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1.

BREVE HISTÓRICO DA ULTRASSONOGRAFIA

• A história do US remonta a 1793, quando Lazzaro Spallazini demonstrou que os morcegos se orien-
tavam mais pela audição que pela visão para localizar obstáculos e presas  ele constatou que os
morcegos, mesmo impedidos de enxergar, desviavam-se de obstáculos e apanhavam as suas pre-
sas no ar. E que, quando eram impedidos de ouvir, mesmo com a visão mantida, perdiam completa-
mente a capacidade de orientação em voo.

• Em 1880 os irmãos Jacques e Pierre Curie deram uma contribuição valiosa para o estudo do ultras-
som descrevendo as características físicas de alguns cristais (piezoeletricidade)  este efeito é re-
sultado da aplicação de uma pressão mecânica sobre a superfície de certos cristais que são capazes
de gerar um potencial elétrico entre superfícies opostas, produzindo som numa frequência superior
a 20KHz, conhecido como ultrassom  estes cientistas perceberam também, que a aplicação do
ultrassom nos cristais resultava na conversão de energia mecânica em eletricidade e quando um
pulso de ultrassom é direcionado a uma substância, uma parte deste som é refletida de volta a sua
fonte com informações sobre o tipo de estrutura que penetrou.

• Durante a Segunda Guerra Mundial, foi aprimorado o estudo da utilidade do ultrassom para fins
militares com o desenvolvimento do SONAR (Sound Navigation and Ranging) para a navegação e a
determinação da distância pelo som.

• O RADAR (Radio Detection and Ranging) ou detecção de distâncias por meio de ondas de rádio
utilizava-se do eco de ondas de rádio para a determinação de distâncias e localização de objetos no
ar  nesse período, inicia-se o desenvolvimento dos ultrassons para fins não-militares, principal-
mente na metalurgica que foram considerados precursores dos aparelhos de ultrassonografia utili-
zados em medicina.
• Nas décadas de 1920 e de 1930, o ultrassom foi utilizado para a terapia física, principalmente para
membros de equipes de futebol da Europa.

• Na medicina, a utilização de ultrassons iniciou-se como terapia, de forma empiricamente, em várias


áreas, desde o tratamento de artrite reumatoide até tentativas de remissão da Doença de Parkinson
em neurocirurgia.

• Em 1957 um dos pioneiros foram os médicos americanos Douglas Howry e a sua esposa Dorothy
Howry  nesta época, o paciente tinha que ficar submerso e imóvel dentro de uma banheira com
água para a realização do exame.

• No início as imagens eram em preto e branco sem gradações  a escala de cinza na imagem surgiu
em 1971, por Kossof, na Austrália, onde diversos níveis de intensidade e ecos são representados
por diferentes tons de cinza na tela.

• Nos anos de 1980-1990 a US foi impulsionada pelo desenvolvimento tecnológico que transformou
este método num importante instrumento de investigação diagnóstica.
2. CONSIDERAÇÕES GERAIS

• A aplicação da US na avaliação de lesões do sistema musculoesquelético inclui, na identificação das


alterações, lesões nos músculos, tendões, ligamentos, cartilagem, cápsula articular, sinóvia, bursa,
nervo, cortical óssea e pesquisa de corpo livre intra-articular.

• O US é um método de baixo custo e de fácil acesso, não utiliza radiação ionizante, podendo ser
usada como técnica inicial de investigação diagnóstica e durante o seguimento do paciente.

• Atualmente, a US assessorada com o recurso Doppler auxilia na diferenciação e caracterização das


lesões vasculares sólidas ou lesões hipervascularizadas, podendo ainda ajudar na detecção de pro-
cessos inflamatórios, como tenossinovites por meio do mapeamento em cores.

• Uma das grandes vantagens do método é a realização do exame de forma comparativa e dinâmica,
permitindo o diagnóstico de lesões sutis no lado contralateral.

• O método é dinâmico e permite o estudo de diversas estruturas em tempo real, inclusive com a
movimentação dos membros, manobra de estresse, entre outras.

