Você está na página 1de 12

A Pesca na Europa ISSN 1606-089X

N.°
Junho de
3 Pasta Como preservar os juvenis?
2000
Artes de pesca mais selectivas

Cultura do mexilhão
na Irlanda
Uma reconversão bem sucedida

As ORP face à divisão


dos recursos

Quotas de tunídeos
A opinião da responsável de uma OP

Publicação da Comissão Europeia – Direcção - Geral das Pescas


2 A Pesca na Europa
CALENDÁRIO

Feiras e exposições
International congress on the biology of fish
A Universidade de Aberdeen, no Reino Unido,
Neste número…
acolherá entre 23 e 27 de Julho a próxima
conferência da American Fisheries Society,
dedicada essencialmente à fisiologia dos peixes Página 2 Calendário
(toxicologia, cardiologia, imunidade,
desenvolvimento). Os seus comportamentos Página 3 Editorial
migratórios, de sobrevivência e de stress Para uma protecção mais eficaz dos juvenis
também serão abordados.
Para mais informações, consulte o sítio na Internet Página 4 No terreno
http ://www-heb.pac.dfo-mpo.gc.ca/congress A cultura do mexilhão na Irlanda
Um sucesso que é necessário gerir
4th International conference on aquaculture
fundamental and applied aspects
Realizar-se-á, de 24 a 28 de Julho de 2000, Página 5 Pasta
em Liège, na Bélgica, um congresso científico Como preservar os juvenis?
internacional sobre a aquicultura. Versando Melhorar a selectividade das artes de pesca
essencialmente sobre a aplicação dos estudos
científicos nesta indústria (impacte ambiental,
papel das hormonas e das substâncias ácidas Página 9 Actualidade
no desenvolvimento das espécies), este evento Organizações Regionais de Pescas:
contará com a participação de inúmeros Como partilhar os escassos recursos?
especialistas de todo o mundo. O exemplo da CICTA
Para mais informações sobre a conferência e as
inscrições, consulte o seguinte endereço na Internet:
http ://www.ulg.ac.be/physioan/aquacult.htm Página 10 Profissões
O debate da CICTA sobre a repartição dos recursos
Salmon Summit 2000 na óptica de uma OP
A decorrer em Copenhaga, na Dinamarca, Entrevista com Mercedes Rodríguez, responsável
nos dias 21 e 22 de Setembro de 2000, esta da organização de produtores de Lugo, em Espanha
conferência abordará tudo o que possa estar
relacionado com a produção, comercialização Página 12 Breves
e consumo do salmão em todo o mundo. • Novas medidas para proteger o bacalhau
Para mais informações, contacte: Salmon Summit, juvenil no mar da Irlanda
FAO EASTFISH, PO Box 0896, DK 2100, • Reforçar o diálogo com o sector das Pescas
Copenhagen, Denmark. e os meios envolvidos
Tel. (45-35) 46 71 80, fax (45-35) 46 71 81 • Des chaluts et des hommes
E-mail : fao@eastfish.org

Agenda institucional

O próximo Conselho de Ministros da Pesca


da União Europeia terá lugar a 19 de
Outubro de 2000, no Luxemburgo..
A Pesca na Europa é uma revista publicada pela Direcção-Geral das Pescas da Comissão
Aviso aos leitores Europeia. É distribuída gratuitamente através de um simples pedido de assinatura (ver cupão na p. 12).
Faça chegar os seus comentários A Pesca na Europa é editada cinco vezes por ano, nas onze línguas oficiais da União Europeia.
Encontra-se igualmente disponível no sítio da Internet da DG das Pescas:
ou sugestões à seguinte morada: http://europa.eu.int/comm/fisheries/policies_en.htm
Comissão Europeia, Direcção-Geral das Pescas
Editor responsável: Comissão Europeia, Direcção-Geral das Pescas, o director-geral.
Unidade «Comunicação e Informação»
Declaração de exoneração de responsabilidade: Embora seja responsável pela produção geral
Rue de la Loi, 200 desta revista, a DG das Pescas não se responsabiliza pelo rigor, conteúdo ou opiniões expressas em
B-1049 Bruxelles qualquer artigo. Salvo indicação em contrário, a Comissão não partilha nem subscreve qualquer ponto
ou pelo fax (32) (0)2 299 30 40 de vista expresso nesta publicação, pelo que nenhuma declaração nela contida reflecte a opinião da
mencionando A Pesca na Europa. Comissão ou da DG das Pescas. A Comissão não oferece garantias sobre o rigor dos dados apresentados
E-mail: fisheries-magazine@cec.eu.int nesta publicação e nem a Comissão nem qualquer pessoa que actue em nome dela são responsáveis
pela utilização que possa ser feita destes dados.
© Comunidades Europeias, 2000
Realização: Mostra Reprodução autorizada mediante indicação da fonte
Printed in Belgium Fotos da capa: © Lionel Flageul, Manuel Galeote, Fastnet mussels
I MPRESSO EM PAPEL BRANQUEADO SEM CLORO
3
E D I TO R I A L

