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A Pesca na Europa ISSN 1606-089X

n. ° 5
D e ze m b ro
Pasta A palavra aos
de 2 0 0 0
agentes do sector

Bremerhaven, Alemanha
Um porto reconcilia-se
com o seu passado

O alargamento
Os desafios inerentes à negociação

Retrato
Uma mulher inovadora
Publicação da Comissão Europeia — Direcção - Geral das Pescas
2 A Pesca na Europa
M RE ET VI EE R
B SS

A PCP em imagens
É costume dizer-se que uma imagem vale
por mil palavras. A imagem foi, por essa razão,
Neste número…
o veículo escolhido pela Comissão Europeia
para apresentar a política comum da pesca,
completando, assim, a documentação relativa
Página 2 Breves
a esta política disponibilizada ao público. • A política comum da pesca em imagens
Está, actualmente, a ser produzida uma • 4ª conferência temática PESCA
série de 6 vídeos nas 11 línguas oficiais
da União Europeia. Com uma duração
de 5 a 7 minutos, estes vídeos apresentam
Página 3 Editorial
as diversas vertentes da PCP sob a forma
Ouvir primeiro
de documentário: a organização comum
dos mercados, a política estrutural, o controlo,
as medidas técnicas e, por fim, a vertente externa.
O primeiro vídeo desta série acaba de ser edi- Página 4 No terreno
tado e faz uma introdução geral à PCP. Bremerhaven
Estes vídeos podem ser obtidos gratuitamente A salvação vem do mar
junto da Unidade «Informação e Comunicação»
da DG Pescas (ver a referência mais abaixo), devendo
ser especificado o fim a que se destinam Página 6 Retrato
Quando as mulheres assumem
4ª Conferência temática PESC A
o papel de «homem de negócios»
O tema da 4ª Conferência PESCA, organizada
pela Comissão Europeia, em 26 e 27 de Janeiro
de 2001, em Inverness, na Escócia, será Página 7 Volta pelo mundo
Os países candidatos e a pesca
a «diversificação socioeconómica das regiões
dependentes da pesca». Este tema assume "
uma importância crescente, dada a constante
diminuição da frota pesqueira e a consequente Página 8 Pasta
extinção de postos de trabalho no sector Um diálogo renovado
das pescas.
A conferência permitirá fazer o balanço
dos esforços desenvolvidos e dos resultados
obtidos nos últimos anos, discutir as perspec-
tivas futuras e apresentar as possibilidades
proporcionadas pelos Fundos Estruturais
para o período 2000-2006.
Para mais informações, queira consultar o sítio da
DG Pescas, na Internet: http://europa.eu.int/comm/
fisheries/news_corner/autres/autr_en.htm

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I MPRESSO EM PAPEL BRANQUEADO SEM CLORO
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© Lionel Flageul
Ouvir primeiro
Algumas pessoas pensam que a concertação constitui um processo Através deste plano de acção, é implementado um vasto leque
supérfluo, que atrasa a tomada de decisões e retarda a acção. de iniciativas, com a constante preocupação em descentralizar
A realidade é bem diferente. O sector das pescas constitui um o processo de concertação, favorecendo, simultaneamente,
bom exemplo dessa realidade ao demonstrar que, pelo contrário, a comunicação não só entre a Comissão e as diferentes organizações,
uma verdadeira consulta a todos os agentes é determinante para mas também entre as diferentes partes envolvidas: os investigadores,
o próprio sucesso das políticas adoptadas. Ao submetermos os pescadores, as administrações...
as propostas a debate, é possível identificar as soluções que
melhor correspondem às expectativas das diversas partes envolvidas Um dos exemplos mais recentes que ilustra a nova forma de agir
e, desde logo, encontrar as mais consensuais. Este procedimento à escala europeia é a audição pública, organizada pela Comissão
é indispensável, na medida em que os próprios agentes têm que Europeia no passado dia 21 de Setembro, sobre o problema
aplicar as medidas e os regulamentos adoptados. A concertação do desequilíbrio entre, por um lado, a capacidade da frota
torna-se, deste modo, uma garantia de eficácia. pesqueira comunitária e o esforço de pesca e, por outro,
os recursos disponíveis. Nessa ocasião, deslocaram-se a Bruxelas
Esta é a razão pela qual a Comissão Europeia atribui grande cerca de 200 representantes de organizações europeias, nacionais
prioridade à melhoria do diálogo com os agentes no terreno. Com e regionais para comunicar os seus pontos de vista directamente
efeito, não podemos limitar-nos a basear as decisões em relatórios ao Comissário Fischler.
de peritos. É necessário ouvir a opinião dos que vivem da pesca
e trabalham nesse sector. É, também, necessário ouvir os represen- O debate directo com os agentes e com os meios profissionais
tantes da sociedade civil, na medida em que exprimem preocu- interessados na política comum da pesca não pode, certamente,
pações directamente relacionadas com a política das pescas, substituir a concertação formal, mas contribui, no entanto, para
quer em matéria de protecção ambiental, quer em matéria de reforçá-la. A experiência dos workshops «regionais», consagrados
desenvolvimento, quer, ainda, em matéria de defesa do consumidor. aos problemas das pescarias específicas e que reúnem, num
ambiente informal, pescadores, investigadores e representantes
Anteriormente, o diálogo consistia, essencialmente, em solicitar dos poderes públicos locais mostrou o valor das discussões
opiniões sobre posições já definidas. Actualmente, o objectivo abertas, em que cada um apresenta a sua opinião relativamente
consiste, principalmente, em proporcionar aos intervenientes a um problema comum e em que o diálogo contribui
no sector uma maior participação nas fases mais iniciais, ou seja, para encontrar pistas quando se procuram soluções.
aquando da elaboração das políticas e das medidas a adoptar.
Com estas iniciativas, a Comissão ausculta primeiro para,
Alargar e reforçar o diálogo: é este o objectivo do plano de acção em seguida, poder reflectir, nas suas propostas, o conjunto dos
global adoptado pela Comissão Europeia em 1999. Este plano vários interesses em jogo.
compreende três vertentes complementares: a renovação do Comité
Consultivo das Pescas, um maior apoio às organizações europeias Dialogar não será, no fundo, ouvir primeiro?
que representam o sector das pescas e a adopção de uma abordagem
mais dinâmica em matéria de comunicação. O Editor
4 A Pesca na Europa
NO TERRENO

