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Info 870 STF PDF
Info 870 STF PDF
Informativo 870-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
Processos excluídos deste informativo pelo fato de não terem sido ainda concluídos em virtude de pedidos de vista ou
de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: HC 134591/SP; MS 31667/DF-AgR.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: Pet 7074 QO/DF; AC 4327 AgR/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Compete aos Municípios legislar sobre meio ambiente em assuntos de interesse local.
MEDIDAS PROVISÓRIAS
O trancamento da pauta por conta de MPs não votadas no prazo de 45 dias só alcança projetos de lei que versem
sobre temas passíveis de serem tratados por MP.
DIREITO AMBIENTAL
COMPETÊNCIA
Normas municipais podem prever multas para os proprietários de veículos que emitem fumaça acima dos padrões
aceitáveis.
DIREITO TRIBUTÁRIO
TAXAS
Base de cálculo da taxa municipal de fiscalização e funcionamento.
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Compete aos Municípios legislar sobre meio ambiente em assuntos de interesse local
Importante!!!
O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição,
quando se tratar de interesse local.
Ex: é constitucional lei municipal, regulamentada por decreto, que preveja a aplicação de
multas para os proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima de padrões
considerados aceitáveis.
STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado
em 29/6/2017 (Info 870).
Normas municipais prevendo multa para carros com fumaça acima dos padrões
O Município de Belo Horizonte editou uma lei, depois regulamentada por um decreto, estipulando a
aplicação de multas para os proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima de padrões
considerados aceitáveis.
O Município poderia ter legislado sobre esse tema? Essas normas são compatíveis com a CF/88?
SIM.
O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição, quando se
tratar de interesse local.
STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em
29/6/2017 (Info 870).
A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24. Ex: o Congresso
Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre a proteção das florestas.
A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos
Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a legislação federal editada pela
União. Obviamente, as normas estaduais não podem contrariar as normas gerais elaboradas pela União.
Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Em outras palavras, não havendo
normas gerais da União, o Estado-membro fica livre para legislar a respeito daquele tema. Vale ressaltar,
no entanto, que se a União vier a editar posteriormente as normas gerais, a lei estadual terá sua eficácia
suspensa naquilo que for contrário à legislação da União.
Dessa forma, os Municípios podem tratar sobre os assuntos do art. 24, no que couber, ou seja, naquilo
que for de interesse local.
Em virtude do exposto, conclui-se que os Municípios possuem competência para legislar sobre o meio
ambiente, limitada esta, no entanto, ao tratamento normativo de assuntos de interesse estritamente local.
MEDIDAS PROVISÓRIAS
O trancamento da pauta por conta de MPs não votadas no prazo de 45 dias só alcança
projetos de lei que versem sobre temas passíveis de serem tratados por MP
Importante!!!
O art. 62, § 6º da CF/88 afirma que “se a medida provisória não for apreciada em até quarenta
e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente,
em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a
votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando”.
Apesar de o dispositivo falar em “todas as demais deliberações”, o STF, ao interpretar esse §
6º, não adotou uma exegese literal e afirmou que ficarão sobrestadas (paralisadas) apenas as
votações de projetos de leis ordinárias que versem sobre temas que possam ser tratados por
medida provisória.
Assim, por exemplo, mesmo havendo medida provisória trancando a pauta pelo fato de não
ter sido apreciada no prazo de 45 dias (art. 62, § 6º), ainda assim a Câmara ou o Senado
poderão votar normalmente propostas de emenda constitucional, projetos de lei
complementar, projetos de resolução, projetos de decreto legislativo e até mesmo projetos de
lei ordinária que tratem sobre um dos assuntos do art. 62, § 1º, da CF/88. Isso porque a MP
somente pode tratar sobre assuntos próprios de lei ordinária e desde que não incida em
nenhuma das proibições do art. 62, § 1º.
STF. Plenário. MS 27931/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 29/6/2017 (Info 870).
Como funciona
O Presidente da República, sozinho, edita a MP e, desde o momento em que ela é publicada no Diário
Oficial, já passa a produzir efeitos como se fosse lei.
Esta MP é, então, enviada ao Congresso Nacional.
Ali chegando, ela é submetida inicialmente à uma comissão mista de Deputados e Senadores, que irão
examiná-la e sobre ela emitir um parecer (art. 62, § 9º).
Depois, a MP será votada primeiro pelo plenário da Câmara dos Deputados (art. 62, § 8º) e, se for
aprovada, seguirá para votação no plenário do Senado Federal.
Caso seja aprovada no plenário das duas Casas, esta MP é convertida em lei.
Trancamento de pauta
O desejo do legislador constituinte é o de que a medida provisória seja votada pelo Congresso Nacional,
evitando que ela perca a eficácia por ausência de apreciação.
Assim, para “forçar” a análise da MP, o art. 62, § 6º da Constituição Federal determinou que “se a medida
provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime
de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até
que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando”.
Em outras palavras, se já tiverem se passado 45 dias e até então a MP não tiver sido votada, haverá o
chamado “trancamento de pauta”, ou seja, não se poderá analisar outras matérias a fim de que se dê
prioridade para a MP que está pendente.
Sobrestamento atinge apenas projetos de lei ordinária que possam ser tratados por MP
Vale ressaltar, no entanto, que, apesar de o dispositivo falar em “todas as demais deliberações”, o STF, ao
interpretar esse § 6º, não adotou uma exegese literal e afirmou que ficarão sobrestadas (paralisadas)
apenas as votações de projetos de leis ordinárias que versem sobre temas que possam ser tratados por
medida provisória.
Assim, por exemplo, mesmo havendo medida provisória trancando a pauta pelo fato de não ter sido
apreciada no prazo de 45 dias (art. 62, § 6º), ainda assim a Câmara ou o Senado poderão votar
normalmente propostas de emenda constitucional, projetos de lei complementar, projetos de resolução,
projetos de decreto legislativo e até mesmo projetos de lei ordinária que tratem sobre um dos assuntos
do art. 62, § 1º, da CF/88. Isso porque a MP somente pode tratar sobre assuntos próprios de lei ordinária
e desde que não incida em nenhuma das proibições do art. 62, § 1º.
Compare
Redação literal do art. 62, § 6º CF/88 Como deve ser interpretado o dispositivo
Se a medida provisória não for apreciada em até Se a medida provisória não for apreciada em até
quarenta e cinco dias contados de sua publicação, quarenta e cinco dias contados de sua publicação,
entrará em regime de urgência, entrará em regime de urgência,
subseqüentemente, em cada uma das Casas do subseqüentemente, em cada uma das Casas do
Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que
se ultime a votação, todas as demais deliberações se ultime a votação, todas as demais deliberações
legislativas da Casa em que estiver tramitando. legislativas ordinárias, que possam ser tratadas
por medida provisória.
Obs: se, em uma prova objetiva for cobrada a redação literal do art. 62, § 6º da CF/88, sem qualquer
menção ao entendimento do STF, esta alternativa deve ser assinalada como correta. Por outro lado, a
resposta será outra se o enunciado falar algo como “de acordo com o STF” ou “de acordo com a
jurisprudência”.
Curiosidade
Vale ressaltar que essa interpretação restritiva e não literal do art. 62. § 6º da CF/88 foi criada por Michel
Temer. Em 2009, Temer era Presidente da Câmara dos Deputados e passou a adotar esse entendimento
naquela Casa afirmando que só ficariam sobrestadas as demais deliberações legislativas que envolvessem
projetos de lei ordinária que pudessem ser tratadas por medida provisória.
Alguns Deputados impetraram, então, mandado de segurança no STF contra essa decisão do então
Presidente da Câmara.
O STF agora julgou o MS concordando com a interpretação realizada.
DIREITO AMBIENTAL
COMPETÊNCIA
Normas municipais podem prever multas para os proprietários
de veículos que emitem fumaça acima dos padrões aceitáveis
É constitucional lei municipal, regulamentada por decreto, que preveja a aplicação de multas
para os proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima de padrões
considerados aceitáveis.
O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição,
quando se tratar de interesse local.
STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado
em 29/6/2017 (Info 870).
