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ISSN 1982 - 0283

QUALIDADE DA
EDUCAÇÃO: ACESSO E
PERMANÊNCIA

Ano XXIII - SETEMBRO 2013


Qualidade da Educação: acesso e permanência

SUMÁRIO

Apresentação........................................................................................................................... 3
Rosa Helena Mendonça

Introdução............................................................................................................................... 4
Karine Nunes de Moraes

Texto 1 - Qualidade da Educação: concepções e dimensões..................................................... 8


Luiz Fernandes Dourado

Texto 2 -A Qualidade da Educação Superior........................................................................... 15


Edward Madureira

Texto 3: Da Educação Básica: expansão e melhoria da qualidade........................................... 19


Karine Nunes de Moraes
Qualidade da Educação: acesso e permanência
Apresentação

A publicação Salto para o Futuro comple- A edição 16 de 2013 traz como tema Quali-
menta as edições televisivas do programa dade da Educação: acesso e permanência e
de mesmo nome da TV Escola (MEC). Este conta com a consultoria de Karine Nunes de
aspecto não significa, no entanto, uma sim- Moraes, Professora Adjunta da Faculdade de
ples dependência entre as duas versões. Ao Educação da Universidade Federal de Goiás,
contrário, os leitores e os telespectadores Doutora em Educação pela Universidade
– professores e gestores da Educação Bási- Federal de Pernambuco, Membro do Núcleo
ca, em sua maioria, além de estudantes de de Estudos e Documentação Educação, So-
cursos de formação de professores, de Fa- ciedade e Cultura/FE/UFG e Consultora de-
culdades de Pedagogia e de diferentes licen- sta Edição Temática.
ciaturas – poderão perceber que existe uma
interlocução entre textos e programas, pre- Os textos que integram essa publicação são: 3
servadas as especificidades dessas formas
distintas de apresentar e debater temáticas 1. Qualidade da Educação: concepções e di-
variadas no campo da educação. Na página mensões
eletrônica do programa, encontrarão ainda
outras funcionalidades que compõem uma 2. A Qualidade da Educação Superior

rede de conhecimentos e significados que se


efetiva nos diversos usos desses recursos nas 3. Da Educação Básica: expansão e melhoria

escolas e nas instituições de formação. Os da qualidade

textos que integram cada edição temática,


além de constituírem material de pesquisa e Boa leitura!

estudo para professores, servem também de


Rosa Helena Mendonça1
base para a produção dos programas.

1 Supervisora Pedagógica do programa Salto para o Futuro (TV Escola/MEC).


Introdução

Qualidade da Educação: democratização do


acesso, permanência, avaliação, condições de
participação e aprendizagem

Karine Nunes de Moraes1

A educação hoje se apresenta como um resultando na melhoria dos indicadores


direito social – fundamental, universal e educacionais no país; por outro, as políticas,
inalienável – de cada cidadão e cidadã do programas e ações educacionais implemen-
nosso país. Na última década, uma expan- tadas neste período também apontaram
são significativa foi registrada quanto ao para desafios ainda a serem superados. Den-
atendimento da demanda por educação, em tre eles, a melhoria da qualidade em todos
todos os seus níveis, etapas e modalidades. os níveis, etapas e modalidades.
Em grande medida, essa expansão tem re-
4
fletido os impactos das políticas educacio- A qualidade da educação é um termo que
nais e sociais implementadas nesse período, pode expressar diferentes sentidos e concep-
somados às pressões oriundas da população ções. Consiste em um conceito que se modi-
brasileira, organizada em prol da ampliação fica com as transformações da sociedade e a
da garantia do direito à educação a todos e emergência de novas necessidades. Portan-
todas, independentemente das condições to, garantir a qualidade da educação é uma
sociais, econômicas e/ou geográficas. meta a ser buscada incessantemente, envol-
vendo identificação e análise constantes dos
Se por um lado, a garantia do direito à fatores inerentes às condições de oferta do
educação avançou (Constituição Federal – ensino que mais interferem no processo de
CF/1988, Lei de Diretrizes e Bases – LDB/1996, construção de uma educação de qualidade:
Emenda Constitucional – EC no 14/1996, no os elementos relativos à gestão e organiza-
53/2006, no 59/2009, Plano Nacional de Edu- ção do trabalho escolar em cada município,
cação, Conferência Nacional de Educação), bem como seus impactos na qualidade da

1 Professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. Doutora em Educação


pela Universidade Federal de Pernambuco. Membro do Núcleo de Estudos e Documentação Educação, Sociedade e
Cultura/FE/UFG e Consultora desta Edição Temática.
educação; as políticas e ações de formação poderiam ser melhor equacionadas a fim
inicial e continuada, profissionalização e de atender efetivamente às necessidades e
ação pedagógica do docente em cada siste- especificidades dos sistemas de ensino, das
ma de ensino, por nível, etapa e modalida- instituições educacionais e, principalmente,
de da educação; e as condições de acesso, da população, na garantia de uma educação
permanência e desempenho escolar e suas de qualidade, socialmente referenciada.
vinculações com a qualidade da educação.
Esta garantia somente poderá ser adequada-
Ao falarmos sobre qualidade da educação mente alcançada quando da articulação do
precisamos considerar que a compreensão Sistema Nacional de Educação (SNE), com

acerca do que vem a ser o processo edu- as políticas de outros setores, de modo a

cativo e sobre qual seja sua função, se al- reverter o quadro de assimetrias regionais

