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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

I
Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

João Batista Kochenborger Fernandes


Felipe de Azevedo Silva Ribeiro
Manuel Rosa da Silva Neto

INTRODUÇÃO À CRIAÇÃO
COMERCIAL DE PEIXES
ORNAMENTAIS
2a edição

Centro de Aquicultura da Unesp

Jaboticabal-SP
2021
Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

Copyright ©: Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e Extensão - Funep

Editoração e Diagramação: Funep

Fernandes, João Batista Kochenborger


F363i Introdução à criação comercial de peixes ornamentais / João
Batista Kochenborger Fernandes, Felipe de Azevedo Silva Ribeiro,
Manuel Rosa da Silva Neto. - - Jaboticabal: Funep, 2021
Recurso digital
Formato: ePDF
Requisitos do sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN: 978-65-5671-027-3

1. Piscicultura ornamental. 2. Espécies. 3. Alimentação. 4.


Nutrição. 5. Manejo. I. Ribeiro, Felipe de Azevedo Silva. II. Silva Neto,
Manuel Rosa da. III. Título.

CDU 639.3:339

Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP


Campus de Jaboticabal/SP - Karina Gimenes Fernandes - CRB 8/7418

2021
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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

SUMÁRIO

Introdução............................................................................................... 1

Os tipos de criação..............................................................................3
Criação extensiva.......................................................................... 3
Criação intensiva............................................................................5
Espécies e variedades................................................................ 8
Qualidade da água....................................................................... 8

Mercado................................................................................................... 13
Nutrição e alimentação.................................................................20
Exigências nutricionais................................................................... 21
Proteínas e aminoácidos................................................................ 21
Lipídeos................................................................................................... 22
Carboidratos......................................................................................... 22
Vitaminas............................................................................................... 23
Minerais................................................................................................... 23
Reprodução..........................................................................................29
Limpeza e esterilização..................................................................29
Doenças..................................................................................................30

Dúvidas iniciantes à piscicultura ornamental................... 31


Introdução à criação comercial de peixes ornamentais
Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

APRESENTAÇÃO

Apesar do Brasil ser um país muito rico na diversidade de espé-


cies de peixes ornamentais, principalmente na região amazônica, esta
exploração apresenta limites de diversas naturezas, com destaque as
questões ambientais. Para suprir esta lacuna temos a piscicultura orna-
mental que dá suporte a aquariofilia produzindo peixes, muitas vezes,
de valor agregado superior aqueles obtidos no meio natural.
Pelo fato da piscicultura ornamental poder ser praticada nos mais
variados ambientes, desde uma sala ou quarto de um apartamento até
em viveiros localizados em uma propriedade rural, o leque de opções
para o futuro criador é extenso. Assim nosso objetivo é apresentar,
nesta publicação, conceitos e informações básicas para o iniciante des-
ta atividade produtiva que pode ser tornar lucrativa.
Com o propósito de aproveitar melhor o potencial desta atividade
aquícola, e com apoio da Universidade Estadual Paulista - UNESP,
através de financiamento da Coordenação de Pós-Graduação em Aqui-
cultura do CAUNESP, gestão 2017-2020, (Profa. Julieta R. E. Mo-
raes), com recursos do PROAP/Editoração, é que estamos lançando
a segunda edição atualizada deste informativo. Esta publicação tem
como objetivo mostrar para os produtores rurais e aqueles interessa-
dos a aproveitar os recursos existentes em suas casas, sítios e fazendas
para ingressar nesta fascinante e lucrativa prática zootécnica que é a
PISCICULTURA ORNAMENTAL.
Introdução à criação comercial de peixes ornamentais
Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

INTRODUÇÃO

A criação e o comércio de peixes ornamentais são uma atividade


que pode ser muito lucrativa e interessante. Apresenta grandes vanta-
gens em relação a outros tipos de criações, ocupando pouco espaço,
podendo começar com pouco investimento, além de existir uma de-
manda crescente e disposta a pagar consideráveis quantias de dinheiro.
Segundo dados da FAO, mundialmente, considerando os acessórios
utilizados na aquariofilia, é uma indústria de 15 bilhões de dólares.
Os principais exportadores de peixes ornamentais são os países do su-
deste asiático, como Cingapura e Malásia, devido ao clima favorável
e ao desenvolvimento de tecnologias, na maioria dos casos simples,
que permitem aos pequenos produtores produzirem consideráveis
quantidades de peixes, formando uma cadeia de produção que envol-
ve exportadores, fornecedores de alimentos, pequenos produtores e
políticas de governo que fomentam esta atividade. De acordo com
dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), no ano de 2019, existem cerca de 11 milhões de brasileiros
que mantêm aquários em casa. Somado a isto, a Associação Brasileira
de Aquariofilia (Abraqua) diz que a população de peixes ornamentais
dentro dos lares do País chega a 18 milhões de peixes e elencou que
a atividade do aquarismo tem sido um dos eixos de pesquisas sobre
a conservação da ictiofauna (a fauna do conjunto de peixes em uma
região da natureza). O Brasil apresenta grande potencial para a pro-
dução de peixes ornamentais, pelo clima, disponibilidade de água e
grande variedade de espécies ornamentais. Muitas pessoas tentaram
e desistiram desta atividade depois de má experiência, como a morte

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

dos peixes ou por problemas na reprodução dos animais. O objetivo


deste livreto é orientar o produtor nos pontos mais importantes da pro-
dução comercial de peixes ornamentais. Maiores informações podem
ser obtidas em livros, sites da Internet, centros de pesquisa e extensão
rural. O mais importante é conhecer a biologia dos peixes para poder
fornecer as condições mais adequadas, evitando-se problemas e me-
lhorando a produção. E sempre manter-se informado, pois os avanços
nesta área são significativos. A cada ano, novas tecnologias e novas
espécies aparecem no mercado, e para se ter um produto competitivo,
a atualização é fundamental.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

OS TIPOS DE CRIAÇÃO
CRIAÇÃO EXTENSIVA

É o tipo de criação mais utilizada pelos produtores. Seu uso é


empregado principalmente em espécies de baixo valor comercial, mas
com cuidados adequados é possível produzir espécies de alto valor
econômico, melhorando os lucros consideravelmente. Uma boa opção
para este cultivo é o uso de tanques escavados, exatamente como nos
utilizados na piscicultura convencional, só que em tamanho reduzido.
Também podem ser empregados tanques feitos com materiais al-
ternativos, como lona, piscinas e caixas de água. O importante é que
esse tanque possua boa impermeabilização, seja de material inerte,
evitando a liberação de elementos tóxicos na água, e tenha baixo cus-
to. Aqui vale também a imaginação e a disponibilidade do material
na região do produtor. Na criação extensiva, dois manejos são muito
importantes: a adubação e a calagem dos tanques.

