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Estimulação Elétrica Nervosa

Transcutânea (TENS)
Pedro H. Donini
Dor e Analgesia
• A dor é uma das
principais queixas clínicas
dos pacientes

• A fisioterapia tem vários


recursos analgésicos,
sendo a TENS um dos
principais recursos para
analgesia (não o único)
Dor: Avaliar para Tratar
1. Objetivos: 2. Investigação:
• Compreender o • Etiologia (causa e origem
fenômeno doloroso da dor)
• Implementar a • Localização
terapêutica adequada • Intensidade
• Avaliar a eficácia do • Qualidade
tratamento • Frequência
• Duração
• Fatores agravantes e
atenuantes
Definição – TENS
• A TENS é uma modalidade da eletroterapia que
consiste na aplicação genérica de estímulos
elétricos transmitidos por eletrodos através da
superfície intacta da pele com finalidade de
estimular fibras nervosas, produzindo diversos
efeitos fisiológicos
• Trata-se de um recurso terapêutico não
farmacológico, não invasivo, seguro, de baixo
custo e de fácil manuseio, amplamente usado
para promover analgesia
Histórico
• As primeiras unidades de TENS foram
desenvolvidas e tornaram-se populares após a
publicação da teoria das comportas proposta
por  Melzack & Wall
Mecanismos de Ação
1. Liberação de opioides endógenos:
• São substâncias analgésicas produzidas pelo
próprio organismo (endógena)
Substâncias:
• Endorfina
• Dinorfina
• Encefalina
Mecanismos de Ação
1. Liberação de opióides endógenos:
Essas substâncias vão agir no mesencéfalo:
• Substância cinzenta periaquedutal
• Bulbo (RVM)
• Corno posterior da medula espinal

• Quando essas substâncias forem liberadas elas se


ligarão aos seus receptores localizados no
mesencéfalo  provocando analgesia mais
duradoura
Mecanismo de Ação
2. Teoria das comportas:
a) Fibras A-Beta:
• Fibras de grosso diâmetro, mielinizadas com alta
velocidade de condução (+ rápida de todas)
• Conduz estímulos mecânicos (tátil, vibração, pressão)
• Quando ativadas realizam uma sinapse excitatória
com os interneurônios presente na substância
gelatinosa  estes interneurônios uma vez ativados
irão inibir a sinapse das fibras A-delta com as células
de transmissão = fechamento das comportas
Mecanismo de Ação
2. Teoria das comportas:
b) Fibras A-delta:
• Fibras de pequeno diâmetro
• Fibras mielinizadas de alta velocidade (menos que
a A-beta)
• Conduz sensação de dor
Mecanismo de Ação
2. Teoria das comportas:
c) Substância gelatinosa:
• Área que recebe as fibras
sensitivas através da raiz
dorsal
• Controla a entrada da
sensibilidade dolorosa
pela teoria das
comportas
Teoria das Comportas
Teoria das Comportas
Teoria das Comportas
Princípios Físicos
• A TENS não se refere a um tipo específico de
corrente elétrica ou equipamento  trata-se
de uma forma de ativação de fibras nervosas
por meio de impulsos elétricos através da pele
com eletrodos de superfície, ou seja, sem a
lesão da barreira cutânea
• A utilização de qualquer tipo de corrente
elétrica que ative as fibras nervosas sem a
ruptura da pele pode ser denominada “TENS”
Princípios Físicos
Apesar da TENS não se referir a nenhum tipo específico
de corrente, os equipamentos de TENS geralmente
emitem basicamente 2 tipos de corrente elétrica:
• Corrente pulsada, bifásica, assimétrica, balanceada
• Corrente pulsada, bifásica, simétrica, balanceada

