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HERMENÊUTICA

INTRODUÇÃO À EXEGESE BÍBLI CA

E X EG E S E E H E RM E N ÊU T I C A B Í B L I C A

“... Apressa e esforça-te a ti mesmo para se apresentar a Deus aprovado como trabalhador sem qualquer
motivo de vergonha ou desonra e que manuseia corretamente (corta reto) a Palavra da verdade... II Tm 2.5”
(Tradução dinâmica do professor).

“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes
últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez
também o mundo, sendo ele o resplendor da sua glória e a expressa imagem do seu Ser, e sustentando
todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo ele mesmo feito à purificação dos pecados, assentou-se
à direita da Majestade nas alturas, feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente
nome do que eles. Hb 1.1-4” (ARA).

NOSSO DEUS É UM SER QUE SE COMUNICA E TEM TOTAL INTERESSE QUE O COMPREENDAMOS
PARA O NOSSO PRÓPRIO BEM PORQUE ELE NOS AMA PROFUNDAMENTE E SABE A FALTA QUE
ELE FAZ PARA NÓS – Nisto deve se resumir o nível de interesse de todo exegeta ou estudioso da Palavra
de Deus.

Professor: Julio Cezar Brasileiro

(27) 8845 0230

(27) 3182 7030

julio.brasileiro@loginlogistica.com.br

Igreja Batista Vida e Paz – Vila Velha

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1 O b jet iv os da D isc ip lin a

Instruir e capacitar os alunos na execução prática da exegese e hermenêutica bíblica:

Despertando nos alunos um interesse sincero e profundo no estudo sério e piedoso das Escrituras cristãs;

Transmitindo-lhes uma gama variada e substancial de conhecimentos teóricos e práticos para o trabalho de
análise consistente e bem embasada dos textos bíblicos;

Capacitando-os na utilização de ferramentas e recursos de pesquisa para o aprofundamento na fé, no


conhecimento e serviço da Palavra de Deus;

Ajudando-os a se tornarem obreiros aprovados por Deus, que não têm do que se envergonhar e que
manejam bem a Espada do Espírito, a Palavra de Deus.

Pré-requisitos da Disciplina

Desejável conhecimento de grego bíblico (koinê);

Desejável conhecimento do hebraico bíblico;

Noção geral dos conceitos de bibliologia;

Conhecimentos gerais da literatura bíblica;

Noção geral de método de pesquisa científica;

2 B ib li o g r af ia Ad o t a d a

FEE, Gordon D. & Douglas Stuart, Entendes o que lês?, 1997, Ed. Vida Nova, 2ª edição;**

VIRKLER, Henry A., Hermenêutica Avançada, 1998. Ed. Vida, 2ª edição;**

th
FEE, Gordon D., New Testament Exegesis, 1993, united Bibles Societies, 4 revised edition;

BOST, Brian Jay & Álvaro Pestana, Do texto à paráfrase, 1992, Ed. Vida Cristã;

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th
ALAND, Kurt and others, The Greek New Testament, 1993, United Bibles Societies, 4 revised edition;

VIERTEL, Weldom E., A interpretação da Bíblia, 1979, JUERP, 2ª edição;

HÖRSTER, Gerhard, Introdução e Síntese do Novo Testamento, 1993, Editora Evangélica Esperança;**

LUND, E & P.C. Nelson, Hermenêutica, 2001, Ed. Vida;

STOTT, John R. W., A mensagem de Atos, 1994, ABU Editora S/C, 1ª edição;

GINGRICH, F. Wilbur & Frederick W. Danker, Léxico do Novo Testamento, 1993, Edições Vida Nova, 1ª
edição;

** Os itens com asterisco da bibliografia indicada acima são os principais “guide-lines” utilizados para o
desenvolvimento das atividades do curso de exegese.

3 I n t r od u çã o G e r a l

O estudo sistemático da exegese bíblica representa uma etapa importante na preparação e aprendizado do
obreiro cristão em que o foco será a técnica da “ciência – arte” da interpretação de textos.

Podemos encontrar cristãos fiéis que digam que a Bíblia não deve se tornar objeto de estudo aprofundado,
porém um guia prático de vida para todo homem que deseja se acertar com seu Criador.

Em parte esta idéia não está de fato errada, pois como poderemos perceber se observarmos sinceramente
em nossas próprias vidas, um dos grandes problemas da cristandade não está exatamente na dificuldade de
compreender a vontade e a direção de Deus, mas em cumpri-la. Normalmente já sabemos muito a respeito
dos ensinamentos da Bíblia e a obediência prática é, de longe, o maior obstáculo.

