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Bem-Aventurados

D evo c i o n a l d a A D R A s o b r e a s B e m - Av e n t u r a n ç a s

Esteé um presenteda
ADRA Brasilpara você.

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Bem-Aventurados

U ma multidão se reuniu ao redor de Jesus e Ele os


convidou a se assentarem na grama macia. Enquanto o mar
calmo da Galileia cintilava abaixo, Ele começou a ensiná-
los: “Bem-aventurados...”.
A multidão incluía Seus discípulos, que esperavam que
Ele liderasse algum tipo de golpe de estado e estabelecesse
um novo reino. Ali estavam também os escribas e fariseus
de Jerusalém e de outras cidades, ávidos por ouvir que em
breve os odiados romanos seriam derrotados e que eles
herdariam as riquezas e o poder. Ouvindo atentamente
estavam muitas pessoas locais, pobres, incultos e
oprimidos, esperando para serem assegurados de que
em breve suas lutas teriam fim. Os doentes e deficientes
também vieram com a esperança de serem curados. Este,
é claro, foi o início do discurso mais famoso de Jesus, o
Sermão da Montanha.
Porém, quando Jesus começou a proferir as bem-
aventuranças, as pessoas mal podiam crer no que
ouviam. “Bem-aventurados os humildes de espírito...
Bem-aventurados os que choram... Bem-aventurados os
mansos... Bem-aventurados os perseguidos...”.
Os ouvintes devem ter franzido as sobrancelhas, olhado
uns para os outros, e murmurado: “Ele não deveria estar
dizendo: ‘Bem-aventurados os ricos, os instruídos, os
poderosos e os famosos’? O que está acontecendo aqui?”

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Jesus estava rotulando como “bem-aventurados” pessoas
que nunca seriam incluídas nessa categoria! Ele estava
dizendo que alguns deles eram bem-aventurados! Como
isso era possível?
Hoje, é ainda fácil pensar que as pessoas que vivem em
países desenvolvidos, que têm garantidas as três refeições do
dia e fluxo irrestrito de água, que nunca foram discriminados
ou passaram por conflito civil, que têm emprego e saúde
garantidos... que esses são os bem-aventurados.
Não obstante, devemos lembrar que, de alguma forma
surpreendente e inexplicável, Jesus está conectado ao
desfavorecido, ao entristecido, ao faminto, ao ferido.
Além do mais, Jesus nasceu em uma família pobre
e rural. Seu nascimento ocorreu em um estábulo, na
pequena cidade de Belém (ver Mateus 2:6 e Miquéias 5:2).
Ele também foi refugiado. Um anjo advertiu Seu pai,
José, a fugir para o Egito com o bebê Jesus e Maria. Do
contrário, o rei Herodes O teria matado. Assim, Ele e Seus
pais tiveram que fugir, à noite, e a família viveu longe
dos parentes e de tudo o que lhes era familiar durante a
primeira infância de Jesus.
Posteriormente, Jesus cresceu em Nazaré, uma cidade
desprezada pelas pessoas. “De Nazaré pode sair alguma coisa
boa?”, era a reação da maioria das pessoas (ver João 1:46).
Jesus também conhecia a dor, o sofrimento e a
discriminação. Isaías 53:3 diz: “Era desprezado e o mais
rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o
que é padecer; [...]”.
Portanto, Jesus tem um lugar especial em Seu coração
àqueles que não têm tudo. Na verdade, em Seu último
discurso, registrado em Mateus 25, Jesus explicou como
iria separar as pessoas no fim dos tempos. Colocará alguns

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à Sua direita e outros à esquerda. Então dirá aos que
estiverem à direita: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na
posse do reino que vos está preparado desde a fundação do
mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede,
e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes;
estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e
fostes ver-me”.
Essas pessoas perplexas perguntarão: “Senhor, quando
foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com
sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e
te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos
enfermo ou preso e te fomos visitar?”.
Jesus lhes explicará: “Em verdade vos afirmo que,
sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos,
a mim o fizestes”.
Jesus diz que nossas dádivas e atos de amor para com os
necessitados são como se tivessem sido feitos para Ele mesmo!
Ademais, Jesus está conectado não apenas com os
necessitados, mas também com aqueles que servem o
necessitado, aqueles que alimentam o faminto, que ajudam
o doente, e que animam os rejeitados. Essas pessoas estão
realizando a Sua obra. Certamente, Ele passou mais tempo na
terra realizando essas atividades do que fazendo discursos.
Leia o devocional e veja o que significa ser bem-
aventurado e abençoar, assim como Jesus fez.

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Bem-aventurados os
humildes deespírito,
porque deles é o reino dos céus.

L lewellyn Juby fez planos de realizar um projeto


de marcenaria naquela tarde de sexta-feira. Como
diretor da ADRA Mongólia, não era sempre que ele
tinha tempo livre.
Porém, a Battsetseg lhe pediu para ir assistir a formatura
do curso de língua dos sinais. Como gerente do projeto
de Melhoria das Oportunidades Educacionais para
Pessoas com Deficiência, Battsetseg queria que Llewellyn
conhecesse um aluno surdo em particular.
Então, às 15h30, Llewellyn dirigiu sua velha Land
Cruiser, pelo trânsito onde os carros se comprimiam,
até chegar ao edifício acinzentado de cimento onde era
realizado o curso. Ele subiu pelas escadas irregulares de
cimento até o terceiro andar.
Ao entrar na sala de aula, todos os 20 alunos tocaram a
testa, e então colocaram o pulso sobre o peito e apontaram
para as palmas das mãos abertas na direção de Llewellyn.
Ele reconheceu a saudação amistosa, que foi reforçada pelo
sorriso nos rostos.
Os alunos começaram a conversar privadamente em
linguagem de sinais enquanto esperavam pela chegada dos
professores. Llewellyn os observava, e pensava que a apenas
uma semana atrás eles viviam em um mundo isolado.
Agora eles estão unidos e receberam uma língua de sinais
para que possam se comunicar entre si.

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Quando a cerimônia de formatura iniciou, ele fez um
pequeno discurso em inglês, que foi traduzido para o
mongol, pela Battsetseg, e então para a língua de sinais
por um dos professores. Ele desafiou cada aluno a fazer
o seu melhor pelo restante de sua jornada de vida, agora
que podiam se comunicar. Juntamente com os professores,
eles entregaram a cada aluno um certificado e apertaram
cada preciosa mão que agora se tornava uma voz. Ele tirou
uma foto com o grupo, onde cada aluno segurava seu
certificado com uma mão e, com a outra, agitavam a mão
para cima, que na língua dos sinais significa aplausos e
alegria. Todos estavam muito orgulhosos pelos certificados
que receberam.
Battsetseg perguntou então à classe qual foi o melhor
aluno. Todos apontaram na direção de um homem
franzino, pálido e magro que aparentava ter 30 anos. Será
que é o aluno que ela queria que eu conhecesse, pensou
Llewellyn.
Sim, tratava-se do Tsendjav. Quando o Llewellyn
conversou com pais dele, a sós, soube que o Tsendjav era
um dos trigêmeos. Ainda bebê, ele recebera um antibiótico
contra uma infeção. Seus pais dizem que isso o deixou
surdo. Por 30 anos, esses respeitáveis pais, o pai é professor
de mongol na Universidade da Mongólia e a mãe é
professora em uma escola de elite, ocultaram o filho dos
visitantes a fim de evitar o constrangimento de saberem
que eles tiveram um filho deficiente. Sempre que alguém
batia à porta, os pais seguravam o indicador na frente
dos lábios e ele era levado às pressas para o quarto onde
deveria permanecer longe da vista e em silêncio até que os
visitantes saíssem.
Ninguém sabia que eles tinham outro filho e que este
era surdo. Embora o amassem, não sabiam como lidar com