BREMERHAVEN

Berlin
Deutschland

Bremerhaven
A salvação vem do mar
O porto de pesca de Bremerhaven, situado na Alemanha, nas margens do Mar do Norte, tem sofrido,
nos últimos anos, uma série de rudes golpes: a redução da sua frota pesqueira, o declínio das actividades
tradicionais... Este porto conseguiu recuperar valorizando ao máximo os seus recursos marítimos, valorização
essa que se traduziu numa ambiciosa operação de reconversão. Um dos símbolos desta recuperação
é a transformação da parte antiga do porto num local integrado, orientado para o turismo,
a cultura e a promoção dos produtos da pesca sob todas as suas formas.

Nesta Terça-feira de Outono chove a cântaros o espaço da antiga estação ferroviária do de peritos do Land de Bremen. Nesta época,
sobre o Schaufenster Fischereihafen (centro porto de pesca. Num local contíguo, um o porto de Bremerhaven – próximo do
cultural marítimo de Bremerhaven). cozinheiro entusiasta ensina a uma plateia estuário do Weser, a 60 km de Bremen –
Amarrado ao cais, o arrastão GERA ostenta de senhoras idosas as mil e uma maneiras atravessava uma fase de profunda decadência.
orgulhosamente a sua proa sob a enxurrada. de preparar o peixe. Após sucessivas reduções, a frota de pesca
Este navio, hoje desarmado e transformado encontrava-se fortemente diminuída.
em museu, já passou seguramente por outras Apesar do tempo miserável, a multidão As actividades portuárias, principal meio
bem piores no passado. A escassos metros não faltou ao encontro. Esta afluência de subsistência dos 120.000 habitantes
deste local, a praça central encontra-se de- deixa adivinhar o ambiente que reina por desta cidade, começaram igualmente
serta. Esta calma é, no entanto, aparente. estas paragens nos dias de sol e nos fins- a desaparecer. Os estaleiros navais
À direita, os visitantes acotovelam-se por todo de-semana. O Schaufenster é, sem dúvida, enfrentavam uma crise. O desemprego
o mercado do peixe, protegidos da chuva um local muito concorrido. No início, atingia níveis sem precedente.
por uma cobertura. Os transeuntes passeiam- poucos ousariam, no entanto, apostar
se frente aos restaurantes especializados no sucesso deste projecto. Urgia encontrar soluções para a reconversão.
em pratos de peixe, enquanto decidem Sendo o porto de pesca mais importante
onde irão almoçar. Do outro lado da praça, Basear-se nos recursos locais da Alemanha, Bremerhaven dependia,
as pessoas continuam a «acotovelar-se» A ideia começou a germinar no início essencialmente, das actividades marítimas.
à entrada do museu Atlanticum, que ocupa dos anos 80, por iniciativa de um grupo Os recursos locais deviam funcionar
como a base para estimular a economia.
A salvação só podia vir do mar.

Em 1990, a parte antiga do porto encontrava-


se deserta. As instalações portuárias, votadas
O Atlanticum: um bom exemplo da cooperação europeia ao abandono, ameaçavam ruir. O projecto
visava, desde o início, transformar este local
Todos os anos, 70.000 pessoas visitam o Atlanticum, o museu dedicado ao peixe e ao mar. num centro turístico, cultural e comercial
Funcionando como um verdadeiro meio de promoção do sector da pesca, este local dedica um espaço inteiramente dedicado à promoção do peixe.
considerável à tecnologia multimédia. Através dele, o público consegue ter uma noção mais clara Pretendia-se que o projecto fosse verdadei-
sobre o contexto em que se inserem as actividades de pesca em Bremerhaven. ramente integrado. Não se tratava apenas
Este projecto resulta da cooperação com o museu Nausicaa, situado no porto francês de Boulogne- de atrair o público mas, também de incentivar
sur-mer, «Um arquitecto deslocou-se expressamente de Boulogne-sur-mer para nos ajudar, explica as empresas a estabelecer-se no local.
Wolfgang Wieland, director técnico do Atlanticum. Os franceses transmitiram-nos todo o seu know Informação, cultura, economia constituíam
how». O Sr. Wieland afirma que as duas estruturas ainda mantêm entre si uma estreita relação. domínios interligados.
5