Para uma protecção


mais eficaz dos juvenis
A captura de juvenis leva inevitavelmente a uma perda de Existem ainda medidas de carácter económico sobre o tamanho
rendimento no futuro, uma vez que impede esses jovens de comercializável que fixam o tamanho mínimo abaixo do qual o
desenvolver o seu potencial de crescimento. A pesca de juvenis, peixe não pode ser vendido. Por último, a nova regulamentação
isto é, dos peixes que ainda não atingiram a idade de reprodução, sobre a organização comum de mercado prevê a rotulagem dos
pode ainda diminuir gravemente o stock de reprodutores produtos que permitirá, entre outras coisas, identificar a zona de
necessário para a renovação da população. Daí a necessidade de captura e impedir os menos escrupulosos de fazer passar pescado
protegê-los. Poderíamos questionar-nos se não seria mais vantajoso com tamanho inferior ao mínimo legal por produtos aquícolas.
proteger os ovos, já que o seu número é bem maior. Na verdade,
as hipóteses de sobrevivência de um ovo depende de factores sobre A definição do tamanho ideal do pescado autorizado a ser
os quais as medidas de gestão das pescarias não têm qualquer desembarcado não é, com efeito, uma tarefa fácil. Se o tamanho
impacto. Apenas uma diminuta percentagem de ovos de uma for demasiado grande, haverá o risco de aumentar as devoluções
postura atinge a maturidade. e se o tamanho for demasiado pequeno, o problema da captura
dos juvenis continua por resolver. Quer se tratem de medidas
Para preservar os recursos e melhorar as capturas, são adoptadas técnicas, económicas ou de gestão, é fundamental que estas
regulamentações em função do estado de conservação dos stocks. se complementem.
Essas regulamentações visam a preservação de toda uma população
de peixes em geral, independentemente da idade. Para o efeito, são Importa, assim, adoptar medidas que contemplem as espécies
definidos regimes de redução da capacidade e do esforço de pesca apropriadas no local e momento apropriados, sem ter de recorrer
e fixados limites máximos de captura (TAC). Paralelamente, à elaboração de uma infinidade de textos regulamentares. Neste
também são aplicadas medidas específicas, designadas de «medidas contexto, o Regulamento (CE) n.º 850/98 permitiu simplificar
técnicas», que se destinam a proteger os juvenis. Essas medidas o anterior texto de 1990, o qual já tinha sido alterado, por
constituem o cerne do Regulamento (CE) n.º 850/98, que entrou necessidade, dezanove vezes. Por outro lado, é necessário resolver
em vigor em 1 de Janeiro de 2000. Esse regulamento visa, entre outros problemas técnicos, uma vez que uma medida que se revela
outras coisas, melhorar a selectividade das artes de pesca, isto eficaz para seleccionar determinadas espécies pode não ter qualquer
é, melhorar a sua capacidade para seleccionar os peixes-alvo efeito para evitar a captura de juvenis de outras espécies. Esse tipo
e permitir a fuga dos juvenis. Este tema da selectividade será de problema será abordado mais adiante, na rubrica «Pasta».
abordado de forma mais aprofundada na rubrica «Pasta».
É necessário, por último, ultrapassar certas dificuldades inerentes
Outro tipo de medida que contribui para este objectivo é o da à aplicação de tais medidas, uma vez que os interesses económicos
definição de «zonas protegidas» em áreas onde existe uma grande imediatos se sobrepõem, muitas vezes, aos interesses colectivos
concentração de pequenos peixes (zona de alevinagem) ou de a longo prazo. No entanto, particularmente preocupados com
peixes em fase de postura, onde se proíbe temporariamente a diminuição, senão mesmo, o desaparecimento de certas espécies
determinadas pescarias ou, nalguns casos, toda e qualquer nas suas capturas, os profissionais do sector já reconhecem hoje
actividade pesqueira. A aplicação da mais recente medida deste a necessidade de melhorar a selectividade. Além disso, uma vez
género foi o plano de recuperação do stock de bacalhau no mar que cabe a esses profissionais aplicar as medidas, é importante
da Irlanda, mencionada no n.º 2 da Pesca na Europa, a cuja que estas sejam definidas à luz da sua experiência. É por essa razão
segunda fase é feita uma pequena referência na rubrica «Breves» que a cooperação entre investigadores e profissionais do sector
da presente edição. é vivamente encorajada.

O Editor
4 A Pesca na Europa
NO TERRENO

A cultura do mexilhão na Irlanda


Um sucesso que é necessário gerir
Na Irlanda, a cultura do mexilhão deu os seus primeiros passos no início da década de 80, nos portos
de Wexford, Killary e Bantry. Nessa região, onde a mitilicultura é praticada com a técnica das estruturas
flutuantes, o sector emprega, actualmente, cerca de 200 pessoas.