COLABORAÇÃO PREMIADA
Diversos aspectos relacionados com a homologação do acordo
Importante!!!
Natureza jurídica do acordo de colaboração premiada
A colaboração premiada é um negócio jurídico processual entre o Ministério Público e o
colaborador, sendo vedada a participação do magistrado na celebração do ajuste entre as
partes.
Em caso colaboração premiada envolvendo investigados ou réus com foro no Tribunal, qual é o
papel do Relator?
Em caso colaboração premiada envolvendo investigados ou réus com foro no Tribunal, qual é o
papel do órgão colegiado?
Compete ao órgão colegiado, em decisão final de mérito, avaliar o cumprimento dos termos do
acordo homologado e a sua eficácia, conforme previsto no art. 4º, § 11 da Lei nº 12.850/2013:
§ 11. A sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia.
Assim, é possível que o órgão julgador, no momento da sentença ou acórdão, ou seja, após a
conclusão da instrução probatória, avalie se os termos da colaboração foram cumpridos e se
os resultados concretos foram atingidos, o que definirá a sua eficácia.
Acordo de colaboração homologado pelo Relator deve, em regra, produzir seus efeitos, salvo se
presente hipótese de anulabilidade
O acordo de colaboração devidamente homologado individualmente pelo relator deve, em
regra, produzir seus efeitos diante do cumprimento dos deveres assumidos pelo colaborador.
Vale ressaltar, no entanto, que o órgão colegiado detém a possibilidade de analisar fatos
supervenientes ou de conhecimento posterior que firam a legalidade do acordo, nos termos
do § 4º do art. 966do CPC/2015:
§ 4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do
processo e homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da
execução, estão sujeitos à anulação, nos termos da lei.
- de forma efetiva,
- na obtenção de provas contra os demais autores dos delitos e contra a organização criminosa,
- na prevenção de novos crimes,
- na recuperação do produto ou proveito dos crimes ou
- na localização da vítima com integridade física preservada,
- recebendo o colaborador, em contrapartida, determinados benefícios penais (ex: redução de sua pena).
A colaboração premiada possui natureza jurídica de "meio de obtenção de prova" (art. 3º, I, da Lei nº
12.850/2013). Chamo atenção para esse fato: a colaboração premiada não é um meio de prova
propriamente dito. A colaboração premiada não prova nada (ela não é uma prova). A colaboração
premiada é um meio, uma técnica, um instrumento para se obter as provas.
“Enquanto os meios de prova são aptos a servir, diretamente, ao convencimento do juiz sobre a
veracidade ou não de uma afirmação fática (p. ex., o depoimento de uma testemunha, ou o teor de uma
escritura pública), os meios de obtenção de provas (p. ex.: uma busca e apreensão) são instrumentos para
a colheita de elementos ou fontes de provas, estes sim, aptos a convencer o julgador (p. ex.: um extrato
bancário [documento] encontrado em uma busca e apreensão domiciliar). Ou seja, enquanto o meio de
prova se presta ao convencimento direto do julgador, os meios de obtenção de provas somente
indiretamente, e dependendo do resultado de sua realização, poderão servir à reconstrução da história
dos fatos” (BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. Rio de Janeiro. Campus: Elsevier. 2012, p. 270).
PREVISÃO NORMATIVA
Podemos encontrar algumas previsões embrionárias de colaboração premiada em diversos dispositivos
legais esparsos. Confira a relação:
Código Penal (arts. 15, 16, 65, III, 159, § 4º);
Crimes contra o Sistema Financeiro – Lei 7.492/86 (art. 25, § 2º);
Crimes contra a Ordem Tributária – Lei 8.137/90 (art. 16, parágrafo único);
Lei dos Crimes Hediondos – Lei 8.072/90 (art. 8º, parágrafo único);
Convenção de Palermo – Decreto 5.015/2004 (art. 26);
Lei de Lavagem de Dinheiro – Lei 9.613/98 (art. 1º, § 5º);
Lei de Proteção às Testemunhas – Lei 9.807/99 (arts. 13 a 15);
Lei de Drogas – Lei 11.343/2006 (art. 41);
Lei Antitruste – Lei 12.529/2011 (art. 87, parágrafo único).
O instituto, no entanto, foi tratado com maior riqueza de detalhes pela Lei nº 12.850/2013 (Lei do Crime
Organizado), em seus arts. 4º a 7º. Este é, atualmente, o diploma que rege, de forma geral, a colaboração
premiada em nosso país, razão pela qual a explicação abaixo será feita com base nesta Lei.
NOMENCLATURA
Normalmente, encontramos na doutrina e jurisprudência, a terminologia “delação premiada”.
A Lei 12.850/2013, no entanto, utilizou a expressão “colaboração premiada”. Existe alguma diferença?
SIM. A nomenclatura "colaboração premiada" é mais ampla, devendo ser considerada como um gênero,
do qual uma das suas espécies é a delação premiada.
A delação premiada ocorre quando o investigado ou acusado colabora com as autoridades delatando os
comparsas, ou seja, apontando as outras pessoas que também praticaram as infrações penais.
Desse modo, como já dito, a delação é uma forma de exercer a colaboração premiada. Existem, contudo,
outras espécies, conforme será visto mais a frente.
Exemplo de colaboração premiada que não é delação premiada: o autor confessa a prática do crime e não
delata nenhum comparsa. No entanto, ele fornece todas as informações necessárias para que as
autoridades recuperem o dinheiro desviado com o esquema criminoso e que se encontrava em contas
bancárias no exterior.
Assim, toda delação premiada é uma forma de colaboração premiada, mas nem sempre a colaboração
premiada será feita por meio de uma delação premiada.
CRÍTICAS E IMPORTÂNCIA
A delação premiada é criticada por alguns doutrinadores. O argumento é o de que, por meio deste
expediente, o Estado estaria incentivando uma conduta antiética por parte do delator, qual seja, a traição.
Afirma-se, ainda, que a colaboração premiada seria uma forma de o Poder Público barganhar com os
criminosos, postura que não seria adequada.
A posição majoritária, contudo, é aquela que defende que, em uma ponderação de interesses, a delação
premiada é medida indispensável ao combate da criminalidade organizada, sendo, portanto, legítima, já
que não viola nenhum direito ou garantia fundamental. Veja a opinião de Nucci:
“(...) parece-nos que a delação premiada é um mal necessário, pois o bem maior a ser tutelado é o
Estado Democrático de Direito. Não é preciso ressaltar que o crime organizado tem ampla
penetração nas entranhas estatais e possui condições de desestabilizar qualquer democracia, sem
que se possa combatê-lo, com eficiência, desprezando-se a colaboração daqueles que conhecem o
esquema e dispõem-se a denunciar co-autores e partícipes. No universo de seres humanos de bem,
sem dúvida, a traição é desventurada, mas não cremos que se possa dizer o mesmo ao transferirmos
nossa análise para o âmbito do crime, por si só, desregrado, avesso à legalidade, contrário ao
monopólio estatal de resolução de conflitos, regido por leis esdrúxulas e extremamente severas,
totalmente distante dos valores regentes dos direitos humanos fundamentais.” (NUCCI, Guilherme
de Souza. Manual de Processo Penal e execução penal. São Paulo: RT, 2008, p. 418).
Ademais, se o Estado não pudesse contar (e incentivar) a delação por parte dos comparsas, dificilmente
seria possível desmantelar organizações criminosas poderosas, com estrutura hierarquizada de poder, nas
quais o chefe da ORCRIM raramente pratica os atos criminosos pessoalmente, valendo-se sempre de
interpostas pessoas e ordens reservadas. Se um integrante da organização for preso e o Poder Público não
tiver autorização para incentivar a delação dos demais membros, o grupo criminoso estará sempre se
renovando, além do que somente serão punidos os componentes de baixo escalão do crime organizado.
A história revela que o instituto da delação premiada foi imprescindível para que a Itália conseguisse punir
alguns integrantes do grupo mafioso siciliano conhecido como “Cosa Nostra” na chamada “Operação
Mãos Limpas”. Um dos mafiosos, Tommaso Buscetta, após ser preso, celebrou acordo com o Procuratore
Della Repubblica Giovanni Falcone, aceitando delatar seus comparsas e revelar toda a estrutura e os
planos da organização criminosa.
