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Histórias de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS
ORGANIZADO POR MARA REGINA VEIT

Histórias
de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS

BELO HORIZONTE - 2003


Copyright © 2003, SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por
qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

Este trabalho é resultado de uma parceria entre o SEBRAE/NA, SEBRAE/MG, SEBRAE/RJ, PUC-Rio, IBMEC-RJ

Coordenação Geral
Mara Regina Veit
Coordenação e Concepção do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

Supervisão
Cezar Kirszenblatt
Daniela Almeida Teixeira
Renata Barbosa de Araújo

Apoio
Carlos Magno Almeida Santos
Dennis de Castro Barros
Izabela Andrade Lima
Ludmila Pereira de Araújo
Murilo de Aquino Terra
Rosana Carla de Figueiredo
Sandro Servino
Sílvia Penna Chaves Lobato
Túlio César Cruz Portugal

Produção Editorial do Livro


Núcleo de Comunicação do Sebrae/MG

Produção Gráfica do Livro


Perfil Publicidade

Desenvolvimento do Site
Daniela Almeida Teixeira
bhs.com.br

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


SEBRAE
Armando Monteiro Neto, Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Silvano Gianni, Diretor-Presidente
Paulo Tarciso Okamotto, Diretor Administrativo-Financeiro
Luiz Carlos Barboza, Diretor Técnico

SEBRAE-MG
Luiz Carlos Dias Oliveira, Presidente do Conselho Deliberativo
Stalin Amorim Duarte, Diretor Superintendente
Luiz Márcio Haddad Pereira Santos, Diretor de Desenvolvimento e Administração
Sebastião Costa da Silva, Diretor de Comercialização e Articulação Regional

SEBRAE-RJ
Paulo Alcântara Gomes, Presidente do Conselho Deliberativo
Paulo Maurício Castelo Branco, Diretor Superintendente
Evandro Peçanha Alves, Diretor Técnico
Celina Vargas do Amaral Peixoto, Diretora Técnica
O projeto
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi criado para que histórias emocionantes de
empreendedores, que fizeram a diferença em sua comunidade, em suas empresas, em suas
instituições, possam ser conhecidas, disseminadas e potencializadas na construção de novos
horizontes empresariais.

O método
O livro Histórias de Sucesso foi concebido com o intuito de utilizar o método de estudo de
caso para estruturar as experiências do Sebrae, e também contribuir para a gestão do
conhecimento nas organizações, estimulando a produtividade e capacidade de inovação, de
modo a gerar empresas mais inteligentes e competitivas.

A Internet
A concepção do Projeto Estudo de Casos para o Portal Sebrae www.sebrae.com.br pretende
divulgar e ampliar o conhecimento das ações do Sebrae e facilitar para as instituições e
profissionais que atuam na rede de ensino, bem como instrutores, consultores e instituições
parceiras que integram a Rede Sebrae, um conteúdo didaticamente estruturado sobre
pequenas empresas, para ser utilizado nos cursos de graduação, pós-graduação, programas de
treinamento e consultoria realizado com alunos, empreendedores e empresários em todo o
País.

O Site dos Casos de Sucesso do Sebrae, foi concebido tendo como referência os modelos
utilizados por Babson College e Harvard Business School , com o diferencial de apresentar
vídeos, fotografias, artigos de jornal e fórum de discussão aos clientes cadastrados no site,
complementando o conteúdo didático de cada estudo de caso. O site também contempla um
manual de orientação para professores e alunos que indica como utilizar e aplicar um estudo
de caso em sala de aula para fins didáticos, além de possuir o espaço favoritos pessoais onde
os clientes poderão salvar, dentro do site do Sebrae, os casos de sucesso de seu maior
interesse

A Gestão do Conhecimento
A partir das 80 experiências empreendedoras de todo o país, contempladas na primeira etapa
do projeto – 2002/2003, serão inseridos em 2004 outros casos de estudo, estruturados na
mesma metodologia, compondo um significativo banco de dados sobre pequenas empresas.

Esta obra tem sido construída com participação e dedicação de vários profissionais, técnicos
do Sebrae, consultores e professores da academia de diversas instituições, com o objetivo de
oportunizar aos leitores estudar histórias reais e transferir este conteúdo para a gestão do
conhecimento de seus atuais e futuros empreendimentos.

