Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
n. 1
Fevereiro
Pasta
Peniche
em Portugal
Um porto
de pesca no
caminho
da diversificação
A marlonga
negra austral
Uma espécie
excessivamente
cobiçada
C o m e rc i a n t e
g ro s s i s t a d e
pescado
O futuro de uma
profissão ligada
aos recursos
C A L E N DA R I O
Feiras e exposições :
• « Fish international 2000 » : este evento,
Neste número…
reservado a profissionais, será realizado de
23 a 26 de Março de 2000, em Bremen na
Alemanha. São propostas quatro feiras Página2 Calendário
comerciais no mesmo local: Um « mercado
de peixes » de diferentes zonas do globo, um
salão das novas tecnologias, um salão consa- Página 3 Editorial
grado aos diferentes tipos de transporte do Franz Fischler, Comissário Europeu para a Pesca
peixe e um « local de venda » de material de
comercialização. Estarão presentes exposi- Página 4 Assuntos
tores do mundo inteiro. Para mais informa- Entrevista com Philippe Poujeaux, Presidente do Sindicato
ções contacte : tel. +49-421-35 05 2 60, dos Comerciantes Grossistas da Pesca de Arcachon, França
sítio na Internet : « Constato de ano para ano a diminuição do tamanho dos peixes
http://www.fishinternational.com, peixes descarregados »
ou por e-mail : info@fishinternational.de
Aviso aos leitores: Faça chegar os seus A Pesca na Europa é uma revista publicada pela Direcção-Geral das Pescas da Comissão
comentários ou sugestões à seguinte Europeia. É distribuída gratuitamente através de um simples pedido de assinatura (ver
cupão na página 12). A Pesca na Europa é editada cinco vezes por ano, nas onze línguas
morada: Comissão Europeia, Direcção- oficiais da União Europeia. Encontra-se igualmente disponível no sítio Internet da DG Pescas :
Geral das Pescas, «Unidade de http://europa.eu.int/comm/fisheries/policies_en.htm
Comunicação e informação», Editor responsável: Comissão Europeia, Direcção-Geral das Pescas, o director-geral.
rue de la Loi, 200, Nota: Os textos desta publicação não responsabilizam, seja de que forma for, a Comissão
B-1049 Bruxelles, ou pelo Europeia. Nem a Comissão nem qualquer pessoa que actue em nome da Comissão são res-
fax: +32-2-299 30 40 ponsáveis pela utilização que possa ser feita das informações contidas nesta publicação.
mencionando A Pesca na Europa. Copyright : © Comunidades Europeias, 2000
E-mail: fisheries-magazine@cec.eu.int Reprodução autorizada mediante indicação da fonte
Fotos da capa: © Eureka Slide, Lionel Flageul, «Regulatory Encyclopedia, Office of Seafood
Realização: Mostra and Office of Regulatory Affairs, Food and Drug Administration, 1993-1999».
Printed in Belgium
IMPRESSO EM PAPEL RECICLADO
A Pesca na Europa J 3
E D I TO R I A L
«Observa-se o desaparecimento,
temporário ou duradouro,
de certas espécies»
Em cinquenta anos, paralelamente a um interesse de todos, de uma limitação do desafios postos pela globalização e pelas
aumento das capacidades de pesca, as esforço da pesca e das capturas. Para novas exigências do mercado, quanto à
capturas mundiais passaram de 2,3 atingir este objectivo, a UE activou qualidade dos produtos, à higiene e à
milhões para cerca de 100 milhões de diferentes mecanismos que visam reduzir segurança no trabalho, e ao respeito para
toneladas. Ao ponto de certas espécies o número de barcos, limitar as capturas, com o ambiente. É neste contexto que o
verem a sua existência claramente favorecer uma pesca mais selectiva e uma apoio financeiro da Comunidade assume
ameaçada. Esta situação volta-se aliás gestão adaptada às diferentes zonas de toda a sua importância.
contra os próprios pescadores: quando o pesca e encorajar a diversificação das Compreende-se desde logo que a adopção
peixe se torna escasso, as quantidades actividades nas regiões que dependem da pelo Conselho dos Ministros da Pesca, em
pescadas diminuem e a actividade deixa pesca. Dezembro de 1999, do novo regulamento1
de ser rentável... A política comum da pesca deve por que define concretamente a política
Impõe-se portanto a necessidade, no outro lado fazer face aos numerosos estrutural em matéria de pesca e de
Um grande número
de navios conjugado com
a diminuição dos recursos
ameaça a actividade
da pesca
1
Regulamento N°2792/1999 do Conselho de
17.12.1999 que define as modalidades e as
condições das acções estruturais da Comunidade
no sector da pesca, JO L N°337 de 30.12.1999.