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sua deficiência. Assim eles, como os pais em muitos países,
mantiveram-no em segredo. Tsendjav viveu em um mundo
silencioso e solitário. O único sinal que conhecia era o
indicador sobre os lábios.
Na semana anterior, os pais ouviram a respeito do curso
de língua de sinais oferecido pela ADRA. Eles reuniram
muita coragem para tirar o Tsendjav do apartamento,
pela primeira vez em 30 anos! No primeiro dia de aula,
o rapaz não levantou a cabeça e não fez nenhum sinal de
agradecimento.
Mas, nessa sexta-feira, depois de apenas cinco dias,
ele foi o centro de muitas conversas. Naquela semana ele
aprendeu todas as 35 letras do alfabeto mongol.
Que alegria foi para os pais pegarem o dicionário com
600 palavras na língua dos sinais como sua chave para se
comunicarem com o filho. E qual não foi a alegria no rosto
do Tsendjav ao apertar a mão do Llewellyn, entregando-lhe
uma rosa, e puxando a cabeça do Llewellyn na sua direção
a fim de poder apertar sua face contra a do Llewellyn como
sinal de respeito e gratidão.
Você também consegue imaginar a alegria no rosto
de Jesus? Esse jovem foi trazido à luz, à comunidade, à
aceitação e ao reconhecimento.
Os escritores dos evangelhos registraram várias histórias
de Jesus encontrando pessoas cegas, surdas, aleijadas, e
com dor e doenças crônicas. O que Ele fez?
Primeiro, notava-as. Detinha-Se no caminho, sem Se
importar o quão importante fosse sua agenda. Depois, ouvia-
lhes os rogos. Na maioria das vezes, suas necessidades eram
muito óbvias. Ainda, Ele lhes perguntava o que necessitavam
e o que queriam. Então, tocava-as e satisfazia-lhes as
necessidades. Curava-as. Perdoava-lhes os pecados. Explicava-

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lhes a salvação. Dava-lhes a certeza de que tinham valor. Ele
lhes restaurava o espírito.
E é isso o que Jesus também nos pede para fazer: notar,
ouvir, tocar, satisfazer as necessidades e amar.
Mateus 20 registra um encontro que Jesus teve com
dois cegos. Certo dia, ao passar por eles no caminho, ele
clamaram: “Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de
nós!” Também queriam ser reconhecidos e não ignorados
ou afastados enquanto as pessoas passavam por eles.
Mas, como de costume, a multidão os repreendeu “para
que se calassem”.
Porém, não Jesus. Ele Se deteve e perguntou: “Que
quereis que eu vos faça?”
“Senhor, que se nos abram os olhos”, foi a resposta.
A Bíblia nos diz: “Condoído, Jesus tocou-lhes os olhos,
e imediatamente recuperaram a vista e o foram seguindo”
(verso 34). Ele não apenas parou e conversou com eles,
tocou-os.
Esses cegos eram “pobres de espírito”, mas logo estavam
contemplando o rosto de Jesus e cantando-Lhe louvores.
Algum dia, Ele irá tocar os lábios do Tsendjav e lhe
devolver a fala. Você gostaria de estar lá para ouvir suas
primeiras palavras?

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Bem-aventurados os
quechoram,
porque serão consolados.

O marido acreditava que não havia motivo para ir


embora. Assustada, Tuti Jasmani não tinha tanta certeza.
Ocorrera um grande terremoto naquela manhã de 26 de
dezembro de 2004 e, por duas horas, ela vira o mar se
retirar. Estava grata porque um tio, em uma motocicleta,
pegara seu filho de cinco anos e o levara a um lugar alto.
Ela implorou com o marido para fugirem, mas
simplesmente ele repetia: “Este é o Kiamat, o fim do
mundo; nada que fizermos mudará isso”. Ele era pescador,
e a família vivia junto ao rio, perto do mar, no sul de
Meulaboh, Indonésia.
Em pé, fora da casa, eles observaram a água se
aproximando. Sua filha de quatro anos estava chorando.
Tuti ergueu-a e a segurou nos braços. Então a Tuti viu
uma onda enorme que vinha na direção deles. Depois
disso, o único que soube foi que a água a atingiu e que ela
estava rodopiando, segurando desesperadamente a filha. O
marido tentou agarrá-la, mas rasgou seu vestido enquanto
a água os separava.
Tuti estava lutando e tentando manter a cabeça fora
da água enquanto agarrava a filha. Ela foi arremessada
e levada pela água. Reconheceu a clínica local e tentou
se agarrar a algo com a mão que estava livre, mas não
conseguiu. Rodopiando e passando pela escola de ensino

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fundamental, agarrou-se a um fio elétrico. Olhou para
a filha e viu uma espuma branca ao redor de sua boca e
soube que ela estava morta. A Tuti não notou quando a
menina morreu, mas ainda a segurava. O fio não era forte
e se partiu. Ela foi levada pelas águas.
Sentia os muitos objetos na água com os quais colidia
e se chocava. Ela não mais conseguiu segurar a filha e não
a encontrou novamente. Tuti temia que seu marido e filho
também estivessem mortos. Não havia mais nada pelo que
viver, ela pensou, perdendo as forças e o desejo de lutar.
Em seu coração, ela gritava a Deus para levá-la também.
Em meio a seu desespero, Tuti foi tirada da água por
um idoso sobre um telhado. Ele lhe deu sua camisa para
cobrir sua nudez e a fez beber um pouco de água. A Tuti
estava exausta, e perdia e recobrava sua consciência. O
homem bateu em seu rosto algumas vezes para fazê-la
voltar a si. Ele a animou e lhe disse para não desistir; ela
devia continuar lutando pela vida. Enquanto ele a ajudava,
outra onda os atingiu. O homem foi levado pelas águas.
Com muito medo de se mexer, a Tuti se agarrou ao
telhado até a noite. A escuridão era total. Ela ouvia os
soldados gritando nas trevas em busca de sobreviventes.
Ela respondeu e os soldados a levaram a um hospital no
interior do país. Ali suas feridas foram limpas e um grande
corte em seu estômago foi suturado.
Dois dias depois, ela foi levada a seu filho. Ninguém
havia visto ou ouvido de seu marido. Depois de doze dias
de buscas, ela encontrou seu idoso pai e uma sobrinha.
Seu pai estava devastado. Dos oito filhos, somente a Tuti
sobrevivera ao tsunami, e dentre os netos, apenas dois
estavam vivos.