Mara Regina Veit


Gerente de Atendimento e Tecnologia do Sebrae/MG, Coordenadora do Sebrae da Prioridade
Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso 2002/2003, Concepção do Projeto Desenvolvendo
Estudo de Casos e Organizadora do Livro Histórias de Sucesso – Experiências Empreendedoras.
Pedagoga, Pós-graduada:Treinamento Empresarial/PUCRS, Administração/ UFRGS, MBA/ Marketing-
FGV/Ohio, Mestranda Administração/FUMEC-MG, autora do livro Consultoria Interna - Use a rede de
inteligência que existe em sua empresa. Ed. Casa Qualidade - 1998.
A INDÚSTRIA MOVELEIRA A
CAMINHO DA EXPORTAÇÃO
RONDÔNIA

INTRODUÇÃO

O setor moveleiro tem exercido importante papel na história do


estado de Rondônia, sendo um dos principais pólos de atração da região,
grande gerador de postos de trabalho e arrecadação de ICMS. O exercício
dessa atividade tem exigido uma abordagem baseada na sustentabilidade
da matéria-prima, na responsabilidade social e na preservação da natureza.
Rondônia, entre os anos 1960 e 1980, era considerada o eldorado
brasileiro, atraindo milhares de imigrantes da Região Sul, estimulados
pela distribuição de terras promovida pelo Governo Federal visando à
ocupação da região. O processo de povoamento acelerado trouxe
impactos ambientais negativos, resultado da ocupação desordenada e
da exploração indiscriminada dos recursos florestais. Tal modelo de
exploração incentivou o surgimento de um grande número de indústrias
madeireiras, produzindo e comercializando madeiras serradas. Essa
atividade, exercida ao longo dos anos, resultou na escassez de espécies
nobres, e na reação do poder público com o aumento do rigor das
prestações ambientais.
Como conseqüência observou-se uma paulatina diminuição do número
de madeireiras, focadas basicamente na extração e venda da madeira
em estado bruto, dando lugar ao crescimento da atividade moveleira.
Um grande número de micro e pequenos empresários do ramo
madeiro/moveleiro, oriundos de vários estados brasileiros, aportou em
Rondônia atraídos pela abundante oferta de matéria-prima. Foram criadas
pequenas unidades industriais em todos os municípios. Todas, porém,
enfrentaram dificuldades operacionais e de mercado. O desafio de
responder às dificuldades apresentadas motivou os pequenos empresários

Maria Tereza de Oliveira Marangon, Assistente administrativa da área de Tecnologia do


Sebrae Rondônia, elaborou o estudo de caso sob a orientação de Sandra R. H. Mariano,
baseado no curso Desenvolvendo Casos de Sucesso, realizado pelo Sebrae, Ibmec-RJ e PUC-
Rio, integrando as atividades da Prioridade Potencializar e Difundir as Experiências de
Sucesso no Sistema Sebrae.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


MÓVEL PRODUZIDO PELA INCOMOL MÓVEIS DA CIDADE DE PIMENTA BUENO

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003

PRODUZIDOS PELA EMPRESA CHAGAS MADEIRAS DE SANTA LUZIA


A INDÚSTRIA MOVELEIRA A CAMINHO DA EXPORTAÇÃO - RO 3

a formar grupos de caráter associativo, objetivando encontrar solução


para os p roblemas comuns. Nesse contexto, empresários do município
de Rolim de Moura criaram uma associação de moveleiros que
congrega empresas dos municípios de Santa Luzia e Pimenta Bueno.
Houve também a formação de um grupo de empresários de Ji-Paraná,
tendo surgido das discussões dos grupos a necessidade de buscar novos
mercados, especialmente o externo, haja vista a restrição do mercado
local e a baixa inserção dos seus produtos nos grandes c e n t ro s
c o n s u m i d o res do Centro Sul do país. No final de 1999, como p o r t a
voz da Associação dos Moveleiros de Rolim de Moura, o empresário
João Roberto Chagas solicitou ao Sebrae/RO apoio para viabilizar o
acesso do grupo às exportações. A partir dessa iniciativa, o Sebrae/RO
deu início a implementação de um amplo programa de capacitação
e modernização das empresas com objetivo de prepará-las para sua
inserção no mercado externo de forma sistemática.
O senhor João Roberto Chagas, conhecido como Beto, é um típico
pequeno empresário com visão empreendedora. Aliás, este é o perfil
da maioria dos integrantes dos grupos locais. Esse empresário instalou,
em 1994, no atual município de Santa Luzia, próximo a Rolim de
Moura, a sua pequena fábrica de cabo de madeira para ferramentas e
começou também a produzir móveis, mais especificamente camas. O
objetivo era vender a produção para São Paulo e Curitiba. O negócio
de venda de camas para o sul do país não obteve sucesso, com isso a
fábrica de camas foi desativada. Percebendo que as vendas e a
rentabilidade da sua empresa estavam ameaçadas, Beto se questionou:
o que fazer? Quais as alternativas poderiam ser adotadas para o
c rescimento do empreendimento? Essas questões tinham uma só
resposta: EXPORTAR.