Por outro lado, aprouve Deus agir em nosso favor, enquanto raça rebelde e distanciada da fonte única de
vida a partir da entrada do pecado na história da humanidade, fazendo-se conhecido revelando-se a nós
através dos seus servos e por último e completamente por meio de Seu Filho Amado.

E, para garantir que, ao longo dos séculos que se seguiriam à revelação deste maravilhoso Deus, a Sua
Palavra não fosse corrompida pelos processos de transmissão oral de conhecimento por meio das tradições,
Ele inspirou homens a registrar de forma escrita este conhecimento que chegou até nós e seremos
estúpidos se não buscarmos tal conhecimento.

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Mas à medida que nos distanciamos cultural e cronologicamente dos fatos relatados na Palavra, sua forma
de expressão, os eventos históricos, as realidades políticas, geográficas e climáticas, mais difícil se torna
para o leitor compreender com clareza determinados pontos que são apresentados. Daí surge à
necessidade da “interpretação” e da análise investigativa dos textos (a necessidade de interpretação é ponto
separado de estudo e debate).

O termo exegese é oriundo da palavra “exegeomai” que significa literalmente “conduzir de dentro para fora”
e o termo hermenêutica também é grego e significa “interpretação”. Daí surge à brincadeira de mau gosto de
alguns estudiosos afirmando que quando alguém imputa preconceituosamente suas idéias em textos
bíblicos a prática que está sendo realizada é a “eisegese” (conduzir de fora para dentro).

O mundo acadêmico e teológico atual não possui consenso muito fechado entre o uso das terminologias
utilizadas para a identificação das etapas de “Exegese” e “Hermenêutica” sendo que alguns eruditos as
fundem em um único significado e outros as identificam distintamente como matérias separadas e tratadas
em foros também distintos.

Neste curso, manteremos a distinção entre as disciplinas destacando que o termo “Exegese” se refere às
atividades e metodologias utilizadas para a investigação histórica e literária para a determinação o mais
exata possível do estrito significado do texto bíblico. Exegese basicamente responde ou busca resposta para
a seguinte questão: O que o autor ou escritor bíblico disse (contexto básico)? Porque ele disse isto em um
dado momento ou ponto do desenvolvimento de suas idéias ou explanações (contexto literário)? (FEE,
Gordon).

Entendemos (e trabalharemos este curso com esta premissa) de que a tarefa “Hermenêutica” se refere ao
trabalho realizado para a contextualização das mensagens e princípios bíblicos identificados para a era
contemporânea dos ouvintes e leitores de seu trabalho no sentido mais estritamente prático possível. De
forma simplificada diremos que através da “tarefa exegética” o estudante da Palavra descobre o que o
escritor bíblico escreveu em detalhes para uma platéia ou público alvo específico e através da hermenêutica
os princípio e conceitos bíblicos são aplicados na vida de seus ouvintes contemporâneos. Esta distinção é
importante porque a exegese como ciência é bem mais “exata” que a hermenêutica, pois esta última
encontra-se extremamente carregada do estilo, da cultura e do cenário do pregador contemporâneo e seus
ouvintes.

De certa forma a tarefa exegética é à base de pesquisa histórico – literária que resgata a mensagem
transmitida pelo autor diretamente ao seu público alvo identificando com isto as particularidades históricas e
a relevância eterna no texto em questão. A partir deste ponto a tarefa hermenêutica se utiliza o

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conhecimento identificado e sistematizado pela anterior (exegese) e a aplica em um contexto totalmente


distinto respeitando esta transição histórica. Esta é a base conceitual do método de interpretação histórico –
crítico.

Segundo Gordon Fee, “a chave para a boa exegese está na habilidade de elaborar perguntas corretas ao
texto com a finalidade de se obter a compreensão da intencionalidade do autor. Boas questões exegéticas
classificam-se em duas categorias básicas: questões de assunto (o que ele disse) e questões de contexto
1
(porquê ele disse)” (itálico meu).

Exegese Hermenêutica
------------------------------------>
(eventos do séc. I registrados) (Igreja do séc. XXI)
_ Quem falou?
_ Para quem falou? Este é o trabalho completo do Como a informação correta do
_ O quê aconteceu? intérprete fiel das sagradas século I afeta a Igreja
_ Quando? escrituras contemporânea com respeito
_ Como? ao seu comportamento e
_ Porquê? interpretação da vontade de
_ Com qual intenção? Deus para ela?
_ Etc, etc, etc?

