Anais P&D Design 2000. FEEVALE, Novo Hamburgo, RS. 29 out. a 01 nov.

2000
Moraes, A. et all. Projeto Ergonômico da Estação de Trabalho de Despachador de Trem de Carga

Projeto Ergonômico da Estação de Trabalho de Despachador de Trem de Carga

Ergonomic design of

Anamaria de Moraes, D.Sc.

LEUI - Laboratório de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces Humano-Tecnologia - PUC-Rio
Manuela Quaresma
Mestranda em Design - PUC-Rio Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Alexandre Dresch
Especialista em Ergonomia - PUC-Rio Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Rosane Schonblum
Especialista em Ergonomia - PUC-Rio Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Palavras-chave: design ergonômico, salas de controle, estações de trabalho

Este trabalho apresenta a evolução de alternativas ergonômicas para o projeto da estação de trabalho do dispachador de
trem de carga. Parte das mudanças deveram-se à necessid ade de compatibilizar as divergências entre diversos níveis
gerenciais envolvidos no processo decisório.

Keys-words: ergonomics design, control room, workstation

This paper presents the evolution of ergonomic alternatives to workstation design of the dispachador. He/she/you
leaves of the changes they were due to the compatibilizar need the divergences among several managerial levels
involved in the process decisório.

Introdução cada vez que acaba o intervalo de 3 segundos, o

Este trabalho enfoca a questão do projeto de
estações de trabalho durante o processo de inovação
e implantação de novos conceitos ergonômicos de
design. Tem-se de um lado, gerentes, níveis
decisórios intermediários, que dialogam com
ergonomistas, e do outro lado os operadores com
suas próprias opiniões. Estes últimos pouco são
ouvidos a não ser pelos ergonomistas. É a partir de
interlocuções com os despachadores que define-se a
configuração do sistema. Entretanto, outros fatores,
como a transferência de tecnologia e o
deslumbramento da gerência com sistemas similares
fazem com que o projeto “sofra” modificações até
que se consiga alcançar um patamar em que os
requisitos ergonômicos sejam minimamente
atendidos.
Métodos e Técnicas
observador olha e anota os eventos que estiverem
ocorrendo.
Os grupos de eventos definidos foram: tomada de
informação, acionamentos, comunicações e tomada
de informações/ações em geral (estímulo-resposta).
Foram feitos registros durante 7 dias nos turnos da
manhã, tarde e noite, em todos os postos de
despachador.
Na execução dos registros foram usadas planilhas
especificas para cada registro, gravadores e fitas
com os intervalos de tempo gravados. Cada
ergonomista ouvia seus próprios intervalos, sem
interferir nos outros registros. Para cobrir todos os
turnos, 6 pessoas se alternaram, fazendo os registros.
Cada pessoa fez sempre o mesmo tipo de registro
para não ocorrerem erros de interpretação dos
eventos.