Assim, para ter direito aos benefícios decorrentes da colaboração, o indivíduo deverá fornecer
informações efetivas com as quais as autoridades consigam pelo menos um dos seguintes resultados:
1) Identificar os demais coautores e partícipes da organização criminosa e as infrações penais por eles
praticadas.
2) Revelar a estrutura hierárquica e a divisão de tarefas da organização criminosa.
3) Prevenir as infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa.
4) Recuperar total ou parcialmente o produto ou o proveito das infrações penais praticadas pela
organização criminosa.
5) Localizar o paradeiro da vítima com a sua integridade física preservada.
Obs: reitero que basta que um desses cinco objetivos seja atingido para que o colaborador tenha direito
ao benefício.
MOMENTO
A colaboração premiada e a concessão dos benefícios dela decorrentes podem ocorrer em três momentos:
1) Na fase de investigação criminal (inquérito policial ou investigação conduzida pelo MP);
2) Durante o curso do processo penal (ainda que já em instância recursal);
3) Após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
BENEFÍCIOS
Poderão ser concedidos ao colaborador os seguintes benefícios (prêmios):
1) Não oferecimento da denúncia
Se o acordo de colaboração for firmado ainda na fase de investigação, sendo ele homologado pelo juiz, o
Ministério Público poderá deixar de oferecer a denúncia contra o colaborador. Trata-se de uma exceção
ao princípio da obrigatoriedade, segundo o qual, havendo justa causa, o MP é obrigado a oferecer a
denúncia.
Para que o MP deixe de oferecer a denúncia contra o colaborador é necessário o preenchimento dos
seguintes requisitos:
a) A colaboração deve ser efetiva e voluntária;
b) O colaborador não pode ser o líder da organização criminosa;
c) O colaborador deve ter sido o primeiro a prestar efetiva colaboração.
2) Perdão judicial
Se a colaboração prestada for muito relevante, o Ministério Público ou o Delegado de Polícia poderão se
manifestar pedindo que o juiz conceda perdão judicial ao colaborador, o que acarreta a extinção da
punibilidade (art. 107, IX, do CP). Veja a redação do art. 4º, § 2º da Lei nº 12.850/2013:
3) Redução da pena
Outro benefício previsto ao colaborador é a redução da pena que lhe for imposta.
Se a colaboração ocorrer antes da sentença, ou seja, se a pessoa decidir colaborar antes de ser julgada:
sua pena poderá ser reduzida em até 2/3.
Se a colaboração ocorrer após a sentença, ou seja, se a pessoa decidir colaborar apenas depois de ser
condenada: sua pena poderá ser reduzida em até metade (1/2).
5) Progressão de regime
Para que ocorra a progressão de regime, o réu deverá ter cumprido determinado tempo de pena. A isso
chamamos de requisito objetivo da progressão.
Para crimes comuns: o requisito objetivo consiste no cumprimento de 1/6 da pena aplicada.
Para crimes hediondos ou equiparados, o requisito objetivo representa o cumprimento de:
• 2/5 da pena se for primário.
• 3/5 da pena se for reincidente.
Se o réu já estiver condenado e cumprindo pena e decidir colaborar, ele poderá receber como "prêmio" a
progressão de regime ainda que não tenha atingido o requisito objetivo (§ 5º do art. 4º).
O STF entende que, caso a colaboração seja efetiva e produza os resultados almejados, o colaborador tem
direito subjetivo à aplicação das sanções premiais estabelecidas no acordo, inclusive de natureza
patrimonial (HC 127483/PR).
DIREITOS DO COLABORADOR
O art. 5º da Lei 12.850/2013 prevê os seguintes direitos ao colaborador:
I - usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica (Lei nº 9.807/99);
II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados;
III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes;
IV - participar das audiências sem contato visual com os outros acusados;
V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem
sua prévia autorização por escrito;
VI - cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou condenados.
A colaboração é um meio de obtenção de prova cuja iniciativa não se submete à reserva de jurisdição
(não exige autorização judicial), diferentemente do que ocorre nas interceptações telefônicas ou na
quebra de sigilo bancário ou fiscal.
Nesse sentido, as tratativas e a celebração da avença são mantidas exclusivamente entre o Ministério
Público e o pretenso colaborador.
O Poder Judiciário é convocado ao final dos atos negociais apenas para aferir os requisitos legais de
existência e validade, com a indispensável homologação.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).
O Delegado de Polícia pode negociar e assinar acordo de colaboração premiada com o colaborador
(assistido por seu defensor), enviando depois esse termo para ser homologado pelo juiz? A autoridade
policial tem legitimidade para celebrar o acordo de colaboração premiada?
policial, com a manifestação do Ministério Público, b) A CF/88, em seu art. 129, I, conferiu ao MP, a
poderão requerer ou representar ao juiz pela titularidade da ação penal pública e, com isso,
concessão de perdão judicial ao colaborador, também garantiu a esse órgão a decisão sobre a
ainda que esse benefício não tenha sido previsto viabilidade ou não da persecução penal. Alguns
na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o benefícios (prêmios) previstos ao colaborador
art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro implicam o não-exercício da ação penal (como o
de 1941 (Código de Processo Penal). não-oferecimento de denúncia), decisão essa que
(...) só poderia ser tomada pelo MP, já que ele é o
§ 6º O juiz não participará das negociações titular da ação penal.
realizadas entre as partes para a formalização do
acordo de colaboração, que ocorrerá entre o "(...) por mais que a autoridade policial possa
delegado de polícia, o investigado e o defensor, sugerir ao investigado a possibilidade de
com a manifestação do Ministério Público, ou, celebração do acordo de colaboração premiada,
conforme o caso, entre o Ministério Público e o daí não se pode concluir que o Delegado de Polícia
investigado ou acusado e seu defensor. tenha legitimação ativa para firmar tais acordos
com uma simples manifestação do Ministério
Público.
(...)
Por consequência, se a autoridade policial é
desprovida de capacidade postulatória e
legitimação ativa, não se pode admitir que um
acordo por ela celebrado com o acusado venha a
impedir o regular exercício da ação penal pública
pelo Ministério Público, sob pena de se admitir
que um dispositivo inserido na legislação ordinária
possa se sobrepor ao disposto no art. 129, I, da
Constituição Federal." (LIMA, Renato Brasileiro de.
Legislação criminal especial comentada. Salvador:
Juspodivm, 2015, p. 554-555).
Na proposta encaminhada ao Judiciário já deverá ser especificado o benefício que deverá ser concedido
ao colaborador (ex: redução de 2/3 da pena). Deve-se esclarecer, contudo, que o magistrado não está
vinculado aos termos da proposta, podendo adequá-la ao caso concreto (§ 8º do art. 4º).
caso (ex: tiver deferido interceptação telefônica, recebido a ação penal etc.), este será o competente para
apreciar o acordo, sendo distribuído a ele por prevenção.
O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao Delegado de Polícia, como forma de
garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo
acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente
precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento.
O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso assim que recebida a denúncia (§ 3º do art. 7º).
Art. 4º (...) § 8º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais,
ou adequá-la ao caso concreto.
"A homologação não representa juízo de valor sobre as declarações eventualmente já prestadas pelo
colaborador à autoridade judicial ou ao Ministério Público." (Min. Dias Toffoli, no HC 127483/PR). Isso
significa que, quando o juiz homologa o acordo de colaboração premiada, não significa que esteja
concordando ou afirmando que as declarações prestadas pelo colaborador são verdadeiras. Tais
declarações ainda serão objeto de apuração.
A decisão do magistrado que homologa o acordo de colaboração premiada não julga o mérito da
pretensão acusatória, mas apenas resolve uma questão incidente. Por isso, esta decisão tem natureza
meramente homologatória, limitando-se ao pronunciamento sobre a regularidade, legalidade e
voluntariedade do acordo (art. 4º, § 7º, da Lei nº 12.850/2013).
O juiz, ao homologar o acordo de colaboração, não emite juízo de valor a respeito das declarações
eventualmente prestadas pelo colaborador à autoridade policial ou ao Ministério Público, nem confere
o signo da idoneidade a seus depoimentos posteriores.
