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Editorial

A Escola de Veterinária e o Conselho Regional de


Medicina Veterinária de Minas Gerais têm a satisfação de
encaminhar à comunidade veterinária e zootécnica mineira
um volume de Cadernos Técnicos dedicado à descrição dos
principais aspectos de manejo e sanidade na produção co-
mercial de peixes ornamentais.
Organismos aquáticos ornamentais são mantidos pela
beleza e recreação e proporcionam um ambiente distinto,
exótico e de tranquilidade para os olhos humanos. O merca-
do de organismos aquáticos ornamentais deverá movimen-
tar 8,6 bilhões de dólares até 2028, podendo chegar a 8%
da taxa de crescimento composta anual (CAGR - compound
annual growth rate)1. O comércio internacional de peixes
ornamentais representou a 3.110ª posição entre produtos
comercializados e movimentou US$ 330 milhões (2020).
Em 2020, os maiores exportadores foram o Japão, Indonésia,
Singapura, Holanda e Tailândia e os maiores importadores
foram Estados Unidos, China, Alemanha, Reino Unido e
França2. O Brasil figura na 13ª posição como exportador.3 As
espécies nativas em exploração ornamental estão sob algum
nível de ameaça, indicada por muitos pesquisadores4.
A aquacultura ornamental, como toda a produção ani-
mal, exige produtividade, sanidade e sustentabilidade, com
biosseguridade, para plantéis saudáveis e comercializáveis e
a medicina veterinária preventiva representa fator-chave para
o sucesso. Por algum tempo, na aquicultura, bem como em
outras criações, as perdas de origem sanitária eram subesti-
madas e muitas erradamente aceitas como normais. Neste
volume descrevem-se os principais aspectos sociais, de ma-
nejo, econômicos e sanitários na produção comercial de pei-
xes ornamentais, com o objetivo da educação continuada em
aqüicultura, um setor de atividade profissional em expansão.
Universidade Federal
de Minas Gerais Méd. Vet. Bruno Divino Rocha
Escola de Veterinária Presidente do CRMV-MG – CRMV-MG 7002
Fundação de Estudo e Pesquisa em Diretor Prof. Afonso Liguori
Medicina Veterinária e Zootecnia Diretor da Escola de Veterinária da UFMG – CRMV-MG 4787
- FEPMVZ Editora Vice-Diretora Professora Eliane Gonçalves de Melo – CRMV-MG
Conselho Regional de 4251
Medicina Veterinária do
Estado de Minas Gerais Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
- CRMV-MG Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ)
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Correspondência: Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins
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CADERNOS TÉCNICOS DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA


Edição da FEPMVZ Editorada em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia – FEPMVZ
Editor da FEPMVZ Editora:
Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
Editor de Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:
Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins
Editores convidados para esta edição:
Profa. Daniela Chemim de Melo Hoyos
Prof. Guilherme Campos Tavares
Prof. Matheus Anchieta Ramirez
Revisora autônoma:
Giovanna Spotorno
Tiragem desta edição:
1.000 exemplares
Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ltda.
Impressão:
Imprensa Universitária da UFMG

Permite-se a reprodução total ou parcial,


sem consulta prévia, desde que seja citada a fonte.

Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia. (Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG)


N.1- 1986 - Belo Horizonte, Centro de Extensão da Escola deVeterinária da UFMG, 1986-1998.
N.24-28 1998-1999 - Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1998-1999
v. ilustr. 23cm
N.29- 1999- Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1999¬Periodicidade irregular.
1. Medicina Veterinária - Periódicos. 2. Produção Animal - Periódicos. 3. Produtos de Origem
Animal, Tecnologia e Inspeção - Periódicos. 4. Extensão Rural - Periódicos.
I. FEP MVZ Editora, ed.
Prefácio
Daniela Chemim de Melo Hoyos1,
Guilherme Campos Tavares2,
Matheus Anchieta Ramirez1
1
Professores do Departamento de Zootecnia da Escola de Veteriná-
ria da UFMG
2
Professor do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva
da Escola de Veterinária da UFMG – CRMV-MG 11340

Aquacultura ornamental envolve a


produção de organismos aquáticos com
fins ornamentais. Nesta atividade co-
mercial, produzem-se grandes quantida-
des de peixes em cativeiro, os quais são
acompanhados em todas as etapas do
seu desenvolvimento. A expressão “orga-
nismos aquáticos ornamentais”, quando
mencionada, logo é associada a peixes
pequenos e coloridos, com morfologia
e beleza exuberantes. Contudo, sabe-se
que esse conceito é bastante subjetivo e
que a aquacultura ornamental envolve
também crustáceos, moluscos, plantas e
corais, ainda que o “carro-chefe” sejam os
peixes, independentemente do seu tama-
nho, formato ou coloração, sendo eles de
água doce ou marinha.
No cenário econômico, a produ-
ção de peixes ornamentais é uma ativi-
dade extremamente rentável, que vem
se desenvolvendo no Brasil e no mun-
do, movimentando milhões de dólares
anualmente. É caracterizada por utilizar
pequenas áreas para produção, o que de-
manda baixo custo de investimento para
instalações. Ademais, o rápido ciclo de
produção possibilita maior resultado ao
longo do ano, fazendo com que seja um
setor que apresenta um dos melhores
retornos por área cultivada dentro do
agronegócio, além da sua forte tendência
no mercado pet. A aquacultura explora
grande variedade de espécies e amplia
sua participação na produção pet devido
à facilidade de manejo, à necessidade de
pouco tempo e de reduzido espaço para
criação e ao crescente interesse dos con-
sumidores, com aumento do comércio
de insumos e equipamentos especiali-
zados para aquarismo. É um mercado
impulsionado por novas técnicas e pro-
dutos, possibilitando a produção de es-
pécies exóticas e nativas para o mercado
local e internacional.
Nesta edição de Cadernos Técnicos
de Veterinária e Zootecnia, serão apre-
sentados alguns temas envolvendo pis-
cicultura ornamental, como mercado
nacional e internacional, sistemas de
produção, nutrição, reprodução, qualida-
de de água e sanidade. Os capítulos pro-
duzidos contêm a contribuição de profis-
sionais da iniciativa privada e pública, da
produção e da academia, com conteúdos
de relevância à aquacultura ornamental.
Os editores convidados dessa edi-
ção agradecem à Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(FAPEMIG) pelo incentivo e financia-
mento de pesquisas (APQ-04309-22)
nessa área.
Sumário

1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de


peixes ornamentais.............................................................. 9

2. Manejo e qualidade ambiental...........................................38

3. Nutrição de peixes ornamentais.........................................46

4. Reprodução de peixes ornamentais de água doce..............54

5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro.....80

6. Principais aspectos sanitários na produção de peixes


ornamentais.....................................................................125

7. Peixes ornamentais amazônicos:


panorama de exportação..................................................135

8. Importação de organismos aquáticos com fins ornamentais


e de aquariofilia................................................................161

9. A extensão em aquacultura aplicada à produção de peixes


ornamentais.....................................................................169
1. Entendendo a
diversidade dos
sistemas de produção de
peixes ornamentais
pixabay.com

Matheus Anchieta Ramirez1*, Nayara Netto dos Santos2, Gabriel Rivetti Rocha Balloute3, Lorena Diniz Macedo Silva4

1Professor associado, médico veterinário, doutor, DZOO, Escola de Veterinária, UFMG


2Mestranda, Engenheira de Aquicultura, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Escola de Veterinária, UFMG
3Graduando, Engenharia de Aquicultura, Escola de Veterinária, UFMG
4Graduanda em medicina veterinária, Escola de Veterinária, UFMG
*Autor para correspondência: matheusarta@yahoo.com.br

1. Introdução de produção. A diversidade dos siste-


mas de produção de peixes ornamen-
A produção de organismos aquá-
tais, por sua vez, reflete as diferentes
ticos é certamente o ramo da agro-
características fisiológicas dos orga-
pecuária que possui potencialmente
nismos, que devem se adequar aos es-
a maior diversidade de sistemas pro-
paços, aos materiais e às tecnologias, a
dutivos. Além disso, os organismos
com a finalidade de ornamentação se fim de se alcançarem os objetivos do
destacam pela existência de grande empreendimento.
plasticidade dos sistemas e modelos Dessa forma, no que tange à pro-

1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 9


dução de peixes ornamentais, não se produção de peixes ornamentais, esse
pode falar em um tipo único de siste- assunto ainda é relativamente pouco
ma ou mesmo em tipificações em pou- estudado nos meios técnicos e cien-
cas categorias; muito menos se deve tíficos. Muitas vezes, a produção de
ranquear, a priori, os sistemas como peixes ornamentais é confundida com
melhores, piores ou mais ou menos o aquarismo, nicho de mercado que
eficientes. Esses devem ser avaliados demanda a criação desses seres para
segundo sua capacidade de atender estudo ou ornamentação. Com isso,
aos parâmetros fisiológicos requeri- além da pequena produção científica
dos para a reprodução e o crescimen- desenvolvida nessa área, muitas in-
to dos animais, levando-se em con- formações disponíveis não se aplicam
sideração as condições de bem-estar aos sistemas de produção comumente
animal. Entretanto, essa avaliação não encontrados no campo.
pode perder de vista os Assim, a produção
objetivos da produção, A opção por peixes de peixes ornamentais
o espaço disponível e a ornamentais como impõe desafios para
capacidade de investi- animal de companhia os profissionais que se
mento dos produtores. redundou no dedicam à orientação
A opção por pei- crescimento desse técnica da produção.
xes ornamentais como ramo de mercado. Nos Uma vez que as carac-
animal de companhia últimos anos, de 2019 terizações e as avalia-
redundou no cresci- a 2020, a população de ções serão específicas
mento desse ramo de
peixes ornamentais do a cada sistema, faz-se
mercado. Nos últimos
Brasil teve crescimento necessária a capacida-
anos, de 2019 a 2020,
de 2,6%, ficando atrás de de avaliar se as con-
a população de peixes
apenas dos répteis, dos dições de produção são
ornamentais do Brasil
pequenos mamíferos adequadas para aten-
(4,2%) e dos gatos der aos parâmetros de
teve crescimento de
(3,6%) (Abinpet,
2,6%, ficando atrás manejo exigidos pela
2021).
apenas dos répteis, dos espécie e se os objeti-
pequenos mamíferos vos da produção po-
(4,2%) e dos gatos (3,6%) (Abinpet, dem ser alcançados naquele modelo
2021). O maior interesse de merca- produtivo. Esses profissionais devem
do incentiva a expansão da produção superar a perspectiva das recomen-
desses animais em espaços tanto ru- dações gerais e da difusão de sistemas
rais como urbanos. Mesmo o mercado referendados, de forma a trabalhar na
demandando crescentemente maior lógica da criação e da recriação de sis-

10 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


temas específicos, muitas vezes com a comuns que compõem os diversos
utilização de materiais alternativos, de sistemas de produção de peixes orna-
pequenos volumes de água e de apro- mentais, atentando para as vantagens
veitamento de espaços restritos. Tais e as desvantagens, bem como apontar
requisitos impõem o entendimento alguns cuidados de manejo requeri-
dos sistemas, das exigências e das ne- dos nesses modelos produtivos.
cessidades dos organismos, utilizan-
do-se da capacidade crítica para veri- 2. Desvendando os
ficar os pontos positivos e negativos objetivos da produção de
de cada modelo produtivo, a fim de se peixes ornamentais
elaborarem planos de ação que sejam
A análise dos sistemas de produ-
compatíveis com a realidade de cada
ção, na maioria das vezes, é restrita
sistema produtivo. aos aspectos técnicos e tecnológicos.
Sob tal ótica, outros pontos que Pouca atenção é dada à tipificação
merecem destaque são a presença da econômica e social dos empreendi-
produção de peixes ornamentais tanto mentos, bem como aos objetivos da
no meio rural quanto no meio urbano atividade produtiva. Por consequên-
e a vinculação do produtor aos merca- cia, as avaliações partem do pressu-
dos com elevado grau de imperfeição posto de que se objetiva unicamente
(Chiaraba et al., 2021). Uma vez que o lucro com o desempenho da ati-
as dinâmicas produtivas próprias da vidade produtiva, tendo o aumento
agricultura urbana marcam esse ramo da produtividade como via única de
promissor, é necessário que o acompa- intervenção.
nhamento técnico as leve em conside- Nessa perspectiva, pressupõe-se
ração, sem deixar de lado a avaliação que todos os sistemas de produção
da capacidade do sistema produtivo são capitalistas, que buscam maior
em fornecer ao mercado as espécies produtividade e lucratividade possí-
dentro dos padrões de qualidade re- vel. Porém, essa realidade não é uni-
quisitados pelo consumidor. versal na produção agropecuária. Na
Tendo em vista os pontos apre- produção de peixes ornamentais, que
sentados, normatizar os sistemas de é uma atividade vinculada ao senso
produção de peixes ornamentais sem estético e pode se relacionar à parti-
respeito às particularidades das espé- cipação em competições ou a outras
cies a serem produzidas e da inserção finalidades que não se alinham di-
nos mercados representa visão redu- retamente aos ganhos capitalistas, a
cionista dessa atividade. A proposta análise dos objetivos da produção se
deste trabalho é apresentar princípios reveste de maior importância.
1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 11
Salienta-se ainda que a produ- busca pela maior lucratividade.
ção de peixes ornamentais pode ser Um detalhe importante para a ava-
caracterizada pelo grande número de liação de sistemas de produção capita-
pequenos produtores, muitos deles listas é o fato de o volume de produção
agricultores familiares, com inclusões bem como o valor individual dos ani-
subordinadas ao mercado, os quais, mais não se relacionarem diretamente
por injunções sociais, sofrem com a ao lucro. Isso porque o aumento da pro-
exploração que setores da cadeia pro- dução pode requerer novos investimen-
dutiva, principalmente atravessadores tos que reduzem a sua lucratividade e a
(Cardoso et al., 2012), produção de animais de
impõe-lhes. Dadas as ... a produção de elevado valor comercial
condições de mercado peixes ornamentais pode impor limites na
em que são compeli- pode ser caracterizada inserção no mercado e
dos a atuar, esses pe- pelo grande número redução na capacidade
quenos produtores não de pequenos produtiva, de forma que
alcançam formas de produtores, muitos não é universal a pers-
produção tipicamente deles agricultores pectiva de que a maior
capitalistas (Souza et al.,
familiares, com produção sempre estará
2018), inscrevendo-se
inclusões subordinadas relacionada à maior lu-
na rubrica de produto-
ao mercado, os cratividade, não sendo
quais, por injunções incomuns casos em que
res pré-capitalistas. Por
sociais, sofrem com a aumento de receita se
essa razão, necessita-se
exploração que setores relaciona à redução da
identificar os objetivos
da cadeia produtiva, lucratividade.
de cada sistema de pro-
principalmente Mesmo que muitos
dução de peixes orna-
atravessadores
mentais. Desse modo, sistemas de produção
(Cardoso et al., 2012),
são apresentadas três não se enquadrem per-
...
grandes vertentes que feitamente na descrição
direcionam os objetivos dos sistemas de de sistemas de produ-
produção. ção capitalistas, na avaliação de sistemas
de produção de peixes ornamentais, a
2.1. Produção capitalista perspectiva da obtenção de lucro é sufi-
A produção capitalista é aquela em ciente para que esses sejam classificados
que se busca a lucratividade máxima como capitalista.
nos sistemas de produção. Nesse sen- Por mais estranho que possa pare-
tido, aspectos éticos, sociais, culturais cer, muitos sistemas de produção de
e ambientais são superados em prol da peixes ornamentais não se inserem na
12 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
lógica capitalista, ou seja, o sucesso da a compra de materiais genéticos dentro
produção não está na obtenção do lu- dos padrões estéticos requeridos pelo
cro, fato que coloca em evidência a ne- mercado para a venda, bem como de-
cessidade de análise dos objetivos da vem promover a participação em expo-
produção. sições. Nesse caso, o que deve ser levado
em conta é o objetivo da produção e não
2.2. Produção para exposição suas estratégias de mercado ou resulta-
e competições
dos “acessórios”.
Um possível objetivo da produção Cabe ainda ressaltar que, em alguns
de peixes ornamentais que foge à pers- empreendimentos, é possível observar
pectiva capitalista, mas que apresenta a existência de mais de um sistema de
grande importância, é a produção de produção, cujos objetivos podem ser
peixes para exposições e competições. diversos, por exemplo, sistemas que se
Nesses sistemas de produção, o que se direcionam aos animais com padrões
objetiva é a escolha de animais do mais para exposições e competições, além
“elevado” padrão genético e a seleção de outros destinados àqueles que serão
daqueles que se alinhem ao “tipo gené- lançados ao mercado com vistas a maior
tico” almejado. lucratividade.
Todavia, ao se descrever que o obje-
tivo da produção de peixes é a participa- 2.3. Produção pré-capitalista
ção em competições, leilões, exposições As formas de produção pré-capita-
e não o lucro, não se deve confundir esse listas são o resultado de imperfeições
propósito com a ideia de que tais siste- do mercado que impelem que os pro-
mas de produção tenham dependência dutores sejam vítimas de grande ex-
da injeção constante de capital nem ploração. Sua existência denuncia as
mesmo com a de que eles sejam incapa- desigualdades que culminam em laços
zes de gerar lucro. Apesar de, em muitos de dependência social entre os elos que
casos, ser verdade que esses sistemas formam a cadeia produtiva. Na produ-
dependam de capital externo, é possível ção de peixes ornamentais, são diversos
que consigam promover lucro, mesmo os fatores que colaboram para a exis-
que isso não seja prioridade quando tência desse tipo de exploração entre
comparado à seleção dos animais e ao os componentes da cadeia, entre eles, a
ganho genético. falta de informações vinculada à baixa
Por outro lado, sistemas de produ- escolaridade de parte dos produtores, o
ção capitalistas também devem cons- isolamento geográfico e a consequente
tantemente realizar a seleção e a manu- distância dos mercados consumidores,
tenção de reprodutores, inclusive com a formação incipiente de boa parte dos
1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 13
mercados, que leva à dependência de no mercado, passando a controlá-los.
atravessadores para a distribuição da Diante desse quadro, os produtores
produção, bem como as dificuldades da são “impedidos” de fazer análises e pro-
regularização das propriedades rurais jeções econômicas, restando-lhes ape-
e dos empreendimentos de produção nas o papel de “tomadores de preços”.
aquícola (Anjos et al., 2009; Araújo et Esse fato, adicionalmente à exploração
al., 2017; COE et al., 2011; Ribeiro et econômica e aos laços de dependência
al., 2018; Chiaraba et al., 2021). Esse que os unem aos atravessadores, faz
quadro culmina na dependência eco- com que sua racionalidade econômi-
nômica e social que alguns produtores ca seja limitada (Abramovay, 1992;
passam a ter dos compradores de sua Chayanov, 1974), não possibilitando
produção, o que faz esses atravessadores que produzam com o objetivo de alcan-
terem o poder de dominar o preço dos çar a lucratividade.
peixes e toda a distribuição dos animais Apesar de ser uma forma de produ-
para os setores a jusante.
ção invisibilizada pelas imperfeições do
Essa situação permite que a co-
mercado, os produtores subordinados
mercialização dos peixes ornamentais
por atravessadores, portanto pré-capi-
deixe os produtores sujeitos à elevada
talistas, respondem por importante par-
exploração por parte dos compradores.
cela da produção de peixes ornamentais
Tais atravessadores, agindo localmente,
no Brasil (Cardoso et al., 2012). Dadas
comportam-se como prepostos locais
suas condições de reprodução social
(Chayanov,1974), que, à semelhança de
“representantes” de grandes redes de co- específicas, é importante que a análise
mércio, agem livremente na exploração desses sistemas de produção tenha a
dos produtores, impondo a estes preços capacidade de identificar essa inserção
abaixo daqueles pagos pelo mercado. econômica da propriedade de agricultu-
Contudo, atravessadores são responsá- ra familiar e as questões que determinam
veis por abastecer o mercado nos gran- tais injunções perversas de mercado.
des centros de consumo e nas redes de Em geral, os sistemas de produção
comércio, impondo-se também a esses classificados como pré-capitalista apre-
setores. Adicionalmente, são raros os sentam volumes de produção abaixo do
contratos de venda e a garantia de que potencial dos sistemas, baixa inversão
o valor de comercialização da produ- de capitais em insumos, baixo uso de
ção acompanhe a variação dos custos. tecnologia e de investimentos em infra-
Complementarmente, os atravessadores estrutura, além da possibilidade de se
têm o poder de impor variações nos pre- ausentar do mercado se as condições de
ços dos animais a jusante e a montante exploração se agravarem.
14 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
3. Obtenção, reprodução nos volumes de animais, uma vez que
e manutenção dos se dedicam ao melhoramento genético,
com a venda de animais de alto valor
plantéis agregado, os quais servirão de reprodu-
Em todos os sistemas de produção tores ou destinados a nichos de merca-
animal, pelo menos no início da ativida- do de aquarismo de elevada exigência.
de, é requerida a compra de exemplares No sentido oposto – e mais raro ain-
que serão utilizados como reprodutores da–, são encontrados plantéis fechados
nos plantéis. Não obstante, a partir des- que se dedicam à produção de grandes
se momento inicial, os plantéis podem volumes de animais de baixo valor co-
ser fechados, sem a entrada mais ou me- mercial, normalmente direcionados a
nos frequente de animais, ou abertos, segmentos de mercado menos exigentes
com a entrada deles. em qualidade, sistemas
Para a maioria dos marcados pelo não aten-
sistemas de produção Para a maioria dos dimento a exigências de
de peixes ornamentais, sistemas de produção inovações em termos de
existe a introdução de
de peixes ornamentais, espécies e variedades re-
reprodutores e a forma-
existe a introdução queridas pelo mercado.
ção de plantéis para co-
de reprodutores e a Nesse sentido, o
formação de plantéis
mercialização, por isso mais comum são produ-
para comercialização,
esses sistemas não po- ções de peixes ornamen-
por isso esses sistemas
dem ser considerados tais em que a entrada de
não podem ser
fechados. Por mais que
considerados fechados. animais se dá na forma
permaneçam fechados de matrizes e de repro-
durante algum tempo, as novidades re- dutores de alto padrão
queridas pelo mercado fazem com que genético, a fim de atender às exigências
novas espécies e variedades sejam in- de inovações requeridas pelo mercado.
corporadas aos sistemas. A partir desses animais, são produzi-
Apesar de raros, alguns plantéis de dos, no próprio plantel, reprodutores
peixes ornamentais são totalmente fe- dedicados à multiplicação dos animais
chados. Nessas formas de produção, a que serão levados ao mercado. Apesar
seleção dos reprodutores se dá dentro de restrita, a entrada de matrizes e de
do próprio plantel. Os animais, geral- reprodutores atende às exigências de
mente, apresentam grande potencial ge- inovações que configuram os sistemas
nético e, durante a produção, se exerce de produção de organismos dedicados à
grande pressão de seleção. São sistemas ornamentação, uma vez que a busca por
que disponibilizam no mercado peque- animais “diferentes” é uma característi-
1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 15
ca que impulsiona o mercado de peixes caso, os produtores também devem
ornamentais. selecionar e descartar aqueles animais
A importância dessa análise da com- que fogem das características desejadas
posição de formação dos plantéis co- de cores, formatos corporais e nadadei-
merciais se relaciona aos desafios sanitá- ras. Quando a produção se dá sem essa
rios da entrada de animais. Importante pressão de seleção, as características
mencionar que boa parte dos sistemas dos animais inseridos são “perdidas”.
de produção de peixes ornamentais Não se pode ignorar que a seleção de
não são regularizados (Chiaraba, et al., peixes ornamentais, em boa medi-
2021); com isso, os sistemas conven- da, pode ser considerada como uma
cionais de controle sanitário animal têm “contrasseleção natural”. Dessa forma,
pouca efetividade na proteção sanitária se não houver cuidado na seleção das
dessa cadeia produti- matrizes e dos repro-
va. A questão sanitária dutores, os padrões de
é potencializada tendo
... os produtores cada variedade serão
em vista a entrada de
também devem perdidos, com os ani-
selecionar e
animais importados ou mais se aproximando
descartar aqueles
originários diretamente dos padrões “selvagens.
animais que fogem
de importações, situa- Essas falhas na seleção
das características
ção comum na piscicul- fazem com que a entra-
desejadas de cores,
tura ornamental. Dessa da de mais animais nos
formatos corporais e
maneira, a entrada de sistemas seja necessária
nadadeiras. Quando
animais nos plantéis, a produção se dá sem e os animais disponibi-
por mais que seja restri- essa pressão de seleção, lizados sejam de pior
ta e esporádica, deve ser as características dos qualidade, o que re-
acompanhada de pro- animais inseridos são duz o valor de venda e
tocolos sanitários para “perdidas”. de sua atratividade no
evitar a perda dos repro- mercado.
dutores introduzidos ou a disseminação Esses dois pontos, qualidade sa-
de doenças pelo plantel. nitária dos animais e manutenção de
Essa estratégia de introdução de re- padrões de linhagens específicas, são
produtores para a multiplicação de ani- questões a serem resolvidas pela cadeia
mais de elevado valor genético requer de produção e de distribuição de peixes
que os produtores tenham habilidade ornamentais. Se solucionadas, contri-
na seleção dos futuros reprodutores, buiriam para o crescimento do merca-
para que o “padrão” dos animais seja do, da rentabilidade da produção e da
mantido ao longo do tempo. Nesse distribuição de peixes ornamentais.
16 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
Em relação à qualidade dos ani- 4. Uso de tecnologias
mais, não somente os reprodutores são
Quanto ao uso de tecnologias, a pro-
importantes, mas também a seleção de
dução de peixes ornamentais apresenta
animais para a venda, com a classifica-
grande variação conforme as exigências
ção por tamanho e por características
de cada espécie bem como a interação
físicas desejadas dos animais. Nesse dessas tecnologias com os sistemas de
sentido, é importante observar que a manutenção dos animais. Nesse caso,
seleção de peixes ornamentais é um as tipificações clássicas dos sistemas de
trabalho complexo, uma vez que se produção animal, extensiva, semi-inten-
busca reduzir a variabilidade genética, siva, intensiva, superintensiva, são de
com a conquista de padrões específicos pouca utilidade para a definição do grau
que compõem as linhagens, processo tecnológico da produção.
que, na maioria das ve- Normalmente, as
zes, opõe-se à seleção ... as tecnologias tecnologias utilizadas
natural. Por este, os utilizadas para a para a produção dos pei-
produtores devem ter produção dos peixes xes ornamentais se des-
especial atenção com o ornamentais se tinam à manutenção e
descarte de animais que destinam à manutenção à mensuração dos parâ-
fogem aos padrões re- e à mensuração metros de qualidade da
queridos pelo mercado. dos parâmetros de água, da nutrição dos
Nessa perspectiva, qualidade da água, da animais, dos artefatos e
a escolha das linhagens nutrição dos animais, dos objetos necessários
dentro de cada espécie dos artefatos e dos para sua reprodução e
objetos necessários manejo. A necessidade
a ser produzida é fun-
para sua reprodução e de utilização dessas tec-
damental. Quando se
manejo. nologias dependerá da
trabalha com sistemas
espécie e da variedade
de produção em que a
produzida, da densidade animal estoca-
seleção de animais é dificultada, é mais da em cada fase da produção e das estru-
recomendada a produção de peixes e turas que serão empregadas para formar
linhagens que não se degenerem com o corpo de água no qual os animais se-
facilidade. Por outro lado, espécies que rão mantidos.
possuem muitas linhagens – e que facil- Dessa forma, mais proveitoso que ti-
mente perdem a coloração e os forma- pificar os sistemas de produção de acor-
tos requeridos pelo mercado – devem do com o grau tecnológico é observar
ser direcionadas a sistemas que possi- o controle que se tem sobre os parâme-
bilitam grande controle dos animais. tros de qualidade da água e da nutrição
1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 17
dos animais. Sistemas de produção que pre deve ser analisado de forma con-
têm menos controle sobre a qualidade junta ao objetivo da produção e à sua
da água são aqueles que se utilizam de inserção nos mercados. Sistemas que
menos recursos tecnológicos. Nestes, a possuem inserções marginalizadas ou
densidade animal é inversamente pro- que sofrem grandes explorações nos
porcional à exigência em qualidade da mercados, geralmente, são aqueles que
água pelos animais. Com isso, quanto possuem menor emprego de tecnologia.
mais exigente em qualidade da água é Ou seja, são menos dependentes de in-
o animal, menor deve ser a sua densida- sumos externos e requerem menor inje-
de de cultivo. A inserção de tecnologias ção de capital.
permite justamente a elevação da densi- Deve-se destacar que, de maneira
dade de cultivo com a manutenção dos alguma, a qualidade dos animais produ-
parâmetros de qualidade de água reque- zidos pode ser relacionada ao incremen-
ridos pela espécie. to tecnológico. Associar o maior uso de
Quanto à reprodução, alguns ani- tecnologias à maior qualidade dos ani-
mais requerem a utilização de tecnolo- mais é desconhecer que esta é mantida
gias específicas. Essas variam conforme pelo contínuo trabalho de seleção de
a aplicação de hormônios externos, ex- animais e de controle dos parâmetros
tratos de hipófise ou outros medicamen- de qualidade da água, o que não se as-
tos hormonais em diversos protocolos socia ao maior incremento tecnológico
aplicados a cada espécie; as mudanças na produção.
nos parâmetros da água, com destaque
para temperatura, dureza e condutivi- 5. Estratégias de
dade; além da melhor alimentação dos alimentação dos plantéis
animais. de peixes ornamentais
Uma tecnologia utilizada na produ- A alimentação dos peixes em siste-
ção de peixes ornamentais é o tratamen- mas de produção de ornamentais pode
to com hormônios esteroidais. Estes contar com o fornecimento de alimen-
podem ter a função de influenciar a di- tos artificiais, como as rações comer-
ferenciação sexual, aumentando a pro- ciais, ou se basear na alimentação na-
porção de machos ou fêmeas, conforme tural, como a utilização de alimentos
o valor de mercado dos animais. Outra vivos.
utilidade do tratamento hormonal é
acelerar a coloração, o que aumenta a 5.1. Alimentação artificial
liquidez dos plantéis com a venda dos A alimentação artificial dos peixes
animais mais jovens. ornamentais é feita por meio do forneci-
Contudo, o uso de tecnologias sem- mento de rações com mistura de ingre-
18 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
dientes e de processamento, de forma que por deteriorar a qualidade da água, o que
é composta por alimentos que não estão pode, inclusive, ser um fator de impacto
disponíveis naturalmente para os animais. negativo na sanidade dos animais. Além
As estratégias de alimentação com a utili- disso, a utilização de ingredientes de me-
zação de rações potencializam a capacida- nor digestibilidade impõe menor valor
de de produção dos sistemas ao permitir o nutricional ao alimento, mesmo que os ní-
aumento da densidade animal. veis de garantia sejam mantidos. Sempre
Quando utilizadas como única fonte que a ração artificial for o único alimento
de alimentação, as rações devem suprir fornecido, seus “defeitos tecnológicos”
todas as exigências de macro e micronu- terão maiores impactos na produtividade
trientes, atentando-se dos animais e na qualida-
para os microminerais, as de da água.
vitaminas e os compostos
Quando utilizadas Porém, a qualidade
pigmentantes, xantinas e
como única fonte de da ração não é restrita
astaxantinas, importan-
alimentação, as rações às matérias-primas que
devem suprir todas as
tes para a coloração dos a compõem. O proces-
exigências de macro
animais, o que é funda- samento dita as caracte-
e micronutrientes,
mental em se tratando de rísticas físicas que essa
atentando-se para
organismos ornamentais terá quando fornecida
os microminerais,
(Luna, 2019; Gomes, aos animais. O processa-
as vitaminas e
2021). os compostos mento influencia tanto
Para a alimentação pigmentantes, xantinas a digestibilidade dos ali-
artificial, a composição e astaxantinas, mentos quanto as carac-
das matérias-primas uti- importantes para terísticas de flutuabili-
lizadas para a elaboração a coloração dos dade dos pellets da ração.
da ração é fundamental. animais, o que é Nesse sentido, as rações
Matérias-primas de baixa fundamental em se devem ter características
qualidade, além de pos- tratando de organismos de flutuabilidade que res-
suírem reduzida ingestão ornamentais peitem os hábitos alimen-
voluntária por parte dos tares da espécie de peixe
animais, determinam piora na qualidade que será alimentada, possuindo a capaci-
de água. O impacto negativo se dá pelas dade, maior ou menor, de boiar. Quando
sobras da ração e pela reduzida digesti- o animal tem o hábito de se alimentar na
bilidade, o que aumenta a quantidade de superfície, é importante que a ração tenha
excretas dos animais. Nesse caso, os nu- a capacidade de flutuar por mais tempo; já
trientes permanecem no sistema, mas não se o animal se alimenta no fundo, a ração
se revestem em ganhos animais e acabam não necessita dessa característica.
1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 19
Frequentemente, o processamento peneirada, o que influencia as característi-
das rações e dos elementos que as com- cas de flutuabilidade com redução da ca-
põem consiste na extrusão, expansão, pacidade de boiar.
floculação e laminação. Esses potencial- Uma alternativa – ou complemento
mente melhoram a digestibilidade da die- – ao fornecimento de rações comerciais
ta quando realizados de forma adequada. é a elaboração de “patês”. Esses são com-
Quando utilizados de modo inadequado, postos por alimentos de elevado valor
entretanto, podem determinar a desnatu- nutricional e podem ser enriquecidos
ração de aminoácidos e vitaminas, o que com minerais, vitaminas e pigmentantes,
prejudica a qualidade da dieta e o desem- conforme a exigência de cada espécie.
penho dos animais. Tais patês são indicados para a alimenta-
Uma dificuldade enfrentada pelos sis- ção de animais mais exigentes em termos
temas de produção de peixes ornamentais nutricionais, que não têm as necessidades
é o fato de existirem poucas rações comer- nutricionais plenamente supridas pelas
ciais destinadas a essas espécies de forma rações comerciais. Cuidado adicional
específica. Outro ponto importante é o deve ser tomado com as sobras, uma vez
elevado custo desses ali- que, por serem alimentos
mentos, que os torna ina- No caso de alimentos muito ricos em termos
cessíveis para o gasto em vivos, a alimentação nutricionais, deterioram
grande escala. Com isso, natural pode ser de forma muito rápida a
o mais comum é a utili- composta por qualidade da água.
zação de rações comer- organismos que
ciais destinadas a peixes naturalmente se 5.2. Alimentação
de corte, principalmente multiplicam e crescem natural
tilápias e trutas, como no ambiente de cultivo A alimentação natu-
fontes artificiais de ali- dos organismos ral é composta por orga-
mentos para os animais. aquáticos, ou a partir nismos que servem de
Quando da utilização da produção em outros comida para os peixes
de rações destinadas à ambientes ... ornamentais. Pode ser
alimentação de espécies ... alimentos vivos que constituída de alimen-
de corte, não é incomum podem ser ofertados tos vivos, quando esses
haver a necessidade de [incluem]... desde assim são fornecidos aos
reduzir o tamanho do peixes de menor animais, ou de organis-
pellet para facilitar o con- tamanho a anelídeos, mos (podendo ser frag-
sumo pelos ornamentais. microvermes, Artemis mento deles) já mortos.
Nesse caso, é frequente salina, larvas de insetos No caso de alimentos
que a ração seja moída e e pequenos mamíferos. vivos, a alimentação na-
20 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
tural pode ser composta por organis- merece atenção é o da Artemia salina
mos que naturalmente se multiplicam eclodida no sistema de produção, tendo
e crescem no ambiente de cultivo dos obrigatoriamente a inserção contínua
organismos aquáticos, ou a partir da dos cistos do animal no sistema, porém
produção em outros ambientes, com o seu fornecimento aos animais depende
fornecimento aos peixes. Cabe destacar de um passo maior de manejo, a eclosão
que existe uma ampla gama de alimen- dos organismos e o seu fornecimento
tos vivos que podem ser ofertados na na forma recém-eclodida. Entretanto, é
produção ornamental, desde peixes de possível que se cultive esse organismo
menor tamanho a anelídeos, microver- para ser fornecido aos animais em suas
mes, Artemis salina, larvas de insetos e formas adulta ou jovem. Esse alimen-
pequenos mamíferos. to ainda pode ser oferecido de modo
A alimentação natural com alimen- descapsulado aos animais. Ou seja, não
tos vivos tem especial importância para existe um formato único de fornecimen-
a fase de larvicultura, notadamente para to desse alimento vivo aos peixes; cada
aqueles peixes cujas larvas são altriciais, estratégia tem um objetivo e uma utili-
ou seja, eclodem com tamanhos dimi- dade dentro dos sistemas de produção e
nutos e possuem baixa reserva de vitelo, apresenta variações no valor nutricional
que se esgota poucos dias após a eclo- para os peixes.
são, estimulando as larvas a se alimenta- Quanto ao fornecimento de orga-
rem exogenamente, ainda sem o sistema nismos mortos como alimento natural,
digestório completamente diferenciado podem-se oferecer fragmentos de carne,
e com a abertura bucal pequena, o que preparados de minhocas, larvas de inse-
dificulta a apreensão de alimentação tos congeladas, bem como pequenos ro-
artificial (Leitão, 2013). Também é im- edores e outros peixes já mortos. Esses
portante para espécies que apresentam alimentos naturais são utilizados por
pouco interesse por alimentos inertes, possuírem valores nutricionais e atrati-
por possuírem hábitos de caça. vidade maiores que a alimentação artifi-
A inserção da alimentação natural cial. O maior valor nutricional e a maior
nos sistemas de produção pode se dar ingestão têm efeitos positivos no de-
pela compra ou pelo cultivo dos alimen- sempenho produtivo e reprodutivo dos
tos vivos. No segundo caso, existem peixes, entretanto as sobras têm maior
dois sistemas de produção, o que pro- impacto negativo na qualidade da água.
duz o alimento vivo juntamente com Apesar de serem utilizados com o
os peixes e o que produz o alimento objetivo de aumentar o consumo e en-
vivo e os peixes de forma separada. Um riquecer a dieta, os alimentos naturais
exemplo dessa produção separada que inertes e os alimentos vivos apresen-
1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 21
tam características distintas quanto ao cies. O fornecimento de astaxantina au-
cuidado que se deve ter em relação ao mentou a taxa de fertilização e de sobre-
manejo da qualidade da água. Enquanto vivência dos ovos de kinguio Carassius
os alimentos vivos assim permanecem auratus (Tizkar et al., 2013), e a mesma
no ambiente de produção dos peixes, espécie, alimentada com páprica, apre-
por períodos mais ou menos longos, os sentou aumento da coloração corporal
alimentos naturais inertes apresentam vermelha (Hancz et al., 2003); Colisa
rápida deterioração, com impactos ne- lalia teve aumento significativo da colo-
gativos rapidamente notáveis na quali- ração vermelha na pele e, consequente-
dade da água. Dessa forma, a inserção mente, maior atração das fêmeas pelos
de alimentos vivos demanda estratégias machos alimentados com astaxantina
alimentares mais plásticas e diversas, sintética (Baron et al., 2008).
por exemplo, inserção de alimentos Os sistemas que apenas utilizam ali-
que permitem a busca ativa dos peixes mentação viva, devido à baixa densida-
pelo alimento, incentivando-os à maior de de peixes, apresentam baixa produ-
ingestão de alimentos pela caça, ou até tividade, e frequentemente os animais
mesmo fornecimento de alimentos a são estocados em viveiros com grandes
serem consumidos ao longo do tempo volumes de água. São sistemas mais
pelos animais, sem que a qualidade da comuns para a produção de peixes car-
água seja prejudicada – o que não pode nívoros que apresentam dificuldade de
ser feito com a inserção de alimentos adaptação a dietas artificiais e que apre-
inertes, a qual deve ser restrita ao con- sentam elevado valor comercial.
sumo imediato. Como já dito, esses
mesmos cuidados devem ser tomados 5.2.1. Produção direta de
alimentos vivos
quando são fornecidos “patês”, prepa-
rações que não devem permanecer por A produção direta de alimentos se
longos períodos na água, cujas porções dá quando os alimentos vivos são culti-
devem ser ofertadas em quantidade que vados em ambientes diferentes daque-
permita o consumo dos animais em, no les em que os peixes estão. Essa é uma
máximo, 24 horas. alternativa que permite a utilização de
Outra importante potencialidade organismos de vida aquática ou não.
dos alimentos naturais é o fornecimen- Nesse caso, existe a necessidade do for-
to de componentes pigmentantes, ca- necimento dos alimentos vivos dentro
rotenoides, por exemplo, que possuem do manejo alimentar estabelecido aos
diversas finalidades, como a intensifica- animais. Apesar de ser um manejo a
ção das cores e os efeitos positivos em mais, ele permite o controle da quanti-
aspectos reprodutivos de algumas espé- dade fornecida desses alimentos, com
22 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
a implementação de da atividade. O forneci-
... alimentos vivos de
diversos manejos que mento do alimento vivo
vida aquática como
potencializam a utili- deve compor estratégias
as dáfnias (Daphnia
zação da alimentação
sp.), as moinas (Moina de manejo alimentar,
natural. Quando se tra- sp.) e as branchonetas podendo ser utilizados
ta de alimentos vivos em algumas fases es-
(Dendrocephalus
de vida aquática como pecíficas da produção,
brasiliensis), [com]
as dáfnias (Daphnia como a larvicultura,
... manejo ... em
sp.), as moinas (Moina ambiente separado dos para animais em prepa-
sp.) e as branchone- peixes ... microvermes ro para exposição, ven-
tas (Dendrocephalus da ou para aqueles em
(Anguillula sp.), [e
brasiliensis), o manejo reprodução.
terrestres] as larvas
desses em ambiente se- Mesmo para a utili-
do besouro do
parado dos peixes per- amendoim (Palembus zação destes alimentos
mite a manutenção de que permanecem vi-
dermestoides), os
sua população sempre vos na água por algum
tenébrios (Tenebrio
período, é importante
próxima de sua fase de sp.), as enquitreias
maior densidade. Essa (Enchytraeus albidus), adequar o seu forneci-
mento em quantidade
estratégia de produção ...
suficiente para que os
em ambiente separado
peixes se alimentem
permite a utilização de ampla gama de
sem que haja sobras, uma vez que seu
alimentos vivos, como os microvermes
elevado valor nutricional contribui para
(Anguillula sp.), as larvas do besouro do
a deterioração da qualidade da água
amendoim (Palembus dermestoides), os
caso o alimento morra e permaneça em
tenébrios (Tenebrio sp.), as enquitreias
grande quantidade na água de cultivo
(Enchytraeus albidus), além daqueles de
dos peixes.
vida aquática.
Nesse cenário, cabe A produção indireta 5.2.2. Produção
ressaltar que os pro- ... por ... inoculação de indireta de
dutores de peixes or- alimentos vivos ou por alimentos vivos
namentais devem se ... reprodução natural A produção indireta
dedicar a um segundo ... dispensa o manejo de alimentos vivos é re-
sistema de produção, a de fornecimento dos alizada por meio da ino-
produção dos alimen- alimentos ... permite culação de organismos
tos vivos, o que resulta o consumo ad libitum que sirvam de alimen-
no ganho em comple- ... e ... [mantém a] tos vivos ou por meio de
xidade da organização qualidade da água ... sua reprodução natural,
1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 23
na água onde serão cultivados os pei- utilizada é a troca dos peixes de tanques
xes. Desse modo, a produção dos peixes assim que houver o consumo total da
e dos alimentos vivos se dá no mesmo população de alimentos vivos.
ambiente, e não existe, portanto, o con- Cabe mencionar que, em sistema
trole do consumo dos alimentos vivos de baixa densidade de animais, em geral
pelos peixes, o que, em alguns casos, sistemas nos quais os animais são pro-
leva ao consumo de toda a população duzidos em viveiros de grandes volu-
desses organismos em poucas horas ou mes, a produção de alimentos vivos se
dias. dá naturalmente, sem a necessidade de
Como vantagem, esse modelo dis- starts, somente com a adubação do tan-
pensa o manejo de fornecimento dos ali- que. Nesse caso, se não houver o forne-
mentos vivos aos peixes, permite o con- cimento de fontes exógenas de nutrien-
sumo ad libitum dos animais e impede tes, a produção de alimentos vivos e de
a piora da qualidade da água provocada peixes passa a fazer parte do equilíbrio
pela morte desses organismos ou pelas natural dos ciclos biológicos desses cor-
sobras de alimentos. Esses aspectos ga- pos de água. Apesar de serem modelos
nham importância, na medida em que de baixa produtividade, requerem baixo
há restrições de mão de obra disponível, investimento de capital para a manu-
mas, por outro lado, não permitem o de- tenção dos animais. Por consequência,
senvolvimento de manejos alimentares podem ser considerados sistemas que
apresentam bom potencial para a pro-
estratégicos, por meio do fornecimento
dução de peixes ornamentais.
controlado do alimento.
Quando da produção indireta dos 5.3. Sistemas de alimentação
alimentos vivos, normalmente são cria- que conjugam alimentação
das condições para as multiplicações de artificial e alimentação
microalgas para posterior consumo des- natural
sas pelos alimentos vivos. Comumente Para a produção de peixes orna-
se acrescentam fontes de nitrogênio, mentais, são os sistemas que associam
fósforo e carbono na água (processo a alimentação natural à artificial os
chamado de adubação) para potenciali- mais comumente encontrados. Nesses,
zar a produção de algas. São inoculados a alimentação natural é utilizada para
starts de culturas dos alimentos vivos ou melhorar o valor nutricional da dieta
se espera que esses surjam naturalmente disponibilizada aos animais ou para ali-
na água. Somente após a população dos mentar as formas jovens, enquanto a ali-
alimentos vivos alcançar volume ade- mentação artificial é usada para aumen-
quado, são colocados os peixes. Nesse tar a produtividade dos sistemas, pois
tipo de sistema, uma estratégia muito suporta maiores densidades de produ-
24 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
ção. Os alimentos vivos potencializam a ção urbana. Nesse aspecto, a produção
produção e contribuem para a melhoria de peixes ornamentais apresenta poten-
da “qualidade”, entendida como intensi- cial para se destacar como parte da agri-
dade de cor e tamanho dos animais ou cultura urbana devido à necessidade de
eficiência reprodutiva. menores espaços e de investimento de
Sob tal perspectiva, esses sistemas capital para a produção.
de alimentação permitem a utilização Os sistemas de produção de peixes
de rações comerciais de peixes de corte, ornamentais podem ser categorizados
como aquelas destinadas à alimentação naqueles que mais se aproximam dos
de tilápias ou trutas, tanto pelo menor ciclos naturais e, por isso, requerem
custo quanto pela maior disponibili- menor controle dos parâmetros produ-
dade no mercado em relação às rações tivos, ao mesmo tempo em que apresen-
específicas para ornamentais. Com isso, tam dificuldades para o controle destes
o equilíbrio nutricio- ou daqueles sistemas
nal da dieta se dá pelo ... rações comerciais que se afastam dos ci-
consumo dos alimentos de peixes de corte, clos naturais ao se apro-
vivos com elevado valor como ... de tilápias ou ximarem do aquarismo.
nutricional, estratégia trutas, ... [têm] ... maior Dado o menor volume
de manejo importante disponibilidade no hídrico, estes requerem
até mesmo quando se mercado ... maior controle dos pa-
utilizam rações próprias râmetros de qualidade
para cada espécie de peixe ornamental, de água, o que demanda a utilização
ao se analisar a ingestão de vitaminas, mais intensiva de tecnologia e capital.
gorduras e proteínas de elevado valor Para cada sistema de produção de
biológico (Morais, 2013). peixes ornamentais, é necessária a de-
finição da intensidade de controle dos
6. Descrição dos parâmetros de qualidade de água e de
principais sistemas de outros parâmetros produtivos, conse-
produção de peixes quentemente dos manejos e das tecno-
ornamentais logias exigidos para a manutenção da
A produção aquícola, de uma for- viabilidade dos sistemas, controle tão
ma geral, e a ornamental, em especial, mais intenso quanto mais afastado dos
abrem um novo paradigma em sistemas ciclos naturais.
de produção animal, nos quais a padro- Quanto à entrada de água, os siste-
nização dá lugar à diversidade. Os siste- mas podem ser estáticos – nos quais a
mas são desenhados a partir dos espaços água do sistema não apresenta entrada
disponíveis, com destaque para a produ- contínua, o que requer manejos de troca
1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 25
total ou parcial da água e para a inclinação dos
[Em] ... contato direto
– ou sistemas de entra-
da água com o solo, no taludes. Por não serem
da e saída contínua da
caso dos viveiros, [ou] revestidos, apresen-
água do sistema. Cabe
com o revestimento, no tam maior potencial de
apontar também a exis- produção de alimentos
caso dos tanques.
tência de sistemas aber- vivos e maior favoreci-
tos e fechados. Nos pri- mento dos ciclos bioló-
meiros, a água entra e sai e, no segundo, gicos, principalmente dos compostos
a água recircula quando passa por “trata- nitrogenados, contribuindo para que es-
mentos” físicos e biológicos para elimi- tes levem mais tempo para sua elevação
nação de compostos potencialmente tó- tóxica.
xicos e manutenção de seus parâmetros No caso dos tanques, o revestimen-
de qualidade. to apresenta como vantagem a menor
necessidade de manutenção estrutural
6.1. Produção de peixes
ornamentais em tanques e e evita as perdas de água por infiltração,
viveiros além de facilitar o processo de limpe-
za e desinfecção, com a necessidade de
Tanques e viveiros são estruturas menores tempos de vazio para a inser-
construídas para a produção aquícola, ção de novos ciclos de produção. Os
as quais têm em comum o controle da tanques podem ser revestidos por ma-
entrada e saída de água. A diferenciação teriais como lonas, geomembranas ou
dessas se dá pelo contato direto da água cimento.
com o solo, no caso dos viveiros, e com Quando a produção se dá em vi-
o revestimento, no caso dos tanques. veiros, cuidados especiais devem ser
Os sistemas de produção em vi- tomados para a correção da acidez do
veiros são os mais co- solo. De igual modo,
muns em peixes de cuidados de manejo de-
corte, mas se adequam [Em]... tanques, [há]
bem para a produção menor necessidade de vem ser tomados para a
de algumas espécies manutenção estrutural retirada de matéria orgâ-
de peixes ornamentais. e [evitam-se] as perdas nica e para o controle de
Habitualmente, os cui- de água por infiltração, pragas e doenças no in-
além de facilitar ... tervalo entre os ciclos de
dados construtivos dos
viveiros dependem das limpeza e desinfecção, produção. Falhas nesse
manejo afetam o desem-
dimensões e do tipo de com ... menores tempos
penho do novo lote, seja
solo, com atenção espe- de vazio para a inserção
de novos ciclos de pelos resíduos de mate-
cial para os sistemas de
produção. riais em decomposição,
entrada e saída de água
26 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
seja pela presença de iniciais de desenvolvi-
... peixes ornamentais
parasitos, de organismos mento, como as larvas,
[grandes] ... [ou que]
competidores ou até as pós-larvas e os alevi-
alcançam menores
mesmo de predadores nos. Outro cuidado es-
valores no mercado.
que porventura persis- Assim como no caso sencial é não permitir a
tiram no viveiro após a das carpas (Cyprinus entrada de espécies pre-
retirada dos peixes. sp.), a produção dadoras de peixes junto
Os tanques podem de peixes como os à água de entrada nos
ser escavados ou sus- kinguios (C. auratus), tanques.
pensos. Os tanques sus- também se adapta bem 6.1.1. Viveiros de
pensos, ordinariamente, a esse sistema, mas grandes dimensões
são construídos com em variedades menos
estruturas de alvenaria sensíveis a traumas Viveiros escava-
ou são tanques circu- mecânicos, sendo dos de grandes dimen-
lares de lona ou vinil. desaconselhável para o sões são sistemas que
Apresentam como van- cultivo das variedades se adequam bem para
tagem a facilidade de bolha ou telescópio, por a produção de peixes
manejo de água e dos exemplo ornamentais de maior
animais. Como desvan- tamanho, assim como
tagem, os sistemas suspensos apresen- para a produção de animais que não exi-
tam maior custo de implantação e maior gem processo rígido de seleção, aqueles
variação na temperatura da água. Neste que alcançam menores valores no mer-
aspecto, os tanques e viveiros escava- cado. Assim como no caso das carpas
dos apresentam a vantagem de manter (Cyprinus sp.), a produção de peixes
a temperatura da água com menores como os kinguios (C. auratus), também
variações. se adapta bem a esse sistema, mas em
Quando da produção de peixes em variedades menos sensíveis a traumas
tanques ou viveiros, a água nesses sis- mecânicos, sendo desaconselhável para
temas pode ser estática, sem trocas, ou o cultivo das variedades bolha ou teles-
os sistemas podem ser abertos, com cópio, por exemplo.
trocas permanentes. No momento em A principal característica desses sis-
que o sistema apresenta entrada e saída temas de produção é a pequena capa-
contínua de água, a saída deve retirar cidade de intervenção nos parâmetros
a água do fundo e não deve permitir a da qualidade da água, que se restringe
fuga de animais, uma questão especial- à troca da água. Habitualmente, a troca
mente importante para sistemas em que total de água é feita ao final do ciclo pro-
existe a presença de animais em fases dutivo, com despesca total dos animais,
1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 27
a qual, por sua vez, é dificultada pela di- a produção de animais classificados
mensão do tanque, não sendo rara a per- como de baixa qualidade, em termos de
da de animais em tal processo. Nesse as- conformação e coloração. Nesse caso,
pecto, a despesca deve ser feita por meio os animais podem ser colocados nos vi-
da instalação de caixas de coleta ou da veiros e reproduzirem de forma natural,
passagem de redes com sem intervenção para a
malhas que não lesio- seleção de reprodutores.
nem os animais. Não é
... tanques de Também não é realizada
incomum a ocorrência
pequenas dimensões
a uniformização de lotes
de elevada mortalidade
... [geralmente têm]
ou qualquer outra práti-
de animais após esse
maior produtividade ...
ca de manejo, a não ser
processo nos viveiros
pela maior facilidade
o controle da qualidade
devido a lesões pela
na uniformização dos
da água e a da alimenta-
passagem de redes ou a
lotes, no manejo de
ção, que pode ser redu-
troca de água e dos
outros mecanismos de
animais, na produção e zida aos alimentos vi-
coleta. No sistema de
na oferta de alimentos vos. Ao final do ciclo de
drenagem, também se produção, que pode ser
vivos. ... facilitam a
deve atentar à fuga de mais ou menos longo,
seleção de animais de
animais, com impactos dependendo da densi-
“qualidade” superior
negativos nos cursos de dade final de peixes que
... maior controle
água pela introdução de se espera, é realizada a
dos parâmetros de
exemplares exóticos. despesca total.
qualidade da água e
A seleção e o con-
troca mais frequentes, 6.1.2. Tanques de
trole da qualidade
o que possibilita aos pequenas dimensões
morfológica e da com-
animais um ambiente
posição de cores dos Na produção aquí-
mais “confortável”,
animais é também difi- cola em tanques de
contribuindo para a
cultada, uma vez que a pequenas dimensões,
produtividade dos
avaliação visual dos lo- geralmente há maior
sistemas.
tes apenas pode ser fei- produtividade do que
ta durante a despesca. em viveiros de maiores
Dessa forma, quando se trabalha com dimensões, o que pode ser explicado
viveiros de grandes dimensões, o ideal pela maior facilidade na uniformização
é que se faça a seleção dos animais an- dos lotes, no manejo de troca de água e
tes da introdução no tanque ou que se dos animais, na produção e na oferta de
trabalhe com um nicho de mercado no alimentos vivos. Adicionalmente, siste-
qual a seleção não é uma exigência, com mas de pequenas dimensões facilitam