Coordenação Técnica do Projeto no Sebrae: João Machado Neto.

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A INDÚSTRIA MOVELEIRA A CAMINHO DA EXPORTAÇÃO - RO 4

O DESAFIO DA COMPETITIVIDADE

S egundo estudo do BNDES1, a exportação brasileira de móveis


cresceu de US$ 40 milhões para US$ 501 milhões entre 1990 e 2001,
respectivamente. Os móveis de madeira representaram 70% do volume
exportado, sendo os EUA o principal destino. Rondônia, entretanto, não
estava entre os estados exportadores.
A questão da exportação estava na pauta das políticas públicas e dos
órgãos associativos da indústria, como, por exemplo, a ABIMÓVEL, (Associação
Brasileira de Mobiliários). Desde o final de 2001, o BNDES vinha estimulando
os pequenos fabricantes de móveis a exportar sua produção, por meio do
repasse de recursos em conjunto com a ABIMÓVEL, a qual vinha atuando como
i n t e rmediária dos agentes financeiros na canalização dos financiamentos.
As empresas do setor moveleiro no Brasil, em geral, eram familiares e
de capital nacional. O senso industrial do IBGE, realizado em 1986, mostrou
que a indústria brasileira de móveis era constituída por aproximadamente
13.500 micro e m p resas, pequenas e médias empresas, empregando cerca
de 185 mil pessoas.
A importância do segmento madeiro/moveleiro em Rondônia poderia
ser medida pela quantidade de empresas pertencentes ao setor: dos 2.293
estabelecimentos industriais em funcionamento no Estado em 19892,
1.282 (51,5%) eram atividades madeireiras, incluindo o setor moveleiro.
Em 1997, o levantamento realizado pela FIERO3 (Federação das
Indústrias de Rondônia) mostra que o segmento madeiro / m o v e l e i roera
representado por um total de 1.171 indústrias, incluídas as moveleiras.
Comparando os dados de 1989 com 1997, observou-se um crescimento
significativo no número de movelarias estabelecidas, que passaram de
95 para 486, respectivamente, em 1989 e 1997.
Com a retração do mercado de madeiras serradas e a intensificação
da concorrência com outros estados, o industrial madeire i ro rondoniense
iniciou um processo de verticalização por meio do beneficiamento da

1
Os novos desafios para a indústria moveleira no Brasil. Por Antônio Carlos de Vasconcelos
Valença, Leonardo de Moura Perdigão Pamplona, Sabrina Weber Souto
2
Projeção para Nova Dimensão Econômica e Integração Comercial – Rondônia – Bolívia –
Peru. Vol. 1. Diagnóstico Porto Velho, RO, Brasil, setembro de 1999.
3
Bancos de Dados do Cadastro Industrial de Rondônia FIERO/Sebrae/RO

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madeira, em alguns casos, agregado à produção de móveis. As


pequenas indústrias passaram a sofrer a concorrência direta das
empresas de porte médio.
Um fator decisivo para o crescimento do segmento foi a melhoria
do padrão de acabamento e a conseqüente ampliação dos consumidore s
potenciais. Em Rondônia, até bem pouco tempo, a grande procura
recaía sobre os móveis procedentes do Sul, mesmo sendo muito
f reqüente encontrar móveis produzidos na região em vários
estabelecimentos comerciais, fabricados com as principais espécies de
madeira, a saber: cedro, cerejeira, maracatiara, angelim e goiabão.
A introdução de tecnologias de secagem da madeira, novas técnicas
de produção e acabamento e modernos equipamentos possibilitaram a
algumas empresas locais fornecerem móveis para o Centro Sul do país.
No entanto, o setor também enfrentaria sérias dificuldades para manter
e expandir suas atividades, principalmente para o mercado externo.
A maior parte dos móveis produzidos pela indústria moveleira de
Rondônia era destinada ao atendimento de demanda interna. Um
incentivo a mais para a consolidação do setor foi o fator multiplicador
do valor agregado à madeira, quando transformada em móveis. Havia
uma indicação de que um metro cúbico de cedro poderia render em
torno de 10 vezes mais, dependendo do tipo de móvel. Portanto, era
altamente interessante desenvolver o setor moveleiro, pois, além de
melhorar a margem da indústria, o governo teria a arrecadação dos
tributos elevada na mesma proporção.
Até4 1999, como pode-se observar, o setor moveleiro de Rondônia
estava focado unicamente no atendimento ao mercado interno e local,
não tendo perspectivas de exportação.

