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ECONOMIA POLÍTICA II

(Terça-Feira, 23 de Fevereiro de 2010, 9h30-11h – Teórica)

PARTE I – A INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA NACIONAL

I – A escolha pública e as finanças do Estado

 A intervenção do Estado ocorre em nome da população, num


regime democrático. Esta realidade demonstra-nos a proximidade
entre Política e Economia, e destas com o Direito, dado que as
opções políticas tomadas exigem a existência de legislação. Deste
modo, podemos falar de uma perspectiva interdisciplinar da
Economia;
 A Fazenda Pública (ou as Finanças do Estado) significa a afectação
de recursos que, como sabemos, são escassos. Retomando o
princípio económico «não há almoços grátis!», impõe-se que a
decisão do Estado, tomada em nome do povo, deve ser eficiente,
minimizando os gastos e maximizando os ganhos. Além disso,
recordemos que o Estado também está sujeito à restrição
orçamental, como as famílias, devendo assumir a responsabilidade
de zelar pelo bem comum. Note-se que, actualmente, a intervenção
do Estado absorve metade do que a Economia produz, exigindo-se,
por isso, eficiência na utilização dos recursos disponíveis;
 Não podemos considerar que existe uma rivalidade acentuada entre
Estado e mercado, pois, por mais liberais que sejamos, temos de
reconhecer o importante papel do Estado;
 A crise que, actualmente, se vive fica a dever-se a um deficit de
confiança transmitida pelos Governos aos mercados. O panorama
económico actual da Grécia é paradigmático nesta matéria, dado
que há uma crise de confiança dos agentes económicos. Como
consequência deste facto, assiste-se a uma desvalorização do euro;
 A constituição de um Estado ideal depende da existência de
confiança por parte dos agentes económicos e da promoção do
bem comum;
 Adam Smith, considerado o “pai” da Economia, defendia a Teoria
das Vantagens Absolutas, isto é, entendia que os Estados se deviam
especializar na produção dos produtos que melhor soubessem
gerar;
 Também no mercado, dadas as necessidades infinitas do
consumidor, é necessário utilizar eficientemente os recursos
disponíveis;
 O papel da Política na Economia – As opções ideológicas interferem
na defesa de uma intervenção maior ou menor do Estado na
Economia. De todo o modo, parece claro que nenhuma ideologia
coloca em causa a existência de um Estado. Por exemplo, a
mentalidade americana, a mais liberal que conhecemos, defende a
menor intervenção do Estado, apesar de este representar 40% do
que a Economia nacional produz.

1) A Economia do Sector Privado e a Economia do Sector Público


 A liberdade de escolha que é concedida ao indivíduo (e da qual
usufrui, através da utilização dos seus rendimentos) e a propriedade
privada inserem-se na Economia do Sector Privado, esta que é
igualmente essencial para a Economia. A obtenção de sucesso neste
sector depende da reunião de um conjunto de condições favoráveis,
nomeadamente em matéria de formação pessoal e de educação.
Assim, considera-se que o sucesso será conseguido em função da
capacidade imaginativa, da instrução escolar e formação
profissional do indivíduo. Dependendo destas condições, cada um
participa no mercado, existindo por isso desigualdades inegáveis.
 Por outro lado, existe um contexto colectivo que influencia as
escolhas individuais. Atentando no caso português, verifica-se que
os custos de produção daquilo que geramos são mais elevados face
à nossa concorrência, o que consequentemente implica preços de
mercado maiores. Nesta medida, verificar-se-á uma menor
competitividade da economia portuguesa, que deriva de uma
menor produtividade. Perante este panorama, revela-se necessário
investir na produção de bens alternativos, imperando aqui a
capacidade imaginativa, determinante para promover o produto e
suas características (padrões, cores). A rendibilidade dos produtos
depende da educação e da capacidade pessoal dos produtores,
existindo, por isso, uma relação próxima entre sector privado e
público. Considerando os casos da economia dinamarquesa e da
economia americana, denota-se que os custos de produção acabam
por ser menores, dada a utilização de meios tecnológicos e a
capacidade laboral dos produtores;
 Um país que disponha de abundantes recursos naturais, mas que
tenha um sistema político que não transmita confiança ao mercado
e não consiga rendibilizar os seus recursos humanos (os talentos de
que estes disponham), não consegue abandonar uma situação de
pobreza. Por esta realidade, exige-se do Estado um enquadramento
que faça render os seus talentos. Compete, assim, a Portugal
investir nos seus talentos e abandonar o entendimento pessimista
de que Portugal se encontra condenado a sobreviver com os lucros
que advêm do turismo;
 O exercício do direito de voto, próprio de um regime democrático,
revela-se um contributo decisivo dos cidadãos para a definição do
rumo do país. Todavia, a democracia, indiscutivelmente o melhor
sistema político, apresenta um defeito, visto que os representantes
eleitos pelo povo podem não corresponder à vontade da maioria
que os elegeu;

II – As funções do Estado

 Perspectivas concorrentes no estudo da intervenção do Estado


o Abordagem normativa – pressupõe uma norma de
comportamento aos agentes do Estado, esperando-se que
estes zelem pelo bem comum. A maximização do proveito
particular é preterida pelo funcionalismo político, na tentativa
de gerar o bem comum;
 Consequências jurídicas: defende pouca regulação da
intervenção do Estado.
o Abordagem positiva – admite que o comportamento dos
agentes económicos decorre dos interesses particulares, não
partindo, por isso, de uma norma de comportamento.
 Consequências jurídicas: considera que se revela
necessário controlar, de modo apertado, a intervenção
do Estado. Esta é uma posição tipicamente liberal.

 De todo o modo, ambas as perspectivas apresentam uma


característica em comum, pois defendem que o Estado deve ser
eficiente.
o Noção de Óptimo de Pareto – trata-se de um ponto situado
na Linha Limite de Possibilidades de Produção (LLPP) ou
Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP) e significa que
estamos perante uma situação de máxima eficiência. Nestas
circunstâncias, não é possível piorar a situação de alguém
sem melhorar a situação de outrem, como se pode atestar
através da deslocação ao longo da curva.
Podemos transformar as quantidades de bens consumidas /
produzidas representadas no gráfico pela utilidade do
indivíduo, passando a FPP a demonstrar a Fronteira de
Possibilidades de Utilidade. Com o deslocamento da Linha
Limite (curva), por inclusão de uma terceira variável, surgiram
novos Óptimos de Pareto. Temos o critério de Pareto, pois
melhora-se a situação de pelo menos uma das variáveis sem
prejudicar a outra.
Todavia, também pode suceder uma outra situação, em que
um ponto da Linha Limite gera prejuízo para uma das partes.
Nestas circunstâncias, não se pode aplicar o critério de
Pareto, apesar de o bem comum aumentar. Por este facto,
temos de considerar que o critério de Óptimo de Pareto se
revela incompleto. Pelo facto de se proporcionar o aumento
do bem comum, deve-se considerar esta possibilidade,
competindo ao Estado, através da redistribuição da riqueza,
melhorar a situação da parte prejudicada – função afectação.
Admite-se, portanto, uma redistribuição que favoreça o bem-
estar, efectuando o Estado, mais tarde, uma reafectação dos
rendimentos. Recorde-se que o Estado é detentor do poder
de autoridade (imperium).