A costa sudoeste da Irlanda é bastante A segunda maior empresa da baía de Bantry, As pessoas que possuem residências
recortada, reunindo assim as condições a Fastnet Mussels, comercializa 1 200 toneladas secundárias nessa região protestam contra
ideais para a aquicultura. A cultura de mexilhão por ano, 800 toneladas das a poluição visual que essas estruturas
do mexilhão nasceu nessa região, depois quais provêm das suas próprias instalações. flutuantes provocam numa região afamada
de o acidente de um petroleiro ter causado Esta empresa também explora outros pelas suas paisagens selvagens.
a destruição do complexo petrolífero do moluscos e dedica-se à criação de ouriços Esses problemas de coabitação na baía
porto de Bantry, em 1979. Foi assim que, só e pregados. Os seus produtos são exportados de Bantry levaram à elaboração de uma
na baía de Bantry, cerca de vinte explorações sobretudo para a França e para a Bélgica, Carta e à formação de grupos de trabalho
viram a luz do dia no início da década de 80. mas brevemente também serão exportados constituídos por representantes dos vários
para a Alemanha. interesses existentes. Esta iniciativa de gestão
Uma produção integrada integrada das zonas costeiras está, aliás,
Ao longo dos anos, a actividade Conciliar os diferentes a ser apoiada pela Comissão Europeia,
desenvolveu-se ao mesmo tempo que interesses na região que considerou a baía de Bantry como um
se concentrou. Existem, actualmente, A mitilicultura desempenha um papel-chave dos locais de demonstração do programa
seis empresas no sector, duas das quais incontestável na economia da região. John de gestão integrada1 das zonas costeiras
contribuíram para o desenvolvimento Murphy, director da Fastnet Mussels, defende da faixa atlântica da União Europeia.
de uma verdadeira produção integrada. as potencialidades do seu sector e espera que
A mais importante é a unidade ultramoderna a aquicultura venha a ser plenamente
Bantry Bay Mussels, construída em Maio reconhecida. «Ao contrário da pesca, a
de 1999. Essa unidade emprega entre 100 aquicultura não levanta problemas a nível
e 140 pessoas, conforme a época, e dispõe de quotas de captura. A cultura do mexilhão A produção do mexilhão na União Europeia
de uma estrutura com grande capacidade constitui uma fonte de emprego para as regiões
de produção. Esta unidade processa periféricas e deve, por isso, ser incentivada». A cultura do mexilhão na UE é, de uma forma
anualmente 1 000 toneladas de produtos A Comissão Europeia registou este apelo geral, praticada de forma artificial, através
de diversas técnicas:
oriundos da sua própria produção e diversos fundos estruturais (IFOP e FEOGA)
❖ a cultura em viveiro: em países como
e 4 000 toneladas de mexilhão provenientes contribuíram para o desenvolvimento desta os Países Baixos (Zelândia, mar de Wadden),
de explorações situadas na região, até actividade. A iniciativa Pesca também a Dinamarca, a Alemanha, a Grã-Bretanha
mesmo de Donegal (no norte da ilha). permitiu a reconversão de muitos pescadores (País de Gales) e a Irlanda;
Quase todos esses produtos se destinam na cultura de pós-larvas (juvenis) de ❖ a cultura suspensa em estruturas flutuantes,
à exportação, visando actualmente sobretudo mexilhão e na cultura horizontal em viveiros que inclui duas variantes:
os países da União Europeia (França, na baía de Dingle e apoiou a criação • as jangadas (bateas): Galiza (Espanha),
Reino Unido, Itália e Alemanha). de uma cooperativa na baía de Kenmare. principal núcleo de produção na Europa
Todavia, a perspectiva de expansão (entre 100.000 a 200.000 toneladas
da cultura do mexilhão em estruturas por ano);
• as estruturas com cabos flutuantes ou
flutuantes enfrenta, actualmente, alguns
subflutuantes, utilizadas no Sudoeste
obstáculos, devido aos conflitos que se
da Irlanda, nas zonas da costa atlântica
geram em torno desta. Os pescadores que e mediterrânica de França e nas zonas
se dedicam à captura de vieiras, por exemplo, da costa adriática de Itália;
têm de contornar os locais de exploração ❖ a cultura suspensa em estruturas fixas em
para poder exercer a sua actividade e não lagoas mediterrânicas, praticada em Espanha,
podem, assim, pescar nestas zonas. França e Itália;
❖ a cultura em estacas enterradas em zonas
arenosas ou pantanosas na região Oeste
da França, desde a região de Charente
A costa sudoeste da Irlanda é muito propícia à mitilicultura. até à Normandia.
Vemos aqui um exemplo de cultura praticada em estruturas flutuantes.
5
PA S TA

Como preservar
os juvenis?
Melhorar a selectividade das artes de pesca
As pescarias europeias ainda capturam demasiados peixes imaturos, quer se tratem de espécies-alvo,
quer se tratem de capturas acessórias. Quando esses peixes não podem ser vendidos por terem
um tamanho inferior ao regulamentar ou por não terem valor comercial, são devolvidos ao mar,
o que acarreta um desperdício biológico e económico. A legislação comunitária prevê diversas medidas,
designadas de medidas técnicas1, para evitar a captura de juvenis e para permitir que estes escapem
das artes de pesca quando são, todavia, capturados. Algumas dessas medidas contemplam a selectividade
das artes de pesca, isto é, a capacidade destas para reter apenas os peixes com um determinado tamanho.
No entanto, se a selectividade está intimamente ligada à forma como as artes são utilizadas, a sua eficácia
depende também da espécie-alvo e das outras espécies presentes nas zonas de pesca, uma vez que as pescarias
são, muitas vezes, multi-específicas. Como podemos ver, não é fácil encontrar soluções técnicas eficazes.

Proteger os juvenis efectuadas para aumentar a selectividade. Exemplo de uma arte rebocada:
A protecção dos juvenis assume uma Podemos, assim, distinguir as duas a rede de arrasto
importância acrescida, à medida que categorias seguintes: A rede de arrasto é uma arte de pesca
a sobre-exploração dos stocks se vai que levanta muitas dúvidas no que diz
tornando numa realidade cada vez mais • as artes rebocadas. Entre estas, é ainda respeito à selectividade. É também a arte
visível. Com efeito, a sua protecção possível distinguir as artes de pesca que mais tem evoluído e sobre a qual
condiciona a renovação dos stocks, demersais (como as redes de arrasto pelo mais esforços têm sido empreendidos para
contribuindo ao mesmo tempo para fundo ou as redes de cerco melhorar a selectividade. Esses esforços
aumentar o volume total dos reprodutores. dinamarquesas) de outras artes de pesca, incidem essencialmente nas malhagens
como as redes de arrasto pelágico. e nas alterações técnicas da sua estrutura.
Uma das soluções eficazes para assegurar • as artes de pesca fixas, como as redes
a protecção dos juvenis consiste em explorar de emalhar fundeadas, os tresmalhos, As redes de arrasto são redes rebocadas,
a selectividade das artes de pesca da forma ou redes de deriva, que são redes que os constituídas por um corpo de forma cónica
mais apropriada. Melhorar a selectividade pescadores colocam «de molho» (na água) fechado por um saco dentro do qual o peixe
de uma arte de pesca significa reforçar a sua durante algumas horas ou alguns dias. é capturado. Estas artes podem ser
capacidade para capturar menos peixes que
não sejam alvo da captura e permitir a fuga
© Ifremer

dos juvenis. Existem cerca de 17 grupos


principais de artes de pesca, amplamente
utilizados na Comunidade Europeia. Iremos
apenas abordar as artes de pesca que
incluem redes, uma vez que foram nestas
que incidiu a maior parte das investigações