teram ao longo dos anos, assim como as e locais e promover maior participação po-
pular nos processos de formulação, imple-
políticas e ações que visam produzir sua
mentação, controle e avaliação das políticas
implementação, intimamente relacionadas
públicas, particularmente as educacionais.
às expectativas sobre o processo formativo,
de aprendizagem e de socialização do edu-
No horizonte dessa articulação, há que se
cando. Neste sentido, o debate precisa ser 5
considerar o Plano Nacional de Educação e
sempre atualizado, considerando tanto o ca-
os demais planos decenais, a realização das
ráter cumulativo do conhecimento, quanto
Conferências de educação e a alteração na
as circunstâncias histórias que o produzem
legislação brasileira de modo a estabelecer
e condicionam.
padrões mínimos de qualidade iniciais para
reduzir as assimetrias regionais e locais, na
Conhecer melhor a realidade da educação
tentativa de garantir uma educação de qua-
nas diferentes regiões, estados e municí- lidade para todos os cidadãos brasileiros.
pios, bem como suas necessidades especí-
ficas, certamente contribui para a formula- Assim, as políticas de acesso deverão tam-
ção e implementação de políticas públicas bém articular-se às políticas afirmativas e de
adequadas, de modo a garantir a oferta de permanência na educação básica e superior,
educação de qualidade social à população. garantindo que os segmentos menos incluí-
A redução das barreiras geopolíticas, so- dos da sociedade possam realizar e concluir
ciais, econômicas e culturais, bem como as a formação com êxito e com alto padrão de
fronteiras invisíveis entre educação do cam- qualidade, como fator efetivo e decisivo no
po e da cidade, na capital e no interior, no exercício da plena cidadania e na inserção
turno matutino e noturno, dentre outros, no mundo do trabalho.
Objetivando abordar essa temática foram de qualidade para a educação superior. Nes-
elaborados três textos para essa série, a sa- te texto, o autor também aponta alguns in-
ber: dicadores que podem servir de sinalização
sobre a qualidade da educação superior e
1) Qualidade da Educação: concepções e di- indica, ainda, a necessidade “de construir
mensões – de autoria de Luiz Fernandes uma metodologia com indicadores quanti-
Dourado, em que o autor nos convida a uma tativos e qualitativos, constituídos de forma
reflexão conceitual sobre as diferentes con- discutida e ‘concensuada’ no meio acadêmi-
cepções e dimensões da qualidade da edu- co, e que seja capaz de, além de demonstrar
cação. Ao mesmo tempo em que destaca a determinado nível de qualidade, permitir a
polissemia do termo qualidade e a dificulda- inferência de comparação de qualidade en-
de em sua definição, não se furta a marcar tre as diversas instituições de educação su-
posição, enquanto intelectual orgânico, de perior”.
que uma educação de qualidade, socialmen-
te referenciada, é “aquela que busca afirmar 3) Da Educação Básica: expansão e melhoria
a formação ampla dos indivíduos e contri- da qualidade, de autoria de Karine Nunes de
buir para a cidadania, ou seja, como prática Moraes, aborda o cenário atual de expansão
resultante de processos coletivos, do exercí- da educação básica brasileira e o desafio de 6
cio da participação e da vivência da gestão garantir a melhoria de sua qualidade em
democrática”. todas as etapas e modalidades, de modo a
contemplar todos os estudantes brasileiros,
2) A Qualidade da Educação Superior, de au- independentemente da região, estado, cida-
toria de Edward Madureira, no qual o autor de e/ou sistema de ensino. Partindo da refle-
discute a complexidade e as subjetividades xão sobre a educação enquanto um direito
da qualidade da educação superior a partir social e sobre a dificuldade de se definirem
de sua vivência como reitor em uma uni- “padrões mínimos de qualidade”, a autora
versidade federal brasileira. Sem descuidar sinaliza os principais desafios a serem en-
das questões de ordem mais conceitual, o frentados nos próximos anos.
autor aborda a complexidade das múltiplas
demandas apresentadas à universidade, as O texto destaca ainda que, dada a enverga-
principais dificuldades para atender, simul- dura dos desafios para a garantia de uma
tânea e completamente, a todas as reivin- educação de qualidade, seu enfrentamento
dicações, oriundas dos diversos setores so- deve ser fruto de esforços coletivos, plane-
ciais, bem como as subjetividades presentes jados e coordenados, envolvendo a articula-
na discussão sobre a definição de um padrão ção de todos os entes federados e seus res-
pectivos sistemas de ensino, bem como não
perder de vista as obrigações e as garantias
do Estado para com a oferta de uma educa-
ção pública, gratuita, obrigatória e de qua-
lidade social para todos(as), o que significa
tratá-la como bem público e direito social.

Esperamos que os textos articulados à temá-


tica Qualidade da Educação: democratização
do acesso, permanência, avaliação, condi-
ções de participação e aprendizagem forne-
çam elementos para discussão e análise do
Documento-Referência da Conae/ 2014, no
sentido de avançarmos na construção de
uma educação de qualidade como direito
de todos(as) os cidadãos brasileiros, rumo a
um país socialmente mais justo, democráti-
co e de direito. 7
texto 1

Qualidade da Educação: concepções e dimensões

Luiz Fernandes Dourado1

A qualidade da educação tem sido envolve dimensões extra e intraescolares


objeto de muitas disputas, as quais tradu- e, nessa ótica, devem se considerar os di-
zem concepções diferentes de educação, ferentes atores, a dinâmica pedagógica,
aprendizagem, avaliação, entre outros. Quer ou seja, os processos de ensino-aprendi-
isto dizer que não existe a qualidade da edu- zagem, os currículos, as expectativas de
cação como atributo intrínseco, ela é sem- aprendizagem, bem como os diferentes
pre expressão e resultado de um conjunto fatores extraescolares que interferem
de fatores e insumos que podem se articular, direta ou indiretamente nos resultados
ou não, traduzindo concepção, valores, prio- educativos.”
8
ridades e discursos específicos.
Tal concepção é reforçada no Docu-
Ao discutir essa temática, Dourado, mento-Referência da Conae 2014, que afir-
Oliveira e Santos (2007) afirmam que: ma que :

“A qualidade da educação é um fenôme- “(…) Na condição de um atributo, a qua-


no complexo, abrangente, que envolve lidade e seus parâmetros integram sem-
múltiplas dimensões, não podendo ser pre o sistema de valores da sociedade,
apreendido apenas por um reconheci- sofrem variações de acordo com cada
mento da variedade e das quantidades momento histórico, de acordo com as
mínimas de insumos indispensáveis ao circunstâncias temporais e espaciais.
desenvolvimento do processo de ensino- Por ser uma construção humana, o con-
-aprendizagem; nem, muito menos, pode teúdo conferido à qualidade está dire-
ser apreendido sem tais insumos. Em tamente vinculado ao projeto de socie-
outros termos, a qualidade da educação dade, relacionando-se com o modo pelo