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Esses quatro sobreviventes encontram abrigo no
acampamento das Nações Unidas para deslocados internos.
A Tuti, tinha 25 anos, e nunca havia trabalhado. Mas
agora necessitava prover para seu filho, pai e sobrinha.
Ela ficou muito agradecida quando teve a oportunidade
de participar do programa para mulheres “dinheiro pelo
trabalho” da ADRA. A cada dia, ela se mantinha atarefada
empacotando cadernos e lápis da ADRA em mochilas
escolares. E, embora seu coração estivesse pesaroso pelas
perdas, ela encontrou conforto em saber que estava
ajudando os sobreviventes de sua família e construindo um
futuro para eles.
A maioria dos sobreviventes ficou feliz pela
oportunidade de ganhar uma pequena renda ou receber
as ferramentas necessárias para restabelecerem os meios
de sobrevivência. Ter uma ocupação e ser produtivos os
ajudaram na cura de seu luto. É por isso que a ADRA
também tentou levar as crianças de volta à escola, o quanto
antes possível, depois do tsunami.
Grupos de aconselhamento e de apoio também
ajudaram na cura. Por exemplo, na pequena vila de
pescadores de Sothikuppam, ao longo da costa sudeste
da Índia, a ADRA ajudou a estabelecer um grupo de
apoio para as mães que perderam um ou mais filhos.
Os membros do grupo disseram à ADRA que antes do
tsunami, as mulheres na vila tinham pouca interação
umas com as outras. Agora, mais de três anos depois, elas
ainda se reúnem duas vezes por mês e continuam muito
próximas umas das outras.
“Sem essa atividade e este grupo entraríamos
novamente em depressão”, disseram as mulheres.
“Nossas lágrimas nunca se secarão, mas tenho novas
amigas para me ajudarem a lidar com minha dor”, outra

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mãe disse. “Todas somos mais fortes e unidas agora”.
O conforto, muitas vezes, vem da realização do
trabalho, especialmente em favor dos outros, e no levar
os fardos uns dos outros. Talvez seja por isso que a Bíblia
assim nos aconselha: “Alegrai-vos com os que se alegram e
chorai com os que choram” (Romanos 12:15).
Foi isso o que Jesus fez. O profeta Isaías disse que Jesus
“tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores
levou sobre si” (Isaías 53:4).
Certo dia, Jesus foi informado de que Seu querido
amigo, Lázaro, estava à beira da morte. Quando Jesus
chegou ao local, havia vários dias que Lázaro morrera.
A Bíblia nos diz que ao ver as irmãs e amigos de Lázaro
chorando, Jesus ficou profundamente comovido e chorou
com eles.
Porém, Jesus fez mais do que chorar com os enlutados. Ele
ressuscitou Lázaro! E deu à Marta, irmã de Lázaro, esta bela
promessa que se aplica a cada um de nós: “Eu sou a ressurreição e
a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá”.
Nunca foi pretensão de Deus que alguém, ou algo,
morresse. Qualquer tipo de morte O entristece, muito
mais do que a nós. Então, embora possamos chorar com
os que choram, também podemos lhes assegurar que
devido ao fato de Jesus ter morrido na cruz, algum dia
a morte morrerá. A Bíblia promete que quando Jesus
voltar, “Tragará a morte para sempre, e, assim, enxugará
o SENHOR Deus as lágrimas de todos os rostos”. Então,
certamente, juntos iremos nos regozijar.

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Bem-aventurados os mansos,
porque herdarão a terra.

C erto dia, a Sharon Pittman, diretora da ADRA


Guiné, na época, parou em uma pequena vila a alguns
quilômetros de Siguiri. Siguiri está localizada no nordeste,
perto do Rio Níger. Ela queria conferir os projetos da vila,
especialmente o projeto de Sobrevivência Infantil.
Pouco depois de sua chegada, ela foi apresentada à
parteira tradicional da vila. Essa mulher, que aparentava
ter 40 anos, queria mostrar à Sharon sua bolsa com
suprimentos. Cerca de cinco anos antes, com os fundos
da USAID, a ADRA chegou a essa área e treinou 120
parteiras tradicionais de diferentes vilas.
Essa mulher era uma das pessoas que recebeu treinamento
e materiais. Ela deu um largo sorriso ao abrir a bolsa e retirar
as luvas que lhe foram dadas, bem como outros materiais.
Ela também abriu um livro que usa para manter os registros.
Então contou à Sharon que registra cada nascimento como:
nascimento vivo, natimorto, ou nascimento com problemas
que requereu atendimento hospitalar. Ao colocar o livro sobre
a mesa de madeira rústica, diante da Sharon, ela começou a
mostrar ano a ano.
“No primeiro ano, depois que a ADRA esteve aqui”, ela
explicou, “tivemos cinco mortes”. No segundo ano, tivemos
apenas três mortes. E no último ano”, ela começou a saltitar,
“louvado seja Deus, não tivemos mortes nesta vila”.

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Juntas, celebraram o conhecimento que ela havia
recebido, o conhecimento que a capacitou a fazer a diferença
de forma significativa, ao salvar vidas. Essa parteira vira as
trágicas estatísticas em primeira mão. Na Guiné, um dos
países mais pobres da África Ocidental, a taxa de mortalidade
infantil é de 123 para cada mil nascidos vivos. Essa é uma
das taxas mais elevadas de mortalidade infantil no mundo, de
acordo com a Organização Mundial da Saúde. Para se ter uma
ideia melhor, a taxa de mortalidade infantil, no Japão, é de
três por mil e de sete por mil nos Estados Unidos. Para piorar
as coisas, a média de vida de uma mãe na Guiné é de 43 anos.
Uma das causas da elevada taxa de mortalidade materna
e infantil é a má nutrição das mães, devido à pobreza.
Ainda, o cuidado pré-natal é virtualmente inexistente em
muitas vilas. E, antes do treinamento oferecido pela ADRA,
a maioria das parteiras locais conduziam os nascimentos
usando as habilidades transmitidas pelas avós para as mães
ao longo das gerações. A maioria não tinha como identificar
uma gravidez de risco. Mas quando as mulheres, como
essa parteira da vila, aceitaram a oferta de treinamento, os
resultados foram tremendos!
Mansidão significa estar disposto a aprender. O Salmo
25:9 diz: “Guia os humildes na justiça e ensina aos mansos o
seu caminho”. Caso as parteiras locais não tivessem aceitado
o treinamento, e tivessem dito: “Eu sei tudo o que necessito
saber”, ainda estariam vendo pessoas morrerem ao seu redor.
Mansidão também significa ser humilde, estar disposto
a servir aos outros. Como parte do projeto de Sobrevivência
Infantil, na Guiné, a ADRA ajudou os aldeões a criarem um
programa simples de seguro de saúde. Os aldeões separam
uma pequena quantia de dinheiro e o depositam em um
fundo comunitário. Então, quando uma mulher na vila tem
o diagnóstico de gravidez de alto risco, feito pela parteira,