1 Regulamento (CE) n.º 850/98 do Conselho


relativo à conservação dos recursos da pesca através
de determinadas medidas técnicas de protecção
dos juvenis de organismos marinhos Apesar de ser muitas vezes posta em causa, a rede de arrasto é a arte de pesca que mais evoluiu
(JOCE L125, de 27/04/98). no que se refere à selectividade.
6 A Pesca na Europa
PA S TA

1. Rede de arrasto pelo fundo


de acordo com o Laboratório marinho de Aberdeen

Cabos reais

Cuada da rede

Portas

quando são rebocadas. Este tipo de


malhagem acarreta, no entanto, alguns
problemas técnicos e não pode ser aplicado
em toda a rede. A regulamentação
actualmente em vigor estabelece certas
disposições sobre o uso de secções com
«malhagem quadrada» que podem aumentar
rebocadas por um só navio (rede de arrasto a selectividade das artes de pesca.
A União Europeia apoia a investigação com portas ou rede de arrasto de vara)
e a aplicação de medidas no domínio ou por dois navios em simultâneo As medidas selectivas
da selectividade (rede de arrasto de parelha). Uma das soluções para evitar o problema
das devoluções e a captura de juvenis
Durante a última década, vários programas
Existem duas grande categorias de redes consiste em alterar as características técnicas
comunitários de investigação permitiram
alcançar alguns progressos no campo da de arrasto: as redes de arrasto pelo fundo, das artes de pesca para aumentar a
selectividade. No âmbito do quarto programa- destinadas a capturar vários tipos de espécies selectividade. Existem várias possibilidades
quadro de Investigação e Desenvolvimento bentónicas (camarão, lagostim, peixe chato) consoante as espécies.
Tecnológico (I&DT) para o período de 1994 e demersais (bacalhau, pescada...), e as redes
a 1998, o programa FAIR (destinado de arrasto pelágicas, destinadas a capturar A primeira consiste em aumentar
à investigação nos sectores primários da as espécies que se encontram à superfície a malhagem das redes utilizadas, quer
agricultura, horticultura, florestas, pescas ou entre duas águas (sardinha, carapau, se tratem de artes rebocadas ou fixas. Esta
e aquicultura) permitiu criar uma base robalo...). Destas artes, uma das mais medida é sobretudo eficaz para as artes fixas
de dados sobre a selectividade, efectuar pesquisas
utilizadas é a rede de arrasto pelo fundo e para as pescarias mono-específicas. Porém,
sobre a pesca de arrasto pelo fundo no mar
do Norte e nos mares circunvizinhos com portas de duas faces (figura 1) ou de a pesca por arrasto raramente reúne essas
e desenvolver a pesca de arrasto do lagostim. quatro faces. Esta rede consiste num saco condições. Existem, além disso, outros
rebocado por cabos (os cabos reais) cuja factores que podem comprometer a eficácia
Este programa retomava algumas acções parte terminal é designada de «cuada». desse tipo de medidas, como a morfologia
anteriormente previstas nos programas FAR variável dos peixes ou as características
e AIR. O quinto programa-quadro de I&DT, O corpo da rede propriamente dita é do arrasto das redes.
em vigor desde 1999, permitirá igualmente constituído por um pano de rede, cujos fios
desenvolver projectos de investigação para são, actualmente, fabricados em material Além do tamanho da malhagem, é possível
melhorar a selectividade das artes de pesca.
sintético. A unidade de medida aplicada ainda intervir ao nível dos diversos
O IFOP também apoia as medidas de aos panos de rede é a dimensão das malhas dispositivos de separação do peixe existentes
selectividade. As medidas relativas à ou a malhagem, que corresponde nas próprias artes de pesca.
modernização dos navios e à pesca artesanal ao comprimento dos lados da malha
costeira incluem as inovações tecnológicas em ou ao comprimento da malha esticada. A maior parte dos sistemas existentes
matéria de técnicas de pesca mais selectivas. começaram a ser criados para a pesca
As despesas de investimento em equipamentos Quando são rebocadas, as malhas em losango de pequenos crustáceos (diversos tipos
fixos ou móveis ou em métodos mais selectivos de uma rede normal tendem a esticar de camarão, lagostim, etc.). É nessas
também são elegíveis. É possível, ainda, obter e a encolher, diminuindo as possibilidades pescarias que se registam as mais elevadas
financiamentos para projectos no âmbito
de fuga dos peixes que não sejam alvo. taxas de captura acessória e de devolução ao
das acções inovadoras.
Nas redes que apresentam um pano de malha mar, devido à malhagem reduzida utilizada
quadrado, as malhas permanecem abertas para essas espécies. Já foram desenvolvidos
7

2. Rede de arrasto com pano separador – de acordo com o Ifremer

Peixes

Secção da rede que Peixes


permite a fuga dos juvenis

Lagostins

Lagostins

Pano Separador
horizontal
Este engenho explora o comportamento «passivo» do lagostim em relação ao comportamento mais «activo» dos peixes.
Ao tentar escapar, os peixes deslocam-se para a parte de cima da rede, enquanto que os lagostins se mantêm tendencialmente na parte
de baixo da rede. Se colocarmos uma rede a uma altura adequada dentro da rede de arrasto, é possível obter-se uma separação
selectiva dos lagostins e das espécies de peixes.

