Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Daniel Carnacchioni
Direito Civil
Aula 04
ROTEIRO DE AULA
CC, art. 13: “Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição
permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes”.
Parágrafo único. “O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei
especial”.
Questão: cirurgias estéticas – ausência de patologia. Justificativa: indicação médica em razão do bem estar
proporcionado. Aplicação do raciocínio às cirurgias de transgenitalização.
1
www.g7juridico.com.br
Enunciado n. 276: “O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as
cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de
Medicina, e a consequente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil”.
Enunciado n. 401: “Não contraria os bons costumes a cessão gratuita de direitos de uso de material biológico para fins
de pesquisa científica, desde que a manifestação de vontade tenha sido livre, esclarecida e puder ser revogada a
qualquer tempo, conforme as normas éticas que regem a pesquisa científica e o respeito aos direitos fundamentais”.
CC, art. 14: “É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte,
para depois da morte”.
Parágrafo único. “O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo”.
Objetivo: verificar a validade e a eficácia de atos jurídicos realizados pela pessoa em vida, os quais repercutirão após a
morte.
Questão: conflito aparente entre o CC, art. 14 e Lei n. 9.434/97, art. 4º. Solução: a) manifestação em vida – prevalece a
manifestação; b) ausência de manifestação em vida – prevalece a autorização familiar.
Lei n. 9.434/97, art. 4º: “A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra
finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória,
reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à
verificação da morte”.
Enunciado n. 277: “O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo
científico ou altruístico, para depois da morte, determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida
prevalece sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art. 4º da Lei n. 9.434/97 ficou restrita à hipótese de
silêncio do potencial doador”.
CC, art. 15: “Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção
cirúrgica”.
2
www.g7juridico.com.br
Princípio do livre convencimento informado: tutela da plena autonomia do paciente. Após devidamente informado,
caberá ao paciente, autonomamente, decidir se quer ou não quer se submeter a intervenções médicas. Exceções:
urgência e necessidade de intervenção distinta concomitante à intervenção original.
Questão: testamento vital – exteriorização da vontade no sentido de não submissão a procedimentos, os quais
objetivam o prolongamento artificial do processo natural da morte.
Enunciado n. 403: “O Direito à inviolabilidade de consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal,
aplica-se também à pessoa que se nega a tratamento médico, inclusive transfusão de sangue, com ou sem risco de
morte, em razão do tratamento ou da falta dele, desde que observados os seguintes critérios: a) capacidade civil plena,
excluído o suprimento pelo representante ou assistente; b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c)
oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante”.
Enunciado n. 533: “O paciente plenamente capaz poderá deliberar sobre todos os aspectos concernentes a tratamento
médico que possa lhe causar risco de vida, seja imediato ou mediato, salvo as situações de emergência ou no curso de
procedimentos médicos cirúrgicos que não possam ser interrompidos”.
CC, art. 20: “Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a
divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa
poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa
fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais”.
Parágrafo único. “Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge,
os ascendentes ou os descendentes”.
Perspectiva tridimensional:
3
www.g7juridico.com.br
Observação: parcela da doutrina diferencia a imagem atributo da honra objetiva – linha tênue.
Questão: imagem e pessoas públicas. Flexibilização de direitos da personalidade, desde que estes direitos estejam
relacionados àquela pessoa que justificam sua atividade – função social dos direitos da personalidade. Em suma, há
proteção, embora de forma mais flexível. Tal tutela será afastada quando houver legítimo interesse na sua divulgação
por força do ofício ou profissão. Deve haver o interesse legítimo na informação.
CC, art. 21: “21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as
providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma”.
REsp n. 270.730: proteção da imagem e autonomia deste direito em relação à honra – caso Maitê Proença. S. 403 STJ.
REsp n. 1.026.981: dignidade da pessoa humana e direito previdenciário em favor de pessoas do mesmo sexo.
ADPF n. 54.
STF, HC n. 71373: integridade física e DNA. S. 331 STJ: colisão entre direito à identidade biológica e a intangibilidade do
corpo.
ADPF n. 132: liberdade para dispor da sexualidade e emanação da dignidade (equiparação de união estável e união
homoafetiva).
4
www.g7juridico.com.br
3. Diplomas recentemente editados
Lei n. 12.965/14 (Marco Civil da internet): tutela da vida privada e da privacidade no âmbito virtual.
Lei n. 13.185/15 (intimidação sistemática): tutela a integridade psicológica das vítimas de bullying. Lei não prevê
sanções – utilização dos direitos da personalidade.
I) Privacidade e intimidade do casamento. O casamento implica na comunhão plena de vida, mas não implica em uma
comunhão plena de direitos da personalidade (p. ex.: intimidade) – preservação da individualidade.
II) Transexual.
III) Gestão em útero alheio (“barriga de aluguel”).
IV) Reprodução médica assistida heteróloga. Utilização de material genético de terceiros. Conflito aparente de direitos
fundamentais: proteção da intimidade do doador anônimo x direito ao conhecimento da ancestralidade (origem
genética).
V) “Wannabes” (apotemnofilia).
VI) Esterilização humana: Lei n. 9.263/96.
VII) Lei de Biossegurança: Lei n. 11.105/05.
VIII) Direito ao corpo de outrem (débito conjugal). Em uma visão constitucionalizada, o débito conjugal não é
direito/dever – sexo deve ser algo espontâneo.