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ela pode usar esse dinheiro para pagar pelo transporte até
um centro de saúde local, onde pode fazer o pré-natal e ser
assistida por uma parteira profissional.
Ao os aldeões conversarem uns com os outros dessa
forma, sentem-se bem a respeito de salvar vidas. Na
verdade, nas vilas onde as pessoas estiveram dispostas a
ser mansas, a aprenderem e a compartilharem uns com os
outros, as taxas de mortalidade infantil ficaram abaixo de
5%, enquanto a média do país é de mais de 12%.
Mansidão é a qualidade que não apenas atrai as
pessoas, mas que também as transforma e salva. Moisés,
o líder dos israelitas, foi um dos homens mais mansos e
humildes da Terra, descrito na Bíblia. Números 12:3 nos
diz: “Era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os
homens que havia sobre a terra”.
Não obstante, Moisés poderia ter se sentido orgulhoso
e independente. Deus o ajudara a tirar uma imensa
multidão da escravidão. Moisés, porém, continuou sendo
manso e disposto a ser ensinado ao longo da vida. Quando
seu sogro, Jetro, o visitou e viu o que Moisés estava
tentando fazer, deu-lhe alguns conselhos. “[...] tu só não o
podes fazer”, ele disse a Moisés. “ensina-lhes os estatutos e
as leis e faze-lhes saber o caminho em que devem andar e a
obra que devem fazer. [...] põe-nos sobre eles por chefes de
mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez”.
Em outras palavras, encontre pessoas em quem você pode
confiar e delegue. Moisés ouviu e “fez tudo quanto este lhe
dissera” (Êxodo 18:18, 20, 21, 24).
Outro ato surpreendente de Moisés, um ato
característico da pessoa mansa, foi quando ele se
identificou com o povo a tal ponto de estar disposto
a sofrer por e com eles. Ao ele descer da montanha,

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carregando os preciosos Dez Mandamentos, ele viu o
povo dançando ao redor de ídolos. Ele sabia que isso
demonstrava grande desrespeito para com Deus e sabia
que o povo devia ser punido. Mas ele mesmo rogou a Deus
em seu favor: “[...] Ora, o povo cometeu grande pecado,
fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa-lhe
o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que
escreveste” (Êxodo 32:31, 32).
Deus respondeu: “Riscarei do meu livro todo aquele
que pecar contra mim. Vai, pois, agora, e conduze o povo
para onde te disse” (Êxodo 32:33, 34).
Em outras palavras, Deus não tinha a intenção de
punir Seu amado servo Moisés. E teve de admirar seu
espírito de sacrifício. É o mesmo espírito revelado por Jesus
quando lavou os pés de Seus discípulos (João 13) e quando
morreu na cruz por todos os nossos pecados.
Filipenses 2:5-8 nos instrui: “Tende em vós o mesmo
sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois
ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como
usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se
esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em
semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,
a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à
morte e morte de cruz”.
Isso é mansidão; essa é a essência do servo.

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BBem-aventurados os que
têm fomeesededejustiça,
porque serão fartos.

P aul Smart, na época diretor da ADRA Etiópia, certo


dia, dirigiu até o deserto da Etiópia. Ele notou o gado
magro, a terra estorricada, sem árvores e as pessoas que
pareciam apenas pele e osso.
Ao sair do veículo e se dirigir para a vila,
cumprimentou um menino pequeno que estava ao lado
do caminho. O menino aparentava ter nove anos. Eles
trocaram algumas palavras amistosas e então Paul lhe
perguntou: “Você gostaria de beber água?”.
Era uma oferta simples, nada que pudesse entusiasmar
a maioria das crianças. Mas Paul sabia que aquela vila
estava passando por uma grave fome e escassez de água.
“Não. Não, muito obrigado”, o menino respondeu
respeitosamente. “Hoje não é minha vez de beber água”.
Paul ficou espantado com a resposta. E sabia
exatamente o que significava. Nessa área devastada pela
seca, as crianças bebiam água a cada segundo dia, se
tivessem sorte. No restante do tempo, deviam viver com a
secura na boca e no corpo.
E quando as crianças, nessas áreas áridas, recebem água
para beber, muitas vezes ela é barrenta. O mais provável é
que também esteja contaminada por bactérias, o que pode
provocar diarreia naqueles que já estão desidratados. As

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crianças são as primeiras a adoecerem e morrerem devido a
doenças relacionadas com a água. Na verdade, a água suja
e as péssimas condições sanitárias matam mais de cinco mil
crianças por ano.
A água potável é essencial à sobrevivência. Na média,
o ser humano pode viver apenas três dias sem água,
dependendo do clima e do esforço físico.
Talvez seja por isso que Jesus Se comparou à água.
Em João 4, lemos a respeito da viagem que estava fazendo
da Judeia para a Galileia. Ele passou por Samaria e Se
assentou para descansar junto ao poço de Jacó. Ele estava
cansado, faminto e sedento devido à jornada, e Seus
discípulos saíram para comprar alimento. Mas Ele não
tinha com que tirar a água do poço para aliviar Sua sede.
Então uma mulher veio para tirar água do poço.
“Por favor, você poderia me dar água?”, Jesus lhe pediu
gentilmente.
A mulher respondeu: “Como, sendo tu judeu, pedes de
beber a mim, que sou mulher samaritana”? Os judeus não
se associavam com os samaritanos e, portanto esse pedido
estranho a deixou surpresa e confusa.
Jesus respondeu: “Se conheceras o dom de Deus e
quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e
ele te daria água viva”.
Intrigada com essas palavras, a mulher disse: “[...]
onde, pois, tens a água viva?”
Foi então que Jesus começou a lhe explicar que estava
falando de Si mesmo, de Seu dom de insondável amor
e da vida eterna. “Quem beber desta água tornará a ter
sede”, Ele disse apontando para o poço, “aquele, porém,
que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede;

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pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a
jorrar para a vida eterna”.
A mulher ainda sem compreender plenamente disse:
“Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais tenha
sede, nem precise vir aqui buscá-la”.
Jesus teve de esclarecer ainda mais. Então, começou
a lhe falar a respeito de sua vida e relacionamentos. Essa
mulher tentara satisfazer suas necessidades em lugares
errados, nos seres humanos.
Essa é a tentação que muitas pessoas experimentam.
Assim como aqueles que estão fisicamente sedentos são
tentados a beber qualquer água que esteja disponível, não
importa o grau de contaminação, as pessoas que estão
emocional, social ou espiritualmente sedentas tentam
satisfazer suas necessidades com o que quer que esteja ao
alcance de suas mãos. Inicialmente, pode parecer satisfazer
sua sede, mas então tem início uma espiral mortal no vício
e na disfunção.
Exatamente aquilo que anelamos pode nos matar, caso
venha de fontes erradas. Devemos questionar nossos anelos
e submetê-los a Deus. Tudo o de que necessitamos é de
água pura, água que restaure e fortaleça a saúde. Água viva.
Paul Smart conta de como, algumas vezes, sentado
em seu escritório, em Addis Ababa, observava a fonte
do lado de fora. Mas a uma distância de três horas,
dirigindo rumo ao sul, não caia nem uma gota de chuva.
Desesperadamente ele queria assegurar que cada pessoa
tivesse a água necessária. Algumas vezes isso envolvia levar
água em caminhões-pipa até eles, retirada das regiões
montanhosas. Algumas vezes, significava consertar os
poços ou fazer com que as perfurações funcionassem
novamente. Algumas vezes, significava introduzir um
equipamento para purificar a água em alguma área.