vários dispositivos que permitem alcançar Existe também a «janela de malha o tamanho das diferentes espécies a capturar
uma maior selectividade das capturas com quadrada» (figura 3) , cujo conceito existe e funciona como o sistema norueguês da
base nas diferenças de tamanho ou no desde a década de 30, mas que apenas grelha Nordmore (figura 4) , que incorpora
comportamento dos peixes, dos camarões é efectivamente utilizada há uma dúzia um dispositivo de filtragem na parte da
ou do lagostins. de anos. Essa janela de malha quadrada frente da boca do saco. O sistema consiste
(que permanece com abertura máxima sem numa grelha inclinada a 45º que desemboca
Um deles é o pano de rede separador esticar ou encolher) facilita a fuga de certos numa abertura triangular situada na parte
(figura 2). Este método consiste num pano peixes não seleccionados. Este sistema de cima da rede. Esta grelha só deixa passar
de rede que divide a rede de arrasto na parece, no entanto, ser mais eficaz para o camarão, permitindo a fuga dos peixes para
horizontal. O objectivo é reter, na parte permitir a fuga de algumas espécies, fora da rede através do orifício triangular.
inferior, as espécies que permanecem junto nomeadamente, do badejo e da arinca,
ao fundo, como as espécies bentónicas do que de outras. Vários critérios podem influenciar a
(neste caso, os lagostins), e reter, na parte selectividade das artes de pesca. No que diz
superior, as espécies que vivem junto ao A rede de arrasto com grelha é outro respeito às artes rebocadas, a selectividade
fundo do mar, mas que têm tendência para exemplo de dispositivo de selecção do está ligada a dois parâmetros: a própria
subir, como a pescada, por exemplo. pescado. Este sistema permite seleccionar estrutura da rede (abertura da rede, relação

3. Cuada da rede de arrasto com janela de malha quadrada – de acordo com o Ifremer

Cuada da rede
Janela de malha quadrada
Fuga dos juvenis
8 A Pesca na Europa
PA S TA

4. O princípio da grelha Nordmore – de acordo com o Ifremer

e
Orifício triangular ed
dar
que permite a fuga das a
ad
capturas acessórias a cu
od
cçã
e
dir
Na
Língua

Outras espécies

Passagem do camarão
através da grelha

Camarão

lastro/flutuadores, comprimento das diversas • a sobrepesca actualmente existente, gerada caso de avaria e os custos adicionais
partes da rede) e a malhagem. A velocidade pela capacidade de pesca excessiva e pela para todo o conjunto da arte de pesca;
do navio e o material utilizado (qualidade crescente concorrência das frotas de pesca • a ineficácia de algumas experiências
e espessura do fio, presença ou ausência de face a recursos cada vez mais escassos, levadas a cabo com sistemas de malha
nós) constituem outros factores que podem o que leva à redução do número de peixes quadrada, que, nalguns casos concretos,
ter um papel determinante na fuga ou adultos e ao inevitável aumento das capturas levaram ao aumento da captura
retenção dos peixes nas redes. Ao alterar de peixes mais jovens; da pescada juvenil.
esses diferentes parâmetros, é possível alterar • os efeitos económicos a curto prazo para
também a selectividade em função da os profissionais do sector, que dificilmente De uma forma geral, os resultados das
espécie-alvo pretendida. aceitam uma perda de rendimento, mesmo primeiras experiências parecem ser muito
que essa perda venha a ser compensada mais díspares e variar consoante as espécies.
Medidas comunitárias tarde por melhores perspectivas de captura; Os profissionais escoceses, muito críticos em
A legislação comunitária prevê várias • os problemas de comunicação entre relação às primeiras experiências realizadas
medidas para melhorar a selectividade. investigadores e profissionais do sector. com panos de malha quadrada,
O Regulamento (CE) n.° 850/98, cujas Alguns laboratórios marinhos, como reconheceram ter obtido bons resultados
medidas começaram a ser aplicadas no o laboratório de Aberdeen, na Escócia, com o badejo e a arinca na pesca do
início do ano 2000, constitui neste domínio e o Ifremer em França, depararam-se lagostim. Outros apontam para um ganho
um texto importante, uma vez que define, com problemas deste género. Esses de tempo graças à supressão das operações
entre outros aspectos, o tamanho das malhas problemas foram, em ambos os casos, de triagem a bordo. Em contrapartida, os
a utilizar para as diferentes pescarias em ultrapassados graças a um maior profissionais belgas e holandeses mostraram-se
todas as zonas de pesca, desde o mar diálogo com os profissionais do sector, menos satisfeitos, porque a utilização das
do Norte até ao estreito de Gibraltar. que neste momento estão mais receptivos redes com malha quadrada se revelou ineficaz
à inovação do que para a selectividade dos peixes chatos.
Essas medidas não abrangem, contudo, há cerca de dez anos atrás;
as zonas do Mediterrâneo e do mar Báltico, • as dificuldades técnicas na aplicação de um Todavia, a ideia de uma melhor selectividade
para as quais existem outras regulamentações dispositivo de fuga para os peixes. Os está cada vez mais disseminada no sector
aplicáveis a espécies diferentes. primeiros ensaios realizados há cerca e os profissionais estão mais conscientes
de dez anos a uma escala mais ampla não da necessidade de preservar os recursos
Os obstáculos à aplicação tiveram muito êxito junto dos profissionais. e resolver o problema das capturas acessórias.
das medidas Segundo estes, os dispositivos em causa As novas medidas técnicas de conservação
Existem vários obstáculos que dificultam acarretavam uma série de desvantagens, dos recursos haliêuticos, em vigor desde
a aplicação das medidas que visam melhorar como a complexidade da sua instalação, 1 de Janeiro de 2000, deverão, assim, ser
a selectividade, tais como: as dificuldades de reparação no mar em bem aceites no meio profissional das pescas.
9
© Eureka Slide
ACTUALIDADE

A pesca de tonídeos no Atlântico, gerida pela CICTA,


suscita o interesse de um número de países cada vez maior.