1 Professor Titular de Políticas Educacionais da UFG, Membro da Câmara de Educação Superior do Conselho
Nacional de Educação e dos Conselhos Superior e Técnico Científico da Educação Básica da Capes.
qual se processam as relações sociais, de mundo, sociedade e educação que a
produto dos confrontos e acordos dos escola procura desenvolver conhecimen-
grupos e classes que dão concretude ao tos, habilidades e atitudes para encami-
tecido social em cada realidade.” nhar a forma pela qual o indivíduo vai se
relacionar com a sociedade, com a natu-
Considerando essa concepção, é pos- reza e consigo mesmo. A “educação de
sível afirmar que qualidade é um conceito qualidade” é aquela que contribui com
polissêmico e que, no campo educacional, a formação dos estudantes nos aspectos
se traduz a partir de perspectivas distintas. culturais, antropológicos, econômicos e
políticos, para o desempenho de seu pa-
Com base no complexo papel da edu-
pel de cidadão no mundo, tornando-se,
cação, buscamos situar a concepção de qua-
assim, uma qualidade referenciada no
lidade socialmente referenciada como aque-
social. Nesse sentido, o ensino de qua-
la que busca afirmar a formação ampla dos
lidade está intimamente ligado à trans-
indivíduos e contribuir para a cidadania, ou
formação da realidade.”
seja, como prática resultante de processos
coletivos, do exercício da participação e da
Como articular esse conceito à edu-
vivência da gestão democrática. Segundo o
cação entendida como prática social? Pri- 9
documento da CONAE/2014:
meiramente, é preciso ter claro que a edu-
cação se efetiva em vários espaços sociais
“Numa educação emancipadora, o sen-
e tem, nas instituições educativas de edu-
tido de “qualidade” é decorrente do
cação básica e superior, espaços cada vez
desenvolvimento das relações sociais
mais demandados de garantia de direitos do
(políticas, econômicas e culturais) e sua
cidadão. É por isso que a sociedade reivindi-
gestão deve contribuir para o fortaleci-
ca a educação para todos e a Constituição
mento da educação pública e privada,
Federal garante a educação como um direito
construindo uma relação efetivamente
social.
democrática.”