Lei n. 9.610/98 e CF, art. 5º, XXVII: proteção à criação intelectual; Lei n. 9.609/98: proteção à propriedade intelectual de
programas de computador.
Objeto: é a criação humana, seja uma obra literária, artística, científica e arquitetônica. Quais as obras intelectuais
protegidas? Lei n. 9.610/98, art. 7º.
Titular: é o criador da obra, pessoa física ou jurídica (arts. 11 a 17 – Lei de Direitos Autorais).
5
www.g7juridico.com.br
Natureza jurídica “sui generis”: direito de autor é direito da personalidade (criação intelectual) e direito real sobre bem
imaterial (propriedade intelectual – exercício). Consequência: os direitos autorais se subdividem em “direitos morais do
autor” e “direitos patrimoniais do autor” (disposição).
Direitos morais do autor: personalíssimos: arts. 24 a 27 Lei n. 9.610/98: inalienáveis e irrenunciáveis; projeção da
própria personalidade do autor. Exemplos: direito à paternidade da obra – decorre da criação; direito de conservar a
obra inédita; direito à integridade da obra; direito à modificação da obra; direito de arrependimento – retirá-la da
exposição ao público; direito de acesso a exemplar único e raro da obra.
Direitos patrimoniais do autor (limitado): o caráter patrimonial permite a sua transmissão por ato “inter vivos”
(presumidamente onerosa e direito à percepção de, no mínimo, 5% sobre o preço de comercialização da obra – arts. 38
a 50); direitos patrimoniais de comunicação no casamento – art. 39; ou “causa mortis” (perduram por 70 anos – após
caem em domínio público – arts. 40 e 45); utilização e exploração econômica da obra (execução pública de obra sem
proveito econômico não garante ao autor direito econômico sobre a obra – REsp n. 514.082).
Violações:
Plágio.
Contrafração: publicação ou reprodução abusiva de obra alheia sem autorização do autor.
Usurpação de nome ou de pseudônimo (atribuir obra estranha a outrem).
CC, art. 6º: “A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em
que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva”.
Questões:
Critério de morte (real) (certeza): Lei n. 9.434/97 (Lei de transplantes): paralisação das atividades cerebrais
(morte encefálica).
Presunção: (probabilidade).
I) CPC, art. 110: “Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus
sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1º e 2º - Violação ocorre em vida.
6
www.g7juridico.com.br
II) CC, art. 943: “O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança”. Violação ocorre
em vida.
Transmissão do direito à reparação do dano – lesão a direito da personalidade de pessoa viva que falece sem propor a
ação. O espólio pode propor a ação no seu nome. O espólio pode propor a ação se ainda não ocorreu a prescrição. A
morte do titular não suspende nem interrompe o prazo prescricional. O titular da indenização é o morto. O direito da
personalidade não se transmitiu – apenas o direito à reparação.
III) CC, art. 12, parágrafo único: “Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste
artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau”. Violação ocorre após
a morte. Tese: morto não titulariza direitos da personalidade. No entanto, quem suportaria a violação seriam os
parentes do morto (lesados indiretos).
Diretiva antecipada da morte: a pessoa pode, por meio de um testamento, exteriorizar a vontade de não se submeter a
um tratamento meramente paliativo, cujo tratamento iria prolongar, artificialmente, o processo natural da morte.
Eutanásia: morte piedosa; ortotanásia: deixar de prolongar o processo de morte por meios artificiais; distanásia:
prolongamento artificial do processo de morte.
Código Civil não regula o testamento vital. No entanto, há justificações (testamento em fim econômico):
7
www.g7juridico.com.br
CC, art. 1.857, § 2º: “São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador
somente a elas se tenha limitado”.
Extinção dos direitos da personalidade e de alguns patrimoniais intransmissíveis, como usufruto, uso, habitação,
mandato, entre outros de caráter personalíssimo. A situação patrimonial transmissível se transmite aos herdeiros.
CC, art. 7º: “Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da
guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as
buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento”.
Código Civil trabalha com probabilidade de morte com o decurso do tempo – probabilidade de retorno/probabilidade
de morte.
Previsão de procedimento para tutelar o patrimônio e os interesses do ausente. O procedimento é dividido em:
curadoria dos bens, sucessão provisória e sucessão definitiva.
8
www.g7juridico.com.br
Nomeação de um curador – gestão patrimonial.
Legitimados: qualquer interessado ou MP.
Duração: 1 ano.
Encerra-se: notícia do ausente; encontra-se o corpo; e abertura da sucessão provisória.
Sucessão provisória
Legitimidade: interessados que possuem algum interesse nos bens do ausente – legitimidade do MP é
subsidiária.
“Provisória”: sucessão com restrições:
Gerais (aplicadas a todos os herdeiros):
Emissão na posse dos bens do ausente: após 180 dias da abertura da sucessão provisória.
Inalienabilidade dos bens.
Específicas (aplicadas aos herdeiros não necessários):
Garantia – o herdeiro necessário não tem necessidade de prestar garantia.
Frutos e rendimentos: direito a 50% dos frutos e rendimentos – o herdeiro necessário aufere
100% dos frutos e rendimentos.
Sucessão definitiva
Efeitos extrapatrimoniais:
Declaração da morte presumida.
Tutela (filhos menores).
Divórcio.
Término da personalidade.
Efeitos patrimoniais:
Herdeiros se tornam proprietários.
9
www.g7juridico.com.br
Observação: deflagração do procedimento mesmo se o ausente não tiver bens (efeitos extrapatrimoniais).
10
www.g7juridico.com.br