- Adubação de tanques:
A finalidade deste manejo é de acelerar o desenvolvimento de mi-
crorganismos (fito e zooplâncton) que servirão de alimentos às larvas e
filhotes dos peixes. Pode ser feito com adubos orgânicos ou químicos,
sendo o mais indicado o adubo químico, pois evita o crescimento de
certos microrganismos que podem causar doenças nos peixes. Existem
diversas formulações de N:P:K (Nitrogênio: Fósforo: Potássio) que
podem ser utilizadas, por exemplo: 5:10:5, 5:10:10, etc. O produtor
pode tomar como base cerca de 150 g por metro quadrado de tanque,
mas o mais importante é saber dosar a quantidade, dependendo de sua

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necessidade e da transparência da água do tanque (mantida em torno


de 20 cm medida com o disco de Secchi).

Figura 1. Medição da transparência da água utilizando o disco de


Secchi.

É recomendado diluir o adubo em 20 litros de água e espalhar a


solução sobre a superfície do tanque. No entanto, é recomendado ao
produtor acompanhar a produção de zooplâncton, passando periodi-
camente uma rede de malha semelhante ao filtro de café na água do
tanque e verificar a presença de organismos vivos.
Se for verificada alta transparência ou baixa quantidade de orga-
nismos vivos na coleta com a rede, pode-se usar uma adubação com-
plementar, mas deve-se tomar cuidado com superdosagens, pois os
adubos em excesso podem afetar a saúde dos peixes.

- Calagem:
O objetivo deste manejo é de eliminar bactérias e de corrigir o pH
do solo, diminuindo sua acidez, sendo necessária somente em viveiros
de terra. Deve ser feita com cal virgem ou hidratada (de construção),
na proporção de 150 g por metro quadrado de tanque, espalhando-se
por toda a superfície do tanque seco. Espera-se cerca de dois dias até
começar a encher o tanque. É possível realizar uma segunda calagem

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com calcário calcítico ou dolomítico se o pH não atingir os níveis de-


sejados, comumente em torno de 7,0.

CRIAÇÃO INTENSIVA

Este tipo de criação é utilizado principalmente para espécies de


alto valor comercial devido ao maior custo das instalações e ao espaço
reduzido destas. Dependendo da espécie, pode ser utilizada tanto em
todo o ciclo produtivo quanto em algumas fases determinadas, princi-
palmente na reprodução e na larvicultura. Em geral, é feita em aquá-
rios dentro de pequenas estufas, mas podem-se usar baldes, caixas de
água, bacias, etc.
Essas estufas podem ser galpões, quartos e até mesmo pequenas
estruturas com cobertura de plástico ou de lona. O pé-direito dessas
instalações não tem necessidade de ser maior do que 2,5 metros, já que
dificilmente as prateleiras com aquários irão ultrapassar essa altura.

- Tipos de prateleiras:
Quando se produzem peixes intensivamente, para otimizar o uso
do espaço, os aquários são dispostos em prateleiras que podem ter
de 2; 3 ou 4 andares. Essas prateleiras podem ser construídas com
diversos materiais. Prateleiras de alvenaria são as mais baratas e mais
resistentes, porém não podem ser movidas do lugar. Se houver neces-
sidade de possível mudança, uma opção barata é fazer as prateleiras
de madeira, mas sua desvantagem é a baixa durabilidade. Prateleiras
de metal também são bastante utilizadas, tanto as de ferro (metalon),
mais pesadas, quanto as de alumínio (esquadria), mais leves, com
maior durabilidade e mais caras. Se for levado em conta o tempo de
duração e o custo, as prateleiras de alumínio levam vantagens sobre as
de ferro ou de madeira.
Enfim, seja qual for o material utilizado, as prateleiras devem ser
muito bem dimensionadas para suportar o peso dos aquários totalmen-
te cheios de água.

- Tipos de aquário:
Os aquários empregados na produção de peixes podem ser feitos

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com diversos materiais. Os aquários feitos totalmente de vidro são


os mais caros, sendo que muitos produtores usam como alternativas
caixas plásticas transparentes ou opacas (bem mais leves que o vidro).
Outra alternativa interessante e cerca de 10 vezes mais barata é o uso
de aquários construídos com peças de pisos de cerâmica, com apenas
a parte da frente feita com vidro.
O tamanho do aquário depende da espécie, do número de animais
e da fase de criação. Por exemplo, para espécies de ciclídeos que for-
mam casais, aquários de 60 a 100 L podem ser usados. No caso de ale-
vinos (filhotes), é preferível usar aquários de pouca altura e de maior
área, pois, inicialmente, podem-se estocar 200 peixes num aquário de
100 litros. Estes valores devem ser utilizados como base pelo produ-
tor, que deve levar em conta o tamanho e o hábito da espécie e a taxa
de renovação de água.

- Sistemas de aquecimento:
O uso de aquecedores está limitado a espécies tropicais criadas
em regiões de clima frio ou de grande variação de temperatura. Os
kinguios, por exemplo, podem ser criados na maioria das cidades bra-
sileiras sem necessidade de aquecedores. A maioria dos peixes orna-
mentais é de clima quente e devem ser mantidos numa temperatura em
torno dos 27ºC, o qual é uma vantagem para os produtores da região
norte, onde não é preciso elevar a temperatura. O aquecimento pode
ser tanto da água quanto do ambiente. O aquecimento da água é feito
através de aquecedores elétricos que são colocados individualmente
nos aquários. Além de o preço termostato ser alto, e os aparelhos, frá-
geis, o gasto com energia elétrica é considerável com esse sistema
de aquecimento. Alternativas mais baratas podem ser obtidas com o
aquecimento do ambiente onde estão os aquários, podendo ser utiliza-
dos tanto o gás quanto pequenos fornos a lenha. Nesses fornos, passa
uma corrente forçada de ar com tubos de metal, e o ar aquecido é di-
recionado para dentro do ambiente (salas, cômodos ou galpões) onde
os peixes são criados.

- Iluminação:
A iluminação pode ser natural, como em estufas fechadas com

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

plástico transparente, ou artificial, geralmente usadas quando as estu-


fas são fechadas com lonas ou a criação é realizada em galpões. Esse
tipo de iluminação é feito com lâmpadas fluorescentes comuns, na
maioria das espécies, e não deve ser colocada logo acima dos aquários,
pois os peixes preferem uma iluminação moderada indireta, podendo
ser controlada por um temporizador analógico ou digital conectado à
rede elétrica. Conhecendo-se as características das espécies, podem-se
determinar a intensidade luminosa e o tempo em que as lâmpadas fica-
rão acessas. Em geral, 14 horas de luz por dia são mais que suficientes
para a maioria das espécies.