O método utilizado foi o de Registros de Análise Geral

Comportamento - o registro diacrônico de
freqüência de eventos por amostragem de tempo.
Esse registro consiste em definir um grupo de
eventos a ser observado. Registra-se a freqüência
com que ocorrem esses eventos, num intervalo de
tempo pré-definido. Os intervalos utilizados foram
de 3 em 3 segundos durante 15 minutos corridos. A
Observando os gráficos de todos os postos, percebe-
se que o painel sinótico é uma peça fundamental
para o bom andamento do trabalho do despachador
em qualquer trecho da via. Somente num trecho, a
importância do painel sinótico é dividida com outro
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sistema via satélite, o Omnisat, que nada mais é do
que o painel sinótico em forma digital.
Neste posto, especificamente, a atenção é dividida
entre estes dois sistemas. No painel sinótico não
existe o trecho completo, por isso a necessidade do
Omnisat para complementar as informações para o
despachador.
Fica claro que o despachador necessita de uma visão
global do sistema, para se sentir seguro em relação
aos seus atos, decidir com mais precisão, rapidez e
eficiência. Como observou MORAES (1991) numa
pesquisa realizada na sala de controle do Metro/RJ:
"Registros quantitativos de freqüência de tomada
de informação e também de estímulo-resposta
enfatizam a importância do painel sinótico (TCO)
e de seu varredura da esquerda para direita, e
vice-versa, como uma forma de avaliação do
desempenho geral do sistema, de verificação das
conseqüências de decisões e intervenções e de
antecipação das ações necessárias para regular o
desempenho do sistema."
Os gráficos abaixo demonstram a importância do
painel sinótico para os despachadores, a partir dos
registros de tomada de informação e acionamento.
Registros de Tomada de Informação
Painel Sinótico
Tela do Omnisat 5,90%
Projeto Conceitual da Estação de Trabalho
Após a análise dos resultados obtidos no
levantamento de dados e nas observações, definiu-se
a seguinte modelagem verbal do sistema, na
conceituação do projeto.
Propuseram-se 4 postos de despachadores para
monitoramento e intervenção nas vias com a
possibilidade de selecionar o trecho que vai ser
controlado e mais 1 de reserva nos mesmos moldes
dos anteriormente citados.
Como Painel Sinótico propos-se uma seqüência de
vídeos, formando um grande painel horizontal, que
propriciaria ao despachador uma visualização geral
do trecho controlado por ele. Cabe ressaltar que esta
foi uma solução de compromisso, já que a gerência
vetou desde o início o painel sinótico fixado à
parede.
Nestes vídeos que funcionariam como um painel
sinótico seriam apresentadas informações sobre as
vias. Apresentar-se-iam, também, as posições dos
trens - ocupações e rotas determinadas
As intervenções na via seriam feitas através de um
monitor maior e mais próximo do despachador, onde
este tomaria informações e atuaria sobre o trecho em
que ele estivesse intervindo naquele momento. Deste
42,52%
modo teria uma melhor visualização dos sinais,

Programação 1,24%
desvios, trens, pátios, alarmes, detectores,
Anotações Pessoais 2,24% equipamentos e da via em geral.
Gráfico 8,64%

Relógio 0,36%
3,98%
Propos-se, ainda, um outro monitor onde o
Outras Fontes
Fora do Posto 2,32%
despachador observaria a circulação dos trens em
Outros 29,18% um gráfico semelhante ao utilizado hoje em dia – em
Monitor de Controle 2,86%
papel - verificando sua posição, horário, possíveis
Tela Rastreador 0,7%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
cruzamentos com outros trens e projeções de rota e
horários para aquele dia.
Registros de Frequência de Tomada de Informação
Conformação, Arranjo e Dimensionamento da
Registros de Acionamento Estação de Trabalho
Teclado do Painel Sinótico 13,70%
Teclado do Rádio 0,94%
Teclado do Omnisat 0,50% População Usuária
Mouse do Omnisat 2,58%
Rádio 11,98%
Gráfico 11,90% Para a conformação, arranjo e dimensionamento da
Telefone 1,20%
Telefone Operacional0,10%
estação de trabalho do Despachador foram
Nenhum Acionamento 53,98% selecionados como população usuária, apenas
Fora do Posto 1,54%
Outros 1,46%
homens, com as medidas antropométricas do
Teclado Rastreador0,12% percentil 2,5 (extremo menor - homem pequeno) e
Mouse Rastreador 0,16%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
percentil 97,5 (extremo maior - homem grande).
Para seleção das variáveis consideraram-se os
Registros de Frequência de Acionamento
esquemas antropométricos sentados.
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Requisitos Visuais- campo de visão: ângulos e raios

de visão

A partir de MORAES (1992), conceitua-se como

campo de visão o conjunto de pontos do espaço
capaz de enviar estímulos à nossa retina quando
mantemos a cabeça e o olhar fixos em um ponto
determinado - o olho imóvel pode ver
simultaneamente este conjunto de pontos no espaço.

