pro-
cesso inter-relacionado, pois a ação pedagógica realizada pelo professor
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
Dica de Filme
Para melhor compreender como o professor interfere na formação de seus
alunos, uma boa dica é o filme Sociedade dos poetas mortos. A história se pas-
sa em 1959, ano em que John Keating volta ao tradicionalíssimo internato
Welton Academy, onde foi um aluno brilhante, para ser o novo professor
de inglês. No ambiente soturno da respeitada escola, Keating torna-se uma
figura polêmica e mal vista, pois acende nos alunos a paixão pela poesia e
pela arte e a rebeldia contra as convenções sociais. Os estudantes, empol-
gados, ressuscitam a “Sociedade dos Poetas Mortos”, fundada por Keating
em seu tempo de colegial e dedicada ao culto da poesia, do mistério e da
amizade. A tensão entre disciplina e liberdade vai aumentando, os pais dos
alunos são contra os novos ideais que seus filhos descobriram, e o conflito
64 leva à tragédia.
SOCIEDADE dos poetas mortos. Direção de Peter Weir. EUA: Silver Screen
Partners IV; Touchstone pictures: Dist. Buena Vista; Disney Video, 1989.
1 filme (128 min), color.
Dica de Filme
Planejamento
Quando o professor vai preparar sua aula, o primeiro passo que
deve dar é a organização do planejamento, instrumento fundamental
para a tomada de decisão, por que antecipa a ação a ser realizada, “im-
plicando definição de necessidades a atender, objetivos a atingir dentro
das possibilidades, procedimentos e recursos a serem empregados, tem-
po de execução e formas de avaliação” (LIBÂNEO, 2004, p. 149).
No cotidiano escolar, é frequente que os profissionais confundam
planejamento com plano de ensino. Isso é um equívoco, pois, apesar de
se complementarem, não são sinônimos.
FAEL
Capítulo 6
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 6
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
Avaliação
Na contemporaneidade, a avaliação é um processo pedagógico
amplamente discutido em segmentos externos e internos da escola. São
discussões que buscam possibilitar a superação de uma prática avaliati-
va centrada no autoritarismo, no “conteudismo” e na punição. Assim,
estabelece-se uma nova perspectiva para o trabalho pedagógico, que
favorece a autonomia do educando. Avaliar é analisar, mediar o proces-
so ensino/aprendizagem, é oferecer recuperação imediata, é promover
FAEL
Capítulo 6
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
Síntese
Para o êxito do processo de ensino e de aprendizagem, o professor
deve possuir conhecimento sobre os diferentes processos e instrumen-
tos pedagógicos que caracterizam os saberes docentes, que são decor-
rentes de um conhecimento que resulta da teoria e da prática e que se
constroem e reconstroem continuamente durante a vida profissional.
FAEL
7
As políticas públicas e
os movimentos de
valorização profissional
do professor
N a sociedade capitalis-
ta em que vivemos, as relações
pessoais e profissionais acabam
Saiba mais
Na cultura oriental, existe uma tradição ba-
sofrendo a interferência de inú-
seada no filósofo Confúcio que determina a
meros processos que se manifes-
reverência à educação. Essa tradição resulta
tam na sociedade.
em grande respeito ao professor, especialmen-
Nesse contexto – que fas- te ao dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
cina, mas que também atemori- No Japão, essa valorização é bem explícita. 71
za – ganha destaque a formação Além da remuneração justa e de investimen-
dos professores, profissionais tos em sua profissionalização, o professor é
que devem estar comprometidos o único profissional a quem o imperador faz
com a formação integral de seus reverência em público.
alunos. Todavia, essa responsa-
Saiba mais sobre esse assunto em: <http://tet
bilização nem sempre se efetiva, tera.spaces.live.com/default.aspx?_c11_Blog
pois o professor traz consigo as Part_BlogPart=blogview&_c=BlogPart&partqs=
“cicatrizes” de uma história de cat%3DEduca%25c3%25a7%25c3%25a3o&sa
muita desvalorização. Sobre isso =926353604>.
Caldas (2005, p. 10) alerta:
o professor, a escola e a educação já não gozam da valorização
social de antes, seu papel e função se encontram em mutação.
Os professores não querem ser rotulados de reacionários, en-
saiam se adequar aos novos “parâmetros”, mas percebem que
seus esforços esbarram nas precárias condições materiais de
sua vida e formação.
FAEL
Capítulo 7
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 7
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
76 Dica de Filme
A comédia Curso de férias é um excelente filme para exemplificar a impor-
tância da valorização de um bom professor.
O filme conta a história de um professor de educação física que tem como
tarefa durante as férias de verão recuperar um grupo de alunos extrema-
mente heterogêneo.
O professor realiza seu trabalho utilizando-se do diálogo entre ele e alu-
nos e de uma metodologia diferenciada, que causa momentos surpresa ao
expectador.
CURSO de férias. Direção de Carl Reiner. EUA: Paramount Pictures, 1987.
1 filme (97 min), color.
Dica de Filme
FAEL
Capítulo 7
Profissionalização Docente
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Capítulo 7
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Profissionalização Docente
FAEL
Capítulo 7
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
O jargão da mediocridade
– O colega fez licenciatura plena ou curta?