-Filtragem:
Os filtros são, principalmente, utilizados nos sistemas intensivos,
onde a densidade de peixes é muito alta e a água é recirculada, poden-
do ser mecânicos, químicos ou biológicos.
Os filtros mecânicos (físicos) podem ser construídos com qual-
quer material que retenha partículas sólidas contidas na água. Os mais
usados são telas, grades, lã acrílica e areia.
Os filtros químicos são constituídos por substâncias que retiram
íons dissolvidos na água. Os mais comuns são as resinas removedoras,
zeólitas e o carvão ativado. Normalmente, são utilizados por criadores
que trabalham com altas densidades, tenham limitação de água e espé-
cies de alto valor comercial.
O filtro biológico é feito com qualquer material inerte que per-
mite a fixação das bactérias que irão transformar compostos tóxicos,
como a amônia, em componentes não tão nocivos. Na construção des-
se filtro, deve-se levar em conta que essas bactérias utilizam bastante
oxigênio para se desenvolver. Algumas sugestões de substratos para
bactérias são: cascalho, “bio balls”, cerâmicas, resíduos de indústria
de plásticos, areia, espuma, etc. Os filtros devem ser bem dimensio-
nados de acordo com os tanques e devem ser lavados periodicamente.
O filtro esterilizante tem ação germicida, podendo ser empregado
para este fim lâmpadas de luz ultravioleta (UV) ou ozônio (O3). São
eficientes na eliminação de bactérias, fungos, vírus, pequenos patóge-
nos e algas presentes na água.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

ESPÉCIES E VARIEDADES

Devido à grande quantidade e variedade de peixes, é preciso de-


finir dois termos muito utilizados na área: espécie e variedade. No
primeiro caso, cada espécie possui um nome científico. Exemplos
de espécies são: acará-bandeira (Pterophyllum scalare), acará-disco
(Symphysodon aequifasciata e Symphysodon discus), kinguio (Caras-
sius auratus) e carpa (Cyprinus carpio).
No caso de variedade, temos que uma espécie pode apresentar di-
ferentes variedades e refere-se a alguma característica física que pode
ser a cor, a forma, o tamanho de nadadeira, etc. Peixes de mesma es-
pécie, mas de variedades diferentes, reproduzem uns com os outros.
Alguns exemplos de variedades são: “acará-bandeira-nadadeira-em-
-véu”, que se refere ao peixe que possui as nadadeiras muito mais
compridas que o exemplar comum; “acará-bandeira-marmorato”,
possui uma coloração preta com manchas brancas no corpo semelhan-
tes ao mármore; “kinguio-telescópio”, peixe cujos olhos são saltados,
parecendo um telescópio; guppy “half black”, possui metade do corpo
da cor preta; coridora albina, peixe que possui os genes do albinismo
que inibem a produção de pigmentos nos olhos e no corpo do peixe.

QUALIDADE DA ÁGUA

A água utilizada para a criação pode ser proveniente de mina, curso


de água, poço ou até mesmo da rede de abastecimento urbano. Seja qual
for sua origem, deve ser de ótima qualidade e atender às necessidades
das espécies criadas. Por exemplo, espécies de ciclídeos africanos ne-
cessitam de água com pH bastante alcalino (8.0) para se desenvolver
bem e reproduzir. Peixes amazônicos vivem e reproduzem-se somente
em águas com baixo pH e altas temperaturas. É sempre mais fácil ade-
quar as espécies criadas ao tipo de água disponível na propriedade do
que o inverso, principalmente quando se deseja criar peixes amazônicos
ou de águas ácidas, e a água disponível é alcalina e com alta dureza.
O processo para mudar essas características da água, geralmente a
deionização, tem alto custo e somente compensa em caso de produção
de peixes raros no mercado e de altíssimo valor comercial. No caso

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

inverso, águas ácidas podem ser alcalinizadas com calcário ou com


conchas, materiais baratos. Para manter uma alta qualidade da água, o
criador deve monitorar e controlar as seguintes características da água:

- Temperatura:
Há dois tipos de peixes comumente criados: os tropicais e os de
água fria. Para peixes tropicais, recomenda-se cultivo com temperatu-
ras acima de 20ºC, sendo que algumas espécies necessitam de tempe-
ratura entre 27 e 30ºC para se reproduzir.
Espécies de água fria, como Kinguios e Carpas, podem ser cria-
das facilmente em temperaturas de 10 a 20ºC. Mesmo que possam ser
cultivadas em temperaturas mais baixas, nas épocas mais frias e em
regiões do Sul do Brasil, o crescimento é muito prejudicado, e uma
alternativa seria manter os peixes, principalmente no caso de reprodu-
tores, em estufas ou tanques cobertos com plástico transparente.

-pH:
O pH é uma escala que indica se a água é acida (pH abaixo de
7,0) ou alcalina (pH acima de 7,0). Existem diversos “kits” com testes
químicos e aparelhos no mercado para medir esse parâmetro. Existem
peixes tolerantes, que vivem bem em uma faixa ampla de pH, que se
situa entre 6,5 e 7,5.

Figura 2. Faixa de pH tolerável por grande parte de peixes orna-


mentais.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

Peixes exigentes quanto ao pH, em geral, conseguem crescer em


pH diferente do exigido, porém mais lentamente, ficando mais susce-
tíveis a doenças. Além disso, dificilmente irão reproduzir-se. Um fato
bastante interessante é que, com o passar do tempo e do desenvolvimen-
to de variedades criadas em cativeiro, algumas espécies, antes bastante
exigentes quanto ao pH, tornaram-se mais flexíveis, até mesmo reprodu-
zindo-se bem em valores diferentes do encontrado no ambiente natural.

-Alcalinidade:
Indica a quantidade de sais de cálcio presentes na água. Isto afeta
diretamente o pH, uma vez que quanto maior a alcalinidade, menor
é a mudança do pH do meio aquático ao longo do dia ou quando se
adiciona algum composto ou substância na água. Isto é muito impor-
tante, pois oscilações bruscas no pH podem levar peixes à morte ou
propiciar doenças. Em tanques escavados, a água deve ser mantida em
torno de 200 mg (CaCO3) por litro para que o pH não varie muito ao
longo do dia. Outro motivo importante para se verificar a alcalinidade
é que algumas espécies de peixes não desovam caso os valores estive-
rem diferentes do exigido.

Figura 3. Faixa de alcalinidade da água aceitável por grande par-


te de peixes ornamentais, com boa capacidade de reter oscilações
bruscas de pH.

