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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS


DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E RECURSOS NATURAIS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA

LEANDRO BONESI RABELO

A PESCA DE CAMARÃO EM CONCEIÇÃO DA BARRA, ES, COMO UM


ESTUDO MULTIDISCIPLINAR DO COLAPSO DE UM SISTEMA PESQUEIRO

VITÓRIA
2006
LEANDRO BONESI RABELO

A PESCA DE CAMARÃO EM CONCEIÇÃO DA BARRA, ES, COMO UM


ESTUDO MULTIDISCIPLINAR DO COLAPSO DE UM SISTEMA PESQUEIRO

Monografia apresentada ao Curso de


Graduação em Oceanografia da
Universidade Federal do Espírito
Santo, como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em
Oceanografia.

Orientador: Prof. Dr. Agnaldo Silva


Martins

VITÓRIA
2006
A PESCA DO CAMARÃO EM CONCEIÇÃO DA BARRA, ES, COMO UM ESTUDO
MULTIDISCIPLINAR DO COLAPSO DE UM SISTEMA PESQUEIRO

por

Leandro Bonesi Rabelo

Submetido como requisito parcial para a obtenção de grau de

Oceanógrafo

na

Universidade Federal do Espírito Santo

Dezembro de 2006

© Leandro Bonesi Rabelo

Por meio deste, o autor confere ao Colegiado do Curso de Oceanografia e ao


Departamento de Ecologia e Recursos Naturais da UFES permissão para reproduzir e
distribuir cópias parciais ou totais deste documento de monografia para fins não
comerciais.

Assinatura do autor ..................................................................................................


Curso de graduação em Oceanografia
Universidade Federal do Espírito Santo
01 de dezembro de 2006

Certificado por .........................................................................................................


Dr. Agnaldo Silva Martins
Orientador

Certificado por .........................................................................................................


Dr. Jaime Roy Doxsey
Prof. Adjunto / Examinador interno
CCHN/DCSO/UFES

Certificado por .........................................................................................................


MSc. Nilamon de Oliveira Leite Jr.
Examinador externo
PROJETO TAMAR

Aceito por ...............................................................................................................


RDR Ghisolfi
Prof. Adjunto / Coordenador do Curso de Oceanografia
Universidade Federal do Espírito Santo
CCHN/DERN/UFES
LEANDRO BONESI RABELO

A PESCA DE CAMARÃO EM CONCEIÇÃO DA BARRA, ES, COMO UM


ESTUDO MULTIDISCIPLINAR DO COLAPSO DE UM SISTEMA PESQUEIRO

COMISSÃO EXAMINADORA

________________________________________
Prof. Dr. Agnaldo Silva Martins
Orientador

________________________________________
Prof. Dr. Jaime Roy Doxsey

________________________________________
Msc. Nilamon de Oliveira Leite Júnior

Vitória, ____de___________________de______.
AGRADECIMENTOS

A minha família que sempre esteve ao meu lado me apoiando para meu
sucesso, mesmo que nos últimos tempos estejamos um pouco separados.

A Carla que me fez enxergar o mundo com novos olhos, e acho que sem ela
esse trabalho não seria possível, um eterno obrigado.

A Agnaldo Martins, que confiou na minha capacidade para realização deste


trabalho, mesmo eu sendo um orientando um pouco distante.

A Jaime Doxsey, que desde o início do projeto tem me apoiado de diversas


formas, tanto no meio acadêmico, quanto fora, com seu famigerado “Chili”.

A galera da 3ª turma de Oceanografia da Ufes, um grande obrigado pela


convivência com tantas pessoas ilustres. Durante os mergulhos, os churrascos
e mesmo em sala de aula.

Ao pessoal da 4ª turma também, que tive que ser agregado por motivos de...
digamos, Física II.

Ao Instituto do Milênio/ RECOS que me deu a oportunidade de trabalhar com a


temática pesqueira e apoio financeiro.
“Se deres um peixe a um homem faminto, vais alimentá-lo
por um dia. Se o ensinares a pescar, vais alimentá-lo por
toda a vida."
Lao-Tse
SUMÁRIO

RESUMO .............................................................................................. 1
1. INTRODUÇÃO.................................................................................. 2
1.1. HISTÓRICO DA PESCA............................................................................2
1.2. A PESCA NO ESPÍRITO SANTO..............................................................3
1.3. A ESPÉCIE-ALVO .....................................................................................3
1.4. A ATIVIDADE PESQUEIRA DO CAMARÃO.............................................4
1.5. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DE CONCEIÇÃO DA BARRA........5
1.6. O PROJETO RECOS ................................................................................6
1.7. OBJETIVO GERAL ....................................................................................8
1.8. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .....................................................................8
2. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .. 9
3. METODOLOGIA............................................................................. 12
3.1. FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS....................................................12
3.2. COLETA DOS DADOS ............................................................................13
3.3. ANÁLISE DOS DADOS ...........................................................................16
4. RESULTADOS ............................................................................... 18
4.1. DESENVOLVIMENTO DA PESCA NO MUNICÍPIO ...............................18
4.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE AS INDÚSTRIAS DE PESCA ...................20
4.3. SÓCIOECONOMIA DA PESCA DO CAMARÃO.....................................22
4.3.1. A arrecadação de impostos ................................................................23
4.4. ASPECTOS POLÍTICOS DE CONCEIÇÃO DA BARRA ........................24
4.5. DECADÊNCIA DA PESCA ......................................................................27
4.6. EROSÃO DA BUGIA ...............................................................................29
4.7. ANÁLISE INTEGRADA DOS ASPECTOS ENVOLVIDOS NA PESCA DO
CAMARÃO ......................................................................................................31
4.8. PROPOSTAS DE MANEJO ....................................................................37
5. DISCUSSÃO................................................................................... 39
6. REFERÊNCIAS .............................................................................. 43
RESUMO

A fim de entender com profundidade a dinâmica da pesca de camarão em


Conceição da Barra, ES, e evidenciar os fatores históricos que levaram à
decadência da pesca na região, o presente estudo aplicou o método de Estudo
de Caso. Esse método qualitativo consiste na obtenção de evidências de
formas variadas para convergência dos resultados em formato de triângulo. Os
resultados demonstraram que a decadência da pesca industrial foi causado
pela sobrepesca da espécie-alvo e agravado pela má administração das
empresas de pesca e por fatores ambientais, o “El niño”. A pesca industrial
decadente foi substituída pela pescaria artesanal, que demanda menos custos
e é menor o rendimento. Apesar de restrito o uso desse tipo de metodologia na
obtenção de informações para subsídios à gestão pesqueira integrada, ela
mostrou-se adequada no que tange a descrição e conhecimento aprofundado
de sistemas pesqueiros, principalmente relatando casos de sucesso na gestão,
ou insucesso, situação de Conceição da Barra, e proporcionando aprendizados
para o aprimoramento da gestão pesqueira.

1
1. INTRODUÇÃO

1.1. HISTÓRICO DA PESCA

A pesca é uma das atividades mais antigas realizada pelo ser humano. Porém,
somente com a invenção do motor e do casco de metal, obtidos após a
revolução industrial, que tornaram as condições favoráveis para a expansão do
setor, através da maior autonomia e eficiência na captura (Paes, 2002).

A partir da década de 1950, que a pesca obteve seu maior crescimento, devido
ao desenvolvimento da indústria pesqueira especializada, e do alto valor
econômico de certas espécies, como camarões da família Penaeidae (Leite Jr.
& Petrere Jr., 2006).

Nas últimas décadas a importância da pesca como atividade econômica e


social cresceu consideravelmente, chegando a destacar-se como principal
atividade em algumas comunidades, regiões e até países (Aragão & Dias Neto,
1988). Em muitos casos a pesca também é a principal fonte protéica de
alimentação (Isaac et al., 2006).

No Brasil este crescimento iniciou-se na década de 1960, com a transição da


atividade pesqueira como predominantemente artesanal, tornando-se uma
atividade industrial, principalmente nos grandes centros urbanos. Um grande
passo para essa industrialização foi o Decreto-lei n. 221 de 28 de fevereiro de
1967 (Brasil, 1967) que isentou empresas de pesca do Imposto de Renda,
entre outros incentivos concedidos.

Os desembarques atingiram mais de 700 mil t anuais na década de 1980, mas


caiu cerca de 500 mil t na última década por conseqüência, dentre outros
fatores, da sobreexplotação (Isaac et al., 2006).

Neste contexto de incentivos governamentais que a pesca do camarão-sete-


barbas foi sendo desenvolvida em Conceição da Barra, município do Espírito
Santo. Empresas de capital externo ao município se instalaram para promover
a expansão do setor pesqueiro na região.