ALGUNS FACTOS
O peixe vindo de fora
Bremerhaven é o mais importante porto
de pesca alemão em termos de toneladas de peixe
desembarcadas. Mas, paradoxalmente, não são
mais do que dois ou três os barcos aí atracados,
dos quais apenas um continua a desembarcar
peixe fresco na lota. A maior parte do peixe
vendido neste porto vem de fora.
O volume de peixe fresco transitado na lota
ascendeu, em 1999, a 13.297 toneladas. Uma
quarta parte desse volume de peixe (composta,
essencialmente, pelo cantarilho dos mares
do Norte – sebastes marinus) é desembarcada
por navios de pesca, 95% da qual por navios
islandeses e 5% por navios alemães. Os outros
três quartos chegam em camiões, via ferry.
O peixe congelado (principalmente o escamudo
– Theragra chalcogramma) constitui a parte
mais significativa: 103.000 toneladas em 1999,
das quais 19.527 foram desembarcadas por navios
de pesca alemães..
Os cursos de culinária constituem uma das numerosas actividades propostas aos visitantes do Schaufenster
O sector da transformação:
um trunfo considerável
A crise enfrentada pelas actividades tradicionais
levou Bremerhaven a apostar na indústria
da transformação de peixe. A cidade tornou-se,
assim, num dos maiores centros de transformação para cursos de culinária, uma cafetaria Director-geral da BIS, não esconde a sua
de peixe da União Europeia. e vários estabelecimentos comerciais. satisfação. Segundo ele, o balanço positivo
As especialidades dominantes são duas: da renovação do antigo porto de pesca
a transformação final de peixe congelado e a produção «O início foi difícil para as empresas que aí justifica plenamente as verbas investidas:
de refeições pré-confeccionadas. Instalaram-se em se estabeleceram», confessa Monika Bähr. 20 milhões de euros (dos quais um terço
Bremerhaven vinte e oito empresas do ramo As instalações de carácter mais turístico provém de ajudas comunitárias). «O Schau-
da indústria alimentar. Cinco dessas empresas não estiveram operacionais logo no início. fenster atrai todos os anos 700.000 visitantes,
empregam 95% da mão-de-obra. Trabalham
A clientela levou tempo a chegar. No entanto, observa o Sr. Adelmann. Além disso, foram
em Bremerhaven cerca de 4.400 pessoas no sector
da transformação e do comércio do peixe. a tenacidade acabou por compensar. Prova criados 400 postos de trabalho no local».
disso é a empresa Fiedler, especializada
na fumagem tradicional de enguias, trutas A BIS acalenta presentemente outros projectos
e salmões e uma das primeiras a estabelecer- ainda mais ambiciosos. Será, em breve,
se no Schaufenster. Esta sociedade tem visto construído um centro de biotecnologia perto
a sua actividade prosperar ao longo do tempo. do Schaufenster. Por outro lado, está projec-
Tendo iniciado a sua actividade como simples tado para a parte norte do porto um vasto
Um início difícil grossista, esta sociedade abriu, mais tarde, parque marítimo, de carácter turístico. Prevê-
Monika Bähr fazia parte da equipa que uma secção de venda a retalho e integra, se que estes empreendimentos permitam
iniciou este projecto, o qual estava, na altura, actualmente, três restaurantes, assegurando, criar cerca de mil novos postos de trabalho.
a cargo da FBEG, a sociedade gestora assim, 55 postos de trabalho.
do porto de Bremerhaven. O Schaufenster, Esta estratégia audaciosa começa a dar os
recorda a senhora Bähr, foi construído em «O que as pessoas apreciam no Schaufenster seus frutos. Há bem pouco tempo, a taxa
várias etapas, entre 1991 e 1998. A primeira é o ambiente de autenticidade e o grande de desemprego ultrapassava os 20% nesta
fase consistiu na renovação dos mercados número de pontos de atracção que este oferece», cidade portuária. « Durante o ano passado,
do peixe, para que estes pudessem albergar sublinha, ainda, Monika Bähr. As empresas explica o senhor Adelmann, esta taxa baixou
estabelecimentos comerciais e pequenas locais criaram a sua própria associação, para para 17,5%». Trata-se, sem dúvida, apenas
empresas. Seguiu-se a reabilitação de um poder financiar a organização de diversas de um primeiro passo, mas que não deixa
terreno adjacente, atravessado por linhas festividades. A Fish Party, a de maior projecção, de ser um passo muito importante
de caminhos de ferro. Foi, nomeadamente, reune 20.000 pessoas no mês de Abril. para Bremerhaven.
construído um hotel nesse local. A velha
estação de caminhos de ferro foi, em seguida, Outros projectos em vista
inteiramente renovada, mantendo, apenas, A FBEG passou, recentemente, o teste- 1 BIS : Sociedade por quotas de Bremerhaven para
a estrutura metálica original. Nesta estação munho à agência de desenvolvimento a promoção dos investimentos e para o desenvol-
«nasceram» um teatro, um museu, um local económico BIS1. O senhor Adelmann, vimento urbano.
6 A Pesca na Europa
R E T R AT O Graziella Proserpi, uma empresária
que conquistou o seu lugar no mercado,
entre a produção e a comercialização.

Quando as mulheres assumem


o papel de «homem de negócios»
Desempenhando há mais de 25 anos o cargo de directora de uma das maiores agências comerciais italianas
de produtos marítimos congelados, Graziella Proserpi encara a sua carreira de sucesso com muito orgulho.
Esta senhora conseguiu impor-se num meio masculino graças à sua grande tenacidade e profissionalismo.
E graças também à sua inteligência, uma vez que grande parte do mercado dos produtos congelados ainda
está por conquistar, num país que permanece ainda muito ligado à cozinha tradicional.