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INTRODUÇÃO À CRIAÇÃO COMERCIAL DE PEIXES ORNAMENTAIS

- Nitrogênio:
É de fundamental importância para o produtor de qualquer espé-
cie de peixe conhecer o ciclo do nitrogênio. Esse é o ciclo do nutriente
mais importante na aquicultura. De uma maneira simples, ele funciona
da seguinte forma:

Proteína → Amônia → Nitrito → Nitrato

Figura 4. Esquema simples do ciclo do nitrogênio em ambientes


aquáticos.

O nitrogênio entra no sistema produtivo através da proteína da ali-


mentação dos peixes. Os peixes utilizam boa parte desse nutriente para
o crescimento. Porém a outra parte é eliminada na forma de amônia
pelas brânquias e pela urina. Outra maneira usual de o nitrogênio entrar
nos tanques é pela adubação, por isso deve-se tomar cuidado com su-
perdosagens do adubo.
A amônia é um dos parâmetros mais importantes e ignorados pe-
los criadores e aquaristas. Por ser um composto muito tóxico, deve ser
monitorada principalmente em criações intensivas e deve ser mantida a
níveis baixos. Porém, como ela é constantemente produzida pelo peixe,
deve ser eliminada de alguma forma.
Uma das formas mais eficientes e mais utilizadas para remover a
amônia e outros compostos tóxicos é a renovação da água. Em tanques
com altas taxas de renovação, podem ser criados peixes em maiores

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

densidades pela alta taxa de eliminação das excretas. Em aquários onde


a quantidade de água é limitada ou seu custo é muito alto, podem ser uti-
lizados filtros químicos ou biológicos para remover a amônia da água.
As formas nitrogenadas também podem ser utilizadas pelas algas
(inclusive quando feita a adubação dos tanques), pelas plantas aquáti-
cas e pelas bactérias do filtro biológico. Essas bactérias transformam
a amônia em nitrito, sendo este composto também tóxico e pouco ab-
sorvido pelas plantas e pelas algas, mas é transformado por outras bac-
térias presentes nos filtros biológicos em nitrato, composto de baixa
toxicidade, sendo muito utilizado por plantas e algas.

Figura 5. Exemplo de filtro biológico interno para aquários de bai-


xo custo confeccionado com garrafa pet, argila expandida, pedras
porosas e/ou mídias de cerâmica junto da manta acrílica (perlon) e
pequena bomba submersa de sucção.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

MERCADO

O mercado é um dos fatores mais importantes e que, às vezes,


não é levado em conta pelo piscicultor iniciante. Este determina o que,
quando e quanto produzir para obter um preço valorizado do produto.
Em geral, os produtores nunca produzem uma só espécie de peixe, com
exceção de piscicultores especializados em produzir peixes nobres de
variedades raras, como o acará-disco. Este fato ocorre porque os distri-
buidores e lojistas preferem comprar diversas espécies e variedades de
poucos produtores a ter uma lista enorme de fornecedores. Isso também
é mais interessante para o produtor, pois se ocorrer algum problema que
cause alta mortalidade de uma espécie ou o preço de determinado peixe
estiver muito baixo, ele terá outros peixes para oferecer.
O produtor deve decidir se irá produzir espécies ornamentais de
alto ou de baixo valor, com base em seu capital de investimento inicial,
com a demanda do mercado e com o local disponível para produção.
Também deve ser considerado o destino de produção, que pode ser
lojistas ou distribuidores, atentando ao fato de que distribuidores com-
pram em quantidades e variedades. Já o lojista compra quantidades
limitadas de peixes e geralmente algumas variedades ou espécies com
as quais tem costume de trabalhar. Por exemplo, há lojas, menos es-
pecializadas, que se concentram em vender peixes de menor valor co-
mercial (abaixo de R$ 10,00), como molinésias, acará-do-congo, kin-
guios, guppys, tetras e bettas, conforme as imagens, respectivamente.

Figura 6. Molinésia (Poecilia sphenops)


Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes Ornamentais (2021),
UNESP - Jaboticabal-SP.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

Figura 7. Acará-do-congo (Amatitlania nigrofasciata).


Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes Ornamentais
(2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

Figura 8. Kinguio-cometa (Cyprinus carpio).


Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes Ornamentais
(2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

Figura 9. Guppy (Poecilia reticulata).


Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes Ornamentais
(2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

Figura 10. Tetra-ouro (Hemigrammus rodwayi).


Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes Ornamentais
(2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

Figura 11. Peixe-betta (Betta splendens).


Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes Ornamentais
(2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

E há, no outro extremo, lojas extremamente especializadas que pro-


curam peixes mais caros e raros de acordo com seus tamanhos e pig-
mentações, tais como acará-disco e acará-bandeira, em que os valores
podem oscilar entre R$ 20,00 e R$ 800,00 por exemplar.

Figura 12. Peixe acará-bandeira-marmorato


(Pterophyllum scalare).
Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes
Ornamentais (2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

Figura 13. Peixe acará-bandeira-fumaça


(Pterophyllum scalare).
Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes
Ornamentais (2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

Figura 14. Peixe acará-bandeira-palhaço


(Pterophyllum scalare).
Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes
Ornamentais (2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

Figura 15. Peixe acará-bandeira-selvagem


(Pterophyllum scalare).
Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes Ornamentais
(2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

Figura 16. Peixe acará-bandeira-ouro (Pterophyllum


scalare).
Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes Ornamentais
(2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

Figura 17. Peixe acará-disco-red-melon.


Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes.
Ornamentais (2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

Figura 18. Peixe acará-disco-red-turquesa.


Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes.
Ornamentais (2021), UNESP - Jaboticabal-SP

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

Figura 19. Peixe acará-disco-blue-turquesa.


Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes.
Ornamentais (2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

Outro aspecto é a proximidade do mercado consumidor, que se


concentra em torno das grandes capitais, principalmente São Paulo
e Rio de Janeiro, que compram peixes de todas as regiões do Brasil.

NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO

Além de entender a dinâmica dos parâmetros de qualidade da


água, para proporcionar o melhor conforto aos peixes, também é im-
portante conhecer o básico da nutrição e da alimentação. Isto possibi-
lita realizar estratégias alimentares em função das espécies, do sistema
de criação e da disponibilidade do alimento na região, sendo fator de-
terminante para a obtenção do lucro ou de prejuízo. O produtor deve
ter em mente que irá utilizar alimentos vivos e alimentos secos durante
as fases de vida dos peixes. Portanto, é interessante o planejamento
das instalações, destinar uma área para armazenar os alimentos secos
e local para a produção dos organismos vivos.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS

A competência e o sucesso de criar, produzir e manter peixes em


aquários ou em sistemas intensivos em caixa d’água e/ou em tanque
escavado, estão ligados a uma boa nutrição. As exigências nutricionais
dos peixes devem ser atendidas para que os mesmos sempre estejam
em seu máximo crescimento, com reprodução viável, excelentes ati-
vidades imunológica, sobrevivência sempre alta e, obviamente, a apa-
rência saudável, geralmente com muita cor e brilho.
Apesar do avanço do aquarismo no Brasil e no mundo, a necessida-
de nutricional de muitos peixes ainda é pouco conhecida. Desta manei-
ra, é importante conhecer o hábito alimentar da espécie a ser trabalhada
e adotar alguns critérios, como cautela. Por exemplo, se por acaso for
decidido trabalhar com a espécie “Zebrafish”, sabe-se que este peixe
é onívoro e de clima tropical; assim, devem-se usar como referência
rações para peixes tropicais de hábito onívoro, respeitando os níveis de
proteína destas dietas de acordo com a fase de vida do peixe zebrafish.

Figura 20. Peixe Zebrafish (Danio rerio), comumente conhecido


por paulistinha.
Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes Ornamentais (2021),
UNESP - Jaboticabal-SP.

PROTEÍNAS E AMINOÁCIDOS

As rações possuem proteína, que é constituída tanto pelos ami-


noácidos essenciais quanto pelos não essenciais. Os aminoácidos es-

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

senciais são de suma importância, pois não são produzidos pelo orga-
nismo do peixe ou não são produzidos na quantidade ideal para um
bom desenvolvimento dos animais. Já os não essenciais podem ser
transformados e produzidos pelos peixes.
Os aminoácidos têm importância vital na vida dos peixes, pois
é através deles que ocorre o crescimento, a reprodução e o fortale-
cimento do sistema imunológico e outras funções biológicas que os
protegem de doenças. Pós-larvas e alevinos têm necessidade maior de
aminoácidos, tendendo a diminuir com o passar de seu crescimento
até a sua fase adulta.

LIPÍDEOS

Os lipídeos, também chamados de gorduras, são fontes importantes


de energia para os peixes, pois disponibilizam os ácidos graxos essen-
ciais, que são bastante utilizados no processo de anabolismo (crescimen-
to e desenvolvimento), também atuando como facilitadores na absorção
de algumas vitaminas lipossolúveis. Quando fornecemos lipídeos em
rações para peixes, devemos estar cientes de que estamos fornecendo
ácidos graxos poli-insaturados, os quais são essenciais aos peixes.
Como foi dito anteriormente, não existem dietas específicas para
cada uma das inúmeras espécies de peixes ornamentais. Assim, ado-
tam-se os mesmos cuidados com relação ao hábito alimentar, à es-
pécie, à fase de vida do peixe, se é de clima tropical ou não. A partir
disto, toma-se o cuidado de que os teores de lipídeos estejam entre
5-10% da dieta total, pois teores elevados deste nutriente podem di-
minuir o consumo da ração, fazendo os peixes terem menos acesso à
proteína (aminoácidos), o que pode prejudicar a saúde, bem como o
ciclo reprodutivo, com baixa produção de ovos e gametas, afetando a
qualidade dos mesmos.

CARBOIDRATOS

Pouco se sabe sobre o aproveitamento dos carboidratos em pei-


xes, mas o que já se tem estabelecido é que parte dessa energia pode
ser aproveitada, diminuindo o uso da proteína como fonte energéti-

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

ca (catabolismo). Isso melhora a eficiência de utilização da proteína,


otimizando a retenção de nitrogênio vindo da proteína das rações e,
em consequência, promove menor excreção de amônia oriunda da má
utilização dos alimentos pelos peixes. Por conta disto, os carboidratos
fazem parte das rações entre 20 e 40% da composição total, pois, na
quantidade certa, melhora o ganho de peso e a conversão alimentar.

VITAMINAS

São compostos orgânicos exigidos pelos peixes para realizarem


suas funções vitais. São conhecidas como lipossolúveis as vitaminas
A, D, E e K. As vitaminas hidrossolúveis são: B6, B12, C,Tiamina,
Ácido Fólico, Biotina, Niacina, Ácido Pantotênico, Riboflavina, Co-
lina e Mioinositol que são essenciais para todos os animais ósseos,
sendo de suma importância sua presença nas rações de peixes. Alguns
microrganismos presentes no trato intestinal podem produzir vitami-
nas, conforme o tipo de alimentação a que o peixe está sendo exposto,
o que faz reduzir alguns prejuízos causados pela ausência direta na
dieta. Entretanto, deficiências de vitaminas não são percebidas rapi-
damente pelo produtor, sendo difíceis de diagnosticar, pois os peixes
apresentarão doenças de forma lenta com o passar do tempo.

MINERAIS

São elementos inorgânicos, que fazem parte de todas as reações


químicas na vida dos peixes. Podemos observar a deposição dos mi-
nerais com mais nitidez na composição das escamas e dos ossos. Os
minerais podem ser ingeridos através das dietas ou apenas pelo fato
de estarem inseridos no ambiente aquáticos, absorvidos por osmose
(transferências de sais de modo facilitado). Os principais minerais ab-
sorvidos da água através das brânquias são: cálcio, magnésio, sódio,
potássio, ferro, zinco, cobre e selênio. O fornecimento de alimentos
vivos ou de rações adequadamente balanceadas, possivelmente, irá
disponibilizar os teores de minerais exigidos pelos peixes para as fun-
ções vitais, mantença e produção (reprodutiva).

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

- Alimentos vivos:
Diversos alimentos vivos estão disponíveis no meio aquático para
os peixes. O valor nutricional deles é muito variado, e o uso de alguns
deles implica risco de introdução de doenças no ambiente de criação.
A cultura inicial pode ser obtida com outros piscicultores. Há diversos
tipos de alimentos vivos usados na produção de peixes, e todos têm
sua importância. Hoje em dia, o uso de alimento vivo ainda é essen-
cial para se obter altas produções e crescimentos rápidos na produção
de peixes ornamentais. Os principais alimentos vivos empregados na
piscicultura ornamental são:

- Artêmia (Artemia salina):


É um dos alimentos vivos mais utilizados para peixes ornamen-
tais. A artêmia pode ser comprada na forma de cistos, que devem ser
eclodidos em água salgada com alta oxigenação. Os cistos são de cor
marrom e, quando os náuplios (filhotes de artêmia) eclodem, a água
fica com uma coloração alaranjada. Para fornecer aos peixes, os náu-
plios devem ser peneirados e lavados em água doce. É fundamental
na produção, pois é utilizada como primeiro alimento para inúmeras
espécies de peixes.

