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JOY DIVISION

O Joy Division começou como muitas bandas que surgiram na Inglaterra na


época da explosão do movimento punk. Em 1976 os Sex Pistols e o Clash já haviam
tomado de assalto o Reino Unido através de vários shows e incentivavam os jovens a
seguirem seu exemplo. Era necessário apenas ter muita vontade de tocar e saber uns
três ou quatro acordes. Qualquer um podia fazer música, não era necessária nenhuma
técnica e nem importava muito o resto. Durante um dos shows da Anarchy Tour dos
Sex Pistols em Manchester, haviam três amigos que se conheciam desde a infância:
Bernard Sumner, Peter Hook e Terry Mason. Uma outra figura bem comum em todos
os shows de rock da época estava lá também. Seu nome era Ian Curtis.

"Eu achei que os Sex Pistols eram ruins, foi isto que eu gostei neles. Achei
que eles destruíram o mito do pop-star, do músico que era uma espécie de deus que
você tinha que idolatrar", declarou anos depois Bernard Sumner. "Alguma coisa estava
acontecendo e a música era secundária", complementou Peter Hook. Assim os três
começaram a tocar juntos, com Peter no contra-baixo, Bernard na guitarra e Terry na
bateria. No dia 9 de dezembro de 1976 este "embrião" do Joy Division fez sua primeira
aparição ao vivo, obtendo repercussão negativa da revista local Sounds.

Ian Curtis se juntou ao trio quando respondeu a um anúncio colocado por


Bernard Sumner procurando um vocalista e foi imediatamente aceito no grupo, não
chegando nem a ser feita uma audição prévia. Resolveram adotar o nome Warsaw,
baseando-se na música "Waszawa" do disco Low de David Bowie, lançado em janeiro
de 1977. Rapidamente percebeu-se que Terry Mason não tinha a menor condição de
tocar bateria, mesmo para os padrões precários da época, passando a ser uma
espécie de empresário do grupo. Em seu lugar entrou Tony Tabac, que não havia feito
nem um ensaio quando o Warsaw fez sua estréia no dia 29 de maio de 1977 no
Electric Circus em Manchester.

A atitude desinteressada de Tabac fez com que ele ficasse pouco mais de
um mês, entrando em seu lugar Steve Brotherdale, que era bom baterista, mas
também não se enquadrou no espírito do grupo. Ele chegou até tentar convencer Ian
Curtis a cantar em outro grupo chamado Panik, mas a voz de Ian não se adequava às
músicas do Panik e ele continuou com o Warsaw. O baterista definitivo foi Stephen
Morris, o único a responder a um anúncio colocado em uma loja de discos. Finalmente
o Warsaw havia encontrado sua formação ideal.

Durante o ano de 1977 fizeram alguns shows na região de Manchester e


quando o Electric Circus estava prestes a fechar foram marcados dois shows de
despedida. O Warsaw tocou no segundo show, no dia 2 de outubro de 1977. O show
foi gravado e a música "At A Latter Date" foi incluída na coletânea Short Circuit – Live
At The Electric Circus. Infelizmente o grupo foi lembrado somente por Bernard ter
gritado na introdução da música: "Todos vocês esqueceram Rudolf Hess!".

Na época o ex-carrasco nazista estava com cerca de oitenta anos em uma


prisão fortemente vigiada, mas começaram aí as acusações infundadas de "nazismo"
que sempre seguiram o grupo.

Em dezembro de 1977 gravaram no Penine Studio quatro faixas que


entraram no EP An Ideal For Living, lançado de forma independente pelo grupo em
junho do ano seguinte. Quando descobriram que havia um grupo londrino de heavy-
metal chamado Warsaw Pakt e que havia até lançado um disco chamado Needle Time,
resolveram mudar de nome para evitar qualquer confusão. O nome escolhido foi Joy
Division, extraído do livro The House Of Dolls, que descrevia os horrores do nazismo.
As “divisões do prazer” eram os alojamentos destinados às mulheres judias que eram
obrigadas a se prostituir nos campos de concentração nazistas. Quem escolheu o
nome foi Ian Curtis, que era obcecado por tudo que fosse alemão.

O primeiro show como Joy Division ocorreu no dia 25 de janeiro de 1978 no


Pip´s Disco em Manchester. Em 14 de abril de 1978 a Stiff e a Chisick Records
promoveram um festival no estilo "batalha de bandas", onde o vencedor teria um
contrato com a eclética gravadora Stiff. O Joy Division foi o último entre os dezessete
grupos a tocar e após quatro músicas sua apresentação foi interrompida. Não
venceram o festival, mas chamaram a atenção de Tony Wilson, que na época era
apresentador de um programa de TV, e de Rob Gretton, que a partir daí tornou-se
empresário do grupo.

Nos dias 3 e 4 de maio gravaram onze músicas para aquele que seria o
disco de estréia do grupo, a ser lançado pela RCA. O grupo não gostou da produção e
principalmente dos sintetizadores adicionados posteriormente à gravação e como
resultado disto, este disco nunca foi oficialmente lançado, mas tornou-se disponível em
cópias piratas, geralmente sob o nome de Warsaw. Isto sem falar que musicalmente o
grupo evoluía rápido, sendo a maioria das músicas novas muito superiores àquelas
registradas neste álbum. "Havia de repente uma diferença marcante entre as músicas",
afirmou Peter Hook.

