Você está na página 1de 10

Sociedade e economia

O processo demográfico brasileiro


Celso C. da S. Simões e Luiz Antonio P. de Oliveira

Evolução da população brasileira

A
população do Brasil atingiu, em 1º de agosto de 2000, taxa de crescimento, chegando-se aos patamares atuais, em que o
169 799 170 habitantes. A série de censos brasileiros, que valor da taxa é de 1,3% ao ano, quando se leva em consideração a
cobre um período de 128 anos, mostra que a população Contagem da População realizada em 20071.
vem experimentando sucessivos aumentos em seu contingente,
Tabela 1 - População residente e
tendo crescido 9,6 vezes, somente ao longo do Século XX, embora taxa média de crescimento anual - Brasil - 1872/2007
a velocidade deste crescimento venha diminuindo progressivamente
Taxa média geométrica Variação da taxa
nas últimas décadas (Tabela 1 e Gráfico 1). A taxa média geométrica Ano População residente de crescimento anual de crescimento
(%) (%)
de crescimento anual no período 1991-2000 foi de apenas 1,6%, uma
1º.08.1872 (1) 90 930 478
das mais baixas já observadas, refletindo a continuidade do declínio 2,0
31.12.1890 (1) 14 333 915 (-) 1,5
da fecundidade durante os anos de 1990, conforme será detalhado 2,0
mais à frente. Este declínio é generalizado no País, exprimindo-se 31.12.1900 (1) 17 438 434
2,9
47,0

na queda relativa e, em diversos casos, na redução até absoluta do 01.09.1920 (1) 30 635 605
1,5
(-) 48,8

número de nascimentos. 01.09.1940 41 165 289 60,4


2,4
A maior aceleração no aumento da população brasileira ocorreu 01.07.1950 51 941767 25,1
3,0
durante a década de 1950. Naquele período, a população cresceu 01.09.1960 70 070 457 (-) 3,3
2,9
a uma média de 3,0% ao ano, correspondendo a um acréscimo 01.09.1970 93 139 037 (-) 14,2
2,5
relativo de 34,9% no efetivo populacional. Nessa época, enquanto 01.09.1980 119 002 706 (-) 22,2
1,9
a mortalidade acentuava seu processo de declínio, a fecundidade 01.09.1991 146 825 475
1,6 (-) 15,5
mantinha-se em patamares extremamente elevados. Posteriormente, 01.08.2000 169 799 170
1,3 (-) 11,6
inicia-se a desaceleração do crescimento em função de uma queda 01.04.2007 183 987291

inicialmente tímida da fecundidade, o que fez com que a taxa Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1872/2000 e Contagem da População 2007.
(1) População presente.
de crescimento fosse inferior a 2,5% ao ano na década de 1970.
Entretanto, nas décadas seguintes, em consonância com a transição 1
Um aprofundamento das causas relacionadas a essas mudanças nas taxas de crescimento serão
para níveis de fecundidade mais baixos, intensifica-se o declínio na abordadas na próxima seção.
114 Atlas Nacional do Brasil

taxas baixas de fecundidade, consolidam, na fase atual, a tendência a


Gráfico 1 - Taxa média de crescimento anual
Brasil - 1872/2007 padrões mais estabilizados de crescimento populacional. As migrações
%
para o Sudeste vêm perdendo gradualmente intensidade, embora ainda
3,0
2,9 2,9 seja a região de maior atração de migrantes com origem no Nordeste,
2,4
2,5 apesar da migração de retorno que vem sendo constatada através dos
2,0
inquéritos populacionais realizados pelo IBGE.
2,0 1,9

1,5
1,6 Tabela 2 - Taxa média geométrica de crescimento anual,
1,3 segundo as Grandes Regiões - 1940/2007

Taxa média geométrica de crescimento anual (%)


Grandes Regiões
1940/1950 1950/1960 1960/1970 1970/1980 1980/1991 1991/2000 2000/2007

Brasil 2,4 3,0 2,9 2,5 1,9 1,6 1,3

Norte 2, 3 3,3 3,4 5,0 5,0 2,9 2 ,0

Nordeste 2,8 2,1 2,5 2,2 1 ,8 1,3 1,2

Sudeste 2,1 3, 1 2 ,6 2,6 1,8 1,6 1,2

Sul 3,3 4,1 3,4 1,4 1,4 1 ,4 1,0

Centro Oeste 3, 4 5,4 5,6 4 ,1 2,0 2,4 2,0

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940/2000 e Contagem da População 2007.

1872/1890

1890/1900

1900/1920

1920/1940

1940/1950

1950/1960

1960/1970

1970/1980

1980/1991

1991/2000

2000/2007
Sociedade e economia

Outro aspecto importante da evolução da população brasileira


Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1872/2000 e Contagem de População 2007. está relacionado ao processo de urbanização. Até 1960, a maioria
da população residia na área rural do País, à exceção da Região
A evolução da população, de acordo com as regiões brasileiras Sudeste que, nessa data, já apresentava 57,0% de sua população
(Tabela 2), aponta que as três mais populosas continuam sendo a residente na área urbana (Gráfico 2). O fenômeno da urbanização
Sudeste, a Nordeste e a Sul. A Região Centro-Oeste, que desde o final no Brasil está estreitamente associado à questão das migrações
da década de 1940 apresentava o menor volume populacional, passou internas que se intensificam a partir do inicio dos anos de 1960
à frente da Região Norte entre 1960 e 1980. Em consequência das e tendo, inicialmente, como principal área de atração a Região
alterações político-administrativas ocorridas no período 1980-1991 Sudeste, que concentrava as maiores oportunidades de emprego, em
(criação do Estado do Tocantins, que fazia parte de Goiás, na Região decorrência da concentração das principais atividades econômicas
Centro-Oeste) ela volta a ocupar a última posição e permanece nesta então existentes no País. Já em 1970, a taxa de urbanização na
situação no período mais recente (1991-2007). região chega a 73,0%, enquanto nas demais esse valor ainda é
As maiores taxas de crescimento no período 1991-2000 inferior a 50,0%.
ocorreram nas Regiões Norte e Centro-Oeste (2,9% e 2,4% ao ano,
Gráfico 2 - Evolução da proporção da população urbana, por Grandes Regiões - 1940/2007
respectivamente) (Tabela 2). Este é um fenômeno que vem acontecendo
%
100,0
desde a década de 1950, particularmente nesta última região. As
92,0
90,0
maiores taxas observadas, na última década, refletem o resultado de 86,8
83,5
80,0 82,9
fluxos migratórios para algumas subáreas, atraídos não só por uma 76,4
70,0 71,8
expansão retardatária da fronteira, como também pelo poder de
60,0
atração do Entorno de Brasília e Goiânia. Mas, o crescimento destas
50,0
duas regiões é atualmente bastante inferior ao que se verificava nos
40,0
anos de 1960 e 1970, quando ambas recebiam importantes correntes
30,0
migratórias atraídas pela expansão da fronteira agrícola. As demais
20,0
regiões exibiram valores inferiores a 1,5%, sendo notado no Nordeste
10,0
o menor valor (1,3%). Esta é uma região que ao longo das décadas tem
0,0
se caracterizado como área de expulsão de população, particularmente 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2007

para os estados do Sudeste, e, em especial, São Paulo.


Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Não obstante, chama atenção o fato de que durante o período
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940/2000 e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007.
de 2000/2007, o Nordeste aparece com taxas similares às observadas
no Sudeste e Sul do País, em decorrência da migração de nordestinos
residentes nestas áreas, que retornaram para suas áreas de origem. As Regiões Sul e Centro-Oeste, a partir de meados da década
Cabe também destacar que a despeito de a Região Norte ter de 1970, também começam a se urbanizar de forma intensa, apesar
apresentado a mais significativa taxa de crescimento, durante o período da expansão das atividades agrícolas. O crescimento urbano coexiste
1991/2000, ao ser confrontada com a da década anterior, observa- com uma atividade agrícola proporcionalmente muito forte que,
se que essa taxa é inferior em cerca de 42,0%, seguida do Nordeste porém, se modernizou nas últimas décadas e favoreceu o processo
(-28,9%). Além da manutenção dos tradicionais fluxos de saída da de expulsão populacional do campo, inclusive em áreas que, até
região, teve forte impacto na redução do crescimento, a intensificação os anos de 1960 e 1970, representavam espaços de expansão da
do declínio da fecundidade, observado a partir de meados da década fronteira agrícola. Nas Regiões Norte e Nordeste, onde os níveis
de 1980, acontecido com atraso em relação ao processo sucedido de urbanização ainda são relativamente mais baixos, quando
anteriormente no Centro-sul. O Sul e o Sudeste que já apresentavam comparados com os das Regiões Sudeste (92%), Centro-Oeste
Atlas Nacional do Brasil 115

(86,8%) e Sul (82,9%), observa-se que o processo de urbanização A natalidade, por outro lado, inicia de forma mais consolidada
vem se dando gradualmente, chegando em 2007 com valores seu declínio somente a partir dos anos de 1960, acompanhando as
levemente superiores a 70%. grandes transformações social e econômica que vinham acontecendo
Em síntese, pode-se afirmar que o Brasil passou por profundas no País, principalmente nas regiões do Centro-sul, além da
alterações durante as últimas décadas, ao deixar de ser um País intensificação do processo de urbanização decorrente, em parte, pelos
predominantemente rural, situação que prevaleceu até meados da fortes deslocamentos populacionais para essas áreas. Além disso, foi
década de 1960, para uma condição em que cerca de 83,0% de sua um período coincidente com a introdução da pílula anticoncepcional
população passa a residir em áreas urbanas. que atuou na redução do tamanho familiar e, posteriormente, já a
Mudaram as realidades e situações vivenciadas pelas populações. partir do final da década de 1970 e inicio da de 1980 com a prática
Aumentaram as demandas por serviços públicos (educação, da esterilização, iniciada também naquelas regiões, especialmente
saneamento básico, serviços de saúde, etc.) para atender a esse nos estados do Sudeste e, posteriormente, já em meados da década de
contingente populacional em constante crescimento nas grandes 1980, estendida aos estados da Região Nordeste.
cidades. Por outro lado, essa nova realidade também levou a uma nova O auge do crescimento demográfico brasileiro, conforme visto,
dinâmica demográfica, principalmente, nas questões relacionadas foi a década de 1950, quando foi mais elevada a diferença entre a
com comportamento reprodutivo e seus impactos nas estruturas etárias natalidade e a mortalidade, e o País cresceu cerca de 3,0% ao ano.
e decorrentes redefinições de políticas públicas, nas áreas da saúde, Observa-se que a partir do Censo Demográfico 1991, na década anterior,
educação, mercado de trabalho e seguridade social. se intensifica o declínio dos níveis de natalidade. Nesse período, a
estimativa da taxa bruta de natalidade (TBN) que seria em média de 29,0

Sociedade e economia
Decomposição do crescimento demográfico nascimentos por 1 000 habitantes (1985), declina para 21,1‰ para o ano
brasileiro 2000 e 17,1‰, em 2007. Em paralelo, as taxas brutas de mortalidade
(TBM) decaem mais lentamente, nas últimas décadas, pois seus
A natalidade e a mortalidade2 patamares já são relativamente baixos, oscilando apenas em função de
O comportamento do padrão demográfico brasileiro se manteve comportamentos específicos por idade (redução das mortalidades infantil
estável até meados do Século XX, observando-se apenas leves declínios e infanto-juvenil, novo perfil epidemiológico, como, por exemplo, o
da mortalidade e períodos de elevação cíclica da imigração estrangeira. aumento da mortalidade por causas externas, etc.).
Os níveis de fecundidade e de mortalidade mantiveram-se, com Em síntese, a componente natalidade e os padrões correlatos
pequenas oscilações, em patamares elevados, com a mortalidade de fecundidade são os principais agentes de mudanças no padrão
apresentando leves e graduais reduções já a partir do final do Século demográfico brasileiro. O seu movimento de declínio é que explica a
XIX, ao passo que os níveis de fecundidade começavam a experimentar razão pela qual a taxa de crescimento demográfico registrado no Brasil
declínios, embora menos expressivos, em algumas regiões específicas, é inferior, atualmente, a 1,3% ao ano, de acordo com as estimativas da
a partir do início do século que se seguiu. população para 2008 comparadas com as de 20004.
Segundo Simões (2006, p. 32) cabe ressaltar que Uma análise mais detalhada dos parâmetros constituintes das
componentes demográficas leva a uma avaliação mais aprofundada
[...] os elevados valores das taxas brutas de natalidade que oscilavam dos indicadores de mortalidade, mais especificamente, a esperança
entre 45 e 50 nascimentos por 1 000 habitantes e as taxas de de vida ao nascer e mortalidade infantil, além de indicadores do
fecundidade total, que variavam entre 7 e 9 filhos, em média, por comportamento reprodutivo (taxas de fecundidade total). Dada
mulher, refletiam, a prevalência de uma concepção de família a grande diferenciação regional que caracteriza o Brasil, um
numerosa, típica de sociedades agrárias e precariamente urbanizadas e entendimento correto dos processos demográficos não pode deixar de
industrializadas. incorporar essa diversidade regional.

Transformações mais consistentes no padrão demográfico só Gráfico 3 - Evolução da natalidade e da mortalidade - Brasil -1881/2007

se iniciam a partir de meados da década de 1940, decorrentes, num 50,0

estágio inicial, de uma relativa aceleração do declínio da mortalidade, 45,0


Taxa bruta de natalidade
No Gráfico 3, é apresentado o processo histórico das variáveis 40,0

componentes da decomposição da taxa de crescimento demográfico3, 35,0


Pilula
Crescimento vegetativo
para o Brasil, a partir do cálculo das taxas brutas de natalidade e de 30,0
Esterilização feminina
mortalidade. Pode-se observar que a mortalidade registra declínio 25,0
Taxa bruta de mortalidade

consistente a partir de 1940, sendo estável nos períodos anteriores,


20,0 Antibióticos
com leves reduções no início do Século XX. O papel dos antibióticos
15,0
foi fundamental nesse processo de queda, atuando, num primeiro
10,0
momento, na redução da mortalidade adulta, estendendo-se,
5,0
posteriormente, aos grupos etários infantil e infanto-juvenil.
0,0
1881 1890 1900 1910 1920 1930 1945 1955 1965 1975 1985 1995 2000 2007
2
A taxa bruta de natalidade corresponde ao quociente entre o número de nascidos vivos em um
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1890/2000 e Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para o Período 1980-2050 –
ano civil e a população total ao meio do ano civil. Representa a frequência com que ocorrem os Revisão 2008.
nascimentos em uma população. A taxa bruta de mortalidade corresponde ao quociente entre
o número de óbitos ocorridos durante um ano civil e a população total ao meio do ano civil.
Representa a frequência com que ocorrem os óbitos em uma população.
3 4
Conceitualmente, o crescimento demográfico é resultante da diferença entre nascimentos e óbitos, Estas estimativas foram baseadas na Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para o
mais os efeitos líquidos dos saldos migratórios. Período 1980-2050 - Revisão 2008.
116 Atlas Nacional do Brasil