4 P a la vr a d e D e u s a c es s í ve l

Como tem sido dito e afirmamos também neste curso, temos a certeza de que a Bíblia não é um livro
obscuro, distante, confuso e aberto apenas para alguns iluminados do planeta Terra (idéia defendida pelos
gnósticos e pelos cléricos católicos na era das trevas da Igreja), pois do próprio Deus partiu a iniciativa de
Se auto revelar.

Porém este tipo de mentalidade ainda afeta a forma como muitos dos cristãos da atualidade (inclusive
obreiros preparados) achegam-se à Palavra levando-os a uma atitude bloqueada ou mística na busca do
entendimento das coisas do Senhor através das páginas das Escrituras Sagradas.

1 th
FEE, Gordon D., New Testament exegesis, 1993, United Bibles Societies, 4 revised edition.

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Como um caçador ou investigador desatento eles espantam as presas, pisam nas pegadas desconfigurando
o ambiente original na busca de conhecimento ou explicação para as suas dúvidas sendo que,
freqüentemente, o verdadeiro significado de um texto ou mensagem encontra-se na superfície ao alcance
dos olhos, porém as pessoas cavam tanto às vezes que a terra retirada sem necessidade é tão volumosa
que encobre a mensagem pura e simples dificultando a caminhada das pessoas em direção a Cristo por
excesso de curiosidade humana.

Não há problema algum em sermos curiosos e desejarmos um conhecimento profundo a respeito das coisas
de nosso Pai, mas, quando isto se torna um fim em si mesmo, a Palavra “perde” ser poder de convencer,
converter, curar, confortar, confrontar, repreender e se torna um objeto de laboratório. Não há maior
desesperança para um filho de Deus que perder um recurso ou meio de comunicação maravilhoso provido
pelo próprio Deus por causa do orgulho, a vaidade ou a cobiça. Infelizmente muitos têm conhecido esta
estrada poeirenta e deserta da perda da fé na Palavra de Deus.

“Senhor, o meu coração não é soberbo, nem os meus olhos são altivos; não me ocupo de assuntos grandes
e maravilhosos demais para mim. Pelo contrário, tenho feito acalmar e sossegar a minha alma; qual criança
desmamada sobre o seio de sua mãe, qual criança desmamada está a minha alma para comigo. Espera, ó
Israel, no Senhor, desde agora e para sempre. Sl 131” (ARA).

O alvo específico da boa interpretação bíblica é bem simples: “chegar ao sentido claro do texto tanto quanto
possível”. O ingrediente mais importante para alcançar este alvo específico é o bom senso e a humildade de
coração. O aprendizado de uma metodologia reconhecida para a realização da tarefa exegética caracteriza-
se apenas como uma caixa de ferramentas contendo inúmeros instrumentos úteis e importantes para a
realização de um trabalho bem feito e que promoverá a glória do Deus e a benção à Sua Igreja, porém é
apenas uma caixa de ferramentas. Alguém já utilizou uma ferramenta que se chama “martelicate” universal?
Alguém já usou uma chave de fenda como talhadeira? Se não estivermos dispostos a utilizarmos as
ferramentas exegéticas corretamente cometeremos muitos erros e o problema dos erros cometidos em
relação à Bíblia é que podem ter implicação eterna. (É bom meditar nisso!)

Este curso tem por objetivo básico apresentar e oferecer aos participantes algumas ferramentas e métodos
seguros para que tal trabalho possa ser realizado sem os muitos riscos inerentes oferecidos pelas muitas
deturpações da Palavra e especialmente em como utilizá-la corretamente nas diversas e variadas situações
da vida da Igreja e de nossas próprias vidas.

Jamais poderemos nos esquecer que, sem a ajuda e a presença de Deus nosso conhecimento poderá cair
no vazio ou até mesmo nos afastar da fé, pois a simples apropriação intelectual das verdades bíblicas não

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são garantia de salvação para ninguém, pelo contrário, pode através do orgulho transmitir uma falsa
sensação de segurança e de autojustificação afastando-o ainda mais da graça de nosso Deus. Não
tenhamos dúvidas, o racionalismo extremo está longe de ser propósito de Deus para a vida dos Seus
amados.