Em nosso país, o direito à educação


Nessa direção, o documento avança
tem avançado historicamente, e, mais re-
e afirma que:
centemente, com a aprovação da Emenda
59/2009 à Constituição Federal, foi amplia-
“A educação de qualidade visa à emanci-
da a educação obrigatória para a educação
pação dos sujeitos sociais e não guarda
de 04 a 17 anos, antes restrita somente ao
em si mesma um conjunto de critérios
ensino fundamental. Isto significa dizer que,
que a delimite. É a partir da concepção
no Brasil, a pré-escola (4-5 anos), o ensino do reconhecimento e respeito à diversi-
fundamental (6-14 anos) e o ensino médio dade.”
(15 a 17 anos), passaram, a partir de 2009, a
ser obrigatórios e sua universalização deve Assim, a qualidade da educação deve ser
ocorrer até 2016. Para que esse avanço cons- entendida num contexto amplo. Nessa dire-
titucional se materialize, é preciso melhorar ção, Dourado e Oliveira (2009), ao discutirem
o acesso à educação básica que, atualmente, qualidade, sinalizam para a importância da
é marcado por assimetrias regionais, esta- análise das dimensões intra e extraescola-
duais e municipais, bem como melhorar a res.
qualidade do ensino oferecido.
Inicialmente, definem o horizonte
Mas é preciso avançar para além da das dimensões extraescolares envolvendo
garantia da educação básica obrigatória, de- dois níveis: o espaço social e as obrigações
mocratizando o acesso a toda a educação do Estado. O primeiro refere-se, sobretudo,
básica e superior. à dimensão socioeconômica e cultural dos
entes envolvidos (influência do acúmulo de
O Documento-Referência da CONAE capital econômico, social e cultural das fa-
2014 avança ao problematizar essa questão mílias e dos estudantes no processo de en- 10
e ao defender uma concepção de democrati- sino-aprendizagem); a necessidade do esta-
zação do acesso à educação como direito so- belecimento de políticas públicas e projetos
cial, que se articule à melhoria da formação escolares para o enfrentamento de questões
oferecida para todos/as, ao afirmar que: como fome, drogas, violência, sexualidade,
famílias, raça e etnia, acesso à cultura, saú-
“Como direito social, avulta, de um lado, de etc.; gestão e organização adequadas da
a defesa da educação pública, gratuita, escola, visando lidar com a situação de he-
laica, democrática, inclusiva e de quali- terogeneidade sociocultural dos estudantes;
dade social para todos/as e, de outro, a a consideração efetiva da trajetória e identi-
universalização do acesso, a ampliação dade individual e social dos estudantes, ten-
da jornada escolar e a garantia da per- do em vista o seu desenvolvimento integral
manência bem-sucedida para crianças, e, portanto, uma aprendizagem significati-
adolescentes, jovens, adultos e idosos, va; o estabelecimento de ações e programas
em todas as etapas e modalidades, bem voltados para a dimensão econômica e cul-
como a regulação da educação privada. tural, bem como aos aspectos motivacionais
Este direito se realiza no contexto desa- que contribuem para a escolha e permanên-
fiador de superação das desigualdades e cia dos estudantes no espaço escolar, assim
como para o engajamento em um processo culturais, reuniões com a comunidade, etc.;
de ensino e aprendizagem exitoso. equipamentos em quantidade, qualidade
e condições de uso adequadas às ativida-
O segundo diz respeito à dimensão des escolares; biblioteca com espaço físico
dos direitos dos cidadãos e das obrigações apropriado para leitura, consulta ao acervo,
do Estado, cabendo, a este último, ampliar estudo individual e/ou em grupo, pesquisa
a obrigatoriedade da educação básica; defi- online, entre outros; acervo com quantidade
nir e garantir padrões de qualidade, incluin- e qualidade para atender ao trabalho peda-
do a igualdade de condições para o acesso gógico e ao número de alunos existentes na
e permanência na escola; definir e efetivar escola; laboratórios de ensino, informática,
diretrizes nacionais para os níveis, ciclos e brinquedoteca, entre outros, em condições
modalidades de educação ou ensino; imple- adequadas de uso; serviços de apoio e orien-
mentar sistema de avaliação voltado para tação aos estudantes; condições de acessi-
subsidiar o processo de gestão educativa e bilidade e atendimento para portadores de
para garantir a melhoria da aprendizagem; e necessidades especiais; ambiente escolar
implementar programas suplementares, de dotado de condições de segurança para alu-
acordo com as especificidades de cada es- nos, professores, funcionários, pais e comu-
tado e município, tais como: livro didático, nidade em geral; programas que contribuam 11
merenda escolar, saúde do escolar, transpor- para uma cultura de paz na escola; e defi-
te escolar, recursos tecnológicos e seguran- nição de custo-aluno anual adequado, que
ça nas escolas. assegure condições de oferta de ensino de
qualidade.
Em seguida, os autores apresentam
as dimensões intraescolares em quatro pla- O plano da instituição educativa - ges-
nos, destacando os elementos que devem tão e organização do trabalho escolar - trata
compor cada uma delas. da estrutura organizacional compatível com
a finalidade do trabalho pedagógico; plane-
O plano do sistema - condições de ofer- jamento, monitoramento e avaliação dos
ta do ensino - refere-se à garantia de insta- programas e projetos; organização do tra-
lações gerais, adequadas aos padrões de balho escolar compatível com os objetivos
qualidade definidos pelo sistema nacional educativos estabelecidos pela instituição,
de educação, em consonância com a avalia- tendo em vista a garantia da aprendizagem
ção positiva dos usuários; ambiente escolar dos alunos; mecanismos adequados de in-
adequado à realização de atividades de ensi- formação e de comunicação entre todos os
no, lazer e recreação, práticas desportivas e segmentos da escola; gestão democrático-
-participativa, incluindo condições adminis- ca - relaciona-se ao perfil docente: titulação/
trativas, financeiras e pedagógicas; meca- qualificação adequada ao exercício profis-
nismos de integração e de participação dos sional; vínculo efetivo de trabalho; dedica-
diferentes grupos e pessoas nas atividades e ção a uma só escola; formas de ingresso e
espaços escolares; perfil adequado do diri- condições de trabalho adequadas; valoriza-
gente da escola, incluindo formação em ní- ção da experiência docente; progressão na
vel superior, forma de provimento ao cargo carreira por meio da qualificação permanen-
e experiência; projeto pedagógico coletivo te e outros requisitos; políticas de formação
da escola que contemple os fins sociais e e valorização do pessoal docente: plano de
pedagógicos da mesma, a atuação e autono- carreira, incentivos, benefícios; definição da
mia escolar, as atividades pedagógicas e cur- relação alunos/docente adequada ao nível,
riculares, os tempos e espaços de formação; ciclo ou etapa de escolarização; garantia de
disponibilidade de docentes na escola para carga horária para a realização de atividades
todas as atividades curriculares; definição de planejamento, estudo, reuniões pedagó-
de programas curriculares relevantes aos gicas, atendimento a pais; ambiente profí-
diferentes níveis, ciclos e etapas do proces- cuo ao estabelecimento de relações inter-
so de aprendizagem; métodos pedagógicos pessoais que valorizem atitudes e práticas
apropriados ao desenvolvimento dos conte- educativas que contribuam para a motiva- 12
údos; processos avaliativos voltados para a ção e solidariedade no trabalho; e atenção/
identificação, monitoramento e solução dos atendimento aos alunos no ambiente esco-
problemas de aprendizagem e para o desen- lar.
volvimento da instituição escolar; tecnolo-
gias educacionais e recursos pedagógicos O plano do estudante - acesso, per-
apropriados ao processo de aprendizagem; manência e desempenho escolar - refere-se
planejamento e gestão coletiva do trabalho ao acesso e às condições de permanência,
pedagógico; jornada escolar ampliada ou adequadas à diversidade socioeconômica e
integrada, visando à garantia de espaços e cultural e à garantia de desempenho satisfa-
tempos apropriados às atividades educati- tório dos estudantes; à consideração efetiva
vas; mecanismos de participação do aluno da visão de qualidade que os pais e estudan-
na escola; valoração adequada dos usuários tes têm da escola e que levam os estudantes
no tocante aos serviços prestados pela esco- a valorarem-na positivamente; aos colegas
la. e professores, bem como à aprendizagem e
ao modo como aprendem, engajando-se no
O plano do profissional da educação - processo educativo; aos processos avaliati-
formação, profissionalização e ação pedagógi- vos centrados na melhoria das condições
de aprendizagem, permitindo a definição expansão e democratização da educa-
de padrões adequados de qualidade educa- ção básica e superior deverão superar
tiva e, focados, portanto, no desenvolvi- as assimetrias e desigualdades regio-
mento dos estudantes; à percepção positiva nais que historicamente têm marcado

dos alunos quanto ao processo de ensino- os processos expansionistas, sobretudo

-aprendizagem, às condições educativas e à por meio de políticas de interiorização

projeção de sucesso no tocante à trajetória e de educação do campo. As políticas de