28 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


a seleção de animais de
Um dos sistemas mais também potencializa a
“qualidade” superior. produtividade.
comuns de produção
Por serem menores, es- Quando da pro-
de peixes ornamentais é
ses tanques permitem
a utilização de tanques dução em sistemas de
maior controle dos pa-
de pequenas dimensões dimensões reduzidas,
râmetros de qualidade o formato dos tanques
forrados com lona
da água e troca mais merece atenção espe-
dupla-face utilizadas
frequente, o que pos- cial. Formatos retangu-
para ensilagem.
sibilita aos animais um lares são mais fáceis de
Esses tanques
ambiente mais “con- se manejar em compara-
frequentemente têm
fortável”, contribuindo ção aos quadrados e, es-
profundidade efetiva
para a produtividade
de 40 cm e dimensões pecialmente, aos redon-
dos sistemas. dos. Deve-se destacar
entre 2 x 3 até 4 x 4
Quando se trabalha que os formatos redon-
metros.
a reprodução dos peixes dos apresentam dificul-
na propriedade, os sis- dades adicionais de cap-
temas compostos por viveiros menores tura dos animais. Outra vantagem dos
são também mais eficientes para o tra- formatos retangulares é o maior apro-
balho com peixes territorialistas e que veitamento da área, com a existência
apresentam cuidados parentais, uma vez de menos “áreas mortas”, como aquelas
que é possível a introdução de um ou apresentadas pelos sistemas redondos,
poucos casais em cada tanque. No que fator relevante quando se trabalha com
tange à reprodução, tanques de menores a produção protegida em estufas ou em
dimensões também favorecem o mane- galpões ou com espaços limitados.
jo de captura de nuvens de alevinos ou
6.1.3. Tanques suspensos,
larvas, prática que, em alguns sistemas,
escavados ou parcialmente
potencializa a sobrevivência das formas escavados revestidos com
jovens, elevando a produtividade. De lona
modo semelhante, aumenta-se a efici-
ência de reprodução em espécies nas Um dos sistemas mais comuns de
quais se coletam ovos e larvas das bocas produção de peixes ornamentais é a
dos reprodutores. Uma vez que a troca utilização de tanques de pequenas di-
de água é um manejo fundamental para mensões forrados com lona dupla-face
a indução da reprodução em algumas utilizadas para ensilagem. Esses tanques
espécies de peixes ornamentais, merece frequentemente têm profundidade efe-
destaque a facilidade desse manejo em tiva de 40 cm e dimensões entre 2 x 3
tanques de menores dimensões, o que até 4 x 4 metros. Nesse caso, o mais indi-
cado é que a dimensão dos tanques seja
1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 29
aquela na qual a lona utilizada para a im- Tanques de alvenaria suspensos têm
permeabilização não necessite de cortes como vantagem a economia de espaço,
nem mesmo de emendas. porém apresentam maior variação da
Outra vantagem desses sistemas temperatura da água em relação àqueles
é o relativo baixo custo de implanta- escavados. Tal variação é ainda maior se
ção. Devido à pequena dimensão dos o fundo do tanque também for de alve-
tanques, esses podem ser feitos manu- naria. Para contornar esse problema, os
almente com a compra de poucos ma- tanques podem ser revestidos por lonas
teriais. Especial atenção deve ser dada quando têm seus fundos de terra, o que
para a retirada de qualquer objeto pon- contribui para a menor variação na tem-
tiagudo do fundo dos tanques, a fim de peratura da água e evita a infiltração de
se evitar que a lona fure, sendo justa- água no solo, elevando, portanto, a vida
mente a frequência de útil da estrutura. Na pa-
furos o maior problema rede de alvenaria, a lona
desse tipo de estrutura. Tanques de alvenaria de silo impede que haja
Quando se trabalha
suspensos têm como infiltração, não havendo,
com sistemas protegi-
vantagem a economia
assim, necessidade de
dos por estufas, o custo
de espaço, porém
reboco na parede, mas
de implantação de tan-
apresentam maior
é preciso forrar com
variação da temperatura
ques com paredes de al- isopor. No caso de uti-
da água em relação
venaria deve ser levado lização de lona tipo geo-
àqueles escavados.
em consideração, uma membrana, não existe a
vez que nesse modelo necessidade de revestimento das pare-
existe a necessidade de menor espaço des internas do tanque com isopor.
entre os tanques, o que permite instala- No momento em que os tanques
ção de mais tanques por estufa, reduzin- são revestidos por lona, o contato da
do, assim, o custo médio de instalação água com o cimento pode elevar o pH
por tanque. da água. Essa situação pode prejudicar
o desempenho produtivo e reproduti-
6.1.4. Tanques de alvenaria
vo de algumas espécies. Nesse sentido,
Tanques de alvenaria podem ser sus- é difícil a correção do pH da água por
pensos ou escavados, revestidos com lo- meio de acidificação, uma vez que o
nas ou não. Independentemente de seu contato da água com a parede de alvena-
formato, esses tanques devem ser feitos ria é constante.
com cuidados construtivos para evitar Outro ponto que merece destaque
vazamentos e rompimentos, principal- quanto aos viveiros de alvenaria é o seu
mente no caso de estruturas suspensas. elevado custo de instalação. Nesse sen-
30 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
tido, sua indicação seria valor agregado, que exi-
Sistemas de produção
para sistemas em recir- gem precisão absoluta
em aquários ou
culação, bioflocos ou dos parâmetros de qua-
aquapisos são ...
raceways, que permitem lidade da água em situa-
[de] alto custo de
o adensamento animal ção de restrição de espa-
implantação, ...
e a maior produtividade ços para a produção.
manutenção, [...]
dos sistemas. Esses sistemas são
implantação ... embora
A limpeza e a desin- também úteis para se-
o volume reduzido,
fecção desses tanques rem utilizados na pro-
possibilite maior ...
também são dificultadas dução de animais em
qualidade da água e
em comparação com o que o processo de se-
dos animais ... Devido
revestimento de lona. leção dentro das linha-
a isso, são sistemas
Desse modo, aspectos gens deve ser intenso,
de produção mais
sanitários devem ser le- pois é possível a visuali-
indicados para a
vados em consideração zação dos animais. Para
produção de animais
durante a produção nes- isso, pelo menos uma
de elevado valor
se modelo de tanque, lateral do aquapiso deve
agregado, que exigem
principalmente quanto ser feita com vidro.
precisão absoluta
aos manejos de limpe- Por possuírem pe-
dos parâmetros de
za e de desinfecção da quenos volumes de
qualidade da água em
estrutura. água, esses sistemas exi-
situação de restrição
gem a troca frequente
6.2. Sistemas de espaços para a
de água ou a instalação
de produção produção.
de equipamentos como
em aquários ou
aquapisos filtros e infusores de
oxigênio. Neles, é viável a introdução
Sistemas de produção em aquá- de aquecedores e de termostatos para o
rios ou aquapisos são opções com alto aquecimento e a manutenção da tempe-
custo de implantação, de manutenção ratura da água em faixas de maior con-
e dos equipamentos que requerem, forto aos animais.
sendo o custo de implantação por
volume de água dos mais elevados. Por 6.3. Sistemas alternativos de
outro lado, devido ao volume reduzido, produção
possibilitam maior controle dos Sistemas alternativos de produção
parâmetros de qualidade da água e dos de peixes ornamentais são os melhores
animais produzidos. Devido a isso, são exemplos da plasticidade desses culti-
sistemas de produção mais indicados vos. Compostos por recipientes, que
para a produção de animais de elevado
1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 31
têm a única função de Nesse item, cabe
Nos sistemas que
formar um corpo de atenção especial à pro-
se afastam dos
água para criação dos dução em caixas d’água
ciclos naturais, são
animais, esses sistemas e em piscinas plásticas,
necessários manejos
utilizam desde vasilhas
frequentes para garantir modelo de produção
plásticas, “carcaças de que trabalha com relati-
a qualidade da água,
geladeiras”, caixas de vos grandes volumes de
pois quanto menor
isopor, barricas de plás- água, para esse modelo
o volume de água e
ticos até estruturas de de sistemas alternativos,
maior a densidade
madeira forradas com
animal, mais frequentes e que permite a instala-
lona, enfim, uma infini-
devem ser os manejos, ção de sistemas de pro-
dade de materiais reci- dução em espaços redu-
maior intensidade
clados ou de uso adap- zidos com facilidade na
de troca de água e
tado. Nessa perspectiva, instalação e com custos
maior necessidade
deve-se avaliar a ne- relativamente baixos.
da instalação de
cessidade de instalação Dessa forma, a
equipamentos, como
de filtros e infusores produção de peixes
filtros e infusores de
de oxigênio ou outros ornamentais permite
oxigênio.
equipamentos que per- a utilização de vários
mitam a manutenção materiais em diferentes formatos. Com
dos parâmetros de qualidade da água, isso, destaca-se a produção de peixes no
ponto importante uma vez que, em ge- meio urbano, representando um grande
ral, são recipientes de volumes reduzi- potencial de produção na perspectiva da
dos. Outro ponto que merece destaque agricultura urbana.
é a possibilidade de limpeza e desinfec-
ção dos recipientes, passo fundamental
6.4. Considerações sobre
para a manutenção do status sanitário da
o manejo de qualidade de
água diante da diversidade
produção. de modelos de produção na
Usualmente, são sistemas de baixo piscicultura ornamental
custo de implantação, que se adequam
bem para pequenas disponibilidades de O manejo de trocas parciais e to-
área para a produção. Como nos outros tais de água, bem como a inserção de
sistemas, recipientes redondos apresen- equipamentos, como filtros, infusores
tam pior aproveitamento da área e difi- de oxigênio e aquecedores, dependerá
culdades adicionais para o manejo dos do sistema de produção adotado. Sob
animais, situações que, entretanto, não tal ótica, os sistemas que mais se apro-
inviabilizam a produção. ximam dos sistemas naturais, nos quais
a produção respeita, em parte ou total-
32 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
mente, os ciclos biológicos, necessitam adicionar a água, manter os animais e,
de menos ações de manejo e dispensam quando a qualidade da água se torna
a instalação de equipamentos. inadequada, os animais são deslocados
Nos sistemas que se afastam dos ci- de tanque com a troca total da água.
clos naturais, são necessários manejos Dessarte, não é um sistema com entrada
frequentes para garantir a qualidade da contínua de água nem um sistema em
água, pois quanto menor o volume de recirculação, configurando-se como sis-
água e maior a densidade animal, mais tema estático. Entretanto, é importante
frequentes devem ser os manejos, maior o conhecimento dessas tipificações, que
intensidade de troca de água e maior ne- se aplicam também à produção de pei-
cessidade da instalação de equipamen- xes ornamentais.
tos, como filtros e infusores de oxigênio.
6.5.1. Sistema em recirculação
Nesse caso, torna-se necessário também
o controle dos parâmetros de qualidade Os sistemas em recirculação são
de água por meio de métodos como os utilizados majoritariamente para a pro-
testes colorimétricos e as sondas. dução com reduzida disponibilidade de
água em que se trabalha com elevada
6.5. Análise dos sistemas a carga animal ou com animais que são
partir da entrada de água exigentes na manutenção dos parâme-
De uma maneira clássica, os siste- tros de qualidade da água, como é o
mas de produção de organismos aquá- caso do acará-disco (Symphysodon ae-
ticos são classificados como sistemas quifasciatus). Ordinariamente, esse mo-
abertos, com entrada e saída de água delo é implantado onde existe limitação
contínua, ou sistemas fechados, em que de espaço para a produção bem como
a água recircula pelo sistema. Para os sis- oferta constante e suficiente de energia
temas de recirculação, são necessários, elétrica.
minimamente, filtros, decantadores e Do ponto de vista produtivo, é um
bombas de água. sistema em que é mais fácil a manu-
Essas tipificações não contemplam tenção dos parâmetros da qualidade da
todos os sistemas pro- água. Por outro lado,
dutivos destinados à Os sistemas em exigem-se mais práti-
produção de peixes recirculação são utilizados cas de manejo para a
ornamentais. Os tan- majoritariamente para a manutenção do siste-
ques escavados de pe- produção com reduzida ma. Apresenta a van-
queno porte são bons
disponibilidade de água tagem de economia da
exemplos. Nesses, os
em que se trabalha com água, que virtualmen-
produtores podem
elevada carga animal. te recircula no sistema,
1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 33
não sendo necessária a animais que são selecio-
Sistemas de produção
troca. Todavia, o custo nados para competições
de peixes em raceway
de implantação e o ou exposições e para a
apresentam grande
custo de energia elétrica produção de peixes de
volume de entrada
são elevados. Nesse e saída de água. Sua elevado valor agregado.
sentido, cabe destacar aplicação para a 6.5.2. Raceway
que sistemas de recir- produção de peixes
culação são dependen- Sistemas de produ-
ornamentais se destina
tes de fontes de energia à produção de animais ção de peixes em raceway
elétrica. Períodos relati- de alto valor agregado apresentam grande volu-
vamente curtos de de- em densidade elevada e me de entrada e saída de
sabastecimento podem que suportam água com água. Sua aplicação para
inviabilizar os sistemas, baixas temperaturas. a produção de peixes
o que requer a inserção, Sistemas de raceway na ornamentais se destina
nas plantas produtivas, piscicultura ornamental à produção de animais
de geradores de energia são mais comuns na de alto valor agregado
elétrica para a redução produção de carpas em densidade elevada
do risco de morte dos (Cyprinus sp.) e e que suportam água
animais. kinguios (C. auratus). com baixas temperatu-
Na implantação de ras. Sistemas de raceway
sistemas de recirculação, alguns pontos na piscicultura ornamental são mais co-
devem ser levados em consideração. muns na produção de carpas (Cyprinus
Esses exigem sistemas de filtragem me- sp.) e kinguios (C. auratus).
cânica e biológica de elevada eficiência, Normalmente, são utilizados tanques
infusão de oxigênio no sistema e reser- de alvenaria, em formato circular, com
vatórios de água. Também devem per- saída da água na parte central para que o
mitir o isolamento de algumas partes fluxo de água no tanque auxilie o proces-
para tratamentos médico veterinário so de limpeza. Sua construção deve ser
dos animais. São sistemas de produção em alvenaria, uma vez que a movimenta-
que requerem estrito controle sanitá- ção da água leva ao desgaste das paredes
rio, com práticas eficientes de quaren- laterais, proporcionando a erosão dessas,
tena e verificação sanitária dos animais caso não sejam revestidas.
diariamente. O custo de implantação elevado e a
Habitualmente, esse modelo produ- necessidade de grande disponibilidade
tivo na piscicultura ornamental se pres- de água reduzem em muito a aplicabi-
ta muito bem para a produção em aquá- lidade desse modelo para boa parte dos
rios ou aquapisos, notadamente para sistemas de produção.
34 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
6.6. Produções protegidas bém serem instalados sombrites para a
por estufas proteção lateral da estufa.
Uma vantagem adicional da prote-
A manutenção da temperatura da
ção dos sistemas com estufas é o con-
água é fundamental quando se trata da
trole do ataque de predadores de peixes
produção de peixes. Como animais ec-
ornamentais. Ao se transformarem em
totérmicos, a temperatura ambiente está
barreiras físicas, as estufas são efetivas
intimamente relacionada ao sucesso
produtivo, à saúde e ao bem-estar. Dessa em reduzir o ataque de pássaros, larvas
forma, ela deve ser mantida dentro dos de libélulas, cobras de água e mamíferos
parâmetros exigidos pela espécie culti- de pequeno porte, além de dificultar a
vada. A temperatura da água tem efeito entrada de sapos e rãs, cujas formas jo-
sobre o estresse dos animais e a suscep- vens impactam a produção de peixes por
tibilidade ao ataque de meio da competição.
patógenos. Não obstan- 6. Considerações
A manutenção da finais
te isso, não só a tempe- temperatura da água é
ratura da água mas tam- A produção de pei-
fundamental quando xes ornamentais deve
bém a variação dela são se trata da produção
fatores estressores para ser entendida a partir
de peixes. Como da complexidade com-
os peixes. animais ectotérmicos, a posta pelos objetivos do
Em vista disso, a temperatura ambiente
proteção dos sistemas produtor, pela biologia
está intimamente
de cultivo com estufas da espécie e pela linha-
relacionada ao sucesso
é uma importante tec- gem produzida, pelo
produtivo, à saúde e ao
nologia que reduz as va- espaço disponível e pelo
bem-estar.
riações na temperatura sistema de produção es-
da água, especialmente relevante para colhido. Em vista disso,
regiões e estações do ano com ampla o manejo de animais tanto de seleção
variação térmica ao longo do dia. Para quanto de alimentação, bem como o
regiões de climas quentes ou para aque- manejo da qualidade da água, deve res-
las em que, em algumas épocas do ano, peitar as particularidades desses siste-
a temperatura alcança máximas maiores mas de produção.
que os 35oC, convém que as laterais da Ao se tratar de sistemas de produção
estufa sejam retráteis. Em momentos de de peixes ornamentais, há uma grande
forte insolação, elas devem ser levanta- diversidade de formatos, os quais po-
das para que a temperatura da água não dem se aproximar ou se afastar dos ci-
alcance valores que levem à morte dos clos biológicos. À medida que se afasta
animais. Nesse caso, é aconselhável tam- desses ciclos naturais, maior atenção
1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 35
deve ser dada ao controle dos parâme- E. A.; LUZ, R. K.; FARIA, P. M. C. Caracterização
socioeconômica da aquicultura ornamental na
tros de qualidade da água bem como à região da zona da mata mineira. Bol. Inst. Pesca,
instalação de equipamentos para sua São Paulo, 38(1): 89 – 96, 2012.
manutenção. 7. CHAYANOV, A. La Organización de la
Unidad Económica Campesina. Buenos Aires:
Independentemente do sistema de Ediciones Nueva Visión, 1974.
produção escolhido, aspectos ligados
8. CHIARABA, H., RAMIREZ, M. A., OLIVEIRA,
à qualidade sanitária dos animais e à A. F., LOPES, L. T., CAMARGO, G. H. S., &
qualidade dos peixes devem ser sempre HOYOS, D. C. M. Regulación de la producción
de peces ornamentales y sus efectos excluyente
mantidos para a viabilidade do merca- en la agricultura familiar en Minas Gerais, Brasil.
do. Análises fechadas e deterministas, Ratio Juris UNAULA, v. 16, n. 33, 2021.
que a priori indicam o “melhor modelo”, 9. COE, C. M.; FREITAS, M. C.; ARAÚJO, R. C. P.
Diagnóstico da cadeia produtiva de peixes or-
são de pouca efetividade para o trabalho namentais no município de Fortaleza, Ceará.
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jul./set., 2011.
atividade, deve-se ter a capacidade de
10. GOMES, E. S. A magia dos pigmentos.
adaptação dos conhecimentos sobre a Aquaculture Brasil, 2021. Disponível em:
biologia da espécie, as exigências produ- <HTTPS://WWW.AQUACULTUREBRASIL.
tivas, o capital, o espaço e os objetivos CO M / CO LU N A / 1 8 3 / A - M AG I A -D O S -
PIGMENTOS>
do produtor.
11. HANCZ, C.; MAGYARY, I.; MOLNÁR,
T.; SATO, S.; HORN, P.; TANIGUCHI, N.
7. Bibliografia citada Evaluation of color intensity enhancement by
paprika as feed additive in goldfish and koi
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36 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


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www.researchgate.net/publication/286294294_
The_Effects_of_Dietary_Supplementation_
of_Astaxanthin_and_B-caroten_on_the_
Reproductive_Performance_and_Egg_Quality_
of_Female_Goldfish_Carassius_auratus

1. Entendendo a diversidade dos sistemas de produção de peixes ornamentais 37


2. Manejo e qualidade
ambiental

pixabay.com
Daniela Chemim de Melo Hoyos1*,
Matheus Anchieta Ramirez2
1 Professora associada, bióloga, doutora, DZOO, Escola de Veterinária, UFMG
2 Professor associado, médico veterinário, doutor, DZOO, Escola de Veterinária, UFMG
* autor para correspondência: danichemim@gmail.com

1. Introdução sistemas semi-intensivos e intensivos e


em sistema de produção aberto ou fe-
O cultivo de orga-
chado, como o sistema
nismos aquáticos com O cultivo de de recirculação (Sri-
fins ornamentais no organismos aquáticos Uam et al., 2016), por
país é considerado hoje com fins ornamentais exemplo. O que esses
uma das atividades mais no país é considerado
lucrativas da piscicultu- hoje uma das atividades sistemas de produção
mais lucrativas da têm em comum, além
ra, em plena expansão
piscicultura, em plena da água, é que todos
nas últimas décadas em
expansão nas últimas eles vão gerar resíduos.
todo o mundo, em res-
décadas em todo o Normalmente esses re-
posta ao aumento da
demanda. Esse cultivo mundo, em resposta ao síduos são divididos em
geralmente é feito em aumento da demanda. três tipos: animais cul-
38 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
tivados, animais micro, como vermes e gerados pela ação do homem ou de in-
parasitas, e a água, o efluente. dústrias lançados no meio ambiente.
Qualquer organismo aquático que Essa água, para ser descartada do siste-
é cultivado em cativeiro nunca deve ser ma, tem que ser igual ou melhor àquela
solto na natureza, mesmo que seja um que foi coletada. A Resolução nº 357,
animal nativo daquela região, salvo al- de 2005, e sua versão complementar, nº
gum projeto que tenha como objetivo o 430, de 2011, do Conselho Nacional do
repovoamento. Isso porque, ao cultivar Meio Ambiente (Conama), é bem clara
algum animal em cati- quanto à obrigatorie-
veiro, ele vai ter conta- O efluente de dade do tratamento de
to com outros animais, aquacultura ornamental efluentes.
podendo pegar algum possui uma quantidade O efluente de aqua-
parasita do sistema, e, elevada de matéria cultura ornamental
ao ser solto na natureza, orgânica e apresenta possui uma quantidade
pode levar esse parasita alta demanda elevada de matéria or-
consigo. Um outro pro- bioquímica de oxigênio, gânica e apresenta alta
blema é quando esses grande concentração demanda bioquímica
animais se proliferam de sólidos em de oxigênio, grande
naquele ambiente e pre- suspensão e compostos concentração de sólidos
judicam todo o ecossis-
nitrogenados e em suspensão e com-
tema naquela região.
fosfatados, derivados postos nitrogenados e
Em relação aos
do acúmulo da sobra fosfatados, derivados
de ração usada na
animais micro, como do acúmulo da sobra de
alimentação dos
exemplo há o verme ração usada na alimen-
animais e dos seus
âncora, Learnea. Ele é tação dos animais e dos
dejetos.
um crustáceo parasita seus dejetos (Ahmad et
que foi trazido ao Brasil, al., 2021). Como conse-
mediante a importação de carpas e kin- quência, pode provocar a aceleração da
guios, e hoje é um problema sério no produtividade de algas, alterando a eco-
país, causando prejuízo financeiro por logia do sistema aquático e contribuin-
prejudicar a carne nos peixes de corte e do diretamente para uma aceleração no
o aspecto visual de peixes criados para processo de eutrofização dos corpos
ornamentação. d´água. Quanto mais fertilizantes e ra-
O principal resíduo originado pe- ção forem utilizados no cultivo, maior
las pisciculturas ornamentais é a água, será a concentração desses nutrientes e
o efluente. A palavra efluente advém maior será o potencial que essa água terá
do Latim effluens, que são os resíduos de eutrofizar os recursos hídricos natu-
2. Manejo e qualidade ambiental 39
rais (Ahmad et al., 2021). objetivo do tratamento, o nível do trata-
Portanto, os impactos ambientais mento que se quer alcançar e a destina-
decorrentes de aquacultura ornamental ção do efluente tratado, ou seja, se esse
incluem introdução de espécies exóticas, efluente será reutilizado em sistema de
alterações na qualidade da água, eutrofi- recirculação (Sri-Uam et al., 2016) ou se
zação, alterações nas comunidades zoo- será lançado em corpo receptor ou dis-
planctônica e fitoplanctônica, aumento posição da água residuária no solo. Com
no processo de sedimentação, aumento a aplicação de uma tecnologia eficiente,
da concentração de nutrientes no sedi- é possível olhar para o tratamento como
mento, introdução de patógenos, decrés- um verdadeiro investimento ao fim do
cimo da comunidade bentônica, mudan- processo, pois pode, em muitos casos,
ças nas táticas alimentares dos peixes permitir que a água seja reutilizada para
residentes, interferência novas atividades, como limpeza e tam-
na cadeia alimentar, en- bém irrigação (Vargas e
tre outros (Silva et al.,
Os dois principais Pereira, 2020).
2013).
tipos de tratamentos Os dois principais
[de efluentes] são: o tipos de tratamentos
Uma alternativa im-
mecânico e o biológico. que são aplicados na
portante para aumentar
O primeiro pode aquacultura ornamental
a produção de peixes,
ser feito por filtros, são: o mecânico e o bio-
diminuindo o impacto
tanques ou bacias lógico. O primeiro pode
ambiental e asseguran-
de decantação, e o ser feito por filtros ou
do a proteção das carac-
segundo por filtros
terísticas da água do am- biológicos ou lagoas de por tanques ou bacias de
biente onde os efluentes decantação, e o segundo
estabilização. por filtros biológicos ou
serão descartados, ou
lagoas de estabilização.
para devolver ao sistema e reutilizá-la, se-
Os sistemas de filtragem são compostos
ria utilizando a tecnologia de tratamento
por diferentes estruturas que atuam em
para a remoção de substâncias indese-
nichos, o que aumenta o poder de ação
jadas da água, ou sua transformação em
do sistema de filtragem e garante um
substâncias menos indesejáveis. As tec-
melhor tratamento da água.
nologias para o tratamento de efluentes
devem atender a certos critérios, como 2. Filtragem mecânica
custo-benefício, fácil manutenção e uso
de pouca energia.
e tanques ou bacias de
Para o dimensionamento de siste- decantação
mas de tratamento de águas da aquicul- Em um sistema de produção de
tura, deve-se definir, primeiramente, o peixes ornamentais ou em um aquário,
40 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
são gerados vários resí- que faz com que fiquem
Os métodos mais
duos sólidos, como fe- retidos. Diferentes ma-
utilizados em
zes dos animais e sobra
piscicultura ornamental teriais podem ser uti-
de ração, por exemplo. lizados para isso, e os
são a remoção
Esses resíduos, além de mais comuns são: areia,
[de efluentes] por
sujarem a água, acumu- perlon ou lã acrílica,
sedimentação e por
lam-se como matéria argila expandida, bri-
filtração mecânica.
orgânica no ambiente, ta e telas de nylon. Para
e essa, quando degrada- estruturas maiores, po-
da por bactérias, gera resíduos tóxicos dem ser utilizados filtros de tambor
aos organismos aquáticos. Por isso, de- rotativo e filtro de areia para piscina. A
vem ser retiradas do sistema (Kubitza, remoção dos sólidos pelo filtro mecâni-
2016). Os métodos mais utilizados em co, além de garantir uma melhor saúde
pisciculturas ornamentais são a remo- para os peixes, evita sobrecarregar o fil-
ção por sedimentação e por filtração tro biológico (Davidson e Summerfelt,
mecânica. 2005).
É sabido que, na aquacultura orna- Os tanques ou bacias de decanta-
mental, parte da produção – ou toda ela ção são também conhecidos como tan-
– de algumas espécies, como o acará-dis- ques de sedimentação. São estruturas
co (Symphysodon spp.), o acará-bandei- construídas normalmente na forma de
ra (Pterophyllum scalare), o betta (Betta viveiros e utilizadas para tratamento
splendens) (Vargas e do efluente (Bitar et al.,
Pereira, 2020) e o gu- A filtragem mecânica 2009). A água que sai
ppy (Poecilia reticulata) remove os resíduos do sistema é direciona-
de linhagem, é realizada sólidos presentes no da para esses tanques
em sistema de recircula- sistema por ação física, ou caixas, denominadas
ção, seja em estruturas criando uma barreira também como “zona
de aquários, aquapisos, que faz com que fiquem morta” (pois a água não
caixas d´água ou outras. retidos. tem para onde ir), para
E a utilização de filtro Os tanques ou bacias que os sólidos decan-
mecânico nesse tipo de de decantação [ou] de tem. Essas estruturas
sistema é fundamental. sedimentação ... são devem ser compridas e
A filtragem mecâni- estruturas construídas fundas, para aumentar
ca remove os resíduos normalmente na forma o tempo de passagem
sólidos presentes no de viveiros e utilizadas da água, o que diminui a
sistema por ação física, para tratamento do sua velocidade, faz com
criando uma barreira efluente. que as partículas sólidas

2. Manejo e qualidade ambiental 41


decantem, deixando, as- te antes que esse retorne
Os filtros biológicos
sim, a parte mais super- aos tanques, isto é, seja
podem ser usados
ficial da água mais limpa descartado na natureza.
para o tratamento
(Silva et al., 2013). Além da oxidação da
do efluente antes
É possível ter uma matéria orgânica, essas
que esse retorne aos
produção de peixes or- unidades de tratamen-
tanques, isto é, seja
namentais tendo apenas
descartado na natureza. to têm como objetivo
um tanque de decanta- Além da oxidação principal a transforma-
ção, sempre lembrando da matéria orgânica, ção de nitrogênio amo-
que seu dimensiona- essas unidades de niacal em compostos
mento deve ser de 10 a tratamento têm como bem menos tóxicos aos
30% da área total de cul- objetivo principal organismos aquáticos
tivo. Pode-se acrescentar a transformação de ornamentais (processo
a esse tanque de decan- nitrogênio amoniacal conhecido como nitri-
tação peixes predadores, em compostos bem ficação) (Gogoi et al.,
como tucunaré e traíra, menos tóxicos... 2021). Esses compostos
por exemplo, para que nitrogenados tóxicos
possam predar algum peixe que tenha são resultantes da sobra da alimentação
escapado do tanque, evitando, assim, que e da excreção de peixes, bem como de
ele chegue à natureza. Caso isso seja fei- fertilizantes (sulfato de amônio, fosfato
to, vale lembrar a importância de ter tela, de amônio, ureia hidrolisada em nitro-
para evitar o escape desses predadores gênio amoniacal e escoamento de bacias
para a natureza. hidrográficas).
À medida que os sólidos decantam, A nitrificação é a oxidação bioló-
esses deverão ser removidos periodi- gica dos compostos nitrogenados re-
camente, e uma possibilidade é utilizar duzidos, que são formados durante o
essa água decantada para irrigação, uma processo de decomposição, e ocorre
vez que está cheia de em duas etapas. Na pri-
nutrientes, ou descar- Os filtros biológicos são meira, bactérias oxidam
tá-la para o ambiente amplamente utilizados a amônia em nitrito
(Silva et al., 2013). na aquicultura (NO –) e, na segunda2
ornamental, sendo etapa, o nitrito é oxida-
3. Tratamentos também, assim como do em nitrato.
biológicos o filtro mecânico, um Os filtros biológi-
Os filtros biológicos dos componentes cos são amplamente
podem ser usados para essenciais dos sistemas utilizados na aquicul-
o tratamento do efluen- de recirculação. tura ornamental, sendo
42 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
também, assim como o ocorre estabilização da
Outro sistema para
filtro mecânico, um dos matéria orgânica pela
tratamento da água
componentes essenciais
oriunda de pisciculturas oxidação bacteriana ou
dos sistemas de recircu- pela redução fotossin-
muito utilizado são as
lação (Kubitza, 2016).
lagoas de estabilização. tética (Bitar et al., 2009;
Diversos autores desta-
Essas lagoas (artificiais) Chagas et al., 2012). As
cam a eficiência da sua lagoas anaeróbias são
são sistemas de
utilização na remoção um tipo de lagoa de
tratamento biológico
de compostos orgânicos estabilização normal-
em que ocorre
nitrogenados quando
estabilização da matéria mente indicado para
bem dimensionados,
orgânica pela oxidação tratamento de efluentes
conforme a quantida- com altas concentra-
bacteriana ou pela
de de carga orgânica a
redução fotossintética. ções de demanda bio-
ser tratada, sua vazão química de oxigênio
pelo filtro e a própria (DBO) e de sólidos em suspensão, na
natureza físico-química dos substratos. ausência de oxigênio. Um outro tipo
Esses substratos são também conhe- seriam as lagoas facultativas. Elas fun-
cidos como mídias. Várias mídias são cionam por meio do equilíbrio entre
utilizadas como substrato para fixação duas comunidades de micro-organis-
das bactérias nitrificantes, destacando- mos: algas que fazem fotossíntese con-
se, bio balls, argila expandida, areia, es- vertendo CO em O , necessário para
2 2
pumas, fibras sintéticas, brita, cascalho, as bactérias que realizam a decompo-
pedaços de conduíte, escovas, sacos de
sição da matéria orgânica contida nos
cebola, anéis de cerâmica, fitilho e flocos
efluentes. Um terceiro tipo de lagoa de
de isopor. Normalmente, quanto menor
estabilização seriam as lagoas de matu-
e mais porosa for a partícula, maior é a
ração, utilizadas para tratar efluentes
superfície específica do substrato, per-
pré-tratados ou após um tratamento
mitindo maior crescimento bacteriano
primário de remoção de sedimentos
por unidade de volume e, consequen-
maiores. Seu principal propósito é a
temente, aumentando a remoção dos
redução elevada de DBO e a redução
compostos nitrogenados (Ayvazian et
da necessidade de diluir as águas resi-
al., 2021).
Outro sistema para tratamento da duais, além de eliminar grande parte
água oriunda de pisciculturas muito dos organismos patogênicos, tornando
utilizado são as lagoas de estabilização. essa água mais propícia à reutilização.
Essas lagoas (artificiais) são sistemas Por fim, há os Wetlands, ou zonas de
de tratamento biológico em que raiz, os quais serão explorados aqui um
pouco mais.
2. Manejo e qualidade ambiental 43
Um Wetland ou zona de raiz As macrófitas são plantas que fa-
(“wetland” vem do inglês, em que wet zem fotossíntese e auxiliam também no
significa molhado, úmido; e land signifi- processo de ciclagem da água (Biudes
ca terra) é um tanque/viveiro, compos- e Camargo, 2012). Elas podem ser
to por plantas (macrófitas) e várias ca- submersas, parcialmente submersas
madas de areia, britas, cascalho e seixos ou flutuantes. As mais utilizadas são
de tamanhos diferentes, caco de telhas, caniço (Phragmites austrais), taboa
no qual a água entra pela superfície e é (Typha domingensis, T. latifolia), junco
absorvida por essas camadas até chegar (Scirpus lacustres), Azolla filiculoides,
ao seu fundo onde possui uma estrutu- aguapé (Eichornia crassipes) e algumas
ra de canos furados que irá coletar essa espécies dos gêneros Lemna, Salvinia
água para devolvê-la ao ambiente ou ou Lamnaceas. O uso de associação de
para retornar ao sistema de produção diferentes espécies de macrófitas é um
(Albuquerque et al., fator positivo, pois cada
2010). É considerada Um Wetland ou zona planta reage de forma
uma estrutura de baixo de raiz ... é um tanque/ diferente às mudanças
custo de implantação e viveiro, composto por sazonais, aumentando a
de fácil manejo, na qual plantas (macrófitas) e eficiência do sistema du-
é possível o emprego de várias camadas de areia, rante todo o ano.
materiais baratos que britas, cascalho e seixos Como todo siste-
permitem o tratamento de tamanhos diferentes, ma, no wetland também
de efluentes de piscicul- caco de telhas ... devem ser realizadas
turas ornamentais tanto manutenções e, para re-
de pequeno quanto de grande porte. duzir o descarte desordenado, é possível
Dentro de um sistema de zona de aproveitar a biomassa das macrófitas,
raiz, ocorrem diversos processos que pois ela pode fazer parte da composição
contribuem para a melhoria da qualida- nutricional de rações, do alimento para
de do efluente. São eles: adsorção de íons o gado, do paisagismo, da produção de
amônio pelos argilominerais, adsorção de fibras para usos diversos, da adubação
compostos à base de fósforo pela maté- do solo, da geração de energia elétrica,
ria orgânica, decomposição da matéria dentre outros usos.
orgânica, tanto aeróbia como anaero-
biamente, remoção de patógenos por 4. Considerações finais
microrganismos e retirada de fósforo Com a tendência crescente da pro-
e nitrogênio pelas plantas (macrófitas) dução de organismos aquáticos orna-
(Ayvazian et al., 202; de Vasconcelos et mentais, uma quantidade significativa
al., 2021). de resíduos tem sido gerada, e seu tra-
44 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
tamento e gerenciamento adequados forming ability with application in aquaculture ef-
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2. Manejo e qualidade ambiental 45


3. Nutrição de peixes
ornamentais

pixabay.com

Adria Silva Gomes1,


Francisco Tácio de Souza Simão2,
Manuela Caldas do Vale3, Ianca Dejeane Castilho de Souza4,
Larissa Evelyn Sena Lima5,
Rodrigo Yukihiro Gimbo6
1 Zootecnista, mestre em Aquicultura. Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, Universidade Nilton Lins*.
2 Aluno de mestrado, biólogo. Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, Universidade Nilton Lins.
3 Aluna de graduação em Medicina Veterinária. Universidade Nilton Lins
4 Aluna de graduação em Medicina Veterinária. Universidade Nilton Lins
5 Medica veterinária (CRMV-AM 1227). Laboratório de Fisiologia e Metabolismo de peixes, Universidade Nilton Lins.
6 Professor adjunto, zootecnista, doutor. Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, Universidade Nilton Lins.
*Autor para correspondência: rodrigo.gimbo@gmail.com
* Universidade Nilton Lins, Parque das Laranjeiras, Av. Prof. Nilton Lins, 3259 - Flores, Manaus, AM, 69058-030.

