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Capa:
César França de Oliveira
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***
Leonor não se lembrava de que,
apesar de estar buscando a ajuda
indispensável do médico humano, era a
paciente atendida por dois especialistas
em medicina do mundo espiritual, além
do amoroso Cristiano, outro médico da
emoção, que a conhecia profundamente e
a sustentava há décadas nas lutas contra
as adversidades.
Era Deus atuando em favor de seus
filhos, muito antes que os próprios filhos
imaginassem que iriam precisar de sua
ajuda.
Recordando amorável conselho de
Deus e do Cristo, através da palavra
sábia de um de seus mais inspirados
representantes espirituais, entregamos a
você, queridos leitores, que pode estar,
agora, na condição de enfermo de
qualquer doença, seja do corpo ou da
alma, do afeto ou da consciência,
enfermidade curável ou de difícil
solução, o conselho sábio de Emmanuel,
através do médium Francisco Cândido
Xavier, na mensagem endereçada ao seu
coração:
“O AUXÍLIO VIRÁ
O problema que te preocupa talvez
te pareça excessivamente amargo ao
coração. E tão amargo que talvez não
possas comentá-lo, de pronto.
Às vezes, a sombra interior é
tamanha que tens a idéia de haver
perdido o próprio rumo.
Entretanto, não esmoreças.
Abraça o dever que a vida te
assinala.
Serve e ora.
A prece te renovará energias.
O trabalho te auxiliará.
Deus não nos abandona.
Faze silêncio e não te queixes.
Alegra-te e espera, porque o Céu te
socorrerá. Por meios que desconheces,
Deus permanece agindo.”
(Recados do Além, cap. 49,
IDEAL.)
13
ATMOSFERA DE CADA
ENFERMO
Assustada, mas procurando se
manter em equilíbrio, Leonor encontrou
o telefone do médico que poderia ajudá-
la na avaliação do seu estado de saúde,
iniciando o longo trajeto da luta contra
esse obstáculo que desafia a fé das
criaturas e as convida ao melhoramento
de si mesmas.
A consulta foi marcada para umas
três semanas depois, tempo longo para a
espera de quem precisa saber se está ou
não sob o assédio da enfermidade de
que se suspeitava.
Depois da primeira semana, que
passou entre pensamentos de
preocupação, trabalhos manuais, a
televisão e as raras saídas de casa,
Leonor viu que não suportaria esse
estado de coisas e que teria dificuldades
de permanecer calma sem o apoio de
alguém. Decidiu, então, romper o
silêncio e pedir ajuda, mesmo que de
maneira discreta a fim de não produzir
alarde ou mais problemas.
Como não gostaria de estar sozinha
nos momentos difíceis por que estava
prestes a passar, ligou para sua filha,
Rosimeire, que se encontrava
empregada em um trabalho que lhe fora
conseguido através da intervenção
velada de Oliveira, usando as
influências que possuía.
Tanto ela como o outro filho,
Clodoaldo, viviam na capital, cidade
próxima na qual tinha acontecido o
sepultamento do deputado,
desenvolvendo seus trabalhos
profissionais e formando-se
culturalmente, na dupla jornada dos que
precisam custear os próprios estudos.
O telefonema de Leonor foi uma
surpresa para a filha que,
imediatamente, se colocou à disposição
da mãe para acompanhá-la, alegando
que estava com tempo livre e ficaria
muito feliz em passar alguns dias na
companhia dela.
Leonor não sabia direito qual era a
atividade de Rosimeire na cidade
grande, mas dela sempre recebia a ajuda
mensal para as despesas mais pesadas,
enquanto que Clodoaldo não tinha muito
tempo para se ocupar com os problemas
da mãe.
Ela e o filho mantinham um
relacionamento telefônico esporádico,
ainda que não muito caloroso,
principalmente depois que o rapaz
começara a namorar jovem que provinha
de família aquinhoada, tradicional e
importante na cidade.
Parece que Clodoaldo não
desejava dar a conhecer a própria mãe,
mulher pobre e inculta, àqueles que lhe
mereciam a atenção especial,
particularmente à namorada a quem
desejava conduzir ao altar assim que
conseguisse melhorar suas condições
financeiras.