Figura 21. Artêmia salina atraída pela luz (fototropismo) no lado


esquerdo do aquário. Figura à direita artêmias ampliadas 10 vezes.
Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes Ornamentais (2021), UNESP
- Jaboticabal-SP.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

As vantagens do uso dos náuplios de artêmia é que são facilmente


produzidos, sendo muito bem aceitos pelas larvas e não apresentam
risco de introdução de doenças por ser de água salgada. Porém, pos-
suem um custo relativamente alto.

-Microvermes da aveia (Panagrellus redivivus):


Podem ser usados no lugar dos náuplios de artêmia, porém seu
cultivo é um pouco mais trabalhoso. É feito em caixas plásticas tam-
padas de 10X10 cm e 5 cm de altura. Coloca-se uma mistura pastosa
de aveia com cerca de 1 cm de altura na caixa e um pouco de verme
de uma cultura prévia. Por volta de sete dias após o início, a cultura
já pode ser utilizada, retirando-se os vermes das paredes da caixa com
uma pequena espátula. A produção da cultura, após um tempo, começa
a decrescer, devendo ser feitas repicagens em diversas outras novas
culturas. Esse é o inconveniente do uso dos microvermes, pois sempre
a cultura deverá ser recomeçada para não ser perdida.

Figura 22. Microvermes em substrato de ração


para peixes.
Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes Orna-
mentais (2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

-Zooplâncton:
É composto de animais microscópicos de diversas espécies, que
surgem nos tanques adubados. É um alimento de ótima qualidade, e
muitos peixes são criados somente com esse alimento. O produtor
pode ter tanques especificamente para a produção de zooplâncton.
Para coletá-lo, pode ser utilizada uma rede de malha muito fina (500
micras). O maior inconveniente do uso do zooplâncton é o alto risco
de introdução de doenças nos aquários. Uma alternativa seria congelá-
-lo e fornecer posteriormente.

- Dáfnias (Daphnia magna):


As dáfnias ou pulgas de água são pequenos crustáceos que, na
natureza, fazem parte do zooplâncton, mas podem ser cultivadas iso-
ladamente. Seu cultivo é simples e pode ser feito em caixas de água de
fibrocimento de 500 a 1.000 litros. Enche-se a caixa com água limpa
e adiciona-se um adubo.
O adubo mais comumente utilizado é cama de frango. Quando a
água estiver bastante esverdeada, as dáfnias devem ser introduzidas. O
produtor deve ter sempre diversas caixas, para evitar possíveis perdas.
Elas podem ser coletadas com peneiras e fornecidas tanto para alevi-
nos quanto para peixes adultos.

Figura 23. Indivíduos de dáfnia à esquerda em grande quantida-


de, amostrada num copo de vidro de 200 mL à esquerda. Figura à
direita dáfnias ampliadas 10 vezes. Fonte: Acervo do Laboratório de
Peixes Ornamentais (2021), UNESP - Jaboticabal-SP.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

- Bloodworms (Quironomídeos):
É uma larva de mosquito de hábito alimentar herbívoro. Sua
larva é altamente nutritiva e necessita de material orgânico para
se desenvolver. Possui característica biomarcadora, devido a sua
pigmentação robusta em vermelho ser afetada em ambientes po-
bres de oxigênio. Sua cor avermelhada tende a diminuir, tornan-
do-se mais opaca quando os teores de oxigênio dissolvidos es-
tão baixos. É bastante encontrada em águas poluídas. Pode ser
criada em caixas externas com material orgânico no fundo. Sua co-
leta é feita com peneiras e pode ser fornecida fresca ou congelada.

Figura 24. Bloodworms utilizados na alimentação de peixes or-


namentais.
Fonte: Acervo do Laboratório de Peixes Ornamentais (2021),
UNESP - Jaboticabal-SP.

-Alimentos secos:

Figura 25. Tipos de rações usadas na alimentação de peixes orna-


mentais. Da esquerda para a direita: ração floculada, finamente
moída, peletizada, extrusada a 0,9 mm e extrusada a 1,8 mm. Fon-
te: Acervo do Laboratório de Peixes Ornamentais (2021), UNESP -
Jaboticabal-SP.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

As rações ou alimentos secos também são essenciais na produ-


ção, pois apresentam função de alimento-base na maioria dos siste-
mas, sendo o alimento vivo apenas um complemento. Infelizmente,
hoje, ainda não existem rações comerciais destinadas aos produtores
de peixes ornamentais. Portanto, sobra ao produtor fazer sua própria
ração ou utilizar rações formuladas a peixes de corte ou rações para
aquarismo. Seja qual for o caso, deve-se ter em mente que a ração
usada deve ser ótima, feita com ingredientes de alta qualidade e muito
bem balanceada.
Quando os produtores fazem sua própria ração, devem ter orien-
tação de um técnico especializado em piscicultura, capacitado para
formular rações para peixes. A maioria dos produtores ainda faz suas
rações com bases em formulações empíricas, e muitas vezes, os resul-
tados no desempenho dos peixes são abaixo do potencial de produção.
Um aspecto de grande importância nas rações é seu nível de proteína,
que costuma ser muito mais alto do que o necessário para o crescimen-
to dos peixes. Como visto anteriormente, essa proteína, em excesso, é
transformada em amônia pelos peixes, causando, além do baixo cresci-
mento, redução da qualidade da água. Se a alternativa for utilizar rações
comerciais empregadas para peixes de corte, o produtor deve procurar,
entre os fornecedores disponíveis, as rações de melhor qualidade.
Muitos produtores também utilizam rações destinadas ao aquaris-
mo. Indiscutivelmente, essas rações são de altíssima qualidade, porém
o piscicultor deve-se atentar ao fato de que são rações muito concen-
tradas, com altíssimos níveis de proteína e de gordura. Elas são feitas
dessa forma para que o aquarista tenha de fornecer somente uma pe-
quena quantidade por dia. Portanto, produtores que utilizam esse tipo
de ração devem tomar cuidado com a quantidade fornecida. Além dis-
so, seu custo é muito alto e, na maioria das vezes, tornam-se inviáveis.
Algumas dessas rações contêm corantes artificiais que ressaltam as
cores naturais dos peixes, principalmente o vermelho. É interessante
também o produtor levar em conta que, quando o peixe estiver no seu
destino, que é o aquário ornamental, o aquarista irá fornecer esse tipo
de ração para ele. Portanto, se o peixe já estiver pelo menos adaptado
e aceitar prontamente essa ração, é um diferencial para o produtor.
Independentemente do tipo de alimentação, para saber se ela está

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

sendo adequada, devem ser observados o bom crescimento dos peixes,


a baixa mortalidade, a baixa ocorrência de doenças e as altas taxas
reprodutivas, além da manutenção da qualidade da água.