Introdução Apesar do grande


2016, as exportações
internacionais de pei-
Já é de conheci- potencial da
piscicultura xes ornamentais cres-
mento que a pisci-
ornamental, no Brasil ceram mais de 84%
cultura é o setor de
essa atividade ainda é (International Trade
produção animal que
pouco expressiva e a Centre, 2018), e os
mais cresce no mundo
produção não é capaz principais importa-
(FAO, 2018), e a pis-
de abastecer o mercado dores são Estados
cicultura ornamental
interno, principalmente Unidos, China e
merece destaque pelo
dos maiores mercados Reino Unido (Trend
grande crescimento
consumidores, Economy, 2020).
que demonstrou nos
últimos anos. Entre localizados na região Apesar do grande
os anos de 2001 e Sudeste. potencial da piscicul-

46 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


tura ornamental, no
Dietas para peixes Exigências e
Brasil essa atividade utilização dos
possuem teor
ainda é pouco expres-
siva e a produção não
proteico mais elevado nutrientes
quando comparadas
é capaz de abastecer com aquelas Energia
o mercado interno, disponibilizadas
principalmente dos Dietas para peixes
a outras espécies possuem teor proteico
maiores mercados terrestres. Isso acontece
consumidores, lo- mais elevado quando
devido à tendência dos comparadas com aque-
calizados na região peixes em utilizar a
Sudeste (Anjos et al., proteína dietética como las disponibilizadas a
outras espécies terres-
2009; Fernandes et al., fonte de energia. tres. Isso acontece devi-
2016). Assim, a cole-
do à tendência dos pei-
ta extrativa de peixes ornamentais,
xes em utilizar a proteína dietética como
principalmente na Bacia Amazônica,
fonte de energia (Perez-Jimenez et al.,
é a principal responsável pelas im-
2015). Por outro lado, manipulando-se
portações de peixes nativos orna-
as formulações das dietas, é possível
mentais, tanto em quantidade quanto
reduzir o catabolismo proteico com a
em variedade de espécies ( Junk et al.,
inclusão adequada de lipídeos e carboi-
2007).
dratos (Garcia-Meilan et al., 2014), o
Como consequência, são poucos
que traz como benefício a formulação
os estudos que abordam nutrição e de dietas mais baratas e ambientalmente
desempenho, principalmente de lar- corretas, por meio da redução de excre-
vas de peixes ornamentais (Degani, tas nitrogenadas (Wang et al., 2016).
1993), e grande parte dos estudos Além disso, a energia é importante
nutricionais para essas espécies são na regulação da ingestão de alimentos
baseados nas metodologias conven- (Sampaio et al., 2000) e é uma caracte-
cionais para peixes de corte (Sales e rística presente tanto em ingredientes
Janssens, 2003). Esses estudos são proteicos quanto em energéticos (NRC,
importantes para definir as exigên- 1993).
cias nutricionais e dar suporte para
formulações adequadas para as prin- Proteínas e aminoácidos
cipais espécies de peixes ornamen- As proteínas são macromoléculas
tais, visando não apenas à produção formadas a partir das ligações peptídi-
e à saúde dos peixes, mas também às cas entre diferentes aminoácidos e pos-
qualidades estéticas de cada espécie e suem funções diversas no organismo.
à qualidade da água. Em rações comerciais são as proteínas
3. Nutrição de peixes ornamentais 47
que contribuem, de ma- do interferir no valor
Como os peixes
neira significativa, com
ornamentais são grupo com que o peixe seria
os preços praticados comercializado.
diverso de espécies, ...
nos mercados. O nível Como os peixes
as dietas comerciais
proteico muitas vezes ornamentais são gru-
... não conseguem
também é utilizado po diverso de espécies,
atender às exigências
como forma de promo-
nutricionais de todas as com diferentes hábitos
ver a marca. Entretanto,
espécies ornamentais ... alimentares e exigên-
nem sempre a ração cias específicas, as dietas
com maior teor protei- comerciais disponíveis não conseguem
co irá resultar no melhor desempenho atender às exigências nutricionais de to-
(Fernandes et al., 2016). Há a necessi- das as espécies ornamentais, seguindo a
dade de levar em consideração a relação mesma tendência da realidade dos pei-
proteína:energia da dieta (Moura et al., xes de corte.
2020), o equilíbrio entre os aminoáci-
dos essenciais (Abmoradi et al., 2009) Lipídios e ácidos graxos
e a sua digestibilidade, antes de realizar Os lipídios são fundamentais na re-
qualquer afirmação quanto à qualidade serva de energia dos peixes e compõem
da proteína presente em determinado as membranas celulares; são precursores
alimento. de hormônios e atuam no transporte e
Como os aquários são os locais armazenamento de algumas vitaminas.
onde os peixes ornamentais são manti- As indústrias de ração geralmente utili-
dos na maior parte de sua vida, é de fun- zam os lipídios para dar o acabamento
damental importância aos pellets pelo fato de
que a proteína dietética Os lipídios são melhorarem as proprie-
seja bem utilizada, uma fundamentais na dades de sabor e textura
vez que o excesso pode reserva de energia dos dos alimentos consumi-
resultar no aumento de peixes e compõem as dos pelos peixes (NRC,
excretas nitrogenadas, membranas celulares; 1993).
como a amônia, que po- são precursores de Existem duas ques-
luem o meio ambiente, hormônios e atuam tões importantes, que
reduzem o crescimen- no transporte e devem ser tratadas se-
to, aumentam a suscep- armazenamento de paradamente quando se
tibilidade a doenças algumas vitaminas.
(Andrews et al., 2003) referem a lipídios. A pri-
e induzem ao aumento da adiposidade meira é a utilização de
dos peixes (Shearer et al., 1997), poden- lipídios (óleos) como fonte de energia
na ração, e a segunda é a inclusão de lipí-
48 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
dios como fonte de ácidos graxos. Como ácido linoleico (ômega 6), ou ambos;
abordado anteriormente, os lipídios já os peixes marinhos necessitam, além
podem ser incluídos nas dietas com o dos ômegas 3 e 6, de ácido eicosapenta-
intuito de reduzirem o catabolismo pro- enoico (EPA) e/ou do ácido docosahe-
teico e auxiliarem no crescimento dos xaenoico (DHA) (NRC, 2011).
peixes. Porém, se a sua inclusão numa Dietas para peixes ornamentais,
formulação for unicamente energética, geralmente, contêm entre 5 e 12% de
há o risco de os peixes apresentarem lipídios, devido aos diferentes hábitos
aumento de deposição de gordura na alimentares entre as espécies. Esses li-
cavidade abdominal, por apresentarem pídios podem também ser utilizados
baixa exigência energética (Pickova; como veículo para pigmentantes natu-
Morkore, 2007). rais, como a astaxantina, que confere
Por outro lado, quando os lipídios cores mais vibrantes e atraentes ao mer-
são adicionados à ração levando-se em cado de ornamentais.
consideração, além da energia, o perfil
de ácidos graxos, principalmente os que
Carboidratos
apresentam cadeia longa de carbonos e Embora a utilização de carboidratos
alto grau de insaturações, o formulador na alimentação de peixes divida a opi-
está preocupado em reduzir não só o ca- nião dos diferentes grupos de pesquisa
tabolismo de aminoáci- que atuam com nutrição,
dos como também os visto que se acredita que
... peixes,
aspectos funcionais dos os carboidratos teriam
independentemente
ácidos graxos em pei- aproveitamento limitado
do hábito alimentar,
xes, que exigem maior em peixes carnívoros, to-
utilizam o glicogênio
quantidade de ácidos dos os peixes, indepen-
como principal
graxos de cadeia longa dentemente do hábito
molécula de estoque de
e insaturados do que alimentar, utilizam o
energia no fígado e no
os mamíferos. Esses glicogênio como princi-
músculo e catabolizam
ácidos graxos apre- pal molécula de estoque
essa molécula para
sentam menor ponto
fornecimento de glicose de energia no fígado e
de fusão e melhoram no músculo e cataboli-
para o sangue.
a fluidez das membra- zam essa molécula para
nas celulares, princi- fornecimento de glicose
palmente em temperaturas mais baixas para o sangue. Além disso, a glicose, uma
(PIckova; Morkore, 2007). Peixes de vez no interior da célula, pode seguir na
água doce necessitam que seja incluí- via da pentose-fosfato para síntese de
do o ácido linolênico (ômega 3), ou o DNA e RNA, moléculas fundamentais

3. Nutrição de peixes ornamentais 49


para o processo de crescimento (mitose nio) (Çelik e Oehlenschläger, 2005).
e síntese proteica). Esses minerais podem ser obtidos a
Com relação ao baixo desempenho partir da água, da ração ou podem estar
de peixes carnívoros quando alimenta- presentes no sedimento (Canlı e Atlı,
dos com alto teor de carboidrato, isso 2003).
pode estar relacionado aos ingredientes Como os peixes ornamentais ab-
utilizados nesses estudos. Ingredientes sorvem alguns minerais presentes na
de origem vegetal possuem maior teor água através das brânquias, poucos es-
de carboidratos, mas também diversos tudos foram conduzidos com o intuito
fatores anti-nutricionais, que afetam di- de determinar a exigência de minerais
retamente a digestão e o aproveitamento na dieta (Logato, 2000), sendo dada
dos alimentos. Além disso, o alto teor de maior atenção para os microminerais,
fibra desses ingredien- como o selênio, uma vez
tes pode afetar o tempo que a exigência por esse
de trânsito gastrintes- Minerais são elementos mineral é extremamen-
tinal, de modo a dimi-
inorgânicos e possuem
te baixa, e, mesmo em
nuir o tempo que as en-
função importante
baixa concentração, mas
zimas digestivas atuam
aos peixes ... [sendo]
com fornecimento pro-
sobre o alimento.
... essenciais, sódio
(Na), magnésio (Mg), longado, isso pode levar
Minerais cloro (Cl), fósforo (P), o peixe a acumular esse
enxofre (S), potássio mineral em concentra-
Minerais são ele- ções tóxicas no organis-
(K), cálcio (Ca),
mentos inorgânicos e
manganês (Mn), ferro mo (Belitz et al., 2001).
possuem função im-
(Fe), cobre (Cu), zinco Vitaminas
portante aos peixes. A
(Zn) e selênio (Se).
falta de minerais essen- As vitaminas são
ciais, como sódio (Na), compostos orgânicos que devem estar
magnésio (Mg), cloro (Cl), fósforo (P), presentes na dieta, uma vez que os pei-
enxofre (S), potássio (K), cálcio (Ca), xes não as sintetizam em quantidades
manganês (Mn), ferro (Fe), cobre (Cu), adequadas (NRC, 2011). A ação des-
zinco (Zn) e selênio (Se), resulta em ses compostos pode ser observada em
mal funcionamento, doenças crônicas e diversas reações químicas envolvendo
morte dos peixes. Alguns metais podem o metabolismo energético, na visão, na
ser classificados como potencialmente composição dos tecidos e como imu-
tóxicos (alumínio, arsênico, mercúrio), noestimulantes, como é o caso do ácido
semi-essenciais (níquel, vanádio e co- ascórbico e dos tocoferóis (vitaminas C
balto) e essenciais (cobre, zinco e selê- e E).
50 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
As vitaminas são loração avermelhada na
As vitaminas são
classificadas em hidros- carne.
classificadas em
solúveis e lipossolúveis. Como os peixes não
hidrossolúveis e
Como exemplo das vi- sintetizam esses carote-
lipossolúveis. Como
taminas hidrossolúveis,
exemplo das vitaminas noides, é imprescindível
há os complexos B e C. que sejam fornecidos
hidrossolúveis, há
Já o grupo das vitaminas na dieta de peixes orna-
os complexos B e
lipossolúveis é repre- mentais para manter ou
C. Já o grupo das
sentado pelas vitaminas
vitaminas lipossolúveis destacar a pigmentação
A, D, E e K. As vitami- natural da pele, poden-
é representado pelas
nas hidrossolúveis pre- do agregar valor para
vitaminas A, D, E e K.
sentes na dieta são mais espécies ornamentais,
vulneráveis à lixiviação como as Nishikigoi e os acarás-disco
de nutrientes no meio aquático, perden- (Gouveia et al., 2003; Paripatananont et
do-se em poucos segundos após o arra- al., 1999).
çoamento (Pannevis; Earle, 1994). No
peixe, as vitaminas hidrossolúveis não Considerações finais
podem ser armazenadas por período
A nutrição de peixes ornamentais
prolongado e dificilmente haverá situa-
ainda utiliza as mesmas ferramentas
ções de intoxicação por vitaminas nesse
para determinar as exigências nutricio-
grupo.
nais e o manejo alimentar dos peixes
As vitaminas lipossolúveis merecem
de corte. Vale ressaltar que peixes or-
maior atenção. Essas são absorvidas no
namentais, em sua maioria, apresentam
intestino delgado da mesma forma que
tamanho reduzido, o que limita a deter-
os lipídios. Assim, dietas ricas em lipí-
minação dos coeficientes de digestibili-
dios podem dificultar a absorção de vi-
dade, dificultando, assim, a formulação
taminas lipossolúveis.
de dietas ótimas e com preço acessível.
Carotenoides Entretanto, a aquariofilia envolve um
nicho de mercado muito específico, em
A utilização de carotenoides na ali- que o consumo de ração é relativamen-
mentação de peixes é mundialmente te baixo, e, geralmente, o consumidor
difundida na produção de trutas e sal- compra sem levar em consideração o
mões. Os carotenoides naturais mais preço, ao contrário do observado em
utilizados são o betacaroteno, a luteí- peixes de corte. Assim, a indústria de
na, a zeaxantina, a astaxantina e a can- ração consegue utilizar ingredientes no-
taxantina (Ako et al., 1999; Ohkubo et bres, como farinha de peixe, farinha de
al., 1999), responsáveis por gerar a co- lula, óleo de bacalhau, entre outros, para

3. Nutrição de peixes ornamentais 51


garantir melhor aproveitamento pelos 11. GARCÍA-MEILÁN, I., ORDÓÑEZ-GRANDE,
B., & GALLARDO, M. A. (2014). Meal timing af-
peixes e sem comprometer a qualidade fects protein sparing effect by carbohydrates in sea
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3. Nutrição de peixes ornamentais 53


4. Reprodução
de peixes ornamentais
de água doce
pixabay.com

Rafael Yutaka Kuradomi1*,


Jôsie Schwartz Caldas2, Erico Luis Hoshiba Takahashi3,
Anna Paula Costa Scherer4
1 Professor adjunto, zootecnista, doutor em Aquicultura, Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia-ICET, Universidade Federal do Amazonas-
-UFAM
2 Bióloga (CRBio nº75.779), doutora em Aquicultura
3 Professor adjunto, biólogo, doutor em Aquicultura, Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia-ICET, Universidade Federal do Amazonas-
-UFAM
4 Doutoranda em Aquicultura pelo Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, engenheira de pesca, Universidade Nilton Lins e Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
*autor para correspondência: rkuradomi@ufam.edu.br

1. Introdução ... o mercado de peixes


ção, pesca extrativista
e produção em cativei-
Assim como em possui, basicamente, três
ro. No Brasil, o abaste-
outras cadeias aquíco- fontes: importação, pesca
cimento se dá pela im-
las, o domínio sobre as extrativista e produção
portação de espécies
técnicas de reprodução em cativeiro. No Brasil, o
e de variedades “me-
é de suma importância abastecimento se dá pela
importação de espécies e lhoradas”, pela pesca
para a piscicultura or-
de variedades “melhoradas”, extrativa de espécies
namental. Nesse sen-
pela pesca extrativa de nativas, a maioria es-
tido, o abastecimento
espécies nativas, a maioria pécies amazônicas,
do mercado de peixes
espécies amazônicas, e pela e pela produção em
possui, basicamente,
três fontes: importa- produção em cativeiro. cativeiro.

54 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


A produção de peixes ornamentais sicas da biologia, principalmente a re-
em cativeiro é realizada no país, prin- produtiva, dos peixes, bem como serão
cipalmente com espécies exó ticas, discutidos protocolos de reprodução já
como o Betta (Betta splendens), o pei- desenvolvidos ou testados para espécies
xinho-dourado (Carassius auratus), as de peixes ornamentais.
carpas (Cyprinus carpio) e os guppys.
1.1. Estratégias reprodutivas de
Para essas espécies, já existem pacotes peixes
tecnológicos desenvolvidos no exterior,
sendo a Ásia a maior retentora desses Existem cerca de 32 mil espécies de
pacotes. Também cabe destacar a produ- peixes, o que corresponde a mais da me-
ção de algumas espécies nativas, como tade de todos os vertebrados (Nelson;
o acará-disco (gênero Symphysodon) e Grande; WIlson, 2016). Os peixes tam-
o oscar (Astronotus ocellatus), as quais bém apresentam a maior variabilida-
foram melhoradas no exterior e são ex- de de estratégias reprodutivas entre os
portadas para o Brasil. vertebrados (Helfman
et al., 2009; Smith e
Assim, é evidente a fal- Existem cerca de 32
Wootton, 2016).
ta de domínio sobre a mil espécies de peixes,
A reprodução, no
reprodução dos peixes o que corresponde
contexto da biologia, é
ornamentais no Brasil, a mais da metade de
um dos processos mais
principalmente das es- todos os vertebrados
importantes, pois dela
pécies nativas. ... Os peixes também
são dependentes a pro-
Nesse contexto, apresentam a maior
dução de descendentes
a fim de que se tenha variabilidade de
e a perpetuação das es-
sucesso reprodutivo, estratégias reprodutivas
faz-se necessário ter entre os vertebrados ... pécies (Fusco e Mineli,
2019). Dessa forma, a
conhecimento das me-
possibilidade de contro-
lhores condições para a manutenção dos lar os processos reprodutivos dos peixes
peixes, uma vez que algumas espécies em condições de cativeiro é de suma
demandam adequações e alterações nas importância para assegurar a preserva-
condições ambientais de manutenção ção das espécies e o êxito da piscicultura
para a reprodução. Além disso, existem ornamental. Entre as principais caracte-
espécies que não reproduzem natural- rísticas para compreender a reprodu-
mente em cativeiro nem mesmo com a ção de peixes ornamentais estão o tipo
indução ambiental, exigindo tratamen- de desova, de fertilização, o desenvolvi-
tos hormonais para que se possa atingir mento embrionário, o cuidado parental
sucesso na reprodução. Assim, neste e a larvicultura. Contudo, este capítulo
capítulo, serão apresentadas noções bá-
4. Reprodução de peixes ornamentais de água doce 55
se dedica exclusivamente à reprodução vez, irão atuar nas gônadas, estimulan-
em cativeiro desses animais. do a síntese e a liberação de hormônios
A Tabela 1 descreve as diferentes esteroides, controlando, assim, o ciclo
características reprodutivas dos peixes reprodutivo dos peixes (Nagahama e
que podem ser utilizadas para agrupá- Yamashita, 2008; Lubzens et al., 2010;
-los de acordo com sua estratégia repro- Mylonas et al., 2010). Dessa forma, as
dutiva, conforme explicado na Figura 1. variações hormonais determinam um
ciclo reprodutivo dos peixes. Em al-
1.2. Endocrinologia da gumas espécies, esse processo é com-
reprodução de peixes posto por uma fase de repouso, seguida
O desenvolvimento das gônadas, por uma fase de maturação gonadal que
a maturação e a liberação dos gametas antecede a desova.
nos peixes ocorrem sob forte influência 1.3. Indução à
dos fatores ambientais, maturação gonadal,
tais como: variação do O desenvolvimento das ovulação e desova
fotoperíodo, tempera- gônadas, a maturação e
tura, chuvas e outros a liberação dos gametas
O ciclo reprodutivo
(Tyler e Sumpter, 1996; nos peixes ocorrem e as mudanças endócri-
Trudeau, 2006). Dessa sob forte influência nas nos peixes ocorrem
forma, o ciclo reprodu-
dos fatores ambientais, para que a reprodução
tivo e a reprodução dos
tais como: variação aconteça. Para algumas
do fotoperíodo, espécies, somente há a
peixes podem ser alte-
temperatura, chuvas e reprodução quando as
rados de acordo com o
outros. condições ambientais
meio em que vivem. e sociais são favoráveis.
A reprodução nos Por isso, quando os peixes estão man-
peixes é controlada pelo eixo hipotála- tidos em cativeiro (aquários, tanques e
mo-hipófise-gônadas (Bobe e Labbé, viveiros), podem sofrer disfunções re-
2010; Dufour et al., 2010; Lubzens et al., produtivas, tais como: ausência de ma-
2010; Mylonas et al., 2010; Zohar et al., turação sexual; ausência da maturação
2010), sendo o eixo responsável pelas gonadal e folicular, ausência da libera-
vias de sinalizações hormonais e pelos ção dos gametas, entre outras (Zohar
processos fisiológicos. De forma su- e Mylonas, 2001). Dessa forma, para
cinta, o hipotálamo regula a síntese e a algumas espécies, é necessário realizar
liberação de hormônios neuroendócri- a indução – ambiental ou por meio da
nos, que atuam na hipófise estimulan- aplicação de hormônios exógenos –
do a síntese e a liberação de hormônios para a reprodução dos animais.
gonadotrópicos (GtHs). Estes, por sua Portanto, quando a reprodução não
56 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
Tabela 1: Características reprodutivas de peixes

Característica Descrição
reprodutiva
Tipo de desova

Total Os ovos são liberados em um curto período na época reprodutiva.

Parcelada (em
Os ovos são liberados várias vezes durante uma longa época reprodutiva.
lotes)
Única Os ovos são liberados uma única vez na vida.
Sistema de acasalamento
Vários machos fertilizam os ovos de várias fêmeas; seleção mínima de
Promíscuo
parceiros.
Poligamia Um único macho acasala com várias fêmeas (poliginia), ou uma única fêmea
(harém) acasala com vários machos (poliandria).
Monogamia Há formação de casal.
Características sexuais secundárias
Ausente
Não há distinção na aparência externa entre machos e fêmeas.
(monomorfismo)

Permanente Há diferenças entre machos e fêmeas. Exemplo do Betta splendens.

Há diferenças entre machos e fêmeas somente na época reprodutiva.


Temporário
Exemplo do salmão e do tucunaré.
Comportamento
Migração
Espécies mudam de ambiente para realizar a reprodução.
(piracema)
Espécies defendem um local para cortejar, acasalar, desovar e cuidar dos
Territorialidade
filhotes.
Espécies podem realizar o cortejo para identificar parceiros, atrair e estimu-
Ritual de cortejo
lar o acasalamento.
Fertilização
Externa Os gametas são liberados na água.
Os espermatozoides são introduzidos no sistema reprodutor da fêmea com
Interna estruturas corporais especializadas (como nadadeiras modificadas) ou pelo
contato.

(continua)

4. Reprodução de peixes ornamentais de água doce 57


(Continuação)
Tabela 1: Características reprodutivas de peixes

Característica Descrição
reprodutiva
Desenvolvimento embrionário

Os filhotes se desenvolvem no sistema reprodutor. Nutrem-se de alimento


Vivíparo proveniente da mãe (mamotrofia), ou podem se alimentar das reservas de
vitelo do ovo (lecitrofia ou ovovivíparo).

Ovíparo O desenvolvimento ocorre fora do corpo da mãe.


Cuidado parental

Os ovos são liberados na coluna de água, no fundo, nas plantas ou podem


Ausente
ficar escondidos. Algumas espécies apresentam ovos adesivos.

O pai ou a mãe – ou os dois – pode guardar os ovos e os filhotes. Os ovos


podem ficar na coluna de água, no fundo, nas plantas e até fora da água.
Presente Algumas espécies constroem ninhos em locais – e com materiais – variados.
Os filhotes podem ser guardados em ninhos, próximo dos pais ou em cavida-
des corporais.

Espécie (nome científico) Nome popular


1 Paracheirodon axelrodi Neon Cardinal ou Cardinal Tetra
2 Paracheirodon innesi Neon Tetra
3 Corydoras aeneus
4 Corydoras paleatus
5 Hypancistrus zebra Cascudo zebra
6 Hypancistrus sp. “Pão do Xingu”
7 Pterygoplichthys gibbiceps Sailfin pleco ou Cascudo vela leopardo
8 Apistograma cacatuoide Ciclídeo-anão
9 Betta splendens Betta
10 Carassius auratus Peixinho-dourado
11 Epalzeorhynchos bicolor Labeo bicolor ou Redtail sharkminnow
12 Epalzeorhynchos frenatum Labeo frenatus ou Raibown sharkminnow
13 Puntigrus tetrazona Barbus sumatra

58 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


Figura 1: Principais características das estratégias reprodutivas de peixes e exemplos de gêneros (adap-
tado de Winemiller et al., 2008)