Nenhum dos dois filhos de Leonor
sabia que a mãe havia-se empenhado
junto a Oliveira para conseguir-lhes uma
colocação digna, nem que o político
conhecido era o pai indiferente que os
abandonara ainda em tenra idade.
Ambos cresceram sem saberem
quem era o genitor porque Leonor se
envergonhava da própria situação e não
desejava que os filhos tivessem a menor
idéia sobre o homem que fora co-
responsável pela concepção de ambos.
Sobretudo, Leonor temia que as
duas crianças acabassem se interessando
pela posição bem mais confortável do
pai e a deixassem no abandono,
preferindo transferir-se para uma vida
mais faustosa.
Ela sabia que, mesmo que tivesse
passado por momentos de dificuldade, o
ser humano é muito vulnerável às
tentações do conforto, do status, da
facilidade, relegando ao esquecimento
todos os sacrifícios, os momentos duros,
e do próprio orgulho se, com isso, puder
conquistar alguma significativa
vantagem financeira.
Como Leonor nada possuía para
oferecer além da simples casinha
alugada e do trabalho honesto, mas
humilde com o qual conseguira manter a
família sem a ajuda do companheiro
indiferente, resolveu ocultar a verdade
porque não queria correr o risco de
perder a companhia dos filhos.
Com isso, Clodoaldo se dedicara
ao trabalho desde cedo, envergonhando-
se da situação humilhante de quase
pobreza e guardando no coração a
mágoa de não conhecer o próprio pai.
Para evitar maiores problemas,
Leonor inventara um nome fictício para
o pai e afirmara para os dois filhos que
ele havia partido para uma terra
distante, aventurando-se na companhia
de outra mulher e os deixara sozinhos,
sem nunca mais aparecer nem mandar
notícias.
Desejava marcar o sentimento dos
dois com a nódoa do abandono paterno
para que em seus corações nunca
houvesse espaço para o nascimento de
qualquer laço de afetividade entre eles e
o genitor.
No entanto, Clodoaldo se ressentia
da ausência do pai, desejando sempre
conhecer detalhes de sua vida, como era
ele, se havia alguma fotografia, para que
lado poderia ter ido, perguntas que
irritavam profundamente Leonor e eram
respondidas com a rispidez típica de
quem quer encurtar o assunto.
Rosimeire, ao contrário, não se
interessava pelo antigo companheiro de
Leonor.
Entendendo a dor do coração
feminino relegado à solidão na presença
de duas crianças e, praticamente,
entregue ao abandono material, a filha
sempre se esforçara para ajudar a mãe,
tudo fazendo para corresponder-lhe às
expectativas, cuidando do irmão nas
horas de ausência da responsável pelo
lar, arrumando a pequena casa,
esquentando a comida, velando para que
as coisas pudessem caminhar como seria
melhor para todos e, no fundo,
guardando a admiração pelo esforço
dela e o desejo de, um dia, retirá-la da
condição de pobreza.
A filha sonhava em retribuir à
mãezinha, algo do muito que dela
recebera em forma de sacrifícios
silenciosos, renúncias doloridas,
lágrimas contidas e sonhos não
realizados.
No fundo, Rosimeire sabia que o
coração de Leonor era profundamente
sulcado pelas mágoas afetivas, pelas
dores do abandono e, diferentemente de
Clodoaldo, não se interessava em obter
notícias do pai, nem desejava conhecê-
lo, o que a levava a repreender o irmão
para que parasse de ser tão inoportuno
com tais referências ou pedidos de
informação.
O coração de Leonor mantinha
profundos laços de afinidade com
Clodoaldo porque o menino
representava a figura paterna em todos
os detalhes, na semelhança física que se
desdobrava aos seus olhos argutos de
mulher apaixonada, ainda que cheia de
rancores.
Estar perto de Clodoaldo era como
ter Oliveira ao seu lado novamente. No
entanto, apesar de sentir tal afinidade,
sabia que o rapaz não se interessava
tanto por ela quanto pelo destino do
desconhecido genitor, conduta esta que
feria o orgulho de mulher devotada e
mãe heróica.
Com Rosimeire, Leonor não sentia
profunda ligação, uma vez que, como
mulher, a filha não despertava na mãe as
mesmas emoções que a semelhança de
Clodoaldo fazia rememorar.
