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Bourdieu e Groppo PDF
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A JUVENTUDE BRASILEIRA:
DIÁLOGOS COM PIERRE BOURDIEU
E LUIS ANTONIO GROPPO*
Resumo: o artigo propõe uma reflexão acerca da relação entre juventude e instituição pelas
lentes do sociólogo francês Pierre Bourdieu. Apresenta a descrição que esse pensador faz, por
meio de suas teorias, sobre a sociedade contemporânea, utilizando conceitos como prática,
habitus, campo, poder e violência simbólica, demonstrando uma possível (re)definição da
relação entre juventude/instituição. A partir disso, pretende-se voltar o olhar aos indivíduos
jovens e, pelas lentes do sociólogo brasileiro Luis Antonio Groppo, entender como se dá a
relação jovens/instituições. Por fim, aponta caminhos para refletir sobre como as ideias de
Bourdieu podem dialogar em as análises sobre a juventude brasileira buscando, assim, uma
comparação e contextualização adequada para contribuir no avanço deste debate.
D
entre diferentes perspectivas teóricas surgidas na sociedade contemporânea, os
escritos de Pierre Bourdieu foram sintomáticos para pensar a sociedade hodierna,
sem romper totalmente com aquilo que os sociólogos clássicos haviam produzido
até então. O objetivo desse artigo é entender, por meio das análises de Bourdieu, como se
constitui a sociedade contemporânea e como, nela, se desenvolvem as relações entre indiví-
duos e instituições. A partir disso, pretende-se voltar o olhar aos jovens e, pelas lentes do
sociólogo brasileiro Luis Antonio Groppo, entender como ele pensa a relação jovens/insti-
tuições e, onde as ideias de Bourdieu aparecem em suas análises sobre a juventude brasileira.
Pierre Bourdieu, nascido em 1930, foi considerado por muitos o maior sociólogo
do século XX. Seus estudos nortearam temas variáveis: Arte, Educação, Economia, Estado,
A teoria Bourdiesiana passa por uma série de aspectos que vão desde noções pró-
ximas ao indivíduo (como a noção de prática e de habitus) até conceitos mais amplos como
o de estruturas e do campo. Além de outras que perpassam os aspectos na relação indivíduo
e sociedade. Como explicitado acima, falar do autor significa entender a questão do poder:
Quem o detém? Como ele se legitima, ou melhor, como legitima aquele que o detém? Pensar
em relações de poder na sociologia não é algo novo. Marx, por exemplo, realizou sua crítica
à economia-política e ao capitalismo, reconhecendo que estes operam formas de dominação.
Como, por exemplo, seu apontamento de que a realidade da burguesia dominante constitui
a realidade universal, portanto, “quando se fala de indivíduo o referido é o sujeito burguês”
(MARX e ENGELS, 1987, p. 33). Bourdieu, no entanto, reconhece outras formas de poder
que engendram outros tipos de dominação.
Um dos conceitos chave para entender esse processo é de poder simbólico. O autor
nos recomenda investigar aquele espaço, onde sua existência é ignorada. Como diz o próprio:
é preciso entender esse “poder invisível o qual só pode se exercido com a cumplicidade da-
queles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem” (BOURDIEU,
2012, p. 8). Para isso, Bourdieu propõe a análise de “sistemas simbólicos”.
O autor retoma Karl Marx no sentido de pensar em universos simbólicos como
aspectos ativos do conhecimento, sendo separados em tipos de universos simbólicos: mito,
língua, arte e etc. Também retoma Emile Durkheim no que diz respeito aos sistemas de
classificações, que transformou as análises classificatórias de transcendentais para sociais. Em
relação a Max Weber, é possível pensar que Bourdieu com seu conceito de habitus fez uma
aproximação dos tipos ideias, já que esse conceito captura as tendências e movimentos possí-
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veis dentro da realidade social. Neste sentido, Bourdieu defende uma análise estrutural – mas
sem cair no estruturalismo – que serve de instrumento de apreensão a lógica específica de
cada uma dessas lógicas simbólicas.