– Curta: o tempo estava curto e o dinheiro mais curto ainda.
– Passou em concurso de ingresso?
– Não, caí nesta escola de paraquedas mesmo. Sem curso.
– Foi homologado pelo Diário Oficial?
– Resolução 35, Portaria 23, de 18 de março de 1991. Carimbado,
registrado, homologado. Como professor, homem logrado.
– O quê?
– Logrado: assalariado explorado. Mas deixa isso pra lá.
– O colega é meio sarcástico, não é mesmo? Fez ao menos o concurso
de remoção?
– Removido só o salário, só o meu status de professor.
82
– Engraçadinho o colega... então está aqui na categoria de substitu-
to, com contrato por tempo determinado?
– Sim e titular só da miséria.
– Costuma entrar de licença-saúde?
– Deu brecha, entro. Entro de licença pra não entrar pelo cano. Ando
levando muito cano do Governo.
– Favor não desacatar as autoridades! Tem direito a licença-prêmio?
– Prêmio pra professor só na esportiva ou na sena. O duro é conseguir
dinheiro para fazer as apostas. Se seu um dia ganhar, digo bença e
tchau magistério.
– O colega parece se esquecer do juramento da formatura e das nor-
mas da boa conduta. Recordo-lhe das penalidades previstas em lei.
Recordo também que nesta escola o colega terá que bater o ponto.
– Ponto?
– Sim, “ponto”. Aqui a pontualidade conta ponto. É lógico que o
colega deseja subir na carreira, não é verdade?
– Quero mais é requerer a minha aposentadoria. Não aguento mais
diretores burocratas como você!
FAEL
Capítulo 7
Síntese
Na sociedade capitalista em que vivemos, insere-se a função de
professor, que, enquanto trabalhador, é um profissional que busca me-
lhores condições de vida e de trabalho.
Em seu cotidiano, o docente manifesta diversos sentimentos: ale-
grias, vitórias, prazeres, questionamentos, dúvidas, aprendizados, frus-
trações, queixas e conflitos. Todavia, permanece na profissão.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de conhecer aspectos da
legislação educacional brasileira e da organização dos sistemas de ensino
direcionados à formação e valorização de professores. São temáticas que
se constituem como um dos maiores desafios das políticas educacionais
da gestão das escolas, especialmente aquelas públicas, responsáveis pela
formação dos filhos da classe trabalhadora.
83
Profissionalização Docente
Referências
FAEL
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educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Leitura)
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Madrid: Moratas S.A., 1988. 87
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NÓVOA, A. (Coord.). Os professores e sua formação. Lisboa: Dom
Quixote, 1997.
Profissionalização Docente
Profissionalização Docente
FAEL
Glossário
Abnegada
Desprendida, que renuncia a algo, sacrifica-se em função de outrem.
Exemplificando, uma professora abnegada é aquela extremamente
dedicada a seu ofício, a seus alunos, independente de sua formação,
das condições salariais, das condições socioeconômicas dos alunos
e da infraestrutura da instituição.
Cavas
Buracos.
89
Cognoscitivo
Expressão relacionada à capacidade de aprender. Refere-se àquele
que tem a faculdade de conhecer, que é hábil no aprendizado.
Heterogeneidade
Termo relacionado aos diferentes. No contexto escolar, é comum essa
expressão para destacar que os alunos não são todos iguais.
Hodierno
Moderno, atual, contemporâneo. Relativo ao que ocorre na atualidade.
Locus
A palavra locus significa “lugar”, em latim.
Paradigma
Vem do grego parádeigma, que significa modelo. É a representação
de um padrão a ser seguido. Pode ser um pressuposto filosófico, uma
teoria, um conhecimento que origina um estudo, métodos e valores.
Profissionalização Docente
Polissêmico
Derivado de polissemia. Muitas das palavras do nosso vocabulário
possuem essa característica, que corresponde a um vocábulo possuir
significados diferentes. Por exemplo: “Falta uma peça neste jogo” e
“No final do ano vou participar de uma peça de teatro”.
Ratio Studiorum
Documento escrito por Inácio de Loyola e publicado em 1599, que
trazia a organização pedagógica e o plano de estudos da Companhia
de Jesus.
Savoir-faire
É uma expressão francesa que significa o conhecimento de alguém
na execução de uma tarefa. É saber como agir, se sair bem em uma
situação, ter apurado conhecimento de algo. Uma pessoa que possui
savoir faire é aquela que sempre tem uma resposta para tudo.
90
FAEL
Profissionalização
Docente
A formação e a profissionalização do professor são alguns
dos temas mais discutidos na sociedade contemporânea,
pois interferem pontualmente na qualidade do processo edu-
cativo. É nesse contexto, globalizado e tecnológico, que ganha
ênfase a formação de professores na Educação a Distância.
Busca-se, portanto, por meio dos conteúdos trabalhados e
das reflexões realizadas neste livro, destacar a importância
da profissionalização da ação docente e, fundamentalmente,
contribuir para a valorização e o reconhecimento social do
ofício de mestre.
Teste 2