4. Reprodução de peixes ornamentais de água doce 59


ocorre naturalmente, ela pode ser obti- Distribuição: Endêmico do nor-
da por meio da indução ambiental, te da América do Sul, da bacia do alto
mediante alteração nos parâmetros físi- rio Orenoco e do rio Negro (Alderton,
co-químicos da água, nos fotoperíodos 2019; Fishbase, 2019).
e até mesmo no nível da água. Além da Parâmetros de água para a espé-
indução ambiental, existem vários tipos cie: pH: 4,0-6,0; dH:5-12; temperatu-
de hormônios sintéticos (p. ex., análo- ra: 23-27°C (Fishbase, 2019).
go de hormônio liberador de gonado- Parâmetros de água (reprodu-
tropina – GnRHa) e naturais (p. ex., ção): pH: 4,0-6,0; temperatura: 26°C;
extrato bruto de hipófise) utilizados na condutividade: 25 μS20 (Anjos e Anjos,
indução hormonal de peixes teleósteos. 2006).
O mais empregado no Brasil é o extra- Sexagem (características sexuais
to bruto de hipófise de carpa (EBHC) secundárias): Fêmeas
(Bock e Padovani, maiores que os machos
2000; Zaniboni-Filho O ciclo reprodutivo e as e com abdômen mais
e Weingartner, 2007), mudanças endócrinas abaulado quando ma-
pela técnica que promo- nos peixes ocorrem
duras (Anjos e Anjos,
ve a retomada da meio- para que a reprodução
2006).
se e a maturação final aconteça. Para algumas
Comprimento to-
do ovócito (Nagahama espécies, somente há a
e Yamashita, 2008; reprodução quando as tal: ± 4,5cm.
Reprodução: A re-
Mylonas et al., 2010). condições ambientais e produção requer aquá-
Contudo, existem os sociais são favoráveis.
rios específicos, com
hormônios sintéti- manipulação e controle do nível da água,
cos que podem ser aplicados, como o pH, dureza e condutividade. A desova é
GnRH (hormônio liberador de gona- do tipo parcelada e os ovos são adesivos
dotropina) de liberação rápida ou lenta (Anjos e Anjos, 2006). É recomenda-
(Kuradomi et al., 2016; 2017). do o uso de substrato artificial para de-
sova do tipo “mop” e, após a desova, é
2. Informações e preciso retirar os adultos para eles não
protocolos de reprodução comerem os ovos (Andrews, 1986). Os
de peixes ornamentais ovos eclodem depois de cerca de 1 dia,
e as larvas viram livres natantes depois
Neon Cardinal ou Cardinal Tetra de 5 dias (Alderton, 2019). As larvas
(Paracheirodon axelrodi) são sensíveis à luz e a mudanças bruscas
Ordem Characiformes; família nos parâmetros de qualidade da água e
Characidae; gênero Paracheirodon crescem lentamente (Andrews, 1986).
60 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
Os juvenis apresentam semelhança com Corydoras aeneus
os adultos a partir do 22º dia de vida
Ordem Siluriformes; família
(Anjos e Anjos, 2006). Callichtryidae; gênero Corydoras
Neon Tetra (Paracheirodon innesi) Distribuição: América do Sul
(Colômbia e Trinidad até a bacia do rio
Ordem Characiformes; família
da Prata, a leste dos Andes) (Fishbase,
Characidae; gênero Paracheirodon
2020a).
Distribuição: Endêmico do nor-
Parâmetros de água: pH: 6,2-
te da América do Sul, tributário de
8,0; dH: 5-19; Temperatura: 14 - 28°C
água branca e preta do rio Solimões
(Mahapatra e Dutta, 2015).
(Fishbase, 2019). Biologia da espécie: Encontrada
Parâmetros de água para a es- principalmente em substratos finos, em
pécie: pH: 5,0-70,0; dH: 1-2; tem- águas calmas e rasas, mas também habi-
peratura: 20-26°C (Fishbase, 2019) ta águas correntes, possui hábito bentô-
Parâmetros de água (repro- nico e onívoro (Fishbase, 2020a).
dução): pH: 5,5-6,5; tempera- Sexagem (características sexuais
tura: 25°C; condutividade: 28 secundárias) / Dimorfismo sexual:
(Chapman et al., 1998). os machos possuem nadadeira dorsal
Sexagem (características sexu- avantajada, as fêmeas possuem abdô-
ais secundárias): Fêmeas maiores men avantajado quando maduras e são
que os machos e apresentam maiores que os machos (Mahapatra e
abdômen mais abaulado (Chapman Dutta, 2015).
et al., 1998). Comprimento total: ±6cm (Kohda
Comprimento total: ± 4,0cm. et al., 2002).
Reprodução: A reprodução re- Reprodução: A variação da qua-
quer aquários específicos, com ma- lidade físico-química da água com o
nipulação e controle do nível da início da estação chuvosa estimula a re-
água, pH, dureza e condutividade produção (Mahapatra e Dutta, 2015). É
(Chapman et al., 1998). É recomen- necessário reduzir a temperatura em al-
dado o uso de substrato artificial do guns graus como estímulo à reprodução
tipo “mop” e, após a desova, é pre- (Wiegert, 2015; Mahapatra e Dutta,
ciso retirar os adultos para eles não 2015). O acasalamento é evidenciado
comerem os ovos (Andrews, 1986). pelo comportamento da corte, com estí-
Os ovos eclodem depois de cerca de mulo dos barbilhões do macho no dor-
1 dia, e as larvas viram livres natan- so da fêmea (Kohda et al., 2002, 1995).
tes depois de 3 a 4 dias (Andrews, O casal assume a posição “T”, a fêmea
1986). posiciona-se perpendicular ao macho
4. Reprodução de peixes ornamentais de água doce 61
e ingere o esperma, que passa rapida- cor amarela, 1mm de tamanho, adesi-
mente pelo sistema digestório, sendo vos) (Mahapatra e Dutta, 2015).
liberado do intestino e excretado junto Período de incubação / eclosão: 5
com os ovos depositados em suas nada- dias (22ºC) (Mahapatra e Dutta, 2015).
deiras pélvicas acomodadas formando Absorção do vitelo: 48h após a
uma bolsa (Kohda et al., 2002, 1995). eclosão (Mahapatra e Dutta, 2015).
Na sequência, a fêmea deposita os ovos Cuidado com a prole: Sem cuida-
fecundados na superfície de rochas ou do parental (Mahapatra e Dutta, 2015).
do limbo foliar de macrófitas aquáticas,
Corydoras paleatus
ou na parede do aquário (Kohda et al.,
2002, 1995). É comumente observado Ordem Siluriformes; família
nessa espécie, durante as desovas, um Callichtryidae; gênero Corydoras
comportamento promíscuo e aleatório, Distribuição: América do Sul (ba-
com vários machos, os quais se interca- cia do baixo rio Paraná e rios costei-
lam a cada postura (Kohda et al., 2002), ros no Uruguai e no Brasil) (Fishbase,
embora cada desova seja inseminada 2020b).
pelo esperma de um único macho, sem Parâmetros de água: pH: 6,0-
competição entre machos (Kohda et al., 8,0; dH: 5-19; temperatura: 18°C -
2002). 23°C (Fishbase, 2020b).
Reprodução em aquários: Sexagem (características sexuais
Temperatura ideal 14 / -28°C) secundárias) / Dimorfismo sexual: os
(Mahapatra e Dutta, 2015); proporção machos possuem nadadeira dorsal avan-
sexual 1 fêmea: 2 machos (Mahapatra tajada e as fêmeas possuem abdômen
e Dutta, 2015); uso de aquários orna- avantajado quando maduras.
mentados com rochas, substrato fino Comprimento total: Macho ±6cm
e macrófitas para a postura dos ovos. e fêmea ±7cm (Fishbase, 2020b).
Para iniciar uma criação, sugere-se a Reprodução: O acasalamento é
aquisição de 100 machos e 50 fêmeas evidenciado pelo comportamento de
(Mahapatra e Dutta, 2015). É produzido corte, com estímulo dos barbilhões do
comercialmente nos EUA, na Europa, macho no dorso da fêmea (Kohda et al.,
em Cinguapura e em Calcutá (Bengala 2002, 1995). O casal assume a posição
Ocidental – Índia) (Mahapatra e Dutta, “T”, a fêmea posiciona-se perpendicu-
2015). lar ao macho e ingere o esperma, que
Desova: Parcelada, desova mais de passa rapidamente pelo sistema diges-
uma vez por período reprodutivo (20 tório, sendo liberado do intestino e ex-
ovos por vez). cretado junto aos ovos depositados em
Fecundidade: 100-200 ovos (de suas nadadeiras pélvicas acomodadas
62 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
de modo a formarem uma bolsa (vídeo) ameaçada de extinção devido à pesca
(aqua13380, 2012). Na sequência, a clandestina para o tráfico e à desestru-
fêmea deposita os ovos fecundados na turação de habitat devido à implantação
superfície de rochas ou do limbo foliar da Usina Hidroelétrica de Belo Monte
de macrófitas aquáticas. Há relatos des- (ICMBio, 2018).
se comportamento reprodutivo como Biologia da espécie: Encontrada
um padrão, semelhante em várias es- principalmente em pedrais de corredei-
pécies de Corydoras, o que pode suge- ras do rio Xingu. Possui hábito bentô-
rir ser padrão do gênero (Kohda et al., nico e alimenta-se de perifíton e de or-
1995), inclusive, com vídeo no YouTube ganismos associados (Gonçalves, 2011;
(aqua13380, 2012) para essa espécie. Roman, 2011; Zuanon e Rap Py-Daniel,
Reprodução em aquários: 2008).
Temperatura ideal 22-24°C; proporção Parâmetros de água: pH: 6,5-
sexual 1 fêmea: 2 machos ; uso 7,0; condutividade; 100 µS/cm; tem-
de aquários ornamentados com rochas, peratura: 28-32°C (Sawakuchi et al.,
substrato fino e macrófitas para a postu- 2015).
ra dos ovos. Sexagem (características sexuais
Desova: Parcelada. secundárias) / Dimorfismo sexual:
Fecundidade: 100-200 ovos (de cor Os machos possuem o primeiro raio
amarela, 1mm de tamanho, adesivos). da nadadeira peitoral mais espinhoso
Cuidado com a prole: Sem cuida- que as fêmeas, também têm cabeça e
do parental. nadadeiras mais desenvolvidas (Seidel,
1996). As fêmeas maduras possuem o
Cascudo zebra (Hypancistrus abdômen mais arredondado, e os ma-
zebra)
chos são mais esguios (Roman, 2011).
Ordem Siluriformes; família Tamanho/comprimento: Os adul-
Loricariidae; gênero Hypancistrus tos podem atingir 8cm e ±6g (Caldas e
Distribuição: Endêmico do rio Godoy, 2019; Roman, 2011); todavia,
Xingu, Altamira, Pará, Brasil; ocorrência o comprimento médio para a primeira
no trecho abaixo das cachoeiras de Belo maturação é estimado em 3,5cm para
Monte até Gorgulho da Rita (ICMBio, machos e 5,5cm para fêmeas (Roman,
2018; Zuanon e Rap Py-Daniel, 2008). 2011).
Espécie ameaçada de extinção: Reprodução: O protocolo de in-
Espécie listada no livro vermelho, com dução ambiental conta com a seleção
o status: “criticamente em perigo de de peixes maduros, por meio das carac-
extinção” (ICMBio, 2018, 2016) e na terísticas sexuais secundárias (Ramos,
lista CITES (Pedersen, 2016). Espécie 2016; Seidel, 1996); proporção de
4. Reprodução de peixes ornamentais de água doce 63
(1:1) (macho: fêmea); alimentação dutor gonadorelina (Profertil) como al-
adequada às necessidades da espécie; ternativa para reduzir custos.
manutenção dos parâmetros de qualida- Peculiaridades: A espécie possui
de da água semelhantes ao rio Xingu e longa duração de motilidade espermáti-
uso de tocas de cerâmica com formato ca, cerca de 15 minutos, e vigor esper-
e dimensões apropriadas, cilíndricas, mático intermediário (Caldas e Godoy,
com fundo cego e arredondado, medin- 2019), incomum para a maioria das es-
do aproximadamente ⊘3,5cm x 12cm pécies de peixes de água doce, as quais
comprimento ( J.S. Caldas, 2019, obs. possuem, em média, 1 minuto de dura-
pess.). O macho cuida da toca e faz a ção de motilidade espermática. Tal fato
corte; a fêmea entra na toca, deposita favorece o uso desse material em tempe-
os ovos e o macho os fertiliza e cuida ratura ambiente por mais tempo e pos-
da prole (Seidel, 1996). A fecundidade sibilita o aprimoramento do protocolo
é baixa (ICMBio, 2018; Roman, 2011; de criopreservação de sêmen (Caldas e
Seidel, 1996; Zuanon e Rap Py-Daniel, Godoy, 2019), que está quase estabele-
2008), entretanto cada casal bem esta- cido (Caldas, 2020,).
belecido pode gerar uma prole de 10-15 Reprodução em aquários:
filhotes por mês ( J.S. Caldas, 2019, obs. Reproduzida há mais de duas décadas
pess.). Nesse sentido, maiores estudos por aquaristas internacionais (Seidel,
são necessários a fim de padronizar a 1996) e, comercialmente, por empresa
produção em grande escala no Brasil. da Indonésia (Evers et al., 2019). Até o
Ainda não existe um protocolo es- momento, não há reprodução comercial
tabelecido de reprodução induzida no Brasil ( J.S. Caldas, 2019, obs. pess.),
para a espécie. Há apenas estudos com mas existe a reprodução em cativeiro,
indução hormonal em machos, para a com foco na pesquisa para conservação
melhoria da qualidade do sêmen, a fim da espécie (ICMBIO, 2018; J.S. Caldas,
de otimizar os protocolos de criopre- 2019, obs. pess.).
servação de gametas para a conserva- Para que a reprodução comercial
ção futura do germoplasma da espécie, dessa espécie ocorra no Brasil, é im-
no Banco Brasileiro de Germoplasma portante que os estoques naturais
Animal da Embrapa (Caldas e Godoy, estejam protegidos. Nas produções co-
2019). O protocolo estabelecido de merciais, é importante a identificação
indução de machos conta com o uso dos peixes de origem da aquicultura por
de 3mg/kg de peixe de extrato bruto microchipagem, facilitando a fiscaliza-
de hipófise de carpa (EBHC) (Caldas ção do Ibama, de modo a minimizar o
e Godoy, 2019) e, em estudo recente tráfico desses animais para outros países
(Caldas et al., 2020), com o uso do in- (Ibama, 2019). Além disso, o protocolo
64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
de reprodução deve ser otimizado, a fim Tamanho/comprimento: ±13cm;
de produzir a espécie em maior escala ±25g.
no Brasil ( J.S. Caldas, 2019, obs. pess.). Reprodução: O protocolo de in-
Desova: Parcelada, sazonal, com dução ambiental conta com a seleção
dois picos reprodutivos durante os pe- de peixes maduros, por meio das ca-
ríodos de vazante e enchente do rio racterísticas sexuais secundárias; ali-
Xingu (Roman, 2011). mentação adequada ás necessidades da
Fecundidade: Menos de 20 ovos espécie; manutenção dos parâmetros de
por desova (ICMBio, 2018; Roman, qualidade da água semelhantes ao rio
2011; Seidel, 1996). Xingu e uso de tocas de cerâmica com
Absorção do vitelo: Após ±11 dias formato e dimensões apropriadas, cilín-
(Seidel, 1996). dricas, com abertura achatada e fundo
Cuidado com a prole: Possui cui- cego e arredondado, medindo aproxi-
dado parental do macho (Roman, 2011; madamente ⊘4,5cm x14cm de com-
Seidel, 1996). primento ( J.S. Caldas, 2019, obs. pess.).
O macho cuida da toca, a fêmea entra
“Pão do Xingu” (Hypancistrus sp.)
na toca, deposita os ovos e o macho os
Ordem Siluriformes; família fertiliza e cuida da prole (Sousa, 2015).
Loricariidae; gênero Hypancistrus Reprodução induzida com desova
Distribuição: Endêmico do rio seminatural. Após anestesiados com
Xingu, Altamira, Pará, Brasil, ocorrên- eugenol (solução estoque 100mg/L;
cia no trecho entre Belo Monte e Porto solução anestésica 30mg/L), machos e
Moz (Sousa, 2015). fêmeas recebem duas injeções de 1mL/
Parâmetros de água: pH: 6,5- kg de acetato de buserelina, intercala-
7,0; condutividade; 100 µS/cm; tem- das, com intervalo de 24h entre ambas,
peratura: 28-32°C (Sawakuchi et al., no final da base da nadadeira dorsal
2015). (Sousa, 2015). Casais são acondiciona-
Sexagem (características sexuais dos em aquários com toca para o estí-
secundárias) / Dimorfismo sexual: mulo à desova; percebe-se um aumento
Verificação da presença de espinhos ou no número de fêmeas que desovam com
estruturas pontiagudas (odontódios) o estímulo do indutor (Sousa, 2015).
bem desenvolvidos (machos) e pouco Estudos sobre a caracterização da
desenvolvidos (fêmeas), nas regiões qualidade espermática da espécie e o
laterais do corpo, entre o final da base efeito da indução hormonal de machos
da nadadeira dorsal e o do pedúnculo com gonadorelina (Profertil) e extra-
caudal, conforme observado por Sousa to bruto de hipófise de carpa (EBHC),
(2015). para a melhoria da qualidade do sêmen,
4. Reprodução de peixes ornamentais de água doce 65
possibilitaram o desenvolvimento de Picos reprodutivos durante o início da
protocolos de criopreservação de game- estação chuvosa, em outubro e ao fi-
tas para a conservação futura do germo- nal dela, nos meses de março e abril. O
plasma da espécie (F. Barros, 2020 obs. pico reprodutivo máximo nessa espécie
pess.; J.S. Caldas, 2020, obs. pess.). ocorre em outubro (Aya-Baquero et al.,
Reprodução em aquários: Até o 2016; Collazos-Lasso et al., 2018).
momento, não há reprodução comercial Fecundidade: 1483 ± 380 óvulos
no Brasil ( J.S. Caldas, 2019, obs. pess.), / fêmea madura (Collazos-Lasso et al.,
mas existe a reprodução em cativeiro 2018).
com foco na pesquisa para conservação Sexagem (características sexuais
da espécie (ICMBIO, 2018; J.S. Caldas, secundárias) / Dimorfismo sexual:
2019, obs. pess.). Aparente dimorfismo sexual; as fêmeas
Desova: Parcelada, sazonal, com exibem os primeiros raios da nadadeira
dois picos reprodutivos durante os pe- peitoral mais acentuado que os machos
ríodos de vazante e enchente do rio (Aya-Baquero et al., 2016). As matrizes
Xingu (Sousa, 2015). são selecionadas pela observação da pa-
Fecundidade: Entre 20 e 30 ovos pila urogenital (pronunciada e averme-
por desova (Sousa, 2015). lhada) e o resultado da pressão abdomi-
Cuidado com a prole: Cuidado pa- nal realizada em cada um dos espécimes,
rental do macho (Barbosa et al., 2015). o que permite observar os oócitos ou o
esperma. (Collazos-Lasso et al., 2018).
Cascudo vela leopardo Reprodução: Os machos maduros
(Pterygoplichthys gibbiceps)
escolhem as paredes dos canais dos rios
Ordem Siluriformes; família para construírem ninhos constituídos
Loricariidae; gênero Pterygoplichthys por buracos de 30 a 70cm. São ovíparos,
Distribuição: Bacia do rio Orinoco, com ovos demersais (Collazos-Lasso et
Colômbia (Collazos-Lasso et al., 2018). al., 2018).
Comprimento: ±50cm (adulto) Reprodução comercial: Até o mo-
(Collazos-Lasso et al., 2018). mento, não há reprodução comercial es-
Parâmetros de água: Temperatura tabelecida para a espécie.
26,5 ± 0,3 ° C, pH de 6,7 ± 0,1 (Aya- Protocolo de indução preliminar
Baquero et al., 2016; Collazos-Lasso et para a espécie:
al., 2018). Collazos-Lasso et al., (2018), ao
Biologia reprodutiva: Desenvol- testarem o uso dos indutores hormo-
vimento sincrônico por grupos de oó- nais EBHC e de análogo do hormônio
citos com desova total (Aya-Baquero et liberador de gonadotrofina s GnRHa
al., 2016; Collazos-Lasso et al., 2018). de salmão adicionados de dom-
66 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
peridona (Ovaprim®) , identificaram extremo oeste do estado do Amazonas,
maior eficiência do EBHC utilizado em (Alves et al., 2009).
duas doses para fêmeas (1ªdose: 0,5mg/ Comprimento: 5-9cm.
kg e 2ª dose: 5,5mg/kg de peixe), com Tamanho da primeira desova
intervalo de 24h entre elas, e 4mg/kg de (comprimento e peso): 3,70 ± 0,28cm
peixe, para machos, após a segunda dose e 0,93 ± 0,20g, para as fêmeas, e de 4,25
das fêmeas. ± 0,49cm e 2,16 ± 0,74g, para os ma-
O procedimento de indução e cole- chos. A primeira desova ocorre em 6-8
ta de gametas contou com anestesia pré- meses de vida (Alves et al., 2009).
via com 2-fenoxietanol (300ppm). Os Parâmetros de água: Indicado pH
hormônios são injetados por via intra- ligeiramente ácido, embora tenha sido
muscular na parte inferior da nadadeira mantido pH 7,2-7,7 em experimento de
dorsal entre as placas justapostas, após reprodução para a espécie. Temperatura
pesagem de cada peixe para determina- 25,5-26°C; condutividade: 86-94µS/
ção dos cálculos hormonais (Collazos- cm; OD 7-7,2mgO2/L (Alves et al.,
Lasso et al., 2018). 2009).
Após o período de latência ±24h Sexagem (características sexuais
(26,5°C), é efetuada a extrusão e a cole- secundárias) / Dimorfismo sexu-
ta dos gametas, os quais são misturados al: Os machos maduros apresentam
a seco e hidratados. Passados 10 minu- prolongamentos filamentosos nas na-
tos, os ovos fecundados são levados à dadeiras dorsal e caudal, possuem três
incubação com fluxo horizontal, sendo faixas escuras laterais no abdômen, que
incubados por cerca de 70h (25,4°C) se estendem da região ventral até o pe-
(Collazos-Lasso et al., 2018). dúnculo caudal. As fêmeas possuem a
Peculiaridades: Os machos da es- nadadeira caudal truncada e um ocelo
pécie obtiveram um volume médio de arredondado na região central abdomi-
50 ± 9μL de sêmen, com uma viabilida- nal e apenas duas listras distintas, ambas
de acima de 95%, com motilidades su- iniciando na axila peitoral e estenden-
periores a 50 minutos (Collazos-Lasso do-se até o pedúnculo caudal (Alves et
et al., 2018), pouco comuns para peixes al., 2009).
de água doce. Reprodução (Protocolo de repro-
dução natural em cativeiro): Os casais
Ciclídeo-anão (Apistograma podem ser mantidos individualmente
cacatuoide) em aquários de reprodução com 40L,
Ordem Perciformes; família enriquecidos ambientalmente com to-
Cichlidae; gênero Apistograma cas feitas de tubos de PVC de 3 polega-
Distribuição: Bacia Amazônica, das, cortados longitudinalmente com
4. Reprodução de peixes ornamentais de água doce 67
15 cm de comprimento (Alves et al., Peculiaridade: Os machos podem
2009). ser agressivos com as fêmeas. Sugere-se
O macho de A. cacatuoides efetua atenção na formação de casais e a co-
a corte exibindo suas nadadeiras e efe- locação da fêmea antes do macho no
tuando movimentos erráticos, com aquário.
pequenos espasmos que, às vezes, em-
Betta (Betta splendens)
purram a fêmea. A fêmea responde aos
estímulos do macho, adquirindo uma Ordem Perciformes; família
coloração mais clara que a normal, e re- Osphronemidae; gênero Betta
aliza os mesmos espasmos que o macho Distribuição: Proveniente do su-
(Alves et al., 2009). deste asiático, bacia do rio Mekong
Com o comportamento de corte (Faria et al., 2006; Fishbase, 2020d).
bem-sucedido, ambos vão até o local do Parâmetros de água para a espé-
abrigo e começam a limpá-lo, sendo rea- cie: pH: 6,0 - 8,0; dH:5-19; temperatu-
lizada a postura em pequenos lotes; a fê- ra: 24C°-30°C (Fishbase, 2020).
mea libera os ovócitos na parte superior Sexagem (características sexuais
do abrigo (Alves et al., 2009). Os ovos secundárias): Os machos dessa espécie
são aderentes e demersais. Em seguida, apresentam dimorfismo sexual a partir
os ovos são fertilizados pelo macho, que dos dois meses de idade, com desen-
libera o esperma com um rápido movi- volvimento das nadadeiras caudais e
mento de corpo e de batimento das na- anais alongadas, com maior tamanho de
dadeiras, principalmente as peitorais e a comprimento total, em contraste com
anal (Alves et al., 2009). as fêmeas, que têm nadadeiras menos
Cuidado parental: Durante o cui- desenvolvidas e maior largura do cor-
dado parental, a fêmea pode transferir, po (Faria et al., 2006; Santillán, 2007;
com a boca, os ovos e as larvas para Aguiar, 2016).
outros refúgios (ninhos) (Alves et al., A seleção das matrizes é feita a par-
2009). tir de características comportamentais
Fecundidade: Produção de 1410 e físicas, os machos devem ser maiores,
ovos em 12 posturas, durante o período agressivos e ativos (Faria et al., 2006).
de 36 meses (Alves et al., 2009). As fêmeas devem ser menores, com
Eclosão: Após 7 dias da desova presença de um ponto branco no ovo-
(Alves et al., 2009). positor, abdômen abaulado e estrias
Absorção completa do vitelo e verticais na lateral do corpo (Santillán,
inserção de alimento exógeno (náu- 2007). Durante uma semana após a for-
plios de Artêmia salina): Após 9 dias mação dos casais, eles devem receber
(Alves et al., 2009). alimentação com alto teor de proteínas
68 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
que supram suas necessidades nutricio- curvando seu corpo para que nadadeiras
nais (Bronstein, 1984; Faria et al., 2006; caudais e cabeças se aproximem e se
Santillán, 2007). toquem; o macho envolve o corpo dela
Comprimento total: ± 6,5cm. em um abraço em que os papilas uroge-
Reprodução: Sua reprodução pode nitais se aproximam e o macho compri-
ser obtida de diversas formas. Neste me o seu corpo contra o corpo da fêmea
texto será descrita apenas a indução am- (Rainwater, 1967). A fêmea expele cerca
biental, em que inicialmente se deve co- de 100 a 600 ovos, que são fecundados
locar o macho em aquário de 10 a 30 li- naquele momento pelo macho. Estes
tros, com altura de coluna de água entre caem no fundo do aquário e são cole-
10cm e 15cm para reprodução (Faria et tados um a um pelo macho; em alguns
al., 2006; Santillán, 2007). A formação casos, pela fêmea também, que os leva
do ninho de bolhas começa com a de- até o ninho de bolha (Faria et al., 2006).
posição de bolhas na interface ar-água; Após a desova, o macho fica mais agres-
o macho procura superfícies verticais sivo e se colocando embaixo do ninho, a
ou fendas próximas a cantos para co- fim de cuidar dos ovócitos; a fêmea fica
meçar a construção (Rainwater, 1967; em posição oposta ao do nicho e deve
Bronstein, 1980). A fêmea é colocada ser retirada (Rainwater, 1967; Faria et
no aquário em estrutura que permita a al., 2006). A eclosão dos ovócitos acon-
sua visualização e a troca química com o tece entre 24 e 42 horas, e o macho deve
macho. Após o contato visual, há inten- ficar com a prole até esta começar a na-
sificação do comportamento do macho, dar verticalmente, o que deve acontecer
que apresenta maior exibição corporal e no 4º ou no 5º dia após a eclosão (Faria
aumento do tamanho do ninho de bo- et al., 2006).
lhas (Rainwater, 1967). Após 10 horas Parâmetros de água na incubação:
introduzida, a fêmea deve ser solta no 27°C; pH: 6,0-7,0 (Faria et al., 2006).
aquário (Santillán, 2007), iniciando o
comportamento de perseguição e fuga Peixinho-dourado ou kinguio
entre o casal (Rainwater, 1967). Caso as
(Carassius auratus)
agressões sejam constantes e ininterrup- Ordem Cypiniformes; família
tas, a fêmea deve ser separada do macho Cyprinidae; gênero Carassius
e solta horas depois (Faria et al., 2006). Distribuição: Proveniente da Ásia
O sucesso na corte dar-se-á com Central (Watson et al., 2004; Fishbase,
a ida da fêmea para debaixo do ni- 2020d).
nho, iniciando, assim, o abraço nupcial Parâmetros de água para a espé-
(Rainwater, 1967; Faria et al., 2006). cie: pH: 6,0-8,0; dH:5-19; temperatu-
O macho nada lateralmente à fêmea, ra: 0°-41°C (Fishbase, 2020).
4. Reprodução de peixes ornamentais de água doce 69
Sexagem (características sexuais machos usam a cabeça para comprimir
secundárias): Diferenças corporais a área do abdômen das fêmeas, seguida
entre machos e fêmeas podem ou não de natação paralela e toques em suas pa-
ser notadas durante a fase reprodutiva, pilas urogenitais e brânquias (Bjerselius
com a presença de tubérculos na base et al., 2001).
dos opérculos próximos às nadadeiras Nas primeiras horas do dia, as fê-
peitorais (Appelt e Sorensen, 2007). meas que estão receptivas à reprodução
As fêmeas estão aptas à reprodução deslocam-se para próximo ao local de
com aproximadamente 233 dias de vida desova. O substrato pode ser natural,
(Ortega-Salas e Reyes-Bustamante, com o uso em geral de plantas aquá-
2006). Para a seleção das matrizes a ticas de raízes longas como o aguapé
serem usadas na reprodução, as fêmeas (Eichhornia crassipes) (Vazzoler, 1996),
aptas devem apresen- ou artificial, chamado
tar ventre ligeiramente Kakabans, fabricado em
A indução ambiental tela plástica com feixes
abaulado e papilas uro-
acontece em tanques de capim seco ou mate-
genitais avermelhadas,
ou aquários com
e os machos devem libe- rial sintético (Queiroz-
substrato, que será
rar pequena quantida- Silva, 2009). As fêmeas
usado na desova;
de de sêmen após leve passam, então, a liberar
primeiramente, os
compressão do abdô- machos são colocados hormônios, com a fi-
men (Rosa et al., 1994; no espaço e, ao fim do nalidade de sinalizar
Queiroz-Silva, 2009). seu estágio reprodutivo
dia, as fêmeas.
Comprimento to- para os machos; esses,
tal: ±48cm. por sua vez, vão para os substratos de
Reprodução: Sua reprodução pode desova, e a troca de feromônios causa
acontecer de duas formas: por meio uma sincronização na desova e na fer-
de indução ambiental e de indução tilização dos ovócitos (Dulka et al.,
hormonal. 1987; Kobayashi et al., 2002; Appelt e
Sorensen, 2007; Li et al., 2009).
Indução Ambiental: Os ovos possuem substância adesi-
A indução ambiental acontece em va, que faz com que fiquem aderidos à
tanques ou aquários com substrato, que superfície do substrato de reprodução.
será usado na desova; primeiramente, Após a finalização da desova, os subs-
os machos são colocados no espaço e, tratos devem ser retirados para evitar a
ao fim do dia, as fêmeas. O início da cor- predação (Watson et al., 2004). Os ovos
te pode ser observado a partir do com- podem ser colocados em sistema de in-
portamento da perseguição, quando os cubação com entrada de água por insur-
70 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
gência para o desenvol- cação de 0,5mg por qui-
A reprodução induzida
vimento larval (Rosa et lo; 9 horas após, aconte-
acontece com o uso de
al., 1994). ce a segunda aplicação,
hormônios indutores
com dosagem de 4,5mg
Reprodução e tem como objetivo
de EHC. Nos machos
induzida a produção de grande
são usados 3mg de EHC
número de formas
A reprodução in- por quilo, divididos
jovens e a otimização
duzida acontece com também em duas apli-
dos métodos de
o uso de hormônios cações: a primeira dose
reprodução.
indutores e tem como com 0,5mg, e a segun-
objetivo a produção de grande número da com 2,5mg de EHC
de formas jovens e a otimização dos mé- (Rosa et al., 1994).
todos de reprodução (Rosa et al., 1994; O preparo da solução de indução é
Targońska e Kucharczyk, 2010). feito a partir da maceração da hipófise
O protocolo de indução mais co- em gral com pistilo, sendo adicionadas 3
mum consiste na aplicação de extrato gostas de glicerina líquida para facilitar a
hipofisário de carpa (EHC) (Rosa et al., trituração; logo após, o material é diluí-
1994). Inicialmente acontece a seleção do em soro fisiológico. Para as fêmeas, é
das matrizes; as fêmeas aptas apresen- usada a proporção de 1mL de soro fisio-
tam ventre ligeiramente abaulado e pa- lógico por dose e, para os machos, a pro-
pilares urogenitais avermelhadas, e os porção de 0,5 mL de soro fisiológico por
machos liberam peque- dose (Rosa, 1992; Rosa
na quantidade de sêmen A desova acontece et al., 1994). A indução
após leve compressão com aproximadamente é feita a partir da aplica-
abdominal (Rosa et al., 246 UTA, com ção da solução indutora
1994; Queiroz-Silva, temperatura da água na região intraperitone-
2009). entre 24°C e 25°C. As al, e os animais devem
Após a seleção, deve matrizes apresentam ser mantidos separados
ocorrer a pesagem das comportamento (Peter, 1980).
matrizes para a estima- de agitação e A desova acontece
tiva da quantidade de
natação rápida ao com aproximadamente
EHC a ser utilizado. Na
se aproximarem da 246 UTA, com tempera-
ovulação. tura da água entre 24°C
indução das fêmeas, é
e 25°C. As matrizes
usada uma proporção
apresentam comportamento de agita-
de 5mg de EHC por quilo. Essa dosa- ção e natação rápida ao se aproximarem
gem é dividida em duas aplicações: a da ovulação (Rosa et al., 1994). A extru-
primeira dose é preparatória, com a apli-
4. Reprodução de peixes ornamentais de água doce 71
são é feita com leve compressão do ab- Sexagem (características sexuais
dominal; os ovócitos e o sêmen devem secundárias) / Dimorfismo sexual:
ser colocados em recipiente seco, onde As fêmeas apresentam-se com o abdô-
serão misturados (Rosa et al., 1994; men mais avantajado quando maduras.
Watson et al., 2004). Para evitar que os A sexagem é feita por meio de uma
ovos se grudem uns aos outros, é usada leve pressão abdominal para a liberação
solução fertilizadora contendo 4g de de sêmen (machos) e de ovócitos (fê-
sal e 3g de ureia por litro de água, por meas) (Sipos et al., 2019). A seleção de
aproximadamente 5 min; após esse pe- fêmeas maduras é realizada com a análi-
ríodo, os ovos passam por um enxágue se da amostra obtida da biópsia ovariana
de 20 a 30 segundos, em solução con- por canulação (Sipos et al., 2019).
tendo 0,5g de ácido tânico por litro de Comprimento total: ±12cm
água, eliminando, assim, a adesividade e (Fishbase, 2020c; Sipos et al., 2019)
podendo ser colocados em incubadoras Reprodução: Produção comercial
para o desenvolvimento embrionário. A na Flórida (EUA), por meio de estímu-
eclosão ocorre entre 46 e 54 horas pós- lo da indução hormonal e de fertiliza-
-fertilização (Watson et al., 2004). ção por mistura dos gametas coletados
Parâmetros de água na incubação: (Sipos et al., 2019).
28°C, pH: 7,2 (Watson et al., O hormônio comumente utilizado
2004). para essa espécie é o ovaprim (20µg/mL
Labeo bicolor (Epalzeorhynchos sGnRH IIIa + 10mg/mL domperidona
bicolor) (inibidor de dopamina)) (Hill et al.,
Ordem Cypiniformes; família 2009), em duas aplicações para fêmeas
Cyprinidae; gênero Epalzeorhynchos (10% indutor para iniciação e 90% para
Distribuição: Endêmico do sudes- resolução, com intervalo de 6h) e uma
te asiático (Sipos et al., 2019); bacia de aplicação para machos (0,5µL/g de pei-
Chao Phraya e bacia do rio Mekong, xe) após a segunda aplicação da fêmea
Tailândia (Fishbase, 2020c). (Hill et al., 2009). A aplicação é efetua-
Parâmetros de água para a es- da com injeção intramuscular na base da
pécie: pH: 6,5 - 8,0 (Fishbase, 2020c; nadadeira dorsal (Sipos et al., 2019). Os
Sipos et al., 2019); temperatura: 22 - peixes devem ser anestesiados antes da
26°C (Fishbase, 2020c). indução e da coleta de gametas, com so-
Parâmetros de água (reprodu- lução de tricaína tamponada 150mg/L
ção): pH: 8,0; dureza: ±470mg/L (Sipos et al., 2019).
CaCo3; alcalinidade: ± 200 mg/L Sugere-se, ainda, a utilização de
CaCo3; temperatura: ±25,5°C (Sipos et outro análogo do GnRH para a espé-
al., 2019). cie, também associado à domperidona,
72 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
como protocolo alternativo, o cGnRH (Sipos et al., 2019).
IIa (50µg/kg de peixe) + domperido- Parâmetros de água na incubação:
na (5mg/kg de peixe), em volume final pH: 7,8; dureza: ±130mg/L CaCo3; al-
injetado (0,5µL/g de peixe), em duas calinidade: ± ±80 mg/L CaCo3; tempe-
aplicações para fêmeas (10% + 90%, ratura: ±25,5°C; OD: ±8mg/L (Sipos et
com intervalo de 6h); para machos, ape- al., 2019).
nas uma aplicação de ovaprim (0,5µL/g Reprodução em aquários:
de peixe) após a segunda aplicação da Fêmeas de E. bicolor (121 ± 18mm e
fêmea (Sipos et al., 2019). 23,75 ± 13,69g), induzidas com (cGn-
Outros hormônios foram usados RH IIa (50µg/kg de peixe) + dompe-
como estímulo à reprodução dessa es- ridona) liberaram 421 ± 142 ovos por
pécie: combinações de extrato de pitui- grama de peixe, com taxa de fertilização
tária de carpa e gonadotrofina coriônica de 95% (Sipos et al., 2019).
humana ou reserpina; e o análogo do
Labeo frenatus (Epalzeorhynchos
hormônio liberador de hormônio lutei-
frenatum)
nizante (LHRHa) associado à reserpina
(antagonista de dopamina) (Shireman Ordem Cypiniformes; família
e Gildea, 1989). Esses autores percebe- Cyprinidae; gênero Epalzeorhynchos
ram que peixes induzidos apenas com Distribuição: Endêmico do sudes-
LHRH-A não desovaram, necessitando te asiático (Sipos et al., 2019); Ásia:
do uso de inibidor de dopamina antes bacias do Mekong, rio Chao Phraya,
das injeções de LHRH-A. bacia do Maeklong, Tailândia; rio Xe
No protocolo de Sipos et al. (2019), Bangfai, Província Khammouane, Laos
o intervalo entre a indução e a coleta (Fishbase, 2020d).
foi de 9h para E. bicolor e de 10h para E. Parâmetros de água para a espé-
frenatum. Entretanto, no protocolo de cie: pH: 6,0-8,0; dH:5-12; temperatu-
Shireman; Gildea (1989), entre 6 e 7h ra: 24-27°C (Fishbase, 2020d; Sipos et
foi considerado suficiente para taxa de al., 2019).
ovulação de 100%. Após esse período, Parâmetros de água (reprodu-
pode ser efetuada a coleta dos gametas ção): pH: 8,0; dureza: ±470mg/L
por massagem abdominal, os oócitos CaCo3; alcalinidade: ± 200 mg/L
são depositados em um recipiente e o CaCo3; temperatura: ±25,5°C (Sipos et
sêmen é coletado com uma seringa de al., 2019).
1mL e misturado aos oócitos, sendo Sexagem (características sexuais
adicionados 20 mL de água, para a ati- secundárias) / Dimorfismo sexual:
vação da motilidade espermática. Após As fêmeas apresentam-se com o abdô-
30s, os ovos fecundados são incubados men mais avantajado quando maduras.
4. Reprodução de peixes ornamentais de água doce 73
A sexagem é feita por meio de uma leve cubados (Sipos et al., 2019).
pressão abdominal para a liberação de Parâmetros de água na incubação:
sêmen (machos) e de ovócitos (fêmeas) pH: 7,8; dureza: ±130mg/L CaCo3; al-
(Sipos et al., 2019). calinidade: ± ±80 mg/L CaCo3; tempe-
Comprimento total: ±13cm. ratura: ±25,5°C; OD: ±8mg/L (Sipos et
Reprodução: Produção comercial al., 2019).
na Flórida (EUA), por meio de estímu- Reprodução comercial em aquá-
lo da indução hormonal e de fertiliza- rios: Fêmeas de E. frenatum (131 ±
ção por mistura dos gametas coletados 9mm e 21,31 ± 2,85g), induzidas com
(Sipos et al., 2019). (cGnRH IIa (50µg/kg de peixe) + dom-
Uso do análogo do GnRH para a es- peridona) liberaram 421 ± 142 ovos por
pécie, associado à domperidona como grama de peixe, com taxa de fertilização
protocolo alternativo ao ovaprim, é in- de 95% (Sipos et al., 2019).
dicado: cGnRH IIa (50µg/kg de peixe)
Barbus sumatra (Puntigrus
+ domperidona (5mg/kg de peixe),
tetrazona)
em volume final injetado (0,5µL/g de
peixe), em duas aplicações para fêmeas Ordem Cypiniformes; família
(10% + 90%, com intervalo de 6h); para Cyprinidae; gênero Puntigrus
machos, apenas uma aplicação de ova- Distribuição: sudeste asiático
prim (0,5µL/g de peixe) após a segunda (Sumatra, Bornéu, Tailândia e Malásia)
aplicação da fêmea (Sipos et al., 2019). ( Jennings, 2018; Tamaru et al., 1997).
No protocolo de Sipos et al. Parâmetros de água para a espé-
(2019), o intervalo entre a indução e a cie: Tolerante a flutuações de qualida-
coleta foi de 9h para E. bicolor e de 10h de de água; temperatura: 22-28°C; du-
para E. frenatum. Entretanto, no pro- reza: 100-250 mg/L CaCo3; pH 6,5-7,5
tocolo de Shireman; Gildea (1989), (Tamaru et al., 1997).
entre 6 e 7h foi considerado suficiente Parâmetros de água para repro-
para taxa de ovulação de 100%. Após dução: Temperatura: 25-28°C; dure-
esse período, pode ser efetuada a co- za: 100-250 mg/L CaCo3; pH 6,5-7,5
leta dos gametas por massagem abdo- (Tamaru et al., 1997). A redução nos
minal, os oócitos são depositados em níveis de sais na água pela diluição da
um recipiente e o sêmen é coletado água em período de chuva e/ou a troca
com uma seringa de 1mL e misturado com renovação da água em cativeiro po-
cuidadosamente aos oócitos, sendo dem estimular a maturação (Tamaru et
adicionados 20 mL de água, para a al., 1997).
ativação da motilidade espermática. Sexagem (características sexuais
Após 30s, os ovos fecundados são in- secundárias) / Dimorfismo sexual:
74 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
Os machos exibem coloração vermelha Tamaru et al., 1997); cada casal é isola-
nos raios das nadadeiras e no focinho. do em um aquário de 40L de capacida-
As fêmeas possuem abdômen mais ar- de, sendo adicionada uma escova apro-
redondado e colorido menos intenso priada, de cerdas longas, na vertical,
(Tamaru et al., 1997). como substrato de desova (Tamaru et
Comprimento: ±5cm. al., 1997). No dia seguinte, os aquários
Atingem a maturidade com 6-7 se- são observados; os casais que não re-
manas e comprimento aproximado de produziram permanecem mais um dia,
3cm (Tamaru et al., 1997). os casais que reproduziram retornam ao
Reprodução: Durante a cópula, tanque de estocagem (densidade de 1
o macho prende a fêmea com as nada- peixe para 4L). As escovas com ovos são
deiras e estimula a liberação de ovos, o removidas para tanques de incubação
esperma é liberado e os ovos fecunda- e os tanques de reprodução são limpos
dos caem sobre o substrato e sobre as e recebem novos casais (Tamaru et al.,
plantas aquáticas e as raízes de plantas 1997).
flutuantes. Repetidos grupos de acasa- Produção: 40-50 tanques (40L),
lamento com ou sem mudança de par- com um casal por tanque, produzem
ceiro ocorrem por horas (Tamaru et al., cerca de 10.000 larvas por semana; esti-
1997). ma-se 80% de sobrevivência (Tamaru et
Desova: Desova parcelada, com in- al., 1997). Várias espécies de Barbus são
tervalo de duas semanas durante a época produzidas dessa forma, sendo possível
de acasalamento (Tamaru et al., 1997). a produção de híbridos (Tamaru et al.,
Cuidado parental: Sem cuidado 1997).
parental (Tamaru et al., 1997). Incubação/Eclosão: Cada tanque
Fecundidade: 300-500 ovos por de 120L recebe 20 escovas com ovos,
fêmea (ovos aderentes) (Tamaru et al., uma aeração leve e constante, boa trans-
1997). parência e boa qualidade de água, com
Reprodução comercial: Fácil de parâmetros monitorados (Tamaru et al.,
reproduzir, produção intensificada da 1997).
espécie no estado do Hawaii, EUA Eclosão em 3 dias (25-27°C)
(Tamaru et al., 1997). (Tamaru et al., 1997).
A separação prévia dos sexos com Absorção de saco vitelínico em 3
estocagem (densidade de 1 peixe para dias após a eclosão. Fornecimento de
4L) em tanque por 15 dias estimula a re- alimentação exógena (Nauplios de
produção e a produção de prole grande Artemia salina) após 3 dias da eclosão,
(Tamaru et al., 1997). Utiliza-se a pro- com larvas de nado livre (Tamaru et al.,
porção sexual de 1:1 ( Jennings, 2018; 1997).
4. Reprodução de peixes ornamentais de água doce 75
3. Considerações finais leatus. YouTube. https://www.youtube.com/
watch?v=FiMo_ihjcx8.
Neste capítulo, foram apresentados 7. Aya-Baquero, E., Arias-Castellanos, J.A.,
Collazos-Lasso, L.F., 2016. Maduración gonadal
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8. Anjos, H.D.B., Anjos, C.R., 2006. Biologia repro-
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de suma importância a busca por infor- do cardinal tetra, Paracheirodon axelrodi Schultz,
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4. Reprodução de peixes ornamentais de água doce 79


5. Doenças de peixes
ornamentais no
contexto brasileiro

pixabay.com
Pedro Henrique de Oliveira Viadanna1*,
Peterson Emmanuel Guimarães Paixão2,
Rodrigo Yudi Fujimoto3
1 Médico Veterinário, doutor, Department of Infectious Diseases and Immunology, College of Veterinary Medicine, University of Florida,
Gainesville, FL 32611, USA
2 Engenheiro de Pesca e Aquicultura, mestre, Universidade Tiradentes, Aracaju, Sergipe, 49032-490, Brazil
3Zootecnista (CRMV-SE 00045-ZP), doutor, Embrapa Tabuleiros Costeiros, Aracaju, Sergipe, 49025-040, Brazil
* autor para correspondência: pedro@ufl.edu

1. Introdução sociais (Borges et al., 2021). O mercado


de peixes ornamentais no Brasil é orga-
O comércio de peixes ornamentais
nizado da seguinte maneira (Figura 1):
é um setor diversificado da aquicultura,
• Setor produ-
cuja indústria contém
No Brasil, há uma tivo: Consiste em fa-
alta diversidade de espé-
diversidade de pelo zendas aquícolas ou
cies. No Brasil, há uma
diversidade de pelo me- menos 374 espécies de centros de captura de
peixes de água doce e peixes silvestres. As re-
nos 374 espécies de pei-
xes de água doce e 223 223 espécies de peixes giões Sudeste e Sul são
marinhos anunciados as maiores responsáveis
espécies de peixes ma-
rinhos anunciados para para venda em pela produção aquícola
venda em plataformas plataformas sociais. em cativeiro de peixes

80 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


ornamentais no Brasil. A região Norte produtivo (Reid et al., 2019). Nesse
é a principal responsável pela coleta setor, os peixes ficam poucos dias (7
de peixes silvestres e pela exportação. a 15 dias, no máximo), por isso há um
Os problemas relacionados com os baixo nível de biossegurança e um ele-
surtos de doenças são um dos maiores vado uso de fármacos. A reutilização
gastos dos produtores de peixes or- da água entre tanques e espécies dife-
namentais tanto no Brasil quanto na rentes propicia a dispersão de alguns
Flórida, EUA (Boldt et al., 2022). No agentes etiológicos, como o iridovírus
Brasil, alguns produtores relatam que Infectious spleen and kidney necrosis vi-
apenas um terço dos juvenis de algu- rus (ISKNV) (de Lucca Maganha et
mas espécies chegam à fase de comer- al., 2018).
cialização (Viadanna, nota pessoal). Já • Setor lojista: consiste em centros co-
os peixes silvestres, além de alta mor- merciais menores, que compram pei-
talidade devido ao transporte, quando xes do setor atacadista e produtivo
capturados e sem devido manejo, vão (pequenos ou grandes, formais ou
inserir novas doenças ao sistema pro- informais). Os peixes ficam na loja
dutivo por meio do agrupamento dos até sua venda. Essa manutenção dos
espécimes, fazendo com que a disper- peixes nos aquários da loja pode, em
são de agentes infecciosos seja facili- muitos casos de descaso com o bem-
tada. Ressalta-se que é comum o uso -estar animal e de falta de boas prá-
da mesma água para várias espécies, ticas, aumentar a ocorrência das do-
tornando possível a transmissão des- enças e surtos de mortalidade, o que
ses agentes infecciosos, que podem pode causar um elevado prejuízo para
causar doença leve em uma espécie e o lojista. Nas lojas, o nível de biosse-
grave em outra. gurança é baixo e o uso de fármacos
• Setor atacadista: consiste em centros é elevado.
de grande porte, cujos peixes são ad- • Setor consumidor: consiste em con-
quiridos diretamente do setor pro- sumidores finais, chamados de aqua-
dutivo. Esses centros de grande porte ristas. Os aquaristas vão adquirir seus
vendem para outros atacadistas me- peixes do setor lojista, atacadista,
nores, lojistas ou consumidor final. produtivo, ou de outros aquaristas.
Tal setor também é responsável pela O nível de biossegurança é variável,
importação e exportação de peixes no dependendo do nível de experiência
Brasil. O comércio internacional de do aquarista. O uso de fármacos é ele-
peixes ornamentais é um risco cons- vado e muitas vezes inadequado, pois
tante de biossegurança devido à escala não se tem o diagnóstico correto da
e ao dinâmismo inerentes desse setor enfermidade.
5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 81
enfermidades, a mor-
talidade dos peixes or-
namentais pode estar
relacionada a doenças
não infecciosas refe-
rentes à qualidade da
água, à intoxicação, à
nutrição e às neopla-
sias (Noga, 2010), ou
às doenças infecciosas
relacionadas a parasito,
fungo, bactéria e vírus.
Essa breve revisão foca-
rá apenas em algumas
doenças infecciosas
que podem ser encon-
tradas no Brasil, pois o
comércio nacional des-
ses peixes sem a devida
análise pode promover
a disseminação de pa-
tógenos tanto dentro
quanto fora do país, de-
corrente do comércio
internacional.

Figura 1. Fluxograma do comércio de peixes ornamentais no Brasil. 2.Doenças


Predação, agressão inter/intraes-
bacterianas
pécie, tamanho inadequado de tan- No Brasil, as doenças bacterianas
que, inadequada aclimatação do peixe mais relevantes para peixes ornamentais
a um tanque novo, uso de substratos são:
inadequados para a espécies, sucção - Aeromonas spp.
pelo sistema de filtragem, choque elé- - Flavobacterium columnare
trico e acidentes em geral são pontos - Edwardsiella spp.
que podem frequentemente causar a - Streptococcus spp.
mortalidade de peixes ornamentais. - Mycobacterium sp.
No entanto, quando se aborda o tema - Epitheliocystis
82 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
2.1. Aeromonas Os sinais clínicos
cies (Fernández-Bravo e
spp. incluem hemorragias Figueras, 2020), sendo
e úlceras cutâneas, as mais importantes a A.
As aeromonas
móveis, apesar de hemorragias viscerais, hydrophila, A. veronii, A.
compor a microbiota edema, ascite (Figura sobria e A. caviae.
normal da água e dos 2) e exoftalmia ... Os sinais clínicos
peixes, representam ... em São Paulo, incluem hemorragias
um gênero de bactérias foram isolados e úlceras cutâneas, he-
oportunistas capazes Aeromonas veronii e morragias viscerais,
de causar septicemia A. hydrophila de peixes edema, ascite (Figura 2)
hemorrágica e que apresentavam e exoftalmia (Roberts,
mortalidade em várias exoftalmia, opacidade 2010). Internamente,
espécies de peixes de de córnea, hemorragias podem ser observados
água doce (Hossain e cutâneas e das acúmulo de líquido no
Heo, 2021). O gêne- nadadeiras e ascite ... peritônio (ascite), ane-
ro Aeromonas perten- mia e danos aos prin-
ce à família Aeromonadaceae, classe cipais órgãos, como rim e fígado. Em
Gammaproteobacteria. São bastonetes uma pesquisa realizada em peixes orna-
Gram-negativos, 0,8μm a 1,0μm de com- mentais de um centro atacadista em São
primento, e móveis por meio de um fla- Paulo, foram isolados, em maior frequ-
gelo polar. Existem atualmente 36 espé- ência, Aeromonas veronii e A. hydrophila

Figura 2. Kinguio Carassius auratus naturalmente infectado por A. hydrophila. O peixe apresenta peté-
quias cutâneas, ascite e escamas levemente levantadas. Foto cedida por Pedro H. O. Viadanna.

5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 83


de peixes que apresentavam exoftalmia, vo (Declercq et al., 2013). Os sinais
opacidade de córnea, hemorragias cutâ- clínicos incluem necrose do pedún-
neas e das nadadeiras e ascite (Cardoso culo caudal, perda da pigmentação
et al., 2021). Na Índia e na China, A. da região dorsal, além de necrose
hydrophila e A. salmonicida foram res- de boca e brânquias (Lafrentz et
ponsáveis por elevada mortalidade em al., 2012). Apesar de ser bastante
kinguios em pisciculturas ornamentais relatado em tilápias (Pilarski et al.,
( Jin et al., 2020; Swaminathan et al., 2008; Ponpukdee et al., 2021), já foi
2018). identificado em apaia-
No Brasil ri/oscar (Astronotus
2.2. [Edwardsiella] já ocellatus), no Brasil
Flavobacterium foi diagnosticada (Fujimoto et al.,
columnare de pintado 2021), e em guppy,
Flavobacterium (Pseudoplatystoma koi e Carassius au-
columnare é uma bac- corruscans), tilápia e ratus, na Califórnia
téria Gram-negativa, panga (Oreochromis (EUA) (Sebastião et
filamentosa (Figura niloticus e Pangassius al., 2021) e na Índia
3), bacilo longo (3- hypophthalmus) ... o (Verma et al., 2015).
10µm), que pode panga em venda em
causar a doença co- centro atacadista de 2.3. Edwardsiella
nhecida como co- peixes ornamentais, e a spp.
lumnariose em pei- bactéria foi isolada de Edwardsiella é um
xes de água doce úlceras na região dorsal bacilo Gram-negativo
selvagens ou de culti- da cabeça (Figura 4). curto (0,6μm a 2,0μm

Figura 3. A) Tilápia Oreochromis niloticus apresentando necrose do pedúnculo caudal decorrente de


infecção por F. columnare. B) Cultivo de F. columnare em meio sólido. Fotos cedidas por Pedro H. O.
Viadanna.

84 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


de comprimento), que se move por (Eigenmannia virescens), danio
meio de flagelo peritríquio. As duas (Danio devario), beta (Betta splen-
espécies mais importantes são E. tar- dens), barbo-rosado (Barbus concho-
da e E. ictaluri. A bactéria encontra nius), e pirarucu (Arapaima gigas)
condições favoráveis para multipli- (Blazer et al., 1985; Choresca Jr. et
cação em ambientes com má quali- al., 2011; Humphrey et al., 1986;
dade de água, baixo nível de oxigê- Kent e Lyons, 1982). No Brasil já
nio dissolvido na água e/ou elevada foram diagnosticados de pintado
quantidade de matéria orgânica. (Pseudoplatystoma corruscans), ti-
Há registro de Edwardsiella tar- lápia e panga (Oreochromis niloticus
da causando 60% de mortalidade e Pangassius hypophthalmus) (Alves
em fazendas de kinguios, na Índia, e et al., 2017; da Costa et al., 2021;
50% em acará-bandeira, na Turquia Miniero Davies et al., 2018), es-
(Turgay, 2020), sendo hemorragias tando o panga em venda em centro
cutâneas e oculares os sinais clínicos atacadista de peixes ornamentais, e
mais evidentes. E. tarda e E. ictaluri a bactéria foi isolada de úlceras na
já foram reportados em peixe-espada região dorsal da cabeça (Figura 4).

Figura 4. A) Peixe panga Pangassius hypophthalmus apresentando sinais clínicos da doença do buraco
na cabeça, causada pela infecção por Edwardsiella sp. B) O mesmo peixe apresentando lesão granu-
lomatosa em rim caudal, decorrente de infecção crônica por Edwardsiella. Fotos cedidas por Pedro H.
O. Viadanna.