Organizações Regionais de Pescas


Como partilhar os escassos recursos?
As organizações regionais de pesca (ORP) desempenharam, durante muito tempo, um papel consultivo
em matéria de conservação dos recursos. A sobre-exploração dos stocks levou essas organizações a exercer
actividades de gestão, a limitar as possibilidades de pesca através da repartição das quotas e até a adoptar
medidas dissuasoras para certos Estados não membros. Os Estados que ainda não beneficiam de quotas
de pesca, mas que desejam agora participar nessas pescarias reivindicam com legitimidade uma parte
das quotas atribuídas à pesca em mar alto. Como redefinir os critérios actualmente em vigor? Como conciliar
os diferentes interesses existentes? A CICTA dá-nos um bom exemplo das dificuldades que as ORP enfrentam
na revisão da forma como os recursos foram até hoje repartidos.

Hoje em dia, a maioria dos países já e que, de acordo com o princípio de liberdade processo próprio para definir os critérios
reconhece a necessidade de regular a pesca aplicável, todos podem ter acesso aos de atribuição das quotas, uma vez que as
para preservar as espécies e de cooperar a recursos nele existentes. No entanto, não é quotas eram anteriormente fixadas caso
nível internacional, numa perspectiva quer fácil encontrar esse equilíbrio, na medida em a caso, no âmbito de um processo
de defesa ambiental, quer de preservação que surgem inúmeras clivagens. de negociação. Voltaremos a abordar esta
do futuro da actividade económica. O critério de concessão do direito de acesso problemática, cujos métodos e resultados
No que diz respeito à pesca em alto mar, aos recursos de pesca que preside nas ORP deverão inspirar outras ORP, contribuindo,
não há dúvidas de que, na ausência de baseia-se, muitas vezes, essencialmente nas assim, para desenvolver o direito aplicável
regras comuns aceites por todos, reinaria capturas efectuadas anteriormente pelos às pescas.
a lei do «salve-se quem puder», com todas Estados-Membros, sendo estas designadas
as eventuais consequências daí decorrentes: de «capturas históricas». Este tipo de sistema A CICTA e a Comunidade Europeia
sobrepesca, esgotamento dos recursos, beneficia os membros mais antigos e os países
predominância das frotas mais importantes que têm no seu activo as maiores capturas Sediada em Espanha, a Comissão Internacional
e mais modernas, etc. Daí a existência das (como os Estados Unidos, o Japão e a para a Conservação dos Tunídeos do Atlântico,
a CICTA (mais conhecida pela sua sigla inglesa,
Organizações Regionais de Pesca (ORP), Comunidade Europeia enquanto membro
ICCAT) é responsável pela conservação e gestão
cujos membros se encarregam de definir da CICTA), mas não favorece os novos dos grandes peixes pelágicos não só do Atlântico,
em conjunto os modos de gestão dos membros, nem aqueles que possuem uma como também do Mediterrâneo: as várias espécies
recursos da pesca em alto mar em zonas actividade de pesca mais modesta. de atum, como o atum rabilho (Thunnus
geográficas específicas. Outra forma de clivagem: quando se trata thynnus) ou o atum voador (Thunnus alalunga),
As ORP detêm actualmente um verdadeiro de espécies fortemente migratórias, alguns e os peixes de bico, como o espadarte (Xiphias
poder de gestão dos recursos haliêuticos, países costeiros reivindicam as capturas gladius). Tal como as outras ORP, esta comissão
o que leva à reivindicação de uma parte dos efectuadas na sua zona económica exclusiva, é responsável pela recolha e análise dos dados
TAC por parte dos Estados que ainda não uma vez que já dispõem de direitos relativos ao estado dos stocks, devendo ainda
adoptar recomendações para os seus 28 membros:
beneficiam de quotas de pesca (ou que exclusivos nessa zona sob a sua jurisdição,
Estados Unidos, Japão, África do Sul, Gana,
desejam aumentá-las) e que pretendem pretendendo, assim, que lhes seja atribuída Canadá, França (ilhas St-Pierre e Miquelon),
desenvolver as suas pescarias ou um verdadeiro uma parte do TAC em vigor. As medidas Brasil, Marrocos, Coreia, Costa do Marfim,
comércio de produtos de pesca. A tarefa das adoptadas pelas ORP também devem Angola, Rússia, Gabão, Cabo Verde, Uruguai,
ORP consiste, assim, em encontrar um novo abranger essas zonas, de modo a assegurar São Tomé e Príncipe, Venezuela, Guiné
equilíbrio entre os países que já participam a sua compatibilidade com as medidas Equatorial, Guiné-Conakry, Reino Unido
nas pescarias e o direito de os outros Estados adoptadas para as zonas em alto mar. (Bermudas), Líbia, China, Croácia,
poderem desenvolver as suas actividades de O crescente interesse por parte de certos Comunidade Europeia, Tunísia, Panamá,
pesca. É preciso não esquecer que o alto mar países que desejam desenvolver a sua Trindade e Tobago e Namíbia.
não pertence a nenhum Estado em particular indústria levou a CICTA a criar um
Para mais informações sobre a CICTA, consultar
o seguinte sítio na Internet: http://www.iccat.es/
10 A Pesca na Europa
PROFISSÕES

O debate da CICTA sobre


a repartição dos recursos
na óptica de uma OP
Entrevista com Mercedes Rodríguez, responsável
da organização de produtores de Lugo, em Espanha
Segundo Mercedes Rodríguez, o problema
da quebra de rendimento provocado pela redução
do número de capturas poderia ser resolvido através
de uma revalorização dos produtos.

A organização de produtores (OP) de Lugo foi criada em Junho de 1986. Como qualquer OP,
o seu papel consiste em tomar medidas destinadas a adaptar a oferta à procura e melhorar as condições
de venda dos produtos, a fim de aumentar a qualidade de vida dos produtores que representa. As OP
desempenham ainda um papel cada vez mais importante na procura de uma pesca sustentada.
A OP de Lugo reúne armadores de cerca de 200 navios, a maioria dos quais são oriundos dos portos
da Galiza, no Noroeste de Espanha, uma região abrangida pelo objectivo 1 da União Europeia.
A Espanha é um dos Estados-Membros que mais se dedica à pesca do espadarte. A OP de Lugo
concentra, por si só, cerca de 22 navios que se dedicam exclusivamente à pesca desta espécie.
Mercedes Rodríguez Moreda, responsável por esta organização, explica-nos quais são as implicações
das recomendações da CICTA (ver artigo na página 9) para os membros da sua organização em matéria
de quotas e como é que estes acompanham a evolução que exige da sua parte uma mudança nas suas
técnicas e estratégias de pesca.