Apesar de ter sempre muito carinho
por ambos, não era difícil perceber que
era ao filho que Leonor oferecia mais o
seu carinho espontâneo.
Com a filha, havia um certo clima
de concorrência que não existia em
relação ao menino.
Rosimeire sentia estas coisas, mas
seguia calada, sempre tentando tudo
fazer para auxiliar a mãezinha
sacrificada e, com isso, conquistar a sua
confiança.
E agora que a dor física começava
a rondar a casa materna, ela estaria
presente, ainda mais depois que,
inexplicavelmente, há poucos dias,
havia sido demitida do emprego, sem
qualquer explicação.
Acontece que, sem saber que
Oliveira era seu pai e que fora o
responsável por sua colocação em
trabalho junto a pessoas que lhe deviam
favores, não imaginara que sua demissão
estava conectada à morte do político
influente como efeito direto. Morto o
credor, morta a dívida.
Assim, o responsável direto pela
manutenção do compromisso de trabalho
se vira liberado daquele gasto, optando
pela demissão imediata sem levar em
consideração a capacidade da jovem e
as suas necessidades naquele mundo
caro e tão disputado como costuma ser
toda capital ou cidade importante.
Demitida, Rosimeire não sabia
como conduzir-se e, aflita, também
procurava não sobrecarregar a mãezinha
com tais preocupações. Certamente
conseguiria outro emprego a tempo para
não deixar de cooperar com a
manutenção das despesas de Leonor,
compromisso que se impusera a si
mesma com a religiosidade devotada da
filha responsável e grata.
Quando o telefonema da mãe a
encontrou, estava, pois, desempregada,
vivendo com os recursos que conseguira
economizar ao longo do trabalho, mas,
agora, livre para dar a assistência
emocional ao coração abatido dela.
De igual sorte, a doença da mãe
chegara em hora muito difícil, sobretudo
para quem acabara de perder a
colocação profissional que a permitia
custear os compromissos mais
emergentes.
E chegara em momento tão
delicado que, apesar de estar carente,
esperando consolo diante da demissão
inexplicada, Rosimeire preferiu ocultá-
la, para que o estado emocional de
Leonor não acabasse ainda mais
prejudicado pela aflição causada
decorrente da notícia do seu desemprego
em momento tão crucial.
Para todos os efeitos, segundo
pensava Rosimeire, diria que estava em
férias, com tempo disponível para
ajudar a mãe até que arrumasse uma
maneira de contar-lhe a verdade.
Necessitava dar um rumo em sua
vida, já que sua manutenção na cidade
grande exigiria o gasto dos recursos que
economizara, valores estes que fariam
falta no caso de se confirmar a
enfermidade da genitora.
Anteviu, então, a necessidade de,
em breve, devolver o apartamento em
que residia, suspendendo o curso de
inglês que fazia à noite para melhor
qualificar-se nas funções de secretária
que sonhava exercer de forma plena, um
dia.
Todas estas decisões, contudo,
deveria deixar para mais adiante,
procurando, primeiramente, atender às
necessidades de Leonor e ver como as
solucionaria posteriormente.
Clodoaldo foi informado de sua
volta para casa, sem que Rosimeire lhe
comentasse o insucesso profissional,
mantendo a notícia das férias.
Muito atarefado no escritório de
projetos e obras, onde trabalhava para
conseguir terminar a faculdade de
engenharia que cursava no último
semestre, o jovem desculpou-se com a
irmã por não poder acompanhá-la,
pedindo para que Leonor o esperasse em
breve, na visita que faria assim que as
provas finais o permitissem.
Acostumada às poucas atenções do
filhos, Leonor não estranharia essa
desculpa reconhecendo, como toda boa
mãe reconhece, que o filho precisava
mesmo estudar para terminar o curso.
Rosimeire, no entanto,
acompanhando o afastamento do irmão
havia algum tempo, não lhe repreendeu a
conduta de forma direta, mas não deixou
de ressaltar quão positiva seria a sua
visita para servir de apoio à mãe, em
hora tão delicada.
Assim, dois dias depois do
telefonema, Leonor recebia Rosimeire
em sua casinha, na qual as camas dos
filhos continuavam a ocupar o quarto
extra que havia ali, lembrança dos
tempos em que ambos estavam sob a sua
vista e cuidados mais diretos.