A análise se as declarações do colaborador são verdadeiras ou se elas se confirmaram com as provas
produzidas será feita apenas no momento do julgamento do processo, ou seja, na sentença (ou
acórdão), conforme previsto no § 11 do art. 4º da Lei.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).
6) Em caso colaboração premiada envolvendo investigados ou réus com foro no Tribunal, qual é o papel
do Relator?
É atribuição do Relator homologar, monocraticamente, o acordo de colaboração premiada, analisando
apenas a sua regularidade, legalidade e voluntariedade, nos termos do art. 4º, § 7º da Lei nº
12.850/2013:
§ 7º Realizado o acordo na forma do § 6º, o respectivo termo, acompanhado das declarações do
colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para homologação, o qual deverá verificar
sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o
colaborador, na presença de seu defensor.
Não há qualquer óbice à homologação do respectivo acordo mediante decisão monocrática.
O art. 21, I e II, do RISTF confere ao Ministro Relator no STF poderes instrutórios para ordenar, de forma
singular, a realização de quaisquer meios de obtenção de provas.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).
7) Em caso colaboração premiada envolvendo investigados ou réus com foro no Tribunal, qual é o papel
do órgão colegiado?
Compete ao órgão colegiado, em decisão final de mérito,avaliar o cumprimento dos termos do acordo
homologado e a sua eficácia, conforme previsto no art. 4º, § 11 da Lei nº 12.850/2013:
§ 11. A sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia.
Assim, é possível que o órgão julgador, no momento da sentença ou acórdão, ou seja, após a conclusão
da instrução probatória, avalie se os termos da colaboração foram cumpridos e se os resultados
concretos foram atingidos, o que definirá a sua eficácia.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).
8) Acordo de colaboração homologado pelo Relator deve, em regra, produzir seus efeitos, salvo se
presente hipótese de anulabilidade
O acordo de colaboração devidamente homologado individualmente pelo relator deve, em regra,
produzir seus efeitos diante do cumprimento dos deveres assumidos pelo colaborador.
Vale ressaltar, no entanto, que o órgão colegiado detém a possibilidade de analisar fatos supervenientes
ou de conhecimento posterior que firam a legalidade do acordo, nos termos do § 4º do art. 966do
CPC/2015:
§ 4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e
homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão
sujeitos à anulação, nos termos da lei.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).
Recurso contra a decisão do juiz que recusa a homologação do acordo: a lei não prevê. Diante desse
silêncio, a doutrina afirma que cabe, por analogia, recurso em sentido estrito (art. 581, I, do CPP). Nesse
sentido: Pacelli.
O acordo de colaboração premiada é um "negócio jurídico processual personalíssimo, que não pode ser
impugnado por terceiros, ainda que venham a ser mencionados." O que poderá atingir eventual corréu
delatado são as imputações posteriores, constantes do depoimento do colaborador. (Min. Dias Toffoli, no
HC 127483/PR).
12) Direitos do colaborador somente serão assegurados se ele cumprir seus deveres
O direito subjetivo do colaborador nasce e se perfectibiliza na exata medida em que ele cumpre seus
deveres.
Assim, o cumprimento dos deveres pelo colaborador é condição sine qua non para que ele possa gozar
dos direitos decorrentes do acordo.
Por isso diz-se que o acordo homologado como regular, voluntário e legal gera vinculaçãocondicionada
ao cumprimento dos deveres assumidos pela colaboração, salvo ilegalidade superveniente apta a
justificar nulidade ou anulação do negócio jurídico.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).
RETRATAÇÃO DA PROPOSTA
Mesmo após a proposta ter sido aceita, alguma das partes pode voltar atrás e se retratar?
SIM. Segundo o § 10 do art. 4º, as partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas
autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu
desfavor.
VALOR PROBATÓRIO DA COLABORAÇÃO: DECLARAÇÕES DO COLABORADOR DEVEM SER CORROBORADAS COM OUTRAS PROVAS
Segundo o § 16 do art. 4º da Lei, nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas
nas declarações de agente colaborador.
Assim, as declarações do colaborador deverão ser corroboradas por outros elementos de prova.
Em verdade, mesmo que não houvesse tal previsão, é certo que, para a jurisprudência, a simples delação
do corréu não é suficiente para uma condenação.
"Daí a importância daquilo que a doutrina chama de regra da corroboração, ou seja, que o colaborador
traga elementos de informação e de prova capazes de confirmar suas declarações (v.g., indicação do
produto do crime, de contas bancárias, localização do produto direto ou indireto da infração penal, auxílio
para identificação de números de telefone a serem grampeados ou na realização de interceptação
ambiental etc.)." (LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada. Salvador:
Juspodivm, 2015, p. 545).
DIREITO TRIBUTÁRIO
TAXAS
Base de cálculo da taxa municipal de fiscalização e funcionamento
As taxas municipais de fiscalização e funcionamento não podem ter como base de cálculo o
número de empregados ou ramo de atividade exercida pelo contribuinte.
STF. 2ª Turma. ARE 990914/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2017 (Info 870).
A taxa de fiscalização e funcionamento pode ter como base de cálculo a área de fiscalização, na
medida em que traduz o custo da atividade estatal de fiscalização.
STF. 1ª Turma. RE 856185 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 04/08/2015.
Características
Diz-se que a taxa é um tributo bilateral, contraprestacional, sinalagmático ou vinculado. Isso porque a taxa
é um tributo vinculado a uma atividade estatal específica, ou seja, a Administração só pode cobrar se, em
troca, estiver prestando um serviço público ou exercendo poder de polícia.
Há, portanto, obrigações de ambas as partes. O poder público tem a obrigação de prestar o serviço ou
exercer poder de polícia e o contribuinte a de pagar a taxa correspondente.
Previsão
A disciplina sobre as taxas está prevista no art. 145, II da CF/88 e no art. 77 do CTN.
Espécies de taxas
As taxas podem ter dois fatos geradores:
o exercício regular do poder de polícia; ou
a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou
posto à sua disposição (art. 77 do CTN).
Com base nisso, pode-se dizer que existem duas espécies de taxa:
taxa de polícia;
taxa de serviço.
Qual critério o legislador deve adotar para fixara base de cálculo das taxas?
Vimos acima que a taxa é um tributo contraprestacional. Logo, sua base de cálculo deve estar relacionada
com o custodo serviço ou do poder de polícia exercido.
Vale ressaltar, no entanto, que não é necessário que a base de cálculo seja exatamente igual ao custo do
serviço público prestado. A base de cálculo da taxa deve estar relacionada com o custo. Deve haver uma
“equivalência razoável entre o custo real dos serviços e o montante a que pode ser compelido o
contribuinte a pagar.” (Min. Moreira Alves, STF Rp 1077/RJ).
Assim, o que não pode ocorrer é o valor da base de cálculo ser muito superior ao custo do serviço, uma
vez que, nesse caso, haveria enriquecimento sem causa por parte do Estado ou até mesmo uma forma de
confisco (STFADI 2551).
Algumas vezes nas provas é cobrada a redação literal do art. 78, razão pela qual vale a pena a sua
transcrição aqui:
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em
razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina
da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou
autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos
individuais ou coletivos.
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo
órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se
de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.
Exemplos de realização do poder de polícia: licença concedida pelo Município para construir segundo
determinados critérios, licença para dirigir, licença para ter porte de arma, alvará de funcionamento de
indústria etc.
O legislador municipal, ao escolher o número de empregados ou o ramo de atividade como critérios para
fixar a base de cálculo, levou em consideração qualidades externas e estranhas ao exercício do poder de
polícia, sem pertinência quanto ao aspecto material da hipótese de incidência.
A taxa é tributo contraprestacional (vinculado), usado na remuneração de atividade específica, seja serviço
ou exercício do poder de polícia e, por isso, não pode fixar a base de cálculo usando como critério sinais
presuntivos de riqueza do contribuinte.
O valor das taxas deve estar relacionado com o custo do serviço que as motiva, ou com a atividade de
polícia desenvolvida.