2
1.2. A PESCA NO ESPÍRITO SANTO

Com o objetivo de diagnosticar a situação da pesca no estado do Espírito


Santo vários estudos foram realizados, e pode-se citar Espírito Santo (1976,
1981), Brasil (1988), e mais recentemente, Souza & Oliveira (2003), Monjardim
(2004), Pizzeta (2004) e Martins & Doxsey (2006).

Souza & Oliveira (2003) estabeleceram uma projeção da produção de pescado


no Espírito Santo, que gira em torno de 13.000 t.ano-1, movimentando cerca de
R$130 milhões anualmente. No total, são 1.666 embarcações cadastradas. Já
Martins & Doxsey (2006) encontraram uma produção anual em torno de 22.095
toneladas com estimativa de 6.733 pescadores trabalhando em 2.038
embarcações. Apesar da discrepância nas informações, a pesca artesanal,
normalmente excluída das estatísticas oficiais, é considerada na estimativa
desse último caso.

Para a pesca do camarão, há uma produção estimada de 401 t.ano-1


desembarcados por cerca de 280 barcos, sendo que 81% do desembarque é
realizado pela frota artesanal (275 embarcações). Essa frota é composta por
barcos motorizados pequenos (7 a 10 m), distribuídos por todo estado, mas
com maiores concentrações em Conceição da Barra, Regência e Grande
Vitória (Martins & Doxsey, 2006). Os maiores desembarques foram registrados
adjacente à foz de grandes rios, que no caso do Espírito Santo, são o Doce
(município de Linhares) e o Cricaré (município de Conceição da Barra).

1.3. A ESPÉCIE-ALVO

A pesca do camarão realizada em Conceição da Barra tem como espécie-alvo


o camarão-sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri). Esta espécie habita fundos
lamosos da região costeira não ultrapassando os 30 m de profundidade (Lopes,
1996).

Segundo Lopes (1996) o X. kroyeri possui crescimento rápido, com até 30 dias
para superar a fase larval e ciclo de vida em torno de 18 meses; um tipo de

3
reprodução que assegura a fertilização das fêmeas, independente da época de
maturação gonodal; e amplo período de desova, sendo o verão e o outono as
épocas preferenciais (Neiva, 1970). Essas características permitem um fator de
proteção apesar da forte pressão a que estão submetidos pelos seus
predadores e pela pesca.

Por outro lado, de acordo com o mesmo autor, a espécie possui duas
fragilidades: i) apresenta um estágio larval sensível, livre e natante; e ii) a pós-
larva tem forte tendência a nadar próxima ao fundo mole, ficando vulnerável ao
revolvimento pelas redes de arrasto.

1.4. A ATIVIDADE PESQUEIRA DO CAMARÃO

O petrecho utilizado para a pesca artesanal do camarão no Espírito Santo,


consiste em uma rede multifilamento (chamada de “balão”), de comprimento
variável, com pequenas portas metálicas ou de madeira, abertura lateral entre
8 e 10m, recolhimento manual e malha pequena (Martins & Doxsey, 2006).
Este petrecho é caracterizado pela baixa seletividade, capturando grandes
quantidades de espécies acompanhantes, além de provocar grande impacto
sobre o substrato.

Os arrastos são realizados por pequenos barcos motorizados de madeira (7 a


10m), em fundos areno-lamosos, sem topografia acidentada da plataforma
continental interna, com profundidades não superiores a 20m (Martins &
Doxsey, 2006). Os barcos partem durante a madrugada e retornam no início da
tarde para vender o pescado às peixarias.

Segundo Martins & Doxsey (2006), muitos municípios apresentam uma


pequena produção mercantil simples (produção de pescadores artesanais),
como o modelo do município de Conceição da Barra (60% da forma de
organização da produção), adotando em menor escala uma produção
capitalista de pesca, segundo classificação de Diegues (1983).

4
1.5. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DE CONCEIÇÃO DA BARRA

Conceição da Barra, desde a Era Colonial, sempre serviu de cidade porto.


Como a única via de acesso e locomoção era o rio Cricaré e Oceano Atlântico,
a cidade logo prosperou em função do porto, que era um dos mais
movimentados do estado, com comércio de farinha de mandioca, abóbora e
escravos (Lima, 1995).

Como a quantidade de fazendas era grande no norte do estado, o porto dessa


localidade possuía um intenso comércio de escravos. Com a abolição da
escravatura de 1888, outro comércio lucrativo surgiu, a extração de madeira da
Mata Atlântica.

A madeira era retirada dos municípios do norte capixaba e escoada através de


Conceição da Barra. Na primeira metade do século XX, ocorreu um impulso no
desenvolvimento econômico do município com a chegada das empresas
extratoras de madeira, Cimbarra (Companhia Industrial de Madeiras de Barra
de São Mateus) e Martins Silva & Cia.

Com a escassez da madeira durante a década de 1950, a pesca surgiu como


fonte de subsistência e, a partir desta época que se iniciou o processo de
comercialização do pescado, principalmente o camarão.

Nessa mesma época ocorreu a abertura do primeiro poço de petróleo do


estado pela Petrobras na região, fato realizado no ano de 1959.

Para a pesca o auge da produção e comercialização ocorreu no final da


década de 1970 e início dos anos 80. Durante a década de 1980 ocorreu o
colapso desta atividade, e o complexo pesqueiro, consequentemente, cedeu
espaço para outros tipos de indústrias.

Iniciou-se a expansão da produção de eucalipto e cana-de-açúcar. No início


dos anos 80 foram criadas as alcoleiras DISA (Destilaria Itaúnas S/A) e a
ALCON (Alcoleira Conceição da Barra), que trabalham com o plantio e colheita
de cana para a produção de álcool carburante. Na década de 90 a DEISA

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inaugurou a sua usina para a produção de açúcar (Lima, 1995).

E o setor pesqueiro se restrigia a pequenas peixarias, com baixa rentabilidade


e produção, proveniente da pesca artesanal.

1.6. O PROJETO RECOS

De uma maneira geral, a pesca artesanal é aquele tipo de pesca realizada pelo
próprio pescador, ou seja, aquela atividade em que ele é patrão, empregado e
sócio. E em meio a este universo, especialmente nos últimos anos, a pesca
artesanal sente sua própria existência ameaçada pela pesca industrial-
empresarial, que disputa os recursos pesqueiros de uma mesma área
(Diegues, 1983).

Além disso, medidas de regulamentação e subsídios para o aumento da


produção, junto com legislações ineficientes e falta de fiscalização,
contribuíram para a diminuição dos estoques pesqueiros e desorganização do
setor (Instituto do Milênio, 2006).

Estas medidas de regulamentação e controle da produção são baseadas em


informações monoespecíficas, em dados de baixa qualidade, ou em resultados
de modelos que não incluem aspectos sociais, econômicos, ambientais ou
culturais. Os pescadores, via de regra, são ignorados (Instituto do Milênio,
2006). Principalmente quando o alvo é controlar a pesca artesanal, muito mais
difusa e difundida, quando comparada à pesca industrial.

A falta de modelos alternativos para o paradigma "mais é melhor" levou à


organização de uma rede de instituições de pesquisa, que tinham algumas
questões em comum (Instituto do Milênio, 2006). Existe algum grupo de
pescadores explorando o sistema de forma sustentável? Se sim, por quê? O
que faz esta diferença? Que tipo de sustentabilidade eles conseguem atingir?
Econômica? Ecológica? Tecnológica? Ou um balanço entre estas dimensões?

A fim de responder estas questões foi necessário comparar um grande número

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de pescarias ao longo da costa brasileira, assim como na costa capixaba, ou o
que se chamou de "SISTEMAS PESQUEIROS", e levantar elementos
científicos necessários para poder sugerir modelos de manejo mais adequados
às agências governamentais, resultando assim no Grupo Temático Modelo
Gerencial de Pesca (MPG) do Projeto RECOS – Uso e Apropriação dos
Recursos Costeiros (Instituto do Milênio, 2006).

O Projeto RECOS foi subdividido em quatros grupos temáticos, a saber:


Modelo Gerencial de Pesca (MGP); Qualidade Ambiental (QA); Maricultura
Sustentável (MS); Monitoramento, Modelagem, Erosão e Ocupação Costeira
(MMEOC). Este projeto teve como objetivo diagnosticar o atual estado de cada
área em questão, propondo medidas de monitoramento e manejo de forma
conjunta e coordenada, através de redes de pesquisadores/ instituições
(Instituto do Milênio, 2006).