O abraço da primogênita em hora
tão frágil de sua vida correspondeu a
uma injeção de ânimo, que somente
quem passa por tais dificuldades sabe
avaliar com exatidão.
Rosimeire encontrou Leonor algo
abatida, depois de mais de uma semana
naquele calvário de medo e incerteza,
esperando pela consulta do médico.
A conversa entre as duas fez-se
mais aberta e direta do que pelo
telefone, contando Leonor todos os
detalhes da descoberta, da leitura do
folheto, da lembrança de Jurandira em
seus estados cancerígenos avançados.
Rosimeire escutava com atenção e
procurava apoiar a mãe necessitada de
esperanças, falando-lhe coisas
positivas, dizendo que aquilo não
haveria de ser nada, que muitas
mulheres passavam por situações como
aquela, com suspeita de enfermidades
que não se confirmavam depois dos
exames, terminando o problema com
alguma cirurgia simples ou, até mesmo,
com simples punção no local.
As palavras da filha eram alimento
para sua alma, para sua alegria,
vencendo as horas densas que teria pela
frente até o dia da consulta.
Rosimeire passou a realizar os
pequenos serviços da casa, ampliando
os cuidados para com Leonor até mesmo
à confecção do almoço, sob os protestos
da mãe.
– Escute aqui, filha, eu não estou
inválida, não – dizia ela, meio
contrariada.
– Claro que não, mãe. Mas é que eu
fiquei tanto tempo longe de casa, que
gostaria de me sentir de volta ao velho
lar, onde sempre me dedicava ao
trabalho de fazer comida quando a
senhora estava fora, lembra?
– Como esquecer estas coisas, Rosi
– como a mãe a chamava na intimidade.
– Então sente-se aí e vá cortando a
batata enquanto a gente conversa...
E assim as horas iam passando.
Sem se aperceberem do que
ocorria fora de suas vidas, não se deram
conta de que Conceição, a vizinha
bisbilhoteira, continuava com sua tarefa
de fiscalização do que não lhe competia.
– Ora, primeiro, a velhota não sai
mais de casa. Agora, a filha, que há
muito não aparecia chega para ver a
mãe. Hummmmmmm... aí tem coisa,
jacaré...
E enquanto falava sozinha, escrevia
em seu caderno de informações secretas,
levantando as diversas suspeitas
possíveis.
A filha poderia estar grávida, a
mãe poderia estar doente, as duas
coisas, a menina poderia ter brigado
com o marido ou amante e voltado para
casa – tudo eram hipóteses negativas
que brotavam de sua cabeça “cheia de
vazio”, ocupada por preocupações
inúteis e mesquinhas, alimentando com
isso as forças negativas que já a estavam
consumindo.
– Mas não é que a menina se
transformou numa mulher linda! –
anotava em seu caderninho. – Com
aquele corpão, tenho certeza de que
deve estar muito bem de vida lá na
cidade grande, cheia de homens ricos,
louquinhos por uma aventura e uma
perversão...
Ela não tinha limites, e suas
observações bem retratavam o teor de
seus maiores problemas, ou seja, a
afetividade e a sexualidade frustradas,
apesar de possuir inteligência e cultura
para pensar de outra maneira.
Sua vida, pois, era um sorvedouro
de más vibrações, sua casa era um
ambiente pernicioso onde, como um
campo aberto ao ataque das entidades
nocivas, as forças escuras e pestilentas
afinizadas com ela fizeram morada,
convidadas pela dona da casa a
compartilharem suas fraquezas e vícios.
Como já se disse anteriormente,
Conceição era explorada em todos os
momentos por tais influências.
Sua mente, divorciada dos
princípios elevados que a defenderiam
de tais ataques, aceitava todo o tipo de
sugestão inferior, tendo sempre muito
espaço para as coisas feias, para a
malícia, para as imagens dissolutas e
provocantes com que ela poluía o seu
mundo mental.
Não imaginava que, em
decorrência da criação desse tipo de
ambiente, sua moradia se transformava
em um prostíbulo, freqüentado por todo
padrão de entidades promíscuas, ali
encontrando a atmosfera propícia para a
realização de suas orgias invisíveis aos
olhos humanos, mas tão reais a qualquer
um dos Espíritos nelas envolvidos.