E se a lei municipal previsse que a base de cálculo dessa taxa está relacionada com a área (tamanho) do
estabelecimento, este seria um critério legítimo? Ex: se a empresa tiver até 100m2, paga R$ 100; se tiver
até 200m2, paga R$ 200 e assim por diante? Neste caso, a lei seria constitucional?
SIM.
A taxa de fiscalização e funcionamento pode ter como base de cálculo a área de fiscalização, na medida
em que traduz o custo da atividade estatal de fiscalização.
Quando a Constituição se refere às taxas, o faz no sentido de que o tributo não incida sobre a prestação,
mas em razão da prestação de serviço pelo Estado. A área ocupada pelo estabelecimento comercial
revela-se apta a refletir o custo aproximado da atividade estatal de fiscalização.
STF. 1ª Turma. RE 856185 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 04/08/2015.
Resumindo:
a taxa de fiscalização e funcionamento é constitucional;
a base de cálculo pode ser a área ocupada pelo estabelecimento comercial;
a base de cálculo não pode ser o número de empregados ou ramo de atividade exercida pelo contribuinte.
EXERCÍCIOS
Gabarito
1. E 2. C 3. C 4. E 5. E 6. E 7. C 8. C 9. C 10. C
11. E 12. E 13. C 14. C 15. E
portanto, indisponível ao interesse das partes. Cuida-se de ato privativo da Presidência do STF, na qualidade
de órgão supervisor da distribuição, e, como tal, de mero expediente, a atrair a incidência do art. 504 do
Código de Processo Civil (CPC).
Quanto ao caso em tela, afirmou que, conforme relatório da decisão proferida na Pet 7.003/DF em 18.5.2017,
o colaborador, em seus termos de depoimento, relata, entre outros fatos, o sistema de conta-corrente que
teria como beneficiário ex-parlamentar. Este, por sua vez, atuaria em favor de grupo empresarial em
questões relativas a financiamentos da Caixa Econômica Federal (CEF), especialmente no âmbito do Fundo
de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS). O acordo de colaboração premiada
submetido à homologação do STF, por conter menção a autoridades detentoras de foro por prerrogativa,
demonstra evidente relação de conexidade com o objeto do Inq 4.266, deflagrado para apurar as condutas
supostamente delituosas praticadas pelo então deputado federal em detrimento do FI-FGTS, administrado
pela CEF.
Considerou, ainda, que, embora o aludido inquérito tenha sido baixado ao primeiro grau de jurisdição, pois
o investigado não mais ocupa o cargo que lhe garantia a prerrogativa de foro no STF, o art. 74, § 1º, do RISTF
estabelece que “o inquérito ou a ação penal, que retornar ao Tribunal por restabelecimento da competência
por prerrogativa de foro, será distribuído ao Relator original”. Em outras palavras, caso o investigado incorra
em qualquer das situações jurídicas previstas no art. 102, I, “b” e “c”, da Constituição Federal (CF), os autos
devem retornar ao ministro Edson Fachin, na qualidade de sucessor do ministro Teori Zavascki no que toca à
cadeia de prevenção estabelecida com a distribuição da Rcl 17.623/DF.
Por todas essas razões, o Plenário julgou não se verificar qualquer ilegalidade na distribuição por prevenção
do pedido de homologação do acordo de colaboração premiada em análise, diante da evidente existência de
fatos relatados conexos com investigações em curso sob a relatoria do ministro Edson Fachin.
Entendeu não se poder falar, ainda, em violação ao princípio do juiz natural no tocante às providências
adotadas na decisão proferida em 18.5.2017, relativamente às pessoas mencionadas nos depoimentos dos
colaboradores e desprovidas de foro por prerrogativa na Suprema Corte. Constatado o envolvimento de
alguma das autoridades elencadas no art. 102, I, “b” e “c”, da CF, cabe ao STF decidir, com exclusividade,
sobre a permanência da investigação ou da ação penal deflagrada em desfavor das demais pessoas não
submetidas à jurisdição criminal originária prevista no citado dispositivo constitucional, adotando-se, como
regra, o desmembramento, salvo nas hipóteses em que a cisão possa causar prejuízo relevante.
Desse modo, tendo em vista que os termos de depoimento prestados pelo colaborador fazem parte de um
mesmo acordo de colaboração premiada, os fatos dos quais não há notícia de participação de autoridade
detentora de foro por prerrogativa no STF, além daqueles em que não se observa qualquer relação de
conexidade com investigações ou ações penais em curso, devem ser encaminhados para tratamento
adequado perante a autoridade jurisdicional competente.
Na hipótese em concreto, tendo em conta que o agravante atualmente ocupa o cargo de governador do
Estado do Mato Grosso do Sul e que os fatos a ele relacionados não se afiguram conexos com quaisquer
investigações ou ações penais em curso no STF, o relator autorizou o procurador-geral da República a utilizar
os respectivos termos de depoimento perante o Superior Tribunal de Justiça, órgão do Poder Judiciário
competente, nos termos do art. 105, I, “a”, da CF, para o adequado tratamento dos fatos em observância às
garantias constitucionais aplicáveis.
Por fim, concluiu não haver qualquer mácula no procedimento adotado na Pet 7.003/DF, seja na sua
distribuição por prevenção, seja nas providências deferidas na decisão de 18.5.2017.
Pet 7074 QO/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 21, 22, 28 e 29.6.2017. (Pet-7074)
Pet 7074/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 21, 22, 28 e 29.6.2017. (Pet-7074)
De acordo com a decisão agravada, senador da república, com o auxílio de sua irmã, de seu primo e de
assessor de outro senador, supostamente recebeu dinheiro espúrio. Segundo a deliberação, há indicativos
da prática de lavagem dos valores e estabilidade na associação dos investigados para a realização de
atividades delituosas múltiplas.
Prevaleceu o voto do ministro Luiz Fux, que deu provimento ao agravo para substituir a prisão preventiva
dos agravantes por prisão domiciliar. O ministro também determinou que se proibisse o contato dos
investigados entre si, que se exigisse a entrega dos seus passaportes e se monitorassem eletronicamente
todos eles.
Ainda segundo o ministro, é possível que a atuação livre dos partícipes possa influir na instrução probatória
futura. Porém, isso não foi objeto da decretação de prisão.
Verificou, além disso, não haver elementos caracterizadores da destruição das provas no tocante ao delito
de corrupção e ressaltou existirem indícios para julgar a ação penal quanto a esse delito. Afirmou que os
crimes conexos são julgados simultaneamente, mas não há ainda denúncia oferecida. Concluiu que as
medidas propostas são explícitas no sentido de inibir toda e qualquer forma de intromissão na produção da
prova dos demais delitos.
Vencido o ministro Marco Aurélio (relator), que deu provimento aos agravos para que houvesse a imediata
expedição de alvará de soltura em favor dos agravantes. Além disso, seria impróprio considerar a gravidade
concreta da imputação. Não existe a segregação automática tendo em conta o delito eventualmente
cometido, levando à inversão da ordem do processo-crime, que direciona, presente o princípio da não
culpabilidade, a apurar para, selada a culpa, prender. Em relação à reiteração delitiva e ao embaralhamento
da investigação, é necessário haver dados concretos e individualizados, a demonstrar a indispensabilidade
da custódia para a decretação da prisão preventiva.
Vencidos, também, os ministros Roberto Barroso e Rosa Weber, que negaram provimento aos agravos. Para
eles, a decisão em que se decretou a prisão preventiva dos agravantes está devidamente fundamentada.
Reputaram não haver dúvidas quanto à autoria e à materialidade. Por fim, esclareceram que a decisão agravada
demonstrou a habitualidade delituosa dos agravantes e a possibilidade de virem a embaralhar a justiça.
AC 4327 AgR/DF-segundo, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgamento em 20.6.2017.
AC 4327 AgR/DF-quarto, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgamento em 20.6.2017.
AC 4327 AgR/DF-sexto, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgamento em 20.6.2017.