5 Pr i nc í p ios b ás ic os d e I nt e r p r et a ç ã o

Partindo do princípio da criação, desde o ministério de Moisés, o qual foi o primeiro grande autor dos livros
que vieram a compor a Bíblia como hoje a conhecemos, entendemos que, Deus se deu a conhecer e, a Ele
aprouve revelar-se aos homens de forma inteligível.

Em Sua sempiterna sabedoria com o mesmo Espírito com o qual soprou seu conhecimento aos homens por
meio dos profetas, também deu ordens para que estas palavras viessem a se perpetuar na forma escrita.

Quando o fiel leitor se dirige aos livros de Deus, se vê envolvido na nobre tarefa de interpretá-los para seu
próprio crescimento, e, certamente, se a Deus aprouve o ato de se revelar, não foi ou é Sua intenção a de se
ocultar por detrás de um conhecimento inalcançável ou elitizado como o queriam os gnósticos no passado e
sacerdotes de variadas religiões atuais.

Em sua essência, o homem é um ser culturado, limitado ao tempo e espaço, e, conseqüentemente se


inserido em uma história e pano de fundo que, de certa forma, o influencia continuamente.

Vemos, portanto que quando Deus se revelou aos homens, uniu em uma única dimensão o divino e o
humano, o eterno e o passageiro, o inabalável e o destrutível. De Seu lado, os princípios de Deus são
eternos, imutáveis e de aplicação plena em todas as eras, terras e culturas, porém, no ato da revelação, Ele
utilizou homens inseridos em culturas específicas, e, O fez de forma a ser compreendido, pois do contrário
seria um contra-senso ou no mínimo, um despropósito.

No decurso da Bíblia, veremos Deus tratando de situações específicas, com pessoas específicas, mas,
refletindo claramente os traços de Seu caráter, propósitos, poder, enfim, características estas que lhe são
inatas e imutáveis.

Como veremos, o protagonista de toda a Bíblia é o próprio Deus, sendo ela Sua autobiografia, e os homens
Seus coadjuvantes deste grande teatro da vida real. A diferença, porém é que o próprio Deus se expôs ao
juízo humano permitindo que este mesmo a escrevesse de forma que a tornasse inegável, pois sua
participação foi ativa.

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Aos homens, pois, coube a tarefa de receber os ensinamentos divinos, aplicando-os às suas vidas e
ajudando os seus semelhantes a fazerem o mesmo, sendo, com isso, o primeiro beneficiário desta atitude.

Cabe ressaltar que, sendo Deus o “Construtor legítimo da vida”, Ele, mais do que ninguém, sabe o que deve
ser feito para o bom desempenho da Sua criação, e, nos fornece através da Bíblia o verdadeiro “Manual do
Fabricante” no que diz respeito à “ser” gente como se deve ser na plenitude do Seu propósito inicial desde a
formação da humanidade.

Este manual, sendo Palavra de Deus, tem relevância eterna falando para todas as eras e em todas as
culturas, mas, como o caminho para isto foram as palavras humanas, esta se encontra condicionada a
particularidades históricas de sua revelação como: linguagem, época, eventos, tradições e, em alguns casos
a história oral que precedeu a escrita.

5.1 O ca r át er d a r ev e l aç ã o d iv in a

A Bíblia, como um conjunto fantasticamente homogêneo, nada mais é do que: “Deus se apresentando”, ou
seja, não é Deus revelando coisas aos homens ou simplesmente comungando informações filosóficas
interessantes, mas, Deus se revelando a estes através dos séculos.

Para tanto, tendo em vista que o verdadeiro conhecimento só pode ser realmente adquirido pela experiência
cotidiana e pela repetitividade, e, a intimidade só é conseguida através da participação conjunta nos
problemas e lutas diárias de cada um, Ele, Deus, se pôs lado a lado com a humanidade, disposto a amá-los
e suportá-los dentro dos seus limites, aproveitou cada oportunidade ou situação distinta para que os traços
de Seu caráter e a profundidade dos Seus propósitos se tornassem conhecidos.

E, com certeza, assim Ele o fez com vistas a ser compreendido, pois do contrário, não justificaria a
revelação do oculto, e, por estas razões Ele falou na língua dos homens, para ser compreendido por Eles.

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Nas religiões pagãs, sem exceção, os homens são um joguete nas mãos dos deuses, para atender seus
propósitos egoístas e espúrios, e, sempre mantêm a distância em labirintos, cavernas e dimensões
protegidas por monstros mitológicos, enquanto que, na revelação do Deus Eterno, Ele próprio tomou a
atitude, sempre, para reatar a comunicação com um homem rebelde e distante. Eis que é uma grande
diferença a nosso favor.