acesso deverão também articular-se às
acadêmico-profissional.
políticas afirmativas e de permanência
na educação básica e superior, garantin-
Pensar a qualidade articulada à de-
do que os segmentos menos favorecidos
mocratização da educação é, portanto, um
da sociedade possam realizar e concluir
grande desafio. Segundo o documento da
a formação com êxito e com alto padrão
Conae/2014:
de qualidade. Para tanto, faz-se neces-
sário assegurar processos de regulação,
“O Brasil tem como desafios educacio-
avaliação e supervisão da educação bá-
nais ampliar e qualificar a educação em
sica, em todas as etapas e modalidades,
todos os níveis, etapas e modalidades.
e dos cursos, programas e instituições
Na educação básica, a ampliação da 13
superiores e tecnológicas, como garan-
oferta da educação de zero a três anos, a
tia de que a formação será fator efetivo
universalização da educação de quatro a
e decisivo no exercício da cidadania, na
17 anos e a garantia de oferta das moda-
inserção no mundo do trabalho e na me-
lidades educativas devem ser objeto de
lhoria da qualidade de vida e ampliação
ação planejada, coordenada, envolvendo
da renda.Outro aspecto fundamental
os diferentes entes federados, em con-
para a promoção e garantia da educa-
sonância com o PNE e demais políticas
ção de qualidade é a avaliação, não ape-
e planos decenais. No que diz respeito
nas da aprendizagem, mas também dos
à educação superior, várias ações e po-
fatores que a viabilizam, tais como: po-
líticas devem ser efetivadas, visando à
líticas, programas, ações, de modo que a
ampliação e democratização do acesso
avaliação da educação esteja embasada
a esse nível educacional, destacando-se
por uma concepção de avaliação forma-
a garantia de matrícula à população de
tiva que considere os diferentes espaços
18 a 24 anos em instituições de ensino
e atores, envolvendo o desenvolvimento
superior, de modo a ampliar (atingir
institucional e profissional, articulada
mais de 30% de taxa líquida) e univer-
com indicadores de qualidade. É preci-
salizar o acesso a esse nível de ensino
so pensar em processos avaliativos mais
(atingir mais de 50% de taxa líquida). A
amplos, vinculados a projetos educa- cação nacional, isto é, ao mesmo tempo em
tivos democráticos e emancipatórios, que é necessário expandir o acesso à educa-
contrapondo-se à centralidade conferida ção, é preciso fazê-lo com qualidade. Temos,
à avaliação como medida de resultado e portanto, como desafio, articular quanti-
que se traduz em instrumento de con- dade e qualidade, ou seja, ampliar o acesso
trole e competição institucional.” à educação básica e superior e melhorar a
qualidade da educação que temos, o que im-
CONSIDERAÇÕES FINAIS plica fomentar, expandir e promover a quali-
dade da educação em todos os níveis, etapas
Ao longo do texto discorremos sobre e modalidades; garantir projetos pedagógi-
a relação entre educação cos que contribuam
e qualidade, identificamos
“Temos, portanto, para a permanência
dimensões intra e extra dos estudantes com
como desafio, articular
escolares e buscamos arti- qualidade na apren-
cular essa discussão à de-
quantidade e qualidade,
dizagem e instituir
mocratização e a um novo ou seja, ampliar o um subsistema de
patamar para a reflexão da acesso à educação avaliação que seja
avaliação. básica e superior e indutor de desenvol- 14

melhorar a qualidade vimento das institui-


Esses desafios se ções educativas.
da educação (...)”
impõem à agenda da edu-

REFERÊNCIAS

BRASIL. CONAE 2014. Conferência Nacional de Educação: Documento-Referência. FNE: Brasília:


Ministério da Educação, SEA, 2013.

DOURADO, L. F.; OLIVEIRA, J. F.; SANTOS, C. A. A qualidade da educação: conceitos e


definições. Série Documental: Textos para Discussão, Brasília, DF, v. 24, n. 22, p. 5-34, 2007.

DOURADO, L.F .; OLIVEIRA, J. F. A qualidade da educação: perspectivas e desafios. Caderno


CEDES, 2009, v. 29, n. 78, p. 201-15.
texto 2

A Qualidade da Educação Superior

Edward Madureira Brasil1

RESUMO tores da sociedade para discutir a atuação


da Universidade – e isso, os reitores das uni-
O artigo discute a qualidade da edu- versidades federais o fazem constantemen-
cação superior, explicitando a vivência de te – ouvimos as mais diversas avaliações e
um reitor de uma universidade federal bra- sugestões de como a instituição atuou ou
sileira, em constante processo de interação deveria atuar. Em geral, mesmo que a temá-
com diversos setores da sociedade. O estu- tica em discussão não seja a qualidade da
do constata a complexidade das demandas instituição, esses diversos setores da socie-
apresentadas à Universidade, o que implica dade, direta ou indiretamente, emitem as
15
grande dificuldade para atender, simultâ- suas visões sobre a qualidade institucional.
nea e completamente, a todas as reivindica- Nessas diversas ocasiões, saltam aos olhos
çãoes dos diversos setores sociais e conclui o fato de que, em geral, os setores da socie-
com a apresentação de alguns indicadores dade expressam alguma insatisfação com as
que podem aferir a qualidade da educação ações que a Universidade desenvolve. Ilus-
superior. traremos essas ocasiões com alguns exem-
plos de situações vivenciadas em reuniões
A COMPLEXA QUALIDADE DA EDU- com empresários, governantes e lideranças

CAÇÃO SUPERIOR científicas.

Existe uma complexidade intrínseca Se estivermos reunidos com um gru-

à discussão sobre a qualidade da educação po de empresários, não raro escutamos que

superior, pois não há uma qualidade abso- a Universidade deveria formar seus estudan-

luta nesse nível educacional (CRUB, 1996). tes preparando-os melhor para satisfazer as

Quando nos reunimos com os diversos se- necessidades das empresas no desempenho
de suas atividades.

1 Reitor da UFG, Vice-Presidente da ANDIFES. Doutor em Agronomia pela UFG.


Em reuniões com governantes, em Além disso, o ambiente universitá-
âmbito estadual ou municipal, eles esperam rio, ao desenvolver suas atividades de en-
que os formandos já possuam habilidades sino, pesquisa e extensão, deve respeitar a
para aplicar os conhecimentos teóricos às diversidade existente na sociedade e a plura-
necessidades da população, encontrando lidade de ideias, o que aumenta ainda mais
soluções para os problemas sociais existen- a sua dificuldade para estabelecer, em seus
tes. Conselhos e Fóruns de discussões, os “pila-
res” da qualidade institucional.
Em reuniões com lideranças de labo-
ratórios e centros de pesquisa – externos à INDICADORES DE QUALIDADE
Universidade – há, sempre, a reivindicação
de que os estudantes formados possuam Entretanto, em meio a tanta subjeti-
forte base teórica para integrar grupos de vidade, são diversos os indicadores que po-
pesquisa já estrutura- dem dar uma sinaliza-
dos e contribuir, com “O ambiente ção sobre a qualidade
criatividade, nos estu- da educação superior
universitário, ao
dos desenvolvidos. e que são quase con-
desenvolver suas 16
sensuais no ambiente
Percebe-se, por- atividades de ensino, acadêmico (AMARAL,
tanto, que as avaliações pesquisa e extensão, 2013):
permeiam os mais di- deve respeitar a
versos campos de atu- diversidade existente - existe uma relação
ação estruturados na entre titulação dos pro-
na sociedade e a
sociedade, o que nos fessores e qualidade
impede de conseguir
pluralidade de ideias
institucional na edu-
atender, integralmen- (...)” cação superior. Dessa
te, a todos eles, (CRUB, forma, os indicadores
1996). É certo que se a de qualidade seriam o
Universidade formar um profissional que sa- percentual de docentes que possuem a ti-
tisfaça completamente os anseios dos em- tulação de mestres, junto ao percentual dos
presários, estará gerando total desconten- que possuem a de doutores;
tamento entre os líderes de laboratórios e
centros de pesquisa, e vice-versa. - sinaliza melhores condições para que as
atividades institucionais sejam realizadas
com maior qualidade mediante o percen-
tual de docentes que trabalham em tempo ma, o conceito Capes constitui-se também
integral – este seria um outro indicador de em um importante indicador da qualidade
qualidade; da educação superior.