3. VANTAGENS E DESVANTAGENS DA US

Vantagens do exame de US Desvantagens do exame de US


▪ Estreita relação médico-paciente; ▪ Dependente do operador;
▪ Avaliação dinâmica e comparativa; ▪ Necessidade de transdutor específico;
▪ Exame não invasivo; ▪ Dificuldade na análise em pacientes obesos, com limi-
▪ Fácil acesso e baixo custo; tações de ADM e com hipertrofia muscular (atletas).
▪ Exame de rápida realização; ▪ Resolução espacial muito abaixo daquela obtida com
▪ Não utiliza radiação ionizante. TC e RMN.

4. CONCEITOS DE US:

• Ultrassom é definido como onda mecânica com vibração de frequência superior a 20000 Hz (acima
do limite audível para o ser humano)  contudo, no exame ultrassonográfico as frequências variam
entre 2 e 18 MHz.

• Basicamente, o aparelho emite ondas de ultrassom que interagem com corpos/estruturas, gerando
ecos, que são captados de volta e convertidos em imagem
• A US baseia-se no fenômeno de interação do som com os tecidos, ou seja, a partir da transmissão
da onda sonora pelo meio, observamos as propriedades mecânicas dos tecidos.

5. ONDAS SONORAS

• São ondas mecânicas, longitudinais que podem se propagar em meios sólido, líquido e gasoso.

• As ondas sonoras ao se propagarem através de um meio, pode atingir o ouvido e produzir uma
sensação sonora.

O ouvido humano é sensível Ondas sonoras abaixo de Ondas sonora acima de


somente a sons com frequên- 20 Hz são chamados de 20000 Hz são chamados de
cia entre 20 e 20000 Hz. infrassom. Ultrassom.

• O aparelho possui um transdutor especial, que contém um cristal com propriedades piezoelétrica
que, quando submetidas a corrente elétrica alternada, vibram, produzindo o ultrassom.

• Quando a onda é refletida, ocorre o inverso  o cristal sofre deformação e gera energia elétrica, que
será processada em imagem na tela.

6. IMPEDÂNCIA ACÚSTICA

• É a resistência do tecido ao movimento das partículas causado pelo US, sendo igual ao produto da
densidade pela velocidade de propagação do US no meio  sendo assim, cada meio possuirá sua
própria impedância (água, gases, partes moles, etc...).
Quando a onda sonora atravessa
uma interface entre dois meios
com a mesma impedância acús-
tica, não há reflexão e a onda é
toda transmitida ao segundo meio.

Quando a onda sonora atravessa uma


interface entre dois meios com a impe-
dância acústica diferente, ocorre refle-
xão sonora  a diferença de impedân-
cia acústica entre dois tecidos que de-
fine a quantidade de reflexão na inter-
face, promovendo sua identificação na
imagem.

7. INTERAÇÃO DO SOM COM OS TECIDOS

• À medida que percorrem o corpo do paciente, as ondas sonoras produzidas pelo aparelho de ultras-
som interagem com os tecidos de diversas maneiras.

a) Atenuação:
• É a diminuição da intensidade do feixe sonoro ao atravessar o tecido, como resultado da absorção,
reflexão, dispersão e divergência do feixe.

• Ela é diretamente proporcional à frequência do transdutor  quando maior a frequência do transdutor


maior será a atenuação do feixe sonoro.

b) Absorção:
• Trata-se da transferência de energia do ultrassom para o tecido (resultando na produção de calor),
porém com as intensidades utilizadas para diagnóstico, o aumento de temperatura é imperceptível.

• Quanto maior a frequência da onda sonora, maior será a absorção do tecido.

• O osso possui uma absorção 10 vezes maior do que a dos tecidos moles, que por sua vez possui
em absorção 10 vezes maior do que a do líquido.
c) Refração:
• É o fenômeno que ocorre quando o feixe sonoro passa de um meio para outro de características
distintas, tendo sua direção desviada.

• Ela ocorre quando a incidência sonora sobre uma interface grande e lisa não é perpendicular.

d) Reflexão:
• Ocorre quando há diferença de impedância acústica entre dois meios.