5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 85


2.4. Streptococcus spp. Streptococcus iniae foi primeiramen-
te reportado em 1957, em truta-arco-
Estreptococose é uma doença septi-
-íris (Hoshina et al., 1958). Foi reporta-
cêmica, causada por bactérias do gênero
da alta mortalidade (40-60%), letargia,
Streptococus. Essa doença já foi descri-
escurecimento da pele, natação anor-
ta em vários peixes marinhos e de água
mal, petéquias na base das nadadeiras
doce, incluindo também peixes orna-
peitorais, cabeça e ventre, e órgãos
mentais. Essas bactérias são cocos Gram-
viscerais em ciprinídeos da espécie:
positivos, não esporuladas, catalase nega-
tiva, de diâmetro entre 0.5-2µm, imóveis tubarão-prateado (Balantiocheilos me-
e anaeróbias facultativas. Os surtos de lanopterus), tubarão-negro-de-cauda-
estreptococose estão relacionados com -vermelha (Epalzeorhynchos bicolor) e
aumento do estresse em peixe, baixa con- tubarão-arco-íris (E. frenatum) (Raissy
centração de oxigênio na et al., 2012; Russo et
água, alto nível de nitrito al., 2006). Apesar de
Estreptococose é uma pouco relatado, S. iniae
e alta densidade (Alsaid doença septicêmica,
et al., 2013; Shoemaker pode ser transmitida
causada por bactérias
et al., 2000). para pessoas, por meio
do gênero Streptococus.
Streptococcus spp. do manejo (contato)
... Os surtos de
já foram identificados com peixes doentes, e
estreptococose estão
em peixes ornamen- pode causar celulite,
relacionados com
tais como paulistinha endocardite, meningi-
aumento do estresse
(Danio rerio), danio- te e artrite (Lau et al.,
em peixe, baixa
-pérola (D. albolinea- concentração de 2003).
tus) (Ferguson et al., oxigênio na água, alto S. agalactiae foi
1994), botia-palhaço nível de nitrito e alta diagnosticado pela pri-
(Chromobotia macra- densidade meira vez em peixes em
canthus), barbo-rosado Israel, em 1986, causan-
(B. conchonius) (Yanong e Russo, dados do mortalidade em tilápia e truta-arco-
não publicados), tetras (Hyphessobrycon -íris (Eldar et al. 1994). S. agalactiae
sp.) e ciclídeos africanos dos gêneros pode causar doença em animais ter-
Nimbochromis e Pelvicachromis (Yanong restres e aquáticos, estando relaciona-
e Floyd, 2002), causando alta mortalida- do a surtos de meningite em humanos
de e hiperemia na base das brânquias. As e de mastite em bovinos. No Brasil, é
principais espécies comumente infectan- endêmico em tilápias (O. niloticus) e já
do peixes são S. difficile, S. parauberis, S. foi reportado em pintado- amazônico
shilo, S. iniae e S. agalactiae (Netto et al., (Pseudoplatystoma sp.) (Figueiredo et
2011). al., 2012; Tavares et al., 2018).
86 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
2.5. Em peixes, Richmond, 2021). Em
Mycobacterium Mycobacterium causa humanos aparecem nó-
sp. uma doença sistêmica dulos granulomatosos
Mi cobac ter i o ses granulomatosa no local de penetração
em peixes são causadas crônica, comumente da bactéria, geralmente
por espécies atípicas de subclínica, que pode mão ou braços, o que
Mycobacterium, descri- ser transmitida para provoca a doença co-
tas como micobactérias humanos. Em peixes, nhecida como granulo-
não tuberculoides (non- os sinais clínicos são ma de piscina (Ishikawa
tuberculous mycobac- variados, podendo ser et al., 2001). Algumas
teria, NTM). Existem exoftalmia, letargia, espécies já reportadas
pelo menos 150 espé- perda de escamas, foram: peixe arco-íris,
cies de NTMs, sendo M. distensão abdominal e barbo-rosa (Urdes e
marinum, M. fortuitum úlceras cutâneas Richmond, 2021), kin-
e M. ulcerans as mais guio (Hodgkinson et
comuns em peixes e com caráter zoo- al., 2012), betta (Viadanna, nota pes-
nótico (Bi et al., 2015; Boylan, 2011), soal), cavalo-marinho (Hippocampus
com relatos de resistência a medica- erectus) (Boylan, 2011), guppy, acará-
mentos como estreptomicina, isoniazi- -negro (Cichlasoma bimaculatum), bo-
da, rifampicina e etambutol (Chang et ca-de-fogo (Cichlasoma meeki), oscar
al., 2015). Micobactérias são bactérias (Astronotus ocellatus) e peixe-napoleão
Gram-positivas, aeróbicas ácido-rápidas (Cheilinus undulatus) (Fujimoto et al.,
e bastonetes não móveis (Radomski et 2021).
al., 2010).
Epitheliocystis ... 2.6.
Em peixes,
é causada por ... Epitheliocystis
Mycobacterium causa
uma doença sistêmica Chlamydia ou Epitheliocystis é o
granulomatosa crônica, Proteobacteria ... nome da lesão tecidual
comumente subclínica, afeta filamentos causada por bactérias
que pode ser transmi- branquiais ou pele intracelulares, Gram-
tida para humanos. Em ... São observados negativas dos grupos
peixes, os sinais clínicos peixes boquejando bacterianos Chlamydia
são variados, podendo na superfície da ou Proteobacteria, que
ser exoftalmia, letargia, água, diminuição do afeta principalmente
perda de escamas, dis- consumo de comida, filamentos branquiais
tensão abdominal e úl- produção excessiva de ou pele (Blandford et
ceras cutâneas (Urdes e muco e letargia. al., 2018). É observada
5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 87
uma hipertrofia celular epitelial, resul- gem selvagem quanto os de cativeiro,
tante da formação de um “cisto” ba- causando altas mortalidades no am-
sofílico (Figura 5) (Nowak e LaPatra, biente e em produção de cativeiro.
2006). Mais de 100 espécies de peixes, Os grupos de parasitos que afetam os
tanto de água doce quanto marinhos, peixes ornamentais são semelhantes
já foram relatadas com essa doença aos dos peixes de corte, os quais foram
(Blandford et al., 2018; Dang et al., apresentados nos Cadernos Técnicos
2022). Epitheliocystis tem um impac- de Veterinária e Zootecnia, número
to global e é considerada uma doença 101, de fevereiro de 2022, tais como
emergente na aquicultura (Blandford et íctio, tricodina, piscinoodinium, chi-
al., 2018). lodonella, epystilis, monogeneas e o
Os sinais clínicos resultam da le- trematódeo Centrocestus formosanus
são branquial. São observados peixes (Figuras 6, 7, 8). Assim, no presente
boquejando na superfície da água, documento, serão detalhados alguns
diminuição do consumo de comida, outros parasitos que também são en-
produção excessiva de muco e letar- contrados com mais frequência nos
gia. A mortalidade varia entre 4-100% peixes ornamentais.
(Nowak e LaPatra, 2006).
3.1. Protozoários
3. Doenças parasitárias Em peixes ornamentais, também
Muitos parasitos acometem os são muito comuns os protozoários
peixes ornamentais, tanto os de ori- Tetrahymena sp. e Ichthyobodo spp.

Figura 5.A) Corte histológico de brânquia de tilápia apresentando substância amorfa basofílica no in-
terior do filamento branquial secundário, sugestivo de lesão por epitheliocystis (seta negra). B) Corte
histológico de brânquia de tilápia Oreochromis niloticus apresentando substância amorfa basofílica no
interior do filamento branquial secundário, sugestivo de lesão por epitheliocystis (seta negra) e infes-
tação de Trichodina (seta vermelha). Fotos cedidas por Pedro H. O. Viadanna.

88 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


Figura 6. A) Kinguio com infestação grave de Ictiobodo necator (seta negra). B) Tetrahymena sp. em
preparo de lâmina-lamínula da pele. C) Koi com infestação de Gyrodactylus sp. D) Infestação grave de
Centrocestus formosanus em peixe-espada (seta negra). Fotos cedidas por Pedro H. O. Viadanna.

Figura 7. A) Kinguio Carassius auratus auratus apresentando múltiplas úlceras e hemorragias cutâne-
as, em conjunto com lesão elevada branco-amarronzada decorrente de infestação por Epistylis sp. e
infecção por Aeromonas sp. B) Colônia de Epistylis sp. em preparo de lâmina-lamínula da pele. Fotos
cedidas por Pedro H. O. Viadanna.

5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 89


Figura 8. A) Pirarara
Phractocephalus hemio-
liopterus apresentando
brânquia enegrecida. B)
Mesmo peixe, apresen-
tando enegrecimento
da brânquial em região
medial de todos os arcos
branquiais. C) Múltiplos
Dactylogyrus sp. infes-
tando as lamelas bran-
quiais em preparo de
lâmina-lamínula. Fotos
cedidas por Pedro H. O.
Viadanna.

Tetrahymena sp. é um protozoário nas plantas ou em qualquer material ás-


ciliado (30-60µm) que provoca a cha- pero, na tentativa de retirá-lo da pele. Já
mada doença dos guppies, embora não foi relatado em paulistinha (Astrofsky
afete somente essa espécie. É um ecto- et al., 2002), pristella (Pristella ma-
parasito que possui um formato pirifor- xillaris), neon (Paracheirodon innesi),
me, realizando movimentos giratórios e barbo-cereja (Puntius titteya), medaka
para frente, e infecta a pele dos peixes. (Oryzias latipes), gourami-anão (Colisa
Em grande quantidade, provoca irrita- lalia), kinguio, koi, platy (Xiphophorus
ção e causa no peixe o reflexo de se “ras- maculatus), molly (Poecilia sphenops),
par” na parede do aquário ou do tanque, e acará (Pterophyllum scalare) (Pimenta
90 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
Leibowitz et al., 2005;
Ichthyobodo ... provoca ornamentais, tais como
Ponpornpisit et al., guppy, molly, barbo e
irritação tecidual,
2000; Sharon et al., koi (Thilakaratne et al.,
causando hiperplasia
2014). 2003). É um ectoparasi-
epitelial e aumento da
Uma vez instalada produção de muco ... ta, que provoca irritação
a infestação, manchas cutâneo ou branquial. tecidual, causando hi-
brancas no corpo dos perplasia epitelial e au-
peixes são frequentes, além de excesso mento da produção de muco, e, quando
de produção de muco e nadadeiras fe- em alta concentração de parasitas, pode
chadas (Sharon et al., 2014). Em muitos levar o peixe à morte (Noga, 2010). Os
casos, pode ser confundida com doen- sinais clínicos serão similares aos já des-
ças bacterianas, ou estar associada a elas. critos para outros protozoário cutâneos
É um parasita oportunista, estando livre ou branquiais.
no corpo de água, causando doença em
peixes debilitados (Pimenta Leibowitz
3.2. Mesomycetozoa
et al., 2005). Manejos estressantes, altas Mesomycetozoas são parasitos
densidade de estocagem e má qualida- que têm características peculiares por
de de água, incluindo excesso de ma- apresentarem características de fungos
téria orgânica, são os principais fatores e metazoários. Esse é o primeiro ramo
de risco para a ocorrência dessa doença do grupo holozoa (Hehenberger et al.,
(Pimenta Leibowitz et al., 2005). O pa- 2017), também conhecido como clas-
rasita possui ciclo de vida direto, reali- se Ichthyosporea (Herr et al., 1999).
zando reprodução por bipartição, mas Abriga os micro-organismos do antigo
algumas espécies podem produzir pe- clado DRIP (Dermocystidium, rosette
quenos cistos. Em alguns casos de alta agente, Ichthyophonus e Psorospermium)
infestação, o parasita pode invadir os (Ragan et al., 1996). Nesse grupo, des-
tecidos e alcançar rim e cérebro (Noga, taca-se o gênero Dermocystidium sp. na
2010). infecção de peixes ornamentais.
Ichthyobodo é um protozoário pe- Dermocystidium sp. é um para-
queno, do tamanho de um eritrócito, sita que está aparecendo com mais
que contém 1-2 flagelos, e pode ter o frequência nesses últimos anos. À pri-
formato do corpo ovalado quando em meira vista, pode causar um erro de
estágio livre, ou piriforme, quando está avaliação, pois seus cistos se asseme-
na forma anexada (Noga, 2010) (Figura lham a vermes, em inglês os cistos são
6). Geralmente causa doença em peixes referidos como “worm-like” (seme-
de água doce e em temperatura abaixo lhantes a vermes). Há 21 espécies de
de 25°C. Já foi relatado em vários peixes Dermocystidium já descritas (Dyková e
5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 91
Lom, 1992; Pekkarinen (Dyková e Lom, 1992).
[Dermocystidium] ...
et al., 2003), sendo um O aspecto tubular do
pode infectar pele,
dos primeiros relatos cisto se assemelha a um
olhos, brânquias e
em peixes ornamen- verme, o que proporcio-
órgãos internos... O
tais realizado no Japão, principal sinal clínico é na o erro de identifica-
em 1950 (Hoshina e a presença de vesículas ção desse agente pato-
Sahara, 1950), onde a (“bolhas” na pele, olhos gênico (Dyková e Lom,
espécie foi denominada e brânquias) contendo 1992).
de Dermocystidium koi, um cisto tubular com Até o momento, não
devido a estar afetando esporos arredondados se tem um método de
carpas koi. Relatos mais internamente (3-10µm) controle, mas sabe-se
atuais mostraram infec- com um grande vacúolo que a transmissão é pela
ções de Dermocystidium central água e pelo consumo
em kinguio (Elsayed dos esporos (Mahboub
E. E., 2002) e em peixe cardinal-tetra e Shaheen, 2020). Porém, a compreen-
Paracheirodon axelrodi, causando au- são sobre o ciclo de vida ainda necessita
mento da mortalidade, letargia e cistos de mais estudos, pois há uma contro-
na cabeça e/ou corpo (Langenmayer et vérsia quanto às formas infectantes. A
al., 2015; Plaul et al., 2018). No Brasil, recomendação para evitar a dissemina-
já foi relatado Dermocystidium parasi- ção é realizar o processo de quarentena
tando peixe lápis (Nannostomus sp.), antes de inserir novos peixes no sistema
Pangassius, com altas mortalidades, de criação ou no aquário. Relatos na
(Fujimoto, dados não publicados) e literatura de infecções experimentais
híbrido tambatinga (Fujimoto et al., demonstram que o tempo de incuba-
2018). ção da doença é de 20 dias (Mahboub e
Esse parasita pode infectar pele, Shaheen, 2020).
olhos, brânquias e órgãos internos. Em
fases mais jovens dos peixes, podem
3.3. Microsporídeos
ocorrer altas mortalidades. Nos casos Vários microsporídeos já foram
que estão sendo encontrados no país, identificados em peixes ornamentais,
ainda não há conhecimento se são es- contudo o Pleistophora hyphessobryconis
pécies nativas ou exóticas. O principal é o mais conhecido, sendo o causador da
sinal clínico é a presença de vesículas doença do neon-tetra, por ter sido iden-
(“bolhas” na pele, olhos e brânquias) tificado inicialmente em Paracheirodon
contendo um cisto tubular com espo- innesi. Microsporídeos são protozoários
ros arredondados internamente (3- intracelulares obrigatórios, sendo que o
10µm) com um grande vacúolo central P. hyphessobryconis forma esporos ovoi-
92 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
Figura 9. A) Cistos de Dermocystidium nos olhos de Pangassius. B) Cistos de Dermocystidium em nada-
deira de Pangassius. C) Técnica de squash para rompimento do cisto de Dermocystidium em lâmina-
-lamínula. D) Corte histológico mostrando os esporos de Dermocystidium, hematoxilina e eosina. Setas
negras apontam para o parasita. Fotos cedidas por Rodrigo Y. Fujimoto e Pedro H. O. Viadanna.

des na musculatura dos peixes. Esse pa- vacúolo posterior. Em microscopia,


rasita já foi identificado em outras espé- observa-se um tubo enrolado dentro do
cies de peixes ornamentais dos grupos esporo. Quando o peixe se alimenta dos
caracídeos, ciclídeos, ciprinídeos, poe- esporos, esse tubo é responsável por in-
cilídeos e cyprinodontídeos, tais como serir o esporoplasma dentro da célula
Hemigrammus erythrozonus e paulisti- hospedeira, onde, então, começa a se re-
nha (Li et al., 2012; Lom, 2002; Lom e produzir por merogonia (Li et al., 2012).
Corliss, 1967; Sanders et al., 2010). Em Animais expostos aos tecidos contamina-
neon-tetra, causa uma descoloração das dos se infectam em até 20 dias (Sanders
faixas coloridas, que se tornam esbran- et al., 2010). Os sinais clínicos são de áre-
quiçadas e perdem sua continuidade as esbranquiçadas na pele, emagrecimen-
(Figura 10). to e letargia. Esse sinal pode ser confun-
Os esporos presentes no músculo dido com infecção por bactérias, como
apresentam formato ovoide com um Flavobacterium columnare. A comprova-
5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 93
Figura 10. Neon com sinal clínico de microsporidiose, com áreas esbranquiçadas na pele com clarea-
mento da faixa azul e vermelha, que são típicas da espécie. Foto cedida por Rodrigo Y. Fujimoto.

ção do agente etiológico evitar a proliferação des-


ocorre pela presença de O nematoide sa doença.
esporocistos esbranqui- Capillaria pterophylli
çados ou amarelados no é comumente 3.4. Helmintos
músculo. encontrado no trato O nematoide
Esse parasita causa intestinal de peixes Capillaria pterophylli é
uma necrose liquefativa ... os principais sinais comumente encontrado
nos músculos (Winters clínicos são mudança no trato intestinal de
et al., 2016), e a trans- de cor (torna-se peixes ornamentais,
missão é feita pela in- mais opaco), inchaço como o acará-bandeira
gestão oral dos esporos. abdominal (ascite) Pterophyllum scalare e o
Assim, peixes que se ali- e perda crônica de acará-disco Symphysodon
mentam de peixes mor- apetite. aequifasciatus (Farias
tos estão propensos a se Pantoja et al., 2015;
infectar. Animais com baixa infestação Molnár et al., 2006; Yanong, 2002). Já foi
podem ser assintomáticos, o que torna encontrado em ciprinídeos, gouramis e
a quarentena um manejo essencial para bagres (Yanong, 2002). Quando em fase
94 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
adulta, pode apresentar consumidos pelo novo
Camallanus cotti é um
a coloração branca ou hospedeiro, eclodem no
nematoide ovovivíparo
amarelada atingindo até intestino, completando o
... gastrointestinal de
13mm de comprimento, ciclo (Eiras et al., 2006).
peixes ornamentais ...
e seus ovos apresentam
[a] primeira ocorrência Após infestação, os prin-
formato de barril com
no Brasil [em] 2000, em cipais sinais clínicos são
opérculos polares achata-
... guppy importados da mudança de cor (torna-se
dos (Figura 11) (Zd’árská
Ásia e em peixe beta (... mais opaco), inchaço ab-
e Nebesárová, 2000). dominal (ascite) e perda
2006) ... introduzido
Seu ciclo de vida é di-
em outros países por ... crônica de apetite.
reto (monoxeno), sendo Camallanus cotti
comércio internacional
transmitido de um peixe
de peixes ornamentais. é um nematoide ovo-
para outro por meio da vivíparo que também
ingestão dos ovos, nor- pode infestar o trato
malmente infestando espécies mais jovens. gastrointestinal de peixes ornamentais,
Os ovos saem nas fezes, que afundam para principalmente na região do reto. A pri-
o substrato do tanque ou do aquário e lá meira ocorrência no Brasil foi no ano de
se desenvolvem parcialmente. Quando 2000, em espécies de guppy importa-

Figura 11. Capillaria pterophylli no tra-


to gastrointestinal de acará-bandeira
Pterophyllum scalare; ovo da Capillaria
pterophylli encontrado no lúmen in-
testinal. Fotos cedidas por Rodrigo Y.
Fujimoto.

5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 95


dos da Ásia (Alves et al., 2000), sendo pedeiro intermediário para completar
diagnosticado posteriormente em peixe seu ciclo (Eiras et al., 2006).
beta (Menezes et al., 2006). Acredita-se Os machos apresentam tamanho
que esse parasita tenha sido introduzido de aproximadamente 3mm, e as fêmeas
em outros países por meio do comércio 10mm (Menezes et al., 2006). Esses ne-
internacional de peixes ornamentais matoides possuem corpo alongado com
(Alves et al., 2000; Gagne et al., 2018; uma coloração amarelo-marrom e uma
Tavakol et al., 2017). cápsula bucal para fixação. Essa estrutura
A maioria dos camallanídeos tem bucal se fixa profundamente na parede
seu ciclo de vida indireto (heteróxeno), intestinal, causando danos ao tecido e
tendo alguns crustáceos como hospe- resultando em pontos de hemorragia e
deiros intermediários, os quais são inge- necrose (Menezes et al., 2006). Os sinais
ridos pelos peixes; contudo, na espécie clínicos consistem em ascite, redução da
Camallanus coti, as fêmeas produzem libido e parasitas avermelhados saindo
larvas viáveis, não necessitando do hos- da região anal (Figura 12).

Figura 12. A - Camallanus cotti apresentando as fêmeas exteriorizando a parte caudal. B – Visão em
microscópio das estruturas da cabeça de um camalanídeo. C – Camallanus cotti dentro do intestino de
Betta splendens. D – Camallanus sp. dentro do trato intestinal removido. Fotos cedidas por Rodrigo Y.
Fujimoto.

96 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


3.5. Isópodes Os isópodes ... São 4. Doenças
Os isópodes da grandes ectoparasitas fúngicas
família Cymothoidae obrigatórios ... 10-
consistem em mais 50mm ... e fortes 4.1.
de 380 espécies, es- garras para ... fixação Saprolegniose
tando a maioria das no hospedeiro ... Os patógenos fún-
espécies de água no tegumento, gicos que afetam peixes
doce distribuída nas nas brânquias, na de água doce pertencem
regiões leste e oeste cavidade opercular, à classe Oomycetes,
da bacia amazônica nas narinas e na boca gêneros Saprolegnia,
(Virgilio et al., 2020). ... que podem gerar Achylia, Aphanomyces
São grandes ectopa- pontos hemorrágicos e Branchiomyces
rasitas obrigatórios, evoluindo para necrose (Daugherty et al., 1998).
monoxeno, podendo tecidual. Entre esses patógenos,
medir entre 10-50mm Saprolegnia spp. é a mais
(Virgilio et al., 2020), que possuem importante e comum, sendo a causado-
corpo segmentado e fortes garras ra da doença saprolegniose. Saprolegnia
para auxiliar em sua fixação no hos- é um patógeno oportunista saprotrófi-
pedeiro. Podem ser encontrados fi- co, biotrófico e necrotrófico, responsá-
xados no tegumento, nas brânquias, vel por, pelo menos, 10% do declínio
na cavidade opercular, nas narinas econômico anual dos salmonídeos (tru-
e na boca (Thatcher, 2006). Nesses ta-arco-íris, salmão-do-atlântico e sal-
pontos de fixação, o principal sinal mão-coho) ( Judelson,
clínico são lesões te- 2012; Magray et al.,
ciduais, que podem ... Saprolegnia spp. é 2019; Noga, 2010;
gerar pontos hemor- a mais importante Sarkar et al., 2022).
rágicos evoluindo e comum, sendo Saprolegnia pode in-
para necrose tecidual. a causadora da fectar pele, boca, brân-
Devido à aparência ... saprolegniose. quias e ovos de peixes
grotesca do peixe in- Saprolegnia é um (Figura 14). Os micé-
festado (Figura 13), patógeno oportunista lios são semelhantes a
há uma repulsa dos saprotrófico, biotrófico algodão e, por isso, tam-
consumidores finais, e necrotrófico, bém é conhecida como
afetando, assim, o co- responsável por, pelo doença do algodão. A
mércio da espécie pa- menos, 10% do declínio epiderme é invadida pe-
rasitada (Eiras et al., econômico anual dos las hifas, causando ne-
2010). salmonídeos... crose tecidual, que pode
5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 97
Figura 13. A. Exemplar de isópode cimotoídeo em lupa. B. Peixe Iguanodectes sp. com isópode cimoto-
ídeo parasitando a região cefálica. C. Peixe-folha com o isópode retirado das brânquias. Fotos cedidas
por Rodrigo Y. Fujimoto.

Figura 14. A) Ovos de acará-bandeira infestados por Saprolegnia. B) Corte histológico de brânquia de
tilápia contendo hifas em esporulação, infectadas por Branchiomyces sanguinis (setas negras), hema-
toxilina e eosina. Fotos cedidas por Rodrigo Y. Fujimoto e Pedro H. O. Viadanna.

98 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


evoluir para úlceras dérmicas. Suas hifas 2018). Aphanomyces se propaga asse-
são ramificadas, não septadas, que pro- xualmente, por meio da formação de
duzem esporos (forma infectante). Seu zoosporangia, que consiste entre 30 e
desenvolvimento é favorecido em tem- 50 zoosporos primários, os quais serão
peraturas entre 15ºC e 26ºC (Pavanelli liberados e se encistarão em agupamen-
et al., 2008). tos aquiloides (Hawke et al., 2003).
Desses agrupamentos, os zoosporos
4.2. Síndrome ulcerativa secundários, que são móveis, serão libe-
epizoótica
rados (Iberahim et al., 2018). Estes irão
A síndrome ulcerativa epizoótica se transformar em um tubo germinal,
(epizootic ulcerative syndrome, EUS) é que eventualmente se desenvolverá em
uma doença multifatorial causada pelo micélio (Olson et al., 1984; Willoughby
fungo Aphanomyces invadans (Iberahim et al., 1995). O micé-
et al., 2018). Já foi diag- lio do Aphanomyces é
nosticada em mais de A síndrome ulcerativa em formato hifoide ci-
160 espécies de pei- epizoótica (epizootic líndrico e cenocítico,
xes de água doce ou ulcerative syndrome,
e as hifas variam entre
estuarina (Herbert et EUS) é uma doença
6 e 27µm de diâmetro
al., 2019). Essa doença multifatorial
(Roberts et al., 1993).
também é conhecida causada pelo fungo
como doença da man-
Aphanomyces invadans Em estágios avançados
de infecção, A. invadans
cha vermelha, micose
... diagnosticada em
granulomatosa, micose
mais de 160 espécies de também produz hifas
peixes de água doce ou vegetativas, zoospo-
ulcerativa e aphano- rangia e agrupamentos
estuarina.
micose epizoótica gra- de esporos (Diéguez-
nulomatosa (Baldock Uribeondo et al., 2004; Roberts et al.,
et al., 2005; Lilley e Roberts, 2003; 1993). A esporulação ocorre em águas
Lumanlan-Mayo et al., 1997). De acor- de baixa salinidade e em temperaturas
do com a OIE, é a única doença fúngi- abaixo de 25°C (Kiryu et al., 2005).
ca de notificação obrigatória em peixes Em condições hígidas, os mecani-
(OIE, 2019). mos de defesa da pele dos peixes são su-
Aphanomyces é um gênero que ficientes para prevenir a infecção por A.
pertence ao filo Oomycota, família invadans. Eventos que levem à supressão
Saprolegniaceae, que contém espécies do sistema imunológico, como hipóxia,
oportunistas/saprófitas, como A. repe- infecção por agentes infecciosos primá-
tans, e espécies que parasitam plantas, rios, má qualidade de água, diminui-
como A. cladogamus (Iberahim et al., ção abrupta de temperatura e estresse,
5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 99
poderão resultar em rias espécies de peixes
Branchiomyces causa
surtos de EUS (Kiryu de água doce (Noga,
lesão nas brânquias,
et al., 2005; Sanaullah
provocando trombose, 2010). As duas princi-
et al., 2001). Os zoos- pais espécies geradoras
isquemia e necrose
poros secundários irão de branquiomicose são
devido ao fato de esse
penetrar em lesões já Branchiomyces sangui-
tipo fungo proliferar
existentes na pele e for- nis e B. demigrans. No
em vasos sanguíneos
marão tubos germina- Brasil, já foi reportada
branquiais (Figura
tivos e hifas, causando essa doença em cascudi-
14). O diagnóstico
ulceração extensiva, nho-ouro (Baryancistrus
pode ser feito por
granulomas cutâneos e
exame microscópico a xanthellus) recém-cap-
necrose tecidual (OIE, turado do rio Xingu
fresco de biopsia das
2019). (Paperna e Di Cave,
brânquias, ou exame
O diagnóstico é fei- 2001), em um surto em
histopatológico ...
to mediante a identifi- uma produção de tam-
cação do Aphanomyces baqui no Pará (Pereira
em locais em que estejam ocorrendo a et al., 2012), e em um surto em tilápia
lesão de pele já descrita. A identificação no estado de São Paulo (Viadanna, nota
pode ser feita por meio da observação pessoal).
em microscópio de biopsia da lesão e Branchiomyces causa lesão nas brân-
da observação de hifas não septadas ca- quias, provocando trombose, isquemia
racterísticas desse fungo (OIE, 2019), e necrose devido ao fato de esse tipo
bem como por PCR (Iberahim et al., fungo proliferar em vasos sanguíneos
2018; Lilley et al., 2003), hibridização branquiais (Foto 14). O diagnóstico
in situ (OIE, 2019), imunofluorescên- pode ser feito por exame microscópico
cia (Miles et al., 2003) e testes imuno- a fresco de biopsia das brânquias, ou
lógicos (Adil et al., 2013). Apesar de o exame histopatológico (Yanong, 2003).
Brasil nunca ter reportado essa doença,
peixes exportados do Brasil já foram 5. Doenças virais
diagnosticados com essa enfermidade, Vírus são organismos únicos, que são
como o cardinal-tetra (P. axelrodi) (El- constituídos por, pelo menos, um mate-
Matbouli et al., 2014). rial genético e um envoltório proteico.
4.3. Branquiomicose No Brasil, já foram reportados alguns
vírus causando mortalidades em peixes,
Branquiomicose é uma doença pro- como o vírus da necrose infecciosa do
vocada por um fungo, que pode causar rim e do baço em tilápia (Figueiredo et
uma mortalidade alta e aguda em vá- al., 2021), o vírus do edema da carpa

100 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


em carpa koi (Viadanna DNA) entre 130-375
O vírus do edema da
et al., 2015) e o vírus kbp (ICTV, 2021). A
carpa (carp edema
da viremia primaveril família Poxviridae se di-
virus, CEV) [causa] a
da carpa em kinguio vide em duas subfamí-
... doença do sono da
(Costa Alexandrino et lias, Chordopoxvirinae
carpa koi ou doença
al., 1998). Outros ví- e Entomopoxvirinae,
do edema da carpa
rus já foram reportados sendo que a primeira
... As carpas ficam
em peixes ornamen- afeta vertebrados, com
mais próximas à
tais brasileiros, como 18 gêneros reconheci-
superfície da água,
o Lymphocystis vírus dos (ICTV, 2021).
com comportamento
(Araujo et al., 2011; O vírus do edema
letárgico, e ...
de Lucca Maganha et da carpa (carp edema
carga elevada de ...
al., 2020; Videira et al., virus, CEV) é um po-
ectoparasitos ... A
2011) e Cyprinid her- xvírus que afeta carpas
mortalidade é elevada
koi, sendo o primeiro
pesvírus 1 (Viadanna, em peixes jovens
poxvirus em peixes des-
2016), que podem (20-30g) e entre
coberto em 1974 (Ono
causar lesões de pele temperaturas de 15-
et al., 1986). Os dois
temporárias nas espé- 25°C ...
principais sintomas ob-
cies afetadas. Devido à
servados são: letargia,
vasta diversidade de peixes brasileiros,
que os produtores de carpa conhecem
há várias espécies virais que ainda não
como comportamento de “sonolência”,
foram descobertas e que podem causar
e edema branquial, que pode estar re-
um grande impacto sanitário para as es-
lacionado com fusão lamelar e necrose.
pécies de peixes em sistema de cultivo.
Devido a esses sinais clínicos, a doença
Nesta seção, serão abordados os prin-
é conhecida como doença do sono da
cipais vírus que podem afetar os peixes carpa koi ou doença do edema da carpa
ornamentais brasileiros. (Oyamatsu et al., 1997). As carpas afe-
5.1. Poxvírus tadas por essa doença ficam mais próxi-
mas à superfície da água, com compor-
Poxvírus são vírus pertencentes à
tamento letárgico, e comumente terão
família Poxviridae, que têm as seguintes uma carga elevada de infestação de ecto-
características comuns: vírions pleo- parasitas (Hesami et al., 2015; Phaya et
mórficos, que variam de formato de ti- al., 2021; Pikula et al., 2021; Viadanna,
jolo a ovoide; membrana lipoproteica 2016). A mortalidade é elevada em pei-
com unidades globulares, tubulares ou xes jovens (20-30g) e entre temperatu-
com filamento espiral; replicação inteira ras de 15-25°C (Miyazaki et al., 2005;
no citoplasma; e DNA de fita dupla (ds-
5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 101
Oyamatsu, 1996). Tratamento com Frog virus 3 (FV3), Santee-Cooper rana-
0,5% de sal diminui os efeitos da doen- virus (SCRV) e Singapore grouper iridovi-
ça, e consequentemente a taxa de mor- rus. FV3 é de notificação obrigatória em
talidade (Adamek et al., 2021). anfíbios devido ao seu impacto global e
O diagnóstico conclusivo é re- potencial de extinção de espécies (OIE,
alizado por meio de PCR de biopsia 2019). Em peixes, o ranavírus EHNV
branquial (Adamek et al., 2016), sendo é de notificação obrigatória, contudo
que, devido ao fato de essa espécie é restrita à
os sinais clínicos serem Austrália (OIE, 2019).
A doença linfocística
semelhantes ao herpes- SCRV causa mortalida-
é uma doença viral
vírus da koi (Cyprinid de principalmente em
bastante conhecida
herpesvirus 3, CyHV3), largemouth bass (M.
por aquariofilistas,
é recomendado fazer salmoides) (Plumb et al.,
caracterizada pela
o teste diferencial para 1996), mas já foi isolado
hipertrofia dos
esse importante agente em várias espécies de
fibroblastos da derme
viral (OIE, 2019). ... que forma uma lesão peixes, incluindo car-
pa koi, peixe-cirurgião
5.2. Iridovírus benigna similar a uma
verruga ... Afeta mais de e guppy (George et al.,
Iridovírus são
140 espécies de peixes 2015; Iwanowicz et al.,
vírus grandes, com 2013; Ohlemeyer et al.,
marinhos e de água
morfologia icosaédrica,
doce em todo o mundo 2011), sem uma relação
que possuem dsDNA,
... sendo encontrada, no clara do potencial de
pertencentes à família provocar doença nessas
Brasil ...
Iridoviridae. Os iri- espécies.
dovírus são divididos A doença linfocísti-
entre a subfamília Alphairidovirinae, ca é uma doença viral bastante conhe-
patógenos emergentes, pertencentes cida por aquariofilistas, caracterizada
aos gêneros Ranavirus, Lymphocystivirus pela hipertrofia dos fibroblastos da
e Megalocytivirus, os quais afetam pei- derme (Samalecos, 1986), que forma
xes, anfíbios e répteis; e a subfamília uma lesão benigna similar a uma ver-
Betairidovirinae, que afeta invertebra- ruga (Wolf, 1988). Afeta mais de 140
dos (ICTV, 2021). espécies de peixes marinhos e de água
O gênero Ranavirus inclui patógenos doce em todo o mundo (Hick et al.,
que afetam peixes, anfíbios e répteis, e 2016), sendo encontrada, no Brasil,
seis espécies: Ambystoma tigrinum virus, nos seguintes peixes ornamentais: aca-
Common midwife toad virus, Epizootic rá (Aequidens plagiozonatus) (Videira
haematopoietic necrosis virus (EHNV), et al., 2011), paru (Pomacanthus

102 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


paru) (Araujo et al., 2011), e peixe- rus (RSIV) e genótipo turbot reddish
-anjo-imperial (Pomacanthus impera- body virus (TRBIV), havendo, para
tor) (de Lucca Maganha et al., 2020). cada genótipo, dois subclados (Koda et
Atualmente, são reconhecidas quatro al., 2018; Song et al., 2008). O ISKNV
espécies, Lymphocystis disease virus 1 causa uma doença sistêmica com alta
(LCDV-1), LCDV-2, LCDV-3 e LCDV- taxa de mortalidade (Dong et al., 2015;
4 (ICTV, 2021). Peixes com a doen- Subramaniam et al., 2016), sendo
ça linfocística são mais susceptíveis identificados em mais de 50 espécies
a infecções secundárias, têm menor de peixes marinhos e de água doce, in-
taxa de crescimento e apresentam uma cluindo peixes ornamentais ( Johan e
aparência grotesca, o que inviabiliza a Zainathan, 2020; Johnson et al., 2019;
venda do espécime afetado (Cano et al., OIE, 2019; Subramaniam et al., 2012;
2013; Kitamura et al., 2006). Em geral, Wang et al., 2007). Os sinais clínicos
mortalidades associadas a essa doen- mais comuns incluem letargia e ascite
ça são raras, e a lesão regride em algu- ( Johan e Zainathan, 2020). As lesões
mas semanas (Essbauer e Ahne, 2001; microscópicas consistem em necrose
Paperna et al., 1982). O diagnóstico é esplênica, hepática, renal e intestinal,
realizado por meio de análise histopa- e podem ser observados corpúsculos
tológica da lesão, na qual é possível a de inclusão em células hipertrofiadas,
visualização dos fibroblastos dérmicos chamados de megalócitos (Chinchar
hipertrofiados contendo múltiplos cor- et al., 2009). O diagnóstico final des-
púsculos citoplasmáticos basofílicos al- sa doença consiste na associação dos
tamente reticulados, que consistem em sinais clínicos característicos, da ob-
uma lesão microscópica patognômoni- servação microscópica de biópsias de
ca (Reddacliff e Quartararo, 1992). O baço, rim e fígado e do PCR específico
exame de PCR do tecido afetado pode para ISKNV (OIE, 2019). No Brasil,
corroborar o diagnóstico dessa doença esse vírus já foi identificado em várias
(Ciulli et al., 2015). espécies de peixes ornamentais hígidas
O gênero Megalocytivirus contém (de Lucca Maganha et al., 2018) e em
duas espécies, Infectious spleen and kid- tilápias (Figueiredo et al., 2021), cau-
ney necrosis virus (ISKNV) e Scale drop sando alta morbidade e mortalidade.
disease virus (ICTV, 2021). O ISKNV O ISKNV tem baixa específicidade, e
é um vírus de notificação obrigatória variantes podem afetar múltiplas espé-
para algumas espécies de peixes (OIE, cies simultaneamente. Assim, normas
2019) e tem uma taxonomia complexa, de biossegurança mais rígidas preci-
com 3 genótipos distintos: genótipo sam ser adotadas para conter a disper-
ISKNV, genótipo red seabream iridovi- são desse vírus no Brasil.
5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 103
5.3. Alloherpesvírus existem relatos pouco frequentes dessa
doença na Europa (Pakk et al., 2011;
Os herpesvírus são altamente
Schaperclaus, 1969), América (Hedrick
disseminados na natureza, que contém
et al., 1990; Viadanna et al., 2017;
genomas (125-295 kbp) de dsDNA e
Waltzek et al., 2009) e Ásia (Rahmati-
possuem a habilidade de latência. Os her-
Holasoo et al., 2020; Sano et al., 1985b;
pesvírus são divididos em três famílias
Timur, 1991; Yardimci et al., 2009).
distintas: Herpesviridae, que afeta ma-
CyHV-1 foi isolado, pela
míferos, aves e répteis;
Malacoherpesviridae, Entre os primeira vez, de carpa
que infecta moluscos; Alloherpesvírus mais comum no Japão (Sano
e Alloherpesviridae, relevantes que afetam et al., 1985b) e pode
que afeta peixes e an- peixes ornamentais, causar doenças em car-
fíbios (Davison et al., estão as espécies pas comuns, várias va-
2009; McGeoch et Cyprinid herpesvirus 1 riedades de carpa koi e
al., 2006; Waltzek et (CyHV-1) e Cyprinid barbos (Barbus barbus)
al., 2009). Entre os herpesvirus 3 (CyHV-3), (Borzák et al., 2020).
Alloherpesvírus mais que afetam carpas koi, Lesões semelhantes
relevantes que afetam e Cyprinid herpesvirus foram observadas em
peixes ornamentais, es- 2 (CyHV-2), que afeta escalo (Leiciscus idus)
tão as espécies Cyprinid kinguios... (McAllister et al., 1985;
herpesvirus 1 (CyHV-1) Enquanto CyHV- Steinhagen et al., 1992)
e Cyprinid herpesvirus 3 3, CEV e vírus da e em várias outras espé-
(CyHV-3), que afetam viremia primaveril cies de peixes (Waltzek
carpas koi, e Cyprinid da carpa (SVCV) et al., 2009); no entanto,
herpesvirus 2 (CyHV-2), têm sido associados sua relação com CyHV-
que afeta kinguios. a doenças letais em 1 ainda é desconhecida.
A infecção com carpas, CyHV-1 é um Enquanto CyHV-
CyHV-1 é conhecida vírus oncogênico que 3, CEV e vírus da vire-
desde a Idade Média, raramente provoca mia primaveril da carpa
na Europa (Nigrelli, mortalidade ... (SVCV) têm sido asso-
1952), a chamada do- episódios sazonais de ciados a doenças letais
ença da varíola da car- hiperplasia epidérmica em carpas, CyHV-1 é
pa, papilomatose da ... semelhantes a um vírus oncogênico
carpa ou Herpesvirus crescimentos mucoides que raramente provo-
cyprini (Sano et al., a cerosos, similares ca mortalidade (Sano
1985b, 1985a). Apesar a uma “cera de vela et al., 1991). CyHV-1
dessa longa história, derretida”. causa episódios sazonais
104 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
de hiperplasia epidérmica, que podem senvolvimento de papiloma em carpa
ocorrer de áreas pequenas a extensas (Sano et al., 1993a, 1993b, 1992, 1991,
do corpo do peixe semelhantes a cres- 1985b). A lesão pode evoluir para carci-
cimentos mucoides a cerosos, similares noma de células escamosas (Sirri et al.,
a uma “cera de vela derretida” (Figura 2018; Wildgoose, 1992) e pode causar
15). As células epidérmicas afetadas doença sistêmica letal em carpas com
podem apresentar uma ampla gama de menos de dois meses (Lu et al., 2009;
alterações citológicas, tais como hiper- McAllister et al., 1985; Sano et al., 1991,
plasia papilomatosa, citomegalia, mul- 1985b; Sirri et al., 2018; Wolf, 1988).
tinucleação, anisocariose, cariomegalia, A doença geralmente ocorre em tem-
cromatina marginal, figuras mitóticas e peratura da água abaixo de 20°C. Com
inclusões de Cowdry tipo A (Hedrick o aumento da temperatura da água, os
et al., 1990; Sano et al., 1991, 1985b, crescimentos da pele regridem esponta-
1985a). CyHV-1 está envolvido no de- neamente, provavelmente devido a uma

Figura 15. A) Carpa koi apresentando lesões características por CyHV-1, que consiste em hiperplasia
cutânea em região de face e nadadeira caudal, lembrando “vela derretida” (setas amarelas). No ros-
to também é observada neoplasia, que pode ser decorrente da mesma infecção viral. B) Carpa koi
apresentando posicionamento característico em peixes com CEV. C) Carpa koi naturalmente infectada
por CEV, apresentando lesões branquiais, que consistem em áreas de necrose intercaladas em tecidos
hiperêmicos (seta amarela). Fotos cedidas por Pedro H. O. Viadanna.