 Atentando no período pós-Revolução Industrial (a partir do século


XVII), denota-se uma mudança radical na vida das pessoas, com um
crescimento exponencial da produção dos países. Neste período,
com os mesmos recursos, foi possível maximizar a produção, graças
à inclusão de novos factores de produção (nomeadamente,
tecnologia);
 David Ricardo e Thomas Malthus, discípulos de Adam Smith,
constituem importantes referências da Economia. De todo o modo,
a teoria malthusiana, que relaciona o crescimento populacional com
a produção de recursos alimentícios, revelou-se um equívoco.
Malthus observou que o crescimento populacional entre 1650 e
1850 dobrou, decorrente do aumento da produção de alimentos,
das melhorias das condições de vida nas cidades, do
aperfeiçoamento do combate as doenças, das melhorias no
saneamento básico, e os benefícios obtidos com a Revolução
Industrial, fizeram com que a taxa de mortalidade declinasse,
ampliando assim o crescimento natural. Preocupado com o
crescimento populacional acelerado, Malthus publica em 1798 uma
série de ideias, alertando para importância do controlo da
natalidade e afirmando que o bem-estar populacional estaria
intimamente relacionado com crescimento demográfico do planeta.
Malthus alertava que o crescimento desordenado acarretaria na
falta de recursos alimentícios para a população gerando como
consequência a fome;
 Desde o período da Revolução Industrial, denotou-se um aumento
da intervenção do Estado. Wagner propôs que existia uma relação
directa entre o aumento das necessidades dos indivíduos
(decorrente do seu enriquecimento) e o crescimento da intervenção
do Estado. Assim, podemos concluir que o Estado se incumbe de
satisfazer as exigências dos indivíduos (que se multiplicam) e é
consequência natural do desenvolvimento de um país a intervenção
do Estado (em matéria de saúde, segurança social, cultura, por
exemplo);
 Atentando na evolução da despesa do Estado, entre 1960 e 1993,
verifica-se um aumento da mesma, decorrente do aumento do
intervencionismo estatal. Este intervencionismo justifica-se com o
aumento das exigências da comunidade. Actualmente, os valores
das despesas governamentais tendem a estabilizar;
 A redistribuição da riqueza decorre da vontade, democraticamente
declarada, dos cidadãos de abdicarem de parte dos seus
rendimentos;
 Função afectação (de recursos) – da responsabilidade do mercado
(através da Lei da Oferta e da Procura) e do Estado (através da
produção, sem fixação de preço no mercado de bens essenciais à
comunidade). Esta comunidade decide democraticamente que o
Estado deve assumir essa responsabilidade. Na verdade, a
intervenção do Estado revela-se indispensável perante as
verificáveis falhas de mercado, que inevitavelmente ocorrem (por
exemplo: “externalidades”). Visa aumentar a eficiência.
 Função (re)distribuição – em condições normais, revela-se a mais
importante função do Estado. A distribuição do rendimento ocorre,
inicialmente, no mercado e depende das capacidades do indivíduo e
do enquadramento existente. Esta distribuição no mercado pode
ser considerada injusta pela comunidade. Neste caso, ocorre a
redistribuição dos rendimentos, através do poder de autoridade dos
Estados, retirando rendimentos aos mais ricos para dar aos mais
pobres (“Lei Robin dos Bosques”). Constituem sistemas de
redistribuição o sistema progressivo, através de tributação, e a
criação de subsídios por parte do Estado. Visa promover a
equidade.
 Função estabilização – há momentos em que a produção excede a
procura, o que gerará a acumulação de stock e o aumento do
desemprego. Atendendo a esta assimetria entre oferta e procura e
à perda de poder de compra daqueles que ficaram desempregados,
impõe-se uma intervenção do Estado. Numa situação contrária, em
que a produção é insuficiente para satisfazer as necessidades da
população, verificar-se-á um aumento do nível geral de preços
(inflação), o que também exige uma intervenção estatal.

ECONOMIA POLÍTICA II

(Quinta-Feira, 25 de Fevereiro de 2010, 9h30-11h – Teórica)


 Importa clarificar a intervenção do Estado que, como vimos, é
elevada nos países da Zona Euro;
 Argumentos normativos que justificam a intervenção do Estado:
o Necessidade de regulação do mercado, em detrimento da
“Lei do Mais Forte”, que não permite o desenvolvimento de
uma comunidade. Actualmente, o costume não é capaz de
regular as relações complexas do mercado. Considera-se que,
perante o fenómeno da globalização, Portugal necessita de
reformular o seu enquadramento legal. Uma das grandes
potências emergentes e antiga economia de direcção central
– a China – padece, actualmente, de um sistema jurídico
eficaz, sendo que os magistrados deste país não apresentam
uma formação jurídica para as questões complexas (grandes
desafios económicos) com que se deparam. Na verdade, os
indivíduos, por si só, não conseguem estabelecer um sistema
jurídico que responda às necessidades da sociedade. A falha
da acção colectiva pelo “dilema do prisioneiro” revela a
necessidade de existir uma instituição (Estado), dotada de
autoridade/supremacia que crie, imponha (através de um
aparelho coercivo) e fiscalize o cumprimento do sistema
jurídico, dotando-o de eficácia. Deste modo, será possível
assegurar maior confiança no mercado. Isto justifica que o
sistema “olho por olho, dente por dente” também não
funciona;
o A concorrência, enquanto base do mercado, tende a
desaparecer. O modelo de mercado de concorrência perfeita
é uma utopia e, na realidade, no mercado tendem a surgir
monopólios (poder monopolístico). Para evitar tal tendência,
impõe-se a intervenção do Estado, garantindo a concorrência,
situação mais favorável para os consumidores;
o No mercado, existe um conjunto diminuto de bens que o
mercado não está interessado em disponibilizar, um conjunto
de bens essenciais (bens públicos) à comunidade. Dado este
facto, o Estado assume esta responsabilidade de fornecer os
referidos bens públicos. Os bens públicos distinguem-se dos
bens mistos, fornecidos quer pelo Estado, quer pelos
privados. No que concerne aos bens públicos, por uma
questão de equidade, a comunidade solicita ao Estado a
disponibilização desses bens públicos, tornados legalmente
públicos. Neste argumento apresentado, está em causa uma
questão de eficiência;
o O mercado depende da dotação de factores de produção que
vão ao mercado (terra; trabalho, em matéria de instrução
escolar e formação profissional; capital que o indivíduo
possui). A formação escolar deve ser encarada como um
investimento que visa alcançar proveitos futuros superiores.
Pode suceder que a comunidade discorde da solução do
mercado, isto é, do modo como se reparte a riqueza gerada e
das disparidades existentes entre pessoas mais ricas e mais
pobres. Neste caso, também se impõe a intervenção estatal,
para corrigir estas assimetrias. Neste argumento
apresentado, está em causa uma questão de equidade. Resta
saber qual deve ser o grau de intervenção do Estado. Note-se
que o mercado não gera justiça social de acordo com as
preferências da sociedade;
o Em determinados sectores, ao contrário da situação normal
do aumento dos custos marginais com a introdução de uma
unidade adicional de factor de produção, verifica-se uma
diminuição dos custos marginais, em economias de escala,
como no sector das comunicações. Com o aumento da
procura, estas empresas, com custos iniciais bastante
elevados e com necessidade de garantir uma elevada
produção, cada unidade acrescentada terá cada vez menores
custos. Tal situação revela a dificuldade de novas empresas se
imporem em sectores tipicamente de monopólio natural.
Veja-se o caso do sector da produção/distribuição de
electricidade em Portugal, com a Energias de Portugal (EDP),
empresa bastante enraizada no sector e cuja concorrência é
praticamente impossível. Perante empresas transnacionais,
como esta, revela-se difícil aos Estados evitar estes
monopólios naturais. Também em matéria de distribuição de
água e telecomunicações, o monopólio de determinadas
empresas deve-se ao facto de ter instalado toda a rede
nacional, como no caso da Portugal Telecom (PT). Nestes
casos, o Estado nacionaliza o sector ou, não o fazendo, cria
uma entidade reguladora do sector;
o Informação assimétrica entre vendedor e consumidor, ao
nível da qualidade e da quantidade da mesma. Nesta relação,
o consumidor está geralmente numa situação de fragilidade,
inferioridade, mesmo subordinação em relação ao prestador
do serviço, na medida em que se sujeita à informação que lhe
é fornecida por este último. Veja-se, por exemplo, a relação
entre médico e paciente ou a relação entre advogado e
cliente: em ambos os casos, estamos perante relações
negociais, em que o prestador do serviço pode, em nome do
lucro, disponibilizar uma informação incompleta ou mesmo
incorrecta ao consumidor. Também nesta matéria o Estado
intervém, procurando dirimir estas assimetrias no
fornecimento de informação e intervindo em matéria de
regulação e fiscalização. Por exemplo, a actividade das
seguradoras é regulada pelo Instituto de Seguros de Portugal
(ISP), a actividade da comunicação social é regulada pela
Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).
Também a publicidade e a informação disponibilizada nos
produtos é regulada por autoridades oficiais portuguesas de
regulação e supervisão.
 “Dilema do Prisioneiro” – aplica-se se não tivermos defendido
nenhum argumento normativo da intervenção do Estado, tendo
apenas interesse na utilização eficiente dos recursos, deixando de
parte quaisquer valores morais. Adam Smith defendia a não
intervenção do Estado na economia, pois segundo ele o mercado
auto-regular-se-ia, como que guiado por uma “mão invisível” onde
as forças do mercado determinariam um ponto de equilíbrio entre a
oferta e a procura pelas mercadorias. Para além disto, defendia
que, se cada indivíduo prosseguisse os seus interesses individuais,
gerar-se-ia o interesse da colectividade, em termos de eficiência.
Por outro lado, John Forbes Nash Jr., Prémio Nobel da Economia
1994, vai refutar a argumentação de Adam Smith, através do
“Dilema do Prisioneiro”, que também é capaz de explicar a maior
eficiência obtida com a aplicação coerciva do Direito.
O “Dilema do Prisioneiro” é um problema da Teoria dos Jogos, em
que se supõe que cada jogador, de modo independente, quer
aumentar ao máximo a sua própria vantagem, sem lhe importar o
resultado do outro jogador. Enunciado:
“Dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia. A polícia tem provas
insuficientes para os condenar, mas, separando os prisioneiros,
oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros,
confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer
em silêncio, o que confessou sai livre enquanto o cúmplice silencioso
cumpre 10 anos de sentença. Se ambos ficarem em silêncio, a
polícia só pode condená-los a 6 meses de cadeia, cada um. Se
ambos traírem o companheiro, cada um leva 5 anos de cadeia.