Para meditar:

Todos se conhecem intimamente dentro desta sala?

Como se pode realmente conhecer alguém com profundidade?

Como Deus se apropriou deste ponto no ato da revelação?

Então o que é “Revelação progressiva” em nosso conceito? (De que outra forma teremos condições de
conhecer de qualquer pessoa o seu caráter, personalidade, afinidades, gostos, capacidade, interesses,
enfim, a sua alma)?

Nessa seqüência, qual é a principal figura ou protagonista do enredo bíblico?

A este processo de auto – apresentação por meio da participação ativa na vida dos homens damos o nome
de “Revelação Progressiva”.

Não podemos, pois, nos esquecer que, os melindres do coração só vêm às claras se expostos às provas e
experiências do dia –a – dia como foi dito anteriormente, e, cabe notar que isso é válido quando estamos
falamos de Deus tanto quanto para com os homens, seja em um casamento, amizade, profissionalismo,
patriotismo, etc. Somente a experiência do labor diário fará florescer as realidades ocultas do coração.

No que tange à pessoa de Deus, compreendemos que, devido à limitação da capacidade humana de aceitar
e assimilar a idéia do “divino” pela sua própria alma por estar aprisionado às dimensões materiais da vida,
da carne, de seu próprio ego, e, do pecado inclusive, é que coube a Deus quebrar as barreiras ao se
aproximar por iniciativa própria, e, conseqüentemente, se revelar no âmbito da vida humana, e, nos limites
de sua capacidade, enfim, a fim de ser compreendido.

Vemos também que, ao rasgar os céus e descer pessoalmente, Ele atingiu o ápice deste processo na
pessoa de Cristo, tornando – se Deus em carne, pois, ao assumir a forma e os limites da essência humana,

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Deus permitiu aos homens que O vissem no mais profundo do Seu caráter, e, de fato, Cristo o afirmou
categoricamente. (Esta é basicamente a mensagem dos evangelhos, especialmente o do apóstolo João).

Considerando-se a vida uma eterna peça teatral em constante desenrolar, temos de reconhecer que na
revelação apregoada nos livros da Bíblia possuem um único protagonista, o qual é o próprio Deus, e, que
em Sua eternidade tem dado aos homens, os coadjuvantes deste grande drama um lugar especial de Sua
atenção e cuidados, e, isso também a Bíblia no – lo – diz.

5.2 C u id a d o s b ás ic o s n o t r ab a lho e xe g é t ic o

Baseando no fato do caráter da revelação de Deus a nós, é interessante que tomemos todo o cuidado
possível ao fazermos o nosso estudo pessoal da Bíblia, pois, a história é testemunha dos muitos erros que
sinceros homens cometeram no passado por estarem presos a questões culturais, temporais e preconceitos
ou pré-conceitos de sua época.

Segue aqui uma série de alertas para todos nós no desenvolvimento de qualquer trabalho exegético:

MUITO CUIDADO:

Ao relacionar textos distintos como um bloco único de pensamento.

Com a interpretação contemporânea de palavras de cunho teológico.

Com a busca de originalidade.

Com a idéia de que “tudo” foi revelado por Deus na Bíblia.

Ao usar textos isolados como provas irrefutáveis de suas idéias (dogmas) – a difundida utilização de
“Textos-Prova” nos meios religiosos para apóia determinada idéia ou linha teológica.

Com a divisão de capítulos, versos e parágrafos apresentada nos textos.

Com os maiúsculos e minúsculos (exegese editorial);

Para que o texto não venha a significar em suas mãos aquilo que jamais significou no passado.

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Com a atenção excessiva a pequenos pontos pouco compreendidos que costumam ofuscar a mensagem
completa devido ao enfoque errado do exegeta.

“Normalmente perde-se a visão macro quando se prende excessivamente a detalhes”

Para não ver “demais” em pouca coisa, principalmente em questões gramaticais.

Com a lingüística, pois, ela é dinâmica como tudo que é vivo – uma palavra ou expressão não deve ser,
necessariamente presa a significados lógicos como a matemática.

Para nunca desprezar o trabalho de outros.

Tome muito cuidado em usar o trabalho de outros (equilíbrio).

Com as versões, pois, de certa forma, já são uma interpretação humana dos tradutores.

Com as questões culturais.

Com a natureza “mesclada” das Escrituras (divina – humana)

Ao pensar que teremos resposta para todas as perguntas.