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L
DJe de 19 a 30 de junho de 2017
conclusão pressupõe a análise de legislação infraconstitucional atinente à legitimidade e ao interesse em agir, bem como uma releitura do art. 103
da Lei nº 8.213/1991, o que revela o caráter infraconstitucional da discussão. 3. Afirmação da seguinte tese: não tem repercussão geral a
controvérsia relativa à definição do termo inicial do prazo decadencial para a revisão de benefício de pensão por morte derivado de outro benefício
previdenciário. 4. Recurso não conhecido.
Decisões Publicadas: 3
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais aprofundada
do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham despertado ou possam
despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
HC 145.445-MC/DF*
3. Na gestão judiciária, deve prevalecer o interesse público na perspectiva da efetividade da prestação jurisdicional em
detrimento do interesse privado do magistrado ou da gestão de entidades associativas.
4. Procedimento de controle administrativo julgado improcedente.” (grifei)
Busca-se, na presente sede processual, “(...) seja concedida a ordem de ‘habeas corpus’, sustando-se definitivamente o constrangimento ilegal
sofrido pelo Paciente oriundo da decisão ora questionada, de modo a que seja autorizado, sempre que necessário, seu afastamento das funções
jurisdicionais perante a 12ª Vara do Trabalho de Recife – PE, em prol do exercício pleno da presidência da ALJT até o final de seu mandato (novembro
de 2018)” (grifei).
Sendo esse o contexto, passo a apreciar questão pertinente à admissibilidade, na espécie, deste “writ” constitucional.
Tenho para mim que se revela processualmente inviável a presente impetração, por tratar-se de matéria insuscetível de exame em sede de
“habeas corpus”, notadamente porque o pretendido afastamento remunerado do paciente das suas funções jurisdicionais não se confunde com o
exercício do direito de ir e vir, cuja proteção é ora pleiteada nesta sede mandamental.
Como se sabe, a ação de “habeas corpus” destina-se, unicamente, a amparar a imediata liberdade de locomoção física das pessoas, revelando-
se estranha à sua específica finalidade jurídico-constitucional qualquer pretensão que vise a desconstituir atos que não se mostrem ofensivos, ainda que
potencialmente, ao direito de ir, de vir e de permanecer das pessoas.
É por tal razão que o Supremo Tribunal Federal, atento à destinação constitucional do “habeas corpus”, não tem conhecido do remédio heroico,
quando utilizado, como no caso, em situações de que não resulte qualquer possibilidade de ofensa ao “jus manendi, ambulandi, eundi ultro citroque”
(RTJ 116/523 – RTJ 141/159, v.g.), mesmo porque a deliberação ora impugnada restringiu-se à denegação “de pedido de afastamento remunerado”,
matéria que, por evidente, não envolve qualquer cerceamento ao direito de ir, de vir ou de permanecer do magistrado interessado.
Na realidade, eventual lesão ao pretendido afastamento remunerado, caso este pudesse ser considerado como direito líquido e certo de
qualquer magistrado (LC nº 35/79, art. 73, III), seria reparável, ao menos em tese, mediante utilização de mandado de segurança, constitucionalmente
vocacionado “a proteger direito líquido e certo, não amparado por ‘habeas corpus’ ou ‘habeas data’” (CF, art. 5º, inciso LXIX).
Como enfatizado, a recusa, por instâncias administrativas do Poder Judiciário, do direito vindicado pelo paciente motivou a impetração da
presente ordem de “habeas corpus”, deduzida com o objetivo de viabilizar a obtenção, por referido magistrado, do afastamento remunerado de suas
atividades jurisdicionais no Brasil, cuja autorização – segundo ora sustentado – fundamentar-se-ia no art. 73, inciso III, da Lei Orgânica da Magistratura
Nacional.
Esse, portanto, é o direito-fim (afastamento funcional remunerado) visado pelo ora paciente, cuja liberdade de locomoção física – insista-se
– não se acha coarctada, nem mesmo remotamente, pelo simples fato de o magistrado em questão poder locomover-se, com absoluta liberdade, no
País ou fora dele!
A única concessão que tem sido feita pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que considera idôneo, para tanto, o remédio
constitucional do “habeas corpus”, reside nas hipóteses em que o paciente esteja a sofrer injusto constrangimento de ordem processual no curso de
persecução criminal (HC 94.016/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), caso em que esse “writ” constitucional terá inteira pertinência para
preservar os direitos do investigado, do indiciado, do réu e/ou do sentenciado no contexto de procedimentos penais-persecutórios contra ele instaurados,
situação, por óbvio, de todo inocorrente, na espécie, em relação ao ora paciente.
Cabe acentuar, por relevante, tal como advertiu o eminente Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, que, na situação que venho de referir, “Não
se trata (…) de fazer reviver a ‘doutrina brasileira do ‘habeas corpus’’, mas, sim, de dar efetividade máxima ao remédio constitucional contra a
ameaça ou a coação da liberdade de ir e vir, que não se alcançaria, se limitada a sua admissibilidade às hipóteses da prisão consumada ou iminente”
(HC 82.354/PR, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – grifei), eis que a admissibilidade desse “writ” constitucional mostrar-se-á viável, sempre,
não obstante meramente potencial a ofensa ao direito de ir, vir ou permanecer do paciente, naqueles casos em que contra ele for instaurada a pertinente
“persecutio criminis”:
“I. ‘Habeas corpus’: admissibilidade: decisão judicial que, no curso do inquérito policial, autoriza quebra de sigilo bancário.
Se se trata de processo penal ou mesmo de inquérito policial, a jurisprudência do STF admite o ‘habeas corpus’, dado que de um ou
outro possa advir condenação a pena privativa de liberdade, ainda que não iminente, cuja aplicação poderia vir a ser viciada pela ilegalidade
contra o qual se volta a impetração da ordem.
Nessa linha, não é de recusar a idoneidade do ‘habeas corpus’, seja contra o indeferimento de prova de interesse do réu ou indiciado,
seja, o deferimento de prova ilícita ou o deferimento inválido de prova lícita: nessa última hipótese, enquadra-se o pedido de ‘habeas corpus’
contra a decisão – alegadamente não fundamentada ou carente de justa causa – que autoriza a quebra do sigilo bancário do paciente (…).”
(HC 79.191/SP, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – grifei)
A ação de “habeas corpus”, portanto, enquanto remédio jurídico-constitucional revestido de finalidade específica, não pode ser utilizada como
sucedâneo de outras ações judiciais, notadamente naquelas hipóteses em que o direito-fim (ou direito-escopo, na expressão feliz de PEDRO LESSA) não se
identifica – tal como neste caso ocorre (em que se impugna a denegação de afastamento funcional remunerado) – com a própria liberdade de locomoção
física.
É que entendimento diverso conduziria, necessariamente, à descaracterização desse instrumento tutelar da liberdade de locomoção. Não se
pode desconhecer que, com a cessação da doutrina brasileira do “habeas corpus”, motivada pela Reforma Constitucional de 1926, restaurou-se, em
nosso sistema jurídico, a função clássica desse remédio heroico. Por tal razão, não se revela suscetível de conhecimento a ação de “habeas corpus”,
quando promovida contra ato (ou omissão) estatal de que não resulte, de modo imediato, ofensa, atual ou iminente, à liberdade de locomoção física
(RTJ 135/593 – RTJ 136/1226 – RTJ 142/896 – RTJ 152/140 – RTJ 178/1231 – RTJ 180/962 – RTJ 197/587-588, v.g.):
“A função clássica do ‘habeas corpus’ restringe-se à estreita tutela da imediata liberdade de locomoção física das pessoas.
– A ação de ‘habeas corpus’ – desde que inexistente qualquer situação de dano efetivo ou de risco potencial ao ‘jus manendi,
ambulandi, eundi ultro citroque’ – não se revela cabível, mesmo quando ajuizada para discutir eventual nulidade do processo penal
em que proferida decisão condenatória definitivamente executada.
Esse entendimento decorre da circunstância histórica de a Reforma Constitucional de 1926 – que importou na cessação da
doutrina brasileira do ‘habeas corpus’ – haver restaurado a função clássica desse extraordinário remédio processual, destinando-o,
quanto à sua finalidade, à específica tutela jurisdicional da imediata liberdade de locomoção física das pessoas. Precedentes.”