- o percentual dos trabalhadores dos setores Seria possível, ainda, elencar um


técnicos e administrativos da instituição, grande quantitativo de indicadores que se
que possuam titulação como especialistas, relacionariam a diversos ângulos das insti-
mestres ou doutores, é um outro indicador tuições e que poderiam indicar aspectos re-
de que uma instituição possui mais qualida- lativos à qualidade institucional (BERTOLIN,
de que outra; 2013): o valor dos recursos financeiros, por
estudante em idade educacional de 18 a 24
- os programas de pós-graduação stricto anos, tecendo comparações com diversos
sensu constituem um elo importante entre países; o valor dos recursos financeiros apli-
a instituição e o desenvolvimento de seus cados no desenvolvimento da ciência, tecno-
projetos de pesquisa, que “fluem” por meio logia e inovação; o percentual de recursos fi-
dos orientadores e de seus orientandos; nanceiros aplicados nas instituições, que se
além disso, os projetos de pesquisa formam dirijam às despesas correntes e investimen-
um elo forte entre as instituições e suas ati- tos, em relação à folha de pagamento de 17
vidades de extensão – daí a constituição de pessoal e encargos sociais; o número de pro-
uma sólida base para o tripé ensino, pesqui- jetos de pesquisa e atividades de extensão
sa e extensão. Um indicador a ser examina- que possuam ligações institucionais com o
do que pode indicar qualidade institucional mundo do trabalho; o percentual do quadro
nesse tripé é o percentual de alunos da ins- docente que participa de eventos interna-
tituição que se encontram matriculados no cionais, tanto no país quanto no interior;
mestrado ou doutorado; o percentual de estudantes que participam
de programas assinados com as instituições
- um indicador interligado com o anterior e estrangeiras; e o percentual de recursos ins-
que já está estabilizado no Brasil, possuin- titucionais aplicados em tecnologias da in-
do grande credibilidade acadêmica, é o con- formação e comunicação etc.
ceito Capes da pós-graduação stricto sensu,
que é constituído por uma série de informa-
ções, presentes em cinco quesitos: Proposta
do Programa; Corpo Docente; Corpo Discen-
te; Teses e Dissertações; Produção Intelectu-
al; e Inserção Social e Relevância. Dessa for-
CONSIDERAÇÕES FINAIS: COMO Um outro complicador nesse contex-

ANALISAR O COMPORTAMENTO to é o fato de que nas pesquisas realizadas

DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO em nível superior discutem-se os problemas


propostos na fronteira do conhecimento e
SUPERIOR?
que, para estes, exatamente por constituí-

Considerando que há uma grande rem o desconhecido, não se podem estabe-

subjetividade quando se discute a qualidade lecer, de forma absoluta, padrões de quali-

da educação superior, há ainda que se definir dade.

uma metodologia que consiga examinar se,


Dessa forma, devemos trabalhar
num determinado período de sua história,
para construir uma metodologia com indi-
houve ampliação ou diminuição no nível de
cadores quantitativos e qualitativos, cons-
qualidade das instituições. Acreditamos que
tituídos de forma discutida e “consensual”
não existirá uma metodologia que consiga,
no meio acadêmico, que possam indicar um
na educação superior, responder plenamen-
determinado nível de qualidade e, além dis-
te a esta questão – a diversidade de visões
so, permitir a inferência de comparação de
sobre o que é qualidade nesse nível educa-
qualidade entre as diversas instituições de
cional justifica esta posição extremada.
educação superior. 18

REFERÊNCIAS

AMARAL, N. C. Os recursos financeiros aplicados nas universidades federais nos governos FHC e
LULA e um olhar sobre a qualidade. No prelo, 2013.

BERTOLIN, J. C. G. Indicadores em Nível de Sistema para Avaliar o Desenvolvimento e a


Qualidade da Educação Superior Brasileira. Avaliação – Revista de Avaliação da educação
Superior. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/aval/v12n2/a07v12n2.pdf>. Acesso em 22
mai. 2013.

CRUB. Avaliação Externa da Qualidade do Ensino Superior. Série Estudos e Debates. Brasília-DF,
1996.
texto 3

Da Educação Básica: expansão e melhoria da


qualidade
Karine Nunes de Moraes1

A garantia do direito à educação de a essa educação. Na sociedade contemporâ-


qualidade é um princípio fundamental e nea isso se expressa, se forem consideradas
deve ser balizadora para as políticas e gestão as suas transformações mais prementes, as
da educação, seus processos de organização reformas e políticas educacionais das últi-
e regulação e regulamentação. Tomar a edu- mas décadas e, ainda, os programas e proje-
cação como uma prática social, intrinseca- tos político-pedagógicos definidos e imple-
mente articulada às relações sociais mais mentados nos diferentes sistemas de ensino
amplas, significa compreendê-la como bem e instituições educacionais do país.
público e direito social. Ou seja, é reconhe-
cer que a educação está diretamente vincu- Dada a envergadura dos desafios 19
lada ao projeto de sociedade, relacionando- para a garantia de uma educação de quali-
-se com o modo pelo qual se processam as dade social a todos(as), como um direito de
relações sociais, produto dos confrontos e cidadania universal, fundamental e inaliená-
acordos dos grupos e classes que dão con- vel, seu enfrentamento deve ser fruto de es-
cretude ao tecido social em cada realidade. forços coletivos planejados e coordenados,
Desse modo, podemos inferir que a designa- envolvendo a articulação de todos os entes
ção quanto à sua “qualidade” é carregada de federados e de seus respectivos sistemas de
sentido e situada histórica e socialmente. ensino. Contudo, não podemos perder de
vista as obrigações e garantias do Estado
Segundo Silva e Moraes (2007), as para com a oferta de uma educação públi-
concepções e as representações sobre o que ca, gratuita, obrigatória e de qualidade so-
seja uma educação de qualidade alteram-se cial para todos, o que significa tratá-la como
no tempo e no espaço, assim como as po- bem público e direito social.
líticas e ações que visam produzir o acesso