Esperança de vida ao nascer5 anos, como na Região Sudeste. Estes maiores ganhos certamente são
São raros os estudos que nos permitem avaliar a situação decorrentes das ações anteriormente descritas.
dos níveis de sobrevivência no início do Século XX, para o Brasil.
Tabela 4 - Esperança de vida ao nascer,
Destaque-se, entretanto, o realizado por Santos (1978) que, utilizando segundo as Grandes Regiões - 1940/2007
o modelo de populações estáveis, conseguiu estimar a esperança de
Esperança de vida ao nascer
vida ao nascer da população brasileira para os anos de 1900, 1910, Grandes Regiões
1930/1940 1940/1950 1950/1960 1960/1970 1980 1991 2000 2007
1920 e 1930, conforme apresentado na Tabela 4.
Brasil 41,5 45,5 51,6 53,5 62,5 66,9 70,4 72,5
Com base nessas estimativas, constata-se uma relativa
Norte 40,7 44,6 53,4 54,6 60,8 66,8 69,5 71,6
estabilidade nos níveis de sobrevivência da população brasileira, sendo Nordeste 36,7 38,9 41,0 45,5 58,3 62,9 67,1 69,7
de aproximadamente três anos o incremento na esperança de vida, Sudeste 43,5 49,0 57,2 57,3 64,8 68,8 72,0 74,1
durante os primeiros 30 anos do Século XX. Ou seja, um incremento Sul 49,2 52,8 60,3 60,0 66,0 70,3 72,8 74,7

de apenas 8,0%, refletindo, portanto, uma elevada incidência de Centro-Oeste 47,9 51,1 56,7 58,9 62,9 68,4 71,7 73,7

mortalidade, que só começa a diminuir a partir dos anos de 1940. Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940/2000 e Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para o Período 1980-2050 –
Revisão 2008.
Tabela 3 - Evolução da esperança de vida ao nascer
Brasil - 1900/1970
Entre 1950 e meados da década de 1970, esse processo de
Esperança de vida ao nascer (e 0 )
Ano aumento da esperança de vida continua, contudo, lentamente, o que
Total Homens Mulheres
mostra a sensibilidade desse indicador a períodos de crises estruturais.
Sociedade e economia

1900 33,7 33,3 34,1


Ou seja, na ausência de políticas estruturada e compensatória voltadas
1910 34,1 33,6 34,6
para a melhoria e preservação das condições de saúde da população
1920 34,5 33,8 35,2
e particularmente a infantil, os agravos econômicos refletem-se de
1930 36,5 35,7 37,3
maneira mais acentuada exatamente naqueles segmentos populacionais
Fonte: Santos, J. L. F. Demografia: estimativas e projeções: medidas de fecundidade e mortalidade para o Brasil no Século XX.
São Paulo: Universidade de São Paulo - USP, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo: Fundação para Pesquisa Ambiental, que já se encontram fragilizados, devido à sua menor condição
1978.
econômica, tornando-se, desta forma, menos resistente aos agentes
A Tabela 4 apresenta os valores desse indicador para os anos infecciosos. Observe-se que nas Regiões Sudeste e Sul a esperança de
posteriores a 1930 até 2007, para o País como um todo e suas vida praticamente se manteve inalterada, em torno de 57 anos e 60
regiões. É indiscutível a melhoria nos níveis de sobrevivência da anos, respectivamente. Durante esse período, melhoram as condições de
população brasileira a partir dessa data. Entre 1930/1940, a vida sobrevivência da população nordestina, com incrementos de cinco anos.
média da população brasileira passa a ser de 41,5 anos. Ou seja, O agravamento da crise econômica na década de
em 10 anos (1930/1940) os ganhos foram superiores aos observados 1965/1975, decorrente das causas enumeradas anteriormente, mas,
durante os primeiros 30 anos (5 anos contra 3 anos). As diferenças principalmente, em função dos ajustes na economia, refletiu-se
regionais já se refletiam nos distintos níveis de sobrevivência entre pesadamente sobre a sobrevivência da população e, particularmente
as populações residentes nas regiões brasileiras. O Nordeste, em na infantil, conforme será abordado adiante. Nesse período, constata-
1940, já apresentava os menores valores de esperança de vida ao se os menores ganhos na mortalidade. As Regiões Sudeste e Sul foram
nascer (36,7 anos) contra 49,2 anos no Sul, 47,9 anos no Centro- as mais afetadas, exatamente, por serem o núcleo hegemônico da
Oeste e 43,5 anos no Sudeste. economia nacional e, portanto, mais expostas aos efeitos das crises.
De certa forma, estas diferenças já eram reflexos não só da Esta estabilização teria se verificado também na esperança de vida ao
prioridade dos investimentos econômicos orientados para estas nascer, não só no Brasil, mas também nos países latino-americanos e
áreas, em detrimento do Nordeste, que, por isso, se transforma em em outras áreas não desenvolvidas.
área de expulsão populacional, mas, também, cabe mencionar, os A crise estrutural em suas dimensões econômica e institucional
impulsos dados ao sistema de saúde pública, à previdência social, à pela qual passava a sociedade brasileira, naquele período, foi, talvez, a
infraestrutura urbana, e à regulamentação do trabalho, principalmente principal causa da interrupção do processo de declínio da mortalidade.
nestas últimas regiões, que se inicia a partir dos anos de 1930. Esses Cabe lembrar, ainda, que o grande êxodo populacional rural e a
fatores institucionais, conjuntamente com os avanços da indústria pressão demográfica sobre os grandes centros urbanos foram muito
químico-farmacêutica, concorreram para o controle e redução de acentuados durante a década e representaram uma pressão adicional
várias doenças, principalmente as infectocontagiosas e pulmonares sobre os serviços de infraestrutura e de atendimento público (SIMÕES;
que, até então, tinham forte incidência sobre a população, com elevada OLIVEIRA, 1998).
incidência de letalidade. Este conjunto de ações atuou positivamente Entretanto, a partir de meados da década de 1970 retoma-se a
na população elevando sua vida média ao nascer. tendência de queda da mortalidade, tanto a geral como a infantil, em
Até meados da década de 1950, a esperança de vida ao nascer todos os países da América Latina. No caso do Brasil, a retomada do
aumentou cerca de 10 anos para o País como um todo, ao passar processo de declínio da mortalidade está associada, no âmbito das
de 41,5 anos para 51,6 anos, porém, de forma menos acentuada na políticas centralizadoras do regime militar, às ações representadas
Região Nordeste que teve um incremento de apenas quatro anos, pela expansão da rede assistencial e à ampliação acelerada
enquanto nas regiões do Centro-sul os ganhos alcançaram a cifra de 14 da infraestrutura de saneamento básico, sobretudo da rede de
abastecimento d’água, que tiveram o papel principal na continuidade
do processo (VETTER; SIMÕES, 1981).
5
Conceitualmente, a esperança de vida representa o número médio de anos que um recém-nascido
Como consequência da desconcentração e ampliação dos
esperaria viver se estivesse sujeito a uma lei de mortalidade observada em dada população durante
um dado período. serviços de saúde e saneamento e do aumento da escolarização,
Atlas Nacional do Brasil 117

começa a ocorrer uma redução significativa nos padrões históricos da fecundidade total (TFT)6 estão associados com estruturas etárias
desigualdade regional diante da morte no País. O Nordeste apresentou muito jovens e baixa proporção de pessoas idosas. Esta era a situação
os maiores aumentos da esperança de vida ao nascer durante o período brasileira até meados da década de 1960, momento que se inicia
de 1975 a 2000. A oferta de serviços de saneamento básico a áreas até a difusão dos métodos anticonceptivos no País, particularmente no
então excluídas, os programas de saúde materno-infantil, sobretudo Centro-sul. Até 1960, a taxa de fecundidade total era levemente
os voltados para o pré-natal, parto e puerpério, a ampliação da oferta superior a 6 filhos por mulher, caindo em 1970 para 5,8 filhos, em
de serviços médico-hospitalares, as campanhas de vacinação, os consequência da redução mais forte observada na Região Sudeste
programas de aleitamento materno e reidratação oral, entre outras (Tabela 6 e Gráfico 4).
iniciativas, em muito colaboraram para a continuidade da redução dos Por se tratar da região mais urbanizada do País, proporcionando
níveis de mortalidade infantil e infanto-juvenil, principalmente a partir um maior acesso aos meios existentes para evitar uma gravidez não
dos anos de 1980 (SIMÕES; OLIVEIRA, 1998). desejada, e dispor de um parque industrial e de uma rede de comércio
Este conjunto de ações que atuaram no sentido de reduzir e serviços, impulsionadores da economia nacional, que absorvia um
a mortalidade infantil e na infância, foi um dos fatores que muito número cada vez maior de mão de obra feminina, a Região Sudeste
contribuiu para o aumento da esperança de vida ao nascer, do Brasil foi a primeira a experimentar a maior redução no nível da
principalmente na Região Nordeste, durante os últimos 20 fecundidade: quase 2 filhos de 1960 a 1970.
anos, conforme foi mostrado em estudo recente, divulgado pela
Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS, do grupo de trabalho Tabela 6 - Taxas de fecundidade total, segundo as Grandes Regiões - 1940/2006