© Eureka-Slide, E. Wayaffe
A Pesca na Europa J 7
PASTA
276 930
270 485
263 486
258 572
250 220
68 000
25 030
43 550
29 420
18 370
5 860
4 420
3 000
6 270
2 380
3 300
750
B DK D EL E FIN F IRL I NL P S UK
Uma excepção:
a pequena pesca costeira
Em certas regiões, a pequena pesca
costeira é muito importante para o
emprego e a actividade económica, não
sendo contudo tão importante em volume
global de peixe como as grandes unidades
de pesca. À escala da UE, representa cerca
de 60 % do conjunto da frota
comunitária.
Por estas razões, beneficia dentro do novo
regulamento, de medidas especiais : à
excepção dos arrastões, as unidades de
menos de doze metros, consideradas
como pertencendo à categoria «pequena
pesca costeira», não serão com efeito
abrangidas pelas medidas gerais criadas
para o regime de entradas e saídas.
Por outro lado, são criadas medidas de
incentivo aos Estados membros para
Os projectos colectivos no sector da pequena pesca costeira são encorajados melhorar as condições do exercício desta
pequena pesca.
É assim, por exemplo, que uma
uma maneira geral, se os objectivos de intervenção do IFOP está prevista sob a
redução para os diferentes tipos de barcos
redução forem respeitados, os apoios forma de um subsídio condicionado até ao
e de pesca : o quarto POP até 2001, e fica
públicos à construção de novos barcos limite máximo de 150.000 euros,
para definir um novo programa para os
podem ser autorizados se paralelamente destinada a um grupo de pescadores ou às
anos posteriores.
houver uma baixa, pelo menos famílias de pescadores que apresentem um
Para poder beneficiar dos apoios, os
equivalente, na capacidade – e isso sem projecto colectivo. Estes projectos referir-
Estados membros devem, daqui em
apoio. se-ão, por exemplo, à melhoria dos
diante, estabelecer um regime permanente
Mas atenção: para os segmentos da frota equipamentos sanitários e de segurança, à
de entradas e de saídas de frotas, e devem
que não respeitaram os objectivos dos implementação de inovações tecnológicas
informar anualmente a Comissão sobre os
POP para o período 2000-2001, os que favoreçam uma pesca mais selectiva,
progressos obtidos na implementação dos
apoios não serão concedidos para a ou ainda à formação profissional.
POP.
O novo sistema de apoio à construção é introdução de novas capacidades, a não
ser que estas estejam associadas a baixas Os subsídios para
um ponto crucial do regulamento, que foi
sem apoio, superiores pelo menos a 30 % a paragem definitiva
objecto de difíceis negociações. Aplica-se
(isto é, que para obter um apoio à Sempre com o objectivo de reduzir o
aos arrastões de todos os comprimentos e
construção para uma capacidade igual a excesso de capacidade em barcos de
aos outros tipos de navios de
100, será necessário retirar 130). pesca, os subsídios encorajam a paragem
comprimento superior a 12 metros. De
17 521
18 934
11 171
4 373
2 310
3 882
8 537
1 182
1 053
2 123
8 433
142
B DK D EL E FIN F IRL I NL P S UK
A Pesca na Europa J 9
PASTA
Peniche,
um porto em mutação PORTUGAL
Aveiro
Localizada sobre um cabo que avança Fenacoopescas: « Uma centena de projectos, meiro do país - e o desenvolvimento da
intrepidamente pelo Atlântico dentro, a vila num montante total de 5 milhões de euros, aquacultura.