«A minha entrada na indústria dos produtos «A chave para o sucesso da nossa empresa reside para comunicar com os nossos parceiros. É uma
marítimos deu-se por mero acaso, confessa na sua capacidade para oferecer uma gama forma de contacto mais directa e permite-nos
modestamente Graziella Proserpi. Era completa de serviços, quer aos distribuidores, obter informações sobre os preços, os recursos
estudante e executava trabalhos temporários quer aos fornecedores, explica a nossa «mulher e a evolução da produção em tempo real».
para financiar os meus estudos no estrangeiro. de negócios». A nossa sociedade assegura os
Quando voltei a Itália, o patrão da empresa serviços inerentes a todas as etapas, desde a venda Se, por um lado, Graziella Proserpi deve
onde eu trabalhava em regime temporário e da oferta até à entrega, passando pela negocia- o sucesso à sua determinação, por outro pode
propôs-me um emprego fixo e eu aceitei!» ção e processamento de encomendas. Dispomos, gabar-se de ter conseguido impor-se num
Após alguns anos, Graziella Proserpi criou além disso, de um profundo conhecimento dos país onde o mercado dos produtos congelados
a sua própria empresa, dirigindo, hoje, uma produtos e dos mercados internacionais». ainda é um dos menos importantes da
empresa que emprega 15 pessoas, todas elas Europa. A confiança dos consumidores
mulheres. «Esta opção não é, de forma nenhuma, Uma agência desta envergadura não deve, italianos é muito difícil de conquistar: Em
intencional, mas penso que essa predominância no entanto, limitar-se a estabelecer a ligação Itália, «cozinha» e «tradição» não são palavras
de elementos femininos constitui, em certa entre os parceiros, nem a concluir acordos. vãs. «No entanto, reconhece Graziella,
parte, a chave do nosso sucesso. As mulheres Deve propor aos seus clientes uma estrutura os hábitos estão a evoluir. Os italianos estão
são, geralmente, muito empenhadas no seu dinâmica e eficaz, que lhes permita reduzir cada vez mais receptivos aos novos produtos
trabalho». No entanto, nem sempre é fácil os seus custos. e reconhecem a importância dos produtos
ser mulher num sector muitas vezes domi- congelados. A informação e a publicidade
nado por homens. No início, Graziella Enquanto directora-geral, Graziella desempenham um papel importante neste
Proserpi teve que lutar para se impor: é essencialmente responsável pela definição contexto». No sector da restauração,
«os meus colegas masculinos punham-me à prova. das estratégias da empresa, da sua política o mercado encontra-se igualmente em
Tinha que demonstrar as minhas capacidades e dos seus objectivos comerciais. «O meu papel alta devido, nomeadamente, ao facto de os
para merecer a confiança deles. Contudo, consiste, também, em procurar novos parceiros. produtos respeitarem as normas sanitárias
após ter ultrapassado essa pequena prova, Identifico as oportunidades e as possibilidades e, principalmente, serem de fácil utilização.
passei a receber da parte deles todo o apoio». de lançar novos produtos no mercado. Para-
lelamente, encarrego-me de redigir os contratos Graziella Proserpi conclui, com um sorriso
Oferecer uma gama completa e de concluir os acordos comerciais». rasgado: «O meu ramo de actividade evoluiu
de serviços muito ao longo dos últimos anos. A abolição
O trabalho diário de uma agência comercial Os italianos estão cada vez das fronteiras na União Europeia permitiu-lhe
de produtos congelados consiste em funcionar mais receptivos aos novos produtos «outros voos» e deu uma nova dimensão
como um ponto de intersecção dos mercados, Na era das novas tecnologias da informação, às relações comerciais internacionais. Ainda
estabelecendo a ligação entre fornecedores Graziella ainda não enveredou, no entanto, hoje continua a não ser fácil para uma mulher
e importadores. A sociedade da Senhora pelo comércio on-line. Sendo a matéria seguir uma carreira neste sector, mas, a partir
Proserpi, Supernova, possui escritórios prima (peixe, moluscos e crustáceos, em do momento em que se consegue conciliar a vida
em Roma e em Milão. No que se refere aos todas as suas variantes) um recurso depen- privada com a vida profissional, essa carreira
clientes, estas duas sedes dividem entre si dente da natureza, importa assegurar-se proporciona-nos uma enorme satisfação!»
o Norte e o Sul de Itália. No que se refere da qualidade do produto antes de fechar
aos fornecedores, representam a maior parte qualquer negócio. «Em contrapartida,
das grandes empresas de produção europeias. utilizamos o correio electrónico e a internet
7
V O LTA P E L O M U N D O

Os países candidatos e a pesca


Não se prevêem grandes tempestades
Treze países «batem à porta» da União Europeia. Quais serão as incidências deste alargamento no domínio
da pesca? Em que estádio estão as negociações?

O primeiro alargamento, que ocorreu em A diversidade em campo Entre 1991 e 1996, a Bulgária e a Roménia,
1972, teve um grande impacto na política A Polónia e os três países bálticos (a Estónia, ambos situados nas margens do Mar Negro,
comunitária em matéria de pesca. Este a Letónia e a Lituânia) são os países em registaram uma redução substancial da sua
alargamento levou a então «Europa dos seis» que a pesca assume uma maior importância produção pesqueira: -75% e - 84%, respecti-
a adoptar um dos regulamentos fundadores do ponto de vista económico. Com uma vamente. Esta tendência deveu-se, em parte,
da política comum da pesca (PCP), que produção de mais de 370000 toneladas (em ao nível excessivo de poluição deste mar.
estabeleceu o princípio da igualdade de 1996), a Polónia é responsável por metade De entre os três países candidatos que
acesso às zonas de pesca. do produto da pesca dos países candidatos não possuem zona costeira, a Eslováquia,
As negociações foram bastante difíceis quando e, em conjunto com os Estados bálticos, a República Checa e a Hungria, os dois
Portugal e Espanha aderiram à União em representa 87% da produção desses países. últimos deverão melhorar as normas sanitárias
1986. A entrada da Espanha, por si só, já Estes quatro países são partes contratantes e de higiene dos respectivos sectores aquícolas.
aumentava de forma muito significativa dos acordos regionais de pesca relativos A Eslovénia possui uma faixa costeira
a capacidade da frota pesqueira comunitária ao mar Báltico, o que deverá facilitar de apenas 45 quilómetros, não suscitando,
e estes dois países pretendiam beneficiar a sua integração no círculo europeu. por isso, qualquer problema.
de um período de transição e de derrogações A Polónia pretende aderir à União Europeia As duas ilhas mediterrâneas, Malta e Chipre,
específicas. Quando chegou a vez de a Finlândia em 1 de Janeiro de 2003. Até lá, será neces- apresentam situações diferentes. Malta dispõe
e a Suécia integrarem o «clube europeu», foi, sário melhorar substancialmente os serviços de uma administração muito eficaz, mas
nomeadamente, necessário regular a questão administrativos responsáveis pelo sector da pretende limitar o esforço de pesca numa
da repartição das quotas no Mar Báltico. pesca. Não existem dados estatísticos fiáveis zona de 25 milhas para proteger-se da
A adesão dos novos países candidatos terá, e os meios de controlo são ineficazes. concorrência de outros países que pescam
sem dúvida, um menor impacto sobre Os navios com mais de 24 metros ainda nessas águas. O Chipre, por seu lado,
a PCP. Por um lado, a pesca não é um não estão todos equipados com sistemas acolhe sob o seu pavilhão muitos navios
sector de grande relevância para a economia de localização de navios (VMS), um requisito de países terceiros que pescam fora das
destes países. Em 1996, a produção destes comunitário que a Polónia terá que respeitar. águas mediterrâneas. Foram já tomadas
países no que se refere ao sector das pescas No que se refere aos países bálticos, a Estónia medidas para resolver esta situação.
representava apenas 5% da produção total deverá, igualmente, modernizar o seu sistema Quanto à Turquia, ainda é cedo para traçar
dos 15 Estados-Membros1. de localização de navios por satélite. Na um diagnóstico preciso. Este Estado
Por outro lado, estes países afirmam, no seu Lituânia as dificuldades prendem-se com só há pouco transmitiu à Comissão
conjunto, reunir as condições necessárias problemas de comunicação entre os Minis- os primeiros dados relativos à situação
para integrar o acervo comunitário em matéria térios da Agricultura e do Ambiente, ambos do seu sector pesqueiro.
de pesca, ainda que as respectivas administra- responsáveis pelo sector da pesca. A Letónia,
ções continuem a revelar alguns pontos fracos. por seu lado, deseja limitar o acesso às suas
Não existem, assim, motivos para grandes águas territoriais muito para além das
1 Dados estatísticos do Eurostat. Estes dados referiam-se
preocupações, exceptuando algumas 12 milhas da costa, no Golfo de Riga, uma a apenas 11 países; Malta e a Turquia ainda não estavam
arestas a limar. exigência contrária ao acervo comunitário. incluídos.

