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Mobilização Neural

1. DEFINIÇÃO

• É uma técnica que consiste em colocar o neuroeixo num posicionamento favorável à sua dinâmica e
pensar em mobilizar ao invés de alongar (BUTLER, 2003).

2. HISTÓRIA

• 1960  Alfbreig iniciou com o pensamento da mecânica do sistema nervoso (influência da tensão
no movimento)  o nervo tem um movimento discreto, e ele se adapta ao movimento.

• Maitland e Elvey  testes clínicos com a tensão neural.

• 1991  David Butler publica “mobilization of nervous system”  ênfase terapêutica em que o nervo
tem extensibilidade.

Nota:
David Butler foi o fundador da técnica
de mobilização neural.

3. NEUROCIÊNCIA E NEURODINÂMICA

“Estudos dos mecanismos e fisiologia do sistema nervoso e como eles se relacionam”.

a) Princípio da continuidade:
• O sistema nervoso é uma estrutura contínua, que se move e desliza com os movimentos corporais,
devido a três condições:

Mecanicamente: Eletricamente: Quimicamente:


As meninges: o sistema nervoso O potencial de ação percorre o Neurotransmissores no SNC e
é contínuo como um todo. corpo inteiro. SNP.

• O papel do sistema nervoso é a comunicação eletroquímica  quando nos movemos, existem


modificações complexas em nosso corpo.
b) Habilidades do sistema nervoso:
• Desliza sobre estruturas vizinhas.

• A pressão sobre os nervos aumenta conforme são tensionados através do movimento e contração
muscular.

• Movimentos distais criam modificações a longa distância muito significantes, através do princípio da
continuidade  o nervo pode, portanto, deslizar-se ou tensionar-se.

• No tecido neural temos um tecido conectivo muito forte, que confere aos nervos estabilidade e força.

Epineuro: Perineuro: Endoneuro:


Camada mais externa, na qual Contorna cada fascículo (ou Camada mais interna,
reveste o nervo. feixe) de fibras nervosas. envolvendo as fibras nervosas
individuais (os axônios).

• Estes tecidos citados acima se juntam para conferir proteção ao tecido neural frente as forças de
compressão e de tensão excessiva.

• Estes tecidos conectivos têm inervação, principalmente o epineuro, no qual acredita-se que a lesão
primária pode começar  a inflamação e a isquemia pode dar origem aos sintomas.

• O tecido neural não está solto dentro do canal, ele se prende através do tecido conectivo, permitindo:

Fixação da medula espinal na Estabilização neural contra Permite a distensão e


dura-máter. forças transversais e axiais. compressão
4. CIRCULAÇÃO

• O sistema nervoso consome 20% do oxigênio disponível na circulação sanguínea  os neurônios


são os mais sensíveis as alterações de oxigênio e circulação.

• A circulação sanguínea proporciona a energia necessária para a condução do impulso nervoso,


assim como, o movimento intracelular do citoplasma do neurônio.

Vaso Nervorum:
Vaso que nutre o nervo.

Dor neural ou sensitização neural:


• O pico de dor é na madrugada, pois a circulação do sangue fica mais devagar,
assim, quando há lesão neural, o sangue não consegue irrigar tal nervo, pois há
uma cicatriz impedindo.
• A mobilização neural dessensibiliza o nervo.

5. NEUROBIOMECÂNICA CLÍNICA

• Quando nos movemos o nervo também movimenta.

Movimentações do nervo

Tensionamentos Deslizamento Atritos Alterações de pressão


s
6. RACIOCÍNIO CLÍNICO

Para atingir o objetivo de resolver eficiente e seguramente o problema do paciente, fisioterapeutas devem
adquirir informações com relação às seguintes questões:

• Qual é a origem dos sintomas e/ou disfunção?


• Existem fatores contribuintes?
• Quais são as precauções e contraindicações para o exame físico e tratamento?
• Qual é o prognóstico?
• Utilizar qual tratamento?