A partir da análise da situação existente e através do

posicionamento e compatibilização dos esquemas
antropométricos e/ou dos manequins representativos Campo de visão lateral/sagital para o painel sinótico
dos usuários extremos, segundo as operações da
tarefa, a tomada de informações, a manipulação
acional e o processamento de comunicações, PLANO CRANIAL/SUPERIOR
plotaram-se os campos de visão do maior e do Requisitos de Ângulos Raio de Movimentação
visibilidade de visão focalização da cabeça
menor operadores.
Área ótima
O campo de visão corresponde a uma seção com para 15 + 15
base elíptica, mais achatada na sua parte superior, de mostradores e graus 45 graus para os
um cone cujo ângulo se define pelos ângulos de mostradores de lados
advertência
visão nos planos sagital/ lateral e transverso
cranial/superior, e pela altura do raio de focalização. Distância
Este cone, na sua base, face à varredura do raio de máxima de 105 cm
focalização nos dois planos, apresenta-se, como uma visibilidade
calota.

Campo de Visão da Estação de Trabalho

Os requisitos de visibilidade, ângulos de visão e

raios de focalização selecionados para a estação de
trabalho do Despachador, foram:

- para a plotagem do campo de visão do painel

sinótico

PLANO SAGITAL/LATERAL
Requisitos de Ângulos Raio de Movimentação
visibilidade de visão focalização da cabeça
Campo de visão superior/cranial para o painel sinótico
Área ótima para
mostradores e 15 + 15 20 graus para
mostradores de graus cima Plotagem do campo de visão de um Despachador
advertência (devido a qualquer para o painel sinótico, considerando os
frequência de ângulos de visão nos planos sagital/lateral e
Distância máxima visualização do cranial/superior, o raio de focalização e a
de visibilidade 105 cm painel sinótico)
movimentação da cabeça.
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PLANO CRANIAL/SUPERIOR
Requisitos de Ângulos de Raio de Movimentação
visibilidade visão focalização da cabeça

Reconhecimento 10 + 10
de palavras e graus
tarefa visual 45 graus para
os lados
Área ótima para
mostradores e 15 + 15
mostradores de graus
advertência

Distância focal
máxima 70 cm
desejável

Campo de visão para o painel sinótico

- para a plotagem do campo de visão dos monitores

de operação e gráfico

PLANO SAGITAL/LATERAL
Requisitos de Ângulos de Raio de Movimentação
visibilidade visão focalização da cabeça

Reconhecimen-
to de palavras e 10 + 10
tarefa visual graus 30 graus para
baixo
Área ótima
para (devido a menor Campo de visão superior/cranial para os monitores de
mostradores e 15 + 15 frequência e à operação e gráfico
mostradores de graus movimentação
advertência para a Plotagem do campo de visão do Despachador para
vizualização dos
Distância focal monitores de
os monitores de operação e gráfico, considerando os
máxima 70 cm operação e ângulos de visão nos planos sagital/lateral e
desejável gráfico) cranial/superior, o raio de focalização e a
movimentação da cabeça.

Campo de visão lateral/sagital para os monitores de

operação e gráfico

Campo de visão para os monitores de operação e gráfico

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Requisitos Acionais - ângulos biomecânicos de

conforto e envoltório acional

Segundo MORAES (1992), a área acional implica a

compatibilização dos alcances manuais e pediosos,
segundo os ângulos biomecânicos de conforto das
articulações do ombro, do cotovelo, do punho, do
metacarpo, do quadril, do joelho, do tornozelo, do
metatarso, nos planos sagital/lateral, coronal/frontal,
transverso/cranial/superior.

Área Acional da Estação de Trabalho

Os requisitos acionais e os ângulos biomecânicos de

conforto selecionados, para a estação de trabalho do
Despachador, considerando a análise da tarefa
foram:
homem percentil 2,5º homem percentil 97,5º
PLANO SAGITAL/LATERAL
Vista frontal/coronal Vista frontal/coronal
Ângulos biomecânicos de
Articulação do corpo
conforto
Quadril/tronco 90º e 105º
Ombro/braço superior -15º e 25º
Cotovelo/antebraço 80º e 110º PLANO CRANIAL/SUPERIOR
Quadril/coxa 90º e 100º Ângulos biomecânicos de
Joelho/perna 90º e 120º Articulação do corpo
conforto
Tornozelo/pé 90º 30º rotação medial
Cotovelo/antebraço
40º rotação lateral
Quadril/coxa 20º abdução

homem percentil 2,5º homem percentil 97,5º

Vista lateral/sagital homem percentil 2,5º
Vista lateral/sagital
Vistal superior/cranial

PLANO CORONAL/FRONTAL
Ângulos biomecânicos de
Articulação do corpo
conforto
Ombro/braço superior 20º abdução

homem percentil 97,5º

Vistal superior/cranial
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Plotagem da área acional do Despachador -

Compatibilização dos usuários extremos (homem
pequeno, percentil 2,5º, homem grande, percentil
97,5º), considerando os ângulos biomecânicos de
conforto nos planos lateral/sagital, fronta/ coronal e
superior/cranial.