REPRODUÇÃO

A maioria das espécies de peixes só consegue se reproduzir se os


parâmetros da água e o manejo são adequados. Por isso, é importante
conhecer a biologia de cada espécie. Por exemplo, no caso do acará-
-disco, é necessário manter a temperatura acima dos 29ºC, pH ácido,
água mole (baixa alcalinidade) e um ambiente sem muito barulho. Se
não fornecer essas condições, é pouco provável ter êxito com a repro-
dução. No caso de alguns ciclídeos africanos, além de temperaturas
elevadas, é preciso manter a alcalinidade alta; caso contrário, os ovos
não eclodirão. Para o kinguio é muito importante oferecer algum subs-
trato (raízes de plantas aquáticas flutuantes, por exemplo) no momento
da desova, para evitar que os adultos possam comer os ovos logo
após a desova. Com estes exemplos veem-se as grandes diferenças na
reprodução dos peixes ornamentais, o que obriga o produtor conhecer
a fundo a biologia de cada espécie.

LIMPEZA E ESTERILIZAÇÃO

Independentemente de qual seja o sistema de cultivo a ser adota-


do, extensivo ou intensivo, é importante pensar nas boas práticas de
manejo antes de executar qualquer atividade, o que inclui a limpeza e
a esterilização de utensílios, tais como: redes, passaguá (puçá), baldes,
mangueiras, aquários, filtros, pedras e qualquer outro material usado
que tenha tido ou que terá contato direto como os peixes. Estes utensí-
lios, quando não devidamente limpos, podem ocasionar contaminação
cruzada de doenças causadas por fungos, vírus ou bactérias que, como
consequência, poderão comprometer a saúde dos peixes de todo um
aquário. O caso mais comum, como exemplo, é o uso de mangueiras
para o sifonamento, sendo prática regular para os aquaristas. Assim,
aquários ou tanques que possuem peixes doentes devem ser sempre
limpos e sifonados por último, bem como pós-manejo, a mangueira

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

utilizada deve ser colocada em uma solução com ¼ de água sanitária


+ 7,5 litros de água limpa por um período mínimo de 15 minutos ou
ficar em imersão até o próximo uso no dia seguinte. Salienta-se que,
antes de se reutilizar a mangueira, ela deve ser bem lavada com água
corrente, para que sobras da água sanitária não comprometam o aquá-
rio no próximo manejo. Deste modo, alguma área deve ser destinada
para que os utensílios fiquem submetidos a um tempo predefinido
para higienização.

DOENÇAS

Devido à grande quantidade de espécies de peixes ornamentais de


diferentes zonas geográficas, aos diversos alimentos que consomem,
ao estresse de transporte e ao manejo, há grande variedade de doenças
que podem afetar os peixes, sendo que a maioria delas pode ser evita-
da com os devidos cuidados durante a produção. Dentre os agentes pa-
tológicos, temos bactérias, vírus, parasitas, fungos, microcrustáceos,
etc. Além destes, temos as enfermidades metabólicas e as hereditárias.
Como a lista é muito ampla, só vamos mencionar alguns exemplos.
Além de prevenir as doenças, o importante é reconhecer o problema e
solicitar ajuda de um profissional qualificado.

- Íctio ou doença do ponto-branco:


É causada por um parasita ciliado, sobretudo quando a tempe-
ratura da água do aquário baixa repentinamente. Caracteriza-se por
pontos brancos de 0,7 mm sobre toda a superfície dos peixes. Também
é comum encontrar os peixes esfregando-se contra as plantas ou as
pedras. Pode ser tratado com doses altas de sal (3 g/l), elevando-se a
temperatura do aquário e trocando-se a água.

-Virose primaveral:
Afeta carpas e bagres, sendo introduzida no criatório por peixes
de lugares infectados, o que destaca a importância da quarentena. Esta
doença só aparece quando a temperatura baixa dos 20ºC. Nesta enfer-
midade, podem-se observar peixes inchados (hidropsia abdominal) e
olhos saltados (exoftalmia).

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

- Columnariose:
É uma doença de origem bacteriana, podem-se observar nos pei-
xes lesões parecidas com algodão perto da boca e das nadadeiras, além
de dificuldades ao nadar e inapetência. Deve ser tratada rapidamente
com antibióticos e melhorando as condições do aquário.

-Deficiência de minerais:
A falta de alguns minerais na ração pode levar os peixes a apre-
sentar problemas no crescimento, na reprodução ou más-formações
durante seu desenvolvimento.

DÚVIDAS INICIANTES À PISCICULTURA ORNAMENTAL:

• O que deve ser levado em consideração para iniciar


uma criação de peixes?
Devem ser considerados o investimento, a distância entre a pro-
dução e o mercado, o clima, as espécies a produzir, a disponibilidade
de água e, sobretudo, conhecer a biologia dos peixes. Estes fatores irão
determinar o êxito da criação.

• O clima é um fator determinante?


No caso de criações extensivas, este vai afetar diretamente os pei-
xes. Em regiões que apresentam clima com temperaturas amenas, é ne-
cessário trabalhar com espécies mais resistentes ao frio ou produzir es-
pécies tropicais apenas na época quente. No caso de criações intensivas,
em estufa com sistema de aquecimento, o clima é só um fator secundá-
rio, mas deve-se levar em conta o custo de manutenção da temperatura.

• Quais são as espécies de peixes mais importantes


nesta atividade?
Historicamente, o peixe mais comercializado no mundo e um dos
que apresenta mais variedades é o kinguio. Outros peixes de grande
importância são: os guppys, peixe-espada, bettas, ciclídeos africanos,
etc. Das espécies amazônicas, destacam-se o acará-disco, o acará-ban-
deira, o tetra-cardinal, etc.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

• Com quais espécies devo iniciar?


Peixes como guppys, espadas e mollys são os mais recomendados
para quem deseja iniciar nesta atividade devido à rusticidade, fácil
adaptação e reprodução. Outros peixes com estas características, mas
que requerem um pouco de mais experiência, são a maioria de kin-
guios, bettas e ciclídeos africanos.

• Onde posso adquirir os peixes para iniciar a criação?


É muito importante ter produtores de confiança para evitar a in-
trodução de doenças no aquário ou no criatório. O melhor caminho é
procurar centros de pesquisa e extensão rural para uma boa orientação.

• Por que é de suma importância conhecer a biologia


de cada espécie?
A biologia dos peixes vai determinar as características da água
(temperatura, pH, alcalinidade, etc.), o tamanho do aquário, a quan-
tidade de peixes, o manejo adequado e, sobretudo, o êxito da criação.