Desta forma, estes sistemas simbólicos, possuem um poder estruturante, e também,
estruturado. O processo de estruturação decorre da forma como os sistemas simbólicos agem
na formação de determinado consenso e o que podemos entender por consenso é, justamen-
te, como uma correlação de forças que se torna hegemônica, colocando determinados grupos
em posição de dominância e outros em posição de dominação. Assim, “as relações de comu-
nicação são, de modo inseparável, sempre, relações de poder que dependem, na forma e no
conteúdo, do poder material e simbólico acumulados pelos agentes” (BOURDIEU, 2012,
p. 11). O que ocorre é uma relação de luta, principalmente simbólica, em que as diferentes
classes estão envolvidas para imporem a definição do mundo social conforme seus interesses.
Os sistemas simbólicos diferenciam-se segundo sua instância de produção e de recepção e a
autonomia de determinado campo (o conceito de campo será esclarecido nas próximas pá-
ginas) constitui-se na medida em que um corpo especializado de produtores de discursos se
desenvolve. “O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer
ver e fazer crer [...] só se exerce se for reconhecido” (BOURDIEU, 2012, p. 14). E deste
modo o poder simbólico é uma forma transformada e legitimada de outras formas de poder.
Portanto, o consenso representa um processo de legitimação, logo, de naturaliza-
ção. Significa legitimar “aquilo que não é”. As posições ocupadas pelos atores e grupos sociais
que disputam o poder, são responsáveis pela definição de interesse dos atores como sendo a
definição oficial. Criam formas de diferenciação, ou marcadores sociais que são reflexos dos
sistemas simbólicos de diferenciação. O espaço no qual esses embates pela legitimação (ou
formação do consenso) acontece é conhecido como campo.
O conceito de Campo pode ser entendido como “um espaço relativamente au-
tônomo, um microcosmo dotado de suas próprias leis” (BOURDIEU, 2003, p. 20). Essas
leis se tornam visíveis quando se observa os indivíduos que os constituem, isto é, um sujeito
pertence a um determinado campo na medida em que sofre efeitos ou nele os produz. Outra
questão interessante é a metáfora de “jogo” que esse conceito possui. Os indivíduos que se
sujeitam ao jogo são chamados de agentes. Alguns agentes assumem a posição defensiva, ou
seja, os dominantes, aqueles que possuem a prorrogativa da definição de legitimidade dentro
do campo; e de outro lado os pretendentes, que buscam questionar e suplantar a posição dos
dominantes, mas sempre seguindo as regras do jogo.
Mas o que são as tais regras do jogo? Isso significa que os agentes não podem explicitar
abertamente seus reais interesses. Esse processo de denegação do interesse aparece na constru-
ção de legitimidade em qualquer campo. Bourdieu (2006) nos lembra em seus estudos sobre
a moda e arte, onde o interesse econômico era marginalizado em nome de uma “arte pura e
desinteressada”, estando desprendida de uma “arte engajada e contaminada” por interesses que
seriam mais “econômicos do que artísticos”. Em suma, existe uma lógica inerente a cada campo:
esconder a “amnésia de sua gênese” (BOURDIEU, 2003, p. 21). Isso o nos leva a pensar que
certas questões não irão aparecer em seu princípio constitutivo, ou seja, a prerrogativa de definir
o que é arte, por exemplo, não pode passar abertamente por interesses econômicos:
Isto vê-se bem no caso dos campos, como o campo religioso ou o campo artístico, onde
os mecanismos sociais da produção de proventos não ‘econômicos’ – no sentido restrito
Isso significa que devem ser compreendidas as nuanças, naturalizadas ou ignoradas para
se entender o funcionamento de determinado campo. Para que um campo possua autonomia é
preciso todo um processo histórico de incorporação e reprodução das estruturas sociais pelos agen-
tes participantes e, conforme a sua consolidação, irão sendo constituída as posições dominantes
e em dominância dentro dele. Os agentes reproduzem esse processo chamado de “história incor-
porada”, isto é, a história que se acumulou “ao longo do tempo no nas coisas, máquinas, edifícios
monumentos, livros, teorias, costumes, direitos, etc e a história em seu estado incorporado se
tornou um habitus” (BOURDIEU, 2012, p. 82). Assim como nas coisas, essa história se inscreve
nos corpos. Delimitando, então, a capacidade de mobilidade de seus membros.
O conceito de habitus é importante para entender a mobilidade dos agentes dentro
da estrutura do campo. Sua grande inovação foi conceber em um sistema de retroalimenta-
ção, onde o indivíduo (ou agente), através de suas práticas, começa a incorporar determinadas
disposições que regulam e são reguladas pelas estruturas sociais. Atendendo, dessa forma, há
uma aproximação entre a relação “indivíduo” e “sociedade”.