Primeira Proposta (ideal), com estudo

antropométrico

Área acional do Despachador

Configuração da Estação de Trabalho

Para o projeto da estação de trabalho do

Despachador determinaram-se cinco monitores de
17 polegadas, considerando o maior trecho a ser
controlado, e a legibilidade das telas. Cotejaram-se o
raio de focalização (105 cm) e a altura dos
caracteres alfanuméricos de acordo com
RICHADEAU (1976) e PHEASANT (1987). Os
valores dos caracteres alfanuméricos variaram de 3,5
mm a 7,35 mm.

Para os monitores de gráfico e operação foram

determinados dois monitores de 21 polegadas,
considerando a legibilidade das telas. Cotejaram-se o
raio de focalização (70 cm) e a altura dos caracteres
alfanuméricos de acordo com PHEASANT (1987),
de 2,5 mm a 5,25 mm.
Para a entrada de dados foram determinados um
teclado ergonômico e um mouse.
Para a compatibilização dos usuários extremos,
homem percentil 2,5º e homem percentil 97,5º, fez-
se o alinhamento, no plano vertical, a partir de visão
do painel sinótico. No plano horizontal
consideraram-se, os dois usuários extremos
apoiando os pés no chão.
Rendering da Primeira Proposta
Divergências e Soluções
Os estudos ergonômicos - registros de
comportamento das atividades da tarefa -
confirmaram a necessidade de usar painéis sinóticos.
Entretanto, a primeira proposta não foi bem-aceita.
Foi comparada com outras estações de trabalho
"modernas", como as do centro de controle Alameda
Corridor, que monitora duas ferrovias dos EUA, a
Burlington Northern Santa Fe Railway e a Union
Pacific Railroad Company. Cabe, ressaltar, no
entanto, que o painel sinótico foi considerado
desnecessário.
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Centro de Controle Alameda Corridor
A proposta inicial para a nova estação de trabalho
foi mudada. Os cinco monitores como painel
sinótico foram recusados. Os gerentes preferiram
duas telas para controlar o sistema: uma para gráfico
de circulação de trens; outro para controlar as vias.
Foi pedido um conceito novo de estação de trabalho
integrando o painel sinótico com o monitor para
operação, posicionando-os no mesmo nível, como o
console fabricado pela empresa americana Evans
Consoles Inc...
Console fabricado pela empresa Evans Consoles Inc.
Chegou-se, então, a uma outro alternativa
ergonômica. Novas avaliações ergonômicas foram
feitas. O despachador opera diretamente três
monitores que representam o painel
sinótico/operação e mais um que apresenta o gráfico
de GHT - gráfico de horário de trens.
Segunda Proposta
Cabe ressaltar que apesar de considerarem desnecessário,
os solicitantes reservaram uma parede para uma
futura projeção do painel sinótico.
Referências Bibliográficas
MORAES, Anamaria. Evaluation of The Metro/RJ
Control Room; Ergonomics Recommendation for
a New One. In: Proceedings of the IEA'91. Paris,
1991.
MORAES, Anamaria de. Diagnóstico Ergonômico
do Processo Comunicacional do Sistema
Homem-Máquina de Transcrição de Dados:
Posto de Trabalho do Digitador em Terminais
Informatizados de Entrada de Dados. Tese de
Doutorado – IBICT/ECO/UFRJ – Área Maior:
Ciência da Informação. Rio de Janeiro:
ECO/UFRJ, 1992.
PHEASANT, Stephen. Ergonomics Standards and
Guidelines for Designers. London: BSI
Standards, 1987.
RICHAUDEAU, François. La Lisibilité. Paris:
Editions Retz, 1976.