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Projeção para nova dimensão econômica e integração comercial – Rondônia/Bolívia/Peru –
vol. 1, diagnóstico Porto Velho, RO, Brasil.

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O PAPEL DO EMPREENDEDOR COMO


DESBRAVADOR DE NOVOS HORIZONTES1

O empresário João Roberto Chagas, o Beto, que chegara ao Estado


em 1994, teve como primeira iniciativa procurar os colegas do mesmo
ramo, – também pequenos empresários –, buscando estabelecer canais
de comunicação e venda com o mercado local. Observando a
desarticulação entre os empresários do setor, já no primeiro encontro, Beto
estimulou seus colegas a levantar dados para a reativação da Associação
dos Moveleiro s R o l i m o u renses, situada no município de Rolim de Moura
em Rondônia.
Articulou com antigos e novos sócios da associação, proprietários de
pequenas empresas industriais do ramo moveleiro, a criação de uma
nova associação, objetivando fortalecer o pólo moveleiro de Rolim de
Moura, a modernização das empresas e a busca de mercados. O grupo
reuniu-se e dividiu as atividades. Cada um ficou responsável por uma
atividade: pólo moveleiro, legislação e mercado externo. Este último
sob a coordenação de Beto.
Beto, integrante do grupo de Rolim de Moura, através da
Associação dos Moveleiros Rolimourenses, participou de um seminário
de comércio exterior e amadureceu a idéia de exportar seus produtos em
conjunto com os empresários da associação. Procurou o Sebrae/RO
para conseguir maiores informações e sanar dúvidas em relação à
exportação. Após obter informações e apoio junto ao Sebrae, participou
da Rodada Internacional de Negócios, em Porto Velho, onde expôs
seus produtos e foi elogiado por empresários peruanos.
“Você é o mais novo milionário do estado de Rondônia com esse
produto, isso é, para exportar? Afinal, os estrangeiros gostam de
produtos de boa qualidade e sem riscos.”
Tratava-se de uma banqueta de madeira, cuja característica principal
era a não utilização de pregos e colas, ou seja, os elementos eram todos
de encaixe.
Voltando para seu município, amadureceu a idéia com seus colegas
da associação: 14 empresários. Procuraram o Sebrae e em conjunto come-
çaram a desenhar o projeto PSI (Projeto Setorial Integrado) Madeiro/

1
Coordenação Técnica do Projeto no Sebrae: João Machado Neto.

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Moveleiro. O projeto teve início em março de 2000, e foi expandido