(RTJ 186/261-262, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Cabe fazer aqui um pequeno registro histórico concernente ao tratamento jurisprudencial que esta Suprema Corte conferiu ao remédio do
“habeas corpus” ao longo de nossa primeira Constituição republicana.
Foi no Supremo Tribunal Federal que se iniciou, sob a égide da Constituição republicana de 1891, o processo de construção jurisprudencial
da doutrina brasileira do “habeas corpus”, que teve, nesta Corte, como seus principais formuladores, os eminentes Ministros PEDRO LESSA e
ENÉAS GALVÃO.
A origem dessa formulação doutrinária reside, como sabemos, nos julgamentos que, proferidos no célebre “Caso do Conselho Municipal do
Distrito Federal”, ampliaram, de modo significativo, o âmbito de incidência protetiva do remédio constitucional do “habeas corpus”.
Refiro-me aos julgamentos plenários que esta Suprema Corte proferiu em 08/12/1909 (RHC 2.793/DF, Rel. Min. CANUTO SARAIVA), em
11/12/1909 (HC 2.794/DF, Rel. Min. GODOFREDO CUNHA) e em 15/12/1909 (HC 2.797/DF, Rel. Min. OLIVEIRA RIBEIRO, e RHC 2.799/DF,
Rel. Min. AMARO CAVALCANTI), além daquele que resultou na concessão, em 25/01/1911, do HC 2.990/DF, Rel. Min. PEDRO LESSA.
As decisões proferidas em mencionados julgamentos revestem-se de aspecto seminal no que concerne ao próprio “corpus” doutrinário que se
elaborou, naquele particular momento histórico, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, no contexto da teoria brasileira do “habeas corpus”,
cuja incidência permitia, como já assinalado, o amparo jurisdicional de outros direitos, que não apenas o direito de ir, vir e permanecer, desde que
aqueles outros direitos guardassem relação de dependência com a liberdade de locomoção física do indivíduo ou tivessem por fundamento ou
pressuposto a prática dessa mesma liberdade, tal como claramente expôs, em clássica monografia (“Do Poder Judiciário”, p. 285/287, § 61, 1915,
Francisco Alves), o eminente Ministro PEDRO LESSA:
“Algumas vezes, entretanto, a ilegalidade de que se queixa o paciente não importa a completa privação da liberdade individual. Limita-
se, a coação ilegal a ser vedada, unicamente à liberdade individual, ‘quando esta tem por fim próximo o exercício de um determinado direito’.
Não está o paciente preso, nem detido, nem exilado, nem ameaçado de imediatamente o ser. Apenas o impedem de ir, por exemplo, a uma
praça pública, onde se deve realizar uma reunião com intuitos políticos; a uma casa comercial, ou a uma fábrica, na qual é empregado; a uma
repartição pública, onde tem de desempenhar uma função, ou promover um interesse; à casa em que reside, ao seu domicílio.
.......................................................................................................
Pouco importa a espécie de direitos que o paciente precisa ou deseja exercer. Seja-lhe necessária a liberdade de locomoção para pôr
em prática um direito de ordem civil, ou de ordem comercial, ou de ordem constitucional, ou de ordem administrativa, deve ser-lhe concedido
o ‘habeas-corpus’, sob a cláusula exclusiva de ser juridicamente indiscutível este último direito, o direito escopo. Para recolher à casa paterna
o impúbere transviado, para fazer um contrato ou um testamento, para receber um laudêmio, ou para constituir uma hipoteca; para exercitar
a indústria de transporte, ou para protestar uma letra; para ir votar, ou para desempenhar uma função política eletiva; para avaliar um prédio
e coletá-lo, ou para proceder ao expurgo higiênico de qualquer habitação; se é necessário garantir a um indivíduo a liberdade de locomoção,
porque uma ofensa, ou uma ameaça, a essa liberdade foi embaraço a que exercesse qualquer desses direitos, não lhe pode ser negado ‘habeas-
corpus’. (...).” (grifei)
Como salientado, a jurisprudência que se consolidou no Supremo Tribunal Federal ao longo da Constituição de 1891 até a Reforma de 1926
contemplava a possibilidade de utilização do remédio constitucional do “habeas corpus” mesmo naqueles casos em que a liberdade de ir, vir e
permanecer pudesse ser afetada de modo reflexo por atos estatais supostamente abusivos ou ilegais (Revista Forense 34/505 – RF 36/192 – RF
38/213 – RF 45/183, v.g.):
“O ‘habeas-corpus’ é remédio legal para garantir a cidadão membro do poder legislativo municipal o livre exercício dos seus cargos
políticos.”
(RF 22/306, Rel. Min. MANOEL MURTINHO – grifei)
Vale mencionar, neste ponto, como registro histórico, que o Ministro ENÉAS GALVÃO, tal como relembrado por LÊDA BOECHAT
RODRIGUES (“História do Supremo Tribunal Federal”, vol. III/33-35, 1991, Civilização Brasileira), aprofundou, ainda mais, a discussão em torno
do alcance do “habeas corpus”, sustentando – para além do que preconizava PEDRO LESSA – que esse remédio constitucional deveria ter campo de incidência
muito mais abrangente, em ordem a proteger outros direitos, mesmo que estes não tivessem por fundamento o exercício da liberdade de locomoção física,
tal como o evidencia decisão emanada desta Corte Suprema consubstanciada em acórdão assim ementado:
“O ‘habeas-corpus’, conforme o preceito constitucional, não se restringe a garantir a liberdade individual, contra a prisão ou ameaça
de prisão ilegais, ampara, também, outros direitos individuais contra o abuso ou violência da autoridade.
Em casos semelhantes ao atual, o Tribunal tem concedido o ‘habeas-corpus’ para garantir a posse e exercício de Vereador eleito,
impedido pela autoridade de exercitar o cargo (...).”
(HC 3.983/MG, Rel. Min. CANUTO SARAIVA – grifei)
É importante relembrar, ainda, a decisiva participação de RUI BARBOSA nesse processo de construção hermenêutica que resultou na
elaboração da doutrina brasileira do “habeas corpus”.
O grande Advogado e jurisconsulto baiano, em discurso parlamentar proferido no Senado da República, na sessão de 22/01/1915 (“Obras
Completas de Rui Barbosa”, vol. XLII (1915), tomo II/89-161, 1981, MEC/Fundação Casa de Rui Barbosa), procedeu, de maneira bastante eloquente,
em seu último pronunciamento a propósito da intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro, a uma ampla análise do que significou, para o País e
para o regime das liberdades constitucionais, a formulação, pelo Supremo Tribunal Federal, da doutrina brasileira do “habeas corpus”.
Vale insistir, no entanto, considerada a cessação da doutrina brasileira do “habeas corpus”, cuja formulação jurisprudencial resultou de
uma brilhante construção realizada pelo Supremo Tribunal Federal, que o “habeas corpus”, em sua condição de instrumento de ativação da jurisdição
constitucional das liberdades, configura um poderoso meio de cessação do injusto constrangimento ao estado de liberdade de locomoção física das
pessoas. Se essa liberdade não se expõe a qualquer tipo de cerceamento, e se o direito de ir, vir ou permanecer sequer se revela ameaçado, nada
justifica o emprego do remédio heroico do “habeas corpus”, por não estar em causa a liberdade de locomoção física:
“CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. ‘HABEAS CORPUS’: CABIMENTO. C.F., art. 5º, LXVIII.
I. – O ‘habeas corpus’ visa a proteger a liberdade de locomoção – liberdade de ir, vir e ficar – por ilegalidade ou abuso de
poder, não podendo ser utilizado para proteção de direitos outros. C.F., art. 5º, LXVIII.
II. – ‘H.C.’ indeferido, liminarmente. Agravo não provido.”
(HC 82.880-AgR/SP, Rel. Min. CARLOS VELLOSO, Pleno – grifei)
Impende reafirmar, desse modo, que esse remédio constitucional, considerada a sua específica destinação tutelar, tem por finalidade
amparar, em sede jurisdicional, “única e diretamente, a liberdade de locomoção. Ele se destina à estreita tutela da imediata liberdade física de ir e vir
dos indivíduos (...)” (RTJ 66/396 – RTJ 177/1206-1207 – RTJ 197/587-588 – RT 338/99 – RT 423/327 – RF 213/390 – RF 222/336 – RF 230/280, v.g.).