Prisioneiro B
Nega Confessa
Prisioneiro A Nega (½; ½) (10,0)
Confessa (0;10) (5,5)
Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber que decisão o outro vai
tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro. A questão que o
dilema propõe é: o que vai acontecer? Como o prisioneiro vai
reagir?”
O facto é que pode haver dois vencedores no jogo, sendo esta
última solução a melhor para ambos, quando analisada em
conjunto. Entretanto, os jogadores confrontam-se com alguns
problemas: Confiam no cúmplice e permanecem negando o crime,
mesmo correndo o risco de serem colocados numa situação ainda
pior, ou confessam e esperam ser libertados, apesar de que, se ele
fizer o mesmo, ambos ficarão numa situação pior do que se
permanecessem calados?
Cada jogador é levado a escolher trair o outro, porque só pensa em
si, mas curiosamente ambos os jogadores obteriam um resultado
melhor se colaborassem. Infelizmente (para os prisioneiros), cada
jogador é incentivado individualmente para denunciar o outro,
mesmo após lhe ter prometido colaborar. Este é o ponto-chave do
dilema. A e B devem confessar, quer o outro negue ou confesse,
mas dois indivíduos, pensando apenas em si, não escolhem a
melhor solução. Deste modo, temos que este jogo tem como
solução:
 Do ponto de vista do Óptimo de Pareto a estratégia A e B
negam;
 Do ponto de vista do Equilíbrio de Nash a estratégia A e B
confessam. Neste caso, é o equilíbrio dominante.

É desta forma que Nash contraria Smith e também isto justifica a


intervenção estatal – argumento positivo.

 Uma decisão política do Estado pode ter implicações em mais de


uma função. Por exemplo, uma medida estatal que visa diminuir a
procura é o aumento dos impostos (função estabilização), mas tal
medida pode também colocar em causa a equidade (função
redistribuição);
 Função afectação:
o Características do bem público:
 Não rivalidade – ausência de rivalidade no consumo do
bem, isto é, dois ou mais consumidores podem
consumir uma mesma unidade do bem (consumo
conjunto, o que significa que o consumo do bem por
um consumidor não reduz a quantidade disponível para
consumo desse bem por outro consumidor;
 Quase todos os bens têm rivalidade, na medida
que o consumo do bem por um consumidor
reduz a quantidade disponível para outro.
 Não exclusão – não é possível excluir ninguém do
consumo do bem;
 Não rejeitabilidade – ninguém pode rejeitar o
consumo do bem.

o Valerá a pena o Estado intervir, sem aumentar os custos.

ECONOMIA POLÍTICA II

(Terça-Feira, 02 de Março de 2010, 9h30-11h – Teórica)


o Bens públicos ≠ Bens privados
 Nos bens públicos, não há exclusão, mesmo que não se
pague o usufruto do bem, visto que não é possível
excluir alguém do seu consumo. Todavia, as empresas
não fornecem o bem sem o pagamento do seu
respectivo preço, o que justifica o desinteresse do
mercado em disponibilizar o bem;
 Nos bens privados, há rivalidade no consumo e há
exclusão para aqueles que não querem consumir;
 Mesmo quando não há rivalidade, é sempre mais
eficiente oferecer mais uma unidade adicional, pois os
custos não aumentam. Portanto, seria mais eficiente
permitir que mais um indivíduo usufrua do bem,
gerando assim maior utilidade sem aumento dos
custos. Por outro lado, revela-se necessário racionalizar
a atitude das pessoas e, para tal, exige-se uma
intervenção do Estado, nomeadamente na
comparticipação do bem;
 Os bens públicos que não possibilitam exclusão são
fornecidos por empresas públicas. Veja-se o caso da
energia eléctrica de uma zona urbana, em que, mesmo
quem não paga, usufrui do bem. O mesmo sucede com
zonas verdes, vias de comunicação e autoridades
policiais, bens e serviços fornecidos pelo Estado. Se,
porventura, cada indivíduo tivesse de contratar
segurança privada, cada um esperaria pelo outro para
usufruir gratuitamente do bem, o que denota uma
situação de nítida ineficiência (veja-se o “Dilema do
Prisioneiro”);
 Em matéria de concertação social, os acordos
celebrados entre patronato e sindicatos são válidos
quer para funcionários públicos e privados
sindicalizados, quer para não-sindicalizados;
 Nos bens públicos, a quantidade usufruída por cada
indivíduo corresponde exactamente ao mesmo e a
quantidade total é equivalente à quantidade usufruída
por cada indivíduo. Um exemplo claro de bem público é
a Defesa Nacional ou o consumo da emissão da
televisão pública;
 Em relação à não-rejeitabilidade, o indivíduo, ainda que
avesso à disponibilização deste bem, não pode rejeitar
o consumo desse mesmo bem;
 Note-se que um bem público se distingue de um bem
privado financiado publicamente (como os transportes
públicos);
 Pode suceder que, em relação a um bem privado, se
associem efeitos externos de bens públicos. Como
exemplo desta realidade, podemos apresentar as
externalidades negativas que advêm de um café estar
aberto de madrugada;
 São raros os bens que apresentam as características de
não-exclusão e não-rivalidade. No que concerne à
maioria dos bens, eles são privados. Já os bens mistos
apresentam uma das características:
 Não-rivalidade mas exclusão – as estradas com
portagem, por exemplo;
 Não-exclusão, mas rivalidade – os terrenos
baldios, por exemplo. Relativamente ao usufruto
do baldio (como do ar e da água potável,
também), ninguém pode invocar o direito de
propriedade, pois estamos perante um bem que
pertence à Humanidade, não existindo uma
entidade reguladora na matéria. Contudo, existe
rivalidade pelo usufruto.
 Note-se em relação às questões ambientais, como as
emissões de CO₂, não existe uma vontade universal de
assumirem os custos provocados por este malefício –
externalidade negativa;
 A intervenção do Estado na Educação prende-se, não
só em razões de eficiência, como também em questões
de justiça social (equidade). Note-se que o peso do
Estado neste sector é significativamente superior
àquela que devia ser. Todavia, o Estado mantém o
compromisso constitucional de fornecer educação até,
pelo menos, ao 9.º ano de escolaridade obrigatória
(bem público). O mesmo se aplica ao sector da saúde e
ao acesso à justiça. Estamos perante bens privados
tornados públicos, que preenchem a característica da
não-exclusão.
 “Externalidades” positivas e negativas
o Com a expressão “externalidades”, criada pelos economistas,
procura-se fazer referência aos efeitos externos que provêm
de uma relação económica celebrada entre 2 partes, com ou
sem intermediários, e vão ser sentidas por terceiros que não
intervêm naquela dita relação;
o Uma externalidade positiva implica benefícios para terceiros,
já uma externalidade negativa configura malefícios para
terceiros;
o Estes efeitos externos não estão contemplados no preço de
um bem, que é definido em função da sua oferta e procura,
isto é, de acordo com os custos de produção e as
necessidades do consumidor. De notar que os preços só são
eficientes, quando reflectem todos os benefícios e custos;
o A poluição constitui uma externalidade negativa, na medida
em que lhe estão associados efeitos negativos, como por
exemplo o lançamento de resíduos sólidos e detritos para um
recurso hídrico utilizado para a actividade piscatória;
o Temos também externalidades positivas, como a produção e
consumo de vacinas para combater determinadas patologias.
Neste caso, para além dos óbvios benefícios que o
consumidor obtém, importa considerar as vantagens que daí
resultam para o resto da comunidade (ganho social). O preço
fixado no mercado pelo usufruto deste bem não reflecte
estes efeitos externos. Tal realidade também sucede com a
educação, enquanto sistema de incorporação de normas
sociais, dado que dela também advêm efeitos externos
positivos, como é a formação dos cidadãos para a vida em
sociedade;
o O desenvolvimento económico de um país depende,
indiscutivelmente, da garantia, por parte do Estado, de um
sistema educativo que forneça condições para a instrução e
formação dos cidadãos. Isto justifica a relevância que assume
a massificação do ensino.
o Correcção de externalidade positiva
 Atentando na figura II.2 do livro de referência,
verificamos um relacionamento do preço com a
quantidade de educação, a preços constantes,
apresentando uma curva E decrescente em relação aos
benefícios sociais associados ao acréscimo de um novo
indivíduo a usufruir do bem “educação”. A curva D s
representa os benefícios totais da educação e resulta
da soma de Dp (benefícios privados) e E (benefícios
sociais). O fornecimento do bem “educação” pelo
mercado é menor ao óptimo. Depois de “internalizada”
a externalidade, isto é, com a intervenção do Estado, a
eficiência é maximizada.
 Intervenção do Estado (tendo em vista o aumento da
eficiência):
 Subsidiar os custos das empresas no sector em
causa, de modo equivalente aos benefícios
sociais, diminuindo o preço do bem “educação” e
aumentando a quantidade procurada;
 Atribuir um subsídio aos alunos que usufruam do
serviço, diminuindo os custos e aumentando a
procura do bem “educação” (modificação na
curva da procura, que evolui positivamente),
com o mesmo preço. Esta solução é
comummente denominada “cheque-ensino”;
 O Estado fornece a diferença entre a quantidade
óptima puramente privada e a quantidade
óptima depois de “internalizada” a
externalidade.