Para que houvesse dados suficientes no intuito de sugerir tais modelos de


manejo, foram necessárias três etapas: i) diagnóstico de toda a costa capixaba
e respectivos pontos de desembarque (ver Martins & Doxsey, 2006); ii)
formulação de atributos em várias dimensões (ecológica, sociológica,
econômica, tecnológica e de manejo) da pesca para análise multivariada e
univariada, através da técnica de Escalonamento Multidimensional (MDS) (ver
Monjardim, 2004; Pizetta, 2004); e iii) estudo aprofundado de casos de sucesso
e/ ou fracasso de manejo tradicional/ governamental através da metodologia de
Estudo de Caso.

A terceira etapa do Modelo Gerencial de Pesca visou, entre outras metas,


selecionar pescarias representativas das diferentes unidades de manejo, a
partir de atributos e características específicas e descrevê-las através de um
estudo detalhado e integrado do seu perfil sócio-ambiental (Instituto do Milênio,
2006).

Neste contexto, o estudo do sistema pesqueiro de camarão de Conceição da


Barra tornou-se interessante para compreender com profundidade o colapso
em um sistema pesqueiro e desenvolver aprendizados sobre o manejo adotado

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na localidade e por fim realizar propostas para solução do problema.

E, a metodologia de Estudo de Caso vem a ser o método científico mais cotado


para a realização desse estudo, pelas suas características de analisar
fenômenos dentro do seu contexto da vida real (Yin, 2004) e por “preservar o
caráter unitário do objeto social estudado” (Goode & Hatt, 1969). É importante
salientar que métodos quantitativos não analisam profundamente um fenômeno
social complexo.

1.7. OBJETIVO GERAL

Compreender a influência dos aspectos sócio-ambientais sobre o colapso da


pesca do camarão no município de Conceição da Barra, Espírito Santo.

1.8. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Análise e investigação dos fatores físicos e ambientais que influenciam


na produção pesqueira do município.
Análise e investigação dos fatores antrópicos que desencadearam a
atual situação da pesca no município, destacando:
o Acesso aos locais de desembarque e armação dos barcos de
pesca;
o Investigação da existência de pesca predatória e sobrepesca;
o Análise da cadeia produtiva do pescado, avaliando a atuação

entre seus atores e a importância desses para esta atividade;

o Investigação relacionada às Instituições e Órgãos Públicos


vinculados ao setor;
o Análise de fatores facilitadores e limitadores para a pesca na
região;
o Os motivos que levaram empresas de pesca na região à falência;
o Formulação de aprendizados sobre a insustentabilidade da
pescaria.

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2. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O município de Conceição da Barra (figura 01) possui uma área de


1188,044km2 (2,57% do território estadual). Tem como limites o estado da
Bahia ao Norte, o município de São Mateus ao Sul, o oceano Atlântico ao Leste
e os municípios de Pinheiros e Pedro Canário a Oeste. A sede do município
situa-se a 3 metros de altitude e tem sua posição marcada pelas coordenadas
geográficas 18º53’56’’S de latitude e 39º43’56’’W de longitude (IBGE, 2006).
Dista de Vitória cerca de 250 km e da BR-101 18 km, pela rodovia ES-421,
única via terrestre de escoamento e fluxo.

18°36'16,42"

América
do Sul
200 m

Minas Bahia
Gerais

Espírito
Santo
Foz do
Rio Doce

Vitória

18°38'07,37"
39°44'33,69" 39°41'56,00"
Figura 01: Localização de Conceição da Barra.

O município de Conceição da Barra é marcado pela ocorrência de “Platôs


terciários” e uma pequena “Planície Quaternária” situada ao sopé dos
tabuleiros da Formação Barreiras. Os depósitos argilo-arenosos de
manguezais são especialmente desenvolvidos no baixo curso do rio Itaúnas e
no baixo curso do rio Cricaré, evidenciando a fraca competência desse rio

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naquele trecho (Martin et al., 1997).

A bacia hidrográfica do rio São Mateus (ou Cricaré) localiza-se no Norte do


Espírito Santo. Ela é formada por dois principais rios que drenam sua área: o
São Mateus, e o rio Cricaré. Esses são abastecidos por uma grande
quantidade de córregos que se deslocam pelos tabuleiros até os rios principais
(Vale, 1999).

A região em questão apresenta problemas na qualidade da água oferecida


pelos rios, devido às suas características naturais e as formas de ocupação
apresentadas, como grandes áreas de silvicultura, além de devastação da
vegetação original (Föeger, 2003), o que pode acarretar no assoreamento dos
leitos e foz dos rios.

Conceição da Barra, assim como o Espírito Santo estão inseridos na Região


Leste do litoral brasileiro, que vai de Belmonte (BA) até Cabo Frio (RJ). Essa
região é marcada pela baixa produtividade primária (Paes, 2002), o que reforça
o fato de não existir grandes pesqueiros de peixes pelágicos na região
adjacente ao município.

Ocorre, no entanto, uma expansão da plataforma continental nesta região,


entre o sul da Bahia e norte do Espírito Santo, alargando-se até o máximo de
246 km. Essa província é denominada Banco de Abrolhos e abrange uma área
de 48.000km2, com topo mais plano na porção interna, e mais íngreme na
plataforma externa (França, 1979).

A plataforma interna, até 20m, apresenta topografia mais suavizada pelo


preenchimento de sedimentos terrígenos, região propícia para captura de
camarão. Enquanto que a faixa mais externa é entrecortada de numerosas
pequenas construções biogênicas, muito visada para a pesca recifal.

É importante citar, que na região de Conceição da Barra o transporte


predominante de sedimentos marinhos dá-se no sentido Norte-Sul (Muehe,
1999).

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O clima da região é úmido no verão e seco no inverno, apresentando média
anual próxima dos 24ºC e precipitação de cerca de 1300 mm anuais.

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3. METODOLOGIA

Como mencionado anteriormente o presente estudo teve como metodologia


utilizada o Estudo de Caso, metodologia de pesquisa freqüente em estudos das
Ciências Humanas e Sociais (Yin, 2004), devido às suas características de
coleta, análise e apresentação dos resultados.

3.1. FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS

Estudo de Caso é um método empírico que investiga um fenômeno social


contemporâneo dentro do seu contexto da vida real (Yin, 2004) e preserva o
caráter unitário do objeto social estudado (Goode & Hatt, 1969).

O Estudo de Caso é indicado como abordagem metodológica quando se tenta


descobrir respostas para perguntas do tipo “como?” e “por quê?”, e
principalmente quando os limites do fenômeno a ser estudo e do contexto da
vida real não estão claramente definidos (Yin, 2004).

Como uma pesquisa qualitativa, o Estudo de Caso baseia-se no levantamento


de informações complexas através de entrevistas abertas, não sendo
necessariamente restrito a elas. Outras fontes de dados são normalmente
consultadas: análise de documentos secundários; observação direta e
observação participante de instituições e grupos sociais; e o exame de
artefatos físicos. Os dados coletados através dessas fontes precisam convergir
em um formato de triângulo, o que promove a validação dos resultados.

Formato de triângulo refere-se ao desenvolvimento de linhas convergentes de


investigação, na qual as evidências provenientes de duas ou mais fontes
devem convergir em relação ao mesmo conjunto de fatos ou descobertas (Yin,
2004). Idéias conflitantes e opiniões divergentes são examinados através da
coleta simultânea de informações dos principais atores envolvidos no problema
sob estudo.

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3.2. COLETA DOS DADOS

A coleta dos dados estendeu-se entre os meses de setembro e dezembro de


2004, com um total de 10 dias trabalhados na localidade, em uma média de 8
horas por dia de coleta de dados. Para a realização das entrevistas, quatro
pesquisadores trabalharam durante essas 8 horas. Em geral a duração média
das entrevistas e conversas eram superiores à uma hora com cada ator.

Inicialmente, foram entrevistados diversos potenciais informantes dos


diferentes setores econômicos, e também da sociedade civil, com o intuito de
se conseguir as informações mais fidedignas possíveis. Com isso chegou-se a
um total de 16 informantes principais, dos quais, quatro eram pescadores, dois
eram representantes da Associação de Pescadores Barrenses (ASPEB),
quatro eram proprietários de peixarias, um era técnico do Incaper/ Conceição
da Barra e cinco eram representantes políticos, entre eles, a secretária
municipal de Meio Ambiente e Turismo, o prefeito atual, e três vereadores.

A coleta de dados com os atores foi realizada através de entrevistas semi-


estruturadas, seguindo um roteiro pré-definido para norteamento da
investigação, com questões gerais sobre a história da pesca e município e
atual situação de decadência. Nesse tipo de entrevista, não é necessária a
utilização de instrumento de coleta propriamente dito, mas é importante que as
respostas sejam anotadas em “diários de campo” para posterior análise.

Foram realizadas também, entrevistas espontâneas, informais, sem um tema


ou roteiro pré-definido, abordando temas gerais sobre o município e questões
ligadas à pesca do camarão; além de terem sido feitas gravações de vídeo com
alguns atores chave, para posterior análise.

