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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UNIRIO)

Centro de Ciência Humanas e Sociais - CCH


Escola de Biblioteconomia
Departamento de Estudos e Processos Biblioteconômicos
Teoria da Classificação - HEB0038

A ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
Análise do artigo A relação conceitual entre conhecimento e documento
no contexto da Organização do Conhecimento:
elementos para uma reflexão

Fabio Osmar de Oliveira Maciel (20081332003)


Natanael dos Santos A. Pires (20081332048)
Reinaldo Miranda da Silva (20081332026)
Renan Leite Oliveira da Silva
Roberto João Andrade Alves (20081332025)

Professora Roberta Silva

Rio de Janeiro
Maio 2010
Introdução

O artigo de Guimarães e Rabelo (2006) apresenta a Organização do Conhecimento


como um elemento fundamental para as pesquisas na área da Ciência da Informação, servindo
de mediadora entre a produção e o uso do conhecimento. Este artigo integra o Grupo de
Trabalho (GT) Estudos Históricos e Epistemológicos da Informação do ENANCIB, tendo
sido apresentado e publicado em 2006. Os autores são vinculados a UNESP.

A Organização do Conhecimento

Partindo do pressuposto de que o conhecimento a ser organizado esta ligado ao


conhecimento registrado em suporte seja ele qual for o texto trata da pungente necessidade de
Organização do Conhecimento produzido. Fazendo um apanhado histórico da OC
demonstrando sua importância para a Ciência da Informação e identificando problemas que
aparecem na teorização conceitual epistemológica dessa.

Produção do Organização do Uso do


Conhecimento Conhecimento Conhecimento

___________________________________________________________
Figura 1 - Esquema de relacionamento entre a produção e o uso do
conhecimento, mediados pela organização do conhecimento.

A sistematização e organização do conhecimento nos remete aos séculos XVI e XVII,


época do Iluminismo, do Positivismo de August Comte, dos enciclopedistas modernos e aos
primeiros sistemas de classificação. A transmissão do conhecimento se dá mediante
documentos (não estamos pesando aqui nas tradições orais, que para a OC é importante a
partir do seu registro), a partir de diversas “revoluções”, que vão da invenção da escrita,
passando pela impressa de Gutenberg, até as mídias eletrônicas e digitais da
contemporaneidade.
A partir da invenção da imprensa de Gutemberg, por exemplo, há uma relativa
popularização do livro, sendo importante nesse sentido, não só a produção do conhecimento,
mas também a reprodução. Esta “revolução documental”, se assim posso chamar, levo de

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certa maneira ao caos, tendo em vista a desorganização do montante dos documentos criados.
A situação é exponencialmente maior nos dias atuais.
No que se refere a organização de material bibliográfico, temos como marco o século
XIX com Melvil Dewey (1851-1931) e a elaboração da Classificação Decimal de Dewey
(CDD). Posteriormente Paul Otlet (1868-1944), através da Classificação Decimal Universal
(CDU), tenta classificar universalmente o conhecimento humano, preocupando-se também
com os assunto contidos nos livros, e não apenas no livro em si, ampliando desta forma o
conceito de documento.
Outras formas de classificação merecem destaque, como a Colon Classification
(Classificação de dois pontos), elaborada pelo matemático Ranganathan (1892-1972), que era
baseada num esquema de classificação facetada, que:

são constituídos de listas de termos representando conceitos, com o mesmo


tipo de relacionamento com o objeto de classificação, denominadas facetas,
combináveis no ato de classificar, para traduzir devidamente o tema do
documento (PIEDADE, 1983, p. 79).