Outro ponto importante para se entender o conceito de habitus está no fato des-
te estar diretamente ligado a prática corporal. Sobre esse tema, podemos invocar Bourdieu
(2006b, p. 85) no que diz respeito à prática como “um processo de incorporação de experiên-
cias da vida cotidiana”, de fato para esse autor o corpo é espaço de locus privilegiado onde se
refletem as práticas introjetadas pelos sujeitos. Essas práticas se constituem uma espécie de
“calculo estratégico”, que funciona como um sistema de disposições duráveis, assim forman-
do o habitus (BOURDIEU, 2009). Partindo desse raciocínio, todas as pessoas carregam con-
sigo suas próprias “disposições”, que podem modificar-se ou adaptar-se a uma situação, como
gestos, expressões linguísticas e gostos, mas muitas vezes o próprio habitus, pode ser produzi-
do (ou reproduzido) por fatores que estão além do controle individual de agência como, por
exemplo, etnia, gênero e classe, imbricando em categorias de classificação inculcadas que são
inerentes a certas características físicas e sociais carregadas pelos agentes.
Todo processo de práticas que são inculcadas como habitus, reproduzem as estru-
turas vigentes do campo e se retroalimentam mutualmente. Por isso se faz necessário a exis-
tência de meios para garantir a continuidade das relações impostas. Mas como já citado
anteriormente, isso não pode ser explicitado abertamente, pois “[...] os interesses só podem
se satisfazer com a condição de se dissimular nas e pelas próprias estratégias que tentam sa-
tisfazê-las” (BOURDIEU, 2009, p. 211). Essa imposição ocorre por meio de dois tipos de
violência: simbólica e aberta.
A violência simbólica ocorre de tal forma que parece natural, ficando abaixo do
nível da consciência, ou seja, é uma forma de se dominar sem parecer que está dominando.
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Inclusive é menos prudente utilizar a violência aberta, pois ela está sujeita a uma resposta
perigosa do grupo que a sofre, ou pior, pode aniquilar a relação que existe entre dominantes e
dominados. A violência aberta geralmente tende a ficar apenas no temor como um dispositivo
que será usado caso os acordos não se cumpram, é como o filho que não desagrada aos pais
com medo do castigo físico, nestes casos a violência aberta se disfarça de violência simbólica
através do véu das relações sociais.
O que quero lembrar é simplesmente que a juventude e a velhice não são dados, mas
construídos socialmente na luta entre os jovens e os velhos. As relações entre a idade
social e a idade biológica são muito complexas. Se comparássemos os jovens das dife-
rentes frações da classe dominante, por exemplo, todos os alunos que entram na École
Normale, na ENA, etc., no mesmo ano, veríamos que estes “jovens” possuem tanto
mais dos atributos do adulto, do velho, do nobre, do notável, etc., quanto mais pró-
ximos s encontrarem do pólo do poder. Quando passamos dos intelectuais para os
diretores-executivos, tudo aquilo que aparenta juventude, cabelos longos, jeans, etc.,
desaparece (BOURDIEU, 1984, p. 152).
Não se sabe muito bem o que esperar do jovem a não ser que ele assuma, progressivamen-
te, os deveres de um adulto bem comportado. Mas ao mesmo tempo, não se reconhece
nele, o adulto [...] não há luta entre as gerações ou algo que no plano biológico fosse
equivalente a luta de classes, por exemplo. Há sim um estado de perplexidade social que
atingi indistintamente os jovens e os adultos. Há uma sociedade em crise, pouco capaz
de solucionar os problemas que ela mesmo criou.
[...] o jovem, não tendo nenhum compromisso firmado (isto quer dizer, não tendo profissão,
não tendo família para sustentar, não defendendo nenhum interesse de classe) pode fazer
amplas criticas ao mundo em que vive. Mas, ao mesmo tempo, por não estar vinculado a
nada, suas criticas não chegam a ameaçar a estabilidade social (FORACCHI 1982, p. 30).