para todo o Estado, procurando atender ao grande número de empresas
do setor, um universo de aproximadamente 1.200 empresas.
Na intenção de atender esta demanda, promoveu estudos das altern a-
tivas possíveis, concluindo que a melhor saída seria a elaboração de
um projeto setorial integrado, tendo como parceiro principal a APEX,
que já vinha aportando recursos para projetos similares em outros estados
brasileiros. O desenvolvimento do projeto se deu de forma participativa
com o envolvimento das empresas, das entidades de classe e dos bancos
de desenvolvimento, buscando, assim, o comprometimento de todos
na sua execução. Decidiu-se que o projeto deveria contemplar também
outros pólos moveleiros do estado, como Porto Velho, Ariquemes e Ji-
Paraná. A efetivação do referido projeto ocorreu com assinatura de
convênio entre Sebrae/RO e APEX em agosto de 2000.
A percepção das empresas participantes e parceiros indica que o
projeto conduz a um norte bem definido, a saber: a inserção de grupos
de pequenas empresas na atividade exportadora em base sólida, algo
que sempre se mostrou distante e muitas vezes tido como impossível.
O projeto era composto de várias ações, compreendendo cinco
grandes etapas: (a) sensibilização/mobilização; (b) capacitação através de
treinamento e consultoria; (c) prospecção de mercado; (d) consultoria
de adequação de produto/embalagem e estudo de logística; (e) desenvol-
vimento de rodada internacional de negócios, visitas técnicas e exposição
em feiras nacionais e internacionais.
O projeto selecionou 55 empresas de um total de 105 pré-selecionadas
e atendeu a 45, uma média entre 10 e 12 empresas por município pólo.
Ao iniciar o trabalho, a principal dificuldade foi sensibilizar as pessoas
a embarcarem em uma empreitada coletiva e cujos resultados só iriam
surgir no médio e longo prazo. Além disso, a exigência de contrapartida
financeira das empresas também influiu negativamente na adesão ao
projeto.
Após várias reuniões e palestras ao longo de 2000/2001, formalizaram-
se o grupo de Rolim de Moura e outro em Ji-Paraná, e foram iniciadas as
fases de diagnóstico, treinamentos e consultorias.
As ações de sensibilização/mobilização, em março de 2002, previam
a formação de quatro grupos entre 10 e 12 microempresas e pequenas
empresas madeiro/moveleiras nos pólos de Porto Velho, Ariquemes, Ji-
Paraná e Rolim de Moura. Até 2002, foram formalizados contratos de dois
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grupos (Rolim de Moura, com oito empresas e Ji-Paraná com doze empresas).
Em uma visita técnica inicial a essas empresas, percebeu-se um elevado
desperdício de matéria-prima, desorganização no processo produtivo, defi-
ciência na gestão do negócio, maquinários obsoletos, instalações precárias
e ausência de espírito cooperativo.
Especificamente na etapa de diagnóstico das empresas, foram tratados
temas, tais como: relacionamento com bancos, gestão de pessoal, aquisição,
produção, comercialização, condições de funcionamento de maquinário
e instalações em geral.
Os representantes de bancos oficiais de fomento tiveram a oportu-
nidade de debater a grave falta de crédito para o setor e constatou-se
uma enorme discrepância entre o que deveria ser a prática creditícia e
a realidade dos empresários.
Um ano após o início do projeto, houve um ganho substancial de
produtividade, redução de desperdício de matéria-prima e melhoria da
gestão. O maior desafio foi a busca de mercado no exterior e a preparação
dos empresários para atuarem em um cenário não regional ou
nacional, mas internacional. Nesse contexto, eles haviam participado
de feiras internacionais de móveis como visitantes do Brasil, mas um
desafio ainda persistiria: a falta de capacidade das empresas de
realizarem investimentos, visando à modernização dos equipamentos e
instalações.
Um fator relevante e positivo que se percebia nos grupos era a
certeza de que o projeto não tinha volta. Para eles, o mercado externo
poderia ser a variável que garantiria o crescimento sustentado do seu
negócio, salientando que os primeiros contatos para exportar para os
Estados Unidos já haviam sido feitos.
Visando atender este mercado em prospecção, foram desenvolvidos
produtos com especificações e medidas daquele mercado. Esses produtos
foram fabricados com apoio de consultoria e orientação da ABIMÓVEL.
O fator que contribuiu para o sucesso desse projeto foi a crença
inabalável do Sebrae e da maioria das empresas de que era possível, a
médio prazo, com trabalho e disciplina, mudar um cenário de baixa
produtividade, competitividade e design ultrapassado, de forma gradual
e em grupo, visando a modernização das empresas e sua inserção na
atividade exportadora, ou seja, “aconteça o que acontecer não nos
desviaremos do caminho traçado inicialmente”, disseram os associados,
diante de um dos principais desafios.
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O acompanhamento das ações e a avaliação de sua efetividade eram