Conceição fornecia as forças vitais
para a sustentação dessas festividades
espirituais. Isso quando, igualmente, não
tomava parte ativa nas bacanais dos
Espíritos nas horas de seu repouso
carnal ou nos momentos em que,
excitada por imagens pornográficas que
assistia em seu vídeo, por revistas
indecentes que colecionava às
escondidas trazidas pelo amante que a
visitava, ambos se entregavam às
aventuras da sexualidade animalizada.
No entanto, mesmo quando o
amante se ausentasse por mais tempo,
ela se submetia a tais sessões de
erotismo desgastante quase que
diariamente, sempre com a desculpa de
que precisava manter acesa a chama
para quando o amante viesse a fim de
não decepcioná-lo, além de procurar
devolver-lhe em prazer os valores
financeiros que o homem gastava para
atender suas exigências e caprichos.
Por tudo isso, a acompanhá-la
estavam os Espíritos que com ela se
afinizavam, transformando-a em um
fantoche ou joguete de tais sensações,
ainda muito próprias de entidades
inferiorizadas.
Como não pensava em outra coisa a
não ser nas perversidades que
vivenciava, na imaginação fértil para as
tentações, nos sonhos de deleite que
cultivava sozinha ou acompanhada, na
inércia das mãos no trabalho digno, da
ausência de leituras positivas e
enobrecedoras dos ideais, Conceição
fixara todas as suas preocupações nos
prazeres da área genital, motivando com
isso a concentração de forças deletérias
em tal região, imantada por Espíritos
maliciosos que ali também encontravam
satisfação para seus prazeres
desenfreados, determinando, com isso, a
eclosão de processo tumoral na
cavidade uterina pela repetição
incessante de experiências pouco
elevadas e pela fixação mental inferior
que produzia para servir como seu
próprio alimento.
Como seus pensamentos giravam
em torno dessas idéias dominantes,
piorados pelas condutas delituosas
envolvendo a sexualidade, além do fato
de ocupar-se em tempo integral das
mesmas suposições maliciosas sobre a
vida alheia, os tecidos orgânicos sobre
os quais eram desferidas as descargas
descontroladas da emoção passaram a
assimilar o desajuste da alma de tal
maneira que, em sintonia com as
entidades que se valiam desse centro de
energias para o abastecimento de suas
forças, o câncer uterino desabrochou,
insidioso.
Essa rotina de vida desajustada,
diga-se de passagem, não era fruto
apenas da influência da televisão, nem
fora aprendida na escola ou na família.
Conceição era um Espírito
compromissado na questão afetiva e
sexual que, trazendo tais problemas para
a nova existência, estava tendo a
oportunidade de se corrigir através do
serviço ao semelhante, no amparo à
crianças alijadas do coração materno,
dos pequenos que procurassem a
segurança da professora distinta que a
educa em bases sólidas para o futuro.
Quaisquer atividades que
Conceição desenvolvesse na área do
atendimento às carências humanas seria
bandeira de nobreza que ergueria para o
futuro, em consonância com suas
necessidades de corrigenda e
recuperação moral.
Entretanto, o tempo passara e sua
vida se transformara em um venenoso
curso de inutilidades para si e maldades
para os outros.
E os cadernos se multiplicavam em
suas gavetas, todos rigorosamente
identificados pelas datas, numerados e
encapados, com o arquivo de tudo o que
se passara na vizinhança nos últimos
anos, sob o seu ponto de vista e
interpretação.
Vendo que o interior da cavidade
uterina começava a alterar-se, as
entidades luxuriosas e malévolas tudo
fizeram para adiar a descoberta de tais
males, tendo trazido até a sua casinha
Espíritos de ex-médicos que, na
Terra,quando encarnados, deslustraram
a medicina através da prática de abortos
clandestinos, para que eles avaliassem o
estado da mulher que lhes servia de
pasto para os prazeres proibidos.
Não exigiam que ele a curasse, mas
que o indigno representante do saber
médico fizesse alguma coisa para adiar
a descoberta da doença a fim de que
continuasse a fazer parte das
festividades e bacanais ali promovidas
às suas custas.
Trazendo eflúvios anestesiantes
entre seus apetrechos médicos,
aplicava-os sobre o tumor, neutralizando
as reações do organismo que fizessem
Conceição sentir incômodos que a
alarmassem e, por isso, fossem
prejudiciais aos interesses da turba
viciada.