1 Professora Adjunta da Faculdade de Educação, da Universidade Federal de Goiás. Doutora em Educação


pela Universidade Federal de Pernambuco. Membro do Núcleo de Estudos e Documentação Educação, Sociedade e
Cultura/FE/UFG.
O dever do Estado com a educação, de da autoridade competente. § 3o - Compe-
segundo o art. 208 da CF/1988, será efetivado te ao Poder Público recensear os educandos
mediante a garantia de: I - educação básica no ensino fundamental, fazer-lhes a chama-
obrigatória e gratuita dos quatro aos 17 anos da e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
de idade, assegurada inclusive sua oferta pela frequência à escola.
gratuita para todos os que a ela não tiveram
acesso na idade própria; (EC no 59/2009); A qualidade do ensino consiste em
II - progressiva universalização do ensino um conceito que se modifica com as trans-
médio gratuito; (EC no 14/1996); III - aten- formações da sociedade e a emergência de
dimento educacional novas necessidades. Se-
especializado aos por- gundo a Unesco (2007),
tadores de deficiência, “A discussão sobre a qualidade da educa-
preferencialmente na qualidade da educação ção é um conceito com
rede regular de ensino; implica o mapeamento grande diversidade de
IV - educação infantil, significados, com fre-
dos diversos elementos
em creche e pré-escola, quência não coinciden-
necessários para
às crianças até cinco te entre os diferentes
anos de idade (EC no
qualificar, avaliar e atores, porque implica 20
53/2006); V - acesso aos precisar a natureza, um juízo de valor con-
níveis mais elevados as propriedades e os cernente ao tipo de
do ensino, da pesquisa atributos desejáveis ao educação que se queira
e da criação artística, para formar um ideal
processo educativo (...)”
segundo a capacidade de pessoa e de socieda-
de cada um; VI - oferta de. E completa dizendo
de ensino noturno re- que:
gular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as As qualidades que se exigem do ensino

etapas da educação básica, por meio de pro- estão condicionadas por fatores ideoló-

gramas suplementares de material didático gicos e políticos, pelos sentidos que se

escolar, transporte, alimentação e assistên- atribuem à educação num momento


dado e em uma sociedade concreta, pe-
cia à saúde (EC no 59/2009); § 1o - O acesso
las diferentes concepções sobre o desen-
ao ensino obrigatório e gratuito é direito
volvimento humano e a aprendizagem,
público subjetivo.
§ 2o - O não oferecimento
ou pelos valores predominantes em uma
do ensino obrigatório pelo Poder Público ou
determinada cultura. Esses fatores são
sua oferta irregular importa responsabilida-
dinâmicos e mutantes, razão por que a Assim, garantir a melhoria da qua-
definição de uma educação de qualidade lidade à educação é um objetivo que deve
também vaira em diferentes períodos, ser buscado constante e incessantemente.
de uma sociedade para outra e de al- Segundo Silva, Oliveira e Loureiro (2009), en-
guns grupos ou indivíduos para outros. volve a identificação e análise constantes:
(UNESCO, 2007, p. 29)