da Rede Interagencial de Informações para a Saúde - RIPSA (SIMÕES,

Sociedade e economia
Taxas de fecundidade total
2002). Ou seja, considerando o indicador “esperança de vida ao Grandes Regiões
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2006
nascer”, as diferenças regionais que foram elevadas durante a maior
parte do período analisado, reduziram-se significativamente ao final Brasil 6,2 6,2 6,3 5,8 4,4 2,9 2,4 2,0
Norte 7,2 8, 0 8,6 8,2 6,5 4, 2 3,2 2,5
do período (2000). Exemplificando, as diferenças entre o Nordeste e o Nordeste 7,2 7, 5 7, 4 7,5 6, 1 3,8 2,7 2, 2
Sudeste 5,7 5, 5 6,3 4,6 3,5 2,4 2,1 1,8
Sul em 1960/1970 que eram de 14,5 anos se reduzem para 5,7 anos Sul 5,7 5,7 5,9 5,4 3,6 2,5 2,2 1,9
em 2000, mantendo-se a tendência de redução durante o período de Centro Oeste 6,4 6,9 6,7 6,4 4,5 2,7 2,3 2,0

2000/2007, de tal forma que, neste último ano, as diferenças caem Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940/2000 e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2006.

para cinco anos.


Historicamente, as diferenças, por sexo, não eram importantes
(SIMÕES, 2002), até início dos anos 80 (Tabela 5), período em que
Gráfico 4 - Taxa de fecundidade total, por Grandes Regiões - 1940/2006
começam a adquirir significância, em praticamente todas as regiões
10,5
brasileiras, em decorrência, entre outras causas, da tendência de
aumento das causas violentas (homicídios, suicídios, acidentes de 9,0

trânsito, etc.) que passam a afetar, prioritariamente, o sexo masculino, 7,5

de tal forma que sua incidência chega a ser mais do que o triplo, em
6,0
relação ao sexo feminino.
4,5

Tabela 5 - Esperança de vida ao nascer, por sexo, 3,0


segundo as Grandes Regiões - 1980/2007
1,5
Esperança de vida ao nascer, por sexo
Grandes Regiões 1980 1991
0,0
Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2006

Brasil 62,5 59,6 65,7 66,9 63,2 70,9


Norte 60,8 58,2 63,7 66,8 63,7 70,3 Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Nordeste 58,3 55,4 61,3 62,9 59,6 66,3
Sudeste 64,8 61,7 68,2 68,8 64,5 73,4 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940/2000 e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2006.
Sul 66,0 63,3 69,1 70,3 66,7 74,3
Centro-Oeste 62,9 60,5 65,6 68,4 65,2 72,0

Esperança de vida ao nascer, por sexo


Nas Regiões Sul e Sudeste, o início da transição da
Grandes Regiões 2000 2007
Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres
fecundidade, de altos para baixos níveis, ocorre a partir dos primeiros
Brasil 70,4 66,7 74,3 72,5 68,8 76,4
anos da década de 1970, enquanto nas Regiões Norte e Nordeste
Norte 69,5 66,8 72,4 71,6 68,8 74,6 este fenômeno se verifica um pouco mais tarde, ou seja, início da
Nordeste 67,1 63,6 70,8 69,7 66,2 73,4
Sudeste 72,0 67,9 76,3 74,1 70,1 78,2 década de 1980, com a prática de uma política não “oficializada”
Sul 72,8 69,4 76,3 74,7 71,4 78,2
da esterilização, na medida em que a grande maioria das mulheres
Centro-Oeste 71,7 68,4 75,3 73,7 70,4 77,3
que se esterilizavam, a faziam na rede pública hospitalar, de acordo
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1980/2000 e Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para o Período 1980-2050 –
Revisão 2008. com dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde Materno-Infantil e
Planejamento Familiar 1986, realizada pela Sociedade Civil Bem-

A evolução das taxas de fecundidade total 6


Conceitualmente, a taxa de fecundidade total (TFT) representa o número médio de filhos nascidos
vivos, tidos por uma mulher ao final de seu período reprodutivo, na população residente em
Um dos componentes mais importantes da dinâmica determinado espaço geográfico. Esse indicador é o principal determinante da dinâmica demográfica,
não sendo afetado pela estrutura etária da população. Expressa a situação reprodutiva de uma
demográfica é a fecundidade, que afeta de maneira profunda as
mulher pertencente a uma coorte hipotética, sujeita às taxas específicas de fecundidade por idade,
estruturas etárias das populações. Níveis elevados das taxas de observadas na população em estudo, supondo-se a ausência de mortalidade nesta coorte.
118 Atlas Nacional do Brasil

Estar Familiar no Brasil - BEMFAM em conjunto com o Instituto para familiar e no papel desempenhado pelas mulheres também apresentam
Desenvolvimento de Recursos - IRD, e da Pesquisa Nacional de um peso na consolidação de um comportamento reprodutivo em níveis
Demografia e Saúde 1996, também de responsabilidade da BEMFAM. reduzidos de fecundidade.
Durante a década de 1980, manteve-se o ritmo de declínio,
chegando em 2000 à taxa de 2,4 filhos por mulher e à de 2,0 em A evolução das taxas de mortalidade infantil 7
2006, valor este indicativo de que a fecundidade no País já se Uma outra variável que vem experimentando, no Brasil - numa
encontra no chamado nível de reposição. Trata-se de um vertiginoso perspectiva positiva -, alterações profundas é a mortalidade infantil.
e espetacular declínio num tempo tão reduzido (30 anos), quando Após a divulgação dos resultados do Censo Demográfico 2000,
comparado com a experiência anterior dos países desenvolvidos, referentes aos temas Nupcialidade, Fecundidade e Mortalidade Infantil,
cujo processo teve uma duração de aproximadamente um século para foi realizado um amplo trabalho de pesquisa sobre as atividades que
atingir patamares bastante similares. estão sendo desenvolvidas pela Pastoral da Criança, Programa Saúde
Em termos das diferenças regionais, as Regiões Norte e da Família - PSF e do Fundo das Nações Unidas para a Infância
Nordeste, justamente as mais ruralizadas do País, lideravam (United Nations Children´s Fund - UNICEF), além de programas como
o ranking da fecundidade alta. Em 1970, essas duas regiões o Bolsa Família, junto às comunidades mais carentes, principalmente
apresentavam taxas de fecundidade superiores a 8 filhos por mulher, nos municípios do Nordeste. O monitoramento das crianças desde
enquanto a Região Sudeste já apresentava valores abaixo dos 5 o nascimento é um fato concreto e prioritário, concluindo-se, a
filhos por mulher. O processo de declínio da fecundidade, sobretudo partir das informações disponíveis, que estão ocorrendo melhorias
a partir dos anos de 1980, generalizou-se por todas as regiões e inquestionáveis nas condições de saúde e sobrevivência nas faixas
Sociedade e economia