realizados pelos líderes dos grupos eleitos entre seus próprios pares,
em conjunto com o gerente do projeto. A escolha dos instrutores e consul-
tores para a prestação de serviços foi definida em reuniões entre os
grupos, gerente do projeto e, muitas vezes, um diretor do Sebrae.
Ressalta-se que, entre empresários/sócios e empregados, mais de
300 pessoas estavam sendo beneficiadas de forma direta, nas cidades de
Ji-Paraná, Cacoal, Rolim de Moura, Pimenta Bueno e Santa Luzia. Esses
benefícios trouxeram a melhoria da qualidade da gestão das empresas,
elevação do nível de educação empreendedora, da qualidade da mão-de-
obra e do sentimento de cooperação entre empresários e empregados.
O projeto foi realizado em Rolim de Moura e concebido para
atender a outros três municípios pólos: Ji-Paraná, Ariquemes e Porto
Velho. Até novembro de 2002, o projeto atendeu a dois grupos: Rolim
de Moura e Ji-Paraná. O grupo de Ji-Paraná foi formado três meses depois
do de Rolim de Moura, mobilizados fortemente pelos empresários de
Rolim de Moura em uma reunião de sensibilização em Ji-Paraná. O
grupo de Porto Velho foi formado em novembro de 2002.
As próximas etapas previstas darão continuidade às ações imple-
mentadas, visando a melhoria da gestão, a qualificação e a integração das
equipes de colaboradores, a preparação das empresas para exportação
e a busca de mercados no exterior.
É importante destacar, também, que as ações do setor madeiro/
moveleiro se relacionam diretamente ao projeto artesanato, desenvolvido
pelo Sebrae/RO, o qual visa o aproveitamento das sobras de madeiras
para a confecção de objetos de decoração, voltados para exportação.

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CONCLUSÃO

O setor madeiro/moveleiro do estado de Rondônia avançou com


o projeto PSI Madeiro / M o v e l e i ro, pois começou a se desenhar um novo
cenário e novas perspectivas para as empresas do setor moveleiro.
Foram claras as mudanças ocorridas, principalmente no aspecto de
desperdício, racionalização da produção, aumento substancial da pro d u t i-
vidade e, principalmente, mudança no nível de consciência do empresário
para a necessidade de conduzir uma profunda mudança em sua empresa,
como condição para sua sobrevivência e ingresso no comércio exterior.
Dada a relevância da questão ambiental em garantir a sustentabilidade
do setor, o projeto prevê um amplo trabalho de conscientização ambiental
e implementação de certificação, manejo florestal e reflorestamento.
O grande desafio do setor de móveis de madeiras beneficiadas era
fazer uma revolução na melhoria de qualidade e produtividade, de form a
que se pudesse atender ao mercado externo, – conquista que já vinha
se formalizando com o envio de protótipos de produtos confeccio-
nados com a madeira legal, podendo, assim, ser inserido no mercado.
O beneficiamento ecologicamente correto de produtos oriundos
da n a t u reza de Rondônia, através de melhorias de processos e aumento
da qualidade do produto final, vem criando condições para que
empresas do setor possam competir no mercado internacional. Como
resultado, o projeto contribui para a inserção das pequenas empresas
no comércio exterior, ampliando a base exportadora do país e
oferecendo-lhes um mercado mais estável.
Beto e outros associados têm exercido importante papel como
multiplicadores e executores de ações de desenvolvimento baseado na
sustentabilidade, modernização das empresas, no associativismo e na
geração de emprego e renda, com foco principal na atividade exportadora.
Destaque-se que Beto enfrentou o desafio de começar, incentivar
e juntar os grupos, liderar e conquistar o espaço do setor
madeiro/moveleiro, e influenciar todos ao seu redor para a concretização
do objetivo, formando, assim, grandes parceiros, inclusive o poder
público.

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PONTOS PARA DISCUSSÃO


• Quais seriam as alternativas para melhorar a renda e contribuir para
o setor madeiro/moveleiro em Rondônia?

• Diante da situação de Beto, o que você faria para alavancar suas


vendas?

• Como conciliar o crescimento da indústria madeiro/moveleiro com a


preservação do meio ambiente?

Diretoria Executiva do Sebrae Rondônia (2002): Maria Valdecy C. Benicasa, Osvino Juraszec
e Pedro Teixeira Chaves.

Agradecimentos:
Antônio Rocha Guedes – Consultor técnico do SENAI; Associação Comercial e Industrial de Ji-
Paraná; Associação dos Moveleiros Rolimourenses; Carlos Iutaka Ueno Motomya – Consultor
técnico do SENAI; Coord e n a d o res do PSI em Geral; Eliete Nascimento – Técnica do Sebrae/RO;
João Machado Neto – Consultor do Sebrae/RO; João Roberto Chagas – Empresário; Maria Valdecy
C. Benicasa – Diretora técnica do Sebrae/RO; Osvino Juraszec – Diretor administrativo-
financeiro do Sebrae/RO; Pedro Teixeira Chaves – Superintendente do Sebrae/RO e Sindicato das
Indústrias de Marcenaria de Rondônia.

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