o Correcção de externalidade negativa


 Implica a adição dos custos privados com os custos
sociais, correspondente ao custo de produção de uma
unidade de um bem;
 A determinação da quantidade óptima resulta da
intersecção da quantidade procurada privada e dos
custos totais, sendo o preço de produção mais elevado
e a quantidade de produção diminui;
 Correcção da externalidade negativa com intervenção
do Estado:
 O Estado lança um imposto sobre o produtor,
aumentando os custos de produção;
 O Estado lança um imposto sobre o consumidor
por cada unidade de papel consumida, o que vai
fazer diminuir a quantidade procurada;
 O Estado limita a produção do bem, multando a
violação do limite estipulado.
 Correcção da externalidade negativa sem intervenção
do Estado:
 Teorema de Coase, por Ronald Coase (1960) –
solução não-intervencionista.

ECONOMIA POLÍTICA II

(Quinta-Feira, 04 de Março de 2010, 9h30-11h – Teórica)


 Solução não-intervencionista: o Teorema de Coase
o O Protocolo de Quioto constitui a melhor solução para
combater as alterações climáticas, baseada na Teoria
Económica;
o Ronald Coase propôs uma solução não-intervencionista do
Estado, desde que se conhecessem os detentores do direito
de apropriação do bem, conseguindo assim o mercado
corrigir as externalidades. Se tal se verificar, o mercado seria
capaz de corrigir as externalidades, o que se revela deveras
benéfico;
o Coase, criador da Análise Económica do Direito, definiu que
se se soubesse de quem são os direitos de apropriação do
bem público, seria possível corrigir a externalidade. Assim,
importa que o Estado defina quem são os detentores do
direito de apropriação para a situação ficar resolvida,
podendo o(s) indivíduo(s) prejudicado(s) exigir uma
indemnização ao infractor. Trata-se de uma teoria que
constitui um complemento importante do Direito e relevante
para a definição da indemnização óptima ou eficiente e para
a análise custo-benefício em matéria de eficiência;
o Nesta proposta, não se verifica uma intervenção do Estado na
actividade económica, apenas interferindo no
enquadramento, respeitando os direitos de propriedade
(autonomia privada);
o Se os direitos de propriedade pertencerem:
 Ao poluidor (em busca de atracção pelo investimento)
 Atentando na figura II.4 do livro de referência,
verifica-se a relação entre custos-benefícios e a
quantidade de poluição. Na figura apresentada,
BMg representa o benefício marginal (com a
introdução de uma unidade adicional de
poluição) e CMg o custo marginal. A empresa
produz enquanto BMg for igual ou superior a
CMg ou, se quisermos, se a diferença entre BMg
e CMg for igual ou superior a 0. O benefício
marginal líquido (BMgL) corresponde à diferença
entre BMg e CMg. Por Q0, entende-se a
quantidade óptima até onde a empresa produz.
Por CME, considera-se o Custo Marginal da
Externalidade, sendo os custos maiores com a
introdução de unidade adicional de poluição. Já
por QS, entende-se aquela quantidade que
deveria ser a quantidade óptima (eficiente), até
onde os benefícios (BMgL) são superiores aos
custos (CME). QS+1 interessa à empresa, mas não
é quantidade eficiente;
 A partir de QS, o Estado poderia impor uma
limitação. Mas, como alternativa, Coase propõe
que os lesados paguem uma indemnização aos
poluidores (valor máximo correspondente ao seu
prejuízo. A partir de QS, os lesados estão
dispostos a pagar (CME) mais do que os ganhos
dos poluidores. Com esta negociação, os ganhos
são superiores aos custos para ambas as partes e
o poluidor não extravasa a quantidade óptima.
Assim, sem intervenção do Estado, o mercado
consegue corrigir a externalidade;
 Na figura apresentada, “C” (riqueza que deixa de
ser criada) + “D” (não poluição do rio)
corresponde à poluição que deixa de ser feita;
“A” corresponde aos ganhos com a produção, o
que significa que, racionalmente, não se deve
deixar pura e simplesmente de produzir; “A” +
“B” + “C” corresponde aos ganhos totais do
produtor, sendo que “A” + “B” corresponde ao
que se produz e “C” à indemnização atribuída
(não se produz);

 Aos lesados (a empresa tem de pagar indemnização


para produzir)
 A empresa vai produzir até QS, onde os
benefícios são ainda superiores aos custos. A
partir de QS+1, os custos já são superiores aos
benefícios. QS corresponde à solução óptima em
termos de eficiência;
 Neste caso, “A” corresponde aos ganhos do
produtor, sendo “B” e “C” custos; “B”
(indemnização) + “C” + “D” (correspondentes à
poluição que não se faz) equivale aos ganhos dos
lesados.
o Problemas da solução de Coase (visão global da poluição no
Mundo)
 Elevados custos de transacção, dadas as dificuldades
de negociação entre poluidores e lesados, no
estabelecimento de contactos. Implica também um
problema de free-riding, na medida em que se fica à
espera que um dado grupo resolva o problema,
acabando por beneficiar todos os envolvidos e
diminuindo os custos destes. Trata-se de um problema
de assumir a liderança, não deixando o free-riding de
ser uma decisão racional do ponto de vista económico,
apesar de tudo;
 Assimetria do poder negocial das partes, dadas as
diferenças entre capacidades de reacção e actuação
das partes, dotadas de mais ou menos possibilidades
económicas;
 Afectação das gerações vindouras, que podem sofrer,
futuramente, das emissões de gases poluentes
liberalizadas. Além disso, não usufruem das
indemnizações conferidas, sendo o Estado o único
agente que pode representar as gerações futuras;
 Dificuldade de cálculo do custo da externalidade, pois
revela-se efectuar a medição do prejuízo, avaliado em
dinheiro, podendo diferir de pessoa para pessoa. Trata-
se de mais um problema que implica a intervenção do
Estado;
 Se o efeito externo em causa assumir proporções
internacionais, denota-se a falta de uma entidade
supranacional que lidere as negociações.
 Soluções intervencionistas
1. Regulação Directa
 Proibir poluição acima de QS, fixando um limite standard;
 Trata-se de uma solução que tem sido abandonada, pois com
a introdução de uma nova tecnologia, o ponto de equilíbrio
seria diferente, implicando a criação de nova legislação. O
mesmo sucederia com as alterações da taxa de inflação.
2. Imposto Pigou
 Introduz o princípio do poluidor-pagador, sendo que quem
polui paga o imposto correspondente. Tem sido uma solução
eficaz em matéria ambiental;
 Trata-se de um imposto sobre um montante “t”, o que
conduzirá à queda dos ganhos da empresa (impondo custos
adicionais) e obrigará a produzir QS em vez de QO, pois para lá
de “t”, todas as unidades adicionais trarão prejuízo. A solução
passa por “BMgL – t”, tendo como quantidade óptima QS;
 Como crítica a esta solução, podemos referir que a sua
aplicação implica conhecer nitidamente o custo marginal de
externalidades (CME);
 Todavia, trata-se de um imposto que conduz ao aumento da
eficiência. Depois, no que concerne à aplicação do imposto,
estamos perante uma decisão política, onde pode imperar ou
não a equidade. O imposto resultante pode:
o Ser entregue ao poluidor;
o Ser entregue aos directos lesados;
o Ser entregue aos contribuintes, diminuindo a carga
fiscal.
3. Subsídio de Pigou
 Atribuição de um subsídio por não produzir. Neste caso,
estando a produzir QS+1, a empresa terá mais ganhos em não
produzir. Pelo contrário, estando a produzir Q S-1, a empresa
terá mais ganhos, continuando a produzir;
 Trata-se de uma solução susceptível de uma crítica
fundamental, dado que atrai, para a actividade económica,
empresas poluidoras em busca de subsídio, o que não sucede
com o Imposto Pigou, que retrai a procura do sector.
4. Teoria das licenças de emissões (ou licenças para poluir)
 Trata-se da teoria que baseia o Protocolo de Quioto (ver
páginas 94 a 113 do livro adoptado);
 Atentando na figura AII.2.1. do livro adoptado, verificamos
que CMR corresponde ao custo marginal de reduzir a
poluição, que é maior se não houver evolução tecnológica. A
curva S e QE correspondem às licenças oferecidas e P E à
procura de licenças;
 Consiste no lançamento, por parte do Estado, de licenças de
emissão, cujo número é limitado. Tal implica a participação de
empresas no concurso pelas licenças;
 Todas as empresas com CMR abaixo da licença não precisam
de comprar licença para laborar, podendo vendê-las a outras
que dela necessitam, acabando ainda por fazer um encaixe
financeiro;
 “PE – QE” equivale à solução óptima, que se revela versátil
com as alterações de mercado;
 Trata-se de uma solução óptima, na medida em que os mais
eficientes, isto é, aqueles que utilizam tecnologia menos
poluente, não compram licenças e, pelo contrário, os menos
eficientes compram licenças aos mais eficientes, sendo
aliciados a adquirir tecnologia menos poluente;
 Esta solução tem sido tomada por alguns Estados dos EUA;
 Na verdade, esta solução não implica a existência de um
governo supranacional que supervisione o cumprimento do
acordo, apenas implica um acordo em matéria de licenças a
emitir;
 Uma instituição de defesa ambiental pode adquirir licenças
para promover a diminuição da poluição, mas isto poderá
conduzir à diminuição da produção da quantidade óptima.
Compete, por isso, ao Estado emitir mais licenças;
 Esta solução apresenta como vantagem fulcral o incentivo à
adopção de tecnologia menos poluente. Todavia, trata-se de
uma solução que não é possível aplicar em todas as áreas e
implica a coesão de diversas vontades;
 A propósito do Protocolo de Quioto, muitos Países em
Desenvolvimento (PED) recusaram a celebração do acordo,
dado que, apesar de o seu PIB estar a crescer
vertiginosamente, a sua população ainda goza de um nível de
vida baixo;
 Trata-se de uma solução que combina a intervenção do
Estado com o funcionamento do mercado.