Com a interpretação de expressões idiomáticas.

Com os propósitos da nossa exegese (podemos estudar inutilmente se nossas motivações forem erradas).

Com a perda da fé e da piedade pela racionalização intelectual extrema.

Com o orgulho.

Com a maior barreira encontrada por todos no estudo bíblico serio – a simples e pura “OBEDIÊNCIA”.

5.3 O s r e c ur s os e xt er n os

Ler um texto com a atitude correta, ou seja, de submissão a ele e não o contrário, e, fazer as perguntas
corretas a ele pode nos levar tão perto e acertado às idéias originais do autor que podemos até nem
acreditar.

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Em suma, para se fazer um bom trabalho exegético, sem que se disponha de recursos acadêmicos mais
profundos como, conhecimento das línguas originais, situações históricas judaica, semítica e helenística,
crítica textual e outras, precisaremos utilizar nossas habilidades e, aproveitar “positivamente” do trabalho de
outros que nos precederam, o que deve ser feito com muito cuidado e critério.

A primeira e talvez maior chave na interpretação de um texto está simplesmente em ler cuidadosamente o
mesmo, e, por mais simplista que isso possa parecer, a maioria dos erros que ocorrem neste meio dentre as
pessoas que, sinceramente, estão procurando compreender a Palavra de Deus para suas próprias vidas
reside neste ponto.

Certamente, não podemos nos esquecer que estamos nos propondo a analisar textos com a precisão e
objetividade que eles representaram para os seus receptores originais, e, quanto a isso eles levam
vantagem sobre nós porque estamos distanciados destes em no mínimo 1900 anos, e, por esta razão, faz-
se-á necessário o uso de diversas ferramentas de apoio que nos estão disponíveis das mais diversas
formas.

Cabe-nos observar que, em todas estas ferramentas disponíveis é normal encontrarmos, com freqüência,
uma certa dose de interferência da linha teológica da Casa Publicadora, editora ou autor na dissertação do
assunto levantado. (A “exegese editorial”)

Deve-se lembrar que, sem desprezar estes trabalhos, é extremamente importante que a “interpretação da
mensagem” na aplicação teológica ou individual da mesma deva ser feita com a menor presença possível de
quaisquer interfer6encias externas.

IMPORTANTE, o uso racional destes recursos, em princípio, jamais deve visar à interpretação aplicada do
texto, mas, tão somente, o esclarecimento do contexto histórico, cultural e literário que envolve o mesmo a
fim de viabilizar a compreensão fiel do que foi proclamado.

Em termos gerais, podemos e devemos usar legitimamente dos tais para levantar as seguintes dificuldades:

• Palavras portuguesas nobres • História geral

• Pesos e medidas • Cronologia

• Nomes próprios • Palavras estranhas “religiosas”

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• Locais • Expressões idiomáticas

• Dados geográficos • Citações de outras fontes (AT,


apócrifos, LXX, os Pais, etc.).

ATENÇÃO: De todas as formas e situações, a própria BÍBLIA jamais pode ser descartada como a primeira e
mais fidedigna fonte de pesquisa para elucidar, também estas dúvidas históricas que, podem ou não, ter
cunho ou origem extrabíblico. Para tal utilização, ter em mãos uma concordância bíblica ou até mesmo uma
pequena chave será, certamente, de grande utilidade.

O principal problema relacionado ao uso sistemático destes recursos refere-se à característica inata ao
homem de julgara e compreender as coisas normalmente presas ao seu meio de existência, e, a partir do
momento que um leitor desavisado inicia uma leitura sincera de um texto e se depara com um título editorial,
uma nota de roda – pé ou comentário direcionando o raciocínio a ser apresentado, verdadeiramente fora
lançado diante de seus olhos um filtro que, dependendo de sua procedência, pode deturpar completamente
o sentido original da mesma.

Por estas e por outras é que, nunca haverá pouco cuidado no trato com tais recursos, que não deixam de
nos ser necessário pela distância histórico – cronológica – cultural que nos separa dos autógrafos originais,
seus autores e recipientes.

Na verdade, todo cristão estudioso da Bíblia é um pesquisador incansável da história da humanidade que
reconhece e se dobra ante o seu Autor Supremo.

5.4 C o m o co meç a r ?

5.4.1 Fe r r a me nt as in ic ia is p a r a o t r a b a lh o d e ex eg e se

O uso das línguas originais:

O texto hebraico do Antigo Testamento

Os rolos do mar morto - Consta de uma antiga biblioteca dos essênios em cavernas da Palestina do 1º
século.