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Da mesma forma, algumas vezes as pessoas necessitam
que uma boa dose do amor de Deus seja compartilhada
com elas. Algumas vezes, elas necessitam apenas de um
lembrete, talvez de uma simples oração. Algumas vezes,
necessitam de um novo começo; necessitam se sentir
perdoadas e purificadas e capazes de seguir em frente. Mas
todas essas necessidades podem ser satisfeitas somente
através de uma fonte: Jesus.
“Se houver apenas uma noite de chuva”, Paul
observou, “o povo na Etiópia estará no pasto, juntando a
água das poças no chão. Nessas regiões do mundo, a água
é como ouro aqui. E as pessoas farão qualquer coisa para
obtê-la”.
Nós também deveríamos estar dispostos a fazer
qualquer coisa para ter Jesus em nossa vida. Deveríamos
fazer tudo o que Ele nos pede e abandonarmos tudo
neste mundo para segui-Lo. A Bíblia promete que se O
buscarmos de todo o coração e com toda nossa alma,
iremos encontrá-Lo (Deuteronômio 4:29).
Ele mesmo prometeu: “Eu sou o pão da vida; o que
vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais
terá sede. [...] Quem comer a minha carne e beber o meu
sangue permanece em mim, e eu, nele” (João 6:35, 56).
Deveríamos almejar a Jesus assim como almejamos a
água e o alimento. No Salmo 42:1, 2 lemos as seguintes
palavras de Davi: “Como suspira a corça pelas correntes
das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A
minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; [...]”.
Somente Jesus pode definitivamente satisfazer toda
sede. Ele é a água viva. Que possamos beber de Seu amor a
cada dia.

21
Bem-aventurados os
misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.

Q uando Siphokazi Dumani foi para o hospital


em Queenstown, África do Sul, para dar à luz, ela não
sabia que estava com problemas. O pessoal do hospital
a aconselhou a fazer o teste do HIV. Era apenas por
precaução, eles lhe disseram. Ela concordou.
Quando soube, pelo resultado do teste, que era HIV
positivo, ela ficou estarrecida. Não há vida para mim,
pensou. Não há esperança.
Certo dia, Jesus contou a história de outra pessoa que
acreditava que sua vida chegara ao fim (ver Lucas 10). Esse
homem estava viajando de Jerusalém para Jericó. Talvez ele
soubesse que aquele trecho da estrada era perigoso, mas fez a
viagem mesmo assim. Subitamente, foi atacado e os ladrões
levaram suas posses (incluindo as roupas), espancaram-no e o
deixaram quase morto. O que seria dele agora?
Siphokazi perguntava o que seria dela e de sua filhinha.
Afinal de contas, ela fora contaminada pelo HIV pela
pessoa em quem acreditava poder confiar – o pai de sua
filha. Ela foi para a casa dos pais e chorou por muitos dias.
“Eu me sentia inútil”, ela disse. “Pensava que iria morrer”.
Ela também estava com medo de contar aos pais
ou a outra pessoa a respeito de sua contaminação pelo
HIV. Embora o HIV e a AIDS sejam lamentavelmente
prevalecentes na África do Sul, as estatísticas do Centro de

22
Pesquisa Atuarial mostram que quase um em cinco adultos
(e uma em cada três grávidas) está infectado, e o estigma
assombra os que recebem esse diagnóstico. O HIV é visto
como uma doença de pessoas pobres; e um estudo revelou
que até mesmo nas igrejas, alguns pastores se recusavam a
batizar ou a lavar os pés de pessoas HIV positivas.
O homem, na história de Jesus, também foi vítima
de discriminação. Quando um sacerdote passou por ele,
caminhou pelo outro lado do caminho para ficar o mais
distante possível. Não queria nem mesmo se aproximar
do sangue, da sujeira e do perigo. Depois passou um
levita. Ele foi movido de compaixão e se aventurou a se
aproximar para olhar o homem sofredor. Mas convenceu-
se de que isso não lhe dizia respeito.
De igual forma, muitos moradores em Ezibeleni
Township, a comunidade agrícola ventosa onde a
Siphokazi vive, ignoravam as vítimas do HIV e AIDS. Não
obstante, a AIDS é a principal causa de mortes e, na África
do Sul, alarmantes 71% das mortes entre pessoas de 15 a
49 anos são provocadas por essa doença. Quem ajudaria a
salvar os sofredores?
Enquanto o viajante na história de Jesus está jogado
ao solo, talvez gemendo, talvez inconsciente, um
terceiro viajante se aproxima. Esse era um samaritano,
alguém que os judeus rejeitavam. Mas esse homem
teve compaixão do sofredor. Inclinou-se, tratou os
ferimentos do homem, ergueu-o e o colocou sobre seu
jumento, e levou-o a uma hospedaria, fazendo também
provisões para sua recuperação.
Dois anos atrás, Cecília Peter e seu marido, Edmund,
ambos jubilados e residentes em Ezibeleni, abriram o Centro
de Serviços de Saúde Hopewell. Cecília recebeu treinamento

23
como formadora voluntária da TOT (Training of Trainers)
Formação de Treinadores em HIV e AIDS da ADRA. Como
uma voluntária da TOT, Cecília estava atarefada ensinando
em vários locais. Mas ela e o Edmund queriam fazer mais.
Então, com a ajuda da ADRA e de alguns empresários locais,
eles iniciaram o centro em um pequeno edifício nos fundos
de um lote fechado.
Aproximadamente 115 pessoas frequentam o centro
a cada terça e quinta-feira. Muitos deles vêm em busca
do alimento saudável que lhes é oferecido. Quanto maior
a família, mais conchas eles recebem. Muitos veem para
aprender sobre a prevenção do HIV e AIDS. E muitos, como
a Siphokazi, veem para saber como lidar com seu diagnóstico.
Em uma sala dos fundos, a Cecília dá aconselhamento a cada
pessoa que deseja conversar com ela.
Quando a Siphokazi foi para o Hopewell, estava
incerta quanto ao tipo de vida que teria e por quanto
tempo poderia ficar com sua filha. A Cecilia e outros
voluntários tentaram lhe mostrar como permanecer bem.
“O Hopewell me disse que se você deseja que seu corpo
seja forte”, a Siphokazi diz, “você tem que se alimentar de
forma saudável. Agora consigo ver um futuro”.
Na verdade, a bondade da Cecília ajudou a dar à
Siphokazi confiança para conseguir um trabalho na equipe
de limpeza de um hospital em Queenstown. Não era
fácil ser contratada, pois ela cursara somente até a oitava
série. Ela tinha de se levantar às quatro horas da manhã
para chegar ao trabalho. Mas o dinheiro extra a ajudou
a comprar alguns itens essenciais, que ela não conseguia
antes com a ajuda de seus pais.
Um ano atrás, Siphokazi se sentiu traída pelo homem a
quem amava, rejeitada pela sociedade e sem esperança quanto
ao futuro. Devido à misericórdia, agora ela se sente aceita e