Não foi por outro motivo que o Supremo Tribunal Federal, em situações nas quais se controvertia em torno do afastamento de cargo público,
reputou inadmissível a utilização do remédio constitucional do “habeas corpus”, considerando, para tanto, a distinção, a que anteriormente me
referi, entre direito-meio e direito-fim (HC 76.605/SP, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – HC 99.829/RJ, Rel. Min. GILMAR MENDES – HC
107.423-AgR/TO, Rel. Min. ROBERTO BARROSO – HC 110.537- -AgR/DF, Rel. Min. ROBERTO BARROSO – HC 125.958-AgR/SC, Rel. Min.
CELSO DE MELLO – HC 138.540-MC/AP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.):
“I. – O afastamento do paciente do cargo de Prefeito Municipal não autoriza a impetração de ‘habeas corpus’, porquanto não põe em
risco a sua liberdade de locomoção. É que o ‘habeas corpus’ visa a proteger a liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder, não
podendo ser utilizado para proteção de direitos outros.
II. – ‘H.C.’ não conhecido.”
(HC 84.816/PI, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – grifei)
“1. O ‘habeas corpus’ deve ser utilizado ‘sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder’ (art. 5º, LXVIII, da CF/88). 2. Não cabe ‘habeas corpus’ para questionar decisão
de Tribunal de Justiça que determina o afastamento cautelar do paciente do exercício de função pública. Precedentes. (…).”
(HC 119.214/RJ, Red. p/ o acórdão Min. ROBERTO BARROSO – grifei)
Finalmente, torna-se insuscetível de invocação o princípio da fungibilidade das formas processuais, com a finalidade de obter-se a convolação
da presente ação de “habeas corpus” em ação de mandado de segurança.
É que este “habeas corpus”, embora inadequado quanto à sua utilização, foi impetrado, em nome próprio, como o permite o ordenamento
positivo, pelos ilustres Advogados do magistrado em questão, que nele figura como paciente, em razão de o remédio constitucional do “habeas
corpus” – por qualificar-se como típica ação penal popular (RT 718/518 – RTJ 164/193, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.) – ser ajuizável “por
qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem (…)” (CPP, art. 654, “caput” – grifei).
O mandado de segurança, por sua vez, ao contrário do que sucede com a ação de “habeas corpus”, não admite, em regra, a substituição
processual, ressalvada a hipótese – inocorrente na espécie – prevista no art. 3º da Lei nº 12.016/2009, de todo inaplicável ao caso ora em exame.
Cumpre assinalar que o entendimento que venho de expor encontra apoio em autorizado magistério doutrinário (HELY LOPES MEIRELLES,
ARNOLDO WALD e GILMAR FERREIRA MENDES, “Mandado de Segurança e Ações Constitucionais”, p. 36, item n. 4, 35ª ed., 2013, Malheiros;
HUMBERTO THEODORO JUNIOR, “Curso de Direito Processual Civil”, vol. I/267-269, item n. 185, 56ª ed., 2015, Forense; CÂNDIDO RANGEL
DINAMARCO, “Instituições de Direito Processual Civil”, volume II/120-121, item n. 440, 6ª ed., 2009, Malheiros; VICENTE GRECO FILHO,
“Direito Processual Civil Brasileiro”, vol. I/78, item n. 14, 17ª ed., 2003, Saraiva, v.g.), cujas lições fazem incidir, em situações como a dos autos,
a norma restritiva fundada no art. 18, “caput”, do novo CPC, de conteúdo essencialmente idêntico ao do art. 6º do ora revogado CPC/73.
Impende registrar, ainda, que essa orientação – impossibilidade da legitimação anômala ou extraordinária, por substituição processual, fora
das hipóteses previstas em lei – tem o beneplácito da jurisprudência que o Supremo Tribunal Federal firmou na matéria ora em análise (RTJ 130/108,
Rel. Min. CÉLIO BORJA – MS 22.444/SP, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA – MS 34.102-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.):
“Mandado de segurança. Legitimidade ativa.
O mandado de segurança pressupõe a existência de direito próprio do impetrante. Somente pode socorrer-se dessa especialíssima ação
o titular do direito, lesado ou ameaçado de lesão, por ato ou omissão de autoridade. A ninguém é dado pleitear, em nome próprio, direito
alheio, salvo quando autorizado por lei (art. 6º do CPC).
Não obstante a gravidade das alegações, evidente é a ilegitimidade do postulante e a falta de interesse processual.
Pedido não conhecido.”
(RTJ 110/1026, Rel. Min. DJACI FALCÃO – grifei)
“Mandado de Segurança. Direito subjetivo. Interesse.
Descabe o mandado de segurança quando o impetrante não tem em vista a defesa de direito subjetivo, mas a de mero interesse reflexo
de normas objetivas. Precedentes e doutrina. (…).”
(RTJ 120/328, Rel. Min. FRANCISCO REZEK – grifei)
“Mandado de segurança. Legitimidade ativa: inexistência.
O mandado de segurança é medida judicial que só pode ser utilizada para defesa de direito próprio e direito do impetrante, e não para
defender direito potencial, e que apenas poderia eventualmente surgir se afastado aquele a quem o ato apontado como ilegal iria atingir. (…).”
(RTJ 120/816, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO – grifei)
“Mandado de Segurança. Não cabe se o ato contra o qual é impetrado não fere direito líquido e certo do impetrante. A ninguém é
dado pleitear em nome próprio direito alheio, salvo quando autorizado por Lei (CPC, art. 6º).
Impetração não conhecida.”
(RTJ 128/1138, Rel. Min. CARLOS MADEIRA – grifei)
“Mandado de segurança requerido pelo Impetrante, na qualidade de cidadão brasileiro, contra ato de Comissão da Câmara dos
Deputados, tendente a possibilitar a adoção da pena de morte, mediante consulta plebiscitária.
Falta de legitimidade ativa do Requerente, por falta de ameaça concreta a direito individual, particularizado em sua pessoa.”
(RTJ 139/783, Rel. Min. OCTAVIO GALLOTTI – grifei)
“– O autor da ação de mandado de segurança individual não pode pleitear, em nome próprio, a tutela jurisdicional de direito público
subjetivo alheio, salvo quando autorizado por lei (CPC, art. 6º). O impetrante do mandado de segurança individual, por não dispor de
legitimação extraordinária para agir, não pode invocar a proteção jurisdicional do Estado em favor da generalidade dos participantes de um
determinado concurso público.”
(RTJ 179/210-211, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
“MANDADO DE SEGURANÇA (…) – AJUIZAMENTO, EM NOME PRÓPRIO, DE AÇÃO MANDAMENTAL OBJETIVANDO A
PROTEÇÃO DE DIREITO ALHEIO (…) – INADMISSIBILIDADE – CARÁTER EXCEPCIONAL DA LEGITIMAÇÃO ATIVA
EXTRAORDINÁRIA OU ANÔMALA (CPC, ART. 6º) – INOCORRÊNCIA, NO CASO, DA HIPÓTESE EXCEPCIONAL A QUE SE REFERE
O ART. 3º DA LEI Nº 12.016/2009 – PRECEDENTES – DOUTRINA (…) – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.”
(MS 33.844-MC-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)
Essa, pois, a razão da impossibilidade de conversão, na espécie, do “habeas corpus” em mandado de segurança.
Sendo assim, e pelas razões expostas, não conheço da presente ação de “habeas corpus”, restando prejudicado, em consequência, o exame
do pedido de medida liminar.
Arquivem-se estes autos.
Publique-se.
Brasília, 30 de junho de 2017.
Ministro CELSO DE MELLO
Relator
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19 A 30 DE JUNHO DE 2017
Decreto de 22.6.2017 - Altera o Decreto de 2 de julho de 2008, que cria o Comitê de Desenvolvimento
do Programa Nuclear Brasileiro. Publicado no DOU em 23.6.2017, Seção 1, Edição nº 119, p.2
Decreto nº 9.082, de 26.6.2017 - Institui o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima. Publicado no DOU
em 27.6.2017, Seção 1, Edição nº 121, p.5