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Tavares
E mais adiante conclui: “A filosofia é, portanto, a ciência geral; mas não uma
bacia de captação. Ora, aquilo que a cosmovisão é para o conhecimento não-
científico, a filosofia é para o conhecimento científico”. Primeiramente, é
interessante notar que embora tenham apresentado de forma magistral a
proeminência da cosmovisão sobre o homem na sua totalidade, os
neocalvinistas não foram os primeiros a confrontarem a pretensa objetividade e
neutralidade das ciências. Kant, embora merecedor de várias críticas (já que
sua ideia gnóstica de autonomia acabou por culminar na autosoteria dos
movimentos protestantes liberais e experimentais ou carismáticos), já dizia que
a ciência não pode ser objetiva, já que o cientista é um sujeito. Curiosamente
alguns experimentos da mecânica quântica apontam para a influência mesma
do observador sobre o objeto analisado.
Nesse sentido, embora não possamos (como já disse Vollenhoven) cair nas
armadilhas do binômio pagão forma-conteúdo, também não nos é possível
negar a inerência desses dois conceitos que formam a totalidade da estrutura e
a condição mesma de existência do objeto. Ademais, negar a tensão entre
produção e intenção é ignorar simultaneamente dois planos da criação. Nos
dizeres de Albert M. Wolters, temos a estrutura (da qual a filosofia se ocupa) e
a direção (da qual, por seu turno, a teologia se ocupa) das coisas. A primeira
diz respeito às coisas tais como elas são; a segunda, para onde as coisas se
dirigem. O próprio Dooyeweerd, criticando o conceito aristotélico de substância,
cunhou o termo traduzido por “sentido”.
Passando ao segundo ponto elencando pelo sr. Rodolfo, ele diz não se
coadunar com o pensamento conservador. É lícito admitir que nos
encontramos no outro lado do espectro político, pois embora saibamos que
nenhuma tradição política se enquadra ou identifica perfeita e completamente
com o Reino de Deus, pode-se afirmar de maneira tranquila que o
conservadorismo, com seus princípios da prudência e da continuidade das
tradições, não somente não se opõe ao cristianismo (como é o caso do
socialismo “científico”) como, em alguns aspectos, se conforma ao pensamento
cristão. Basta citar aqui os nomes de Edmund Burke, Rousas John Rushdoony,
Russell Kirk, T.S. Eliot e G.K. Chesterton. Curiosamente, o título da aula de
Roger Scruton no Coleridge Lectures era “Ame teu próximo”, demonstrando
como o conservadorismo parte primordialmente do amor aos que já se foram (a
“democracia dos mortos” nas palavras de Burke), na alegria com os homens do
presente e na preocupação terna para com os que ainda virão.
Não obstante, tal questão não pertence ao nosso interesse presente, pois o
que de fato nos chama a atenção é a citação da pesquisa que demonstra que a
maioria dos acadêmicos possuem tendências progressistas, numa proporção
descomunal quando comparada aos acadêmicos conservadores.
Desconhecemos essa pesquisa e seus dados completos; mas partindo do
pressuposto de que seja real (e não há razão alguma para duvidar disso), trata-
se apenas de uma demonstração da efetividade do marxismo cultural, que
hodiernamente já dominou a academia quase por inteiro. O que, ironicamente,
acaba sendo evidência para a ideia de que as provas de ingresso universitário
são simplesmente mapeamentos e preliminares ideológicas, pois há duas
alternativas: ou a academia é um centro de marxização do pensamento, de
modo que a maioria dos que nela adentram são doutrinados mediante todos os
instrumentos cognitivos e sociais disponíveis, transformando-se em “agentes
de transformação social”, isto é, idiotas úteis; ou coincidentemente a academia
tem uma predileção por professores progressistas (o que também explicaria a
ocupação da maioria das cátedras).
O mais assustador, todavia, é a seguinte observação feita pelo sr. Rodolfo, que
revela como nosso país se encontra inconsciente das várias tradições do
pensamento político conservador:
“Isto gera outro ponto, o de que quase não há pesquisa e material didático ou
publicações específicas de viés conservador para as humanas com rigor
metodológico e embasamento empírico. Ou seja, um equilíbrio de perspectivas
neste quesito exigiria um movimento imenso de articulação cultural, produção
de conhecimento e consolidação de um viés distinto do progressista para a
área de humanas, o que não está no horizonte mais próximo.”
3. Assim que assumiu o governo, o Partido dos Trabalhadores começou uma grande
reforma no ensino do país. O próprio Enem é uma de suas criações. A Ideologia de
Gênero começou a ser implantada nas escolas, com a promoção de muitos trabalhos,
que incluíam o antigo programa de "inclusão social" apelidado de "kit gay". Estamos,
portanto, lidando com fatos. O PT é diretamente relacionado ao processo de
implantação de alguns temas que não eram alvo de debates até sua ascensão. A
própria Ideologia de Gênero, aliás, não possui nenhum "rigor empírico", como o sr.
Rodolfo sugeriu que houvesse a fim de justificar a ausência do pensamento
conservador no conteúdo da prova.
4. Para não sobrar dúvidas do viés ideológico que exclui o debate com opiniões
contrárias, veja o comentário de Sérgio Nunes publicado no Facebook:
Ressalto que a questão no momento (isto pode ser feito em momento oportuno) não é
combater qualquer um dos aspectos acima, uma vez que os estudantes devem
conhecer todos os lados e abordagens, mas sim mostrar que os estudantes tem tido
acesso apenas a uma visão de mundo, sendo tolhidos de maiores incursões em uma
cultura mais geral. Mostrar também mais uma ingerência ideológica governamental na
educação dos jovens."
Postado por Antonio Vitor às 14:46