de Peniche – que duas horas de estrada foram apresentados dentro do quadro da Peniche constitui assim um bom exemplo
separam de Lisboa - é, acima de tudo um Iniciativa comunitária PESCA ». de que os esforços conjugados dos diferentes
porto de pesca: o segundo de Portugal se se « A maior parte dos projectos financiados pelos intervenientes (organizações de produtores,
fizer referência à tonelagem descarregada em Fundos Estruturais, referem-se à modernização município, Estado, sector privado), apoia-
1998, e o primeiro em valor para os da frota, por exemplo em equipamentos de dos pelas ferramentas colocadas à disposição
produtos frescos e frigorificados. comunicação e de detecção, mas igualmente ao pela União Europeia, podem ajudar uma
« Tradicionalmente, toda a economia da vila desenvolvimento das facilidades portuárias, região a, com sucesso, fazer as necessárias
assenta sobre o sector da pesca », explica como a produção de gelo, ou os entrepostos de mudanças. J
Francisco Zaragoza, Secretário-Geral da mercadorias e a modernização das indústrias
Opcentro, uma organização de produtores de transformação. Foi efectuado também um A pesca em Peniche : um balanço em meias-tintas
(OP) local. « Não existe apenas a frota costeira importante esforço para melhorar os A captura de pequenos peixes pelágicos
artesanal e as suas tripulações, mas igualmente equipamentos de construção e de reparação (sardinha, sarda e carapau) na rede de cerco
um importante complexo de transformação, naval, especialmente com a intervenção do com retenida, constitui a actividade principal
composto por fábricas de conservas e de IFOP, num investimento de 3 milhões de euros das frotas de barcos ligeiros de Peniche (75 %
congelação. » efectuado pelo estaleiro local», adianta das entradas em 1998). Contudo esta frota
Se, nestes últimos anos, o emprego no Francisco Zaragoza. tem diminuido de ano para ano : 55 barcos
sector da transformação dos produtos Este estaleiro participará, por outro lado, na em 1986, 27 dez anos mais tarde e 22 em
marítimos se tem mantido globalmente renovação da frota local. Com o apoio do 1999 !
estável em Peniche, os efectivos dos homens IFOP, vão ser construídas novas unidades, Actualmente, no entanto, parece que esta
do mar têm, em contrapartida, conhecido dentro dos objectivos do POP, a fim de queda está a parar, e que o estado dos stocks
um importante declínio, passando de 2.300 melhorar a segurança e o conforto a bordo, de sardinhas parece melhorar. Uma evolução
pescadores em 1996 para 1.800 em 1999. bem como melhores condições de acondi- que não é fruto do acaso, mas o resultado da
cionamento e conservação do pescado a auto-regulação do esforço de pesca iniciado
pelas organizações de produtores locais, no
Organizações locais bordo promovendo-se a qualidade dos
quadro de um plano nacional implementado
A Opcentro e a Fenacoopescas são duas produtos.
com a colaboração da Direcção Geral
organizações de produtores de Peniche.
Portuguesa das Pescas e da Aquacultura e
Ambas decidiram tomar a iniciativa para O desenvolvimento do turismo apoiado pela Comissão Europeia.
fazer face às inevitáveis mudanças da A diversificação é igualmente um caminho A pequena pesca polivalente apresenta-se
actividade económica da região. « Existem seguido pelas organizações de produtores e sob auspícios menos favoráveis,
numerosos projectos e ideias novas para apoiar pelo município. Quatro projectos PESCA, principalmente devido à diminuição dos
o sector da pesca e estimular a diversificação », ligados à reconversão de barcos de pesca stocks de pesca demersal (especialmente o
explica Jorge Abrantes, Director da para utilização turística devem, em breve, ser robalo e o polvo). Esta actividade conhecia,
realizados. Estes projectos constituem um no entanto, um desenvolvimento
Toda a economia de Peniche está assente seguimento lógico à criação de uma
no sector da pesca
importante há somente três anos: ocupava
quinzena de pequenas sociedades especiali- então um maior número de pessoas que a
zadas no domínio dos serviços ligados ao sardinha, e parecia oferecer uma interessante
turismo marítimo - passeios no mar com forma de diversificação. Mas em 1999, este
mergulhos sub-aquáticos… Estes projectos sector não dava que viver a mais de 750
acompanham um importante desenvolvi- homens do mar, quando eram ainda um
mento das infra-estruturas de acolhimento, milhar em 1996.
© Alexandra Mendonça
A marlonga negra :
uma espécie em perigo?
