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Fazenda Pública em Juízo

Dr. Ubirajara Casado


Advogado da União

Fazenda Pública no Pólo Passivo: Desistência da Ação.


Procurador do Banco Central

1. Desistência da Ação

a. Atos processuais produzem efeitos imediatos.

Art. 158. Os atos das partes, consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de


vontade, produzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção de
direitos processuais.

b. Exceção: desistência da ação.

b.1. A eficácia da desistência da ação somente se processa após o trânsito em julgado


por sentença (art 158, parágrafo único, CPC), com extinção do processo SEM resolução
do mérito (art. 267, parágrafo 4º, CPC).

b.2. Para desistir o advogado deve ter procuração com poderes especiais (art. 38 do
CPC).

b.3. Momento e bilateralidade

Art. 267. § 4o Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o
consentimento do réu, desistir da ação.

Prazo para resposta do réu leia-se apresentação da resposta do réu.

Antes da apresentação da resposta do réu a desistência é unilateral.

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Após a apresentação da resposta do réu a desistência é bilateral. Apresentada a
contestação, o réu também passa a ter o direito a suma sentença de mérito.

b.4. Mandado de Segurança

Jurisprudência

STJ – Resp 1405532

O IMPETRANTE PODE DESISTIR DE MANDADO DE SEGURANÇA SEM A ANUÊNCIA DO


IMPETRADO MESMO APÓS A PROLAÇÃO DE SENTEÇA DE MÉRITO.

b.5. Revelia

Apenas se exige concordância do réu para desistência da ação quando este apresenta
contestação. Dessa forma, sendo o réu revel, o autor pode desistir da ação mesmo
após escoado o prazo para apresentação de defesa.

Na revelia, o réu manifesta total desinteresse na sentença de mérito, razão pela qual
desnecessária a sua intimação para manifestar-se sobre o pedido de desistência.

E se houver intimação do réu revel para concordar com o pedido de desistência?

Trata-se de erro de procedimento que gera nulidade da decisão.

Três situações:

a. o réu permanece inerte: nulidade da decisão não gera prejuízo ao autor, sentença
que homologa a desistência da ação;

b. o réu concorda com o pedido: nulidade da decisão não gera prejuízo ao autor,
sentença que homologa a desistência da ação;

c. o réu discorda do pedido de desistência: agravo com postulação da anulação da


decisão para homologar a desistência sem levar em consideração a anuência do réu.

b.6. Discordância fundamentada do réu

a. Não aceitação da desistência sem justificativa plausível constitui abuso de direito.

b. STJ: “a recusa do réu ao pedido de desistência deve ser fundamentada e


justificada, não bastando a simples alegação de discordância, sem a indicação de
motivo relevante”. Resp 241.780.

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c. O que leva o réu a não concordar com a desistência?

c.1. vislumbre de vitória no processo;

c.2. interesse na coisa julgada sobre a decisão;

c.3. impossibilidade do autor renovar a ação com outras provas e elementos.

d. Recusa desfundamentada gera a homologação da desistência.

2. Desistência da Ação e Fazenda Pública

a. Lei 9.469/97

Art. 3º As autoridades indicadas no caput do art. 1º poderão concorda com pedido de


desistência da ação, nas causas de quaisquer valores desde que o autor renuncie
expressamente ao direito sobre que se funda a ação.

b. A Fazenda Pública exige que o pedido de desistência se transforme em renúncia ao


direito sobre que se funda a ação.

c. Principal razão? A renúncia põe fim ao processo com resolução de mérito (art. 269,
V, CPC).

d. Alguns autores defendem que a exigência legal atenta contra o princípio da


razoabilidade.

e. Jurisprudência TRF – 1ª Região:

“Com efeito, "é razoável a sentença que homologa pedido de desistência, se a ré não
apresenta motivos justificados para se opor a essa pretensão, não obstante o disposto
no art. 3º da Lei 9.469/97, no sentido de que a desistência da ação contra a União,
Autarquias, Fundações e Empresa Públicas Federais só será admitida se o autor
renunciar ao direito em que se funda a ação. De fato, a simples alegação de
observância à referida lei não é motivo justificado para que a União se oponha à
desistência.” APELAÇÃO CÍVEL 0029211-52.2010.4.01.3400/DF. Brasília-DF, 8 de abril
de 2014 (data do julgamento).

f. STJ: “a resistência ao pedido de desistência da ação não é descabida quando fundada


no art. 3º da Lei 9.469/97”. Assim, o STJ entende legítima a regra.

Mais: A orientação das Turmas que integram a Primeira Seção desta Corte firmou-se
no sentido de que, após o oferecimento da contestação, não pode o autor desistir da
ação, sem o consentimento do réu (art. 267, § 4º, do CPC), sendo que é legítima a
oposição à desistência com fundamento no art. 3º da Lei 9.469/97, razão pela qual,

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nesse caso, a desistência é condicionada à renúncia expressa ao direito sobre o qual se
funda a ação. 5. Recurso especial provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C
do CPC e da Resolução STJ n. 8/08. (REsp 1267995 / PB Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES DJe 03/08/2012)

g. Razões da desistência:

g.1. Se a Fazenda Pública possui razão fundamentada para não concordar com o
pedido de desistência:

a. Exige a renúncia e o autor assim o faz: processo extinto com resolução do mérito;

b. Exige a renúncia e o autor discorda: desistência não é homologada em razão da lei


ou do fundamento que resiste à desistência e que sustenta o interesse da Fazenda em
uma sentença de mérito.

g.2. Se a Fazenda Pública não possui razão fundamentada para não concordar com o
pedido de desistência (Exemplo: a Fazenda contestou e apresentou preliminar que, se
procedente, gera a extinção do processo sem resolução do mérito):

a. Exige a renúncia e o autor assim o faz: processo extinto com resolução do mérito;

b. Exige a renúncia e o autor discorda: parte da doutrina entende que o Juiz deve
afastar o art. 3º da Lei 9.469/97 por inconstitucionalidade (ausência de
proporcionalidade) e homologar o pedido de desistência. Nesse caso, a Fazenda deve
apelar.

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