grupos sociais, de tal forma que, em 2000, mesmo as regiões que etárias de crianças em idade infantil e na infância8.
antes tinham fecundidade elevada, experimentaram um notável Uma visão geral do quadro da evolução da mortalidade infantil
decréscimo de seu valor. Desse modo, em 2000, a fecundidade é apresentada no Gráfico 5, considerando o País como um todo e cada
das mulheres nordestinas reduz-se a 2,6 filhos, valor este bem uma das regiões brasileiras, a partir dos anos de 1930. A configuração
próximo daquele observado nas Regiões Sul, Sudeste e Centro- de distintas trajetórias da mortalidade infantil entre as regiões brasileiras
Oeste. Estas últimas regiões, inclusive, já podiam ser consideradas é um fato incontestável. Enquanto as Regiões Centro-Oeste, Sudeste e
como tendo atingido níveis de reposição, pois o valor de suas taxas Norte mostravam, já antes de 1940, tendências lentas de declínio da
de fecundidade total estava em torno de 2,1 filhos por mulher, mortalidade, a Região Nordeste e, principalmente, a Sul apresentavam
sendo que, em 2006, os valores já estão abaixo desse parâmetro. As níveis estáveis, com a diferença fundamental de que, nesta última
demais regiões também continuam mantendo a tendência de queda, região, por razões históricas relacionadas com colonização, com a
sendo que a taxa de fecundidade total das mulheres nordestinas importante contribuição dos fluxos de migrantes europeus na estrutura
ao atingir o nível de 2,2 filhos, em média, por mulher em 2006, populacional da região, seus níveis eram significativamente menores.
converge também para o nível de reposição. Na Região Nordeste, por exemplo, somente ao final da década
É importante ressaltar que o decréscimo nacional e o regional de 1940, começa a se observar tendências na redução da mortalidade
da fecundidade vêm ocorrendo em todos os estratos sociais. A infantil, mesmo assim, num ritmo inferior ao das demais regiões.
variável educação da mãe tem sido uma das principais variáveis Pode ser notada, com pequenas variações, a estabilidade dos
socioeconômicas a receber atenção especial nos estudos, tanto de níveis de mortalidade durante o período 1955/1970, reflexo da crise
mortalidade como de fecundidade, por ser um fator importante na estrutural, em suas dimensões econômica e institucional, passada pela
transformação de conduta da mulher frente à reprodução, além de ser sociedade brasileira, durante aquele período.
proxy de condição socioeconômica. Além disso, a educação influencia As Regiões Sudeste e Sul foram as mais afetadas, inclusive com
o comportamento da mãe desde a gravidez até a criação dos filhos. A aumentos da mortalidade infantil, durante o período de 1955/1960 e
adoção de práticas mais sadias e a maior percepção quanto ao cuidado 1965/1970, em consequência de algumas das seguintes possíveis causas:
e trato de higiene e de saúde dos filhos, e um maior poder de decisão  Uma substancial redução do poder de compra do salário
da mãe mais instruída dentro do domicílio, sobretudo em relação à mínimo que caiu em cerca de 45% durante o período de
proteção das crianças, estariam por detrás do papel da educação da 1959 a 1974;
mãe, na melhoria das condições de sobrevivência das crianças, mas
também na redução dos níveis de fecundidade. 7
A taxa de mortalidade infantil corresponde à frequência com que ocorrem os óbitos infantis (menores
Resumindo, a partir dos resultados apresentados, pode-se inferir de 1 ano de idade) em uma população em relação ao número de nascidos vivos em determinado
ano civil. Estima o risco de morte dos nascidos vivos durante o seu primeiro ano de vida.
que o aumento da instrução feminina, que se observa no decorrer 8
Um exemplo dessa melhoria foi retratado na pesquisa Chamada Nutricional, realizada, em 2005, pelos
das últimas duas décadas, é um condicionante que vem atuando Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e da Saúde, em parceria com prefeituras,
governos estaduais, universidades públicas e o UNICEF, e que deu origem à publicação Chamada
no sentido da redução do número de filhos, numa perspectiva de nutricional: um estudo sobre a situação nutricional das crianças do semi-árido brasileiro, divulgada
um melhor posicionamento na estrutura da sociedade, na medida em 2006. O resultado da pesquisa mostrou que a desnutrição infantil na região do Semiárido, uma
das mais pobres do País, vem caindo de forma expressiva. O estudo revelou que 6,6% das crianças
em que o custo de uma família numerosa é mais elevado. Por outro com até cinco anos de idade que vive na região sofrem de desnutrição crônica (déficit de altura). O
índice é 11 pontos percentuais menor que o registrado em 1996, em pesquisa semelhante realizada
lado, independentemente da melhoria da escolaridade, como fator no Nordeste brasileiro, quando o percentual era de 17,9%. Foram avaliadas 17 mil crianças com até
de redução da fecundidade, o que vem se notando é que mesmo nos cinco anos de idade de 307 municípios do Semiárido, composto por oito estados da Região Nordeste
e do norte de Minas Gerais. De acordo com a pesquisa, quanto maior a renda da família, menor é
segmentos menos instruídos, os níveis de fecundidade também se o índice de desnutrição infantil. Enquanto na classe “E”, 10% das crianças apresentavam quadro de
reduziram intensamente, indicativo de que expressivas parcelas da desnutrição crônica, na classe “D”, esse índice é de 6,8% e na classe “C” é de 2,5%. Entre as crianças
das famílias que fazem menos de três refeições por dia, o índice de desnutrição crônica chegava a
população pobre vêm, nas últimas décadas, incorporando padrões 16,4%, três vezes maior do que entre as crianças que fazem três refeições ou mais - 5,8%. O estudo
apontou que a alimentação regular é fator preponderante para reduzir a desnutrição infantil, segundo
de comportamento reprodutivo típicos de segmentos da classe média
o professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo - USP, Carlos Augusto
moderna. Aspectos culturais relativo às mudanças na organização Monteiro, que coordenou a análise dos dados.
Atlas Nacional do Brasil 119

 A profunda concentração de renda que foi uma característica de 35%. Esta maior velocidade no declínio da mortalidade infantil
que acompanhou a evolução da economia brasileira; e que vem se observando na Região Nordeste, explica a redução dos
 A deterioração de certos serviços básicos, a exemplo do diferenciais entre esta região e a Sul.
saneamento. Esta tendência de queda se mantém ao longo dos anos do
presente século, tendo em vista não só as tendências passadas, de
Gráfico 5 - Taxa de mortalidade infantil, por Grandes Regiões - 1930/2000 tal forma que, em 2009, as estimativas do IBGE são da ordem de
220,0 22,5‰ óbitos infantis para cada 1 000 nascidos vivos. Nas Regiões
200,0
Sudeste e Sul, os níveis caminham na direção de valores próximos
180,0
a 15‰ (16,6‰ e 15,1‰, respectivamente), enquanto a Região
160,0
Nordeste permanece com valores mais elevados (33,2‰), embora
140,0

120,0
também em queda.
100,0 Uma síntese da situação da mortalidade infantil no espaço
80,0 nacional é apresentada nos mapas a seguir, considerando o conjunto
60,0 das Microrregiões Geográficas, para as quais elaboramos algumas
40,0 estimativas para os anos de 1980, 1990, 2000 e 20099
20,0
Observam-se as profundas mudanças ocorridas nos valores
0,0
1930 1935 1940 1945 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
da mortalidade infantil ao longo dos últimos 30 anos, quando se
considera sua situação em nível microrregional. Se, no início da