o As soluções apresentadas promovem a eficiência, variando


em matéria de equidade. Veja-se a propósito da Solução de
Coase, em que tal questão está dependente do detentor do
direito de apropriação ou no caso do Imposto Pigou, em que
a equidade está condicionada pela solução tomada em
relação à entrega do imposto.

o Exemplos de intervenção do Estado na correcção de


externalidades:
 Ordenamento do território, nomeadamente em
matéria de construção de imóveis;
 Regulação das emissões de ruído e gases poluentes;
 Instalação de negócios sujeitos a licença, que possam
gerar efeitos externos negativos junto da comunidade
em redor.
ECONOMIA POLÍTICA II

(Terça-Feira, 09 de Março de 2010, 9h30-11h – Teórica)


 Bens de mérito
o Trata-se de uma classificação que não é aceite por alguns
economistas, mas que, todavia, é defendida por Musgrave;
o Por bem de mérito, entende-se todo aquele que não pode
ser rejeitado, em que não há rivalidade e exclusão no
consumo (semelhanças com os bens públicos), mas que não
dependem da vontade da sociedade, ou seja, distinguem-se
dos bens públicos, na medida em que não resultam da
escolha da sociedade, das preferências individuais. Como
exemplos, podemos apontar os seguintes comportamentos
sociais:
 Na Idade Média, era obrigatório professar o
Catolicismo para ser integrado na sociedade;
 Obrigatoriedade de uso de gravata numa empresa;

o Diferentes dos bens de mérito são os “bens de demérito”,


correspondentes a comportamentos sociais rejeitados pela
comunidade, como são:
 Fumar nos espaços públicos;
 Consumo de drogas;
 Prostituição.

o A rejeitabilidade por parte de alguns economistas desta


classificação prende-se com o facto de, nestes bens, se
verificar uma imposição de um determinado comportamento,
o que se revela uma concepção paternalista contrária àquilo
que a ciência económica defende, isto é, esta equaciona a
hipótese de escolha.
 Abordagem dinâmica da intervenção do Estado
o A abordagem dinâmica/evolucionista da Economia revela-se
uma perspectiva concorrente à teoria neo-clássica da
Economia;
o Esta corrente contesta que a Física estática seja a base da
análise económica;
o A Escola Austríaca, representada por Schumpeter, defende a
importância dos desequilíbrios para a Economia (tal como na
Teoria da Selecção das Espécies, de Charles Darwin), pois as
empresas visam, precisamente, superiorizar-se à
concorrência. Esta teoria tem como suporte a teoria
evolucionista, não gozando porém do mesmo destaque que a
teoria neo-clássica no seio político;
o Segundo esta perspectiva, a intervenção do Estado não é
vista apenas aquando da ocorrência de uma falha de mercado
que tem de ser corrigida. Criticando esta intervenção
subsidiária, restringida, a teoria evolucionista preocupa-se
com o dinamismo, devendo o Estado promover esta
característica, intervindo nas alterações e intervenções
tecnológicas. Deste modo, o Estado deve intervir para além
das falhas de mercado, criando, nas empresas, um ambiente
dinâmico, tendo em vista um crescimento económico;
o Em matéria de inovação tecnológica, a teoria neo-clássica
analisa a intervenção do Estado, verificando a existência de
características de bem público:
 Não-rivalidade;
 Não-exclusão (na maior parte dos casos);
 Assimetria de informação;
 Existe a possibilidade de constituição de monopólios,
que o Estado deve admitir durante algum tempo.

Portanto, o Estado, de acordo com a teoria neo-clássica, deve


intervir por se verificarem as características de bem público e
para corrigir externalidades. Para a teoria evolucionista, por
seu turno, o Estado deve intervir bastante e para além da
correcção de falhas de mercado. Todavia, a teoria
evolucionista pode incorrer no erro de defender o Estado
como grande agente mobilizador da Economia,
subalternizando o papel do mercado, do empreendedorismo.
Não se refuta, porém, o importante papel do Estado na
actividade económica, nomeadamente para a redução de
custos sociais e para a criação de externalidades positivas.

 Regulação eficiente
o Importância do Direito para a tomada de comportamentos
óptimos, nunca esquecendo a equidade e a justiça. Impõe-se
um trade-off racional entre comportamentos (eficiência e
justiça);
o Exemplos de regulação eficiente:
 Criar instituições que diminuam os custos de
transacções, como normas jurídicas, por exemplo, em
matéria de Direito do Consumo;
 Se ocorrer, num acidente de viação, um atropelamento
com concorrências graves, exige-se a adopção de um
comportamento óptimo como consequência, sem
beliscar a ideia de justiça;
 Em matéria de Direito das Sucessões e da Família, o
legislador pode influenciar indicadores demográficos,
como as taxas de natalidade e fertilidade;
 Regulação da concorrência, sem eliminar o poder de
algumas grandes empresas com elevado poder de
mercado (multinacionais), que aliás podem ter uma
estratégia de inovação tecnológica.
 Não sancionamento de acordos tácitos entre agentes
económicos;
 Recurso aos tribunais arbitrais em vez dos tribunais
comuns, com menores custos judiciais.
 Função redistribuição
o Função que acolhe mais recursos do Estado;
o A solução de mercado, em princípio, será eficiente (excluem-
se, obviamente, bens públicos e externalidades), mas podem
verificar-se grandes disparidades na satisfação dos indivíduos,
o que pode ser resultado de uma distribuição pouco
equitativa. Tal realidade conduz à insatisfação dos mais
desfavorecidos;
o Em Portugal, 20% das famílias mais ricas detêm 45% do
rendimento produzido. Já os 20% mais pobres possuem
apenas 5,5 % do rendimento produzido;
o Portugal, entre os membros da Zona Euro, é o país com
maiores desigualdades na distribuição dos rendimentos;
o O conceito de distribuição justa da riqueza difere de
sociedade para sociedade. Note-se que existem Estados
muito interventivos na redistribuição dos rendimentos, mas
também há Estados pouco interventivos. Tudo depende da
concepção de justiça social que se tenha. Não há um critério
melhor de justiça social;