O seu nome indica-o claramente: a marlonga negra austral é um peixe
que vive no sul dos três oceanos do planeta, entre o paralelo 30º Sul e o O que é a CCAMLR?
continente da Antárctida. Consequência directa da sua popularidade A CCAMLR, sigla inglesa para «Comissão
para a Conservação da Fauna e da Flora
junto dos consumidores - sobretudo no Japão - : é uma presa procurada.
Marinhas da Antárctida», é uma organização
Mas à margem da pesca regulamentada, os pescadores fora-da-lei provo- internacional encarregada da gestão e da pre-
cam uma verdadeira hecatombe nos stocks. Se o problema não for rapi- servação dos recursos existentes nesta zona
damente erradicado, esta espécie de grande profundidade, até hoje geográfica.
muito pouco conhecida, arrisca-se a desaparecer num futuro próximo… Com sede na Austrália, este organismo foi
criado no início dos anos 80 e conta actual-
mente 23 membros : Argentina, Austrália,
Bélgica, Brasil, Chile, a Comunidade
Europeia, França, Alemanha, Índia, Itália,
Nova Zelândia, Noruega, Polónia, Federação
Russa, África do Sul, Espanha, Suécia,
Ucrânia, Reino Unido e Irlanda do Norte,
Estados Unidos, Japão, República da Coreia e
Uruguai.
Há alguns anos, os gourmets japoneses e no Canadá : a marlonga negra austral. população desta espécie. Sendo a
deliciavam-se com a carne do peixe-carvão Para satisfazer esta procura, as frotas alimentação pouco abundante, os peixes
do Pacífico. Tendo-se tornado muito raro operam com toda a legalidade nas zonas das grandes profundidades, como a
(devido à sobre-exploração), este peixe regulamentadas pela CCAMLR marlonga negra, evoluem lentamente, e é
encontrou um substituto igualmente (ver quadro). frequente ver certos espécimes
apreciado nos pratos dos consumidores, Mas desde há vários meses, a marlonga reproduzirem-se apenas uma vez durante
tanto no Japão como nos Estados Unidos negra austral faz regularmente "notícia" toda a sua vida.
na imprensa especializada. Em causa: a As pescas ilegais têm também
Fonte FAO
3
foram diminuídos em cerca de 20 %.
10
• As espécies não confrontadas com riscos
14 C U - A F - 9 9 - 0 0 1 - P T- C
Os Totais Admissíveis de Captura (TAC) para o ano 2000 foram adopta- biológicos e que beneficiam de um bom
dos pelo Conselho de Ministros da Pesca, em 17 de Dezembro de 1999. recrutamento, como o linguado do canal de
Bristol, e o lagostim e a espadilha no mar do
Tiveram de ser decididas importantes reduções relativas a certos
Norte, vêem os seus TAC aumentados.
stocks, por vezes difíceis de aceitar pelos pescadores, mas que, a longo Resta notar que, diferentemente dos anos
prazo, contribuirão para uma exploração durável dos recursos. anteriores, as possibilidades de pesca nas
De uma maneira geral, o Conselho seguiu Gasconha, é qualificada de particularmen- águas comunitárias e nas águas de países
as propostas da Comissão Europeia sem te grave pelos cientistas. Os TAC são, por terceiros ou sujeitos às organizações
grandes modificações e foi avalizada uma consequência, severamente reduzidos : regionais de pesca, bem como as condi-
diminuição essencial dos TAC para a passam para 2.100 toneladas contra 5.000 ções que lhes estão ligadas, foram reuni-
maioria dos principais stocks. As reduções toneladas em 1999 para o bacalhau e, de das sob um mesmo regulamento, entran-
de captura foram decididas com base nos uma forma temporária, para 16.000 tone- do em vigor a partir de 1 de Janeiro de
avisos científicos que constatam uma ladas contra 33.000 em 1999 no caso da 2000, o que representa uma importante
degradação do estado de espécies anchova (o último TAC poderá com simplificação. J
importantes para a pesca comunitária. efeito ser revisto em Maio de 2000 à luz NB: um mapa dos TAC e das quotas das zonas de
pesca, pode ser obtido, a pedido, ver morada na
Principais decisões a reter : de novos elementos científicos).
pãgina 2. Pode ser igualmente consultado na Internet
• A situação de dois stocks, o bacalhau no • Os TAC para a pescada nas águas no endereço:
mar da Irlanda e a anchova no Golfo da comunitárias, para o tamboril do mar http://europa.eu.int/comm/fisheries/policies_en.htm