Sociedade e economia
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
década de 1980 e 1990, era bastante significativo o número de
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940/2000 e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2004-2006. microrregiões que apresentavam elevada mortalidade (superior
a 40‰), ao final desta última década, esse número cai de forma
É importante destacar que as diferenças regionais entre a consistente, a ponto de, em 2009, existirem apenas 35 microrregiões
mortalidade infantil, embora razoavelmente acentuadas no passado, - a maioria pertencente ao Estado de Alagoas -, que mostravam taxas
tiveram mantidos os seus diferenciais à medida que se evoluía ao de mortalidade infantil com valores superiores a 40‰, sendo que na
longo do tempo. Entretanto, a trajetória da mortalidade nordestina, Microrregião Serrana do Sertão Alagoano, o valor da taxa alcança
por apresentar velocidade de queda menor que as demais regiões, 61,2‰. As demais microrregiões da Região Nordeste, de um modo
principalmente até o final da década de 1980, contribuiu para um geral, exibem mortalidade infantil superior à média nacional (22,5‰),
aumento do diferencial em relação às demais regiões, indicando um com predominância de valores superiores a 30‰.
afastamento cada vez maior. Por outro lado, com raras exceções, a grande maioria das
Comparados os valores da mortalidade infantil nordestina microrregiões que compõem o espaço da Região Norte exibiam valores
com o padrão mais baixo da Região Sul, as diferenças que eram de bem próximos à média do País.
60,0%, em 1930, e que se mantêm mais ou menos nesse patamar, De um modo geral, uma proporção importante das microrregiões
durante as décadas seguintes, começam a subir, a partir dos anos 80, brasileiras (28%), situadas em sua maioria nos estados do Centro-sul
para 150,3% e, ao final dessa década, alcançam 170,0%. A Região do País, exibem, em 2009, níveis de mortalidade infantil inferiores a 15
Norte, embora com intensidade menor, seguiu tendência similar, ‰, enquanto em 1980 e 1990 - períodos em que a mortalidade infantil
provavelmente, em decorrência dos grandes fluxos migratórios que se iniciava tendência de queda mais acentuada -, era nulo o número de
dirigiram inicialmente para sua área de fronteira, sobretudo, a partir microrregiões que se enquadravam nesse patamar (Tabela 7 e mapas
dos últimos anos da década de 1970 e início de 1980. Posteriormente, sobre mortalidade infantil).
com a saturação dessas áreas, inicia-se um processo de deslocamentos As mudanças só começam a aparecer a partir de meados da
para as capitais e periferias urbanas da região, que na ausência de década de 1990 e retratadas no Censo Demográfico 2000, quando
investimentos na infraestrutura urbana, levou a uma deterioração dos algumas microrregiões (10%) se enquadravam nesse primeiro
mesmos agravados pela ausência de criação de empregos na economia intervalo de 15 óbitos infantis por 1 000 nascidos vivos, chegando a
formal, com implicações fortes nas condições de vida e sobrevivência 2009 com uma proporção de 28% das microrregiões. São situações
desses grupos populacionais. em que a mortalidade infantil está próxima de padrões típicos de
As demais regiões já tendiam em níveis similares, com valores países mais igualitários, ou seja, com mortalidade compreendida
em torno de 30,0‰, em 1990, conquanto ainda bastante elevados, se entre 9 e 20‰. As diferenças entre as microrregiões dos estados do
considerarmos a média existente em países desenvolvidos. Centro-sul e do Nordeste, em especial, reforçam as análises anteriores
Durante a década de 1990, o quadro da mortalidade indicando que o desenvolvimento econômico e social, acompanhado
infantil começa a se alterar, observando-se reduções importantes dos investimentos em infraestrutura básica e do acesso a esses bens,
nos diferenciais entre as regiões. Para o Brasil como um todo, a por parte dos distintos segmentos populacionais, não se deu de
mortalidade declina de 48 óbitos de menores de 1 ano, observado forma igualitária, resultando em velocidades distintas de queda da
em 1990, para 28,6 óbitos infantis por 1 000 nascidos vivos, em mortalidade entre essas áreas10.
2000. Ou seja, uma queda de aproximadamente 40%. A Região
Nordeste, que apresentava uma taxa de mortalidade infantil de 9
De acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS (World Health Organization - WHO), as
taxas de mortalidade infantil são geralmente classificadas em altas (50 ou mais óbitos por 1 000
75,8‰ no início da década, chega ao final com uma taxa de nascidos vivos), médias (20 a 49 óbitos por 1 000 nascidos vivos) e baixas (menos de 20 óbitos
41,4‰, um declínio de 45%, o maior dentre as regiões analisadas. por 1 000 nascidos vivos).
10
Chama atenção a situação específica do Rio Grande do Sul, onde de um total de 35 microrregiões
À exceção do Norte, que apresentou um declínio de 40,0%, nas
cerca de 65,7% (23) apresentam, para o ano de 2009 uma taxa estimada de mortalidade infantil
demais regiões as quedas durante a década se situaram em torno inferior a 12‰.
120 Atlas Nacional do Brasil
Tabela 7 - Microrregiões, total e respectiva proporção, tradicionais era menos disseminado, impactando na queda das taxas
segundo as classes de taxas de mortalidade infantil - 1980/2009
de crescimento populacional, em um período relativamente curto.
Microrregiões
Este significativo avanço no uso de métodos destinados à
Classe de taxas de 1980 1991 2000 2009
mortalidade infantil autorregulação da fecundidade ocorreu e vem, ainda, se dando de
Proporção Proporção Proporção Proporção
Total
(%)
Total
(%)
Total
(%)
Total
(%) formas variadas. Por um lado, é o resultado de efeito demonstração
Total 556 100,0 556 100,0 556 100,0 556 100,0 e de iniciativas espontâneas das próprias mulheres. Por outro lado
Até 15 - - - - 56 10,1 156 28,1
foi, inicialmente, fruto da ação e políticas de difusão, originadas
15,1 a 25,0 - - 28 5,0 256 46,0 2 70 48,6
25,1 a 40 30 5,4 234 42,1 155 27,9 117 21,0 de associações e entidades voltadas para o planejamento e bem-
40,1 e mais 526 94,6 294 52,9 89 16,0 13 2,3
estar familiar, sendo que a participação de órgãos governamentais
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1980/2000. ocorreu num período mais recente, particularmente, a partir de
É importante chamar atenção que esses fatores ainda são um meados da década de 1990. Os meios de comunicação, por sua
obstáculo importante à diminuição mais intensa da mortalidade vez, têm funcionado como um poderoso indutor de tais práticas,
infantil no País, mesmo naquelas unidades espaciais onde ela é moldando padrões familiares compatíveis com um tamanho
relativamente baixa, quando comparada aos níveis existentes nas reduzido de filhos
áreas do Nordeste. Uma maior velocidade de queda da mortalidade Ou seja, o Brasil, em menos de 30 anos, realiza sua Transição
infantil vai depender da solução de um conjunto de problemas Demográfica, com redução significativa das taxas de crescimento
que continuam persistindo no País e que estão relacionados, populacional e mudanças importantes em sua estrutura etária. O
por um lado, com desigualdades regionais e, por outro, com impacto dessas mudanças é o objeto da seção seguinte.
Sociedade e economia

desigualdades sociais observadas dentro de cada região e/ou estado.