5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 105


forte resposta mediada por células, pois de então, em todas as regiões do mun-
os leucócitos são abundantes na resolu- do (Goodwin et al., 2006), incluindo
ção dessas lesões cutâneas (Hedrick et o Brasil (Viadanna, 2016). Ocorre em
al., 1990; Morita e Sano, 1990; Sano et temperaturas da água entre 15-25°C e
al., 1993b; Wolf, 1988). Uma vez que é causa letargia, anorexia, ascites e brân-
difícil isolar CyHV-1 (Calle et al., 1999; quias empalidecidas, (Groff et al., 1998;
Hedrick et al., 1990), o exame histopa- Jeffery et al., 2007; Jung e Miyazaki,
tológico e a PCR de fragmento da pele 1995). CyHV-2 também provoca la-
afetada são os métodos mais apropria- tência viral, fazendo com que peixes
dos para o diagnóstico (Viadanna et al., que sobreviveram à primeira infecção
2017). possam reativar o vírus após eventos
CyHV-2 é conhecido como vírus de estresse, como mudança drástica de
da necrose hematopoiética do kinguio, temperatura da água, transporte, trau-
ou necrose hematopoiética herpesviral. matismo, infecções secundárias, e está-
Até o momento, mortalidades e status gios de maturidade reprodutiva (Chai et
de portador foram relatados principal- al., 2020; Wei et al., 2019). O CyHV-2
mente para peixes do gênero Carassius, penetra nas brânquias e causa lesões
ou seja, kinguio ou peixe-dourado (C. sistêmicas nos peixes afetados (Ding et
auratus auratus), carpa-prussiana (C. al., 2014). O rim cranial e o baço são os
gibelio) e carpa-cruciana (C. carassius) órgãos mais susceptíveis ao vírus (Lu
(Fichi et al., 2013; Haenen et al., 2016; et al., 2016; Shibata et al., 2015), sendo
Jiang et al., 2015). Kinguios da raça esses os órgãos preferenciais para diag-
Edonishiki e as subespécies ginbuna (C. nóstico por meio de PCR (Goodwin et
auratus langsdorfii) e nagabuna (C. au- al., 2009).
ratus buergeri) são mais susceptíveis ao O vírus CyHV-3, também conhe-
CyHV-2, enquanto a subespécie nigoro- cido como koi herpesvírus, é o único
buna (C. auratus grandoculis) e a carpa herpesvírus de peixe que é de notifica-
comum não apresentam nenhum sinal ção obrigatória pela OIE (OIE, 2019).
clínico ou mortalidade (Ito e Maeno, Foi descoberto em 1998, na Alemanha
2014). Mortalidade em massa das raças (Bretzinger et al., 1999; Hedrick et al.,
Wakin e Véu-de-Noiva foi observada no 2000; Neukirch e Kunz, 2001), e acre-
Reino Unido de kinguios importados dita-se que, como o CyHV-2 e outros
da Tailândia, e os peixes moribundos agentes virais, está amplamente dissemi-
apresentaram letargia e brânquias páli- nado pelo mundo, por meio do comér-
das (Panicz et al., 2019). A doença foi cio internacional de peixes ornamentais
primeiramente reportada no Japão, nos (Haenen et al., 2004; Oh et al., 2001;
anos 90 ( Jung e Miyazaki, 1995), e, des- Tu et al., 2004). Carpas koi, comum e
106 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
híbridos, são susceptíveis a esse vírus 5.4. Rhabdovírus
(Bergmann et al., 2010), sendo que kin-
A família Rhabdoviridae inclui
guios podem ser carreadores assintomá-
três subfamílias (Alpharhabdovirinae,
ticos (El-Matbouli et al., 2007; Sadler et
Betarhabdovirinae e
al., 2008). A pele é o local onde o vírus
Gammarhabdovirinae), 40 gêneros e
primeiramente se replica e infecta o hos-
246 espécies de vírus que têm RNA de
pedeiro (Costes et al., 2009), evoluindo
fita simples (ssRNA), sentido negativo,
para uma viremia, na qual causa necrose
tendo seus vírions um nucleocapsídeo
branquial e renal (Adamek et al., 2013; de simetria em hélice, contido por um
Hedrick et al., 2000). O vírus é transmi- envelope lipídico com uma morfolo-
tido por meio da urina, do muco da pele gia baciliforme ou de projétil (“bala”)
e das brânquias e pelas fezes (Dishon (Walker et al., 2018). O vírus replica-
et al., 2005; Gilad et al., -se no citoplasma das
2004; Negenborn et al., células infectadas, e os
2015). Os surtos ocor-
Novirhabdovirus
salmonid, ... causa a vírions germinam na
rem principalmente membrana plasmática
necrose infecciosa
entre 16-25°C e podem ou membranas internas,
hematopoiética
resultar em alta mor- formando corpúsculos
(infectious
talidade (80-100%) de inclusão intracito-
hematopoietic
(Haenen et al., 2004). plasmáticos (Walker et
necrosis, IHNV);
Peixes que sobrevivem al., 2018).
Novirhabdovirus
podem se tornar carre- A subfamília
piscine, que provoca a
adores, e pode ocorrer septicemia hemorrágica Alpharhabdovirinae é
latência viral, com res- viral (viral hemorrhagic formada por vírus que
surgimento da doença septicemia, VHS); e afetam animais verte-
após eventos estressan- Sprivirus cyprinus, que brados e invertebrados,
tes (Monaghan et al., acarreta a doença da sendo que os gêne-
2015). Os sinais clínicos viremia primaveril da ros Novirhabdovirus,
mais relevantes são: le- carpa (spring viremia of Perhabdovirus e
targia, enoftalmia, brân- carp, SVC). Sprivivirus afetam pei-
quias empalidecidas e xes. As doenças e suas
pele com textura de lixa (Bretzinger et espécies virais mais relevantes e de no-
al., 1999; Hedrick et al., 2000). Entre os tificação obrigatória pela OIE (OIE,
métodos de diagnóstico, exame de PCR 2019; Walker et al., 2018) são as se-
de brânquia são os mais recomendados guintes: Novirhabdovirus salmonid, que
(Bercovier et al., 2005; Engelsma et al., causa a necrose infecciosa hematopoié-
2013; Gilad et al., 2002; OIE, 2019). tica (infectious hematopoietic necrosis,
5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 107
IHNV); Novirhabdovirus piscine, que 2021). Os sinais clínicos incluem letar-
provoca a septicemia hemorrágica viral gia, natação lateral, repouso em posições
(viral hemorrhagic septicemia, VHS); e anormais, agregação nas margens do
Sprivirus cyprinus, que acarreta a doença tanque ou lago, exoftalmia, ascite, he-
da viremia primaveril da carpa (spring vi- morragias cutâneas e viscerais, brânquias
remia of carp, SVC). pálidas e enterite catarral (Ahne et al.,
Entre esses vírus, SVC é a mais re- 2002; Fijan, 1999). O diagnóstico pode
levante para peixes ornamentais, pois ser feito por meio de exames de PCR e
pode afetar carpa koi, kinguio, paulisti- de isolamento viral de fragmentos de rim
nha e guppy (Lebistes reticulatus) (Ahne e baço (OIE, 2019).
et al., 2002; Bachmann e Ahne, 1974;
Goodwin, 2002; Sanders et al., 2003;
5.5. Picornavírus
Zhou et al., 2021). SVC A família
é considerada endêmica Picornaviridae consiste
na Europa, América do
... o picornavírus do em vírus pequenos, não
Norte e Ásia (Ashraf et
peixe-palhaço (CFPV) envelopados, ssRNA de
... (Amphiprion sentido positivo, que são
al., 2016). É também
ocellaris) ... é o mais importantes patógenos
conhecida como ascite
relevante ... identificado para animais e plantas.
infecciosa da carpa, he-
apenas nos EUA ...
morragia septicêmica, Existem 147 espécies de
causa alta mortalidade,
rubéola ou doença do picornavírus agrupadas
... letargia, mudança de
vermelho infeccioso em 63 gêneros (ICTV,
coloração, taquipneia,
(Schaperclaus, 1969). 2021). Em peixes or-
condição corporal
Trata-se de uma doença namentais, o picorna-
diminuída e posição
importante, pois pode anormal na coluna vírus do peixe-palhaço
causar mortalidades aci- d’água. (CFPV), que afeta o pei-
ma de 50% e afeta prin- xe-palhaço (Amphiprion
cipalmente animais jovens (Fijan, 1976). ocellaris) (Scherbatskoy et al., 2020), é o
A intensidade das lesões e a mortalidade mais relevante. Esse vírus foi identificado
dependem da temperatura da água e do apenas nos EUA, mas, devido ao fato de
sistema imunológico do peixe afetado. ser uma doença recém-descoberta, seu
Por exemplo, foi verificado que entre 10- impacto global ainda tem que ser avalia-
12°C, 90% da população de carpas mor- do (Scherbatskoy et al., 2020). O CFPV
reram devido ao SVCV, enquanto entre causa alta mortalidade, e os peixes afe-
20-22°C, não houve nenhuma mortalida- tados apresentam letargia, mudança de
de (Ahne, 1986); em paulistinha, a maior coloração, taquipneia, condição corporal
mortalidade ocorreu a 22°C (Zhou et al., diminuída e posição anormal na coluna
108 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
d’água (Scherbatskoy é um vírus envelopado,
Tilápia lake virus
et al., 2020). O diag- ssRNA sentido nega-
(TiLV) é um vírus
nóstico pode ser feito tivo, contendo 10 seg-
descoberto em Israel,
por meio de exames de mentos (Surachetpong
em 2014 ...[em]...
PCR de fígado, baço e et al., 2017). Diferentes
tilápias. ... pode
rim (Scherbatskoy et al., taxas de mortalidade
também afetar ...
2020). têm sido reportadas,
paulistinha ... gourami-
variando entre 10-80%
5.6. Tilápia lake gigante (Osphronemus
goramy) ... ciclídeos (Surachetpong et al.,
virus
africanos ... e ciclídeos 2020). Os sinais clínicos
Tilápia lake virus observados são letargia,
africanos de Malawi do
(TiLV) é um vírus desco- isolamento do cardu-
gênero Aulonocara ...
berto em Israel, em 2014 me, perda de apetite,
... TiLV foi reportado
(Eyngor et al., 2014), que lesões cutâneas e ocu-
na Ásia, Europa,
afeta principalmente ti- lares e ascite (Jansen et
África e América ...
lápias. Contudo, pode al., 2019; Tattiyapong
vírus único ... à família
também afetar os seguin- et al., 2017). O diagnós-
Amnoonviridae, gênero
tes peixes ornamentais: tico pode ser feito por
Tilapinevirus, espécie
paulistinha, (Rakus et al., meio de exame de PCR
Tilapia tilapinevirus.
2020), gourami-gigante de fígado, rim e cérebro,
(Osphronemus goramy) principalmente (Eyngor
(Chiamkunakorn et al.,
... Nodaviridae
et al., 2014; Tattiyapong
2019; Jaemwimol et al.,
contém dois gêneros:
et al., 2018).
2018), ciclídeos africa-
Alphanodavirus, que
nos (Kembou Tsofack
pode afetar insetos 5.7. Nodavírus
et al., 2017) e ciclídeos
e mamíferos ... e A família
africanos de Malawi
Betanodavirus, que Nodaviridae con-
causa lesões nervosas tém dois gêneros:
do gênero Aulonocara
e alta mortalidade em
(Yamkasem et al., 2021). Alphanodavirus,
peixes conhecida como
Até 2020, o TiLV foi que pode afetar in-
necrose nervosa viral
reportado na Ásia, setos e mamíferos
ou encefalopatia e
Europa, África e América (Adachi et al., 2008);
retinopatia viral ...
(Surachetpong et al., e Betanodavirus, que
2020). É um vírus único, causa lesões nervosas e
pertencente à família Amnoonviridae, alta mortalidade em peixes conhecida
gênero Tilapinevirus, espécie Tilapia ti- como necrose nervosa viral ou encefa-
lapinevirus (Adams et al., 2017). O TiLV lopatia e retinopatia viral (Munday et

5. Doenças de peixes ornamentais no contexto brasileiro 109


al., 2002; Shetty et al., 2012). O geno- Os fatores de risco mais importantes
ma do Betanodavirus é bissegmentado, observados em ambientes de produção
composto por duas moléculas de ssRNA e venda de peixes ornamentais são rela-
(Mori et al., 1992). É a doença viral mais cionados à alta densidade de estocagem,
disseminada em peixes marinhos (Doan ao compartilhamento de utensílios sem
et al., 2017), sendo isolada em mais de a devida desinfecção (rede, puçás, etc.),
40 espécies de peixes, incluindo alguns à ausência de período de quarentena,
peixes de água doce, como guppies, ao uso indiscriminado de fármacos –
bagres, piranha-vermelha (Pygocentrus auxiliando, assim, o desenvolvimento
nattereri) e paulistinha (Chi et al., 2003; de agentes patogênicos resistentes – e
Gomez et al., 2006; Hegde et al., 2003; à ausência de profissionais capacitados
Lu et al., 2008). Os peixes afetados por para a identificação dos pontos críticos,
esse vírus geralmente ficam próximos à a fim de mitigar os riscos infecciosos,
borda do tanque e apresentam natação bem como para a identificação de agen-
aberrante (em rodopio, por exemplo), te patogênicos.
letargia, perda de apetite e enegreci- Nesse sentido, essa revisão, em con-
mento da pele (Breuil et al., 1991; Chi junto com o livro “Peixes Ornamentais
et al., 1997; Yoshikoshi e Inoue, 1990). no Brasil” (Rezende e Fujimoto, 2021),
O exame histopatológico do cérebro almeja aumentar a disseminação de con-
apresenta vacuolização do sistema ner- teúdo técnico sobre sanidade dos peixes
voso central, principalmente da retina ornamentais para médicos veterinários,
e do cérebro (S. Grotmol et al., 1997; zootecnistas, biólogos, aquacultores,
S. Grotmol et al., 1997). O diagnóstico engenheiros de pesca, aquaristas, pro-
pode ser feito por meio de exames de dutores e estabelecimentos comerciais,
PCR de cérebro e olho, principalmente a fim de tornar a cadeia de peixes orna-
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124 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


6. Principais aspectos
sanitários na produção
de peixes ornamentais
pixabay.com

Camila Antunes Marra1*,


Victória Pontes Rocha2,
Guilherme Campos Tavares3
1 Engenheira de aquicultura (CREA-MG 141868249-7), Sócia fundadora da Ethos Aquacultura Consultorias
2 Mestranda, médica veterinária (CRMV-CE 3484), DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
3 Professor adjunto, médico veterinário (CRMV-MG 11340), doutor, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
*autor para correspondência: camilamarra.brazilianfish@gmail.com

1. Introdução evitar a instalação de doenças em uma


produção de peixes ornamentais? A
Sabe-se que, para lidar com pei-
resposta é a prevenção. Infelizmente,
xes, é necessário se atentar não apenas
na maioria dos casos, a prevenção só
aos aspectos nutricionais e genéticos,
vai ser buscada pelos produtores após
mas sobretudo às questões ambientais,
a instalação de algum problema sanitá-
como controle da qualidade de água,
rio na propriedade. Portanto, cabe ao
e sanitários, como cuidados relaciona-
profissional especialista contratado não
dos aos agentes externos e patogênicos.
apenas solucionar o problema, mas tam-
Qualquer desequilíbrio dentro de todas
bém identificar pontos críticos que pos-
essas variáveis pode levar ao apareci-
sam minimizar ou inviabilizar uma nova
mento de enfermidades.
ocorrência do problema na propriedade.
Dessa forma, como proceder para
6. Principais aspectos sanitários na produção de peixes ornamentais 125
Pensando nisso, Assim, o profissio-
... este capítulo
este capítulo tem como nal precisará verificar os
tem como objetivo
objetivo apresentar os seguintes parâmetros de
apresentar os
principais aspectos sa- qualidade de água: amô-
principais aspectos
nitários relacionados à nia, nitrito, pH, alcali-
sanitários relacionados
produção de peixes or- nidade, condutividade,
à produção de
namentais, destacando oxigênio e temperatura
peixes ornamentais,
alguns pontos críticos (Rezende et al., 2021).
destacando alguns
de controle que devem Com relação aos aspec-
pontos críticos de
ser considerados para tos clínicos, é realizada
controle que devem
que não haja o estabe- ser considerados a avaliação clínica dos
lecimento de doenças para que não haja animais, observando-se
infecto-parasitárias no o estabelecimento comportamentos e as-
sistema de produção. de doenças infecto- pectos físicos conside-
parasitárias no sistema rados anormais, como
2. Diagnóstico de produção. diminuição no consumo
de campo do alimento, natação
Como descrito no Capítulo 9, dos errática, exoftalmia, lesões no tegumen-
Cadernos Técnicos de Veterinária e to, distensão da cavidade celomática,
Zootecnia, edição nº 101 (Tavares, boquejamento, apatia, entre outros
2022), quando há pro- (Bassleer, 2011).
blemas em uma pisci- Com relação aos Diante disso, os
cultura, algumas etapas aspectos clínicos, é peixes moribundos são
devem ser seguidas. A realizada a avaliação capturados para a co-
primeira delas se dá clínica dos animais, leta de espécimes bio-
pela procura de um observando-se lógicos, como sangue,
profissional especiali- comportamentos fragmentos de brânquia,
zado, o qual realizará o e aspectos físicos muco e fezes, sendo
diagnóstico de campo, considerados anormais, possível observar a pre-
por meio de uma ana- como diminuição no sença de parasitos, pro-
mnese em relação aos consumo do alimento, tozoários, fungos e al-
eventos que ocorreram natação errática, gumas bactérias (Figura
na propriedade, abor- exoftalmia, lesões no 1). Além disso, pode-se
dando pontos relacio- tegumento, distensão realizar a eutanásia dos
nados aos aspectos am- da cavidade celomática, animais, obedecendo às
bientais e à saúde dos boquejamento, apatia, diretrizes estabelecidas
animais. entre outros. pela Resolução CFMV
126 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
Figura 1. Monitoramento sanitário em produção de peixes ornamentais. A. Avaliação de comporta-
mento e de presença de sinais clínicos nos peixes; B. Visualização microscópica de espécimes coletadas
a campo. Fotos cedidas por Camila Antunes Marra.

nº 1.000, de 11 de maio de 2012, para dem acometer os peixes ornamentais,


coleta de órgãos e subsequente envio como pode ser visto nesta edição dos
para laboratório especializado em diag- Cadernos Técnicos, mas, além deles, é
nóstico, que fará análises para detecção preciso verificar se as perdas que ocor-
de infecções causadas por bactérias, me- rem na produção não estão associadas
tazoários, protozoários, fungos, além de às deficiências nutricionais, à into-
proliferações epidérmicas idiopáticas xicação com químicos utilizados em
e neoplasias. Para maiores detalhes de plantações, às lesões traumáticas, ou às
como proceder à coleta e à remessa de malformações genéticas em decorrên-
peixes para laboratórios de diagnóstico, cia do cruzamento entre parentes em
consultar o Capítulo 7 da edição nº 73 algumas espécies (fator genético atre-
dos Cadernos Técnicos de Veterinária e lado à consanguinidade).
Zootecnia (Tavares et al., 2014). Por conseguinte, caberá ao especia-
Caso não haja indí- lista a tentativa de mini-
cios que justifiquem as Caso não haja indícios mizar a causa primária
altas taxas de morbi- que justifiquem as altas com a implementação
dade e mortalidade no taxas de morbidade de medidas corretivas,
plantel, o especialista e mortalidade no que pode ser a curto
deverá buscar realizar plantel, o especialista prazo, por meio de me-
o diagnóstico definiti- deverá buscar dicação, ou a longo pra-
vo mediante envio de realizar o diagnóstico zo, com a implantação
animais para labora- definitivo mediante de protocolos sanitá-
tórios especializados. envio de animais rios e por meio da ges-
Diferentes agentes in- para laboratórios tão de biosseguridade
fectoparasitários po- especializados. na propriedade.
6. Principais aspectos sanitários na produção de peixes ornamentais 127
3. Implantação ... os pontos críticos
aumento da produtivi-
de protocolos dade primária (Mathias,
da propriedade devem
1999). No entanto, essa
sanitários nas ser identificados,
técnica possui alguns
propriedades analisando-se
a adubação ..., pontos críticos que
Para o estabeleci- a densidade de merecem ser relatados.
mento dos protocolos estocagem, as Alguns produtores fa-
sanitários, é necessário instalações, as zem o uso do esterco
considerar as singulari- estruturas e os fresco, proveniente de
dades de cada proprie- equipamentos, a aves ou bovinos, na
dade. Assim, esses pro- entrada de animais, adubação dos sistemas,
tocolos são específicos. o status sanitário da em quantidades exorbi-
Como primeiro passo produção, a origem da tantes. O excesso desse
para a implantação des- água de abastecimento, material é justificado
sas medidas, os pontos a presença de vetores, pelo fato de que larvas
críticos da propriedade o arraçoamento, o de algumas espécies
devem ser identifica- descarte de animais de peixes ornamentais
dos, analisando-se a mortos, o transporte e são muito pequenas,
adubação realizada no o fluxo de pessoas. com dificuldade de se
sistema, a densidade de alimentar por conta do
estocagem, as instalações, as estruturas e tamanho do aparelho bucal. Dessa for-
os equipamentos, a entrada de animais, ma, o produtor aduba o tanque exces-
o status sanitário da produção, a origem sivamente para que haja a produção de
da água de abastecimento, a presença de alimento vivo necessário à alimentação
vetores, o arraçoamento, o descarte de adequada da larva.
animais mortos, o transporte e o fluxo Como consequência desse excesso
de pessoas (Figueiredo de adubação, ocorre a
e Leal, 2008; Kubitza, A adubação é eutrofização da água im-
2015). fundamental pactando diretamente
para aumentar a nos parâmetros de qua-
3.1. Adubação disponibilidade de lidade de água e na vida
A adubação é fun- nutrientes necessários dos animais (Figura 2).
damental para aumen- ao “bloom” de Além disso, o esterco
tar a disponibilidade de microalgas ... No fornecido de forma fres-
nutrientes necessários entanto, essa técnica ca, sem passar por um
ao “bloom” de microal- possui alguns pontos processo de composta-
gas, o que acarreta um críticos ... gem adequado, favorece
128 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
Figura 2. Coloração esverdeada da água associada ao processo de adubação, o que influencia na quali-
dade da água. Fotos cedidas por Camila Antunes Marra.

a entrada de patógenos na produção. A ultrapassar os limites recomendáveis


sugestão para minimizar ou erradicar da densidade de estocagem dos peixes.
esse problema é realizar a compostagem Com a maior quantidade de animais
ou utilizar a adubação química. nos tanques, há, consequentemente, o
3.2. Altas densidades de aumento de matéria orgânica e, em ra-
estocagem zão disso, alguns animais começam a
ficar apáticos.
Outro problema frequentemente
observado é relacionado a altas densida- A alternativa encontrada pelos pro-
des de estocagem nos tanques. A maio- dutores para contornar esse problema
ria deles são pequenos (3m x 3m ou 2m seria o choque químico, conhecido po-
x 3m), já que proporcionam um maior pularmente como “tombo”. Essa prá-
aproveitamento dos espaços, além tica consiste na troca dos indivíduos
de necessitar de menos mão de obra. que estão nesse tanque com excesso
Todavia, alguns produtores optam por de animais e de matéria orgânica para
6. Principais aspectos sanitários na produção de peixes ornamentais 129
um tanque preparado
O problema desse 3.3. Instalações e
com a água mais lim- tipo de manejo é o ... equipamentos
pa. O problema desse choque químico, já Com relação às ins-
tipo de manejo é jus- que pode não ocorrer talações, às estruturas e
tamente esse choque a análise da água ... aos equipamentos uti-
químico, já que pode e ... os parâmetros lizados nos sistemas de
não ocorrer a análise estarão completamente produção, a maioria das
da água desses tanques diferentes ... sendo um fazendas possuem adap-
e, certamente, os parâ- gatilho para a queda tações, uma vez que não
metros estarão com- de imunidade dos existem muitas tecnolo-
pletamente diferentes.
animais, tornando-os gias próprias à produção
mais susceptíveis [a] de peixes ornamentais.
Essa prática pode ser
infecções.
bastante estressan- Um exemplo disso é o
te, sendo um gatilho para a queda de que ocorre na produção
imunidade dos animais, tornando-os do peixe Betta (Betta splendens). Esse é
mais susceptíveis ao desencadeamen- conhecido por ter um comportamento
to de infecções. agressivo. Na fase de separação entre

Figura 3. Produção de peixes ornamentais em garrafas PET. A. As garrafas são usadas para montar os
casais e para o macho fazer o ninho de bolhas. É possível verificar na imagem acúmulo de sujeira no
sistema. B. Excesso de matéria orgânica e falta de higienização das colmeias. Fotos cedidas por Camila
Antunes Marra.

130 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


machos e fêmeas, os do realizada por profis-
... o ponto crítico ...
produtores realocam sional capacitado, é de
formação de biofilme
os machos em garrafas suma importância, pois
... de microrganismos
PET cortadas e amar- oportunistas ou os parasitos são oportu-
radas, dispostas em patogênicos no sistema nistas e, dependendo da
formato de colmeias ... [exige] a limpeza e a carga infestante, podem
(Figura 3). No entan- desinfecção ... [e] vazio ser indicativos de exces-
to, o ponto crítico des- sanitário ... so de matéria orgânica
se tipo de estrutura é a no ambiente. Assim, o
possibilidade de formação de biofilme, ponto crítico seria relacionado a falhas
que fica entre uma garrafa e outra, con- no protocolo de limpeza e na desinfec-
tribuindo para a instalação e a dissemi- ção das instalações, ou ainda poderia
nação de microrganismos oportunistas estar relacionado à origem da água de
ou patogênicos no sistema. A recomen- abastecimento.
dação para eliminação desse ponto crí-
tico é a limpeza e a desinfecção desse
3.5. Água de abastecimento
tipo de utensílio, além Ter o conhecimento a respeito de
dos tanques e de outras qual é a origem da água
estruturas e materiais ... o ponto crítico ... de abastecimento da
utilizados no manejo formação de biofilme propriedade é extrema-
dos animais (Figura
... de microrganismos mente necessário para
4). O vazio sanitário é
oportunistas ou evitar a entrada de pató-
também sugerido para
patogênicos no sistema genos indesejados, além
... [exige] a limpeza e a de toxinas ou de outros
que haja a interrupção
desinfecção ... [e] vazio
do ciclo de vida de al- compostos químicos
sanitário ...
guns microrganismos que possam prejudicar
(Pádua, 2017). a produção. Nesse sen-
tido, realizar a análise da água, além da
3.4. Status sanitário utilização de filtros mecânicos ou bio-
É imprescindível que o médico vete- lógicos, seria alternativa para contornar
rinário faça a avaliação do status sanitá- esses problemas.
rio da propriedade, por meio do exame
parasitológico dos animais e da obser- 3.6. Introdução de animais
vação de sinais clínicos indicativos de Outra questão a ser observada nas
doenças infecciosas, sejam de origem propriedades é a entrada de animais no
viral, bacteriana ou micótica. A avalia- plantel. É relativamente comum, nesse
ção parasitária realizada a campo, quan- tipo de produção, a troca de matrizes
6. Principais aspectos sanitários na produção de peixes ornamentais 131
Figura 4. Limpeza de estufa e tanques após saída de lotes. Foto cedida por Camila Antunes Marra.

ou de indivíduos de dem estar carreando


... sugere-se a ...
um padrão de seleção algum patógeno desco-
quarentena de todos
muito desejado entre nhecido para aquele sis-
os indivíduos a
os produtores vizinhos tema. Assim, sugere-se a
serem inseridos na
(Figura 5). Além disso, realização da quarentena
propriedade. Essa
em alguns locais, há a de todos os indivíduos a
quarentena deve ser
importação de animais serem inseridos na pro-
feita em um ambiente
de forma clandestina. priedade. Essa quarente-
isolado, sem contato
A consequência da na deve ser feita em um
com outras instalações
entrada desses animais ambiente isolado, sem
da propriedade.
na produção é que po-

132 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


Figura 5. Espécies de interesse para a comercialização de peixes ornamentais. A. Mato Grosso Véu. B.
Molinésia Red Tiger Lira. Fotos cedidas por Camila Antunes Marra.

contato com outras ins- de peixes ornamentais,


talações da propriedade.
Recomenda-se a o uso de telas propicia o
compostagem como
fechamento dos tanques,
3.7. Descarte de destino adequado dos
animais mortos restringindo o acesso de
animais mortos.
outros animais (Rezende
O descarte de ani- et al., 2021). Os peixes são muito atrativos
mais mortos deve ser realizado em um a predadores, como as aves, sendo essas,
ágil período e de forma correta, a fim
muitas vezes, hospedeiros intermediários
de se evitar a proliferação de doenças.
de enfermidades e carreadoras de micror-
Muitas vezes, as carcaças são destina-
ganismos oportunistas capazes de causar
das à alimentação de outros animais ou,
doença aos animais aquáticos.
ainda, enterradas, com
impacto direto no meio
Rações de baixa 3.9. Qualidade
ambiente. Recomenda-
qualidade impactam da ração
se a compostagem
negativamente o Outro ponto impor-
como destino adequa-
desenvolvimento ... tantíssimo a ser avaliado
do dos animais mortos.
gerando desnutrição, em qualquer sistema de
3.8. Controle imunossupressão e produção é a qualidade
de vetores e de ... [susceptibilidade] da ração/alimento for-
predação a doenças. ... em necida e a forma como
Em se tratando do quantidades altas, o arraçoamento é reali-
controle de vetores e de culminam em excesso zado. Rações de baixa
predação na produção de matéria orgânica ... qualidade impactam
6. Principais aspectos sanitários na produção de peixes ornamentais 133
negativamente o desenvolvimento dos ção de palestras e treinamentos sobre o
animais, uma vez que a ausência de nu- assunto. Além disso, o produtor deve ter
trientes na dieta pode ocasionar desen- ciência de que a implantação e a manu-
volvimento não adequado da espécie tenção de um programa de monitoração
aquática, gerando desnutrição, imunos- sanitário não é algo fácil de se conseguir,
supressão e, consequentemente, tornan- contudo é imprescindível para o sucesso
do o animal mais susceptível a doenças. da sua criação.
Além disso, se fornecidas em quantida-
des altas, culminam em excesso de ma- 5. Referências
téria orgânica nos tanques, prejudican- Bibliográficas
do a qualidade de água e resultando na 1. Bassleer, G., 2011. Guia prático de doenças de
peixes ornamentais tropicais e de lagos (e de
proliferação de microrganismos. camarões ornamentais), 1.ed. Bassleer Biofish,
Westmeerbeek.
3.10. Transporte de animais e 2. Figueiredo, H.C.P., Leal, C.A.G., 2008.
fluxo de pessoas Certificação sanitária na aquicultura. Panorama
da Aquicultura, v. 18, n. 107, p. 14–20.
Além de todos esses pontos, o trans-
3. Kubitza, F., 2015. Certificação e melhores práti-
porte dos peixes e o fluxo de pessoas cas de manejo e gestão. Panorama da Aquicultura,
na propriedade são outros fatores que v. 25, n. 152, p. 16–25.
merecem atenção ao se realizar a análi- 4. Mathias, M.A. de C., 1999. Para os iniciantes.
Panorama da Aquicultura 9.
se de pontos críticos. Já relacionado ao
5. Pádua, S.B. de, 2017. Critérios para seleção de
transporte, um fator de risco seria a não fornecedores de alevinos. Aquaculture Brasil, v.
depuração (jejum) dos animais. Sem a 7, p. 77.
depuração, os animais tendem a excre- 6. Rezende, F.P., Motta, J.H. de S., Ramos, F.M.,
Fojimoto, R.Y., Polese, M.F., Fernandes, G.S.,
tar durante o transporte, propiciando 2021. Sistemas e infraestrutura de produção,
a redução da qualidade da água e o de- in: Rezende, F.P., Fujimoto, R.Y. (Eds.), Peixes
Ornamentais No Brasil: Mercado, Legislação,
sencadeamento de estresse, o que pode Sistemas de Produção e Sanidade. Embrapa,
acarretar a queda da imunidade dos ani- Brasília, pp. 141–226.
mais e, em consequência, o aparecimen- 7. Tavares, G.C., 2022. Métodos de diagnóstico
de doenças parasitárias em peixes de produção.
to de sinais clínicos. Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, n.
101, p. 154–166.
4. Considerações finais 8. Tavares, G.C., Figueiredo, H.C.P., Leal, C.A.G.,
2014. Coleta e remessa de peixes para diagnósti-
Portanto, diante de tudo o que foi co de doenças infecciosas. Cadernos Técnicos de
Veterinária e Zootecnia, n. 73, p. 77–86.
discutido, a melhor maneira de cons-
cientizar os produtores e colaboradores
a respeito dos principais aspectos sani-
tários envolvidos na produção de peixes
ornamentais seria por meio da realiza-
134 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
7. Peixes ornamentais
amazônicos: panorama
de exportação

pixabay.com
Thiago Lima de Carvalho1,
Gelcirene de Albuquerque Costa2,
Juliana Tomomi Kojima3; Jonathan Fernando Villamil-Rodríguez4,
Thiago Mendes de Freitas5*

1
Doutorando, engenheiro de pesca, mestre, Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, Universidade Nilton Lins, UNL**
2
Professora adjunta, engenheira de pesca (CREA-AM 041746664-1), doutora, DEPAQ, Universidade Federal Rural de Pernambuco,
UFRPE
3
Professora adjunta, zootecnista, doutora, Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, Universidade Nilton Lins, UNL
4
Doutorando, licenciado em produção agropecuária, mestre, LEAA, ECOTOX, Programa de Pós-Graduação em Biologia de Água Doce e
Pesca Interior, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA.
5
Professor adjunto, biólogo (CRBio 97590/01-D), doutor, Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, Universidade Nilton Lins, UNL.
*
autor para correspondência: tmfreitas@niltonlins.br
** Universidade Nilton Lins, Parque das Laranjeiras, Av. Prof. Nilton Lins, 3259 - Flores, Manaus, AM, 69058-030.

1. Introdução A aquariofilia lizado. Esse comércio


... [envolve o] ... cresce 14% ao ano, desde
A aquariofilia é uma
comércio de ... a década de 70, e atual-
prática responsável pelo
organismos aquáticos mente envolve mais de
comércio de muitos
[principalmente] 125 países (Dey, 2016;
organismos aquáticos
ornamentais, como Maceda Veiga, 2016).
ornamentais, como
peixes, invertebrados e O comércio vare-
peixes, invertebrados e
plantas aquáticas ... [e] jista dos peixes orna-
plantas aquáticas, além
... produtos acessórios mentais apresenta um
de seus produtos acessó-
rios (Evers et al., 2019). ... há mais de 3.000 valor de aproximada-
A atividade existe há anos ... cresce 14% ao mente US$7,2 bilhões,
mais de 3.000 anos, e ano, desde a década com mais de 1 bilhão
os peixes ornamentais de 70, e atualmente de peixes comercializa-
correspondem ao prin- envolve mais de 125 dos anualmente (Dey,
cipal táxon comercia- países. 2016; Domínguez e

7. Peixes ornamentais amazônicos: panorama de exportação 135


Botella, 2014; Penning et al., 2009). Se ornamental é subjetiva, sendo a cor ou a
forem incluídos os produtos acessó- ausência de cor um parâmetro mais ob-
rios, como tanques, filtros, alimentação jetivo e associado a esses animais.
e medicamentos, esse valor pode va- Muitas espécies de peixes de uma
riar de US$18-20 bilhões (Dey, 2016). única cor ou de variedade albina são mui-
Além disso, mais de 2 bilhões de pesso- to apreciadas pelos aquaristas, como no
as são beneficiadas, desde o pescador/ caso dos Hypancistus sp. e Corydoras sp.
produtor até o aquarista (Domínguez e Em relação à ausência de pigmentação,
Botella, 2014), que se ocupam com mais como ocorre na espécie Xenagoniates
de 5.300 espécies de peixes de água doce bondi, a sua musculatura é translúcida,
e 1.802 espécies marinhas (Raghavan et sendo possível visualizar toda a estrutu-
al., 2013). Ademais, apenas o comér- ra óssea e a cavidade celomática. Já o ro-
cio de exportação mo- sáceo (Hyphessobrycon
vimenta em torno de erythrostigma) apresenta
US$338 milhões a cada
As espécies ... uma coloração rosada
ano (PNIPA, 2021).
endêmicas da Bacia e translúcida, forman-
Amazônica ... são
Estima-se que 90% do do lindos cardumes
muito procuradas
volume comercial total em meio à vegetação.
mundialmente por
dos peixes ornamen- Existem ainda as espé-
aquaristas ... a maior
tais correspondam aos cies que foram modifica-
diversidade de peixes
peixes tropicais de água
de água doce, com um das por meio da seleção
doce. Desses, aproxi-
total de 2550 espécies reprodutiva e apresen-
madamente 90% são registradas com fins tam características que
oriundos da aquicul- ornamentais. não são encontradas na
tura, enquanto os 10% natureza, como no caso
restantes compreendem uma gama di- do acará-bandeira (Pterophyllum scala-
versificada de espécies selvagens captu- re) e do acará-disco (Symphysodon dis-
radas (Raghavan et al., 2013). cus e Symphysodon aequifasciatus), que
Em relação ao conceito de peixes or- possuem diversos padrões de coloração
namentais, esses estão comumente as- desde todo preto, branco a variedades
sociados a peixes pequenos e coloridos, com diversas tonalidades, conforme
com morfologia e beleza exuberante apresentado na Figura 1.
(Ribeiro et al., 2010). No entanto, bas- As espécies citadas anteriormente
ta uma pequena análise para se ter uma são endêmicas da Bacia Amazônica e
ideia da quantidade de peixes com ca- são muito procuradas mundialmente
racterísticas distintas das citadas acima. por aquaristas, devido às características
Portanto, a caracterização de um peixe únicas que essas espécies possuem e ao
136 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
Figura 1. Variedades de acará-disco (Symphysodon sp.)
(Imagem de Yan Cabrera por Pixabay).

fato de representarem a região do pla- Além da exportação, esse comércio tam-


neta com a maior diversidade de peixes bém se destaca pela importância econô-
de água doce, com um total de 2550 es- mica para as populações ribeirinhas des-
pécies registradas com fins ornamentais ses países, uma vez que a maioria desses
(García-Dávila et al., 2020). Toda essa peixes provém do extrativismo (Moreau
diversidade em espécies é condizente e Coomes, 2007; Rezende e Fujimoto,
com o fato de que a Bacia Amazônica é 2021). Os peixes amazônicos, em sua
a maior bacia de água doce do planeta maioria, provêm do extrativismo, e,
(Figura 2), com 7.351.000km2, e abran- na Amazônia brasileira, na região dos
ge sete países: Brasil (67,79%), Peru municípios de Barcelos e Santa Izabel,
(13,02%), Bolívia (11,20%), Colômbia a pesca de peixes ornamentais tem sido
(5,52%), Equador (1,67%), Venezuela realizada por cerca de 1.600 famílias das
(0,72%) e Guiana (0,08%) (CABS/CI, comunidades ribeirinhas que vivem da
2000). pesca de subsistência, sustentando mais
No cenário de exportação de pei- de 10.000 empregos diretos e indiretos
xes ornamentais amazônicos, Brasil, (Zehev et al., 2015).
Colômbia e Peru foram responsáveis Entretanto, conforme demonstrado
por mais de 19 milhões de dólares no por Ladislau et al. (2019), a dinâmica da
ano de 2019 (García-Dávila et al., 2020). pesca ornamental na região de Barcelos
7. Peixes ornamentais amazônicos: panorama de exportação 137
Figura 2. Mapa hidrográfico da Bacia Amazônica e de países da América do Sul.
(Fonte: FAO AQUASTAT, 2015).

mudou em pouco cia do poder público


tempo e afetou dire- ... a sustentabilidade na atividade, a qual já
tamente os piabeiros. do comércio de peixes foi uma das principais
Os autores observa- ornamentais ... tem sido ocupações econômi-
ram que têm ocorrido retratada como uma cas para as comunida-
menor participação ameaça aos ecossistemas des locais e para o es-
de pescadores mais naturais, mas ... pode tado do Amazonas.
jovens, o que pode ajudar a manter as Ademais, Evers
ameaçar a transmis- espécies [reproduzidas] et al. (2019), em es-
são do conhecimento fora do risco de extinção tudo recente sobre a
ecológico repassado ... e ... [garantir] renda às sustentabilidade do
pelos pescadores mais famílias das comunidades comércio de peixes or-
antigos. Além disso, ribeirinhas ... [há] ... namentais, apontaram
eles constataram o au- declínio nas exportações que a atividade tem
mento dos problemas dos peixes ... na região de sido retratada como
relacionados à cadeia Barcelos ... [devido aos] ... uma ameaça aos ecos-
produtiva e a ausên- protocolos de criação ... sistemas naturais, mas
138 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
que, por outro lado, também pode aju- Esta situação gerou a necessidade de
dar a manter as espécies fora do risco atualizar a lista de espécies de peixes or-
de extinção e oferecer renda às famílias namentais permitidas para o comércio
das comunidades ribeirinhas em tais re- na Colômbia, por meio da Resolução
giões, para que essas não desenvolvam 1.924 de 3 de novembro de 2015, cria-
outras atividades mais prejudiciais no da pela AUNAP (Autoridad Nacional
local. O estudo ainda aborda o declínio de Acuicultura y Pesca), que autorizou
nas exportações dos peixes capturados o aumento do número de espécies de
na região de Barcelos e sua relação com peixes ornamentais comercializadas de
o desenvolvimento de protocolos de 422 para 522 espécies (Ortega-Lara,
criação em outros países. 2015), das quais 308 são oriundas da
Na Amazônia colombiana, o proble- Bacia Amazônica (Mancera-Rodríguez
ma da pesca de peixes e Álvarez-León, 2008).
ornamentais de água Na região da
doce, como as diferen-
Na região da Amazônia Amazônia peruana, se-
ças na captura e nos lo-
peruana ... assim gundo o Ministerio del
como no Brasil e na Ambiente (MINAN,
cais de recepção entre as
Colômbia, existem 2021), cerca de 500
regiões (Sánchez-Páez
inúmeras ameaças aos espécies nativas de
e Muñoz-Torres, 2015;
ambientes aquáticos peixes ornamentais fo-
Santana-Piñeiros e
que colocam em ram registradas, e, as-
Franco-García, 2015) e
risco os peixes, como
as grandes mudanças na sim como no Brasil e
desmatamento,
dinâmica do comércio na Colômbia, existem
mudança no uso da
nos últimos dez anos, inúmeras ameaças aos
terra, superexploração
influenciou a ativida- dos recursos e poluição ambientes aquáticos
de, fazendo com que que colocam em risco
...
o comércio de peixes os peixes, como des-
ornamentais seja condicionado pelas matamento, mudança
flutuações da economia mundial e pelo no uso da terra, superexploração dos
aumento da oferta de espécies nativas recursos e poluição, como descrito em
colombianas, que são produzidas em estudo realizado pelo órgão, no perío-
cativeiro, em países como Indonésia, do de 2015-2019. No Peru, as espécies
China e República Tcheca. Por essa ornamentais apresentam grande impor-
razão, a atividade teve um aumento de tância socioeconômica para as comuni-
30% no número de espécies capturadas dades ribeirinhas que vivem da pesca, e
e comercializadas entre 2007 e 2014 a exportação de peixes vivos nesse país
(Ortega-Lara e Sánchez-Páez, 2015). gerou US$2,08 milhões em 2020, sendo
7. Peixes ornamentais amazônicos: panorama de exportação 139
os peixes ornamentais responsáveis por de origem. De acordo com os dados da
95% desse total, com US$1,99 milhões International Trade Centre - ITC, o país
(TrendEconomy, 2021). Os peixes cap- encontra-se como 15° maior exportador
turados são exportados de peixes ornamentais
para a Europa, a Ásia e a do mundo e o segundo
O Brasil se destaca
América do Norte, sen- maior da América do
no mercado das
do que, no ano de 2017, Sul, com valor estimado,
exportações de peixes
o país exportou acima de de acordo com os dados
ornamentais, sendo
seis milhões de peixes da SECEX, em US$6,3
o extrativismo sua
ornamentais comercia- milhões, no ano de
principal fonte de
lizados por 24 empresas 2019 (Embrapa, 2022;
origem
localizadas na região de Araújo et al., 2020).
Loreto, na cidade de Iquitos (García- Esse valor está relacio-
Dávila et al., 2020). Essa região do país é nado principalmente à exploração dos
responsável pela exportação de cerca de peixes ornamentais da Amazônia, em
200 espécies, classificadas em 13 ordens, particular nos estados do Amazonas e
tendo como as principais a raia-tigre do Pará (Tavares-Dias, 2020), que su-
(Potamotrygon tigrina), o aruanã-prata marizam 79% das exportações (Araújo
(Osteoglossum bicirrhosum) e o bagre-ze- et al., 2020).
bra (Brachyplatystoma tigrinum) (García- A exportação dos peixes ornamen-
Dávila et al., 2020). tais no Amazonas é destacada desde
Nesse contexto, o presente capítu- a década de 70, tendo maior impor-
lo abordará o cenário atual sobre a pro- tância as espécies endêmicas do Rio
dução de peixes ornamentais na Bacia Negro e seus afluentes (Tribuzy-Neto
Amazônica, sua comercialização e os et al., 2021; Anjos et al., 2009). Essas
aspectos relacionados à cadeia produti- regiões contemplam os municípios de
va da região, onde se encontram os três Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro,
países que mais se destacam no comér- onde a pesca do peixe ornamental é
cio internacional de peixes ornamentais uma importante fonte de renda para
amazônicos. Para isso, foram compiladas a população local (Chao, 2001). A
informações do cenário atual sobre a ati- riqueza dos peixes ornamentais do
vidade no Brasil, na Colômbia e no Peru. Rio Negro foi reconhecida a partir
de 1955, quando o ictiólogo alemão
2. Brasil Herbert Richard Axelrod liderou uma
O Brasil se destaca no mercado das expedição em busca das espécies neon
exportações de peixes ornamentais, (Paracheirodon innesi) e acará-disco
sendo o extrativismo sua principal fonte (Symphysodon sp.). A expedição resul-
140 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
tou na descoberta da espécie cardinal sendo nesse período a Alemanha o
(Paracheirodon axelrodi), além do co- maior importador de peixes orna-
nhecimento sobre a existência de uma mentais amazônicos, somando mais
diversidade de outras espécies, que de 38,9 milhões de animais, seguida
poderiam ser comercializadas para a de Taiwan com 27,2 milhões, EUA
aquariofilia (Axelrod, 2001). Nessas com 23,8 milhões e Japão com 17,6
regiões, a importância da pesca orna- milhões de peixes importados. Ainda,
mental é tão significativa que chegou os autores mostraram que foram co-
a representar 60% da economia, se- mercializadas 375 espécies, sendo
guida do extrativismo vegetal (Prang, agrupadas em oito ordens e 34 famí-
2001). lias, com destaque para os Ordens
A pesca de peixes Characiformes e
ornamentais do Rio A pesca de peixes Siluriformes, que fo-
Negro é de caráter ornamentais do Rio ram as mais exporta-
artesanal e familiar, Negro é de caráter das, representando
sendo comum a pre- artesanal e familiar, 82,6% (117.808.641
sença da esposa e dos sendo comum a indivíduos) e 16,0%
filhos (Yamamoto et presença da esposa e (22.914.367 indivídu-
al., 2021). O pesca- dos filhos. os) das exportações.
dor, conhecido popu- Dentre as espécies
larmente como “piabeiro”, é quem comercializadas, destacam-se: cardinal
confecciona suas artes de pesca e a (P. axelrodi), neon-verde (Paracheirodon
técnica de captura dos peixes baseia- simulans), rodóstomo (Hemigrammus
-se no profundo conhecimento empí- bleheri), três espécies de limpa-vi-
rico sobre as espécies e os ambientes dros (Otocinclus affinis, Otocinclus
em que elas habitam (Chao, 2001; hoppei e Otocinclus vittatus), borbo-
Freitas e Rivas, 2006). As principais leta (Carnegiella strigata) e coridora
artes de pesca utilizadas pelos piabei- (Corydora schwartzi) (Figura 3). O
ros são: rapiché, cacuri e puçá, que são cardinal é considerado o número um,
únicas na região (Barra e Dias, 2012; com contribuição de 70% das espécies
Yamamoto et al., 2021). de peixes ornamentais exportadas pelo
De acordo com Tribuzy-Neto et Brasil (Zehev et al., 2015; Evers et al.,
al. (2021), nos anos de 2006 a 2015, 2019).
cerca de 142,5 milhões de peixes or- Além disso, em 2014 o estado do
namentais oriundos do Amazonas Amazonas foi considerado o segundo
foram exportados, resultando num maior exportador de peixes ornamentais
valor estimado de US$23.001.366, do país, com comercialização de aproxi-
7. Peixes ornamentais amazônicos: panorama de exportação 141
Figura 3. Top 8 das principais espécies de peixes ornamentais do Amazonas mais exportados nos anos
de 2006 a 2015
(Fonte: Elaborado pelos autores, a partir dos dados reportados por Tribuzy-Neto et al. (2021)).