A relação que a sociedade estabelece com seus jovens, de acordo com Foracchi
(1982) parece estar pautada por uma ideia de moratória na qual a revolta e os protestos
juvenis são formas que esses indivíduos têm para participar da sociedade. Desse modo, a
sociedade aceita e garante a participação dos jovens. Na visão de Foracchi (1965) existem al-
guns componentes universais que permitem a caracterização sociológica da juventude. Nesses
componentes, a autora destaca as atitudes diante da vida, o estilo da existência social e a forca
de renovação histórica.
Há, portanto, não apenas a noção de que os jovens são manipulados pela sociedade
e gerações anteriores, mas, também, consciência de que eles são flexíveis e por assim serem
desenvolvem capacidades críticas e autônomas para transformação e denúncia das variadas
formas de desigualdades e opressão.
Devemos considerar o espaço-tempo na qual Foracchi se insere. A autora está fa-
lando de uma determinada parcela da juventude, a juventude universitária do período militar
brasileiro. Pais (1993) foi um dos autores que abordaram a relação da juventude geracional
e também considerando a juventude por uma perspectiva classista e social-cultural (PAIS,
1993, p. 48):
Para a corrente classista, as culturas juvenis são sempre culturas de classe, isto é, são
sempre entendidas como produtos de relações antagônicas de classe. Daí que as culturas
juvenis sejam por esta corrente apresentadas como ‘culturas de resistência’, isto é, cultu-
ras negociadas no quadro de um contexto cultural determinado por relações de classe.
Posto isso, iremos definir nosso conceito de juventude de forma dialética. Ou seja,
a juventude como uma categoria que é marcada por contradições, influenciando e sendo in-
fluenciada pela sociedade e pelas instituições.
Na atualidade, Groppo diz que outras diferentes teorias surgiram para dizer sobre
aquilo que é a juventude, destacando três delas: a teoria da superação da modernidade, a teo-
ria da reflexividade e a teoria da segunda modernidade (GROPPO, 2014). A teoria da supe-
ração da modernidade acredita que a sociedade contemporânea superou a sociedade moderna
em todos os seus âmbitos. Dentre as mais importantes vertentes dessa teoria para se pensar a
juventude inserem-se as ideias de juvenilização (juventude como estilo de vida) e neotribalis-
mo (fundada pelo sociólogo francês Michel Maffesoli).
Já a teoria da reflexividade, comandada por Anthony Giddens defende a ideia de
que tanto a ação como o pensamento tem influência ímpar nas práticas sociais. Desse modo,
as práticas sociais são redefinidas de acordo com as informações recebidas de forma renovada
sobre as próprias práticas. Assim, preocupa-se menos com as justificativas tradicionais e mais
com conhecimento que existe em uma determinada prática ou numa relação institucionaliza-
da, que pode ser alterada a qualquer momento (GIDDENS, 1991).
A teoria da segunda modernidade, se posiciona no sentido de acreditar que na so-
ciedade hodierna estão ocorrendo transições não-lineares no seio de socializações ativas. Essa
parece ser a perspectiva que Groppo se aproxima mais, sobretudo quando ele vai discursar
sobre o seu conceito de juventude. De acordo com Groppo (2000, 2004) a juventude tem
que ser pensada como categoria social e, nesse sentido, a juventude acompanha, influencia
e é influenciada pelas transformações que ocorrem na sociedade, agindo de forma dialética
(GROPPO, 2000; 2004).
Para o autor a juventude é uma realidade social e não uma mistificação ideológica.
Desse modo, é preciso relacionar a juventude com outras categorias sociais como: a classe so-
cial, etnia, raça, religião e condição urbana. Assim: “[...] ao analisar as juventudes concretas,
é preciso fazer o cruzamento da juventude – como categoria social – com outras categorias
sociais e condicionantes históricos” (GROPPO, 2004, p. 12). A partir disso, ele defende a
ideia de que há uma condição juvenil mais ou menos geral que, dialeticamente, resulta na
criação de diferentes grupos juvenis:
Para Bourdieu a escola (nota-se que ele fala da escola francesa) é a instituição que
influencia na segregação dos jovens, entre aqueles jovens que tem a condição de prosseguir
nos estudos e os que não têm essa mesma oportunidade. Bourdieu (1984, p. 155) afirma:
A escola, facto que se esquece sempre, não é simplesmente um lugar onde se aprendem
coisas, saberes, técnicas, etc.. é também uma instituição que atribui títulos, quer dizer
direitos, e confere ao mesmo tempo aspirações.