Com o decorrer das saídas de campo para coleta de dados, as conversas e


entrevistas foram norteadas para certos temas, através de análises prévias das
entrevistas já realizadas, a saber: motivos que levaram as empresas à falência;
dificuldades encontradas pelos pescadores após a erosão da barra e
assoreamento do canal fluvial; desmotivação por parte dos pescadores em
relação à Associação de pescadores e às gestões municipais. Com isso foi

13
possível a construção de um mapa conceitual com as relações existentes entre
os atores sociais, que auxiliou na coleta de dados (figura 02).

Além das entrevistas, foram também realizadas coletas de informações através


de outras fontes de evidências, tais como: histórico do município e da pesca
(Lima, 1995); dados de desembarque (Brasil, 1988; Paiva, 1997; Dias Neto,
2002; Martins & Doxsey, 2006); considerações sobre as antigas indústrias de
pesca do município (Espírito Santo, 1976, 1981; Brasil, 1988); considerações
sobre a erosão da barra fluvial (Vale, 1999); além de revistas e jornais tratando
do tema pesca de camarão de Conceição da Barra.

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PESCADORES

PEIXARIAS

COLÔNIA DE
PESCADORES

ASSOCIAÇÃO DE
PESCADORES
ATRAVESSADORES
PREFEITURA

SOCIEDADE
CIVIL

Figura 02: Mapa conceitual, contendo os atores da pesca artesanal do camarão em Conceição da Barra.

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Abaixo pode ser visualizado um desenho esquemático (figura 03) das etapas
seguidas durante a coleta das informações, segundo Yin (2004).

Figura 03: Desenho esquemático da coleta e verificação das evidências

3.3. ANÁLISE DOS DADOS

Para a análise dos dados os depoimentos dos entrevistados foram agrupados


segundo temas, para verificar a triangulação das evidências. As opiniões
convergentes sobre cada tema foram utilizadas para delineamento das
análises, juntamente com outras fontes de informações sobre os diversos
temas abordados.

Após validação das evidências e análise multidisciplinar, foram extraídas


informações sobre o modelo de gestão pesqueira adotado pelo município de
Conceição da Barra, produzindo lições a insustentabilidade da pesca, para
contribuir com a mudança de paradigmas da gestão pesqueira no Brasil. A
figura abaixo sintetiza pretexto da utilização do Estudo de Caso nesse tipo de
estudo.

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Questões específicas sobre as dinâmicas (ecológicas,
sociais, econômicas, políticas) - multidisciplinar

Avaliação Crítica (oficial, local) e História

Lições aprendidas sobre sustentabilidade/


insustentabilidade da pescarias

Contribuições para a gestão pesqueira no Brasil

Figura 04: Síntese do Estudo de Caso


Fonte: Adaptado de Isaac & Martins, 2004

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4. RESULTADOS

4.1. DESENVOLVIMENTO DA PESCA NO MUNICÍPIO

A pesca obteve o seu desenvolvimento a partir da decadência do setor


madeireiro no município de Conceição da Barra. Por não haver mais matéria-
prima disponível para a manutenção dessa atividade, mas já ter sido construída
uma estrutura portuária, e o Governo Federal ter também sancionado o
decreto-lei 221 de 28 de fevereiro de 1967, criou-se um ambiente favorável ao
desenvolvimento da pesca.

O início do desenvolvimento da pesca, já não mais de subsistência, mas


também comercial, se deu por volta do final da década de 1950, quando alguns
empresários de outros municípios perceberam em Conceição da Barra um local
propício a se investir, cenário relatado por um antigo morador e pescador,
melhor explicitado na seguinte fala.

“Sr. Getúlio e Sr. Antônio de Pádua trabalhavam no sul do estado e vieram para o
município quando informados da fartura. Montaram a Friesp. Começaram com um
Barracão, depois uma fabriqueta de gelo na colônia. A partir daí, começaram a vir
outros pescadores e empresários. A prefeitura controlava a venda do pescado. Era
abastecida a cidade para depois ser vendido aos atravessadores”.

Com isso a atividade pesqueira de Conceição da Barra foi se tornando cada


vez mais atraente para empresas inclusive de outros estados. A ponto de
embarcações internacionais se aproximarem da costa para pescar.

O grande aumento do esforço de pesca seja com a chegada de novas


embarcações ou inovações tecnológicas na área pesqueira permitiram o
aumento nos volumes de desembarque durante a década de 1970, como um
pescador relata: “com um lanço de meia hora se pegava o que hoje precisa de oito
horas de arrasto pra pegá”.

Outros frigoríficos foram sendo fundados ao final da década de 1970, grandes


quantidades de embarcações, e barcos cada vez maiores foram sendo
construídos e reformados para sustentar a demanda de pescado como pode

18
ser observado na fala de um pescador e antigo empregado de uma das
empresas:

“A fartura da época impressionava. O italiano comprou a Friesp sem nenhuma dívida.


[...]. A Barrapesca entrou concorrendo, os barcos de Santos também. Barcos
arrastões. Então a costa foi fracassando”.

Além disso, na segunda metade da década de 1980, a foz do rio Cricaré sofria
um processo de assoreamento do canal principal impedindo a entrada e saída
de barcos com calado maior, sendo possível a navegação desses barcos
maiores apenas na preamar.

O resultado de todos esses fatores foi o fechamento dos Frigoríficos que mais
produziam no local, Barrapesca e Friesp, ocorrido no final da década 1980.

Muitos moradores e pescadores locais têm receio ao comentar sobre as


empresas e a dinâmica que se tinha quando essas funcionavam, por se tratar
de pessoas de outros locais que desenvolveram a atividade pesqueira no
município. O fato é que, durante o auge do setor pesqueiro em Conceição da
Barra, não houve qualquer investimento no setor com capital interno, apenas
externo ao município.

Diante desse cenário a Prefeitura fundou a Associação de Pescadores


Barrenses – ASPEB, para remediar a situação, para que ela funcionasse como
um entreposto, em que a Associação beneficiaria e revenderia o pescado. Mas
mesmo na ASPEB, gerida pelos próprios pescadores, a desonestidade foi
motivo de decadência e perda do apoio da categoria como visto na fala de um
pescador:

“[...] A Associação dos pescadores foi fundada pela primeira vez faz 15 anos (1989). A
Associação sobrevivia da produção dos pescadores, e era vendido para Rio de
Janeiro. Com as mudanças na administração, as gestões não iam dando certo. A
desonestidade foi o principal fator para que entrasse em falência”.

E quando se pensa em Associação, essa foi muito comentada no que tange


assuntos ligados à má gestão (a exemplo a desonestidade e desvio de verbas),

19
ao longo dos anos de funcionamento. Com o desânimo, os pescadores
deixaram de se filiar à entidade e ela fechou as portas até o ano de 2000,
quando foi reaberta com o intuito de ser um entreposto para que os pescadores
pudessem vender o pescado.

Na tabela 01 é possível visualizar uma cronologia resumo dos principais fatos


ocorridos entre a década de 1950 e 1990.

Tabela 01 – Cronologia dos principais fatos ocorridos durante o


desenvolvimento da pesca de Conceição da Barra

Cronologia Principais fatos

Mudança do eixo de desenvolvimento de


Final da década de 1950 Conceição da Barra para a pesca como
principal atividade

Aumento da frota e da capacidade de captura


Década de 1960 das embarcações subsidiado pelo Governo
Federal

Década de 1970 e início dos anos 80 Auge do desenvolvimento do setor pesqueiro

Segunda metade da década de 1980 Colapso na produção

Final da década de 1980 Falência das empresas de pesca

4.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE AS INDÚSTRIAS DE PESCA

O parque industrial pesqueiro estadual contava com sete empresas de pesca


entre a década de 1970 e 1980. Das quais, três atuaram em Conceição da
Barra. Essas empresas contavam todas as atividades dentro da cadeia
produtiva, ou seja, captura, congelamento, resfriamento, armazenamento,
fábrica de gelo, silo de gelo, comercialização e transporte, além de cais e
estaleiro próprios (Espírito Santo, 1981).

Atentando-se para as estruturas existentes no ano de 1980 (Espírito Santo,


1981), as empresas de Conceição da Barra possuíam um total de: 35
embarcações próprias e mais 34 arrendadas, dedicadas à captura do camarão;

20
três cais de desembarque; duas câmaras de espera com capacidade total de
100 t; duas câmaras de estocagem de pescado com capacidade total de 170 t;
dois túneis de congelamento com capacidade total de 29 t; três fábricas de gelo
com produção diária total de 30 t; um silo de estocagem de gelo com
capacidade de 18 t; três salas de lavagem com um total de quatro cilindros; e
três áreas de processamento de pescado com um total de 20 mesas para
classificação e descascamento do camarão.