O texto massorético - Trabalho de tradução de grupos de famílias que se dedicaram à preservação do texto
hebraico em sua pureza durante um período que se estende por quase 1000 anos d.C.

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O texto grego do Antigo Testamento

A LXX – A Septuaginta - Versão grega do Antigo Testamento produzido em Alexandria para os judeus que já
não conheciam o seu idioma paterno.

Novo Testamento grego - The greek New Testament, 4th revised edition, UBS

Novum Testamentum Graece, Nestle & Aland, 26th edition

Estes dois textos são idênticos, resultado do trabalho incansável de homens como Kurt Aland, Mathew
Black, Bruce M. Metzger e outros na ascensão da ciência – arte da Crítica Textual já em nosso século. (A
diferença básica das edições diz respeito ao enfoque do aparato crítico tão somente).

O uso das versões:

ARC – Almeida Revista e Corrigida, SBB. - Versão baseada no Textus Receptus (Texto Recebido) de
Erasmo contendo diversos problemas textuais devido ao número reduzido de fontes disponíveis na ocasião
de sua tradução.

ARA – Almeida Revista e Atualizada, SBB - Versão razoavelmente literal considerada pela crítica como que
de grande beleza e precisão em seu texto. Extremamente popular no uso geral brasileiro atual.

VR – Versão Revisada – JUERP - Considerada como um avanço na linguagem de tradução num trabalho
realizado pela Casa Publicadora das Igrejas Batistas.

BLH – Bíblia na Linguagem de Hoje, SBB - Trabalho mais recente da Sociedade Bíblica do Brasil visando
atingir um nível de tradução mais próximo da linguagem brasileira atual. É considerada quase que como
uma tradução livre não devendo ser utilizada isoladamente para estudos bíblicos mais acurados.

NVI – Nova Versão Internacional, IBS - Atualmente a versão mais utilizada nos países de fala inglesa
considerada bastante fiel aos textos originais, com muita fluência e rica no aparato crítico que a acompanha.
É editada pela International Bible Society, Colorado Springs, EUA.

BJ – Bíblia de Jerusalém,

MS – Matos Soares - Bela versão em português coloquial, profundamente produzida no que tange ao caráter
poético das escrituras, pecando seriamente, porém ao ser baseada no texto da Vulgata Latina.

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Bíblia (Tradução) Novo Mundo, Torre de Vigia - Versão altamente corrompida, produzida pela Casa
Publicadora dos Testemunhas de Jeová, a Torre de Vigia. Sendo uma retradução de uma versão inglesa,
representa um passo a mais na estratégia russelita em não se prender somente a interpretações pouco
exegéticas dos textos, mas também em produzir um texto que os atendam com mais precisão em seus
propósitos. É um grande risco utilizar – se de versões como estas senão como um estudo detalhado da seita
em questão.

BV – Bíblia Viva - Não é considerada uma versão, mas, sim, uma paráfrase dos textos bíblicos. Pode ser
usada como comentário final após o trabalho de exegese realizado.

O uso das concordâncias bíblicas de palavras:

Concordância em português

Concordância nas línguas originais

Ferramentas adicionais introdutórias (2º passo)

Dicionário da língua portuguesa - Deve ser usado tão somente para o esclarecimento do significado das
palavras da língua portuguesa que porventura não conheçamos, pois a linguagem escriturística costuma ser
às vezes por demais nobre.

Léxicos - Dicionários dos radicais das línguas originais que certamente são de grande utilidade para o leitor
que já possui um conhecimento razoável das mesmas, com pequenas exceções. (ALERTA – às vezes, um
pequeno entendimento de línguas originais pode dar ao exegeta uma falsa segurança e um alicerce
deficiente para uma boa exegese).

Dicionários bíblicos - Devem ser utilizados para o esclarecimento de nomes, locais, pesos, moedas,
distâncias, palavras de cunho religioso e histórico sem nenhuma conotação de interpretação hermenêutica
do texto ou textos em questão.

Manual Bíblico - É certamente uma boa ferramenta para a compreensão de detalhes externos concernentes
à época e contexto do livro em estudo, dados tais que não serão encontrados às vezes com facilidade na
própria literatura bíblica.

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INTRODUÇÃO À EXEGESE BÍBLI CA

Atlas / Mapas / Arqueologia - Nos ajudam a ter uma visão macro da situação geográfica envolvida na
narrativa ou livro em estudo, podendo, sem dúvida, enriquecer grandemente a explanação do texto ou
situação.