Os Tesauros foram com o tempo se tornando algo de grande importância para a


representação do conhecimento. Depois da II Guerra Mundial, o trabalho para o
desenvolvimento de Tesauros intensificaram-se, na década de 60 nos Estados Unidos com a
ASTIA e a EJC. Esses trabalhos motivaram a criação na Alemanha, o Comitê para Pesquisa
em Tesauros que estabeleceu diretrizes de como os tesauros seriam construídos, mantidos e
utilizados. O trabalho alemão serviu de norte para a produção de muitos outros nas mais
variadas línguas.
Em 1989 criada a ISKO, Sociedade Internacional para a Organização do
Conhecimento, instituição importante para o desenvolvimento teórico e a efetivação da
Organização do Conhecimento.
Sobre os aspectos conceituais da Organização do Conhecimento, os autores se
apropriam de conceitos de outros autores para tentar explicar a OC, principalmente Hjorland
(2003), Jaenecke (1994)*, e Barité (2001)*. Para o primeiro, a Organização do
Conhecimento tem como significado a organização da informação em registros bibliográficos,
incluindo índices de citação, texto completo e Internet. Através da OC, temos embasamento
para a criação de ferramentas a serem aplicadas pelas disciplinas submetidas à Ciência da
Informação. A OC envolve ainda dois tipos de organização inter-relacionadas: a Organização
intelectual do conhecimento (através de conceitos, sistemas conceituais e teoria) e a
Organização social do conhecimento (em profissões, acordos e disciplinas).

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Para o segundo autor, Barité, a OC é uma disciplina cientifica aplicada que tem como
enfoque o tratamento temático da informação e o estudo do seu uso social. Para Jaenecke, a
OC tem como objetivo ordenar e prover o conhecimento, e afirma que o material produzido
deve ser mantido em condições que possibilite sua disponibilização.
Rabello e Guimarães (2006, p. 8) se apropriam também do mapeamento
epistemológico elaborado por García Marco (1995)*, no qual descreve os paradigmas
científicos que influenciaram a OC: 1) Conservacionista: pré-capitalista, direcionado a
necessidade práticas e a problemas na recuperação da informação contida no documento. 2)
Fisicalista-informacional: focado na transmissão da mensagem/informação através das
tecnologias da informação. 3) Semiótico-lingüístico: direcionada às investigações sobre
linguagem e aos códigos que regem a comunicação humana. 4) Lógico-matemático: uso pelos
matemáticos. 5) Cognitivo: aproxima-se da psicologia cognitiva e social.
Contudo, para a proposta dos autores de investigar a relação conhecimento e
documento, é importante ressaltar que, principalmente sobre o primeiro paradigma, tira-se o
foco das questões conceituais entre documento e informação, uma vez que o principal núcleo
epistemológico da OC, afirma o autor, é o conhecimento registrado, materializado em
documentos. O documento é uma representação, possuidora de uma intencionalidade e uma
materialidade.
Assim, Todos os “paradigmas” científicos apresentados por Marco (1995)* se
relacionam e se complementam entendendo que a informação e o conhecimento registrado,
pois somente é informação se produzida por seres humanos para seres humanos, mesmo que
sendo uma pedra que passa ser registro quando colocada em um museu. Hjorland (2005)* que
apresentou esta concepção que foi elaborada pela bibliotecária francesa Suzanne Briet
(1951)*. Seu trabalho segundo a interpretação de Buckland (1997) * o documento seria
qualquer signo físico ou simbólico, preservado ou registrado, que intenta representar,
reconstruir ou demonstrar um fenômeno conceitual ou físico.
Fica claro que o conhecimento a ser organizado esta ligado a um suporte material. O
documento pode ser caracterizado enquanto a síntese de um conhecimento contido em um
suporte, ou pela atribuição de valores e significados dado a um determinado suporte sendo ele
produto ou não da atividade humana o que possibilita a representação e a organização dos
conteúdos nele identificados.
Há criticas a essa abordagem como sendo extremamente sensorialista e empirista,
contudo não podemos negar que foi justamente a existência de problemas práticos que
levaram a necessidade de um embasamento teórico para solucionar os questionamentos