Na figura abaixo é possível visualizar a evolução da quantidade de pessoal


empregado pelas indústrias de pesca capixabas. Entre o ano de 1970 e 1977
ocorreu um aumento de cerca de 1000% na quantidade de empregados pelas
industrias, não sendo muito diferente do ocorrido em Conceição da Barra.

1400
1213
1200 1120
Pessoal empregado

1063 1040
983
1000
800 651
600 431
400
200 101
0
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977
Ano

Figura 05: Evolução da quantidade de pessoal empregado pelas indústrias pesqueiras


capixabas
Fonte: Espírito Santo, 1981

Esse grande aumento na contratação pode constatar o grande crescimento da


pesca que ocorreu nesta década.

Os maiores desembarques de camarão no início da década de 1980, a nível


estadual, provinham das empresas situadas em Conceição da Barra. Eram
elas: Friesp (Frigorífico Espírito-santense de Pescado Ltda.), Barrapesca (Cia.
de Pesca de Conceição da Barra Ltda.) e Frigorífico Guerra Ltda. Essa
empresas possuíam também maior capacidade de estocagem e produção de

21
gelo.

As empresas de Conceição da Barra tinham as atividades dirigidas para a


pesca do camarão, ficando assim, a mercê das intempéries, sazonalidades, e
proibições. Elas apresentavam resultados operacionais oscilantes, que
comprometiam a situação econômica. Fato que no ano de 1988 (Brasil, 1988)
essas empresas apresentavam uma capacidade instalada ociosa em torno de
90%, decorrente da escassez da matéria-prima.

4.3. SÓCIOECONOMIA DA PESCA DO CAMARÃO

Conceição da Barra, por possuir a sede no litoral, especificamente na foz de


um rio, sempre teve a economia, sociedade e cultura voltadas para estes
ambientes, assim como várias outras cidades do litoral. E durante o auge da
pesca de camarão, década de 1970 a 1980, o setor pesqueiro era a base da
economia local.

Em uma família de pescador todos trabalhavam no setor pesqueiro, fosse no


gerenciamento das empresas, nos barcos de pesca ou no beneficiamento do
camarão, gerando renda e movimentando a economia local.

As empresas adotaram as máquinas de descascar camarão, substituindo as


esposas dos pescadores, que inicialmente trabalhavam no beneficiamento do
pescado. Essas foram desempregadas e deixaram de auxiliar na renda familiar.

Com o assoreamento ocorrido na segunda metade da década de 1980, as


embarcações foram substituídas por barcos menores, diminuindo a capacidade
de carga e o número de tripulantes a bordo.

Nesta mesma época, as indústrias de pesca faliram, aumentando o


desemprego.

Por fim essas indústrias foram substituídas por peixarias menores que
compram e beneficiam o camarão, com número de empregos fixos reduzido.
As esposas dos pescadores tiveram novamente oportunidade de emprego. Os
22
pescadores artesanais passaram a vender a produção para essas peixarias,
adotando o sistema de partes.

4.3.1. A arrecadação de impostos

Com o rendimento em queda, algumas peixarias iniciaram um processo de


sonegação de impostos para sobreviver, o que diminuiu os investimentos no
setor, aumentando assim, ainda mais a sonegação de impostos.

Até a gestão de 2001-2004 a pesca no município sobrevivia com capital de


atravessadores que buscavam o pescado dentro do município, nas pequenas
peixarias que restaram (cerca de 40). A partir dessa gestão foi implantado o
Núcleo de Atendimento ao Consumidor (NAC), um posto municipal de
arrecadação de impostos de mercadorias. Segundo algumas fontes a taxa era
de 17% sobre o preço do quilograma de camarão. A justificativa era a
inadimplência de grande parte das peixarias, como supracitado.

Com a implantação do NAC, os atravessadores que outrora buscavam o


produto dentro do município, deixaram de fazê-lo para comprar nos municípios
da Bahia.

Hoje, o NAC permanece desativado, e segundo alguns representantes políticos


é pela “falta de segurança dos fiscais, que ficavam à mercê dos atravessadores”.
Ocorreram casos de apedrejamento do núcleo e violência para com os fiscais,
segundo alguns entrevistados.

23
Tabela 02 – Resumo dos principais depoimentos relacionados ao NAC

Representante Depoimento
"O NAC prejudicou. O imposto era muito maior do que a
arrecadação. Muitas peixarias não tinham nota fiscal, muitas
fecharam".
"A Barra tinha 40 peixarias, hoje tem apenas 10".
Proprietário de peixaria
"Os atravessadores não compram camarão de Conceição da
Barra por causa do NAC, eles vão direto à Bahia".
"O imposto sobre o camarão dificulta o escoamento da
produção para fora do estado e mesmo para fora do município".
"O NAC está fechado por motivo de falta de segurança para os
Representante político
fiscais, trabalho do governo".
"O NAC talvez com boa teoria, mas impraticável na realidade".
Representante da ASPEB "O NAC gerou concorrência desleal. No período de vigência de
25 peixarias sobraram aproximadamente 10".

4.4. ASPECTOS POLÍTICOS DE CONCEIÇÃO DA BARRA

Praticamente não há dados sobre as administrações de Conceição da Barra


até o ano de 1945, ano em que é decretado o fim do regime ditatorial de
Getúlio Vargas. Sabe-se no entanto, que em geral foram administrações
marcadas por gestões nas linhas do governo federal, autoritarismo/ populismo,
já que os administradores eram grandes proprietários de terras e com alto
poder aquisitivo. De acordo com Lima (1995) “[...] o período de 1935 a 1945 foi
marcado pelo autoritarismo de Getúlio Vargas e intensificado pelo coronelismo
no interior do país [...]”. E continua: “[...] essa liderança municipal, foi vivida
também em Conceição da Barra”.

Para as gestões no período de 1951 a 1977 (tabela 02) é possível tecer


algumas avaliações gerais acerca das gestões governamentais. Elas são
marcadas pelos incentivos dados a extração de madeira e exploração de
petróleo na região. Neste período, pode-se dizer que os fatos que mais
marcaram a dinâmica populacional e a economia do município - com impactos
mais negativos do que positivos - são as instalações das madeireiras
CIMBARRA (Companhia Industrial de Madeiras de Conceição da Barra) e a
abertura do primeiro poço de petróleo do estado pela Petrobras na região, fato
24
ocorrido no ano de 1959. Esses impactos são referentes, principalmente à
impactos ambientais com a explotação desordenada da madeira e pela
presença da Petrobras com os trabalhos de sísmica ao longo do rio Cricaré e
nas proximidades da costa.

Tabela 03 – Administração de Conceição da Barra entre 1951 e 1977

Período Administrador
1951-1955 Ítalo Benso
1955-1959 Bento Daher
1959-1963 Edward Abreu do Nascimento
1
1963-1967 Mário Vello Silvares
1967-1971 José Luiz da Costa
1971-1973 Bento Daher
1973-1977 Gentil Lopes da Cunha

Para o período de 1977 a 2005 (tabela 03), destacam-se as gestões de


Humberto de Oliveira Serra (1977 - 1983 e 1989 - 1992) e Oribes Storch (1983
- 1988). Humberto privilegiou em seu primeiro ano de governo a economia do
município. Fez isso dando incentivos fiscais às empresas de pesca que ali se
instalavam. Já em seu segundo mandato, o município já convivia com o quadro
de crises que abarcavam praticamente todos os setores da sociedade,
particularmente a economia, com a decadência da pesca e do turismo.

“A gestão de Oribes Storch é marcada na sociedade barrense pelo resgate/


valorização do funcionalismo público e da educação. Em sua gestão, foi dada pouca
ênfase nas questões econômicas”, relato de um representante político. Após
Oribes, Conceição da Barra fica sobre a gestão de João Alves dos Santos.
Pouco se sabe sobre seu governo. Provalvelmente por ser uma gestão neutra.