Obs: ambas correntes não são polarizadas, não


apresentando polos fixos, podendo ser utilizadas por
longos períodos de tempo e com intensidade elevadas
sem apresentar riscos de queimadura química à pele
Princípios Físicos
Parâmetros Ajustáveis
• Amplitude do pulso (I)  medidos em mA
• Duração do pulso (T)  medidos em
microssegundos (μs)
• Frequência de repetição dos pulsos (f) 
medidos em Hz
Modalidades da TENS
1. TENS convencional:
• É a TENS de alta frequência e baixa intensidade,
sendo a modalidade mais utilizada
• Alta frequência (Hz) = entre 80 a 110 Hz
• Curta duração do pulso (T) = 50 a 100 μs
• Baixa intensidade (I) = ajustada conforme o limiar
sensorial do paciente
Modalidades da TENS
1. TENS convencional:
• Tempo de aplicação = 30 a 60 minutos (tem que
ter um tempo elevado, para começar a liberar os
opioides endógenos)
• O conjunto desses parâmetros promove um tipo
de estimulação tátil capaz de ativar as fibras A-
beta, promovendo uma sensação de parestesia
confortável
Modalidades da TENS
2. TENS acupuntura:
• É a TENS de baixa frequência e alta intensidade,
sendo uma estimulação a nível motor
• Baixa frequência (Hz) = geralmente ajustada em 2
ou 4 Hz
• Maior duração de pulso (T) = ~ 200 μs
• Alta intensidade (I) = o suficiente para produzir
contrações musculares visíveis
• Tempo de aplicação = 1 hora
Modalidades da TENS
2. TENS acupuntura:
• Nessa modalidade, além da ativação das fibras
tipo A-beta, ocorre também a ativação das fibras
A-alfa, promovendo contrações musculares fásicas
 essas contrações musculares ativam as fibras A-
delta
• Os eletrodos devem ser posicionados sobre os
miótomos relacionados com a área da dor
Modalidades da TENS
3. TENS Burst:
• É realizada com frequência de 100 Hz, moduladas
em pacotes ou rajadas de 2 Hz, com maior
duração de pulso para facilitar a ativação das
fibras motoras
• Baixa frequência (Hz) = corrente de 100 Hz,
moduladas em pacotes ou rajadas de 2 Hz
• Maior duração de pulso (T) = 200 μs
• Alguns pacientes preferem TENS burst a TENS
acupuntura pelo fato de os trens de pulsos
produzirem uma contração confortável
Modalidades da TENS
4. TENS breve-intensa:
• Os parâmetros da TENS breve-intensa são
ajustados em alta frequência e longa duração de
pulso, com intensidade máxima tolerável pelo
paciente por curtos períodos de tempo (↓ 15
minutos)
• Alta frequência (Hz)= 100 a 150 Hz
• Longa duração de pulso (T) = 150 a 250 μs
• Intensidade (mA) = máxima tolerável
• Tempo de aplicação = ↓ 15 minutos (curta
duração)
Modalidades da TENS
4. TENS breve-intensa:
• Essa modalidade pode ser utilizada durante a
realização de procedimentos dolorosos  exp:
desbridamento de feridas ou retirada de suturas
• Essa modalidade de TENS não é muito usada, em
razão do desconforto causado ao paciente
Modalidades da TENS
Modalidades da TENS
1. TENS de baixa frequência:
• ≤ 10 Hz
• TENS acupuntura e Burst
Mecanismo de ação analgésica:
• Se dá pela ativação dos receptores μ-opioides (mi ou
mu) na substância cinzenta periaquedutal (PAG), no
bulbo rostral ventromedial (RVM) e na medula
espinal
• Promove também a ativação dos receptores GABAA
na medula espinal, liberação de serotonina e
ativação dos receptores 5-HT2 e 5-HT3 na medula
espinal
Modalidades da TENS
2. TENS de alta frequência:
• ≥ 50 Hz
• TENS convencional e a breve-intensa
Mecanismo de ação analgésica:
• Promove analgesia pela ativação dos receptores δ-
opioides (delta) na substância cinzenta
periaquedutal (PAG), no bulbo rostral ventromedial
(RVM) e na medula espinal
• Ativa também os receptores GABAA na medula
espinal e reduz a liberação de glutamato na medula
espinal pela ativação dos receptores δ-opioides
(delta)
Escolha da Frequência da TENS
Deve ser feita levando em consideração o histórico
farmacológico do paciente
• Pacientes com histórico de uso crônico de opioides
podem desenvolver tolerância analgésica
• Pacientes com dor crônica tratados com opioides
responderam favoravelmente à TENS de alta
frequência (convencional) e não à TENS de baixa
frequência (acupuntura) (estudo)
• Já nos pacientes que não foram tratados com
opioides, a TENS de alta e baixa frequência
promoveram analgesia
Escolha da Frequência da TENS
• Em geral se utiliza inicialmente a TENS de alta
frequência e observa-se a resposta do paciente 
resposta negativa  testar à TENS de baixa