7. PRECAUÇÕES

• Outras estruturas envolvidas no teste (discos intervertebrais lesados, estenose de canal vertebral,
espondilose);
• Irritabilidade do sistema nervoso;
• Agravamento da disfunção;
• Problemas de saúde geral;
• Tontura;
• Distúrbios circulatórios.

8. CONTRAINDICAÇÕES

• Início recente, ou piora, dos sinais neurológicos;


• Lesões da cauda equina;
• Lesão da medula espinhal.

9. TESTE DE TENSÃO NEURAL

a) Flexão passiva da cervical (PNF):

Procedimentos:
• Paciente em decúbito dorsal com os MMSS ao lado do corpo e com
os MMII unidos;
• O fisioterapeuta pede para o paciente levantar a cabeça da maca
um pouco e a partir daí ele assume o movimento, fletindo
passivamente a cervical do paciente.
Respostas normais:
• A PNF deve ser um teste sem dor, embora indivíduos assintomáticos possam sentir puxar na junção
cervicotorácica (isto está relacionado à articulação ou músculo em vez do neuroeixo).

Indicações:
• É indicada para todas as possíveis desordens da coluna vertebral, sintomas de dor de cabeça, dor
no braço e na perna de possível origem na coluna vertebral.

b) Teste de tensão para o n. isquiático (straight leg raise – SLR):


• Origem do n. isquiático  plexo lonbossacral (L4 – S3).
• Trajeto  sai do plexo sacral (L4 – S3) e entra na região glútea; desce pela parte posterior da coxa
até a fossa poplítea, no qual se bifurca dando origem a 2 nervos (fibular comum e tibial).
• Indicações  todos os sintomas de coluna e da perna

Procedimentos:
• Paciente em decúbito dorsal com os MMSS ao lado do corpo;
• Flexão do quadril + extensão do joelho;
• Adicionando adução e rotação interna do quadril tensiona mais ainda o nervo.

c) Teste de tensão para o n. fibular comum:


• Origem  é continuação do n. isquiático.
• Trajeto  depois de bifurcar-se a partir do n. isquiático na fossa poplítea, o n. fibular comum vai
sentido a lateral do joelho (côndilo lateral do fêmur) passando por trás da cabeça da fíbula e indo
para a região anterolateral da perna; após se divide em dois outros nervos: o fibular superficial e
fibular profundo  ambos os nervos descem pela região anterolateral da perna até a parte dorsal do
pé.

Procedimentos:
• Paciente em decúbito dorsal com os MMSS ao lado do corpo;
• Flexão do quadril + extensão do joelho + flexão plantar + inversão do
pé + flexão dos artelhos e hálux

d) Teste de tensão para o n. tibial:


• Origem  é continuação do n. isquiático.
• Trajeto  segue pela região poplítea, descendo pela parte posterior da perna até chegar a região
posterior do pé, no qual se divide nos nervos plantar e calcâneo, mediais e laterais (observar a figura
acima).

Procedimentos:
• Paciente em decúbito dorsal com os MMSS ao lado
do corpo;
• Flexão do quadril + extensão do joelho +
dorsiflexão + eversão do pé + extensão dos
artelhos e hálux;
e) Teste de tensão para o n. sural:
• Origem  origina-se dos nervos tibial.
• Trajeto  desce pela região posterior da perna (entre as cabeças do m. gastrocnêmio) até sua
região distal; ao atingir a região distal da perna dirige-se lateralmente (atrás do maléolo lateral)
seguindo pela região plantar lateral (por baixo do 5º metatarso).

Procedimentos:
• Paciente em decúbito dorsal com os
MMSS ao lado do corpo;
• Flexão do quadril + extensão do joelho
+ dorsiflexão + inversão do pé

f) Teste de tensão para o n. femoral (prone knee bend – PKB):


• Origem  plexo lombar (L2 – L4);
• Trajeto  emerge das raízes nervosas L2 – L4 e segue pela região anterior da pelve, dirigindo-se
pela região anterior do fêmur até sua parte distal.
• Indicações  paciente com sintomas no joelho, anterior da coxa, quadril e coluna lombar alta.

