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31/12/2017 | CORREIO DO POVO RURAL | 1

TONI MACHADO / DIVULGAÇÃO / CP MEMÓRIA


CR
correio do povo rural
Coordenação: Elder Ogliari | rural@correiodopovo.com.br
Reportagem: Nereida Vergara | Ano: 35 Número: 1.800

Exportação polêmica NEREIDA VERGARA

A
venda de gado vivo do Rio Gran- ças equivalem a nove dias de abate. Se es- preço pago pelo boi no Estado está avilta-
Venda de gado vivo de do Sul para países como a te comércio continuar crescendo e che- do desde 2015. “A própria indústria está
para o exterior Turquia, o Egito e o Líbano vi- gar, por exemplo, a 250 mil cabeças por financiando as exportações. Não há ra-
rou motivo de polêmica entre pe- ano, número que temos ouvido do merca- zão para o produtor não aceitar exportar
preocupa indústria, cuaristas e frigoríficos neste final de do, passaríamos 33 dias sem ter gado pa- por R$ 6,20 o quilo do boi vivo quando os
2017. O Sindicato das Indústrias de Car- ra abater”, diz. frigoríficos pagam R$ 5,40 em média pelo
que pede algum ne e Derivados (Sicadergs) iniciou um mo- O aumento das exportações, destaca produto”, pondera Lopa.
mecanismo de vimento junto ao governo do Estado para Lauxen, poderá se refletir em toda a ca- “Nós somos a favor do livre mercado”
reclamar do aumento das exportações deia da carne, incluindo o setor do cou- agrega o presidente da Associação Brasi-
controle sobre as que, segundo a entidade, estaria prejudi- ro, base da indústria calçadista. “O pro- leira de Angus, José Roberto Pires We-
operações. Medida é cando o setor com a falta de matéria-pri- dutor tem de pensar que pode estar ga- ber. O criador ressalta que quando a in-
ma. A proposta é que o governo crie me- nhando um preço melhor no momento dústria importou gado do Centro do país,
refutada pelos canismos de controle para a venda de pelo boi vivo, mas pode inviabilizar os a preços menores que os do Rio Grande
bois vivos ao exterior, como cotas e taxa- frigoríficos e não ter para quem vender do Sul, os produtores gaúchos tiveram de
pecuaristas, que ção extra. Os produtores, por sua vez, seu produto no futuro”, ressalta. Sobre suportar a situação. “Temos de ter um
reclamam de preços refutam o argumento dos frigoríficos e a remuneração do gado vivo no Estado, mercado justo, em que pode ganhar a in-
lembram que as exportações são uma al- Lauxen afirma que é regulada por ofer- dústria e também o pecuarista. Agora é a
internos aviltados ternativa para um mercado que remune- ta e demanda e que o Rio Grande do nossa vez. Ninguém quer que os frigorífi-
ra mal a atividade. Sul tem tradição de “pagar o melhor cos quebrem, mas as oportunidades de lu-
O presidente do Sicadergs, Ronei Lau- preço do Brasil”. cro têm de ser para todos”, completa.
xen, invoca dados da entidade que com- O presidente executivo da Associa- Fontes do governo do Estado confirma-
provariam um crescimento significativo ção de Indústrias de Curtumes do Rio ram o recebimento do pedido da indús-
das exportações. “Em 2016, foram 48 mil Grande (Aicsul), Moacir Berger de Sou- tria, mas disseram que o Palácio Piratini
cabeças exportadas. Neste ano, vamos fe- za, ressalta que não é só o processa- prefere não se manifestar e esperará pelo
Dados do MDIC char com 74 mil cabeças, num crescimen- mento de carne que sofre. Souza lem- consenso entre os integrantes da cadeia.
indicam que Estado to bem superior a um terço”. Dados do Mi- bra que a exportação do boi vivo atinge As discussões sobre este tipo de expor-
embarcou 13 mil nistério da Indústria, Comércio Exterior e o mercado do couro, a indústria calça- tação ultrapassaram as relações de mer-
toneladas até Serviços (MDIC) indicam que em 2016 fo- dista e mais uma infinidade de outras cado e já ganham espaço entre os defen-
novembro de 2017 ram exportadas 10 mil toneladas de gado atividades. Acrescenta ainda que o pró- sores dos animais. O Fórum Animal, enti-
vivo do Estado, número que subiu para prio Estado perde com a arrecadação dade de abrangência nacional, lançou em
ANGÉLICA SILVEIRA / ESPECIAL / CP MEMÓRIA

13 mil toneladas no acumulado de janeiro de tributos em toda a cadeia. São Paulo e no Rio Grande do Sul campa-
a novembro de 2017. Lauxen lembra que Fernando Lopa, CEO da Associação nhas contra o comércio internacional de
a capacidade de abate dos frigoríficos Brasileira de Hereford e Braford, diz que gado vivo. A organização argumenta que
gaúchos é de cerca de 3 milhões de cabe- os produtores em hipótese alguma vão é preciso rever as normas de exportação
ças por ano, com uma média de 8 mil ca- aceitar impedimentos à exportação do para evitar “riscos significativos” ao bem-
beças por dia. “Setenta e quatro mil cabe- boi vivo. De acordo com o executivo, o estar dos animais comercializados.

O produtor tem de pensar


que pode estar ganhando
um preço melhor no

A própria indústria está
financiando as exportações.
Não há razão para o produtor
Temos de ter um mercado
justo, em que pode ganhar a
indústria e também o
momento pelo boi vivo, não aceitar exportar pecuarista. Agora é a nossa
mas pode inviabilizar os a R$ 6,20 pelo quilo do boi vez. Ninguém quer que os
frigoríficos e não ter para vivo quando os frigoríficos frigoríficos quebrem, mas as
quem vender seu produto pagam R$ 5,40, em média, oportunidades de lucro têm
no futuro pelo produto de ser para todos
Ronei Lauxen Fernando Lopa José Roberto Pires Weber
Presidente do Sindicato das Indústrias CEO da Associação Brasileira Presidente da Associação
de Carne e Derivados do RS de Hereford e Braford Brasileira de Angus

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