1
Mário Vello Silvares foi eleito, mas devido a sua precária condição de saúde não chegou a
ser empossado sendo substituído por Edgard Cabral da Silva que renunciou antes de terminar
seu mandato, assumindo o presidente da câmara Gastão Kock da Cunha.
25
Tabela 04 - Administrações de Conceição da Barra a partir de 1977

Período Administrador
1977-1983 Humberto de Oliveira Serra
1983 - Aluisio Feu Smiderle2
1983-1988 Oribes Storch
1989-1992 Humberto de Oliveira Serra3
1992-1993 João Alves dos Santos
1993-1996 Mateus Vasconcelos
1997-2000 Nélio Ribeiro Nogueira4
2000-2004 Francisco Carlos Donato Júnior
2005 - Manoel Fonseca (atual prefeito)

No período de 1993 a 1996, de acordo com a população local, o município de


Conceição da Barra teve um dos piores administradores. O governo de Mateus
Vasconcelos foi caracterizado por ter um modelo clientelista e marcado por
ondas sucessivas de corrupção, desgaste do funcionalismo público e,
sobretudo crimes ambientais como o fato ocorrido no ano de 1994 quando
aterrou uma extensa área do manguezal (figura 05) para distribuir às famílias
carentes em troca de votos. Além disto, ele foi acusado de desvio de verba que
seria destinada à contenção do avanço do mar na avenida da orla e dragagem
da barra fluvial.

Os principais reflexos do desvio de verba não estão no que muitos pensam que
seria a oportunidade de dinamizar novamente a pesca e conseqüentemente a
economia local. Seu principal impacto foi o fato de desarticular e fazer a
população desacreditar na possibilidade de poder driblar e conseqüentemente
mudar o quadro político ali instalado há décadas.

2
Aluisio Feu Smiderle administrou por apenas 45 dias, falecendo num acidente
automobilístico, assumindo seu vice Oribes Storch que administrou até 1988.
3
Humberto de Oliveira Serra renunciou antes de terminar seu mandato, assumindo João
Alves dos Santos seu vice.
4
Nélio Ribeiro Nogueira foi afastado pela câmara 3 meses antes de terminar seu mandato e
com a renúncia do vice prefeito Sebastião Farias que iria disputar eleição, assumiu o
presidente da câmara Edmundo Thomaz Soares Norberto.
26
Figura 05: Foto aérea de Conceição da Barra evidenciando assoreamento
Fonte: Projeto Caranguejo

4.5. DECADÊNCIA DA PESCA

Atualmente a pesca do camarão em Conceição da Barra encontra-se


decadente. Todos entrevistados estão em acordo sobre este fato. Os
informantes afirmam que este processo data do final da década de 1980
quando as empresas de pesca fecharam as portas, alguns ainda citam que
depois do ano 2000, a situação do setor se agravou ainda mais.

As explicações e opiniões para tal fato são diversas, mas a grande maioria dos
entrevistados acredita que o assoreamento do canal fluvial foi o principal fator
de queda nos desembarques locais.

Há também aqueles que acreditam que a pesca chegou nessa situação pela
sobrepesca ou pela falta de gestão, seja com artes predatórias de pesca,
grande aumento da frota camaroneira, ou falta de gerenciamento das
empresas.

27
Tabela 05 – Resumo dos principais depoimentos sobre a decadência da
pesca

Representante Depoimento
"A falência é em todo tipo de pesca".
"A decadência da pesca é pela pesca predatória praticada
Pescador pelos pescadores de fora da cidade".
"A decadência da pesca é também pela falta de incentivos do
governo".
"A pesca está em decadência pelo alto custo (ex: óleo
R$1,60/L, e o camarão R$1,50/kg)".
Peixeiro
"A pesca está em decadência pelo assoreamento do rio.
Acredito que pode ser resolvida com a dragagem".
"Houve uma queda na pesca, na década de 80 devido ao
Secretário de Meio
assoreamento da foz do rio, impedindo os barcos maiores de
Ambiente e Turismo
navegar".

"A decadência do setor de pesca em Conceição da Barra não é


Representante da ASPEB
por falta de produção, mas sim de gestão".
"A economia ia muito bem, mas a partir do momento que esses
Ex-trabalhador de
pescadores de SC foram embora com suas embarcações,
empresa de pesca
iniciou-se o processo de decadência".

"A Petrobras, durante a década de 60, também contribuiu para


alterar a piscosidade do rio, bombardeando com dinamite a
cada 300m para estudos sísmicos, o que prejudicou a pesca,
demorou na recuperação, mas nunca mais foi do mesmo jeito".

"Com o tempo, as malhas miúdas também começaram a


aparecer. O próprio pescador está destruindo a herança que
Pescador aposentado podia deixar parra os filhos. As autoridades não conseguiram
conter isso".

"A fartura da época impressionava. O italiano comprou a Friesp


sem nenhuma dívida. Com o tempo as condições de pesca
foram piorando. A Barrapesca entrou concorrendo, os barcos
de Santos também. Barcos arrastões. Então a costa foi
fracassando".

"Não vai ocorrer colapso, daqui a 2-3 anos a produção vai


aumentar, porque muitas pessoas estão saindo da pesca
Proprietário de peixaria atualmente".
"A natureza sempre vai fornecer camarão para todos, e nunca
vai acabar".

28
4.6. EROSÃO DA BUGIA

Períodos de forte atividade do fenômeno “El niño”, refletem em perturbações no


regime dos ventos e das chuvas, permanecendo durante longos períodos de
tempo, e que modificam alguns mecanismos da dinâmica costeira ligadas
direta ou indiretamente ao regime dos ventos, podendo produzir inversão no
sentido do transporte litorâneo, com conseqüências no sistema de deposição e
erosão da linha de costa adjacente (Martin et al., 1997).

Em épocas de alta descarga fluvial, o fluxo da água junto à desembocadura de um rio pode
constituir uma barreira natural, que tende a bloquear o transporte de sedimentos levados
por correntes litorâneas paralelas à linha de costa, como um molhe artificial. Como
resultado ocasionará acumulação de sedimentos a barlamar da foz, ocorrendo a
progradação da praia, enquanto que a sotamar, a corrente de deriva litorânea poderá atuar
sobre a praia, erodindo-a. No entanto, em períodos de baixa descarga fluvial, o obstáculo
representado pelo fluxo fluvial, irá praticamente desaparecer e conseqüentemente, a meia-
cúspide construída a barlamar, irá erodir em processo acelerado, originando um esporão
arenoso que tenderá a obstruir parcialmente a foz (Martin et al., 1997).

Assim era a barra fluvial do rio Cricaré (Bugia), no ano de 1970, com
aproximadamente um quilômetro de extensão e 375m de largura, vegetada e
sem ocupação humana (Vale, 1999).

Uma baixa descarga fluvial foi observada por Vale (1999) entre os anos de
1986 e 1989, quando as médias pluviométricas apresentaram uma queda
considerável. Como conseqüência, em 1991, já era possível observar intenso
processo de erosão da meia-cúspide, causada pela perda de parte da barra
fluvial. O que repercutiu na erosão, e assim passando a consumir arruamentos
e edificações instalados sobre a formação. Após esse evento, sem a barra
como obstáculo natural, iniciou-se um processo erosivo ao longo de toda a
praia da sede do município, chegando até mesmo a destruir casas, bares,
restaurantes e calçamentos da orla.

Como supracitado, a Bugia era uma barra fluvial do rio Cricaré onde estava
instalado um bairro residencial, predominantemente de pescadores, além de
várias peixarias. E esses eventos de erosão/ assoreamento do canal fluvial no
final da década de 1980 até os dias atuais, tiveram grandes conseqüências no
29
cotidiano dos pescadores, obrigando a mudarem-se para bairros distantes dos
locais de desembarque. Além disto a Bugia era uma proteção natural contra o
vento sudeste e frentes frias, evitando avaria nas embarcações.

Outra opção encontrada pelos desabrigados da Bugia foi ocupar a Escola de


Pesca desativada, que no início seria provisoriamente até a construção de
casas populares em outro local mais distante. Algumas famílias que
inicialmente se abrigaram na Escola de Pesca mudaram-se para o novo bairro,
outros permaneceram, mas a medida que a área erodida aumentava o número
famílias desabrigadas também.

Os eventos de assoreamento/ erosão que ocorreram na foz do Cricaré foram


percebidos pelos entrevistados como agravando a situação da pesca. Há
alguns casos que se acredita que esse foi o principal fator de decadência da
pesca.

Seja pela perda das casas, obrigando os pescadores a se mudarem da Bugia,


ou pelo impedimento à navegação dos barcos maiores, a mudança ocorrida na
Barra e canal fluvial tiveram conseqüências na pesca.

Alguns entrevistados consideram que a melhor maneira de agir seria com a


fixação da barra, outros mencionam ainda que ela não pudesse ter sido
habitada, e não deveria novamente, mesmo com a fixação. Outros ainda,
crêem que só a partir da fixação da barra a pesca irá se desenvolver
novamente.

Esse é um ponto importante de análise, pois a partir da capacidade da barra


fluvial em permitir navegação, juntamente com a capacidade de suporte do
ambiente costeiro, entre outros aspectos, é que é possível delinear uma frota
ideal para a pesca de camarão de Conceição da Barra, além de diversas outras
políticas para desenvolvimento da pesca na região.