Isso também significa que a escola é uma instituição que segrega os jovens, quase
sempre pelo discurso da meritocracia. E o autor entende que revelar esse processo é um pri-
meiro passo, que deve ser seguido pelo acesso dos bens culturais de jovens de classes inferiores.
Além dessa influência, a escola, para Bourdieu, é o espaço feito para colocar os
jovens separados do mundo, onde, afastados deste, são inteiramente preparados para ocupar
funções da vida cotidiana adulta. Experiência que os jovens têm passado e que muitas vezes
acabam criando tensões entre o mundo juvenil e o mundo da instituição (nesse caso, a ins-
tituição escolar). Também é importante notar, que a imposição testes de aptidão, com sua
“neutralidade legitimada”, já indica de forma mais ou menos determinada o caminho que os
alunos devem seguir (BOURDIEU, 1984).
Sobre a relação juventude/instituição, Groppo reconhece (como vimos) que está
ocorrendo uma desinstitucionalização do curso da vida juvenil, no entanto, ele ainda parece
reconhecer a relação juventude/instituição de forma importante (GROPPO, 2004). Para ele,
ainda não chegou o momento de a juventude ser superada enquanto elemento estrutural
da sociabilidade contemporânea. Ele ressalta: “Deste elemento, fundado numa relação cer-
tamente dialética e contraditória entre a busca de padronização e os desejos de autonomia,
ainda se realiza parte importante do processo de socialização dos indivíduos” (GROPPO,
2004, p. 20).
Desse modo, para Groppo, os grupos juvenis (sendo eles institucionalizados ou
não) ainda exercem importantes funções de preparação para o mundo social dos futuros
adultos, sendo a base ímpar para a manutenção das estruturas sociais. Por fim, ele afirma
que a juventude, enquanto um grupo etário homogêneo e uma categoria social possui sua
própria forma de dialética, embutida de contradições. Assim, ao passo que a juventude pode
se relacionar bem com as instituições, sendo dialética, também podem existir jovens que
destoem dos padrões sociais de sua época, criando e se apropriando de novas relações, com
novas instituições.
Pesquisas empíricas podem nos auxiliar de uma melhor forma para entendermos, na
prática, até que ponto os indivíduos jovens exercem (se exercem) autonomia frente as suas ações
cotidianas. Não obstante, é fundamental entendermos que a sociedade contemporânea é tecida
com outros fios que vão para além daqueles que protagonizaram a sociedade moderna. Esses
fios podem ser influenciados pelos habitus, campos e o poder simbólico (como pensa Bourdieu).
Abstract: this article proposes a reflection on the relationship between youth and institution throu-
gh the lens of sociologist Pierre Bourdieu. Displays the description that makes this thinker through
his theories on contemporary society, using concepts such as practice, habitus, field, power and sym-
bolic violence, demonstrating a possible (re) defining the relationship between youth/institution.
From this, we intend to turn our gaze to the young and, through the lens of Brazilian sociologist
Luis Antonio Groppo, understanding the relationship young/institutions and make notes where
Bourdieu’s ideas can engage in their analysis of the Brazilian youth. Thus seeking a comparison and
proper context to contribute to the advancement of this debate.
Notas
1 Mesmo que Bourdieu não se considerasse um estruturalista (vemos que tal termo seria até equivocado
para tratar o autor) devemos lembrar que o mesmo se valeu muito da ideia de estrutura em suas obras.
Vale lembrar que na obra Esboço de uma autoanálise (2001), Bourdieu se declarou como um estrutural-
interacionista, pois o mesmo tentou aproximar o indivíduo da estrutura, através dos conceitos de prática e
habitus.
2 Luis Antônio Groppo é um sociólogo brasileiro, professor da Universidade Federal de Alfenas. Desde os anos
2000 Groppo tem sido um dos maiores expoentes no Brasil no que se refere aos estudos acerca da juventude.
3 Temos ciência da diferença entre as concepções teóricas de Pierre Bourdieu e Norbert Elias, contudo, o
exemplo é interessante para demonstrar como os dominados podem incorporar as visões pejorativas que os
dominantes lhe aplicam.
4 Para Foracchi (1982) o problema da juventude no período em que a autora desenvolveu seus escritos, era um
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