Dois instrumentos
Os Países da Europa Central e Oriental As negociações no domínio das pescas estão provisoriamente encerradas
(PECO) beneficiam de dois programas comunitários República Eslováquia Hungria Eslovénia Estónia Chipre
destinados a ajudá-los a prepararem-se para a sua Checa
adesão. Graças ao programa PHARE (o principal
programa de assistência técnica e financeira), por
exemplo, a Polónia está a proceder a uma ampla As negociações ainda estão a decorrer As negociações ainda não foram iniciadas
modernização da sua administração responsável pela Polónia Malta Letónia Lituânia Bulgária Roménia Turquia
pesca. Com o SAPARD (instrumento de pré-adesão
que abrange essencialmente os domínios da agricultura
e do desenvolvimento rural), a Bulgária lançou um
amplo projecto para melhorar o seu sector aquícola.
8 A Pesca na Europa
PA S TA

Um diálogo renovado
A Comissão Europeia multiplicou recentemente as iniciativas destinadas a reforçar e alargar o diálogo
com os agentes da pesca. Foi, deste modo, iniciada, em 2000, uma reforma completa do Comité Consultivo
da Pesca. Porquê esta nova abordagem? Quais foram as principais alterações?

Desde há muito tempo que a Comissão Consciente deste desafio desde 1972, forma a que estes possam participar desde
considera necessário dialogar com os repre- a Comissão Europeia instituiu o Comité cedo, durante a fase da concepção e elaboração
sentantes do sector da pesca. O desafio Consultivo da Pesca, cujo objectivo consiste, das medidas. Por outro lado, o Comité
não consiste apenas em explicar melhor justamente, em estreitar os laços com os Consultivo deve abrir-se aos representantes
as orientações e as decisões comunitárias profissionais deste sector. As opiniões sobre da sociedade civil que também manifestem
em matéria de pesca aos interlocutores os resultados são, no entanto, de certo modo interesse pela política europeia da pesca.
envolvidos. Consiste, também, em fazer contraditórias. Os representantes do sector As ONG1 dedicadas ao desenvolvimento
com que as políticas a adoptar sejam mais da pesca acham que são consultados dema- manifestam especial preocupação com
sensíveis aos problemas no terreno. Em suma, siado tarde, depois de a maior parte das o equilíbrio nas relações Norte - Sul. As ONG
a aplicação das medidas e dos regulamentos medidas já terem sido tomadas. A Comissão, especializadas na protecção do ambiente
comunitários recai, essencialmente, sobre por seu lado, também se mostra insatisfeita pretendem que seja dada maior importância
os pescadores. E essa aplicação será tanto porque espera uma maior participação a esta dimensão na política comum da pesca.
mais eficaz quanto maior for a participação da parte dos parceiros profissionais. Os consumidores, já representados, inte-
dos pescadores na formulação das medidas ressam-se pelas questões relativas ao preço
e dos regulamentos em causa e quanto mais Urgia alterar este estado de coisas. No final e à qualidade. Qualquer um destes parceiros
os textos comunitários reflectirem as suas da década de 80, o Comissário Manuel pode contribuir, de forma construtiva,
preocupações e a realidade. Marín, então responsável pelo sector para a política comum da pesca, a par dos
da pesca, dá um primeiro impulso. representantes do sector propriamente dito.
Entendido desta forma, o móbil do diálogo O Comité Consultivo passou a reunir com
não é apenas a necessidade de comunicar. maior frequência e ganhou um novo fôlego. Reforçar e alargar
É, essencialmente, uma necessidade de fundo. Um pouco mais tarde, a Comissária Emma A dinâmica prossegue. Em 1998, a Comissão
A concertação com os meios profissionais Bonino toma o testemunho e dá um segundo Europeia iniciou um estudo para fazer o
envolvidos condiciona a própria aplicabilidade impulso ao Comité. A sua convicção é dupla. ponto da situação no que se refere às organi-
da política comum da pesca. Por um lado, é preciso aprofundar o diálogo
com os meios profissionais da pesca, por 1 Organizações Não Governamentais.

CCPA – O Comité é constituído por 20 membros

11 delegados que representam cada uma das 11 «famílias»

Organizações de traba-
Empresas de pesca Empresas aquícolas Empresas a jusante Movimentos associativos
lhadores
Armadores Cooperativas Organizações Criadores Criadores Transformadores Negociantes Pescadores Consumidores Ambiente Desen-
privados de armadores de produtores de moluscos de peixes
e crustáceos volvimento
Europêche

AIPCEE
Cogeca

AEOP

AEPM

FEAP

CEP

ETF

Comité Geral Associação Associação Federação Europeia Associação Comité dos Importadores Federação europeia
para a Cooperação Europeia Europeia dos da Aquicultura europeia do sector e Exportadores de Peixe do sector do transporte
Agrícola da União das Organizações Produtores de Peixes da transformação
Europeia de Produtores de Moluscos/ de peixe
COPA - Cogeca
9
© Isopress