30
Tabela 06 – Resumo dos principais depoimentos sobre a erosão da Bugia

Representante Depoimento
"A transferência dos pescadores da Bugia para Santo Amaro e para
Proprietário de Santana dificultou o acesso aos pontos de desembarque".
peixaria
“A retirada dos pescadores da Bugia foi a melhor coisa que ocorreu”.
"Havia um banco arenoso, com apenas um canal que era fundo, por
onde passavam os barcos. Esse banco, era móvel e teve uma
ocupação desordenada. Com o desmatamento da mata ciliar na bacia
de drenagem, para retirada de madeira de lei, desde a década de 30,
a vazão do rio diminuiu, provocando erosão do banco. Até a década
de 50 navios navegavam até São Mateus, hoje as pequenas
Secretário de Meio embarcações que conseguem navegar esperaram a preamar para
Ambiente entrar ou sair da barra. Mas há um manuscrito datado de 1845 que
retrata a foz do rio exatamente como está atualmente, mostrando que
esses movimentos são cíclicos".
"O PDU propõe a desapropriação e reflorestamento da Bugia. Propõe
também recuperação da área aterrada do manguezal, com remoção
das famílias que vivem no local".
"A erosão da Bugia afetou a vida dos pescadores, por não haver mais
a proteção natural contra os ventos Sul e Sudeste, que afundam
alguns barcos".
Representante da
ASPEB "Os moradores que foram deslocados para Santana ficam distantes
da Bugia, aproximadamente 8km, o que desanima sair 02:00h da
madrugada de casa para pescar. Muitos deles têm que se deslocar a
pé".

4.7. ANÁLISE INTEGRADA DOS ASPECTOS ENVOLVIDOS NA PESCA DO


CAMARÃO

Com o intuito de simplificar e sistematizar os resultados do presente estudo, foi


construído um fluxograma (figura 06), baseado em Odum e colaboradores
(1988), representando dois sistemas com fluxo de materiais e energia, um
mapa conceitual (figura 07) contendo os principais fatores que resumem a
problemática da pesca artesanal, e outro (figura 08) contendo as principais
relações entre os atores sociais de Conceição da Barra.

No fluxograma estão representados, de forma simplificada, todos os fatores


internos e externos ao sistema que influenciam na pesca do camarão. Fatores
ambientais, tais como precipitação, correntes, radiação solar, entre outros
interferem na cadeia trófica, assim como na reprodução e recrutamento do
31
camarão.

A baixa precipitação, associada à inversão de correntes longitudinais,


provavelmente causadas por efeitos do “El niño”, acarretaram o assoreamento
do canal fluvial (figura 07), dificultando o tráfego de embarcações maiores. Os
fatores abióticos supracitados provocaram também a erosão da Bugia,
dificultando o acesso ao cais de embarque, por parte dos pescadores que até
então moravam na localidade. Essas conseqüências diminuíram, mesmo que
sensivelmente, o número de pescadores.

A pesca industrial contribui de forma negativa para o sistema em questão. Ela


proporciona uma concorrência desleal com a pesca artesanal, acarretando na
depleção dos estoques (figura 07). A menor captura proporcionada por essa
depleção, faz diminuir ainda mais a rentabilidade da pesca.

A comercialização do pescado de Conceição da Barra era quase que


totalmente realizada entre as peixarias e atravessadores, que buscavam o
produto na localidade, gerando boas relações entre esses atores (figura 08).
Mas com a implantação do NAC, realizado pela Prefeitura, a comercialização
do produto diminuiu, por afastar o atravessador. Isso gerou um feed-back
negativo com o aumento da inadimplência das peixarias, diminuindo os
investimentos no setor.

32
Trabalho
Humano

Sol Autotróficos Heterotróficos


Atravessador

Políticas

$
$
Pesca
Detritos CAMARÃO artesanal do
camarão

Fatores Centros
Ambientais consumidores
Pesca
Industrial

Legenda
- Fonte de energia - Produtores - Consumidores - Perda de energia

- Fluxo de materiais e energia - Depósito - Mecanismo de alavanca - Interação

Figura 06: Fluxograma da pesca artesanal do camarão em Conceição da Barra.

33
O evento de implantação do NAC gerou conseqüências em toda cadeia produtiva,
pois pescadores diminuíram as atividades por não haver demanda pelo produto.
Os atravessadores deixaram de comercializar no município para comprar camarão
do Sul da Bahia, gerando relações negativas entre Prefeitura e pescadores,
Prefeitura e peixarias e entre Prefeitura e atravessadores e, inclusive Prefeitura e
Associação de pescadores (figura 08). A única entidade que permaneceu com
boas relações com a Prefeitura municipal foi a Colônia de pescadores Z-1, devido
à interesses políticos por parte do Presidente da Colônia.

Na tentativa de solucionar, pelo menos em parte, o problema da pouca


comercialização do produto, a Associação de Pescadores Barrenses instalou uma
cooperativa, que serviria para o pescador vender o pescado com mais facilidade, e
essa serviria também com o beneficiamento e agregação de valor ao produto,
facilitando a comercialização ao mercado consumidor.

No entanto, com a desmotivação dos pescadores para com a Associação (figura


08), fruto da desonestidade das gestões passadas, a cooperativa funciona com
poucos cooperados e o único beneficiamento que ocorre no local é a defumação
do camarão, proveniente da produção de um único associado, um parente do
presidente da ASPEB.

34
PREFEITURA

EROSÃO/ NAC
SOBREPESCA
ASSOREAMENTO

CAMARÃO PESCADOR PEIXARIA ATRAVESSADOR MERCADO


CONSUMIDOR

ASSOCIAÇÃO DE
PESCADORES

Legenda

- - Relação negativa - Interação pouco freqüente - Interação freqüente - Interação cancelada

Figura 07: Mapa conceitual, contendo os principais fatores que resumem a problemática da pesca local.

35
PESCADORES

PEIXARIAS

COLÔNIA DE
PESCADORES

ASSOCIAÇÃO DE
PESCADORES
ATRAVESSADORES
PREFEITURA

SOCIEDADE
CIVIL

Relações
Negativas
Positivas

Figura 08: Mapa conceitual, contendo as principais relações entre os atores da pesca artesanal do camarão em Conceição da Barra.

36
4.8. PROPOSTAS DE MANEJO

Nesse espaço estão evidenciadas algumas frases ditas durante as entrevistas


e conversas, quando os atores foram questionados sobre o que poderia ser
feito para que a situação da pesca no município mudasse.

“É necessário trabalhar o social em primeiro lugar, pois o pescador não tem princípios
administrativos. Ele não sabe administrar a renda captada no verão e chega a passar
necessidade no inverno. É necessário trabalhar o associativismo e corporativismo. A
colônia tem papel muito importante nesse sentido, mas não faz esse trabalho”.
(técnico do Incaper/ Conceição da Barra)

“Convidar o pescador para assumir o seu papel, principalmente na colônia; o Incaper


com noção de pesca em busca de novas tecnologias de pesca. Pode-se trabalhar a
pele do peroá, a casca do camarão”. Nesse trecho, o técnico do Incaper
expressou sobre a desorganização e desmotivação do pescador enquanto
classe ocupacional.

“Implantação de cooperativa de transporte, para escoamento do produto, mas não


melhoraria em grande escala. Implantação de selo de qualidade para facilitar a venda
do pescado para supermercados”. Acima, o proprietário de peixaria fala sobre a
dificuldade de escoamento, distribuição e venda do produto, sendo um ponto
muito citado pelas peixarias e associação de pescadores, que promove
beneficiamento do camarão.

“Facilitar o financiamento para pescadores e peixarias, para obtenção de novas


tecnologias e manutenção das embarcações”. Uma questão bastante abordada
pelos pescadores e proprietários de peixarias, foi sobre o financiamento, que,
segundo eles, é muito burocrático e dificultado.

“Contratação de rendeiros e carpinteiros por parte da prefeitura”. Aqui, o proprietário


de peixaria reclama sobre a falta de pessoal qualificado para manutenção das
embarcações e petrechos de pesca.

“Reabertura da escola de pesca com os pescadores mais experientes passando


conhecimento para os mais jovens, além de ensinar a aproveitar melhor o produto,
agregando valor a ele”. Essa é uma reivindicação feita por um proprietário de
37
peixaria é também de diversos atores, sobre o fechamento da escola de pesca,
impedindo os filhos de pescadores de estudar e aprender a profissão.

“A prefeitura deveria incentivar, dar cursos, especializar pescadores jovens”. Com


essa fala, é mostrado o descontentamento do pescador e proprietário de
peixaria em relação à prefeitura que não busca investimentos para o setor.