Procedimentos:
• Paciente em decúbito ventral com os MMSS ao lado do corpo;
• Extensão do quadril + flexão do joelho.
g) Teste de tensão para o n. safeno:
• Origem  é continuação do n. femoral;
• Trajeto  desce pela região anterior da coxa e vai indo sentido medial da mesma (passando pela
região dos côndilos mediais do fêmur e da coxa); desce pela região medial da perna até o maléolo
medial.

Procedimentos:
• Paciente em decúbito ventral com os MMSS ao lado
do corpo;
• Extensão do quadril + abdução do quadril +
rotação interna do quadril + extensão do joelho +
flexão plantar + eversão do pé.

h) Teste de inclinação anterior (slump test):

Procedimentos:
• Paciente em sedestação na beirada da maca;
• Solicitar ao paciente que incline o tronco para frente fletindo
o pescoço, o tórax e a coluna lombar;
• Aplicar pressão adicional na cervical e dorsiflexionar o
tornozelo do paciente;
• Por último estender o joelho do paciente o máximo possível
até o ponto da resistência dos tecidos e reprodução dos
sintomas;
• Aliviar a pressão sobre a coluna e fazer o paciente estender
ativamente o pescoço para ver se os sintomas diminuem.
• Os fundamentos neurodinâmicos do teste Slump envolvem o preceito de que o sistema nervoso
central e periférico devem ser considerados como uma unidade, já que formam um tecido contínuo.

• A flexão cervical aumenta a tensão mecânica da medula, meninges e consequentemente dos nervos
periféricos, ao passo que a extensão cervical reduz esta tensão. A dorsiflexão aumenta e a flexão
plantar reduz a tensão sobre o sistema nervoso.

• A adição destas manobras implica aumento da sensibilidade do tecido neural, resultando em uma
diminuição da amplitude de movimento e/ou aumento dos sintomas. Assim, podemos dizer que o
teste Slump é considerado positivo se houver aumento dos sintomas ou redução importante da ADM
de extensão de joelho e reduzido com a extensão cervical.

• Aproximadamente em todos os indivíduos, o slump test está associado com algum desconforto ou
até dor (verificar se essa dor é normal ou não).

i) Teste de tensão para o nervo mediano (ULTT1):


• Origem do n. mediano  plexo braquial (C6 – C8);
• Trajeto  sai do plexo braquial (C6 – C8), passando entre a clavícula e a escápula; desce pela
região anteromedial do braço e antebraço medializando-se na região distal do antebraço e punho;
ao chegar no punho se ramifica inervando o 1º, 2º, 3º e 4º dedos;
• Indicações  é indicado para todos os pacientes com sintomas localizados em qualquer lugar do
braço, cabeça, pescoço e coluna torácica;
• Respostas normais  alongamento profundo ou dor na fossa cubital que se estende para baixo no
aspecto anterior e radial do antebraço e para o lado radial da mão, sensação de formigamento nos
quatro primeiros dedos, alongamento na região anterior do ombro.
Procedimentos:
• Paciente em decúbito dorsal;
• Depressão do ombro + abdução do ombro + rotação
externa do ombro + extensão do cotovelo + extensão
do punho + extensão dos dedos + inclinação
contralateral da cervical.

j) Teste de tensão para o n. radial (ULTT2):


• Origem do n. radial  C7, C8 e T1 (plexo braquial);
• Trajeto  emerge das raízes C7, C8 e T1 passando entre a clavícula e escápula; desce pela região
posterior do úmero até sua região distal; após chegar a região distal do úmero se anterioriza e
lateraliza até a região do epicôndilo lateral; desce pela região anterolateral do antebraço até o punho
no qual se posterioriza para inervar a parte dorsolateral da mão e dorsal dos 1°, 2° e 3° dedos;
• Indicações  desordens cervicais, torácicas e do membro superior;
Procedimentos:
• Paciente em decúbito dorsal;
• Depressão do ombro + abdução do ombro +
rotação interna do ombro + extensão do cotovelo
+ pronação do antebraço + flexão do punho +
desvio ulnar do punho + flexão dos dedos +
inclinação contralateral da cervical.