• Quanto maior a reflexão do feixe sonoro, maior a intensidade do eco recebido e, portanto, menor a
transmissão do som de um meio para o outro  por exemplo, o osso, reflete muito o eco e não
permite o estudo das estruturas situadas atrás dele; outro exemplo é a diferença de impedância entre
o ar e os tecidos moles, que justifica a necessidade do gel de acoplamento acústico utilizado para
aumentar o contato entre a pele e o transdutor, caso contrário o feixe seria refletido por causa da
interface transdutor + ar.
e) Difração:
• É o efeito que pode ocorrer em decorrência da interação do feixe sonoro com pequenas estruturas
interpostas no seu trajeto  o feixe sonoro consegue contornar essas pequenas estruturas quando
são parcialmente interrompidos por elas, espalhando o seu feixe.

8. TRANSDUTORES

• Transdutor é um dispositivo que emite o som pelos diversos compartimentos do corpo e recebe os
ecos refletidos das diferentes matérias, que, por meio de um sistema computadorizado, são digitali-
zados e transformados em imagens.

• Os transdutores ultrassônicos convertem energia elétrica em ondas mecânicas sonoras e vice-versa,


sendo feitos de materiais piezoelétricos.

Tipos de transdutores:

Transdutor convexo:
• É utilizado em exames abdominais e obs-
tétricos por alcançar regiões mais profun-
das e ter mais campo de visão.

Transdutor linear:
• É utilizado em exames de estruturas su-
perficiais como mamas, tireoide, exa-
mes vasculares periféricos e exames
ortopédicos e tecidos moles.

Transdutor convexo endocavitário:


• Utilizado para exames de próstata e dos
genitais internos feminino.
Transdutor setorial:
• Possui pequena área de contato e é
utilizado em exames cardiovasculares,
permitindo uma varredura intercostal.

9. TERMINOLOGIA DA ULTRASSONOGRAFIA

• A terminologia utilizada para descrever o exame ultrassonográfico é consequência da interação do


som com os tecidos  desta forma, para descrever a intensidade dos ecos na imagem, ou sua
ecogenicidade, são empregados vários termos.

a) Hiperecogênico, hiperecoico ou hiperecoide:


• São termos empregados às estruturas que refletem intensamente as ondas sonoras, produzindo
ecos brilhantes na tela, em cor branca (ecos de alta intensidade).

• Exemplos  ossos, gordura e fáscias musculares.

b) Hipoecogênico, hipoecoico ou hipoecoide:


• São termos que se referem às estruturas que refletem moderadamente os ecos, produzindo tonali-
dade que variam na escala de cinza, do mais claro ao mais escuro.

• Exemplos  tecido muscular e tecido subcutâneo.

c) Anecogênico, anecoico ou anecoide:


• Esses termos definem a ausência completa de ecos, aparecendo na tela com a coloração escura
(preta).

• Exemplos  líquido sinovial, cistos, vasos sanguíneos, bexiga repleta de urina e bile.
10. APLICAÇÕES DA US NO SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO

a) Músculos:
• Os músculos apresentam configurações variadas em arranjo, podendo ser  unipenado, bipenado
ou multipenado  esses arranjos são facilmente detectados no exame de US.

• O músculo tem uma aparência mesclada com grande parte hipoecoica (cinza) intervalado por sep-
tos do perimísio que são vistos como estruturas tracejadas hiperecoicas (brilhantes em cor
branca), separando as bandas musculares.

• Epimísio, tendões, nervos, fáscias musculares e o tecido adiposo também aparecem hiperecoicas
(brancas brilhantes) no exame de US.

b) Tendão:
• Os tendões são estruturas organizadas de modo estriado, em geral, hiperecoico (branco brilhante)
e quase sempre revestidos por uma bainha sinovial.

c) Ligamentos:
• Os ligamentos são estruturas hiperecoicas (brancas brilhantes), similar a aparência cortical óssea
em vizinhança.

d) Bursas:
• As bursas são estruturas hipoecoicas ou anecoicas circundadas por uma linha hiperecoica, que
representa a interface da bursa com líquido  esta linha mede cerca de 1,0 mm  em geral o líquido
da bursa não excede 2,0 mm (em quantidades normais).

e) Nervos periféricos:
• A US e a RM são bons métodos para análise dos nervos periféricos, principalmente nos diagnósticos
das compressões em arcadas naturais (túnel do carpo, túnel do tarso).
f) Cortical óssea e cartilagem:
11. EFEITO DOPPLER

• Christian Andréas Doppler descreveu este fenômeno em 1841.