24
otimista. “Fiquei muito feliz quando soube que o resultado
dos testes de minha filha deram negativo”, ela diz, depois que
o teste do sangue da Liyeman não acusou o HIV.
Siphokazi está viva e produtiva hoje, devido à
misericórdia. E o viajante ferido, na história de Jesus, se
recuperou devido à misericórdia.
Na verdade, Jesus contou a história para responder a
uma pergunta. Um homem O desafiou ao perguntar: “O
que eu devo fazer para herdar a vida eterna?”.
Jesus responde que ele deveria amar a Deus e a seu
próximo como a si mesmo. Então o homem perguntou:
“Quem é o meu próximo?”.
Foi então que Jesus contou essa história. Ao concluí-la,
ele perguntou a Seu indagador: “Qual destes três te parece
ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos
salteadores?”.
“O que usou de misericórdia para com ele”, o homem
respondeu.
“Vai e procede tu de igual modo”, Jesus o instruiu.
E essa é a mensagem para nós hoje. A escritora cristã,
Ellen White, disse no livro O Desejado de Todas as
Nações: “Cristo ligou Seus interesses aos da humanidade,
e pede-nos que nos identifiquemos com Ele em prol da
salvação dela. [...] Se somos cristãos, não passaremos de
largo, mantendo-nos o mais distante possível daqueles
mesmos que mais necessidade têm de nosso auxílio.
Ao vermos criaturas humanas em aflição, seja devido a
infortúnio, seja por causa de pecado, não digamos nunca:
Não tenho nada com isso” (p. 354).
Graças à Siphokazi e ao viajante na estrada, a
misericórdia se manifestou. E que bênção quando essa
misericórdia vem de nossas mãos!

25
Bem-aventurados os
limpos decoração,
porque eles verão a Deus.

M arissa, 10 anos, vive em uma vila rural no norte


da Tailândia. Ela faz parte da população tribal montanhesa,
um grupo étnico minoritário, isolado da sociedade
tailandesa dominante.
Esse povo tribal vive em condições muito primitivas.
As casas são de bambu, sem eletricidade ou água corrente.
Eles não falam o tailandês (falam seu próprio dialeto), e
não têm documentos formais, pois imigraram de países
vizinhos. Isso significa que não têm acesso a serviços
educacionais e médicos.
No entanto, a família da Marissa, assim como a maioria
das famílias tribais ali, é muito unida e amorosa. Os pais
trabalham arduamente quando conseguem encontrar um
trabalho manual, mas isso é apenas por quatro meses no
ano, e eles ganham apenas 26 centavos por um dia de oito
horas de trabalho. Os $7.50 mensais devem sustentar toda
uma família, provendo alimento, água, remédios e roupas.
Isso explica porque tantas famílias tribais são o alvo de
empresários desonestos. Aproveitando-se das festividades da
vila, durante o Ano Novo Tailandês, eles viajam para essas
montanhas e escolhem suas presas: meninas jovens, doces e
puras. Crianças como a Marissa.
Então oferecem $100 a cada família escolhida para levar
sua filha. Eles prometem que esse é o pagamento adiantado

26
pelo trabalho da menina, que será contratada como
garçonete em um restaurante ou como faxineira em uma
casa grande. “Ela terá uma vida melhor”, o homem promete.
Então as famílias concordam. Como poderiam recusar
a oportunidade de seus filhos terem um salário regular e
receberem três refeições por dia (outra promessa falsa)?
Muitas vezes, quando as meninas partem da vila, como o
rico empresário, toda a família e comunidade se alegram
porque alguém de seu meio saiu da pobreza.
Porém, a pequena Marissa foi suficientemente
inteligente para observar algo significativo. “Algumas
meninas voltam para a vila, e estão bem vestidas porque têm
dinheiro”, ela diz. “Mas parecem cansadas e extenuadas. Não
sei o que acontece com elas na cidade, mas faz com que se
pareçam mais velhas do que são”.
A realidade é que as meninas que voltam para casa,
provavelmente têm AIDS, contraída devido a seu trabalho
como prostitutas. A maioria dos empresários que visita as
vilas tribais montanhesas são, na verdade, traficantes de sexo,
que busca as “melhores” para vender. As meninas que são
levadas, muitas vezes com apenas dez anos, são trancadas em
prostíbulos escuros e imundos. Elas podem ficar sem ver a
luz do dia por dois anos.
Guarda-costas ficam na entrada e nos fundos do
edifício a fim de impedir que elas fujam. No interior do
edifício, luzes piscando atingem seus olhos e a música
popular tailandesa explode de estéreos baratos. E, nos
quartos escuros, meninas amedrontadas são forçadas
a esperar pelo próximo freguês para violentá-las. E as
meninas pequenas estão disponíveis para sexo 24 horas
por dia, sete dias por semana.

27
Mais de 40% delas contrai HIV. Algumas são libertadas
quando são diagnosticadas com AIDS e estão muito
doentes para trabalhar, e já não mais são úteis para seus
proprietários. Doentes, assustadas e solitárias, as meninas
voltam para casa, apenas desejando estar com os pais. Poucas
conseguem admitir o que lhes aconteceu, porque elas e a
família toda poderiam ser expulsas da vila. Então mantêm
segredo e morrem uma morte vergonhosa.
Felizmente, para a Marissa, ela foi salva dessa sina.
Através do programa de Keep Girls Safe (Manter as
Meninas em Segurança) da ADRA, foi-lhe oferecida a
oportunidade de viver em um abrigo da ADRA para
meninas. Ali elas recebem tudo o de que necessitam:
alimento, cadernos, uniforme escolar, mensalidades da
escola, e lições em tailandês a fim de poderem frequentar
a escola regular e vislumbrar um futuro melhor. Ainda,
o mais importante, elas podem seguir sendo crianças.
Inocentes. Puras. Abertas. Otimistas.
Jesus valoriza as crianças e a pureza infantil de
tal forma que sugere aos adultos que se tornem como
criancinhas! Certo dia, Seus discípulos Lhe perguntaram:
“Quem é, porventura, o maior no reino dos céus?”
Para responder, Ele chamou uma criança para junto de
Si e a usou como exemplo. Então disse: “Em verdade vos
digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como
crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”.
Ele prosseguiu dizendo: “E quem receber uma criança,
tal como esta, em meu nome, a mim me recebe. Qualquer,
porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que
creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao
pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na
profundeza do mar” (ver Mateus 18:1-6).

28
Essa é uma imagem muito forte! Mas Jesus, obviamente,
tinha forte consideração pelo valor das crianças e da
importância de se não explorar sua confiança e inocência.
Na verdade, depois, no mesmo discurso, Jesus disse: “Vede,
não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos
afirmo que os seus anjos nos céus veem incessantemente a
face de meu Pai celeste” (verso 10).
Certo dia, as mães trouxeram os filhos a Jesus a fim de
que Ele orasse por eles e os abençoasse. Mas os discípulos
tentaram afastá-los. Eram apenas crianças, eles pensavam,
e não valiam o tempo e a atenção de Jesus. Porém, Jesus os
deteve com as seguintes palavras: “Deixai os pequeninos,
não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino
dos céus” (Mateus 19:14). E Jesus não Se retirou do lugar
até que tivesse abençoado cada criança.
As crianças são preciosas a Deus, especialmente sua
inocência e pureza. Essas são as qualidades que Deus espera
que honremos, protejamos e busquemos possuir.
“Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que
pereça um só destes pequeninos”, Jesus disse enfaticamente.
(Mateus 18:14).
Ele também não quer que nenhum de nós se perca. E
se esse também for o nosso desejo, devemos nos assentar e
extrair lições de uma criança.