Enciclopédias bíblicas - São compêndios voltados a sistematizar informações gerais referentes aos mais
variados assuntos ligados à revelação das escrituras sendo excelentes fontes de história geral e outros. Este
tipo de ferramenta nos ajuda em muito no entendimento do contexto que cerca os mais diversos tipos de
literatura encontrados na Bíblia.

“Comentários” – Introdutórios Contextuais ““. - Devem ser os últimos recursos dos quais devemos abrir mão
para conferir se nosso trabalho exegético pronto não ficou demasiadamente destoante do que a maioria dos
que já estudaram aquele assunto, texto ou livro concluíram. Devemos ter sempre muito cuidado e humildade
quando chegarmos a este ponto da nossa pesquisa.

Observações gerais quanto ao uso das versões bíblicas:

Em termos gerais, não podemos nos esquecer que, a partir do momento que não lemos a Palavra
diretamente como ela fora redigida em seus autógrafos, mas, partimos de tais trabalhos de repasse
lingüístico na produção da versão em questão, já nos encontramos envolvidos no processo de interpretação
da parte de alguém que teve este acesso por nós, sendo, portanto, importante compreendermos um pouco
mais deste processo através do qual as escrituras chegaram ao nosso tempo.

Cabe aqui, como um adendo observarmos algumas questões no que se refere a este tipo de trabalho como
segue:

Quanto à forma de tradução:

Basicamente existem três tipos de trabalho de tradução possíveis que variam pelo propósito com a qual a
mesma foi idealizada as quais são:

Tradução literal: é a forma de tradução a qual se transporta palavra por palavra dos textos originais sem se
preocupar com o significado global da frase ou expressão. Tais tipos de traduções são comumente
chamadas de “interlineares“ e são úteis no trabalho de outros tradutores e também na verificação ou análise
sintática de textos complexos onde a compreensão isolada de cada termo para o estabelecimento da
mesma.(Ex: Versões interlineares).

por Julio C Brasileiro 16/18


HERMENÊUTICA
INTRODUÇÃO À EXEGESE BÍBLI CA

Tradução dinâmica: Neste tipo de tradução impera a compreensão do sentido das palavras como que
perfeitamente inseridas no contexto literário do mesmo, procurando-se, porém manter o máximo literalismo
possível para evitar o desvirtuamento da mensagem. Normalmente a maioria das versões existentes são
baseadas nesta metodologia de trabalho. O equilíbrio entre a letra e o “espírito” da mesma são o diferencial
do sucesso deste evento de tradução. (Exs: NVI, ARA, VR, ARC, BJ)

Tradução livre: É a forma de tradução que se liberta completamente do texto e formas originais com o
propósito de explicar em linguagem entendida como contemporânea e mais acessível aos seus leitores. São
chamadas de paráfrases e são úteis no ensino bíblico básico a principiantes, compreensão de termos
religiosos desconhecidos e frases idiomáticas ou pesquisa hermenêutica pós – exegese. Não são indicadas
como base de texto para o estudo profundo de doutrinas ou temas como única fonte de trabalho. (Exs: BV,
BLH)

Quanto à exegese editorial:

Como foi dito anteriormente, no trato com as versões disponíveis em nossa língua devemos ter o cuidado de
reconhecer que aquele texto que está diante de nós já passou de certa forma por um processo de
interpretação para chegar a ser impresso formalmente. Há de se tranqüilizar que, pelas características
intrínsecas à nossa língua pátria, Deus nos tem abençoado com versões maravilhosas que traduzem com
grande perfeição a palavra transmitida originalmente pelo Senhor e seus profetas, discípulos e servos no
geral.

Cabe, porém observar alguns pontos importantes na qualidade dos textos que estão à nossa disposição
onde devemos ter alguns cuidados:

A variedade de versões

A divisão em capítulos e versículos

A divisão dos parágrafos

As notas de roda – pé

Os títulos editoriais

A concordância de idéias

por Julio C Brasileiro 17/18


HERMENÊUTICA
INTRODUÇÃO À EXEGESE BÍBLI CA

A determinação dos maiúsculos

As Bíblias anotadas

A teologia que norteia a editora

Reconhecendo a importância do trabalho de uma exegese bem feita, pensemos no que pode acontecer se
interferirmos na seguinte seqüência:

por Julio C Brasileiro 18/18

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