A Comissão e os agentes locais dialogam agora no quadro de um Comité Consultivo da Pesca e da Aquicultura renovado e alargado

zações existentes e identificar os meios para do trabalho em conjunto. Pretende-se também subsídio destinado a cobrir, entre outras,
estimular o diálogo. Em 1999, foi criado encorajar os organismos representados as despesas inerentes a esta concertação.
um plano de acção global que levará, no início a adoptar posições concertadas com
do ano 2000, à reformulação do antigo antecedência, verdadeiramente comunitárias. Por último, o número de grupos de trabalho
Comité Consultivo da Pesca. Neste plano, Antigamente dominavam as tomadas de foi reduzido de oito para quatro. Os respecti-
duas palavras-chave sobressaem: reforço posição de cariz nacional. Com o novo vos membros já não são permanentes: actual-
e alargamento. O reforço justifica-se pela Comité Consultivo da Pesca e da Aquicultura mente, os grupos são constituídos por peritos,
necessidade de situar o diálogo o mais a (CCPA), todas as «famílias» nele representadas escolhidos para determinadas tarefas, em
montante possível do processo de tomada são convidadas a exprimir um ponto função das suas competências específicas.
de decisões. O alargamento prende-se com de vista comum sobre um determinado
a necessidade de incluir no diálogo, não só número de questões. Um esforço conjunto
as ONG envolvidas, mas também os inter- Em consonância com o espírito da Comissão,
venientes do sector da aquicultura, o qual As organizações profissionais são incentivadas o diálogo deve ser promovido a todos os
tem assumido, ao longo dos anos, um papel a uma melhor concertação de posições níveis. O Comité Consultivo renovado
cada vez mais importante no sector da pesca. com os seus membros nacionais, por forma funciona como o dispositivo principal dentro
a favorecer o surgimento de posições de uma dinâmica mais ampla.
As modificações afectam, além disso, comunitárias. Este procedimento acarreta
o modo de funcionamento do Comité. despesas suplementares no que se refere Assim, no final dos anos 90, as iniciativas
O número de membros foi reduzido à organização das reuniões. A Comissão multiplicaram-se. A Comissão organiza, desde
de 45 para 20. Qual a razão desta redução? decidiu, deste modo, conceder a estas 1997, workshops regionais sobre pescarias ou
O objectivo consiste em aumentar a eficácia organizações, a partir do ano 2000, um stocks específicos. Estas reuniões informais

9 delegados: o presidente e o vice-presidente do comité do diálogo sectorial (órgão de consulta comunitário para as questões sociais)
os presidentes e vice-presidentes dos grupos de trabalho n.os 1, 3 e 4 e o presidente do grupo de trabalho n.º 2

Comité Acesso aos recursos Aquicultura: criação de peixes, Mercados Questões de carácter geral:
do diálogo sectorial e gestão das actividades de pesca crustáceos e moluscos e política comercial economia e análise sectorial

Presidente Vice-presidente Presidente Vice-presidente Presidente Presidente Vice-presidente Presidente Vice-presidente


Grupo 1

Grupo 2

Grupo 3

Grupo 4
CDS
10 A Pesca na Europa
PA S TA

O Livro Verde
Continuação da página 9
No futuro Livro Verde1, dedicado à política
comum da pesca pós-2002, serão desenvolvidos
cinco temas:
permitem uma melhor compreensão dos 350 organizações interessadas, com o objec- - As medidas de conservação (recursos e frota)
- As dimensões económica e social da PCP
problemas de base. Também facilitam a tivo de recolher as suas opiniões sobre a
- A dimensão internacional da PCP
comunicação entre os protagonistas: as admi- reapreciação da política comum. Organizou, - O caso do Mediterrâneo
nistrações, os pescadores, os investigadores, etc. ainda, mais de trinta reuniões regionais para - A «Governação» da PCP
solicitar o maior número possível de pareceres.
No início de 2001, a Comissão publicará o Mais recentemente, em Julho de 2000, a O Livro Verde será lançado pela Comissão
seu Livro Verde sobre as orientações da polí- Comissão solicitou aos membros do Comité durante a Primavera de 2001.
tica comum da pesca para depois de 2002. Consultivo renovado um parecer sobre A Comissão apresentará as suas propostas
Trata-se de um documento destinado a lançar os cinco capítulos do seu projecto de texto. de revisão da PCP antes do fim de 2001.
um debate público. No quadro da nova As adaptações necessárias deverão ser adoptadas
pelo Conselho de Ministros da Pesca, antes
abordagem em matéria de diálogo, a ideia O diálogo recebeu um novo impulso. Isso
de 2002, após consulta do Parlamento Europeu.
consistia em sondar os meios profissionais o exigiu muito trabalho e esforço por parte das
mais cedo possível, antes mesmo da redacção organizações parceiras e uma grande abertura
1
do supracitado documento. Para o efeito, por parte da Comissão. É evidente que Designa-se por «Livro Verde» um documento
que lança um debate de interesse público.
a Comissão enviou um questionário a o diálogo deve funcionar nos dois sentidos!