Ainda assim são encontradas aqui as primeiras versões de músicas que se


tornariam futuramente clássicos como "Shadowplay" e "Transmission".

Poucos meses depois Tony Wilson organizou alguns eventos no Russel


Club em Manchester, dando o nome de "The Factory", ocorrendo algumas
apresentações do Joy Division. Factory foi também o nome da gravadora que Wilson
montou e o primeiro lançamento foi o EP A Factory Sample, onde o Joy Division
contribuiu com duas músicas: "Digital" e "Glass". Foi a partir daí que o grupo começou
a trabalhar com o produtor Martin Hannett, que conseguiu extrair a sonoridade densa e
sombria que caracterizou o grupo.

O primeiro show em Londres ocorreu em 27 de dezembro de 1978. Em


janeiro de 1979 gravaram quatro músicas para as famosas "Peel Sessions" da BBC e
apareceram na capa da New Musical Express, começando a atrair atenção do público
na Inglaterra. Um LP de estréia se fazia necessário e Unknown Pleasures foi gravado
em abril, em apenas quatro dias e meio. A magnífica produção de Martin Hanett ousou
ao inverter o plano de mixagem, colocando a bateria e o baixo à frente, enquanto que
guitarra e vocal ficavam ao fundo, além de acrescentar diversos efeitos e gravações de
cadeiras e vidros se partindo e até mesmo um elevador enferrujado. Outro destaque
foram as letras de Ian Curtis, expressão máxima do desespero e angústia humana,
com certeza um dos maiores poetas que o rock já teve. Quando o álbum foi lançado
em junho de 1979, foi saudado pela crítica inglesa como um dos melhores discos de
estréia de todos os tempos.

Os shows do Joy Division começaram a se tornar lendários. A banda ficava


imersa em sombras, destacando-se a dança maníaca de Ian Curtis, que era epiléptico
e repetia inconscientemente os movimentos que fazia durante seus ataques. Por este
motivo, nunca eram utilizados estrobos na iluminação e na única vez em que isto
ocorreu, Ian Curtis teve um ataque epiléptico em pleno palco. O Joy Division já possuía
um grupo fiel de admiradores, que seguia o grupo onde fosse e se vestia à maneira
austera da Alemanha dos anos 40.

Entre os meses de outubro e novembro, excursionaram pela Inglaterra como


banda de abertura dos Buzzcocks, mas costumavam "roubar o show" na maioria das
apresentações. Ainda assim, nesta mesma época conseguiram fazer algumas
apresentações como atração principal no Plan K em Bruxelas e no Electric Ballroom
em Londres. Em dezembro de 1979 e janeiro de 1980, fizeram uma bem sucedida
turnê européia, por países como França, Alemanha, Bélgica e Holanda.

Em março de 1980 saiu um compacto de 7 polegadas com as músicas


"Atmosphere" e "Dead Souls" pela gravadora francesa Sordide Sentimental, no número
limitado e numerado de 1578 cópias. Neste mesmo mês entraram em estúdio para
gravar o segundo álbum, novamente produzido por Martin Hannett, mas desta vez
destacando-se o uso de teclados, que eles mesmo haviam renegado no passado.
Apesar de ter sido gravado em somente doze dias, ficou registrada aqui mais uma
obra-prima. Para a gravação dos vocais e da bateria foi construída uma abóbada de
estuque, que reproduzia a ressonância de uma capela, perceptível em faixas como "A
Means To An End " e "Decades".

No mês seguinte alguns concertos foram cancelados devido à problemas de


saúde do vocalista. O grande número de shows marcados ajudou a piorar a epilepsia
de Ian Curtis, que era cada vez mais constante. No final de um show no Rainbow em
Londres, Ian teve um ataque epiléptico e acabou caindo violentamente em cima da
bateria, para delírio da platéia que não sabia o que estava ocorrendo, achando que isto
fazia parte da apresentação. "As pessoas admiravam Ian pelas coisas que estavam
matando-o", descreveu a esposa Deborah Curtis em sua biografia. Uma turnê
americana de três semanas estava prevista para iniciar em maio, mas o grupo nem
chegou a embarcar. No dia 18 de maio de 1980, Ian Curtis se enforcou em sua casa
em Macclesfield.

Terminava assim a carreira de um dos mais influentes grupos de todos os


tempos, justamente quando estava prestes a atingir seu auge. O compacto "Love Will
Tear Us Apart" foi lançado em maio e colocou o Joy Division pela primeira vez no Top
20 britânico, sendo escolhido como "compacto da semana" no New Musical Express. O
álbum Closer lançado no mês seguinte chegou a atingir o número 6 na parada
britânica. O álbum Still de 1981 continha sobras de estúdio e o último concerto do
grupo, aumentando ainda mais o culto que foi criado em cima do Joy Division. Os
remanescentes do grupo continuaram como New Order, se firmaram como um dos
mais importantes grupos da década de 80 e superaram o fantasma de seu passado.
Mas o legado do Joy Division está aí até hoje, as músicas que deixaram continuam
insuperáveis.

Biografia retirada da página de Ricardo A. Fernandes dedicada a Joy Division


URL: http://www.general.com.br/eterno/principal.html

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