A Pesca na Europa: A Espanha tem um da quota espanhola. Alguns desses navios provocará inevitavelmente) poderá passar
grande envolvimento na pesca de tunídeos combinam a pesca do espadarte com a pesca por dar ao produto um maior valor
no Atlântico. Pode descrever essas actividades do atum voador (thunnus alalunga). acrescentado, melhorando, por exemplo,
de pesca e dizer-nos com é que a OP a sua apresentação e a sua qualidade, através
de Lugo se integra nesse contexto? A Pesca na Europa: Para evitar a sobre- de processos de processamento
Mercedes Rodríguez Moreda: A frota exploração do stock de espadarte, e acondicionamento mais eficazes. Isso
espanhola, que se dedica essencialmente as recomendações da CICTA tendem a permitirá preservar o nível de rendimento
à pesca do espadarte (xiphias gladius), utiliza reduzir progressivamente os TAC e as quotas e de rentabilidade. Será necessário também
palangres de superfície (ver figura). A pesca e a impor medidas de conservação. diversificar as capturas e orientarmo-nos
do espadarte desenvolvida pela frota espanhola Como é que os vossos membros adaptam para outras pescarias. Essas soluções
assume uma particular importância, uma as suas estratégias de pesca para cumprir implicam, naturalmente, grandes
vez que esta frota beneficia de 80% as recomendações? investimentos, que não poderão ser
da quota total atribuída à União Europeia MRM: A frota de pesca associada à OP suportados apenas pelos produtores!
pela CICTA para o espadarte do Atlântico de Lugo está muito sensibilizada com esta A atribuição de fundos comunitários seria,
Norte. Isto representa metade do TAC questão e particularmente com a problemática assim, muito bem-vinda.
global! A Espanha beneficia ainda de uma dos tamanhos mínimos de captura. A
quota de 40% do TAC de espadarte redução progressiva dos TAC preocupa-nos Pesca responsável deve rimar
no Atlântico Sul. ainda mais, uma vez que ela se aplica com comércio responsável
Os 22 navios de pesca de espadarte da OP à espécie que mais benefícios económicos A Pesca na Europa: No âmbito de uma
de Lugo que exercem a sua actividade gera: o espadarte. Pensamos que a solução reflexão sobre a problemática da devolução
no Atlântico Norte dispõem de um TAC para resolver o problema da quebra das capturas acessórias, que muitas vezes
de 770 toneladas, ou seja mais de 18% de rendimento (que a redução dos TAC comportam juvenis, a CICTA submeteu
11

recentemente ao parecer da classe científica número de membros. O que pensa desta Qual é a sua visão sobre estes projectos?
a questão do estabelecimento de zonas eventualidade? Parece-lhe viável desenvolver uma eventual
protegidas para preservar os juvenis. MRM: A OP de Lugo é da opinião que as estratégia de cooperação com esses países?
Que pensa desta iniciativa? novas adesões à CICTA não devem implicar MRM: Parece-me perfeitamente normal que
MRM: Não há dúvida de que, ao forçosamente uma alteração das chaves de os países costeiros queiram desenvolver a sua
defendermos a ideia de uma pesca repartição para as espécies que já estão indústria pesqueira, incluindo as suas frotas
responsável, temos de respeitar as conclusões regulamentadas. O problema é que existem de pesca. Porém, seria errado dar prioridade
dos estudos científicos efectuadas e adoptar alguns países que não possuem nenhum a esse desenvolvimento, futuro e hipotético,
as medidas de conservação necessárias. Mas interesse real pela pesca e que não dispõem em detrimento das necessidades da frota
pesca responsável deve rimar com comércio sequer de uma frota, mas que tentam obter de pesca comunitária, que são actuais
responsável e será necessário também tomar uma quota de pesca com o único objectivo e reais. É preciso conciliar os interesses de
algumas medidas neste sentido. Refiro-me, de a alugar logo a seguir. Esses países nunca uns com as realidades dos outros. Achamos
nomeadamente, a medidas que poderão suplantar uma frota como a nossa, que talvez seja necessário organizar projectos
regulamentem, ou proíbam, a entrada no que, por assim dizer, descobriu e de colaboração e cooperação entre a nossa
mercado comunitário de espadartes desenvolveu a pesca do espadarte. Achamos frota e a indústria desses países costeiros,
capturados por frotas com pavilhão de por isso que é preciso manter a actual chave mas essa colaboração deverá, acima de tudo,
países que não estejam sujeitos aos TAC de repartição, que se baseia no interesse ser vantajosa para todos.
destas espécies. Refiro-me também à real de um país pela pesca e nas suas
utilização efectiva de certos mecanismos, possibilidades reais de pesca, e contamos A Pesca na Europa: A CICTA estabelece
como o «preço de referência» ou a «cláusula com a Comunidade para defender esse medidas para assegurar uma exploração
de salvaguarda», etc. O esforço a realizar ponto de vista junto da CICTA. sustentável dos recursos de tunídeos.
tem de ser colectivo e contempla quer a O que é certo é que alguns navios não
nossa frota, quer as frotas dos outros países. É preciso conciliar os interesses cumprem as regras. E da vossa parte,
dos países terceiros com as o que fazem para respeitar essas medidas?
A Pesca na Europa: Existe um interesse necessidades da frota comunitária MRM: O incumprimento das medidas
crescente por parte de certos países em aderir A Pesca na Europa: Como sabe, existem e recomendações da CICTA por parte
à CICTA. Esta adesão poderia levar a que outros países costeiros que pretendem da Comunidade regista-se sobretudo com
os TAC fossem repartidos por um maior desenvolver a sua indústria pesqueira. a pesca do atum voador. Pensamos que
a Comunidade deveria obrigar, de uma
vez por todas, todos os Estados-Membros
a aplicar as medidas de limitação do esforço
de pesca, uma vez que temos vindo a
CICTA: quotas de espadarte – Ano 2000 – Em toneladas
observar cada vez mais navios a pescar atum
voador arvorando o pavilhão de certos
TAC
países comunitários (que não a Espanha).
É preciso, por exemplo, impor desde
já a proibição da pesca do atum voador
Quota UE Quota Espanha com redes de emalhar de deriva e com redes
Quota pelágicas, tal como já o fez a Espanha
10 200
OP Lugo
770
há já algum tempo.
14 620 5 073 4 198