k) Teste de tensão para o n. ulnar (ULTT3):


• Origem do n. ulnar  C8 – T1 (plexo braquial);
• Trajeto  emerge das raízes nervosas C8 – T1 passando entre a escápula e clavícula; desce pela
região posteromedial do úmero até o epicôndilo medial no cotovelo; desce pela região medial do
antebraço e quando chega no punho se anterioriza inervando a região anteromedial da mão e 4º e
5º dedos.
• Indicações  suspeita de desordem no nervo ulnar

Procedimentos:
• Paciente em decúbito dorsal;
• Depressão do ombro + abdução do ombro + rotação externa do
ombro + flexão do cotovelo + supinação do antebraço + extensão
do punho + desvio radial do punho + extensão do 4º e 5º dedos.
10. DEFINIÇÃO E CONCEITOS DE DOR

Definição de dor (IASP, 1986):


A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a
dano tecidual real ou em potencial ou descritas em termo de tal dano.

Envolve:
• Sensações; São sentimentos
DOR críticos para a
• Comportamentos;
• Cognição; experiência dolorosa.

• Memória.
Biro, 2010

• Os neurônios responsáveis pela transmissão da informação nociceptiva possuem, na periferia,


terminações não mielinizadas (nociceptores).

As fibras nervosas nociceptivas


estão envolvidas:

Na conversão do estímulo Na condução do potencial de Na transmissão nociceptiva


nervoso periférico. ação para a medula espinal para os neurônios centrais.

Durante a inflamação a dor pode surgir:

Espontaneamente ou por sensibilização

Hiperalgesia: Alodínia:
Aumento da resposta a estímulos Resposta a estímulos não
nervosos. nocivos.

Besson, 1999; Kidd, Urban, 2001


• A sensibilização dos nociceptores pela ação de mediadores químicos liberados durante o processo
inflamatório e o aumento da excitabilidade dos neurônios da coluna posterior da medula espinal
(sensibilização central), contribuem para estes estágios hipernociceptivos (Millan, 1999; Urban,
Gebhart, 1999).

• A dor transitória é observada quando os neurônios sensoriais são ativados por estímulos nocivos
mecânicos, térmicos ou químicos.

• As fibras nervosas responsáveis pela nocicepção são caracterizadas como fibras aferentes primárias
de pequeno diâmetro (fibra C e fibra Aδ – delta) (Julius, Basbaum, 2001).

Fibras C:
Fibras Aδ – delta:
• Não são mielinizadas;
• São mielinizadas;
• Menor velocidade de
• Maior velocidade de
condução;
condução;
• Respondem a estímulos
• Respondem a estímulos
nocivos de origem térmica,
térmicos e mecânicos.
mecânica ou química.

10.1. PROPAGAÇÃO DA DOR


10.2. DOR NEUROPÁTICA

• A lesão do nervo, resulta em dor neuropática persistente ou crônica, caracterizada por dor
espontânea em queimação, acompanhada de alodínia (sensação de dor ao receber um estímulo que
não provoca dor) e hiperalgesia (sensibilidade exagerada à dor ou sensação elevada a estímulos
dolorosos) (Payne, Norfleet, 1986).

• A ocorrência de lesões no Sistema Nervoso Periférico (SNP) e na medula espinal, contribui para o
desenvolvimento de dor neuropática.

Características da dor neuropática:


• Dor irradiada;
• Sensação de queimação ou de dor, descrita como facadas ou pontadas;
• Dor contínua ou intermitente;
• Parestesia (formigamento);
• Sudorese excessiva em alguns casos;
• Mudança de coloração da pele (pele azulada ou avermelhada) em
alguns casos;
• Alteração de temperatura da pele (pele fria ou quente) em alguns casos;
• Alodínia.

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