“Investir em pequenas empresas”. Aqui, mostra o descontento das peixarias, pela


falta de investimentos, com a justificativa que “são as pequenas peixarias que
sustentam a Barra”, além de serem contrárias a abertura de grandes empresas
de pesca.

Tabela 04 – Principais afirmações e propostas dos atores organizadas por


categoria

Categoria Principais afirmações dos atores


"O pescador não tem princípios administrativos. Ele
não sabe administrar a renda captada no verão e
chega a passar necessidade no inverno". (técnico do
Incaper)

“Reabertura da escola de pesca”. (Proprietário de


Profissionalização do pescador
Peixaria)

“A prefeitura deveria incentivar, dar cursos,


especializar pescadores jovens”. (Proprietário de
Peixaria)

“É necessário trabalhar o associativismo e


corporativismo”. (técnico do Incaper)
Associativismo e organização
trabalhista
“Convidar o pescador para assumir o seu papel,
principalmente na colônia”. (técnico do Incaper)

“Facilitar o financiamento para pescadores e


peixarias”. (Proprietário de Peixaria)

“Investir em pequenas empresas”. (Proprietário de


Peixaria)
Financiamentos e investimentos
“Implantação de cooperativa de transporte”.
(Proprietário de Peixaria)

“Contratação de rendeiros e carpinteiros por parte da


prefeitura”. (Proprietário de Peixaria)

38
5. DISCUSSÃO

É cada vez maior a necessidade de se obter dados multidisciplinares para o


planejamento de diversas atividades econômicas. Na pesca não é diferente. A
introdução de dados sócio-culturais e econômicos, além dos dados bio-
ecológicos, mais tradicionais, proporciona uma melhor aproximação à realidade
vivida pela atividade em estudo.

McGoodwin (1990) propõe a inserção de análises sociais e a inclusão dos


pescadores no processo de gestão das pescarias com o objetivo de tornar o
manejo mais flexível e humanizado, assim como realizado pelo presente
estudo com a metodologia de Estudo de Caso, descrita por Yin (2004),

Esta metodologia é muito utilizada pelas Ciências Humanas e Sociais para


aprofundar o conhecimento, ou explicar fenômenos de questões sociais.
Apesar de ser restrito o uso desse tipo de metodologia na obtenção
informações para subsídios à gestão pesqueira integrada, ela mostrou-se
adequada no que tange a descrição e conhecimento aprofundado de sistemas
pesqueiros, principalmente relatando casos de sucesso na gestão, ou
insucesso, situação de Conceição da Barra.

Deve-se levar em consideração que o método de triangulação das evidências,


previsto no Estudo de Caso, é necessário para que o trabalho não se torne um
meio de reivindicação dos pescadores, caso eles sejam a principal fonte de
evidências, já que em uma pescaria em processo de decadência a
reivindicação por parte destes atores é constante.

Atentando-se aos resultados, foi constatado que o modelo de desenvolvimento


da pesca, adotado por Conceição da Barra, assim como no Brasil, foi
respaldado legalmente pelo decreto-lei n. 221 de 28 de fevereiro de 1967 que,
entre outras medidas, isentava de impostos, petrechos e equipamentos de
pesca até 1982, além de isenção do Imposto de Renda, cedido às indústrias de
pesca até 1989 (Brasil, 1967). Acreditava-se que os recursos pesqueiros eram
ilimitados e que a rentabilidade seria diretamente proporcional ao esforço,
gerando riqueza para o país. Este modelo expansionista pode ser visualizado

39
em diagnósticos, como do Espírito Santo (1981, 1988), quando se referem ao
aumento dos parques industriais pesqueiros capixabas, e aumento de frota.

Neste contexto de fomento e investimentos no setor pesqueiro empresarial,


que capital externo ao município de Conceição da Barra promoveu o
crescimento deste setor. Foi constatado, que nunca houve iniciativa de
habitantes e pescadores locais na ativa ascensão da pesca no município. Além
disso, a desorganização, desunião e desmotivação dos pescadores são
conseqüentes de uma série de ações políticas equivocadas e gestões
municipais corruptas.

Essas ações políticas e a corrupção, associadas à depleção dos estoques e


falência das empresas de pesca produziram um baixo capital social5. E hoje
esse baixo capital social que é o maior entrave para o desenvolvimento da
pesca e de todo arranjo produtivo, impedindo a criação de possibilidades de
relações informais entre os agentes sociais envolvidos.

A partir dos resultados, foi possível observar que ao final da década de 1980
ocorreu uma grande queda nos desembarques de camarão em Conceição da
Barra, e diversas fontes (Brasil, 1988; Paiva, 1997; Dias Neto, 2002; Martins &
Doxsey, 2006; FAOSTAT, 2006) mostram também, quedas nos desembarques
nacionais, estaduais e locais, apontando para a sobreexplotação dos estoques
como um dos principais fatores de desencadeamento da situação de crise.

Além disto, ocorreu nessa mesma época, o assoreamento do canal fluvial,


analisado também por Vale (1999), que gerou conseqüências no porte dos
barcos que entravam no estuário para desembarcar o pescado, agravando
ainda mais a situação.

É possível então concluir que o colapso da pesca do camarão em Conceição


da Barra ao final da década de 1980, foi causado pela depleção dos estoques,
pela má administração por parte dos empresários, e agravado pelo

5
Neste estudo, o conceito de capital social é traçado como características que facilitam ações
coordenadas de um determinado grupo social, como confiança, normas e sistemas, que
contribuem para aumentar a eficiência da sociedade (Putnam, 1993 p. 166).
40
assoreamento, impedindo embarcações maiores de navegar. Situação
parecida com que a pesca da sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis)
viveu ao final da década de 1980, na qual fatores como a variação na estrutura
oceanográfica e a sobrepesca do estoque desovante causaram o colapso
desta pescaria (Paiva, 1997).

Viu-se que este modelo até então adotado, principalmente para uma pescaria
sem dados bio-ecológicos, voltada a poucas espécies, e dependentes de
fatores ambientais, não pode ser repetido, tornando-se necessária a
implantação de um modelo em menor escala e multiespecífico, permitindo a
renovação dos estoques.

Julga-se essencial então, a coleta permanente de dados a partir da frota


artesanal, e produção de pesquisas sobre a biologia e ecologia dos camarões
da região de Conceição da Barra e todo norte do estado do Espírito Santo,
possibilitando maior conhecimento sobre essas espécies.

A problemática do setor pesqueiro de Conceição da Barra vivenciada durante o


estudo realizado, permitiu com o conjunto de fatores identificados durante a
coleta e análise dos dados atestarem o baixo Capital Social. E, todas as
propostas dos atores, além das supracitadas são válidas, mas só gerarão
frutos a partir do momento que os pescadores e outros atores se sentirem
confiantes para estabelecimento de relações que facilitem ações coordenadas,
promovendo assim a eficiência da sociedade. E o mais importante para que
mude este quadro é a educação profissional do pescador, com cursos e
informações acerca do trabalho e geração de renda extra.

É importante frisar que os investimentos e subsídios, se forem realizados,


deve-se estudar previamente quais conseqüências sobre o estoque eles trarão,
já que um estoque em queda, na qual a frota é subsidiada, ocorre a
sobrecapitalização, aumentando as taxas de depleção.

Um fator bastante comentado por lideranças políticas do município, e excluída


das propostas, foi a dragagem do canal fluvial e fixação da barra fluvial.
Excluída, pois já houve intervenções que não funcionaram, e apesar de a
41
investigação da dinâmica costeira não ser o foco do estudo, viu-se que uma
intervenção mal-sucedida apenas aumentaria o descontento da sociedade. O
mais importante e talvez menos custoso a se realizar no local, é a remoção
total dos moradores para outros locais, para que a Bugia seja totalmente
desabitada.

É importante também se atentar, que não há a possibilidade de pensar na


pesca como base da economia de Conceição da Barra. É necessário promover
a diversificação econômica do município, através do fomento de outras
atividades, tais como o turismo ecológico, artesanato, entre outros. Mas que
esses sejam bem planejados, estruturados e gerenciados para que não ocorra
o declínio dos mesmos, situação vivida por diversos setores econômicos do
município em diferentes épocas.

Entretanto, essas estratégias de manejo devem estar contextualizadas com a


realidade da pesca artesanal do camarão no município estudado, prevendo a
realização de forma participativa com os atores sociais envolvidos na atividade.
É importante frisar, que pescaria é um fenômeno humano, não podendo haver
pescaria sem haver esforço dele envolvido (McGoodwin, 1990). As estratégias
de manejo não podem ser realizadas como no passado, atestada por Dias Neto
(2002), de forma elitista, promovendo dilapidação dos recursos e discriminando
o pescador artesanal.

42
6. REFERÊNCIAS

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