madamente 41.190kg, o equivalente a me a declaração emitida pelo Centro


US$1.053.118. Em 2021, o cenário do Nacional de Pesquisa e Conservação da
Amazonas nas exportações permane- Biodiversidade Amazônica (CEPAM),
ce o mesmo, porém com 23.046kg, o órgão do Ministério do Meio Ambiente
equivalente a US$1.960.699 (BRASIL, (INPI, 2022). A IP tem fortalecido a
2022). sociedade local, no que diz respeito à
Recentemente, os peixes ornamen- gestão participativa, à conservação do
tais amazônicos receberam uma cer- meio ambiente e ao bem-estar animal
tificação de origem, concedida pelo ao longo da cadeia produtiva. A partir
Instituto Nacional de Propriedade desse reconhecimento, foi desenvolvido
Intelectual (INPI, 2015). De acordo um plano de políticas públicas a fim de
com o INPI, a Indicação de Procedência garantir a sustentabilidade dessa ativi-
- IP “Peixes ornamentais do Rio Negro”, dade, incrementando o valor dos peixes
compreende os municípios de Barcelos ornamentais do Rio Negro (SEBRAE,
e Santa Isabel do Rio Negro, confor- 2018).
142 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
Apesar de os pei- o declínio da expor-
Apesar de os peixes
xes amazônicos do Rio tação do cardinal (P.
... do Rio Negro
Negro se destacarem axelrodi), reportado
se destacarem no
no mercado das ex- por Evers et al. (2019),
mercado ... houve um
portações, houve um em decorrência da cri-
declínio ... motivado
declínio nos últimos se econômica de 2008
pela produção
anos, motivado pela e o domínio da repro-
... das principais
produção comercial das dução da espécie. Na
espécies ornamentais
principais espécies or-
amazônicas nos países República Tcheca, onde
namentais amazônicas
do sudeste asiático, da há a produção de cardi-
nos países do sudeste nal em pequena escala,
Europa e da América
asiático, da Europa e houve aumento de seus
do Norte.
da América do Norte valores de exportação,
(Chao, 2001; Zehev et bem como desenvolvimento de novas
al., 2015; Tribuzy-Neto et al., 2021), os variedades de cardinal, como o gold
quais consequentemente têm deixado e o platinum. Outros países, como o
de importar esses peixes, principalmen- Vietnã e a Indonésia, cultivam cardi-
te, as espécies que são mais capturados nal em larga escala, e sua oferta estável
na região do médio Rio Negro, como tem permitido aos importadores uma
o tetra-cardinal (Paracheirodon axelro- menor procura pela espécie selvagem
di) o tetra-rodóstomo (Hemigrammus (Evers et al., 2019). Assim, esses países
rhodostomus) (Zehev et al., 2015) e o
apenas importam os peixes ornamentais
neon-verde (Paracheirodon simulans)
do Amazonas para renovação dos seus
(Tribuzy Neto et al., 2021). De acordo
estoques reprodutores e garantia da va-
com Chao (2001), a
riabilidade genética de
principal característi- No Pará, a captura de seus peixes cultivados.
ca dessas regiões e dos peixes ornamentais é No Pará, a captura
respectivos países é que bastante significativa de peixes ornamentais
esses possuem alta tec- ... o estado que mais é bastante significativa,
nologia para investir e contribui no país para uma vez que é o estado
dominar o cultivo das a exportação desse que mais contribui no
espécies amazônicas produto. No ano de
(reprodução e melho- 2021, foram exportados país para a exportação
ramento genético) e, desse produto. No ano
cerca de 34.630kg de 2021, foram expor-
assim, atender ao mer- de peixes vivos, o
cado global. tados cerca de 34.630kg
equivalente a US de peixes vivos, o equi-
Um exemplo disso é $4.173.134 dólares valente a US $4.173.134
7. Peixes ornamentais amazônicos: panorama de exportação 143
dólares, segundo os dados fornecidos Em relação à captura dos peixes,
pelo Comex Stat (BRASIL, 2022). A a pesca ornamental do Rio Xingu, as-
pesca de peixes ornamentais é substan- sim como do Rio Negro, é de caráter
cial na região, destacada nos Rios Xingu artesanal e importante atividade para
e Tapajós, desde o fi- a população local. O
nal da década de 1980, pescador ou “acarizei-
O principal polo de
quando os garimpeiros ro”, como é conhecido
captura de peixes
desempregados passa- ornamentais é no Rio nessa região, captura os
ram a capturar peixes Xingu, com destaque peixes, realizando a prá-
da família Loricariidae para a região de tica de mergulho livre
(Araújo et al., 2020; Altamira, em que mais e autônomo (IBAMA,
Camargo et al., 2011; de 200 espécies são 2008). No mergulho
Prang, 2007). Além dos comercializadas livre, o pescador uti-
Rios Xingu e Tapajós, o liza uma máscara de
Rio Trombetas também é considerado mergulho conhecida como mascareta,
um dos centros produtores de peixes enquanto no mergulho autônomo, uti-
ornamentais amazônicos dessa região liza-se um compressor de ar de pneu
(Camargo et al., 2011). automotivo e adaptado a um motor
O principal polo de movido a gasolina ou a
captura de peixes orna- ... a pesca ornamental gás butano (Carvalho
mentais é no Rio Xingu, do Rio Xingu, assim Júnior et al., 2011). A
com destaque para a como do Rio Negro, é técnica de captura é
região de Altamira, em de caráter artesanal e manual, com auxílio de
que mais de 200 es- importante atividade lanterna e uma vara de
pécies são comercia- para a população local. madeira para desalojar
lizadas (Ramos et al., os cascudos das tocas,
2015; Carvalho Júnior et al., 2011). chamada pelos acarizeiros de vaqueta.
As espécies da família Loricariidae, Durante o mergulho, um pote plástico
popularmente conhecida como acaris ou garrafa pet adaptada é amarrada na
ou cascudos, são as mais capturadas, e cintura do pescador para armazenar os
cerca de 31 espécies possuem alto valor peixes enquanto se está mergulhando
comercial na aquariofilia (Souza et al., (IBAMA, 2008).
2018; Araújo et al., 2018). Outras espé- Na região de Altamira, as cinco
cies comercializadas no estado do Pará principais espécies capturadas e co-
pertencem às ordens Potamotrygonidae mercializadas pertencem à família
(arraias de água doce) e Cichlidae Loricariidae, em que o acari-picota-
(Sousa et al., 2018). -ouro (Scobinancistrus aureatus) é o que
144 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
apresenta maior valor ais. Das 21 espécies co-
Os peixes ornamentais
comercial na cadeia pro- mercializadas, Peckoltia
endêmicos do Pará são
dutiva, e o acari-bola- compta e Hypancistrus
de grande relevância,
-azul (Spectracanthicus sp. (L260) foram as que
uma vez que os Rios
punctatissimus) o menor apresentaram maiores
Xingu e Tapajós
valor comercial (Araújo
apresentam uma grande valores comerciais e as
et al., 2018). O valor de
diversidade de espécies mais exploradas nessa
exportação dessas espé- região. Nesse período,
e endemismo de
cies varia de R$487,50 foram comercializados
espécies.
- 543,00 e R$97,50- 24.615 (18%) e 23.210
119,81 para o acari-pi- (17%) indivíduos, res-
cota-ouro e o acari-bola-azul, respecti- pectivamente (Souza et al., 2018). O
vamente (Araújo et al., 2018). valor percentual das oito principais es-
Entre os anos de 2013 e 2016, pécies de loricarídeos mais comerciali-
cerca de 136.705 peixes da família zadas pode ser visualizado na Figura 4.
Loricariidae foram comercializados em Os peixes ornamentais endêmicos
Santarém-PA, no Rio Tapajós, com va- do Pará são de grande relevância, uma
lor estimado em R$365.013,80 mil re- vez que os Rios Xingu e Tapajós apresen-

Figura 4. Top 8 das principais espécies da família Loricariidae comercializadas em Santarém, Rio
Tapajós, PA
(Fonte: Elaborado pelos autores, a partir dos dados reportados por Sousa et al. (2018)).

7. Peixes ornamentais amazônicos: panorama de exportação 145


tam uma grande diversidade de espécies Apesar da proibição da captura e exporta-
e endemismo de espécies. No Rio Xingu, ção, muitos exemplares selvagens já foram
por exemplo, a ictiofauna específica é apreendidos pelo IBAMA e pela Polícia
resultado dos processos geológicos e Federal, pois a espécie é uma das que mais
ambientais que levaram a sua formação contribuem para o tráfico ilegal de vida
(Camargo et al., 2004). O Hypancistrus selvagem (Sousa et al., 2021; Charity e
zebra (Isbrucker e Nijssen, 1991) é um Ferreira, 2020).
exemplo desse endemismo, com ocor- Outra preocupação que pode afetar
rência exclusiva no Rio Xingu. A espécie não apenas o acari-zebra mas diversas
foi descrita, pela primeira vez, em 1991 espécies endêmicas dessas regiões são
e, após a sua descoberta, foi amplamente os impactos ambientais por ações antró-
comercializada e exportada para fins or- picas. De acordo com Winemiller et al.
namentais (Evers et al., 2019). (2016), a Bacia Amazônica possui 416
O H. zebra, popularmente conheci- barragens em operação e outras 334 em
do como acari-zebra, recebeu esse nome projetos para construção. A maior parte
em decorrência da pre- dessas barragens encon-
sença de listras pretas e ... podem afetar não tra-se nos Rios Tocantins,
brancas, similar à cor do apenas o acari-zebra, Tapajós e Xingu, além
pelo das zebras. Uma mas diversas espécies de outros tributários
das particularidades da endêmicas ... os (Fitzgerald et al., 2018).
espécie é que ela ocorre impactos ambientais O complexo hidre-
apenas no Rio Xingu, es-
por ações antrópicas létrico de Belo Monte
pecificamente na região
... 416 barragens em (CHBM) é considerado
Volta Grande (Sousa et
operação e outras o terceiro maior do mun-
334 em projetos para do, com capacidade de
al., 2021). Sua beleza
construção ... A maior
e cores atraíram e atrai 11,233 MW (Winemiller
parte dessas barragens
muitos aquaristas, sendo et al., 2016). Está locali-
encontra-se nos Rios
uma das espécies mais zado na região de Volta
Tocantins, Tapajós e
cobiçadas na aquariofi-
Xingu, além de outros Grande, que é um seg-
lia. Em decorrência dis- mento único do Rio
tributários.
so, a captura excessiva Xingu, formado por uma
resultou em medidas de proteção para a série de canais interligados, corredeiras e
conservação da espécie, sendo essa inse- habitats exclusivos de algumas espécies de
rida, desde 2004, na Lista Vermelha do peixes (Fitzgerald et al., 2018). O compro-
IBAMA, Instrução Normativa N° 5, de metimento desse habitat pode resultar em
21 de maio de 2004, que proíbe sua cap- consequências irreversíveis, fato já repor-
tura no ambiente natural (Brasil, 2004). tado por muitos pesquisadores.
146 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
3. Colômbia ... a Colômbia era o potencial pesqueiro
devido à sua maior
Em 1975, a terceiro maior exportador
diversidade em espé-
Colômbia era o tercei- de peixes ornamentais
do mundo ... e em 1978 cies (Maldonado et al.,
ro maior exportador de
foram exportados cerca 2008).
peixes ornamentais do
de 3.150.000 exemplares Atualmente, os mé-
mundo (Rodríguez-
... do Rio Amazonas, todos de coleta e siste-
Gómez, 1985), e em
850.000 do Rio Putumayo matização de dados a
1978 foram exporta-
e 4.600.000 da área de partir de 04 de feverei-
dos cerca de 3.150.000
Inírida ... Na última ro a 31 de dezembro
exemplares provenien-
década, estima-se que de 2020 possibilitaram
tes do Rio Amazonas,
cerca de 25 milhões obter as informações
850.000 do Rio
Putumayo e 4.600.000 de peixes ornamentais necessárias sobre a
da área de Inírida (Mejía ... comercializados quantidade de peixes
et al., 1979). Na última anualmente na Colômbia, ornamentais nos pon-
década, estima-se que dos quais apenas 10% tos de recepção dos
cerca de 25 milhões correspondem à Bacia municípios monitora-
de peixes ornamen- Amazônica. dos. No entanto, no ano
tais foram comerciali- de 2020, a quantidade
zados anualmente na diminuiu drasticamen-
Colômbia, dos quais A produção colombiana te no final do mês de
apenas 10% correspon- de peixes ornamentais março e foi mais críti-
dem à Bacia Amazônica registrada para o ano de ca em abril e maio, o
(Zúñiga, 2010; Ajiaco- 2020 foi de 10.280.775 que levou à suspensão
Martínez et al., 2012), indivíduos ... o maior da cadeia produtiva de
sendo as áreas de pesca número de indivíduos peixes ornamentais no
relevantes representadas ... em um município período (pesca, pontos
por Puerto Leguízamo ... não amazônico. O de recepção e distri-
(Putumayo), Florencia município de Leticia buição, comercializa-
(Caquetá), La Pedrera (aproximadamente 2 ção e exportação), em
e Leticia-Tarapacá milhões de peixes) esteve virtude da emergência
(Amazonas) (Sánchez em segundo lugar, em sanitária causada pela
et al., 2015). Embora a número de indivíduos COVID-19 (Pava-
Bacia Amazônica não coletados, enquanto Escobar et al., 2021).
seja a maior produtora Florencia ficou em último A produção co-
desse recurso, essa re- lugar, com menos de 300 lombiana de peixes
gião possui um maior indivíduos. ornamentais registra-
7. Peixes ornamentais amazônicos: panorama de exportação 147
da para o ano de 2020 foi de 10.280.775 o que indica que parte dessa produção
indivíduos, embora o maior número de é destinada à comercialização nacional
indivíduos coletados tenha ocorrido em e à exportação. A Tabela 1 indica o va-
um município correspondente a outro lor monetário global da produção de
estado que não o Amazonas. O muni- peixes ornamentais durante o período
cípio de Leticia (aproximadamente 2 de fevereiro a dezembro de 2020.
milhões de peixes) esteve em segundo A produção total de peixes orna-
lugar, em número de indivíduos coleta- mentais coletados nos municípios mo-
dos, enquanto Florencia ficou em últi- nitorados (99,73%) é enviada para a
mo lugar, com menos de 300 indivíduos cidade de Bogotá, assim uma parte da
(Pava-Escobar et al., 2021). quantidade restante é enviada para a
As espécies de peixes ornamentais cidade de Villavicencio e a outra é ven-
mais pescadas por município corres- dida localmente ou para municípios
ponderam a: Florencia, com aruanã próximos (Figura 5). De acordo com
Osteoglossum bicirrhosum (53,1%); Ortega-Lara (2016), 29 empresas ex-
Leticia, com limpa-vidro Otocinclus portadoras de peixes ornamentais são
macrospilus (41,4%); e finalmente registradas oficialmente na cidade de
Puerto Leguízamo, com Pimelodus Bogotá, no entanto as quantidades e as
pictus (35,4%). No entanto, o relató- espécies fornecidas por essas empresas
rio estatístico não incluiu o número para exportação não são especificadas.
de indivíduos comercializados nacio- De acordo com Pava-Escobar et al.
nalmente ou destinados à exportação (2021) e dados do centro de recepção
(Pava-Escobar et al., 2021). Além dis- dos peixes na cidade de Bogotá, duran-
so, o comércio de peixes ornamen- te o período de fevereiro a dezembro
tais nos municípios de importância de 2020, três países foram registrados
na Bacia Amazônica movimentou US como os principais compradores de pei-
$313.413,6, porém esse valor é global, xes ornamentais da Bacia Amazônica
Tabela 1. Produção de peixes ornamentais e comercialização dos principais
municípios da Amazônia colombiana

Valor monetário
Município Número de indivíduos Valor monetário (US$) (%)
Leticia 1.995.516 234.354,66 23,7
Puerto Leguízamo 488.646 41.802,35 4,2
Florencia 35.573 37.256,66 3,8
Total 2.519.735 313.413,66 31,7
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir dos dados reportados por Pava-Escobar et al., (2021).

148 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


Figura 5. Principais áreas de pesca da Região
Amazônica colombiana e centros nacionais de
recepção dos peixes

(Fonte: Elaborado pelos autores, a partir dos da-


dos reportados por Sánchez et al. (2015) e Pava-
Escobar et al. (2021)).

colombiana e apenas duas espécies Apesar de não haver números


como as mais relevantes (Figura 6), o oficiais sobre o volume de exporta-
que equivale a 59,8% da exportação na- ção de peixes ornamentais na Bacia
cional (Tabela 2). Amazônica colombiana no cenário
7. Peixes ornamentais amazônicos: panorama de exportação 149
pós-pandêmico, as estatísticas de Pava- cificamente por telefone, em que cada
Escobar et al. (2021) apresentadas ao coletor de dados se comunicava regu-
SEPEC para o ano de 2020 mostraram larmente com os comerciantes de seu
a retomada das atividades em junho respectivo município, verificando a ati-
na maioria dos municípios, uma vez vidade ou inatividade do processo de
que os pedidos de exportação estavam coleta de dados, que incluíam: nome
reiniciando. Além disso, a atividade de comum da espécie, categoria comer-
pesca ornamental foi monitorada du- cial, número de indivíduos, preço por
rante o período de quarentena, espe- unidade, tipo de produção, arte/méto-

Figura 6. Principais espécies de exportação da Região Amazônica colombiana


(Fonte: Elaborado pelos autores, a partir dos dados reportados por Pava-Escobar et al. (2021)).

150 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


Tabela 2. Espécies da Amazônia colombiana de interesse comercial no mercado
internacional
Lugar de Número de
Espécie País comprador %
procedência indivíduos
Otocinclus huaorani Leticia Taiwan 129.690 18,3
Estados Unidos 83.835 20,7
Otocinclus macrospiclus Leticia
Países Baixos 51.000 20,8
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir dos dados reportados por Pava-Escobar et al., (2021).

do de extração, origem e município de peixes ornamentais, um dos problemas


destino. que persiste até hoje é a concorrência
A produção de peixes ornamentais no comércio com os países do sudes-
na Colômbia está dividida em dois ti- te asiático. Sabe-se que a Malásia e a
pos, que correspondem à pesca e à aqui- Indonésia são os maiores produtores
cultura, porém, para a Bacia Amazônica, mundiais de discos (Symphysodon spp.),
os valores percentuais para pesca são que foram geneticamente manipulados
maiores quando comparados à produ- para produzir espécimes com uma gran-
ção por aquicultura, atingindo valores de variedade de cores. No entanto, esses
que variam de 35% a 99%, dependen- países ainda exigem espécimes nativos
do do município de coleta, enquanto da Amazônia para preservar o vigor hí-
os valores correspondentes à produção brido da espécie e, assim, continuam
aquícola variam de 0,3% a 64%. A comprando discos da Amazônia para
Tabela 3 mostra os valores percentuais melhorar sua produção e evitar proble-
comparando-se os dois tipos de produ- mas associados à endogamia e à baixa
ção na Amazônia colombiana. variabilidade genética. Tal concorrência
Apesar de a pesca e a aquicultura tem um impacto direto no mercado de
serem a base da produção nacional de peixes ornamentais na Colômbia, já que
Tabela 3. Resultados comparativos entre dois tipos de produção de peixes
ornamentais nos principais municípios da Amazônia colombiana

Lugar de Número de Tipo de produção (%)


%
procedência indivíduos Pesca Aquicultura
Leticia 1.057.676 23,0 99,6 0,4
Puerto Leguízamo 281.454 6,1 99,7 0,3
Florencia 43.863 0,9 35,1 64,9
Total 1.382.993 30 -- --
* Dados extraídos de Pava-Escobar et al., 2021.

7. Peixes ornamentais amazônicos: panorama de exportação 151


a demanda nacional e internacional é cos e químicos para espécies animais e
reduzida. vegetais.
As informações acima levam a uma
análise do valor da produção ex-situ, 4. Peru
que também é utilizada por outros paí- Os peixes amazônicos já descritos
ses, pois é mais confiável do ponto de contabilizam o total de 2550 espécies,
vista da lógica de mercado, que busca sendo 980 registradas e descritas no
estabilidade. Porém, o valor para con- Peru. Em torno de 50% dessas espé-
servação é baixo, pois se manifestam cies apresentam as características de-
fatores associados, como a perda de sejadas em peixes ornamentais, como
variabilidade genética. Tudo depende porte pequeno a mé-
da finalidade do proje- dio, coloração, brilho
to, que pode ser apenas Na Colômbia ...
metálico, hábitos e
comercial ou pode ser devem ser atendidos
comportamentos espe-
usado como ferramen- todos os requisitos
cíficos, além da facili-
ta de conservação e de exigidos pelo ICA
desenvolvimento local. (Instituto Colombiano dade de adaptação em
cativeiro (MINAM,
Por essa razão, foram Agropecuario) ... para
2019). Esses peixes
estabelecidos regula- o desenvolvimento
mentos, que incluem sustentável dos setores são capturados por re-
des de arrasto e puçás
licenças de comerciali-
agrícola, pesqueiro
e aquícola, por meio em 37 rios das Bacias
zação e exportação os de Nanay, Amazonas,
quais permitem o uso
da prevenção, do
monitoramento e do Tapiche, Itaya, Napo,
sustentável do recurso Momón, Ucayali, ca-
controle de riscos
pesqueiro.
sanitários, biológicos e nal del Puinahua,
Na Colômbia, para Putumayo, Marañón,
químicos.
realizar o respectivo Tahuayo, Tigre, Yavari
processo de exporta- e Maniti (García-Dávila et al., 2020).
ção de peixes ornamentais, devem ser A exportação de peixes vivos do Peru
atendidos todos os requisitos exigi- gerou US$2,08 milhões em 2020, e as
dos pelo ICA (Instituto Colombiano espécies ornamentais foram responsá-
Agropecuario) (ICA, 2022), que se en- veis por 95%, com US$1,99 milhões
carrega de contribuir para o desenvol- (TrendEconomy, 2021). As exporta-
vimento sustentável dos setores agrí- ções da Amazônia peruana em 2017
cola, pesqueiro e aquícola, por meio foram acima de seis milhões de peixes
da prevenção, do monitoramento e do ornamentais para a Europa, a Ásia e a
controle de riscos sanitários, biológi- América do Norte (García-Dávila et al.,
152 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
2020), e no ano de 2018 as exportações Dios e San Martín (Oliveira, 2020) e
foram realizadas por 31 empresas loca- em algumas zonas da selva de Huánuco,
lizadas somente na região de Loreto, na Junin e Cusco (PNIPA, 2021). A região
cidade de Iquitos (García-Dávila et al., de Loreto (Figura 7) é responsável pela
2020). exportação de cerca de 200 espécies
A exportação de peixes ornamentais de treze ordens de peixes ornamentais
pelo Peru se iniciou com espécies como amazônicos, e as principais espécies
pirarucu (Arapaima gigas) e aruanã- são a raia-tigre (Potamotrygon tigrina),
-prata (Osteoglossum bicirrhosum) nos o aruanã-prata (O. bicirrhosum) e o ba-
anos 50, com a cidade de Miami, nos gre-zebra (Brachyplatystoma tigrinum)
Estados Unidos, como principal desti- (García-Dávila et al., 2020).
no. Nas décadas seguintes, o comércio Entre os anos de 1978 e 2003, as
se concentrou em dez exportações foram em
espécies: Corydoras torno de 4 a 20 mi-
punctatus, Corydoras
Entre os anos de lhões de peixes, sendo
julli, Carnegiella myer-
2000 e 2017, foram os aruanãs e as raias
exportados mais de
sii, Carnegiella striga- as principais espécies
96 milhões de peixes,
ta, Hyphessobrycon exportadas, com 10%
sendo as principais
erythrostigma, do volume em 2002
espécies Otocinclus
Paracheirodon inne- (Pykäläinen, 2004).
affinis (18.462.053),
si, Otocinclus vestitus, Entre os anos de 2000 e
Osteoglossum
Corydoras splendens, 2017, foram exportados
bicirrhosum
Boehlkea fredcochui, (17.506.763) e mais de 96 milhões de
Plecostomus sp. Somente Hyphessobrycon peixes, sendo as princi-
no ano de 1978 foram erythrostigma pais espécies Otocinclus
exportados 19.581.539 (4.697.978). affinis (18.462.053),
peixes e, dez anos após, Osteoglossum bicirrho-
o volume decresceu para 5.939.771 sum (17.506.763) e Hyphessobrycon ery-
peixes (García-Dávila et al., 2020). throstigma (4.697.978) (García-Dávila
Atualmente, as exportações peruanas et al., 2020).
de peixes ornamentais de captura se Os peixes aruanã e pirarucu são es-
concentram nas famílias Characidae, pécies procuradas pelo mercado inter-
Cichlidae, Callicthyidae, Loricarridae nacional, porém por um período máxi-
e Pimelodidae, e as exportações são re- mo de três a cinco anos, pois perdem o
alizadas principalmente da cidade de valor comercial devido à produção no
Iquitos, na região de Loreto, além da exterior. Essa desvalorização incentiva
cidade de Ucayali, regiões de Madre de a procura por novas espécies pelos ex-
7. Peixes ornamentais amazônicos: panorama de exportação 153
Figura 7. Cidade de Iquitos, na região de Loreto, principal região exportadora de peixes ornamentais
do Peru
(retirado de Google Maps©).

portadores, pois a base do comércio de volume, aproximadamente um mi-


peixes ornamentais da Amazônia perua- lhão de juvenis desde 2007 até 2018,
na, assim como das demais espécies da é Myleus schomburgkii. A procura da
América Latina, é baseada na coleta e na China por essa espécie estaria associa-
manutenção em cativeiro para comer- da ao mercado de carne exótica, com
cialização o mais breve possível. alto valor nutricional e com origem
Segundo as informações do amazônica. Apesar do domínio da re-
PNIPA (2021), a exportação de arua- produção da espécie em cativeiro, as
nã para a China movimentou, no ano exportações ainda se mantêm altas
de 2015, valores acima de US$60 mil devido à procura pelos exemplares
a US$1,240 milhões no ano de 2018. selvagens para manutenção da varia-
Esse aumento está relacionado à pecu- bilidade genética.
liaridade da cultura chinesa, que asso- Nos últimos anos, houve a varia-
cia os peixes à boa sorte, à prosperi- ção do conceito de que peixes orna-
dade e à riqueza, além da associação mentais são somente os animais de
da espécie a um dragão e do aumento pequeno porte. A procura por peixes
de milionários na China, que podem de tamanhos maiores, como espécies
pagar US$60 mil em um exemplar de de bagres, pacu, aruanã e pirarucu,
30cm. Outra espécie que também foi compete com o mercado de peixes
exportada para a China em grande voltados para consumo humano, en-
154 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
carecendo o valor de venda e dimi- pécies e que são empregadas pelos aqui-
nuindo a quantidade das exportações cultores ornamentais de áreas urbanas
dessas espécies. Além disso, a dimi- e rurais. Essas particularidades quando
nuição das exportações de peixes or- bem executadas resultam na alta sobre-
namentais também se deve a fatores vivência, alta produtividade em peque-
ambientais internos, como a queda nos espaços, e dependendo do sistema
da biomassa de espécies com maior de produção empregado há a otimização
demanda e pesca, a degradação do ha- do recurso hídrico (Ribeiro, 2008a). Na
bitat pela contaminação, a mineração cadeia produtiva do peixe ornamental
e a atividade petroleira, as mudanças da aquicultura, o principal destino do
climáticas, os erros de manejo duran- produto é mercado local com a aquario-
te a captura e a manutenção dos pei- filia, englobando lojistas, atacadistas e
xes durante seu acondicionamento e aquaristas (iniciantes, intermediários e
transporte (PNIPA, 2021). experientes).
O modelo de exportação do Brasil
5. Considerações finais ainda é baseado na captura de animais da
Na aquicultura ornamental, muitas natureza, o que limita a competitividade
espécies de peixes são produzidas em se comparada com países que se baseiam
diferentes sistemas de produção como no modelo de produção por meio da
semi-intensivo e intensivo, envolvendo aquicultura e que investem em pesquisas
todas as etapas de desenvolvimento des- e novas tecnologias, fornecendo varie-
ses animais, tais como reprodução, lar- dades não encontradas na natureza. Os
vicultura, produção de juvenis e adultos países asiáticos e alguns países europeus
para finalidade comercial. O domínio do já possuem tecnologias de produção de
pacote tecnológico de algumas espécies espécies nativas do Brasil, como o tetra-
nativas e exóticas de peixes ornamentais -cardinal (Paracheirodon axeroldi), re-
possibilita o desenvolvimento de varie- produzido por aquicultores ornamentais
dades que por meio da seleção repro- da República Tcheca, e o acará-disco
dutiva, exibem características morfoló- (Symphysodon discus), entre outras es-
gicas e coloração diferenciada, que são pécies de ciclídeos produzidas por cria-
apreciadas e valorizadas na aquariofilia. dores de Cingapura. Os produtores de
Além disso, a produção de peixes orna- peixes ornamentais asiáticos chegam a
mentais exibe particularidades relaciona- produzir cerca de 10 novas variedades
das a variedade de estruturas de cultivo comerciais por ano.
(tanques, viveiros, recipientes plásticos, O desenvolvimento de novas varie-
aquários, etc.), tecnologias e técnicas de dades só é possível graças ao investimen-
manejo específicas para determinadas es- to em pesquisas sobre a biologia reprodu-

7. Peixes ornamentais amazônicos: panorama de exportação 155


tiva e comportamental dessas espécies, representativas no mercado internacio-
o que possibilita a elaboração de proto- nal. A criação em larga escala de espécies
colos reprodutivos de espécies oriundas nativas tem sido muito lenta, no entanto
de outros países. Portanto, a produção tem sido dada mais importância a espé-
de espécies ornamentais pode se tornar cies exóticas, como Carassius auratus,
uma grande ameaça às exportações bra- Xiphorus hellerii, Trichogaster leeri e Betta
sileiras, já que, dos mais de 27 milhões splendens (Sánchez et al., 2015), o que
de peixes oficialmente exportados, mais impossibilita a demanda de espécies na-
de 18 milhões correspondiam ao P. axe- tivas internacionalmente.
roldi (Ribeiro, 2008b). As exportações Geralmente, a falta de crescimento
de acará-disco tiveram um declínio ao da produção colombiana se deve ao fato
longo dos anos. Em 1981, foram expor- de que apenas a demanda é atendida no
tados cerca de 113.000 exemplares de mercado interno e os poucos estudos
Symphysodon discus (Falabella, 1994), no realizados sobre a produção em cativei-
entanto, em 2002, esse número caiu para ro de peixes ornamentais não são pu-
40.804 exemplares de S. discus (Anjos et blicados (Guzmán-Maldonado e Lasso,
al., 2009). A queda no volume de expor- 2014). Portanto, é improvável que a falta
tação dessas espécies ao longo dos anos de produção acadêmica alcance um nível
pode estar relacionada com o aumento de desenvolvimento que permita ofere-
da produção dessas espécies por gran- cer alternativas produtivas que possam
des produtores dos Estados Unidos, da competir com a captura no ambiente na-
Ásia e da Europa. Outro fato relacionado tural (Franco-Ortega et al., 2021).
pode ser a diminuição dos estoques na- Apesar de o Peru ser um importan-
turais nas regiões de captura na região de te exportador de peixes ornamentais
Mamirauá (Cramptom, 1999). de maior porte, como o aruanã e o pira-
Um dos problemas na Colômbia é o rucu, os problemas verificados nos de-
reconhecimento biológico, taxonômico mais países exportadores, como o Brasil
e ecológico das espécies, além do baixo e a Colômbia, com relação à captura e à
crescimento da pesca e da aquicultura. sobrepesca, ao desconhecimento de téc-
A falta de conhecimento na aplicação nicas de reprodução, às poucas espécies
de técnicas de reprodução em cativei- produzidas em cativeiro, aos problemas
ro (Pelicice e Agostinho, 2005; Ajiaco- de comercialização referentes ao manejo
Martínez et al., 2012) impede que a pro- de captura, recepção, armazenamento e
dução de peixes ornamentais seja mais transporte, também são observados no
eficiente nos tempos atuais, e, apesar da setor de peixes ornamentais do país.
abundância de recursos hidrobiológicos Devido à concorrência e à exigência
na Bacia Amazônica, poucas espécies são do mercado consumidor por novidades,
156 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
uma das alternativas para que o produtor org/10.20950/1678-2305.2017v43n2p297
obtenha novas variedades ou espécies é 4. Araújo, J.G., Santos, M.A.S., Santos, P.C., Rebello,
F.K., Prang, G. et al., 2020. Economic analysis
o domínio de técnicas de reprodução e of the threats posed to the harvesting of orna-
de manejo para redução de custo e valo- mental fish by the operation of the Belo Monte
hydroelectric dam in northern Brazil. Fisheries
rização de seu produto. Ainda, de acordo Research. 225, 105483.
com Ribeiro (2008a), o principal desa- 5. Axelrod, H.R., 2001.Discovery of the Cardinal
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160 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


8. Importação de
organismos aquáticos
com fins ornamentais e
de aquariofilia
pixabay.com

Felipe Weber Mendonça Santos1*


Isabela Pinheiro2
1 Engenheiro de Aquicultura, diretor executivo na Aruanã LTDA. ME
2 Doutora em Aquicultura, consultora na Aruanã LTDA ME
*Endereço para correspondência: felipe@aruanaconsultoria.com

1. Introdução Estados Unidos respondem por mais


de 40% do mercado de vendas no setor
O mercado pet mundial alcan-
de varejo no mundo. Nesse mercado,
çou em 2019 a movimentação de
US$131,3 bilhões (ABINPET, 2020), o Brasil atualmente ocupa a 4ª posi-
apresentando taxa de crescimento de ção, com 4,7%, seguido por Alemanha
5,2% em relação ao ano anterior. Os e França, com participações de 4,4% e

8. Importação de organismos aquáticos com fins ornamentais e de aquariofilia 161


4,3%, respectivamente. Ressalta-se que Portanto, é comum nesse mercado a
os 10 principais mercados do setor pet exportação e a importação de orga-
no mundo representaram 77,3% do to- nismos aquáticos com fins de orna-
tal movimentado. mentação e aquariofilia. O Brasil se
Estimativas apontam que a popula- destaca como exportador e, interna-
ção pet mundial é de cerca de 1,8 bilhão cionalmente, é reconhecido como um
de animais (Figura 1), sendo aproxi- celeiro de espécies para o aquarismo.
madamente 40% correspondentes aos Entretanto, quando se visitam lojas de
peixes ornamentais, o que demonstra o aquário brasileiras, percebe-se que a
potencial deles no mercado de animais grande maioria das espécies comercia-
de estimação. A concentração da popu- lizadas são exóticas, mesmo com toda
lação em pequenos espaços nas áreas ur- a biodiversidade existente no Brasil.
banas torna o aquarismo uma atividade Vários fatores levaram a esse cená-
atrativa pelo pouco espaço demandado, rio, como benefícios fiscais para ex-
e o desenvolvimento tecnológico per- portação de peixes ornamentais (Lei
mite a utilização de equipamentos que Kandir de incentivo à exportação),
substituem a atenção constante do ser pacote tecnológico desenvolvido para
humano, ao se comparar a outros ani- espécies exóticas e dificuldade logísti-
mais de estimação. ca para envio de espécies dos polos de
Os aquariofilistas estão em bus- produção para as principais áreas de
ca incessante por novidades, seja consumo, que estão localizadas prin-
por diferentes espécies ou fenótipos. cipalmente na região Sudeste do país.

Figura 01: Dados de população de animais de estimação no mundo e no Brasil. Fonte: ABINPET.