6 233 5 848
Atlântico Sul
Atlântico Norte
Total 24 820 11 306 10 046
12 A Pesca na Europa
BREVES

3 10 14
C U - A F - 9 9 - 0 0 3 - P T- C
Reforçar o diálogo
com o sector das Pescas e os meios envolvidos

Este é o objectivo do plano de acção A segunda parte, recentemente adoptada


elaborado pela Comissão Europeia para em finais de Março, visa fornecer um apoio Des chaluts et des hommes,
aproximar-se não só dos agentes financeiro às reuniões preparatórias bulletin n°7, CCSTI, Lorient, 2000,
intervenientes no sector das pescas, como do comité para ajudar as organizações 40 páginas. Preço: 8 euros.
também das associações ligadas ao ambiente, profissionais que actuam no plano Disponível apenas em versão francesa.
à defesa do consumidor e à cooperação comunitário e que compõem este comité
com os países terceiros. O plano de acção
divide-se em três partes. A primeira parte tem
a empreender as novas tarefas que lhes
incumbem. Por último, a terceira parte Des chaluts
por objectivo renovar o comité consultivo (adoptada ao mesmo tempo que a segunda)
da pesca e da aquicultura, que mantinha a
mesma estrutura e modo de funcionamento
destina-se a desenvolver ferramentas de
comunicação para que os meios envolvidos
et des hommes
desde há cerca de 30 anos. A reforma deste situados em zonas geográficas periféricas Praticada desde há vários séculos, a pesca
comité consiste em proporcionar ao sector possam aceder mais facilmente à informação de arrasto é uma técnica ainda utilizada por
da pesca um maior envolvimento no processo e manifestar a sua opinião com inúmeras frotas. Tendo atravessado várias
de elaboração da PCP e permitir a todos os conhecimento de causa. Este é um assunto épocas e evoluído com os conhecimentos
meios envolvidos (incluindo as ONG) importante que será desenvolvido numa técnicos, este tipo de pesca representa um
participarem neste processo e adoptarem futura edição da Pesca na Europa. verdadeiro testemunho histórico e social.
uma abordagem europeia. O Centre de Culture Scientifique Technique
et Industrielle (CCSTI) de Lorient, em França,
acaba de publicar uma brochura sobre este
tema intitulada Des chaluts et des hommes
(O arrasto e os homens). Concebida por
Novas medidas especialistas na matéria, mas acessível
à maioria dos leitores, esta obra recheada
de ilustrações tenta apresentar
para proteger o bacalhau juvenil no mar da Irlanda a história, os condicionalismos e as
consequências da utilização desta técnica.
Tal como já foi anunciado na rubrica dificultem a fuga dos juvenis das redes. Fornece igualmente algumas pistas
Actualidade do número 2 da revista A Pesca Estas restrições aplicam-se nomeadamente de reflexão sobre a complexa realidade
na Europa, consagrada ao plano de à malhagem. As medidas técnicas e a futura evolução da pesca de arrasto.
restabelecimento do bacalhau no mar da propostas, que constituem a segunda fase
Irlanda, a Comissão Europeia acaba de do plano de restabelecimento e que foram Para mais informações, contactar:
CCSTI, avenue de la Marne, 1 – F-56100 Lorient
adoptar uma proposta visando permitir uma definidas em concertação com os Tel. (33-2) 97 84 87 37 – Fax (33-2) 97 64 15 48
melhor selectividade das redes de arrasto profissionais do sector, serão agora E-mail : ccsti.lorient@wanadoo.fr

utilizadas nesta zona. A medida consiste em analisadas e aprovadas pelo Conselho


proibir, a partir de 2001, a utilização e posse já neste Verão, antes de serem aplicadas Se deseja anunciar a publicação de qualquer obra ou
documento sobre a pesca, faça o favor de nos contactar
de dispositivos ou de panos de rede que no próximo ano. (ver morada na página 2).


CUPÃO DE ASSINATURA Pretendo receber gratuitamente a revista A Pesca na Europa (5 números por ano) em:
Envie este cupão por correio ES DA DE EL EN FR IT NL PT FI SV
para a seguinte morada: Número de exemplares: ______________
Comissão Europeia,
Direcção-Geral das Pescas Nome: ________________________________ Apelido: _________________________________________________________________________
Unidade «Comunicação e Informação» Organização / Cargo: __________________
Rue de la Loi, 200, B-1049 Bruxelles
Rua: __________________________________ Número e caixa postal: ________________________________
ou pelo fax:(32) (0)2 299 30 40
Código postal: ________________________ Cidade: ______________ País: ____________________________
E-mail: fisheries-magazine@cec.eu.int
Telefone: _________________________________________________________________________________________________________________________________
E-mail: ____________________________________________________________________________________________________________________________________

SERVIÇO DAS PUBLICAÇÕES OFICIAIS DAS COMUNIDADES EUROPEIAS L-2985 Luxembourg

Você também pode gostar