DIÁLOGO

Com os investigadores
Quando a corrente passa
A opinião dos principais
Não é segredo para ninguém: o diálogo entre os
profissionais da pesca e os investigadores revela-se,
muitas vezes, difícil. Os primeiros acusam os
agentes do sector...
segundos de estarem muito afastados da realidade
no terreno. No entanto, as coisas funcionam, O novo Comité Consultivo da Pesca e da Aquicultura (CCPA)
em alguns casos, muito bem. É o que acontece iniciou funções na Primavera passada, com um ritmo muito diferente
com algumas pescarias na Escócia (Reino Unido).
do evidenciado pelo anterior Comité. Qual é a opinião dos parceiros
Em 1999, a Comissão Europeia decidiu diminuir
a quota de arinca atribuída à zona marítima sobre este diálogo? Foi esta a questão que lhes colocámos.
escocesa. A redução desta quota proporciona
uma melhor protecção aos stocks de bacalhau,
que já atingiram um nível considerado crítico. Francamente entusiastas, convencidos O novo Comité Consultivo só foi instituído
na sua globalidade, com opiniões diversas, no início do ano 2000 e alguns resultados
Os pescadores escoceses, embora reconhecendo mas suficientemente críticas, os membros concretos parecem já ter sido atingidos.
que os stocks de bacalhau e de arinca estavam do CCPA concordam em, pelo menos, um Courtney Hough, secretário-geral da
a ser sobreexplorados, não lhes agradava a ideia ponto: Estes organismos apreciam o facto Federação Europeia dos Produtores em
de a solução do problema passar por uma redução de, com a criação do novo Comité, já não Aquicultura, considera que, no caso específico
das suas quotas. Decidiram, por isso, associar-se serem consultados apenas «a posteriori», do projecto da nova legislação relativa às
aos investigadores do laboratório marítimo mas sim antes da adopção das políticas. doenças dos peixes, o seu ponto de vista
de Aberdeen, com o objectivo de tomar medidas foi bem tomado em consideração. Por
técnicas adequadas e de preservar os stocks. « Anteriormente, solicitavam o nosso parecer seu turno, Maurice Benoish congratula-se
sobre assuntos já encerrados. Agora, temos acesso por ter sido consultado a respeito da
Esta concertação com os investigadores levou a documentos em fase de elaboração», explica aplicação do regulamento do Conselho
os pescadores a optar pela utilização de malha Maurice Benoish, presidente da Associação em matéria de organização comum dos
quadrada nas caudas das redes de arrasto, como Europeia das Organizações de Produtores. mercados. Da mesma forma, Sophie des
já acontece na pesca do lagostim, o que permite «Realiza-se um maior número de reuniões sobre Clers, uma investigadora indigitada pelas
aos arincas mais pequenos escapar mais assuntos mais melindrosos», constata Guy ONG ambientais, considera ter conseguido
facilmente. Os escoceses também propuseram Vernaeve, secretário-geral da Europêche e fazer avançar algumas das ideias que lhe
ao governo britânico a adopção de legislação representante da Cogeca. «O Comité mostra- são mais caras, nomeadamente no domínio
que institua a utilização desta malha quadrada, se bastante activo», elogia Alessandro Perolo, da biodiversidade.
o que aconteceu em 1 de Outubro de 2000. presidente do grupo de trabalho «aquicultura».
11

DIÁLOGO
A Comissão toma a iniciativa
A sardinha ibérica
Os investigadores têm vindo a alertar a Comissão tiva de realizar um workshop regional dedicado Os dois países concordam quanto ao enquadra-
desde 1995. Os stocks de sardinhas existentes ao à sardinha. Todos os parceiros se sentaram à mesa: mento das actividades dos barcos de cerco,
largo da Península Ibérica tem vindo a deterio- pescadores, investigadores e administrações. As à limitação das capturas diárias por embarcação,
rar-se de forma inquietante. Foi, por isso, propos- discussões são livres e informais. E, efectivamente, ao tamanho mínimo do peixe para desembarque
to aos países envolvidos, Espanha e Portugal, que pode constatar-se que evoluem os pontos de vista e proíbem a pesca durante o fim-de-semana.
fixassem um Total Admissível de Captura (TAC), de todos os que nele participam. Em Maio de 2000, foi convocado um novo
uma opção longe de ser consensual. Na verdade, os Os pescadores estão conscientes da gravidade do workshop regional para avaliar a evolução do
pescadores dos dois países contestam o diagnóstico problema, apesar de a redução dos stocks ainda dossier. Pode destacar-se um aspecto positivo,
apresentado e as administrações nacionais não não se reflectir demasiado na diminuição isto é, o começar a desenhar-se uma melhoria
conseguem chegar a acordo quanto a uma reparti- das capturas, sobretudo para os portugueses. As dos stocks de sardinhas. No entanto, nada está
ção do TAC. Estamos perante uma situação administrações estão decididas a intervir, através verdadeiramente confirmado. Nessa altura foi
de impasse, para a qual urge encontrar solução de planos de acção nacionais, implementados decidido prosseguir os esforços nos dois países,
Em 1998, a Comissão Europeia tomou a inicia- simultaneamente nos dois países. mantendo os planos de acção nacionais.

O bacalhau no mar da Irlanda


Os stocks de bacalhau no mar da Irlanda suscitaram Nestes casos, a Comissão recorre a um proce- permitirá, de seguida, discutir as medidas
uma grande preocupação em Dezembro de 1999. dimento excepcional que a autoriza, em caso técnicas adicionais que visam aumentar o grau
Em constante redução desde há vários anos, os de urgência, a tomar decisões rápidas. Organiza de selectividade das artes de pesca, por forma
stocks de bacalhau ameaçam extinguir-se se não um diálogo concertado com os profissionais a preservar os peixes mais jovens. Estas medidas
forem tomadas rapidamente medidas com vista e as administrações envolvidas em que se revelam encontram-se, actualmente, «em cima da mesa»
à sua protecção. Os investigadores, os ministros preciosos os conhecimentos específicos de cada um. do Conselho de Ministros da Pesca da União
competentes e os responsáveis da Comissão são Em menos de dois meses após o sinal de alarme, Europeia, a fim de serem novamente aplicadas
unânimes nesta questão. No entanto, se, por um são tomadas as primeiras medidas, que consistem no próximo ano.
lado, o bacalhau deve ser protegido, por outro num período de protecção de dez semanas
lado, não se deve proibir a pesca de outras que visa proteger os bacalhaus adultos durante
espécies que tem lugar nestas zonas. o período de desova. Uma segunda reunião

Relação de forças
Eis a segunda novidade que reúne consenso: Para corrigir esta situação, foi reduzido secretário-geral da Europêche, sublinha,
a prioridade dada ao surgimento de pontos o número de membros do Comité. Embora por seu lado, o acréscimo de trabalho que
de vista realmente europeus. «No passado, não conteste o objectivo da Comissão, a redução dos membros do Comité veio
reinava uma espécie de cacofonia. Várias a Europêche considera, no entanto, que acarretar para as organizações europeias.
opiniões nacionais brotavam dentro da mesma esta redução é excessiva. Para Alain Parres, Doravante, estas organizações deverão
organização», lembra Michel Coenen, que presidente desta organização, a medida é consultar as suas bases com maior intensidade
representa a AIPCEE (sector da transformação) tão exagerada que desmotiva os delegados e frequência. É certo que a Comissão decidiu
e o CEP (sector da comercialização). dos organismos nacionais. Guy Vernaeve, atribuir um subsídio às organizações euro-
peias. Mas, na opinião de Guy Vernaeve,
esta ajuda só cobre parte dos encargos
© Lionel Flageul

administrativos suplementares a que estão


sujeitas as organizações.