162 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


Por outro lado, a região Sudeste sanitariamente saudáveis para entrada
possui excelente estrutura logísti- no Brasil, sem colocar em risco a aqui-
ca para importação de organismos cultura brasileira, as espécies nas lojas
aquáticos com fins ornamentais e de de varejo e até mesmo os aquários dos
aquariofilia, onde se encontra dis- consumidores finais.
ponível a maior quantidade de voos
internacionais oriundos de vários 2. Do ordenamento e da
continentes. Esse fato faz com que a permissão da importação
maior parte das empresas credencia- de peixes ornamentais
das para importação estejam localiza-
Atualmente o modelo de ordena-
das na região Sudeste. As cargas são
mento utilizado para o uso de espécies
transportadas por via aérea, pois o
nativas com fins de ornamentação e de
traslado deve ser realizado no menor aquariofilia no Brasil é negativista, isto
tempo possível, uma vez que, por se é, podem ser utilizadas para essa finali-
tratar de organismos aquáticos vivos, dade todas as espécies, exceto aquelas
as embalagens têm limitação de oxigê- que constem em listas oficiais de espé-
nio e água. Ao serem desembaraçadas cies ameaças de extinção, respeitados
pelas autoridades brasileiras, as cargas os períodos de defeso e as áreas de ex-
são encaminhadas para as unidades clusão de pesca. Esse modelo foi imple-
quarentenárias. mentado por meio da
Cabe esclarecer que Atualmente o modelo Instrução Normativa
as unidades quarente- de ordenamento SAP/MAPA nº 10, de
nárias são credencia- utilizado para o uso de 17 de abril de 2020
das pelo Ministério da espécies nativas com (SAP/MAPA, 2020),
Agricultura, Pecuária fins de ornamentação que estabelece normas,
e Abastecimento e de aquariofilia no critérios e padrões para
(MAPA), resultando Brasil é negativista, o uso sustentável de
em uma lista predeter- isto é, podem ser peixes nativos de águas
minada de estabeleci- utilizadas para essa continentais, marinhas
mentos aptos para a re- finalidade todas as e estuarinas, com fina-
alização de quarentena espécies, exceto aquelas lidade ornamental e de
após a importação de que constem em listas aquariofilia.
animais aquáticos. Essa oficiais de espécies A IN SAP/MAPA
quarentena tem como ameaças de extinção, nº17/2020 não revogou
principal objetivo a respeitados os períodos os artigos que tratavam
garantia de que os ani- de defeso e as áreas de dos procedimentos de
mais importados estão exclusão de pesca. ordenamento e per-
8. Importação de organismos aquáticos com fins ornamentais e de aquariofilia 163
missão no processo de tra-se disponível no site
... para importação
importação e expor- do IBAMA.
de espécies com
tação, permanecendo No caso do consu-
finalidade ornamental
vigente a temática na midor final que deseja
e de aquariofilia,
Instrução Normativa importar algum orga-
devem ser respeitadas
IBAMA nº 202, de 22 nismo aquático com fim
as listas positivas
de outubro de 2008 de ornamentação e de
preestabelecidas.
(Espécie Marinhas e aquariofilia, o caminho
Estuarinas) e na Instrução Normativa ideal é entrar em conta-
Interministerial MPA/MMA nº 01, to com algum lojista. Esse poderá solici-
de 04 de janeiro de 2012 (Espécies tar a espécie a alguma importadora que
Continentais). Dessa forma, para im- possua unidade quarentenária licencia-
portação de espécies com finalida- da pelo MAPA.
de ornamental e de aquariofilia, de-
vem ser respeitadas as listas positivas 3. Credenciamento de
preestabelecidas. unidades quarentenárias
Tendo em vista que o setor de Para a importação de organismos
aquariofilia é dinâmico e que a revisão aquáticos com fins de ornamentação
dos atos normativos publicados não e de aquariofilia, é obrigatório que o
acompanha a velocidade da disponibi- estabelecimento interessado solicite o
lização das espécies pelo mercado, os credenciamento junto ao MAPA, por
interessados em importar determinada meio do “Requerimento de Fiscalização
espécie não constante nas listas dis- Sanitária para Credenciamento de
poníveis no site do Instituto Brasileiro Unidade Quarentenária para fins de
do Meio Ambiente e dos Recursos Animais Aquáticos”. Esse protocolo
Naturais Renováveis (IBAMA) entram deverá ocorrer na Superintendência
com uma solicitação Federal de Agricultura
no Sistema Integrado Para a importação – SFA/MAPA do estado
de Comércio Exterior de organismos onde estiver localizado
(SISCOMEX). O ór- aquáticos com fins o empreendimento.
gão anuente realiza a de ornamentação O marco legal para
análise com relação à e de aquariofilia, o credenciamento de
espécie, autorizando-a é obrigatório que unidades quarentená-
ou não para o comércio o estabelecimento rias foi dado por meio
exterior. A lista com es- interessado solicite o da Instrução Normativa
sas espécies, aprovadas credenciamento junto MPA nº 4, de 4 de feve-
ou reprovadas, encon- ao MAPA... reiro de 2015, que insti-

164 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


tuiu o Programa Nacional de Sanidade 4. Requisitos sanitários
de Animais Aquáticos de Cultivo – para importação de
“Aquicultura com Sanidade” (MPA,
2015). No credenciamento, devem
organismos aquáticos
ser observados os critérios estabele-
ornamentais
cidos no Capítulo II dessa normativa, Após o credenciamento da uni-
devendo ser todas as informações ela- dade de quarentena no MAPA, para a
boradas pelo responsável técnico pelo importação da espécie almejada é ne-
empreendimento, na forma de Manual cessário observar se não há restrições
de Procedimentos Operacionais Padrão sanitárias entre o Brasil e o país de ori-
– POP: gem. Esses requisitos são constante-
mente atualizados e podem ser obtidos
• Seção I: constam os requisitos míni-
por meio do Sistema de Informação
mos de infraestrutura;
de Requisitos e Certificados da Área
• Seção II: constam os requisitos mí- Animal – SisREC.
nimos de higiene e Foram estabele-
controle; Após o credenciamento cidos procedimentos
• Seção III: são apresen- da unidade de distintos para quando
tadas exigências com
quarentena no MAPA, a importação ocorre
relação ao controle de
para a importação da com objetivo de venda
espécie almejada é
circulação de pessoas; direta para o mercado
necessário observar
• Seção IV: são apresen- ornamental ou para
se não há restrições
tados os procedimen- sanitárias entre o Brasil fins de reprodução
tos e os controles de em aquiculturas orna-
e o país de origem.
registro sanitários; mentais. O empreen-
dimento importador
• Seção V: são apresentadas as exi-
deve se atentar ao cumprimento dos
gências com relação ao responsável
“Requisitos de Importação”, combina-
técnico;
do ao documento de “Procedimentos
• Seção VI: são apresentadas as condi- no Destino”, conforme descrito a
cionantes da quarentena e os procedi- seguir.
mentos na ocorrência de doenças;
a. Para fins de comércio
• Seção VII: são apresentados cuidados
direto
que devem ser tomados com relação
aos resíduos; e No documento intitulado
“Requisitos sanitários para importação
• Seção VIII: são apresentadas disposi-
de animais aquáticos para fins ornamen-
ções gerais com relação à quarentena.
8. Importação de organismos aquáticos com fins ornamentais e de aquariofilia 165
tais e não destinados à reprodução comer- destinados à reprodução comercial”, en-
cial”, estão as informações que devem contram-se as informações que devem
ser cumpridas para importação quando ser cumpridas para importação quando
destinadas ao comércio direto. O mode- destinadas à reprodução comercial, sen-
lo de defesa sanitária é negativista, isto do necessário apresentar os laudos dos
é, podem-se observar as listas de espé- exames laboratoriais emitidos pelo país
cies cuja importação o Brasil restringe. de origem para as doenças determina-
Complementarmente a esse do- das no requisito. Cabe esclarecer nova-
cumento, o MAPA disponibilizou, mente que o modelo de defesa sanitária
também no SisREC, o documento é negativista, isto é, podem-se observar
intitulado “Requisitos no requisito as listas
sanitários para importa- Atualmente o Brasil de espécies por gênero
ção de animais aquáticos possui 26 unidades cuja importação o Brasil
para fins ornamentais e de “Quarentenários restringe.
não destinados à repro- Credenciados para Os períodos míni-
dução comercial – proce- Importação de mos de quarentena na
dimentos no destino”, no Animais Aquáticos chegada dos animais ao
qual são estabelecidos Ornamentais. Brasil são os mesmos
os procedimentos que aplicados aos estabele-
devem ser seguidos na unidade de cimentos para fins de venda direta des-
quarentena credenciada pelo MAPA. ses organismos e podem ser encontra-
Entre os requisitos, são estabelecidos dos no documento “Procedimentos no
os períodos mínimos de quarentena. Destino” disponibilizado pelo MAPA
Os animais aquáticos importados para no SisREC, conforme descrito na se-
ção anterior.
fins comerciais serão submetidos à
quarentena de 21 dias para cipriníde-
os (família Cyprinidae), 15 dias para
5. Unidades habilitadas
gouramis (família Osphronemidae),
para importação
ciclídeos (família Cichlidae), moluscos Atualmente o Brasil possui 26 uni-
e crustáceos, e 7 dias para as demais dades de “Quarentenários Credenciados
espécies. para Importação de Animais Aquáticos
Ornamentais” (Figura 2) pelo MAPA, es-
b. Para fins de matrizes para tando a maior parte (77%) desses estabe-
aquicultura lecimentos na região Sudeste do Brasil. A
Já no documento intitulado localização dessas unidades próximas ao
“Requisitos sanitários para importação de aeroporto de chegada é estratégica, pois,
animais aquáticos para fins ornamentais devido ao longo tempo de trânsito da ori-
166 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
gem ao destino, a disponibilidade de voos países, nos últimos anos, exportam
existentes e a rápida relocação dos animais quantidades cada vez menores, mas,
importados nas estruturas de quarentena em termos de valores exportados,
são essenciais para a sobrevivência dos ani- mantêm-se ou até aumentam. Essa
mais. A relação de quarentenários creden- tendência de mercado deve-se ao fato
ciados é constantemente atualizada e pode de cada vez mais os consumidores
ser encontrada na página web do MAPA, na exigirem qualidade ao adquirir peixes
área “Trânsito Internacional”. ornamentais.
Essa qualidade é fruto de um tra-
6. Qualidade e preço no balho estrutural dos fornecedores que,
mercado de importação por exemplo, realizam investimentos
Os dados de mercado de comércio em estruturas adequadas para a ma-
de organismos aquáticos com fins de nutenção das espécies a serem comer-
ornamentação e de aquariofilia esta- cializadas, buscam fornecer alimentos
tisticamente demonstram que muitos específicos às necessidades nutricio-
8. Importação de organismos aquáticos com fins ornamentais e de aquariofilia 167
nais da espécie, realizam capacitação 3. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA.
dos fornecedores e colaboradores das Disponível em: http://www.ibama.gov.br/biodi-
empresas e aperfeiçoam as embala- versidade-aquatica/aquariofilia#listas-especies-
-importacao. Acessado em 14 de julho de 2020,
gens de transporte. Essas melhorias às 16:04.
aumentam o custo de produção e, por 4. Ministério da Agricultura, Pecuária e
consequência, elevam o preço dos ani- Abastecimento – MAPA (Quarentena).
Disponível em: http://antigo.agricultura.gov.br/
mais comercializados, mas garantem o assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude ani-
bem-estar dos animais e a sobrevivên- mal/programas-de-saude-animal/sanidade-dos-
-animais-aquaticos#section-0.
cia até o seu destino. Acessado em 14 de julho de
Contudo, ainda é ... melhorias 2020, às 17:12.
possível encontrar no [necessárias] 5. Ministério da
mercado ofertas com aumentam o custo Agricultura, Pecuária e
Abastecimento – MAPA
preços que não refle- de produção e, por (Unidades de Quarentena
tem os cuidados ne- consequência, elevam Credenciadas). Disponível
em: https://www.gov.br/
cessários, mas esse ce-
o preço dos animais agricultura/pt-br/assuntos/
nário torna-se cada vez
comercializados, mas sanidade-animal-e-vegetal/
saude-animal/transito-animal/
mais escasso. Muitos
garantem o bem- transito-internacional. Acessado
estar dos animais e a em 14 de agosto de 2020.
desses estabelecimen-
sobrevivência até o seu 6. Sistema de
tos, ao exportarem, Informação de Requisitos e
destino.
causam problemas Certificados da Área Animal
(SisREC). Disponível em:
aos seus destinatários http://sistemasweb.agricultura.gov.br/sisrec/ma
(importadores), que acabam sendo nterDocumento!abrirFormConsultarDocume
nto.action. Acessado em 14 de julho de 2020, às
penalizados, por meio de aplicação de 17:17.
multas por maus-tratos animais, pelas
autoridades competentes.

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julho de 2020, às 17:10.

168 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


9. A extensão em
aquacultura aplicada
à produção de peixes
ornamentais

pixabay.com

Matheus Anchieta Ramirez1*,


Nayara Netto dos Santos2,
Gabriel Rivetti Rocha Balloute3
1 Professor associado, médico veterinário, doutor, DZOO, Escola de Veterinária, UFMG
2 Mestranda, engenheira de aquicultura, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Escola de Veterinária, UFMG
3 Graduando, Engenharia de Aquicultura, Escola de Veterinária, UFMG
* autor para correspondência: matheusarta@yahoo.com.br

1. Introdução alimentar ou teriam um fim utilitário de


primeira necessidade e de baixa elabo-
Historicamente a ração. Nesse mesmo
atividade agropecuária é sentido, o processo de
... a crescente
relacionada à produção globalização das modernização agríco-
de alimentos e de ou- economias, fez com que la, guiada pelos prin-
tros gêneros de primeira os artigos agrícolas se cípios da Revolução
necessidade para as so- comportassem como Verde, nas décadas de
ciedades. Desse modo, a commodities ... 1950 e 1960, buscou a
atividade rural foi sendo Criou-se ... um modelo elevação da produtivi-
concebida como ativi- de produção agrícola dade das culturas em
dade rústica, primária, hegemônico em escala processo de crescente
em que seus produtos, global, sob a ideologia padronização, o que,
produtivista, que se alinhado à crescente
destituídos de beleza
convencionou chamar globalização das eco-
ou senso estético, des-
tinaram-se ao consumo no Brasil de agronegócio. nomias, fez com que
9. A extensão em aquacultura aplicada à produção de peixes ornamentais 169
os artigos agrícolas se comportassem tiva da valorização da natureza e das
como commodities nos mercados inter- paisagens para fins estéticos (Henrique,
nacionais. Sob esse aspecto, os produ- 2006). Para aquela parcela da popula-
tos agropecuários foram perdendo suas ção impossibilitada de se deslocar para
características individuais, específicas, as áreas onde se encontram essas paisa-
regionais, em prol da crescente padro- gens, existe a necessidade da recriação
nização e uniformização. Criou-se, com desses espaços no meio urbano, inclusi-
isso, um modelo de produção agríco- ve no interior das moradias. Entretanto,
la hegemônico em escala global, sob a com a redução dos espaços de habitação,
ideologia produtivista, que se conven- esses novos ambientes devem ocupar
cionou chamar no Brasil de agronegó- reduzido espaço, serem, relativamente,
cio (Oliveira et al., 2019a). de baixo custo e não gerarem ruídos ou
Porém, esse modelo emitirem odores com
agrícola, que se difun- potencial de gerar con-
diu em todo o mundo
O surgimento desse flitos entre vizinhanças.
após a Segunda Guerra
mercado ligado ao O surgimento desse
senso estético e à
Mundial, gerou impor- mercado ligado ao sen-
contemplação abre
tantes impactos sociais so estético e à contem-
uma nova perspectiva
e ambientais ligados à
para a agropecuária. Tal plação abre uma nova
produção agrícola. À
realidade traz a ruptura perspectiva para a agro-
medida que a moderni-
com a lógica do modelo pecuária. Tal realidade
zação agrícola avançou, traz a ruptura com a ló-
agrícola dominante,
essa foi associada à de- da maximização gica do modelo agrícola
vastação ambiental e à da produção e da dominante, da maximi-
dispensa crescente de valorização do espaço zação da produção e da
mão de obra (Pessôa e rural. valorização do espaço
Matos, 2005). Por ou- rural unicamente como
tro lado, o desenvolvimento das socie- espaço de produção agropecuária, mas
dades capitalistas urbano-industriais fez coloca o próprio campo e a contem-
com que importante parcela da popula- plação de elementos da natureza como
ção mundial residisse em áreas urbanas, objetos de consumo, ao mesmo tempo
tendo pouco contato com a natureza. que os valoriza por serem particulares,
Adicionalmente, o aumento da popula- naturais, culturais.
ção humana foi associado à redução dos As mudanças no mercado de tra-
espaços de habitação e à verticalização balho urbano nas três últimas décadas
desses (Santos et al., 2015). culminaram na redução do tempo livre
A década de 2000 abre a perspec- e da permanência das pessoas em seus
170 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
lares (Harvey, 2000). elevado custo de manu-
A aquicultura
As configurações sociais tenção e requer atenção
ornamental pode
também levaram ao e espaços adequados
ser desenvolvida em
crescente afastamento para garantia de bem-
pequenos espaços
social de ampla parcela -estar aos animais, o
e com reduzida
da sociedade. Esses fa- que limita a convivência
quantidade de água, o
tores, aliados ao aumen-
que a habilita para áreas com esses animais para
to no valor dos imóveis,
urbanas e periurbanas. a maioria das famílias.
à redução na dimensão É nesse cenário que o
das áreas de moradia e aquarismo, como opção para a orna-
sobretudo à pandemia de COVID-19, mentação e a convivência com animais
nos anos de 2020 e 2021, impuseram de estimação, coloca-se como nicho de
novas dinâmicas de lazer. É nesse con- mercado em expansão.
texto que mais pessoas buscam na con- De uma forma geral, o aquarismo
vivência com animais de companhia a requer reduzido espaço para instalação,
solução para superação das angústias não gera ruídos significativos, resíduos
geradas a partir do maior isolamento ou odores inconvenientes, possui re-
(ABINPET, 2021). Criam-se, com isso, lativo baixo custo de instalação e ma-
os nichos de mercado para a ornamen- nutenção. Por sua diversidade, permite
tação e a produção de animais de com- que a ornamentação seja específica para
panhia, ramos da produ- o senso estético indivi-
ção agropecuária. ... a aquicultura dual. Em suas diferentes
Como exemplo ornamental atende formas, permite mime-
dessas transformações, aos imperativos de tizar os mais diferen-
pode-se citar a produ- uma nova forma de tes ambientes naturais,
ção de flores e de outras produção agropecuária atendendo à necessida-
plantas ornamentais, com a valorização de de contemplação da
como os bonsais e as estética da natureza. natureza ao associar a
“suculentas” (Souza, satisfação do senso es-
2021). Na produção pecuária, a pro-
tético ao lazer e à valorização dos am-
dução de animais de companhia, como
bientes naturais, fazendo com que supra
cães e gatos, e a produção de peixes or-
valores e necessidades psicológicas da
namentais são setores que apresentam
atualidade. Portanto, o aquarismo, ao se
perspectivas crescentes de mercado
alinhar às necessidades contemporâneas
(ABINPET, 2021). Contudo, a tutela
das sociedades também se inscreve na
de cães e gatos, animais de companhia
rubrica de novas atividades agropecuá-
tradicionais, apresenta relativamente
rias (Silva, 2002), ao romper com a lógi-
9. A extensão em aquacultura aplicada à produção de peixes ornamentais 171
ca da busca crescente pelo aumento da ria em municípios rurais, e para o incen-
produtividade e da perspectiva da pro- tivo à agricultura urbana.
dução em oposição ao meio ambiente. Nessa visão, a aquicultura ornamen-
Nesse sentido, a aquicultura orna- tal se desenha como um segmento da
mental atende aos imperativos de uma produção agropecuária que supera al-
nova forma de produção agropecuária gumas questões colocadas a ela. Quanto
com a valorização estética da natureza. aos impactos ambientais decorrentes da
Esse é um fator que a credencia como utilização dos solos e das águas, a ativi-
segmento de mercado que cumpre os dade os tem diminuído, uma vez que a
requisitos para produção agropecuária necessidade de utilização desses fatos
moderna guiada sob os princípios da de produção é reduzida. O principal
sustentabilidade. impacto ambiental está relacionado à
fuga, em alguns casos o lançamento de-
2. A produção de peixes liberado, desses animais em corpos de
ornamentais como ramo água. Por outro lado, a produção de or-
da produção agropecuária ganismos ornamentais reduz a captura
de animais de vida livre. Quanto aos im-
Como parte do que se convencio- pactos sociais da agropecuária, a aqui-
nou chamar de “novo rural” (Silva, cultura ornamental também se apre-
2002), a produção de peixes ornamen- senta como contra-hegemônica, porque
tais se caracteriza pela diversidade de es- sua grande necessidade de mão de obra
pécies, pela necessidade rompe com a crescente
de elevada utilização Quanto aos impactos dispensa de trabalhado-
de mão de obra e pelo sociais da agropecuária, res. Aliado a esse fator, a
atendimento a nichos a aquicultura reduzida necessidade de
de mercado específicos. ornamental também espaço e, em alguns mo-
Uma vez que a seleção se apresenta como delos, do investimento
de animais é uma tarefa contra-hegemônica, em infraestruturas de
que necessita da sensi- porque sua grande produção faz com que
bilidade humana, por necessidade de mão tal atividade esteja bem
envolver uma série de de obra rompe com a adequada a modelos de
questões subjetivas, po- crescente dispensa de produção no contexto
de-se afirmar que essa trabalhadores. da agricultura familiar.
é uma atividade com Em relação à inte-
características artesanais. Em termos de gração aos mercados, esse segmento
política pública, tal realidade a habilita possui características interessantes. A
como área atrativa para o investimento, primeira delas é a reduzida necessida-
buscando a superação da questão agrá-
172 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
de de aquisição de in- críticas foram formula-
... são percebidos
sumos. Nesse caso, o das, surgiu, de forma si-
como negativos
produtor pode desen- multânea, a valorização
os impactos dos
volver a atividade com da cultura rural, das pai-
sistemas de produção
pouco investimento em sagens e dos ambientes
agropecuários
capital. Em algumas si- campesinos, da nature-
modernos sobre
tuações, é possível que za como fonte de con-
a cultura das
a produção de organis- templação e estética,
comunidades rurais,
mos ornamentais seja além dos produtos que
a organização social
totalmente feita sem a rompem com a lógica
do meio rural e as
compra de insumos, so- industrial (Carneiro,
economias locais
mente com a utilização 2002). É nesse contexto
de recursos encontra- de valorização da pro-
dos na propriedade. dução alternativa, do “consumo da con-
templação”, que o aquarismo representa
3. A face do “novo rural” importante possibilidade de expansão
O avanço da implantação de siste- de mercado.
mas de produção agropecuários alta- Complementarmente, a produção
mente tecnificados e em grandes áreas, de peixes ornamentais também se ali-
a partir do final da Segunda Guerra nha às preocupações de reversão dos
Mundial, elevou a capacidade produtiva impactos sociais do modelo da grande
da agropecuária, entretanto esse pro- agricultura, por ser majoritariamente
cesso gerou uma série desenvolvida no con-
de críticas quanto aos ... a produção de texto da agricultura
impactos ambientais peixes ornamentais familiar e com a utiliza-
e sociais. Também são também se alinha ção intensiva de mão de
percebidos como nega- às preocupações de obra. Porém, no atual
tivos os impactos dos reversão dos impactos formato dessa cadeia,
sistemas de produção sociais do modelo da com presença dos atra-
agropecuários moder- grande agricultura, vessadores, a produção
nos sobre a cultura das por ser ... agricultura familiar é invisibilizada
comunidades rurais, a familiar e com a (Chiaraba et al., 2021).
organização social do utilização intensiva de Nesses casos, os impac-
meio rural e as eco- mão de obra. Porém ... tos sociais positivos do
nomias locais (Diniz, com ... atravessadores, vínculo com a agricultu-
Seidl, Tubaldini, 2013). a produção familiar é ra familiar ainda não são
À medida que essas invisibilizada. vislumbrados e explora-

9. A extensão em aquacultura aplicada à produção de peixes ornamentais 173


dos pelo mercado. Nesse sentido, a valo- devido à utilização de volumes relativa-
rização da agricultura familiar, em uma mente reduzidos de água, ela se apre-
construção de cadeia produtiva justa, senta como uma atividade que se ade-
abriria ao mercado de peixes ornamen- qua bem ao desenvolvimento agrícola
tais novas perspectivas comerciais, que em áreas urbanas. À medida que cresce
poderiam ser ligadas aos mercados soli- a importância da agricultura urbana
dários e às redes de comércio justo. como alternativa ao modelo da grande
Não obstante isso, a produção de produção agropecuária padronizada,
peixes ornamentais seria um exemplo de a piscicultura ornamental se apresenta
modelo agrícola inovador, que atende ao como opção produtiva a ser desenvolvi-
que se convencionou chamar “a face do da nesses espaços.
novo rural”, um conjunto de transfor- Mesmo que a escala de produção
mações da sociedade que leva a aproxi- seja reduzida, em comparação aos ou-
mação cultural do meio tros setores da produção
rural com o meio urba- À medida que cresce agrícola, a piscicultura
no. Esse é um processo a importância da ornamental é uma ativi-
que se dá pela migração agricultura urbana dade com bom potencial
de atividades tipicamen- como alternativa ao de crescimento nas áre-
te urbanas para o meio modelo da grande as urbanas e periurbanas
rural, com a emergência produção agropecuária devido ao seu potencial
de trabalhos de não agrí- padronizada, a de mercado, à absorção
colas no campo, mas que piscicultura ornamental de mão de obra, ao bai-
também leva a produção se apresenta como xo investimento inicial
agropecuária ao meio opção produtiva ... e à grande diversidade
urbano, na perspecti- de modelos produtivos.
va da agricultura urbana. Essa mudança Nesse cenário, essas são características
cultural rompe a formação ideológica de que a habilitam para o investimento de
que o meio rural é espaço exclusivo da políticas públicas que buscam a diversi-
produção agropecuária, ao mesmo tem- ficação econômica.
po em que valoriza os fatores ambientais,
sociais e culturais, com o potencial de ge-
3.2. A produção de peixes
rar transformações econômicas.
ornamentais e o surgimento
de atividades não agrícolas
3.1. A produção de peixes no meio rural
ornamentais na perspectiva O fortalecimento da aquicultura or-
da agricultura urbana namental tem potencial para ampliar as
Uma vez que a produção de peixes atividades não agrícolas no meio rural.
ornamentais requer pequenos espaços A inserção dessa produção nos merca-
174 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
dos requer a constru-
... a produção de 4. Produção
ção de estruturas para peixes ornamentais de peixes
a comercialização dos [tem]... potencial para a ornamentais
animais, que, dotada de construção de políticas e agricultura
pessoal e infraestrutu- públicas de apoio às familiar
ra de classificação e ar- populações do meio
mazenamento dos ani- rural, de diversificação No Brasil, a agricul-
mais, potencialmente econômica, de fomento tura familiar representa
gera postos de trabalho ao cooperativismo e os setores socialmente
que não se referem di- ao associativismo e excluídos do meio rural.
retamente à produção de inclusão produtiva Possui como caracterís-
agropecuária, mas sim
de populações, tica básica a posse dos
notadamente de jovens. fatores de produção as-
a serviços. Nesse senti-
sociada à sua gerência
do, também se cria mercado de traba- e uso (Prado e Ramirez, 2011). Esse
lho dedicado ao transporte e ao envio grupo, que vive em comunidades pou-
dos organismos aquáticos ornamentais co numerosas, apresenta interconheci-
para diferentes regiões. Essa atuação no mento nas relações comunitárias e par-
setor de distribuição no tilha de ajuda mútua e
meio rural tem a poten- No Brasil, a agricultura de códigos de conduta.
cialidade de ampliar a familiar representa os Esses últimos se confi-
geração de renda e de setores socialmente guram como formações
corrigir imperfeições do excluídos do meio culturais que balizam
mercado (Chiaraba et rural. Possui como todas as relações sociais
al., 2021). característica básica a e produtivas no inte-
Nessa esteira, con- posse dos fatores de rior dessas comunida-
figuram-se como ca-
produção associada à des (Abramovay, 1992;
sua gerência e uso. Chaianov, 1974).
racterísticas que fazem
Nas perspectivas
com que a produção de peixes orna-
das exclusões, esse setor representa 84%
mentais tenha também potencial para das propriedades rurais e ocupa 74% da
a construção de políticas públicas de mão de obra na agricultura, mas possui
apoio às populações do meio rural, de apenas 24% das terras (IBGE, 2006).
diversificação econômica, de fomento Mesmo se comportando como grupo
ao cooperativismo e ao associativismo social, a agricultura familiar é diversa em
e de inclusão produtiva de populações, sua condição social, englobando produ-
notadamente de jovens. tores que desenvolvem sistemas produ-
9. A extensão em aquacultura aplicada à produção de peixes ornamentais 175
tivos com elevado uso de tecnologias e pelo menos uma parte desse mercado
integração aos mercados, assim como apresenta imperfeições que redundam
produtores excluídos dos mercados e na exploração dos produtores, o que
com renda baixa. Porém, como grupo, abre espaço para a inserção da produção
pode-se afirmar que a agricultura fami- da agricultura familiar.
liar tem dificuldades em acessar crédito Por outro lado, as necessidades que
agrícola e atua em mercados com eleva- caracterizam a produção de peixes or-
do grau de imperfeição tanto na compra namentais, como a utilização intensiva
de insumos quanto na venda de produ- de mão de obra, alinham-se com as ca-
tos (Abramovay, 1992). racterísticas da produção. Nesse mesmo
A partir dessas condições sociais sentido, a possibilidade de desenvolver
desfavoráveis, a agricultura familiar a produção de peixes ornamentais com
desenvolveu-se parti- pequenas inversões de
lhando fortes vínculos capital, com a utilização
em suas comunidades.
... o trabalho de de insumos encontrados
Do ponto de vista pro-
assistência técnica e de nas propriedades, favo-
extensão rural junto
dutivo, esse segmento rece o desenvolvimento
à produção de peixes
é marcado pelo restrito dessa produção familiar.
ornamentais ... justifica
investimento em insu-
metodologia específica Outro ponto que me-
mos para a produção e rece destaque é a exis-
de trabalho voltada
pelo uso intensivo de tência de um elevado
para a produção ... no
mão de obra. O peque-
contexto da agricultura percentual das ativida-
no investimento em ca- familiar. des sem legalização for-
pital para a produção é mal, fator que conduz
estratégia que permite aos produtores à produção para arranjos de mercado
atuarem em mercados que os exploram, informais e marcados por imperfeições
já o uso intensivo de mão de obra repre- (Chiaraba et al., 2021).
senta a superexploração da força de tra- Em geral, a atuação de agricultores
balho nesse contexto. familiares no mercado de peixes orna-
O mercado de peixes ornamentais mentais pode ser considerada como
aos produtores é marcado por elevados majoritária entre os segmentos do meio
graus de imperfeições. Nesse sentido, rural, caracterizada por explorações de
Cardoso et al. (2012) afirmaram que pequeno porte, baixo uso de tecnologia
mais de 80% dos produtores da Zona da e controle dos parâmetros de qualidade
Mata mineira dependem de atravessa- de água, porém responsável pela maior
dores para que seus animais atinjam os parte dos peixes que chega ao mercado,
mercados. Ou seja, pode-se afirmar que com atuação em mercados imperfeitos,
176 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
sujeitos a elevados graus de exploração sistemas de produção. O conhecimento
(Chiaraba et al., 2021; Cardoso et al., envolvendo a produção desses animais
2012). Assim, o trabalho de assistência tem duas importantes perspectivas: a
técnica e de extensão rural junto à pro- produção de animais “show”, ligada ao
dução de peixes ornamentais, no con- aquarismo, e a produção campesina.
texto da agricultura familiar, deve levar
em consideração essas particularidades,
5.1. A produção de animais
“show” ou para exposição
o que justifica metodologia específica
de trabalho voltada para a produção de O mercado do aquarismo possui
peixes ornamentais no contexto da agri- um nicho que absorve animais conhe-
cultura familiar. cidos como “show”. Esses animais, que
também são destinados a competições
5. Saberes associados e a exposições, são aqueles que seguem
à produção de peixes padrões rígidos de cor e conformação
ornamentais que compõem as variedades dentro das
espécies. São animais que atingem ele-
Como ramo da produção agrope- vados valores de mercado, comparados
cuária, a produção de peixes ornamen- aos animais de padrões comuns, entre-
tais não alcançou a mesma valorização tanto sua inserção no mercado é restri-
das outras culturas. A “evolução” e o ta àqueles nichos nos quais os consu-
processo de modernização da produção midores conhecem e exigem linhagens
de peixes ornamentais não seguiram os específicas. Dado o elevado custo des-
padrões convencionais da agropecuária ses animais e a necessidade de conhe-
no Brasil, associados às agências de pes- cimento das diversas
quisa e às universidades. linhagem por parte dos
Desse modo, a maioria ... a maioria dos
consumidores, esse não
dos saberes relativos à saberes relativos à
é um ramo da aquacul-
seleção dos animais e à seleção dos animais
tura que desponta como
implantação de sistemas e à implantação de
de grande crescimento,
de produção não foi teo- sistemas de produção
muito embora alcance,
rizada ou descrita nos não foi teorizada ou
ano após ano, maiores
canais convencionais descrita nos canais
fatias de mercado.
de comunicação cientí- convencionais de
Quanto à produção
fica. São conhecimen- comunicação científica. e à manutenção dos sa-
tos restritos a alguns beres relativos à produ-
segmentos sociais, porém acessá-los é ção desses animais, cabe destacar que é
fundamental para que o técnico se qua- extremamente escassa a literatura sobre
lifique para a assistência técnica a esses
9. A extensão em aquacultura aplicada à produção de peixes ornamentais 177
o tema. Os conheci- nidade, reconhecidos
... são sistemas de
mentos são gerados e
produção que têm por como saberes campone-
mantidos entre os pro- ses (Souza et al., 2018).
objetivo a redução
dutores, que desenvol- Apesar de sua im-
das necessidades de
vem o papel também de portância, os saberes
insumos, ou seja, os
selecionadores de ani- camponeses são trata-
produtores buscam
mais. Dessa forma, os dos, muitas vezes, de
desenvolver as
saberes são construídos
atividades com menor forma preconceituosa
com base no empirismo pela academia. Sem a
vinculação possível à
e se mantêm de forma utilização intensiva de
compra de insumos e
tácita naquelas “comu- insumos ou tecnologias,
de tecnologias para a
nidades de conheci- são identificados como
produção.
mento”, de tal maneira “atrasados”, “arcaicos”,
que não são sistemati- “rudimentares”, com desprezo ao po-
zados ou reproduzidos pelos formatos tencial produtivo e de abastecimento do
técnico-científicos. Para o acesso a esses mercado desses produtores. Dessa for-
saberes, existe a necessidade de contato ma, poucos são os trabalhos de busca e
direto com os produtores e a vivência resgate desses conhecimentos, que não
nesses setores produtivos. são descritos pela literatura especializa-
5.2. A perspectiva dos da e são desconhecidos pela literatura
“saberes camponeses” científica. De uma maneira geral, são
aplicada à produção de peixes tratados como irracionais, uma vez que
ornamentais se prestam à produção de animais de
A produção de peixes ornamentais menores valores no mercado e desen-
por agricultores familiares apresenta volvidos por setores socialmente excluí-
importantes adaptações, que são defi- dos do meio rural.
nidas a partir das condições ambien- Porém, cabe destacar que a maior
tais, sociais e de mercado nas quais os parte dos peixes que chegam aos mer-
sistemas produtivos estão inseridos. cados, sejam aqueles que se direcionam
Ordinariamente, são sistemas de pro- ao abastecimento de animais “comuns”,
dução que têm por objetivo a redução sejam aqueles destinados ao mercado
das necessidades de insumos, ou seja, os “show” ou a exposições, são produzidos
produtores buscam desenvolver as ati- a partir de saberes camponeses. Por fim,
vidades com menor vinculação possível pode-se afirmar que ignorar a importân-
à compra de insumos e de tecnologias cia dos saberes camponeses relativos à
para a produção. São conhecimentos produção de peixes ornamentais é igno-
próprios e específicos de cada comu- rar soluções que contornam as configu-
178 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
rações perversas de mercado e abaste- grande extensão territorial. Foi somente
cem o mercado de peixes ornamentais nas décadas de 1990 e 2000 que a neces-
no Brasil. sidade de maior eficiência na produção
agropecuária e em maior harmonia am-
6. Extensão em biental fez com que a aquicultura fosse
aquacultura valorizada como modelo de produção.
A valorização da aquacultura aten-
A extensão em aquacultura é parte
deu a anseios sociais que buscavam o
da extensão rural dedicada aos siste-
desenvolvimento de atividades agro-
mas de produção aquícolas. Essa divi-
pecuárias capazes de produzir menores
são na análise da prática extensionista
se fundamenta nas particularidades impactos ambientais e de potencialmen-
do desenvolvimento histórico dos sis- te reverter os impactos sociais negativos
temas de produção de que o desenvolvimento da agropecuária
organismos aquáticos representou no Brasil.
... a política de Contudo, a produção
no Brasil. Durante as modernização
fases iniciais da colo- de conhecimentos cien-
agrícola brasileira tíficos na aquacultura é
nização, as atividades ... conservadora
relativas à produção de ainda incipiente quan-
(1965-1979), trouxe do em comparação à
organismos aquáticos ênfase a modelos
eram tratadas como de agricultura e à pecuária
produtivos em larga de maneira geral. Cabe
menor importância por escala, direcionando
contarem com saberes destacar que, quanto à
investimentos estatais
indígenas, mais tarde para empreendimentos produção de organis-
campesinos. Com o mos ornamentais, a pro-
agropecuários de dução de conhecimen-
desenvolvimento ur- grande extensão
bano-industrial, a par- tos técnicos e científicos
territorial. ... somente relacionados a esses
tir da década de 1930, nas décadas de 1990 e sistemas de produção é
maior atenção foi dada 2000 que a necessidade
aos sistemas de pesca ainda mais escassa, situ-
de maior eficiência na
industriais. Por fim, a ação que faz com que os
produção agropecuária
política de moderniza- conhecimentos e os sa-
e em maior harmonia
ção agrícola brasileira, beres populares tenham
ambiental ...
modernização conser- marcada importância
vadora (1965-1979), trouxe ênfase a em relação aos saberes
modelos produtivos em larga escala, di- da “academia”. Assim, a valorização do
recionando investimentos estatais para saber popular, não acadêmico, é essen-
empreendimentos agropecuários de cial para que o técnico possa desenvol-
9. A extensão em aquacultura aplicada à produção de peixes ornamentais 179
ver atividades de extensão voltadas ao de insumos agroindustriais.
atendimento das necessidades da pro- Nesse modelo tradicional, os sabe-
dução de peixes ornamentais. res camponeses são considerados irra-
cionais, alvos da superação a partir de
6.1. O modelo clássico de um novo padrão cultural de produção
extensão
e de consumo de insumos (Rogers,
O modelo clássico de extensão 2003). Outro aspecto que cabe des-
rural, conhecido como difusionista- tacar é o compromisso desse modelo
-inovador, é centrado na perspectiva da extensionista com a perspectiva de que
difusão de inovações tecnológicas no os problemas do meio rural são resol-
meio rural, sempre guiado pela pers- vidos única e exclusivamente pelo au-
pectiva da maior produtividade e da mento da produtividade, sem atenção
padronização da produção (Prado e aos impactos ambientais e sociais da
Cruz, 2004). Em seus produção agropecuária
aspectos humanísticos, ... o modelo tradicional (Oliveira et al., 2019a).
esse modelo de atua- de extensão rural não Desse modo, o mo-
ção no meio rural se é capaz de atender à delo tradicional de ex-
configura como uma extensão requerida tensão rural não é capaz
forma de ação vertica- para a produção de de atender à extensão
lizada, impositiva, não peixes ornamentais, requerida para a produ-
dialógica, na qual o seja no meio rural, ção de peixes ornamen-
extensionista despreza seja no meio urbano. tais, seja no meio rural,
os conhecimentos dos Sua inviabilidade se seja no meio urbano.
produtores, em prol
dá porque o objetivo Sua inviabilidade se dá
da simples difusão de
primário da produção porque o objetivo pri-
inovações tecnológicas
ornamental não é a mário da produção or-
(Oliveira et al., 2019b).
maior produtividade, namental não é a maior
mas sim o senso
Sem a preocupação produtividade, mas sim
estético ...
com o desenvolvimen- o senso estético; outro
to de práticas educati- ponto de destaque é sua
vas, o difusionismo é um método de ineficiência em desenvolver processos
extensão que se resume à implantação extensionistas capazes de valorizar e,
de tecnologias e insumos agroindus- por isso, criar condições para a troca de
triais. Seu objetivo é a integração dos saberes e de experiências entre exten-
produtores aos mercados de insumos, sionistas e produtores. É nesse aspecto
havendo a vinculação e a dependência que a extensão deve romper com a lógi-
dos sistemas produtivos às indústrias ca difusionista, para que possa atender

180 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023


à produção de organismos aquáticos dores, isto é, colocando os animais dire-
ornamentais, em sua diversidade, de tamente em lojas ou distribuidores, sem
forma adequada. se submeter aos atravessadores locais.
Sob tal ótica, o desenvolvimento de mé-
6.2 - A extensão em
aquacultura aplicada à todos alternativos de comercialização,
piscicultura ornamental como as vendas pela internet, em lei-
lões, em aplicativos digitais e em grupos
Para atender aos imperativos recla- de aquarismo, constitui forma de inclu-
mados pela assistência técnica junto à são aos mercados que contribui para o
produção de peixes ornamentais, o mé- aumento da renda dos produtores.
todo de extensão implantado deve ser
Outro ponto que merece destaque
pautado em metodologias dialógicas,
é a manutenção dos padrões de cores
que tenham a capacidade de desenvol-
e formas das varieda-
ver relações horizontali-
des em cada espécie de
zadas entre extensionis- ... o método de peixes ornamentais pro-
ta e produtores. Guiada extensão implantado duzida, o que faz com
sob princípios educa- deve ser pautado que a seleção de ani-
tivos, a prática exten- em metodologias
mais para a reprodução
sionista, nesse sentido, dialógicas, que tenham
e para a venda seja as-
supera as perspectivas a capacidade de
pecto fundamental a ser
meramente produtivis- desenvolver relações
abordado em trabalhos
tas, para buscar o en- horizontalizadas
de extensão junto a es-
tendimento do sistema entre extensionista
de produção como um e produtores ... para ses produtores. Trata-se
todo, sua vinculação aos buscar o entendimento de um desafio adicional
mercados, as questões do sistema de produção para a assistência técni-
ambientais associadas como um todo ... ca, uma vez que esses
ao modelo de produção, são sistemas de produ-
os anseios e as expectativas do produtor. ção agropecuária desenvolvidos em no-
Há, nesse contexto, especial desta- vas dinâmicas sociais, com a valorização
que para a atenção que deve ser dada à estética e o desenvolvimento de nichos
comercialização da produção e à sele- de mercado.
ção dos animais. Isso porque, uma vez Nesse caso, a simples valorização
que o mercado de peixes ornamentais da produção, ou do maior desempenho
apresenta imperfeições aos produtores, zootécnico dos animais, não é capaz de
trabalhos de extensão devem ter a capa- contribuir para o desenvolvimento das
cidade de criar condições para a venda cadeias para o alcance dos resultados
da produção sem contar com atravessa- esperados, em termos de “qualidade
9. A extensão em aquacultura aplicada à produção de peixes ornamentais 181
dos animais”. Por outro lado, os técnicos qualidade da água, dos insumos tecno-
devem estar atentos aos requisitos de re- lógicos utilizados, da seleção e da des-
dução dos impactos ambientais e sociais crição das variedades produzidas. O
negativos ligados à agropecuária. diagnóstico também abrange as metas
6.3. Abordagem dos sistemas da produção em curto, médio e longo
prazo, dados que são inicialmente cole-
de produção de peixes
ornamentais em trabalhos de tados por meio de entrevista.
extensão em aquacultura Após a fase inicial, o diagnóstico
segue com visita pormenorizada a todo
Uma vez que não existe a unifor- o sistema, momento em que as infor-
mização dos sistemas de produção de mações coletadas na fase da entrevista
peixes ornamentais, as propostas de são verificadas in loco. Essa verificação é
intervenção e outras recomendações
importante, pois o pro-
técnicas devem ser
cesso de descrição feito
precedidas de diagnós- ... processo de anteriormente pode não
ticos de situação dos extensão ... avalia, de fornecer o entendimen-
sistemas de produção, forma holística, as to completo de como a
como proposto por atividades produtivas, o
atividade se desenvolve.
Oliveira et al. (2019c). diagnóstico de situação,
Posteriormente à
Essa avaliação tem ca- ... dos objetivos fase de coleta de dados,
racterística diagnóstica, da produção, do essas informações são
de reconhecimento dos histórico da atividade, apresentadas de forma
sistemas de produção, das expectativas do organizada ao produtor.
de seu funcionamento proprietário e da Tal apresentação tem
e das necessidades de análise da atuação
por objetivo validar os
intervenção. nos mercados com a
dados coletados e pro-
Como parte de um compra de insumos e a
porcionar análise crítica
processo de extensão venda dos animais.
que avalia, de forma dos resultados obtidos e
holística, as atividades produtivas, o dos pontos percebidos
diagnóstico de situação parte do enten- como problemas nos sistemas de pro-
dimento dos objetivos da produção, do dução. Nessa discussão, o produtor é
histórico da atividade, das expectativas chamado a problematizar o sistema de
do proprietário e da análise da atuação produção, identificando quais situa-
nos mercados com a compra de insu- ções devem ser modificadas para maior
mos e a venda dos animais. Entretanto, sucesso da atividade, fase que se confi-
também avalia os sistemas de produção gura como o diagnóstico do sistema de
com atenção ao manejo dos animais, da Produção.
182 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 105 - janeiro de 2023
Somente após esse trabalho comunitário.
... o trabalho de
momento, de levanta- Por meio de reuniões
diagnóstico de
mento dos problemas com as comunidades,
situação e de atenção
por parte dos produ-
individual aos sistemas tem-se o entendimento
tores, são apresentadas da organização da pro-
de produção seja
as sugestões de inter-
precedido de trabalho dução e das vinculações
venção técnica. Desse
comunitário. Por meio ao mercado daquela co-
modo, o último passo munidade, bem como
de reuniões com as
do processo seria a for- do trabalho comunitá-
comunidades ...
mulação de recomen- rio, que abre perspecti-
dações técnicas para vas para atuação associada e cooperada,
intervenção nos sistemas de produção. contribuindo para melhor inserção da
Essas devem se adequar ao modelo de produção nos mercados e compra de in-
produção utilizado, respeitando sempre sumos, além do rompimento das condi-
a vinculação ao mercado, as estratégias ções perversas de dominação por parte
de produção adotadas e o nicho de mer- de elementos que compõem essa cadeia
cado para o qual a produção é destinada. produtiva.
6.4. Extensão em aquacultura
para a produção de peixes 7. Conclusões
ornamentais no contexto da A produção de peixes ornamentais é
agricultura familiar um ramo da produção agropecuária que
Quando a produção de peixes orna- apresenta configurações específicas de
mentais é desenvolvida por agricultores mercado. Nessa, os conhecimentos são
familiares, é importante atentar para as oriundos de grupos de produtores. Com
necessidades específicas desse público isso, o modelo de extensão a ser imple-
de trabalho. Uma vez que a agricultura mentado deve romper com a simples
familiar se organiza em comunidades, característica de difusão tecnológica,
as quais possuem fortes vínculos entre em prol do desenvolvimento de ações
seus membros, inclusive com a configu- que tenham a capacidade de dialogar e
ração de códigos de conduta, que ditam trocar saberes junto aos produtores.
as práticas produtivas, é fundamental A produção ornamental pode ser
que se desenvolvam trabalhos comuni- inscrita na rubrica da face do “novo
tários (Prado e Ramirez, 2011). rural”, no qual atividades agrícolas são
Desse modo, é indicado que, para desenvolvidas no meio urbano e ativi-
esse público, o trabalho de diagnóstico dades não agrícolas desenvolvidas no
de situação e de atenção individual aos meio rural. Essas se alinham às preo-
sistemas de produção seja precedido de cupações com os impactos ambientais
9. A extensão em aquacultura aplicada à produção de peixes ornamentais 183
e sociais das atividades agropecuárias, mo agrário em questão. Campinas: Hucitec -
ANPOCS, 1992.
atendendo a demandas específicas de
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atividades comunitárias devam ser de- Unidad Económica Campesina. Buenos Aires:
Ediciones Nueva Visión, 1974.
senvolvidas para a atuação associada e
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cooperada com a superação das injun- A. F.; LOPES, L. T.; CAMARGO, G. H. S.;
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dução de peixes ornamentais e seus efeitos
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com metodologias capazes de facilitar na em comunidades camponesas e quilombolas
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de extensão rural [recurso eletrônico] / – Belo
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são pouco sistematizados, e até mesmo
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