• A reprodução: Como? Com que espécies?


Recomendam-se aos iniciantes produzirem peixes como espadas,
guppys e mollys, espécies em que as larvas nascem vivas (eclodem
dentro da fêmea), que são de grande tamanho, quando comparadas a
outras espécies. Trabalhar com estes peixes, nesta fase inicial, faci-
lita o aprendizado sobre alimentação. Recomendam-se, também, os
kinguios devido à rusticidade e ao rápido crescimento das crias. Por
outro lado, os bettas são recomendados aos produtores com mais ex-
periência, já que os alevinos são pequenos, e o manejo da temperatura
é um pouco delicado. Para trabalhar com espécies mais “exigentes”,
como acará-disco, cardinais, barbos, etc., é necessária mais experiên-
cia, pois, além dos cuidados com a temperatura e os alimentos para as
larvas serem muito pequenos, é preciso, na maioria dos casos, ajustar
precisamente os parâmetros de qualidade da água.

• Alimento de alevinos e principais cuidados:


Devem-se considerar o hábito alimentar e o tamanho da boca ao
nascer, sendo que peixes como espadas e guppys podem comer ali-

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

mentos secos e moídos com a mão, devido ao grande tamanho deles; e


no outro extremo, peixes como colisas e beijadores requerem artêmia
recém-eclodida ou plâncton. Outros aspectos importantes que devem
ser considerados, dependendo da espécie, são os parâmetros da água,
vazão (trocas de água), tamanho do aquário, filtragem, etc.

• Qual é o sistema de filtragem mais adequado para


minha criação?
Os filtros vão depender do tamanho e da biologia dos peixes, do
volume do aquário, da densidade, da taxa de renovação de água, etc.
Em termos gerais, é recomendável o uso de filtros mistos: mecânicos,
químicos e biológicos, para um melhor resultado. Devem-se conside-
rar o fluxo e o tamanho da entrada de água do filtro em aquários com
alevinos para evitar a morte deles por sucção.

• Quando os aquários e demais instalações devem ser


limpos?
Vai depender de seu uso, mas, em geral, é recomendado fazer
uma limpeza total do aquário anualmente, sobretudo em aquário de
produção para evitar problemas sanitários. As instalações devem ser
limpas periodicamente, e, no caso de utensílios como baldes e redes, a
desinfecção deve ser constante. Para isto, podem-se colocar os utensí-
lios em água com abundante sal depois do uso.

• Qual o intervalo de alimentação dos peixes?


Depende da fase do crescimento e da biologia dos peixes. Para
alevinos, é recomendável alimentar 5-6 vezes/dia. No caso de peixes
adultos, pode-se reduzir para duas vezes ao dia. É importante lembrar
que fornecer alimento abundante vai produzir maior quantidade de
amônia e, por isso, é recomendável dividir a quantia de alimento nas
diferentes refeições do dia, evitando, assim, sobrealimentar os peixes.

• Como eu previno doenças em peixes?


Conhecendo-se a biologia dos animais, é possível fornecer as
condições adequadas para cada uma das espécies, evitando-se estres-
se e possíveis doenças. Outra maneira de prevenir doenças é fazen-

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

do quarentena dos peixes que ingressam na criação. Ao chegarem ao


novo ambiente, devem ser aclimatadas para evitar choques de tempe-
ratura e pH, uma vez que a água de transporte normalmente apresenta
características físicas e químicas diferentes daquela do aquário ou do
tanque onde os animais serão colocados.
Uma forma de prevenção de doenças é a adição de 1g de sal/litro
de água do aquário, no momento da soltura dos peixes. É importante
destacar que o sal não deve conter iodo, uma vez que algumas espécies
são sensíveis a este elemento químico.

• Como eu posso reconhecer as principais enfermida-


des nos animais?
Como foi explicado anteriormente, o conhecimento da biologia
do peixe é um fator vital nessa criação, pois mudanças na coloração,
nadadeiras desfiadas, mudanças no comportamento, peixes sem apeti-
te, etc., podem ser indicadores de doenças. Como as doenças que afe-
tam os peixes ornamentais são ocasionadas por protozoários, fungos,
bactérias, helmintos, crustáceos e vírus, o caminho é contatar os pro-
fissionais da área, buscando também informações em livros ou sites de
Internet especializados.

• Como embalar os peixes para o transporte?


Deve-se considerar o tempo do transporte, a quantidade de pei-
xes, a espécie, etc. Em termos gerais, preferivelmente, usar dois sacos
de plástico grosso, com um quarto de água, e o resto com oxigênio
puro, colocar a sacola dentro de uma caixa para evitar rasgos e mudan-
ças bruscas de temperatura.

• É obrigatório contratar um especialista como asses-


sor para a criação?
Muitos produtores trabalharam a vida toda sem contratar um pro-
fissional. É comum os profissionais enxergarem potenciais problemas,
assim como assessorar sobre todos os aspectos da produção, melho-
rando o manejo, traduzindo-se no crescimento da empresa e em maio-
res ganhos para o produtor.

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Introdução à criação comercial de peixes ornamentais

• Como proceder para reproduzir o acará-bandeira?


Após a formação do casal, é preciso observar se, quando a fêmea
deposita os óvulos, o macho os fertiliza. Uma vez ocorrendo a fecun-
dação dos ovos, estes tendem a mudar de cor (mais escuro) e, em até
três dias, em temperatura média de 28°C, as larvas tendem a eclodir.
Certificando-se de que os ovos foram fertilizados pelo macho, simul-
taneamente à desova da fêmea, e estes estejam aderidos a um substrato
(placa de PVC), previamente colocado dentro do aquário de reprodu-
ção, é realizado o procedimento de transferência do mesmo para outro
aquário, sem a presença dos pais. Para isto, é necessário ter o cuidado de
utilizar a mesma água do aquário de origem do casal. Este procedimen-
to garante preservar todos os parâmetros físico-químicos da água neste
novo local onde os ovos serão incubados. Outro cuidado que deve ser
levado em consideração é o volume de água deste novo local, pois uma
grande coluna de água tende a ocasionar maior pressão aos ovos.
Outro fator que deve ser levado em consideração é que os pais,
através do cuidado parental, tendem a limpar o substrato, comendo os
ovos “gorados” (os brancos opacos) que são atacados pelos fungos.
Como estes ovos serão transferidos para outro local sem a presença
dos pais, ficarão vulneráveis a fungos, sendo necessária a prevenção.
Para isto, sugere-se adicionar na água 0,05 mL (uma gota) do azul de
metileno a 2% para cada 5 litros de água, mantendo a oxigenação e a
movimentação da água branda até à eclosão.

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