ECONOMIA POLÍTICA II

(Quinta-Feira, 11 de Março de 2010, 9h30-11h – Teórica)


o Análise da Curva de Lorenz
 Atentando na Figura II.6 do livro de referência e tendo
como referência a linha de igualdade, conseguimos
verificar as assimetrias na distribuição do rendimento
entre os mais pobres e os mais ricos (eixo das
ordenadas – % população) e a concentração de uma
fatia significativa do rendimento numa pequena faixa
da população mais dotada de recursos económicos;
 A insatisfação da população face às desigualdades
patentes significa que estaria disposta a alterar o
resultado de mercado em prol do bem comum. De
todo o modo, tal não significa que pretenda uma
situação de igualitarismo na distribuição dos
rendimentos;
 Procurando uma solução eficiente, e zelando pela
equidade (justiça social), analise-se a utilidade de dois
indivíduos (“i” e “j”) – Figura II.7
 FU – Linha Limite/Fronteira de Utilidade –
correspondente a todas as possibilidades que
resultam em termos de distribuição de
rendimento, que surgem devido à solução de
mercado;
 No ponto A (um ponto óptimo, apesar de gerar
assimetria), o indivíduo “i” tem muita utilidade,
ao contrário de “j”, situação que depende de
variáveis naturais (capital disponível, formação
profissional). No ponto C (também ponto
óptimo), temos uma situação mais favorável
para “j” do que para “i”. O mesmo se aplica ao
ponto B;
 Através da FU, não podemos determinar qual a
situação mais equitativa, pois desconhecemos
qual o comportamento social dos indivíduos em
causa. A determinação da distribuição mais
equitativa depende da vontade política e social,
de acordo com o critério de justiça e equidade
que vigora. Num regime democrático, surgem
diversas propostas/perspectivas de justiça social,
podendo a população manifestar a sua posição.
A posição maioritária irá prevalecer e
manifestará qual a vontade da sociedade,
podendo adoptar posição diversa num acto
eleitoral posterior. Mas também a própria
Constituição prevê a adopção, por parte do
Estado, de atitudes redistributivas. As próprias
revisões constitucionais permitem-nos conhecer
as diferentes posições adoptadas ao longo do
tempo (recordar, por exemplo, Revisão
Constitucional 1982). Também através da
actividade legislativa dos órgãos de soberania
(Assembleia da República e Governo) podemos
tomar contacto com essa realidade. Com a
recolha desta informação, podemos efectuar a
análise comparada entre países;
 Ponto óptimo do consumidor – intersecção da
mais alta curva de indiferença (semelhantes às
isoquantas, em matéria de Teoria da Produção, e
que correspondem a curvas de igual satisfação)
com a FU, que corresponde a todo o rendimento
disponível. Deste modo, se revela possível
maximizar a utilidade/satisfação. Admitindo que
a sociedade também apresenta níveis sociais de
utilidade (bem-estar) determináveis (a partir de
dois indivíduos), podemos definir curvas sociais
de utilidade (IS1, IS2, IS3, Is4):
o Será o ponto B correspondente à máxima
utilidade, na medida em que corresponde
à maior curva social de utilidade que
intercepta com a FU;
o Admite-se, portanto, que a sociedade em
causa pretende redistribuição, tendo em
vista um bem-estar comum. Para tal,
retira-se utilidade ao indivíduo “i”,
transferindo-se a mesma para o indivíduo
“j”, através de imposto redistributivo.
Trata-se de uma alteração da solução de
mercado, do ponto “A” para “B” (solução
pretendida);
o Se se verificar uma alteração das curvas de
indiferença, passando a maior curva social
de utilidade a corresponder ao ponto “A”,
então acaba-se com o imposto
redistributivo. Alterou-se a vontade dos
cidadãos, em busca da eficiência,
combinada com uma distribuição justa.
 Problema que se coloca:
o Se se verificar, porventura, que o
indivíduo “i” revela uma grande entrega
ao trabalho e o Estado decide retirar
uma percentagem elevada do
rendimento, o referido indivíduo em
causa pode decidir-se por uma
diminuição da sua dedicação ao
trabalho, em favor do lazer. Trata-se de
uma decisão racional, que lhe permite
gozar de maior utilidade/satisfação.
Esta decisão é tomada em função de:
 Efeito rendimento – trabalhar
mais para recuperar rendimento
perdido.
 Efeito substituição – trabalho dá
menor utilidade (Utilidade
Marginal do Trabalho), em
relação ao lazer. Assim, a posição
racional é abandonar o trabalho.
 Como se compreende, a
tributação sobre o
indivíduo “i” vai afectar o
rendimento do factor
trabalho;
 Em relação ao indivíduo
“j”, o facto de lhe ser
oferecida uma
transferência de dinheiro,
sem aumentar a sua
entrega ao trabalho,
traduz-se num retrocesso
ao nível da produtividade e
competitividade do Estado,
dado que esta
transferência, não só não
constitui um incentivo ao
trabalho, como também
pode levar a que o referido
indivíduo adopte se torne
menos dedicado.
o Deste modo, comprova-se que a
intervenção do Estado (excepto
sobre bens públicos e
externalidades) vai afectar a
utilidade, não sendo,
efectivamente, possível passar
de A para B.

 Conflito Equidade / Eficiência (Figura II.8)


o Curva AE – curva de utilidade com a
intervenção do Estado. Nota-se, desde logo
que se alcança uma solução ineficiente (ponto
D). Os cidadãos escolhem o ponto D, sendo B
impossível, pois traduz-se em maior utilidade,
estando a sociedade a abdicar de eficiência
em prol de equidade, mas não na sua
totalidade.
 Critérios limite de equidade (4 tipos) que as
sociedades assumem:
o Critério da dotação de factores – “Ficas com
o que podes ganhar no mercado” – critério
que aceita a distribuição do mercado,
revelador de liberalismo puro (radical) e
utilizado no início da Revolução Industrial.
Como atenuante deste critério, temos a
rejeição de desigualdades provocadas pelas
heranças.
 A primeira variante do critério, sem
atenuante, revela-se a solução mais
eficiente, contudo conduz a que uma
pequena faixa da população viva
bastante bem, enquanto toda a
restante viva bastante mal;
 Este critério é ainda utilizado em
combinação com outros critérios.
Mesmo os países ditos comunistas
aplicam em parte este critério. Aliás,
está comprovado que a abolição do
mercado não é uma solução viável;
 A mais recente reforma da Função
Pública, que impõe a avaliação dos
funcionários públicos para progredirem
na carreira, revela-se mais eficiente.
o Critério utilitarista – “nascer com muitas ou
poucas capacidades ou aptidões não depende
da vontade do indivíduo” – defendido
sobretudo por Bentham, este critério defende
a remoção do dinheiro dos indivíduos que
trabalham, redistribuindo-o e concedendo
mais a quem tem mais gozo, de acordo com a
utilidade marginal de rendimentos. Assim, a
mesma quantia pode assumir valor diferente
para cada indivíduo. Trata-se de um critério
racional, que deve ser aplicado pelo Estado,
investindo mais nos sectores onde for mais
necessário, de acordo com as utilidades
marginais.
 Trata-se do critério mais eficiente para
maximizar o bem-estar social;
 Com a diminuição da utilidade marginal
de um indivíduo a quem se conferiu
uma unidade adicional de rendimento,
atribuía-se uma outra unidade a
indivíduo diferente;
 Com este critério, obter-se-ia uma
distribuição bastante equitativa;
 Trata-se, contudo, de um critério
impraticável, que desincentiva os mais
capazes a serem ambiciosos, dado que
grande parte dos seus rendimentos
serão distribuídos;
 Este critério deve ser aplicado na
distribuição do dinheiro pelas despesas
do Estado, de acordo com a
necessidade e a utilidade marginal.
o Critério igualitarista – “igualdade do bem-
estar entre todos os indivíduos ” – aplicado na
ex-URSS e previa que todos recebessem o
mesmo. Baseia-se numa orientação filosófica,
em que, sendo todos humanos, a repartição
da riqueza deveria ser igualitária. A doutrina
cristã e o comunismo reconhecem-se neste
critério. Este modelo nunca sentiu efeito na
ex-URSS com sucesso, não se verificando a tão
esperada transição do socialismo para o
comunismo. Mesmo com diferentes esforços
por parte dos trabalhadores, todos ganham o
mesmo, o que é contrário à natureza humana,
visto que o ser humano espera obter maior
rendimento com mais trabalho.
o Critério contratualista – “maximização do
bem-estar dos que estão em pior situação na
sociedade (critério Maxmin)” – apresentado e
desenvolvido por John Rawls, que se
questionou como é que a sociedade poderia
defender um critério equitativo com
sustentação filosófica. Para se definir um
critério justo, os indivíduos ter-se-iam que
abstrair da sua situação actual (“véu de
ignorância”), fazendo um “contrato social” em
que definem um critério justo. Do contrato
celebrado, resultaria certamente uma
situação de redistribuição, criando um
conjunto de transferências para salvaguardar
situações de dificuldade económica e social
extrema, abaixo do limiar da pobreza (critério
MaxMin – o máximo para quem estivesse
numa situação de miséria).