Estes dois tipos de desigualdade, resultado do distinto processo de O impacto da transição demográfica sobre as
desenvolvimento regional verificado historicamente no País, foram estruturas etárias
determinantes para as diferentes velocidades de queda nos níveis Conforme visto, o Brasil vem passando por mudanças
de mortalidade infantil constatadas entre as regiões brasileiras, mas, profundas na reprodução de sua população, onde os níveis atuais
também, das diferenças na mortalidade entre as microrregiões e das taxas de fecundidade total já apontam para um padrão de
grupos sociais de um mesmo estado. convergência, entre os distintos estratos sociais, rompendo com
situações de desigualdades históricas, prevalecentes até meados da
Novos cenários demográficos decorrentes das década de 1990.
alterações dos padrões de reprodução no Brasil e seus Uma inferência lógica resultante das alterações nos padrões
impactos sobre as políticas sociais demográficos que vêm ocorrendo no País, especificamente nos níveis
Nos capítulos anteriores, apresentou-se um conjunto de de fecundidade, diz respeito a seus intensos efeitos sobre as estruturas
informações apontando para mudanças profundas no regime de distribuição etária da população.
demográfico brasileiro, que se manifestou, entre outros aspectos, pela Até o final dos anos de 1970, a estrutura etária da população
redução das taxas de crescimento demográfico, decorrentes do declínio brasileira era predominantemente jovem, resultado de um padrão
acentuado dos níveis de reprodução da família brasileira e de seu histórico em que os níveis de fecundidade permaneciam elevados.
impacto no perfil etário da população (MARTINE, 1994). Entretanto, a partir dos anos de 1980, em decorrência do declínio
Ao se reconstituir a evolução demográfica, mostrou-se que a dos níveis de reprodução, começa a adquirir visibilidade um
população brasileira crescia a taxas em torno de 3% ao ano (1950/60), estreitamento da base da pirâmide, com reduções significativas
consequência das elevadas taxas de fecundidade prevalecentes até do número de crianças e adolescentes no total da população. Essa
a década de 1980 e dos ganhos progressivos de anos de vida da tendência se intensifica nas décadas seguintes, quanto à diminuição
população, decorrentes da redução da mortalidade, viabilizado por um relativa do número de crianças, acrescenta-se, inicialmente,
conjunto de ações na área das políticas de saúde pública e introdução um pequeno aumento em termos absolutos, em decorrência da
de medicamentos no período pós-guerra. Papel importante tiveram os chamada inércia demográfica e uma posterior diminuição, a partir
programas voltados para a melhoria das condições de saneamento nas do ano de 2000.
áreas urbanas, em um momento de migração da população das áreas As estruturas das pirâmides ainda revelam o peso de coortes
rurais para as urbanas, e que vai repercutir, fortemente, no aumento etárias provenientes de nascimentos de períodos em que a fecundidade
crescente da população urbana no País. ainda era elevada, de tal modo que, a partir de 1991 percebe-se,
Como exemplo das mudanças social, econômica e cultural nitidamente, o salto no crescimento, em termos relativos e absolutos,
no período, podemos citar o aumento gradual dos níveis de da população em idade ativa (15 a 59 anos), ou seja, os chamados
escolarização, o ingresso progressivo da mulher no mercado jovens e adultos (Gráficos 6 e 7). Em termos absolutos, o total da
de trabalho, a difusão de novos padrões de família e consumo. população deste grupo etário pulou de 86,8 milhões para 106,4
Do ponto de vista demográfico, também teve papel destacado milhões, ou seja, um incremento de 20 milhões, numa fase que
neste processo a produção industrial de meios anticonceptivos, coincide com mudanças cíclicas na economia e reestruturação do
bem como sua aceitação por parte de expressivo contingente de mercado de trabalho. Nesse período, o crescimento do número de
mulheres interessadas na autorregulação de sua fecundidade. Nos idosos11 já se faz notar de forma mais nítida.
anos de 1980, além dos contraceptivos estarem em permanente
aperfeiçoamento, juntou-se a banalização das cirurgias voltadas 11
A definição de idoso como pessoa de 60 anos ou mais de idade é estabelecida na legislação
brasileira, através da Lei n 8.842, de 4 de janeiro de 1994, regulamentada pelo Decreto n
para a esterilização, cujos efeitos nos níveis de fecundidade foram
1.948, de 3 de julho de 1996, que dispõe sobre a política nacional do idoso. A OMS também vem
imediatos, principalmente naquelas regiões onde o uso dos métodos adotando esse critério para esse grupo específico.
Atlas Nacional do Brasil 121

A participação relativa do grupo de pessoas menores de 15


Gráfico 6 - Composição, por sexo e idade - Brasil - 1940/2050
90
anos no total da população, que se manteve estável entre 1940-1970
80
(42%), inicia um processo de declínio, chegando em 2000 com uma
Homens Mulheres
proporção de 29,8%. Ou seja, uma redução relativa de 30%. Essa
70
queda se contrapõe não só aos segmentos populacionais em idade
60
adulta, mas também de idosos, que elevaram suas participações .
50 Estas informações são extremamente importantes, na medida
40 em que o País terá a oportunidade de se defrontar nos próximos
30
20 anos com um crescimento da população em idade de trabalhar,
fenômeno que pode ser descrito como um “bônus demográfico”
20
- termo, recentemente, bastante utilizado entre os demógrafos -,
10
para chamar atenção dos gestores das políticas públicas, quanto
0
10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 à necessidade de se aproveitar esse período favorável, em relação
Idades
à disponibilidade de mão de obra para tentar equacionar entraves
Censo 1940 Censo 1970 Censo 1980 Censo 1991 Censo 2000 Projeção 2020 Projeção 2050
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940/2000 e Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para o Período 1980-2050 – relacionados ao processo de desenvolvimento e a novos problemas
Revisão 2008.
que poderão surgir como reflexo das alterações demográficas, a
exemplo, do processo de envelhecimento que deverá se intensificar
Gráfico 7 - População, por grupos de idade - Brasil - 1940/2050 (WONG; CARVALHO; PERPÉTUO, 2009).

Sociedade e economia
1 000 pessoas
139,2
Finalmente, apresentam-se alguns indicadores elaborados,
137,3

134,4
relacionando estes três grupos etários (menores de 15 anos, 15 a 59 anos
124,5

122,9
e 60 anos e mais) de forma a proporcionar uma avaliação das alterações
106,4

ocorridas no decorrer dos anos e tendências futuras (Gráfico 9).


86,8

Gráfico 9 - Razão entre os menores de 15 anos de idade e os de 60 anos ou mais de idade,


66,0

64,1

economicamente dependentes e o segmento potencialmente ativo de 15 a 59 anos


52,1
52,0

de idade e índice de envelhecimento - Brasil - 1940/2050


51,0

49,4
49,1

45,4

40,5
41,6
39,1
36,8

36,8

226,3
32,6
29,9

28,3

28,3
27,9
21,9

21,7

19,3
17,5

13,9
10,2
7,2
4,7
3,3
1,7

2,2

159,7
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 2020 2030 2040 2050

0 a 14 anos 15 a 59 anos 60 anos ou mais 110,1

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940/2000 e Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para o Período 1980-2050 – 87,5 85,5 90,2 89,3 79,7
Revisão 2008. 75,1
79,9 77,6 81,1 79,7 71,7 61,0 68,1 55,5 63,0
68,8 55,2
59,9 50,9
48,0 52,1
39,7 38,7
27,3 30,3 29,1
39,0
A presença crescente da chamada terceira idade é uma realidade 9,5 10,1 11,1 12,1
15,8 19,7
20,6
26,4 24,2
23,0
7,6 7,9 9,0 9,6 13,1 15,5
10,9 11,8
que já dá para ser observada no cotidiano da sociedade brasileira. O grupo
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 2020 2030 2040 2050
populacional de mais de 60 anos praticamente quintuplica, em termos
absolutos, entre 2000 e 2050, passando de 13,9 para 64,1 milhões. Não é Total Menores de 15 anos 60 anos ou mais Índice de envelhecimento
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940/2000 e Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para o Período 1980-2050 –
difícil imaginar as formas das futuras pirâmides etárias, com diminuições Revisão 2008.

sucessivas de contingentes na sua base e aumentos sucessivos nas idades


posteriores, até atingir a forma de uma estrutura piramidal estável, em que Um primeiro indicador, que se chamará razão de dependência
praticamente todos os grupos etários seriam de igual magnitude. O Gráfico total, relaciona a população em idade inativa (menores de 15 anos
8 fornece uma boa proxy desta situação possível. e os de 60 anos ou mais) com o total da população potencialmente
em idade ativa (15 a 59 anos). Este indicador reflete o peso ou “carga
Gráfico 8 - Proporção da população, por grupos de idade,
em relação ao total da população - Brasil - 1940/2050 econômica” do grupo de menores de 15 anos e de idosos, sobre
% o segmento populacional que “deveria” estar exercendo alguma
66,3
64,3