• O efeito Doppler é uma característica observada nas ondas quando emitidas ou refletidas por um
objeto que está em movimento com relação ao observador  desta maneira é possível estudar a
presença de fluxo sanguíneo em determinado vaso, ou se este vaso está preenchido por trombo,
mensurar a velocidade do fluxo sanguíneo dentro do vaso, quantificar o grau de estenose que um
determinado vaso pode apresentar.

Tipos de Doppler:

a) Doppler contínuo:
• Trata-se do sistema mais simples e barato para medir a velocidade do sangue.

• O Doppler contínuo analisa o somatório das velocidades de todos os fluxos em uma determinada
faixa do coração onde é posicionado o cursor, e permite registrar o fluxo em altas velocidades.
b) Doppler pulsado:
• O Doppler pulsado analisa a velocidade do fluxo sanguíneo em um determinado ponto específico do
coração, com um espectro de velocidade limitado.

c) Doppler duplex:
• É o método que reproduz a figura dos vasos ao redor dos órgãos e o computador converte a onda
sonora para gráficos que providência a informação sobre a velocidade e direção do fluxo sanguíneo
através da avaliação dos vasos.

• Com este tipo de exame é possível ver as estruturas em 2D e avaliar o fluxo sanguíneo dentro das
estruturas ao mesmo tempo.

d) Color Doppler:
• É o método usado para produzir figura do vaso em 2D  o computador converte a onda sonora em
cores para ver a imagem do vaso e representar a velocidade e direção do fluxo sanguíneo através
do vaso.

e) Power Doppler:
• É uma nova técnica de US cinco vezes mais sensível do que o color Doppler  ele pode obter
imagens que são difíceis ou até mesmo impossíveis para o color Doppler.

12. INDICAÇÕES DA US

• Lesões tendíneas e ligamentares (espessamento e rupturas);

• Processos inflamatórios (edema e espessamento sinovial);

• Tumores císticos ou sólidos (consistência e contorno);

• Lesões vasculares com associação ao Doppler (membrana sinovial e tecidos periarticulares);

• Luxação congênita do quadril (osso cartilaginoso);

• Ossificação heterotrópica (osso imaturo);


REFERÊNCIAS

• WOO, Joseph. History of Ultrasound in Obstetrics and Gynecology, Part 1. Last revised March, 2006.
Capturado na Internet em http://www.ob-ultrasound.net/ history1.html. em 17/12/2011.

• WOOD A. B., From the Board of Invention and Research to the Royal Naval Scientific Service, Journal
of the Royal Naval Scientific Service Vol 20, No 4, pp 1-100 (185-284).

• WOOD A. B., From the Board of Invention and Research to the Royal Naval Scientific Service, Journal
of the Royal Naval Scientific Service Vol 20, No 4, pp 1-100 (185-284).

• CHILOWSKY C.M. LANGÉVIN. M.P. (1916) Procídés et appareil pour production de signaux sous-
marins dirigés et pour la localsation à distances d'obstacles sonsmarins. French patent no. 502913.

• DESCH, C.H., SPROULE, D.O. AND DAWSON, W.J. (1946) The detection of cracks in steel by me-
ans of supersonic waves. J. Iron and Steel Inst. (1964):319.

• Ultrassonografia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ultrassonografia. Acessado em


05/12/17.

• Carvalho CF. Ultrassonografia em pequenos animais. 1ª ed. São Paulo: Roca, 2004.

• Okuno E et al. Física para Ciências Biológicas e Biomédicas. 1ª ed. São Paulo: Roca, 1982.

• Cohen M, Abdalla RJ. Lesões no esporte, diagnóstico e tratamento, 2 ed; Revinter; 2015.

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