Na actualidade, o critério igualitarista


encontra-se em desuso. Já as sociedades mais
desenvolvidas, aproximam-se ou do critério
utilitarista ou do critério da dotação de
factores conjugado com o critério utilitarista.
De todo o modo em todos os critérios, é
possibilitada ao Estado a implementação da
noção de justiça social na sociedade. Mesmo
numa abordagem positiva, num Estado não-
benevolente, existirá redistribuição de ricos
(que sejam pessoas egoístas) para os mais
pobres, pois haveria:
 Protecção de privilégios ou “compra de
protecção”, dado que, num Estado
democrático, os seus agentes teriam de
lidar com a revolta da sociedade, tendo
de favorecer alguma mobilidade social,
evitando deste modo que ocorra,
abruptamente, uma revolução. Trata-se
de um modo de redistribuição, ainda
que com intenções egoístas a
imperarem;
 “Seguro-rendimento”, que consiste
numa visão contratualista, parecida
com a de John Rawls, na medida em
que há um “véu de incerteza” (visão
contratualista positiva), defendida por
James Buchanan. Este refuta a proposta
de Rawls, considerando-a utópica, dado
ser impossível haver abstracção. Por
outro lado, defende que a
redistribuição parte de contratos
sociais, assinalando que mesmo não
havendo abstracção, existirá alguma
redistribuição contra a incerteza dos
indivíduos e seus riscos. Note-se que a
Segurança Social se revela um “seguro”
contra o risco;
 Dado que os políticos ambicionam a
sua manutenção no poder, podem, de
facto, prometer programas
redistributivos para se cristalizarem nos
órgãos de soberania. Todavia, com o
aumento das classes médias, tende-se a
destruir os serviços de Segurança Social,
de acordo com uma visão egoísta.1

1
Aconselha-se a consulta, no sítio da Direcção-Geral do Orçamento, da Conta Geral do Estado 2008
(http://www.dgo.pt/cge/cge2008/index.htm) para verificar que a maior parte do dinheiro é aplicado na
função redistribuição, após a sua obtenção por via da tributação sobre os mais ricos. Estas receitas são
aplicadas em bens mistos fornecidos pelo Estado, como a Educação e a Saúde, de modo a garantir o seu
acesso a todos os cidadãos.
ECONOMIA POLÍTICA II

(Terça-Feira, 16 de Março de 2010, 9h30-11h – Teórica)


 Função estabilização
o Encontrava-se em decadência, sendo progressivamente
abandonada, até ao surgimento da crise económico-
financeira internacional que ainda atravessamos;
o Ópticas para o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB)
 Óptica do produto (produção total gerada num ano);
 Óptica do rendimento (totalidade dos rendimentos
obtidos num ano)2;
 Óptica da despesa (aplicação do rendimento).
o Na óptica da despesa, o Estado tem duas variáveis
fundamentais: o consumo público (despesas do Estado para o
seu funcionamento) e o investimento público. Isto comprova
que o Estado influencia a aplicação do PIB, como também o
rendimento disponível das famílias com o lançamento de
impostos e a concessão de subsídios, isto porque o Estado
goza de instrumentos para influenciar o rendimento das
famílias e, por consequência, o mercado;
o Com a acção do Estado, pode ser alterada a procura no
mercado e, por reacção, a oferta. Todas as empresas a
laborar estão, directa ou indirectamente, a trabalhar para o
Estado, influenciando a procura e a oferta no mercado;
o Note-se que o Estado goza de instrumentos que influenciam a
procura agregada, apesar de estar sujeito a uma restrição
orçamental, não estando, por isso, imune a situações de
risco, avaliadas pelas agências de rating, no que concerne à
capacidade de pagamento das suas dívidas. O facto de o
Estado se estar constantemente a endividar vai conduzir ao
aumento das taxas de juro dos títulos de dívida emitidos;

2
Note-se que a partir do cálculo do rendimento geral, podemos conhecer o rendimento disponível das
famílias
o Considere-se, igualmente, que o Estado não pode alterar a
procura e a oferta a seu bel-prazer, mesmo usufruindo de
moeda própria (situação mais propícia ao aumento
vertiginoso de dívida, o que conduziria ao aumento da
emissão de moeda e à inflação). A alteração do valor da
moeda conduz ao descrédito sobre a mesma e,
consequentemente, tal realidade traduz-se num drama para
o Estado em relação ao elemento fiduciário. Portanto, o valor
da moeda está indiscutivelmente dependente do crédito na
mesma.
o No que concerne à realidade portuguesa, não gozamos da
possibilidade de aumentar a moeda em circulação ou
desvalorizá-la, visto que a política económica está sob a
alçada do Banco Central Europeu, sediado em Frankfurt;
o Teoricamente, o Estado não teria de equilibrar a Economia,
pois os próprios mercados tendem a criar uma estabilização
da mesma, no que respeita à oferta e à procura. Também, no
que concerne ao mercado de trabalho, a mesma lógica dever-
se-ia aplicar. Todavia, na prática, não é isto que sucede,
havendo grandes desajustamentos entre a oferta e a procura,
o que gera grande sofrimento aos indivíduos, tal como
defendeu John Maynard Keynes. Tal facto impõe a
intervenção do Estado, quando a oferta agregada for inferior
à procura ou, pelo contrário, a procura agregada for inferior à
oferta. O keynesianismo, teoria económica consolidada por
Maynard Keynes e que surgiu após a Crise de 1929 nos EUA
(também conhecida como “Grande Depressão), foi aplicado
por Adolf Hitler, responsável pelo “milagre económico” após
a I Guerra Mundial.
 Quando a procura é superior à oferta, gera-se a subida
geral dos preços – inflação –, fenómeno maléfico que
significa que a moeda está a perder valor face aos bens,
sendo o consumidor incentivado a consumir o mais
depressa possível para a moeda não perder mais valor.
A inflação acaba por beneficiar os devedores, que são
incentivados a pagar mais tarde, dada a disparidade
entre o valor real da moeda e o valor nominal,
promovendo-se assim o incumprimento. Ora tal facto
conduz a uma situação desfavorável para os credores,
aumentando também o risco da economia em causa,
assolada por este fenómeno, e diminuindo a confiança
dos investidores. Portanto, a inflação deve ser
eficazmente combatida, devendo o Estado diminuir a
procura agregada, fazendo subir os impostos dos
particulares ou aumentando o consumo do Estado;
 Por outro lado, quando a procura é inferior à oferta,
gera-se o fenómeno do desemprego, com a
diminuição, por parte das empresas, dos seus
trabalhadores, dada a diminuição das receitas. Com o
desemprego, diminui consequentemente o poder de
compra dos particulares. Tal sucedeu aquando da Crise
de 1929, motivada por crise de superprodução e pela
especulação bolsista. O Estado tentará aumentar a
procura, aumentando o consumo e investimento
públicos ou reduzindo os impostos.

ECONOMIA POLÍTICA II

(Quinta-Feira, 18 de Março de 2010, 9h30-11h – Teórica)


 Função estabilização (continuação)
o A função estabilização não se confunde com as políticas
estruturais (por exemplo, baixa qualificação da mão-de-obra),
que não dependem de crises ou expansões cíclicas, ao
contrário da função estabilização, que se aplica em períodos
expansionistas ou de recessão, que se sucedem ciclicamente,
de acordo com a oferta e a procura existente no mercado. A
intervenção do Estado visa auxiliar o equilíbrio de mercado,
procurando combater a inflação e o desemprego. No caso de
desemprego, verifica-se uma situação de ineficiência do
factor de produção trabalho. Actualmente, vivemos num
período de estagnação, em que se impõem medidas
macroeconómicas, como:
 A manutenção ou descida de impostos, para não
diminuir o poder de compra;
 Aumentar os gastos em consumo e investimento
público.