A questão do número de mandatos encerra


o delicado problema da relação de forças
existente no seio do novo Comité Consultivo.
Anteriormente, a Europêche, a Cogeca
e a AEOP, que representam os produtores,
detinham 23 dos 45 assentos disponíveis
no Comité, i. e., a maioria. Presentemente,
estão em minoria, lamenta-se Guy Vernaeve.
Para o seu colega Alain Parres, não existem
dúvidas: «As ONG estão demasiado represen-
tadas e presta-se-lhes demasiada atenção».
A concertação com os meios profissionais envolvidos condiciona a própria aplicabilidade Este ponto de vista é fortemente contestado
da política comum de pesca. por Euan Dunn, do grupo de contacto das
12 A Pesca na Europa

© Lionel Flageul
PA S TA

3 10 14
C U - A F - 9 9 - 0 0 5 - P T- C
DIÁLOGO
Continuação da página 11

ONG: na sua opinião, o Comité Consultivo é necessário para tratar dos assuntos gerais, As comunidades locais
é, pelo contrário, excessivamente dominado de carácter mais político, já a concertação tomam conta do seu destino
pelos industriais. Por sua vez, Danièle Le relativa a todos os aspectos técnicos deveria
Sauce, que representa as ONG responsáveis ser organizada a nível regional. «É essencial», Os moluscos das ilhas Shetland
pelas questões de desenvolvimento, e, ela acrescenta o Sr. Deas, «que os processos de Na zona das 6 milhas em torno das ilhas Shetland,
própria, esposa de pescador, considera que consulta se aproximem dos agentes no local». os pescadores dedicam-se, tradicionalmente, à
o Comité Consultivo não dá importância Sophie des Clers deseja que a DG das Pescas captura de crustáceos e de moluscos, entre outros.
suficiente aos pescadores artesanais. assimile melhor a dimensão ambiental. Estes pescadores decidiram criar a sua própria
«Devíamos ter mais em conta a experiência Para tal, sugere a criação de um grupo associação, no quadro de uma «regulating order»1,
dos pescadores. O diálogo não deve envolver de trabalho suplementar que se dedicaria, com o fim de organizarem eles mesmos a gestão
apenas os peritos», sublinha. precisamente, a essa matéria. Peter Mortensen, dos recursos. Esta associação emite licenças válidas
por um ano, renováveis, que cobrem, entre outros,
da ETF, espera que a Comissão passe a convidar
as capturas de ostras, mexilhões, lavagantes, vieiras
Felizmente, as posições não são irredutíveis. com maior regularidade as organizações e caranguejos. Os pescadores interessados deverão
« No início, reconhece Sophie des Clers, sindicais, demasiadas vezes esquecidas, para preencher os registos de bordo, especificando
olhávamos para as ONG com muita descon- as suas diversas reuniões, como, por exemplo, a natureza e o volume das capturas, bem como
fiança. Desde então, fomo-nos aproximando para os workshops regionais. a sua situação geográfica e as artes de pesca utili-
aos poucos. As coisas mudam». zadas. Esta circunstância contribui para deter-
Por fim, várias outras entidades apresentam minar cientificamente um nível de exploração que
Peter Mortensen, presidente do comité para críticas, por vezes acompanhadas de sugestões, esteja em equilíbrio com os recursos disponíveis.
o diálogo social e delegado da organização que se referem principalmente ao modo Além disso, o número de redes por embarcação
poderia ser limitado, da mesma forma que
sindical ETF, lamenta que «os trabalhadores como funciona o Comité Consultivo. Para
se poderiam determinar zonas de defeso.
não tenham maior representação no Comité a Europêche, seria necessário ser-se mais
Consultivo. Os marinheiros só dispõem de dois flexível na atribuição dos tempos de 99% dos pescadores locais são membros da referida
assentos e os trabalhadores do sector aquícola intervenção. O grupo «Desenvolvimento» associação, a qual é oficialmente reconhecida.
e da indústria da transformação estão ausentes, pede à Comissão que disponibilize informações O Comité de Gestão da associação inclui meios
em relação à presença dos representantes mais exactas. Quanto aos transformadores profissionais bastante diversos. Assim, no Comité
das entidades patronais». do pescado, estes gostariam de receber mais de Gestão estão representados os próprios pescadores,
cedo as ordens do dia, enquanto os armadores a administração, juntamente com o Conselho
Propostas privados esperam processos verbais mais das ilhas Shetland, os conselhos locais, os ambien-
talistas, bem como os investigadores, através
No que se refere à matéria de fundo, várias detalhados. Os aquicultores sugerem que,
do North Atlantic Fishery College. Note-se
organizações apresentam propostas concretas. além dos grupos de trabalho formais, que este exemplo de gestão descentralizada tem,
Na opinião de Maurice Benoish, a Comissão se constituam grupos reduzidos ad hoc presentemente, encontrado eco na Escócia, região
Europeia deveria investir numa verdadeira para solucionar problemas muito específicos. em que, ao contrário do que sucede em Inglaterra,
política de comunicação descentralizada. A ETF propõe que, para além do Comité a gestão das pescas na faixa costeira das 6 milhas
«É necessário informar melhor os agentes locais, Consultivo mais formal, «se realizem, uma é, ainda, centralizada.
encarregues de aplicar os regulamentos». Barrie ou duas vezes por ano, reuniões bilaterais,
Deas, da Europêche, vai muito mais longe. de agenda livre, entre a Comissão e cada 1 Sistema que, na Escócia, permite a descentralização
Se o Comité Consultivo de Bruxelas uma das organizações». da gestão de alguns stocks de peixe capturado dentro
da faixa costeira das 6 milhas a favor de algumas
associações locais.


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