Além disso, elementos magnéticos
semelhantes aos usados pelas feiticeiras
no covil onde Oliveira estava sendo
domesticado também eram usados para
conferir à água pura os qualificativos
excitantes e afrodisíacos parecidos com
aquele absinto que se usava nas regiões
inferiores.
Isso alimentaria o desejo de
Conceição por mais aventuras, mantendo
alucinada a sua mente a afastando-a das
preocupações consigo mesma.
Esse mecanismo já vinha sendo
implementado há algum tempo por tais
entidades.
Conceição, assim, era a
responsável direta por tudo o que estava
lhe acontecendo, ficando privada, por
sua escolha, da proteção espiritual
amiga que, depois de tudo ter feito para
conscientizá-la dos princípios mais
nobres, como valores imperecíveis que
a acompanhariam por onde fosse,
acabou por entregá-la si mesma.
As entidades indignas que se
aglomeravam em sua casa nada mais
eram do que seu comensais, seus
convidados, seus sócios, seus cupinchas,
todos eles dependentes da aceitação e
do acolhimento que Conceição lhes
oferecia.
Agora, juntos há alguns anos, todos
funcionavam como uma equipe
harmonizada, cada qual fazendo o seu
papel e desfrutando de suas regalias
junto à fonte dos prazeres.
Nenhum deles, entretanto, estaria
ao seu lado quando o desenvolvimento
da enfermidade a reduzisse a um
amontoado de células em desajuste,
quando, então, não haveria mais desejo
sexual ativo, quando os cabelos
enfraquecessem e caíssem, quando o
amante a abandonasse definitivamente,
quando ninguém se importasse com sua
vida.
Seria apenas o trapo velho e
apodrecido à espera do caminhão de
lixo que o transportaria para a última
morada.
Mas enquanto isso não acontecia,
todos se amontoavam sobre seus
ombros, sobre seu corpo voluptuoso,
sobre seus pensamentos inferiores e suas
observações bisbilhoteiras, ajudando-a
com a inspiração de variadas torpezas e
dos pensamentos maldosos sobre a vida
dos outros.
Conceição nunca imaginaria o que
estava esperando por ela, tanto na vida
física quanto na vida espiritual, quando
Deus a requisitasse para a avaliação das
próprias contas.
O tempo, entretanto, deveria dar o
seu veredicto para cada um dos
envolvidos na questão.
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DE DIFUSÃO ESPÍRITA, entidade
sem fins lucrativos, que promove
extenso programa de assistência
social, e que detém os direitos
autorais desta obra.
Table of Contents
1 - A suíte presidencial
2 - Leonor
3 - Oliveira e Eulália
4 - Os mecanismos da hipnose
5 - Começando o trabalho
6 - Pedindo a enfermidade ou criando a
doença
7 - Explicando
8 - Os ambientes inferiores
9 - A rotina nas furnas
10 - A astúcia das trevas
11 - Encarando a si mesma
12 - O auto-exame
13 - Atmosfera de cada enfermo
14 - O bem amparando o mal
15 - A seleção para o carnaval
16 - O carnaval
17 - A chuva
18 - Enquanto o pai trabalhava, seus
filhos descansavam
19 - As furnas quase vazias
20 - Protegendo os encarnados de si
próprio
21 - Recebendo ajuda de quase todos os
lados
22 - Resolvendo um problema e criando
três
23 - Prosseguindo as lutas
24 - O encontro redentor
25 - “Ajuda-te que o céu te ajudará”
26 - A volta da folia
27 - Diante do maioral
28 - Desdobramentos
29 - O culto, a missa e a reunião espírita
30 - O jogo mesquinho
31 - Coragem e decisão, doença e
descoberta
32 - Agitação nos abismos e no
parlamento
33 - As ações do bem e os verdadeiros
objetivos do mal
34 - Bendito câncer
35 - Relembrando
36 - Misericórdia x Justiça
37 - O reencontro
38 - Aproximando-se da luta derradeira
39 - O encontro do Maioral, Geroboão e
Caifás
40 - Cada qual em suas buscas
41 - Vencendo a prostituição
42 - Definindo novos rumos
43 - Esculpindo o próprio destino