frequência ou modificar a posição dos eletrodos
Ajuste da Intensidade
• A intensidade deve ser aumentada até que o
paciente relate uma parestesia forte, porém
confortável
• O ajuste da intensidade tem sido um fator
determinante no sucesso da TENS, pois
somente as intensidades mais elevadas
promovem uma resposta analgésica
significativa
Ajuste da Intensidade
• Durante a terapia, o paciente deve ser
questionado, frequentemente, sobre a
ocorrência da habituação sensorial  caso
haja habituação sensorial a intensidade deve
ser aumentada novamente até que o paciente
volte a referir uma parestesia forte, porém
confortável
Eletrodos
1. Tipos de eletrodos:
• Existem 2 tipos de eletrodos  silicone-carbono e
autoadesivo
2. Tamanho dos eletrodos:
• A intensidade (I) e o tamanho dos eletrodos (a)
influenciam a densidade da corrente (d)  d = I/a
• Portanto quanto maior o eletrodo maior será a
área de estimulação, e maior deverá ser o ajuste
da intensidade da corrente na obtenção dos
efeitos desejados, além da estimulação ser mais
confortável
Eletrodos
3. Posicionamento dos eletrodos:
Podem ser posicionados de diversas formas,
considerando a queixa do paciente
• Posicionamento sobre a área da dor (mais
usado)  os eletrodos são colocados ao redor
ou em cima do ponto doloroso
• Posicionamento sobre o nervo periférico,
responsável pela inervação da região dolorosa
Eletrodos
3. Posicionamento dos eletrodos:
• Posicionamento paralelo à coluna vertebral sobre
os forames intervertebrais  para favorecer a
estimulação das raízes nervosas dos nervos
espinais responsáveis pela inervação dos
dermátomos da região dolorosa
• Posicionados sobre pontos de acupuntura, pontos
motores e pontos-gatilhos
Obs: o ideal é que sejam feitas tentativas para se
encontrar a melhor forma de posicionamento de
eletrodos para cada paciente
Tempo de Aplicação
• A primeira aplicação de TENS deve ser mais
curta que as demais  geralmente menor que
30 minutos
• As sessões subsequentes devem ter duração
variando entre 40 a 60 minutos
• Tempo ideal para aplicação da TENS em
pacientes com osteoartrite de joelho  40
minutos (Cheing et al.)
Sequência para a Aplicação da TENS
a) Realizar tricotomia (depilação), caso seja
necessário, e assepsia da região a ser
estimulada
b) Ligar o aparelho e ajustar os parâmetros
adequadamente  frequência, duração de
pulso e tempo de aplicação (é importante
certificar-se de que a intensidade esteja em
seu valor mínimo)
c) Conectar os cabos aos eletrodos e ao aparelho
Sequência para a Aplicação da TENS
d) No caso do eletrodo silicone-carbono, aplicar o
gel em toda superfície do eletrodo que entrará
em contato com a pele do paciente e adequar
de forma homogênea à região a ser
estimulada
e) Ativar a emissão da corrente e aumentar sua
intensidade até que o paciente refira uma
sensação de formigamento forte, porém
confortável  caso ocorra habituação
sensorial, realizar a adequação da intensidade
Sequência para a Aplicação da TENS
f) Quando finalizar o tempo, ajustar a intensidade
ao valor mínimo novamente, desligar o aparelho,
remover os eletrodos cuidadosamente e avaliar o
estado da pele do paciente
Indicações
1. Dor:
• Analgesia
• Como consequência da analgesia, pode-se
promover relaxamento muscular em função da
influência no ciclo dor-espasmo-dor
• O relaxamento muscular diminui a compressão
sobre as fibras nervosas e vasos sanguíneos 
favorecendo a melhora do fluxo sanguíneo local,
que também favorece a analgesia
Indicações
2. Reparação tecidual das lesões tendíneas:
• Estudos sugerem que a TENS Burst pode influenciar
positivamente a cicatrização do tendão do calcâneo
pela liberação de neuropeptídeos sensoriais de
substância P (SP) e peptídeo relacionado com o gene
da calcitocina (CGRP)
• Trem de pulso  300 ms
• Frequência  interna = 100 Hz; de Burst: 2 Hz
• Intensidade  de acordo com a tolerância do
paciente, sem que apresente contrações musculares
visíveis
Contraindicações
• Dor não diagnosticada
• Aplicação sobre os olhos, nervo vago e seio
carotídeo
• Pacientes que usam marca-passo e/ou
apresentam doenças cardíacas graves
• Áreas com alteração de sensibilidade
• Pacientes com risco de epilepsia
• Sobre o útero ou região de grávidas (exceto
durante o trabalho de parto)

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