29
Bem-aventurados os
pacificadores,
porque serão chamados filhos de Deus.

E les eram filhos de uma vida de conflitos no Burundi.


A maioria das pessoas já ouviu a respeito da violência
étnica ocorrida entre os hutus e os tutsis, em Ruanda. Mas
o genocídio também ocorreu no Burundi, localizado ao
norte de Ruanda e ao sul e leste da Tanzânia.
Dois irmãos refugiados contaram suas experiências
ao Bjorn Kroll, diretor de relações públicas da ADRA
Dinamarca. Certo dia, o pai foi ao mercado para vender
vegetais e não voltou. No dia seguinte, eles ficaram
sabendo que fora baleado no caminho de volta para casa.
Então, poucos dias depois, eles estavam do lado de fora da
casa quando viram rebeldes se aproximando. Os meninos,
com apenas quatro e seis anos na ocasião, se esconderam
na vegetação. Os rebeldes invadiram a casa e mataram a
sua mãe e irmãs e irmãos. Os dois meninos correram para
dentro da mata e se esconderam por vários dias.
Quando, finalmente, saíram do esconderijo, eles
fizeram amizade com algumas famílias que passaram
a cuidar deles. Os meninos têm agora 15 e 17 anos e
voltaram para sua região onde tentam ganhar a vida. Eles
têm uma casa pequena, uma horta e algumas galinhas
poedeiras. Eles também estão frequentando a escola.
Os meninos voltaram para casa, mas facilmente
poderiam ter permanecido como refugiados. Bjorn explica

30
que durante os anos tumultuosos, centenas de milhares
de pessoas fugiram cruzando a fronteira para a Tanzânia.
A maioria dos refugiados era formada por mulheres e
crianças, porque muitos dos homens foram assassinados.
Felizmente, durante os últimos anos, o Burundi tem
visto um afrouxamento das tensões civis e a ADRA está
ajudando a criar um ambiente pacífico.
Dois passos parecem ser especialmente importantes
na cura das feridas e no estabelecimento da paz. Primeiro,
as pessoas devem ver a restauração do que foi perdido.
Não, os mortos não podem voltar à vida. Mas as famílias
refugiadas podem receber os materiais para reconstruírem
novamente sua casa, e ter um lugar onde viver e iniciar
uma nova vida.
Depois de viajar pelo Burundi, um membro do pessoal
da ADRA Dinamarca disse aos outros funcionários do
escritório: “Como eu gostaria que pudéssemos construir
mais casas, porque a necessidade é muito grande! Como
podemos convencer alguns dinamarqueses, cidadãos
particulares, a comprarem materiais de construção para
uma casa?”
Depois de alguns minutos trocando ideias, alguém
sugeriu pedir às empresas imobiliárias para vender casas
para os refugiados. Então Bjorn pagou pela visita de um
executivo da maior empresa imobiliária da Dinamarca.
“Por que vocês não vendem algumas casas na África?”,
Bjorn propôs. “Vocês vendem muitas casas na Dinamarca”.
O homem olhou para o Bjorn e perguntou: “O que
você está querendo dizer com isso?”
“Bem, se você pudesse fazer uma publicidade
semelhante à que vocês fazem para vender casas na
Dinamarca: feita de materiais naturais, imediações

31
arborizada, boas conexões sociais...”, o Bjorn seguiu
explicando, e disse que os corretores têm a reputação de
apenas tentar pegar o dinheiro das pessoas. Dessa forma,
eles poderiam fazer propaganda de que não estavam nem
mesmo ganhando dinheiro por essas casas!
“Puxa, parece interessante”, o homem respondeu.
Essa imobiliária, com 31 escritórios na Dinamarca,
produz regularmente revistas publicitárias, anunciando as
casas à venda na Dinamarca. Prontamente, junto com esses
anúncios, apareceu a publicidade de casas no Burundi.
Alguém que estivesse lendo a respeito de uma casa que
podia ser comprada por um milhão na Dinamarca, veria
que poderia comprar uma casa no Burundi, por $500.
Eles poderiam comprar duas mil casas para as famílias
refugiadas pelo preço de uma casa!
Então os jornais foram atrás da história, e também
as estações de rádio e de televisão. Mais de 100 casas,
no Burundi, foram vendidas em um só dia depois que a
história foi divulgada! Grandes companhias e escolas se
envolveram na angariação de recursos para devolver aos
refugiados algo que haviam perdido.
Tudo isso uniu as pessoas, não apenas no Burundi, mas
também na Dinamarca.
As pessoas que compravam uma casa para uma família
refugiada diziam aos amigos: “Acabo de comprar uma casa
na África”.
“O quê?”, os amigos perguntavam.
“Sim, comprei uma casa e dei a outra pessoa”.
“Você a comprou e doou?”
Sem dúvida, eles fizeram isso. E cada casa também
vinha com sementes para o plantio de milho, feijões e

32
árvores frutíferas a fim de que os proprietários pudessem se
tornar autossuficientes.
O primeiro passo na direção da paz, a restituição, está
ocorrendo. O segundo passo, é mais difícil: o perdão.
O governo do Burundi sabe que quando os refugiados
e as pessoas internamente deslocadas voltam para casa,
podem encontrar aqueles que mataram os membros de sua
família. Assim, eles devem aprender a viver pacificamente
uns com os outros. Dessa forma, as autoridades exigiram
que as pessoas encontrassem aqueles que prejudicaram sua
família. Então tinham de estar face a face e um grupo devia
dizer ao outro: “Sentimos muito por termos feito isso, e
queremos viver pacificamente com vocês”. Então o outro
grupo devia responder: “Iremos perdoá-los”.
Bjorn tem visto essa ação e observa: “Com a razão eles
podem perdoar, mas e quanto ao coração?”
O pessoal da ADRA está instruindo as pessoas na
reconciliação, ensinando-as a como verdadeiramente
perdoar seus inimigos; talvez até amá-los, como Jesus
pediu. Um jovem funcionário da ADRA no Burundi
internalizou a lição. Seu pai fora assassinado no conflito
étnico, e esse jovem teve de encarar o assassino e lhe dizer
que o perdoava.
Ele contou ao Bjorn: “Estou perdoando com a razão e
o coração”.
“E quanto ao futuro?”, Bjorn o testou. “Como será ser
vizinho do assassino de seu pai?”
“Está tudo bem, porque perdoamos um ao outro”, o
jovem respondeu sinceramente. “Conversamos a respeito e
está tudo bem”.
Perdoar um assassino é um dos atos mais difíceis que

33
uma pessoa pode fazer. Mas Jesus nos mostrou como,
quando Ele perdoou os que O crucificaram. E Ele disse
que devemos perdoar os que nos ofendem não apenas sete
vezes, mas setenta vezes sete (Mateus 18:22).
A Bíblia honra os pacificadores e nos pede para
perdoarmos e a amarmos. Jesus disse: “Amai os vossos
inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos
torneis filhos do vosso Pai celeste, [...]” (Mateus 5:44, 45).
Os filhos da guerra, os filhos de refugiados tem se
tornado filhos de Deus.