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vindos dos problemas de produção, de organização, de armazenamento e de recuperação para
o uso da informações; chegando a criação de uma sub-área como a Organização do
Conhecimento, com o intuito de refletir teoricamente sobre as questões demandadas da
atividade de organização do conhecimento e seus respectivos produtos.
Se todos esses problemas fossem sanados, evidentemente a razão de existir dessas
áreas seria em muito reduzida. É importante salientar que tais áreas, para solucionar tais
problemas, têm como “caixa de ferramentas” uma enorme gama de métodos e técnicas e
utiliza as mais variadas tecnologias. Nessa perspectiva, observamos que o conceito de
documento constitui a base para que a OC e a CI possam estabelecer interlocuções e, assim,
prosseguirem no processo de construção de um universo epistemológico, uma vez que
perpassa os conceitos de conhecimento e de informação nelas trabalhados. Enfim, devemos
nos desprender das concepções sazonais que consideram uma visão linear de ciência que
prezam a busca pejorativa do “novo” e o esquecimento voluntário de teorias do passado para
pensarmos o desenvolvimento da OC (e também da CI) considerando-se, sobretudo, as suas
raízes históricas e o contexto social e científico em que se desenvolveram.
Desta forma, a OC, conforme trabalho apresentado pelos autores, precisa ser entendida
a partir de um de seus argumentos para constituir seu núcleo epistemológico que é o
conhecimento. Que por sua vez, precisa ser materializado em um suporte, que para nós
bibliotecários é o documento. Este documento pode ser ou não produto da atividade humana.
E é por meio do documento que o conhecimento fica passível à transmissão ou geração da
informação.
A OC, segundo Hjørland (2003)*, é sinônimo de documento. Os autores
ainda questionam a CI quanto à possibilidade de conseguir representar e
organizar no âmbito da CI, um conhecimento que ainda não esteja materializado. A
Subjetividade de um conhecimento ou informação necessita ser objetivado através da OC em
um documento para que possa ser avaliada, contestada, consagrada ou não, por um “meio
social”. Entendamos como “meio social”: pares, público-alvo, Sociedade em geral, etc.
E o Documento é a via que dará o acesso para que este conhecimento, ainda subjetivo,
ganhe o caráter objetivo, independente do tipo de Suporte. Os autores salientam também que
devido a variedade de suportes que um conhecimento possa ser materializado, é preciso
observar com bastante tenacidade a forma como a OC se dará. O que poderá permitir a
recuperação adequada e otimizada deste documento, independente do suporte. Facilitando a
socialização do conhecimento e aumentando assim a possibilidade da geração da informação
e da continuidade e aprofundamento deste Conhecimento. Ora planejado, organizado e

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documentado de maneira adequada, pelo que segundo o texto denomina de,
“Biblioteconomia moderna” e até mesmo CI contrapondo-se a “Biblioteconomia tradicional”,
esta mais voltada para coleções e Bibliologia entre outros.
Onde a preocupação do Bibliotecário moderno ou documentarista recai objetivamente
sobre textos ou materiais dirigidos e de interesse específico como periódicos especializados,
trechos de livros, índices de citações, Tesauros e tantos outros suportes que interessam
diretamente àquele grupamento social ou comunidade para o qual o documentarista
(bibliotecário) atenda.

Conclusão

O conhecimento, como núcleo epistemológico da OC trata do registro em sua forma


materializada existindo, portanto, uma diferenciação extremamente ínfima entre documento,
informação e conhecimento. A relação entre estas pode ser explicada com o conhecimento
sendo materializado no documento e por este há a socialização para a disseminação da
informação.
Neste contexto podemos inferir que o documento é a forma materializada em um
suporte, ou ainda, este pode ser caracterizado pelo valor dado a um determinado item material
que represente um determinado conhecimento sendo ou não produzido pelo ser humano.
A crítica a essa maneira de entender o conhecimento consiste no caráter sensorialista e
empirística, essa crítica se baseia de que a forma conceitual desta definição esta atrelada a
prática. Mas é de fundamental importância entendermos que é por causa da necessidade
prática, isto é, da resolução das problemáticas que afloram, que o embasamento teórico faz se
necessário. Para sanar a necessidade na parte da produção, organização e demais produtos
relacionados ao conhecimento que a parte teórica da OC é de fundamental importância.
Caminhando nessa linha de raciocínio observamos que o conceito de documento se
torna base para que a OC e a CI possam interagir construindo um universo epistemológico.
Há a clara necessidade do abandono da visão linear da ciência que se atem ao novo como
verdade indiscutível levando ao esquecimento suas raízes históricas e o contexto social e
científico que foram as bases de seu desenvolvimento.

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Referências

PIEDADE, Maria Antonieta Requião. Introdução à teoria da classificação. Rio de Janeiro:


Interciência, 1983.

RABELLO, Rodrigo; GUIMARÃES, José Augusto Chaves. A relação conceitual entre


conhecimento e documento no contexto da Organização do Conhecimento: elementos para
uma reflexão. In: ENANCIB, 7., 2006, Marília. Anais...Marília: UNESP, 2006

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*
As referências completa destes autores podem ser vistas em RABELLO; GUIMARÃES (2006).

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