a) da dimensão socioeconômica e cultural


A discussão sobre qualidade da edu- dos entes envolvidos;
cação implica o mapeamento dos diversos
elementos necessários para qualificar, ava- b) do papel do Estado e suas obrigações na
liar e precisar a natureza, as propriedades e garantia dos direitos à educação pública,
os atributos desejáveis ao processo educati- gratuita e de qualidade;
vo, tendo em vista a produção, a organiza-
ção, a gestão e a disseminação de saberes c) dos fatores inerentes às condições de
e conhecimentos fundamentais ao exercício oferta do ensino que mais interferem no
da cidadania e a melhoria do processo en- processo de construção de uma educação
sino-aprendizagem dos estudantes. Segundo de qualidade;
Dourado (2007, p. 940): 21
d) dos elementos relativos à gestão e organi-
O conceito de qualidade (...) não pode ser zação do trabalho escolar;
reduzido a rendimento escolar, nem to-
mado como referência para o estabele- e) das políticas e ações de formação inicial
cimento de mero ranking entre as insti- e continuada, profissionalização e ação pe-
tuições de ensino. Assim, uma educação dagógica do docente em cada sistema de
com qualidade social é caracterizada por ensino, por nível, etapa e modalidade da
um conjunto de fatores intra e extra-es- educação;
colares que se referem às condições de
vida dos alunos e de suas famílias, ao seu f) das condições de acesso, permanência e
contexto social, cultural e econômico e desempenho escolar e suas vinculações com
à própria escola – professores, diretores, a qualidade da educação.
projeto pedagógico, recursos, instala-
ções, estrutura organizacional, ambien- A garantia de uma educação de qua-
te escolar e relações intersubjetivas no lidade e a ampliação e democratização do
cotidiano escolar. acesso a todos(as) os(as) brasileiros(as) se
apresenta, ainda, como um direito ainda em
processo de consolidação. Dentre os desa- Sistema Nacional de Avaliação da Educação
fios a serem superados, considerando, prin- Básica como fonte de informação para a
cipalmente, a população entre 04 e 17 anos, avaliação da qualidade da educação básica e
o Documento-Referência da Conae/ 2014 para a orientação das políticas educacionais
apresenta como metas e/ou proposições: do Estado brasileiro e respectivos sistemas
de ensino;
a) democratização do acesso: universalizar a
Educação Básica de 04 a 17 anos; ampliar a d) condições de participação: criação de me-
oferta da educação de crianças de 0 a 3 anos; canismos de participação colegiada nas ins-
universalizar, preferencialmente na rede re- tituições educativas; garantir a participação
gular de ensino, o atendimento escolar aos da comunidade escolar e local nas ativida-
alunos e alunas com deficiência, transtor- des de planejamento pedagógico e nas dinâ-
nos globais do desenvolvimento e altas ha- micas de avaliação do projeto pedagógico e
bilidades ou superdotação, assegurado o do trabalho escolar; estimular a participa-
atendimento educacional; ampliar a taxa de ção da família na vida escolar dos estudan-
matrícula bruta e líquida no Ensino Médio; tes; garantir piso salarial, plano de carreira
e realização de concursos públicos para os
b) permanência: promover a oferta de edu- profissionais da educação; tempo remunera- 22
cação básica pública em tempo integral; do de trabalho para o desenvolvimento das
garantir a oferta de diferentes modalidades atividades de planejamento e orientação
educativas e formas organizativas do ensino, extra-classe;
de modo a atender a população também em
suas singularidades e especificidades; insti- e) aprendizagem: elevar as taxas de alfabeti-
tuir currículos adequados às especificidades zação e de escolaridade média da população
dos educandos; produção e disponibilização brasileira; garantir alfabetização de todas
de material didático, desenvolvimento de as crianças nos três anos iniciais do ensino
currículos e metodologias específicos para fundamental; elevar a escolaridade média
cada etapa e/ou modalidade da educação da população de 18 a 29 anos, de modo a
básica; alcançar o mínimo de 12 anos de estudo;
igualar a escolaridade média entre negros e
c) avaliação: estabelecer padrões de quali- não negros declarados ao IBGE; garantir es-
dade da educação em todos os níveis, eta- paços, tempos e materiais didático-pedagó-
pas e modalidades; desenvolver indicadores gicos apropriados às atividades educativas;
e mecanismos específicos de avaliação da garantir profissionais habilitados/as para o
qualidade para a educação básica; criar um exercício do magistério e demais funções
nas instituições educativas; promover for- meio de provas estandardizadas, mas uma
mação inicial e continuada de profissionais capaz de favorecer a análise do desenvolvi-
da educação das redes públicas mento e da apreensão dos saberes científi-
cos, artísticos, tecnológicos, sociais e histó-
Para a efetivação do direito à educa- ricos, compreendendo as necessidades do
ção de qualidade social se faz imprescindível mundo do trabalho, os elementos materiais
o financiamento adequado, em cada um dos e a subjetividade humana (BRASIL, 2013, p.
seus respectivos níveis, etapas e modalida- 94). Nesse sentido, a avaliação é parte cons-
des. O Documento-Referência da Conae 2014 tituinte e constitutiva do processo.
aponta como horizonte o estabelecimento
de um custo aluno-qualidade inicial, basea- O cenário atual de expansão da edu-
do no inciso IX do artigo quarto da LDB, que cação básica torna imprescindível a criação
determina a vigência de “padrões mínimos de um Sistema Nacional de Educação visan-
de qualidade de ensino, definidos como a va- do à articulação dos entes federados e de-
riedade e quantidade mínimas, por aluno, de mais setores da sociedade civil para a oferta
insumos indispensáveis ao desenvolvimento de uma educação básica de melhor quali-
do processo de ensino-aprendizagem. dade social. Também sinaliza para a neces-
É necessária a vinculação de recur- sidade da criação de um Sistema Nacional 23
sos financeiros suficientes para a implanta- de Avaliação da Educação Básica de modo a
ção de políticas, programas e ações capazes assegurar a constante melhoria de sua qua-
de elevar a qualidade da educação, expandi- lidade, contemplando todos os estudantes
-la e promover a redução das assimetrias brasileiros, independentemente da região,
educacionais entre as regiões, estados e estado, cidade e/ou sistema de ensino em
respectivos sistemas de ensino, bem como que estejam matriculados. Neste sentido,
para o cumprimento das metas dos planos a participação da sociedade brasileira neste
nacionais, estaduais, distrital e municipais momento de discussão do Plano Nacional de
de educação. Educação e de realização das Conferências
municipais, estaduais, distrital, intermunici-
A melhoria da qualidade social da pais, livres preparatórias para a Conferência
educação e sua democratização também im- Nacional de Educação – Conae/2014 – é im-
plicam constantes processos de avaliação. prescindível à garantia de uma educação de
Não a avaliação compreendida no sentido qualidade, assegurando a democratização
estrito da análise de resultados de desempe- do acesso, permanência, avaliação, condi-
nho dos estudantes, instituições educacio- ções de participação e aprendizagem.
nais e/ou sistemas de ensino medidos por
REFERÊNCIAS

BRASIL. CONAE 2014. Conferência Nacional de Educação: Documento-Referência. FNE: Brasília:


Ministério da Educação, SEA, 2013.

DOURADO, Luiz Fernandes. Políticas e gestão da educação básica no Brasil: limites e


perspectivas. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 28, n. 100 - Especial, p. 921-946, out. 2007.

DOURADO, L. F.; OLIVEIRA, J.F.; SANTOS, C.A. A qualidade da educação: conceitos e definições.
Série Documental: Textos para Discussão, Brasília, DF, v. 24, n. 22, p. 5-34, 2007.

SILVA, A. F.; OLIVEIRA, J. F.; LOUREIRO, W. N. (Orgs). A qualidade da educação municipal:


sistemas e escolas em Goiás. São Paulo: Xamã, 2009, p. 273.

UNESCO. Educação de qualidade para todos: um assunto de direitos humanos. Brasília: Unesco,
Orealc, 2007.
24

SILVA, A. F.; MORAES, K. N. A qualidade na educacao basica municipal: os sistemas de


ensino e as escolas municipais - reflexões preliminares de uma pesquisa. Anais do 23o
Simpósio Brasilerio de Política e Administração da Educação, V Congresso Luso-Brasileiro e
Colóquio Ibero-Americano de Política e Administração, da Associação Nacional de Política e
Administração da Educação (Anpae). Cadernos Anpae n 4, 2007, ISSN 1677-3802. Disponível
em: http://www.anpae.org.br/congressos_antigos/simposio2007/32.pdf
Presidência da República
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Básica

TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO


Supervisão Pedagógica
Rosa Helena Mendonça

Acompanhamento pedagógico
Soraia Bruno

Coordenação de Utilização e Avaliação


Mônica Mufarrej
Fernanda Braga

Copidesque e Revisão
Milena Campos Eich

Diagramação e Editoração
Bruno Nin
Valeska Mendes

Consultora especialmente convidada 25


Karine Nunes de Moraes

Coordenação de Conteúdo das Unidades 13 a 19 (referentes à CONAE 2014)


Luiz Fernandes Dourado

E-mail: salto@mec.gov.br
Home page: www.tvbrasil.org.br/salto
Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro.
CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ)

Setembro 2013

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