64,3

atividade produtiva.
62,1

61,4
58,2

57,1

Examinando a trajetória desse indicador, observa-se que até


55,7
53,9
53,3

52,8
52,6

1970 a “carga econômica” da população em idade ativa apresenta


42,7
42,6

42,1
41,8

uma tendência crescente, declinando, principalmente, a partir da de


38,3

34,9

1980, quando a fecundidade começa a apresentar queda consistente


29,8

29,8
25,5

em todo o País, independentemente dos estratos sociais. Nesse ano,


23,8
20,1

18,7

por exemplo, cada 100 pessoas em idade ativa teriam, teoricamente,


17,0

14,9
13,7

13,1

que trabalhar para suprir as necessidades de 80 inativos. Em 2000, essa


10,0
8,1
6,9
6,1
5,1
4,7
4,2

relação cai para 61 pessoas em idade inativa. Ou seja, num quadro


4,1

1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 2020 2030 2040 2050 ideal de pleno emprego, a nova configuração demográfica poderia
0 a 14 anos 15 a 59 anos 60 anos ou mais
estar produzindo uma situação em que a população potencialmente
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940/2000 e Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para o Período 1980-2050 –
ativa brasileira não estaria exposta a altos níveis de desgastes físico e
Revisão 2008. mental (bônus demográfico), podendo estar dedicando parte do tempo
122 Atlas Nacional do Brasil

em atividades várias, como as de leitura e lazer, minimizando os riscos CHAMADA nutricional: um estudo sobre a situação nutricional
de violência e sequelas decorrentes. das crianças do semi-árido brasileiro. Brasília, DF: Ministério do
Note-se que essa carga econômica apresenta tendência de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Secretaria de Avaliação
redução até 2020, chegando-se a um valor de 51,0 inativos para cada e Gestão da Informação, 2006. 114 p. (Cadernos de estudos
100 pessoas em idade ativa. Tal tendência poderá começar a se reverter desenvolvimento social em debate, n. 4).
a partir dessa data, principalmente, em função do aumento, tanto no
volume em termos absolutos (35,7 milhões) como nos percentuais da MARTINE, G. (Coord.). Mudanças recentes no padrão demográfico
população idosa (29,8%). A responsabilidade de sustentar o contingente brasileiro e implicações para a agenda social. Brasília, DF: Instituto de
crescente de idosos aumentará, passando de 13,1 para 20,6 em cada Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, 1994. 50 p. (Texto para discussão
100 pessoas em idade ativa, durante o período 2000/2020 e chegando n. 345). Disponível em: <http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/
a 52 idosos para cada 100 em idade ativa, no ano de 2050. Em relação PopPobreza/MartineCarvArias.pdf>. Acesso em: set. 2010.
às crianças e aos adolescentes que constituem o grupo de menores
de 15 anos, o movimento é exatamente oposto, visto que, em 1980, a PESQUISA nacional sobre saúde materno-infantil e planejamento
dependência econômica em relação a este grupo específico era de 68,8 familiar. Rio de Janeiro: Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil
para cada 100 pessoas em idade ativa, caindo essa relação para 48,0 em - BEMFAM: Instituto para Desenvolvimento de Recursos - IRD, 1987.
2000 e com projeção de chegar em 2020 com apenas 30,3 crianças e 234 p.
adolescentes (menores de 15 anos ) e reduzindo-se para 23,0 em 2050.
A consequência destas distintas tendências, seguidas por estes SANTOS, J. L. F. Demografia: estimativas e projeções: medidas de
Sociedade e economia

grupos etários específicos (população de menores de 15 anos e os fecundidade e mortalidade para o Brasil no Século XX.. São Paulo:
de 60 anos e mais de idade), é um aumento constante no índice Universidade de São Paulo - USP, Faculdade de Arquitetura e
de envelhecimento da população brasileira. Se, na fase inicial da Urbanismo: Fundação para Pesquisa Ambiental, 1978. 71 p. (Cadernos
transição da fecundidade, o índice era de apenas 12 idosos para cada de estudo e pesquisa, 1).
100 pessoas menores de 15 anos de idade, em 2000 passa para 27,3,
e a partir de 2010 inicia-se uma inversão nesse quadro, com um SIMÕES, C. C. da S. Perfis de saúde e de mortalidade no Brasil: uma
momento em que o número de idosos (pessoas de 60 anos e mais de análise de seus condicionantes em grupos populacionais específicos.
idade) começa a ultrapassar o número de pessoas menores de 15 anos, Brasília, DF: Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS, 2002. 141
chegando-se, em 2050, a uma estimativa de 226 idosos para cada 100 p. Disponível em: <http://www.opas.org.br/sistema/arquivos/perfis.pdf>.
crianças e adolescentes. Acesso em: set. 2010.
Em síntese, em decorrência das informações apresentadas sobre
a nova dinâmica demográfica que deverá prevalecer para as próximas ______. A transição da fecundidade no Brasil: análise de seus
décadas, é necessário um permanente acompanhamento desse determinantes e as novas questões demográficas. Brasília, DF: Fundo de
processo, tendo-se bem claro a dimensão, características e tendências População das Nações Unidas, 2006. 140 p.
evolutivas das componentes populacionais, elementos fundamentais
para a mensuração e seleção correta dos grupos de risco ou das SIMÕES, C. C. da S.; OLIVEIRA, L. A. P. de. Perfil estatístico de crianças
populações-alvo. e mães no Brasil: a situação da fecundidade: determinantes gerais e
Fica claro que a transição demográfica que o País vem características da transição recente. Rio de Janeiro : IBGE, 1988. 63 p.
vivenciando afeta diferentemente os distintos grupos etários, para os
quais deverão ser buscadas soluções específicas, saúde e educação de ______. A saúde infantil na década de 90. In: A INFÂNCIA brasileira
qualidade, no caso de crianças e jovens; emprego, no caso dos jovens nos anos 90. Brasília, DF: Fundo das Nações Unidas para a Infância -
e adultos e atenção médico-psicológica e fortalecimento dos programas UNICEF, 1998. p. 57-80.
previdenciários, no caso dos idosos.
Ignorar a evolução e as contradições do processo de mudanças VETTER, D. M.; SIMÕES, C. C. da S. Acesso à infra-estrutura de
demográficas constituem uma grave lacuna na capacidade de reflexão saneamento básico e mortalidade. Revista Brasileira de Estatística, Rio
sobre as condições de vida e reprodução da população brasileira e, de Janeiro: IBGE, v. 42, n.165, p.17-35, jan./mar. 1981. Disponível
em especial, de seus contingentes mais pobres. Além disso, dificulta a em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/colecao_digital_publicacoes.php>.
utilização de instrumentais adequados para a formulação de políticas e Acesso em: set. 2010.
dispêndios socialmente eficazes de recursos.
WONG, L. R. CARVALHO, J. A. M. de.; PERPÉTUO, I. H. O.
Referências Análise da transição da estrutura etária. In: DEMOGRAFIA e saúde:
contribuição para análise de situação e tendências. Brasília, DF:
BRASIL: pesquisa nacional sobre demografia e saúde 1996. Rio de Janeiro: Rede Interagencial de Informações para Saúde - RIPSA: Organização
Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil - BEMFAM, 1997. 182 p. Pan-Americana da Saúde - OPAS, 2009. p. 18-22. (Série G.
Estatística e informação em saúde. Série Informe de situação
CENSO DEMOGRÁFICO 2000. Nupcialidade e fecundidade: e tendências). Disponível em: <http://new.paho.org/bra/index.
resultados da amostra. Rio de Janeiro, IBGE, 2003. 218 p. Acompanha php?gid=457?&option=com_docman&task=doc_download>. Acesso
1 CD-ROM. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ em: set. 2010.
populacao/censo2000/nupcialidade_fecundidade/censo2000_
fecundidade.pdf>. Acesso em: set. 2010. ...........................................

Você também pode gostar