34
Bem-aventurados os perseguidos
por causa da justiça,
porque deles é o reino dos céus.

C erta manhã, no dia 16 de junho de 2005, a pequena


Kanika estava na sua classe, no jardim da infância. Então,
subitamente, por volta das 9h30, quatro homens armados
e mascarados invadiram sua escola, a Escola Siem Reap
International, no Camboja.
Siem Reap, no norte, próximo da fronteira com a
Tailândia, é a cidade de atração turística mais famosa
do Camboja, onde se encontra o templo Angkor Wat.
É também uma região onde a ADRA está ativamente
ajudando as comunidades rurais. Além do mais, o Camboja
é um dos países mais pobres do sudeste da Ásia. Oito por
cento das pessoas vivem na área rural, tendo a agricultura
como meio de subsistência, e 40% desses agricultores vivem
abaixo da linha da pobreza.
Siphar era um deles. Mãe de 32 anos, criava sozinha os
filhos, e vivia em uma casa primitiva de palha. Ela tentava se
sustentar e à sua filha com o plantio de arroz e vegetais, mas
era muito difícil sobreviver com $5 a $8 por mês, que é o
que ela ganhava.
Então, ela se inscreveu para trabalhar em um programa
de microcrédito da ADRA, em Siem Reap. Esse programa
auxilia as comunidades locais no desenvolvimento de um
fundo de crédito rotativo para ajudar indivíduos a iniciarem
um pequeno empreendimento. Um empréstimo pequeno,

35
normalmente por volta de $50 a $100, e que pode fazer
toda a diferença na vida de uma pessoa carente.
Siphar conseguiu o emprego como agente de crédito do
programa.
Então ela se tornou a presidente da associação de
capacitação de mulheres. E, em 2006, foi eleita como líder
da federação que supervisa todas as capacitações de mulheres
da região.
David Cowled, conselheiro do programa da ADRA em
Siem Reap, diz que ver a vida das pessoas mudarem dessa
forma foi o que o levou ao Camboja. E embora o Davi
nunca tenha imaginado que sua filha de seis anos, Kanika,
se tornaria uma refém, ele sabia que essa região era perigosa.
Quando ele levou a família para o Camboja, em 1997, ainda
havia conflito no norte, decorrente do Khmer Vermelho. O
conflito acabou vários anos depois.
Então, em 2005, homens armados atacaram a escola
de sua filha. Eles pensaram na escola como alvo porque
sabiam que era internacional, com alunos vindos de
aproximadamente 15 países. Eles queriam dinheiro para
comprar drogas e acreditavam que essas famílias eram ricas e
poderiam fornecê-lo.
Eles fizeram, pelo menos, 30 alunos e adolescentes
com reféns, na maioria crianças de dois a seis anos. Os
criminosos exigiram dinheiro, armas e transporte seguro
para a Tailândia.
Durante o impasse que durou seis horas, os atiradores
arrombaram a escola. Um menino de dois anos foi morto
com um tiro na cabeça, à queima-roupa. Um oficial
da polícia disse que o atirador admitiu que matou a
criança porque ela estava chorando muito. Quando os
sequestradores ameaçaram matar as crianças, uma a uma,

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a menos que suas exigências fossem atendidas, a polícia
invadiu a escola.
Centenas de pessoas aguardavam do lado de fora,
incluído os pais desesperados, ansiosos para estarem com os
filhos. Quando os atiradores foram trazidos para fora pela
polícia, alguns pais se vingaram, atacando-os e espancando-
os e, pelo menos, um deles ficou inconsciente.
Os Cowleds estavam entre esses pais irados? Não.
Naturalmente, ficaram muito agradecidos e aliviados por
terem sua filha de volta e em segurança. A Kanika conseguiu
fugir para a biblioteca, onde se escondeu dos atiradores.
Mas os Cowleds não tomaram a decisão de empacotar
suas coisas e voltarem para a Austrália, seu país de origem.
Na verdade, eles foram para o Camboja em 1997, com um
contrato de um ano. Estavam ali agora por mais de dez anos.
Essa experiência em vez de desanimar os Cowleds, fez com
que o David desejasse ajudar ainda mais o povo carente do
Camboja. Logo depois desse incidente, ele afirmou que o
ataque não afetaria seu desejo de trabalhar para melhorar
a vida dos cambojanos. E ele afirmou que sua declaração
pessoal de missão é “fazer uma diferença positiva no mundo
devido a ter vivido”.
Esse é o verdadeiro espírito missionário, não é mesmo?
É o mesmo espírito visto nos apóstolos. Atos 5 descreve
os apóstolos sendo postos na prisão por terem curado o
enfermo e falado a respeito de Jesus. Atos 7 e 8 fala de
mais perseguição, incluindo o apedrejamento de Estevão.
Na verdade, o livro de Atos registra ações maravilhosas, e
também a perseguição a pessoas corajosas que as praticaram.
Se considerarmos as bem-aventuranças como passos
que nos levam a ser mais semelhantes a Cristo, primeiro
um, depois o outro, podemos compreender porque este um

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é o último. Talvez seja o passo mais difícil e exigente, que
alguém pode dar: estar em um lugar desconfortável e até
mesmo perigoso, para servir a Deus. Arriscar a própria vida
para seguir Seu exemplo de serviço.
Filipenses 2 registra uma carta que Paulo escreveu
para a igreja em Filipos. Ele lhes diz que estava enviando
Epafrodito, que fora para ajudá-lo, e que adoecera e quase
perdeu a vida. “Recebei-o, pois, no Senhor, com toda a
alegria”, Paulo disse às pessoas, “e honrai sempre a homens
como esse; visto que, por causa da obra de Cristo, chegou
ele às portas da morte e se dispôs a dar a própria vida, [...]”.
Essa é a exata essência do serviço. Jesus disse: “O meu
mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim
como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este:
de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos”
(João 15:12, 13).
Algumas vezes o serviço nos dilata. Impõe demandas
sobre nosso conforto, sobre nosso tempo, posses, saúde,
família e vida.
Em 1955, Jim e Elizabeth Elliot e quatro outras famílias
se tornaram missionários aos índios auca, no Equador. Um
grupo de pessoas não alcançado e conhecido por sua selvageria
e canibalismo. Todos os cinco homens foram mortos pelos
canibais e, não obstante, muitas pessoas encontram Jesus através
dessas famílias de missionários. Antes de morrer, Jim escreveu:
“Não é tolo aquele que abre mão do que não pode reter para
ganhar o que não pode perder”.*
Isso é muito parecido com o que Jesus disse. Ele nos
disse para ajuntarmos “tesouros no céu” (Mateus 6:20). Ele
também afirmou: “Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-
la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará”
(Lucas 9:24).
* Extraído de https://pensador.uol.com.br/frase/NTcyNDcz/, em 04 de maio de 2017, pela tradução.

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Como seguidores de Jesus, viveremos de forma corajosa
e desprendida. Também iremos focar nossos esforços no
que é importante e eterno. E, ao permitirmos que as bem-
aventuranças se tornem parte de nossa vida, Sua promessa
para nós é: “Regozijai-vos e exultai, porque é grande o
vosso galardão nos céus”.

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Anotações

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