Todavia, tais medidas só seriam perfeitamente exequíveis em


economias fechadas. Também o facto de a maior parte dos
produtos consumidos pelos portugueses serem de origem
estrangeira não incentiva as empresas nacionais. Importa
acrescentar que Portugal se encontra condicionado ao
cumprimento das regras de livre concorrência no espaço UE.
Por este motivo, exige-se que exista coordenação de políticas
entre os Estados-membros, que vivem em igual situação (por
exemplo, Espanha e Alemanha, dos quais dependemos
bastante). Portanto, a independência governamental do
nosso país é, na prática, reduzida.
Ao contrário do anteriormente proposto, o Programa de
Estabilidade e Crescimento (PEC) em discussão prevê,
precisamente, o contrário daquelas medidas, dado que
promove a subida dos impostos e a diminuição da despesa
pública. Isto justifica-se pela existência de um problema de
Finanças Públicas verificável no Estado Português. Assim
sendo, a diminuição de impostos conduziria à diminuição da
receita do Estado, o que impede a prossecução dos
investimentos públicos previstos. Portanto, dada a
deterioração das contas públicas, o nosso país não pode
exercer a função estabilização, tendo como prioridade a
política orçamental, dado o risco de aumento do preço do
factor de produção capital para o Estado e empresas
nacionais. Deste modo, se Portugal quiser preservar o tecido
económico, tem necessariamente que abandonar a função
estabilização e, consequentemente, exigir maiores sacrifícios
dos portugueses. Por outro lado, aquando do despoletar da
crise económica internacional, a Balança de Transacções
Comerciais não apresentava um superávit que atenuasse os
efeitos da crise.
Apesar dos empregos existentes por ocupar, a visa europeísta
sobre a dignidade do trabalhador leva a que um qualquer
emprego não seja aceite, o que não é compreensível numa
perspectiva economicista (visão da eficiência), prevalecendo a
equidade.
Conclui-se, assim, que a função estabilização implica a
existência de recursos disponíveis.
o Efeito multiplicador
 Permite-nos explicar a existência de crises cíclicas;
 Com um aumento do rendimento, temos um aumento
do consumo (C) e da poupança (S) – as designadas
propensões marginais do consumo e da poupança;
 O aumento do consumo motiva o aumento das vendas
das empresas, o que, por seu turno, conduz ao
aumento dos preços e investimentos. Ora, isto leva a
que ocorra um aumento dos lucros das empresas, que
passam a captar mais trabalhadores, aumentando os
seus salários (W). O aumento dos salários permitirá que
o rendimento destes indivíduos cresça;
 O efeito multiplicador pára com a diminuição dos
recursos disponíveis, o que provoca, em consequência,
a diminuição da produção, até alcançar a LLFP,
acabando a possibilidade de aumento dos salários e
investimentos, apenas se mantém o aumento dos
preços. Com o aumento dos preços, verificar-se-á uma
diminuição do poder de compra, ocorrendo o efeito
multiplicador ao contrário, com a diminuição do
rendimento, à excepção da variação de preços;
 O efeito multiplicador gera um ciclo com dois
movimentos contrários. Isto justifica a existência de
crises cíclicas;
 Todavia, a um dado momento, a empresa necessita de
reinvestir, contando com apoios do Estado. Também a
variável “expectativa” pode incentivar o consumidor a
adquirir produtos. A alteração de comportamentos dos
agentes económicos depende da variável confiança.
 Também o Estado pode gerar um efeito multiplicador
com o(a):
 Diminuição de impostos (T);
 Aumento dos investimentos públicos (I);
 Aumento dos gastos públicos (G)
o Estas duas últimas acções constituem um
apoio às empresas nacionais e promovem
a criação de empregos. Ora, este último
efeito beneficiará o aumento do
rendimento disponível das famílias
abrangidas.

o Efeito acelerador (princípio de aceleração)


 Funciona ao mesmo tempo que o efeito multiplicador
(relação de associação);
 O efeito acelerador parte de um aumento do consumo
(C). De acordo com a perspectiva/expectativa dos
empresários:
 Se temporário: não há acelerador/ investimento;
 Se durar largo tempo: há acelerador /
investimento.
o Havendo acelerador/investimento, que
implica a injecção de um elevado
montante, estarão em expectativa
sucessivos aumentos de consumo;
o Todavia, se o aumento do consumo no ano
seguinte for abaixo das expectativas, há
lugar a uma estagnação do investimento.
Isto revela uma grande sensibilidade da
variável “investimento”, ao contrário da
variável “consumo”, que é relativamente
estável. O investimento varia em função
da confiança;
o Se, num ano seguinte, se verifica a queda
de 10% do investimento, há uma
aceleração da crise, dada a quebra
vertiginosa da confiança – efeito
aceleração da quebra da Economia (o
mesmo sucede com uma evolução
positiva);
o O grande problema da evolução da
Economia é a imprevisibilidade da
mudança do efeito aceleração. Ora isto
revela a dificuldade colocada ao Estado
para definir a sua política
macroeconómica, tal como sucedeu com a
política do Banco Central Europeu (BCE)
antes da crise.

o Riscos da Política de Estabilização


 Atraso de conhecimento – imprevisibilidade da
inversão de ciclo, não o fazendo com antecedência,
correndo o risco de ser uma política errada;
 Atraso de instauração – atraso de iniciação da política
de estabilização, sendo que uma diferença temporal
pode-se revelar decisiva;
 Atraso de eficácia – mesmo depois de tomada a
decisão, os seus efeitos só se fazem sentir bastante
tempo depois, atendendo às dificuldades de
implementação;
 Deterioração das Finanças Públicas – a política de
estabilização normalmente deteriora as Finanças
Públicas, num período de recessão ou expansão,
atendendo também ao facto de os governantes, na
tentativa de manter o poder, não adoptarem medidas
impopulares (ex: aumento de impostos), de acordo
com a vontade da sociedade. Não pretendendo os
Estados agirem de acordo com as necessidades, impõe-
se a decisão tomada e imposta pelo BCE.

o A perda de confiança no Estado leva a que as políticas de


estabilizam não surtam efeito;

o Políticas de estabilização para o Desemprego:


 O desemprego cíclico é abrangido por estas políticas, o
que não sucede com o desemprego estrutural.
Também o desemprego friccional é, de algum modo,
influenciado pelas crises cíclicas, mas trata-se de um
problema estrutural relacionado com a falta de
formação do factor de produção trabalho.

o Políticas de estabilização para a Inflação:


 A subida dos preços pode relacionar-se com um
período de expansão da procura ou pelo aumento do
preço das matérias-primas (inflação-custos). Neste
segundo caso, não é possível aplicar a função
estabilização e o Estado não intervém. Não mexe na
procura agregada e contacta os empresários para
diminuir os salários dos trabalhadores e dos próprios –
acordo de concertação social. A diminuição dos custos
de produção do factor trabalho permite resistir ao
aumento dos preços das matérias-primas, podendo
contudo as empresas continuar a diminuir os seus
trabalhadores. Isto conduz a uma situação de
estagflação3.

3
Estagflação é um termo criado nos anos 70 para definir uma situação em que se verifica a coexistência
de elevado desemprego de factores (estagnação) e de elevadas taxas de inflação. A explicação para uma
situação deste tipo encontra-se no facto do processo inflacionário ser caracterizado por alguma inércia,
ou seja, a partir do momento em que é despoletado o processo inflacionário verifica-se uma resistência
para que este termine.
o A política orçamental do Estado é defendida por Robert
Mundell, quando se verifica uma situação de recessão, não
devendo contudo ser utilizada numa situação de inflação. Em
alternativa, deve-se optar por:
 Concertação social;
 Política monetária (no caso português, da
responsabilidade do BCE). A política monetária
contraria a expansão da Economia, com o aumento da
taxa de juro. O contrário aplica-se numa situação de
auxílio à expansão da Economia, isto apesar de os
bancos fazerem aumentar o prémio de risco (spread).4

o Mesmo que o Estado não exerça conscientemente uma


política de estabilização, através das outras duas funções
(afectação e redistribuição) ocorre uma estabilização
automática. Um exemplo disto é a Segurança Social, que
recolhe rendimentos dos trabalhadores e que, com o
crescimento do emprego, esta apresenta um superávit. Pelo
contrário, numa situação de elevado desemprego, esta passa
por um período de recessão.

ECONOMIA POLÍTICA II

(Quarta-Feira, 24 de Março de 2010, 14h30-16h – Teórica)


 A acção social do Estado ou a função redistribuição revela-se a mais
importante acção do Estado. Como exemplos desta acção, temos:
o Concessão de subsídios de desemprego e de pensões de
reforma;
o Fixação de rendas mais baixas para os mais desfavorecidos;
o Criação do rendimento social de inserção;
o Definição da carga fiscal proporcional à capacidade
económica.

4
A utilização da política cambial para aumentar as exportações já não é possível com a adopção do euro
no mercado comum.
 Não podemos utilizar a medida de preços correntes para medir o
valor da produção num determinado ano, já que se revela
enganador. Daí utilizar-se a medida de preços constantes;
 A partir de meados do século XX, os níveis de produção de riqueza
nacionais dispararam. De todo o modo, verificaram-se ciclos
económicos de expansão, como também de recessão. A função
estabilização procura que os momentos de expansão sejam
contínuos. Também neste período, verifica-se um aumento da
dívida pública e da despesa primária (não inclui os juros da dívida
pública), em % de PIB. A despesa pública chegou a corresponder a
70% da riqueza gerada. Isto obrigou à contracção da dívida pública,
que hoje é oficiosamente superior a 100%. Nota-se, portanto, um
aumento dos gastos do Estado nas três funções que exerce;
 Este fenómeno de crescimento das despesas efectivas no nosso país
também ocorreu nos outros países desenvolvidos. O aumento do
significado destas despesas em relação ao PIB (que pode ser gasto
pelo Estado ou pelo sector privado) revela um maior chamamento
por parte da população ao Estado. Tende-se, assim, a verificar um
maior peso da intervenção do Estado na Economia, que, apesar de
tudo, caminha para estagnar;
 Despesas públicas do Estado Português:
o Despesas correntes em bens e serviços (principal despesa);
o Juros da dívida pública (têm-se agravado);
o Formação bruta de capital fixo (investimento estável, com
tendência para diminuir).
 Isto revela um crescimento muito grande da intervenção do Estado
na Economia de Mercado;
 Análise da Conta Geral do Estado 2008
o Principais despesas do Estado são em5:
 Administração directa – organismos que dependem
directamente do Estado;
 Fundos e serviços autónomos – administração indirecta
com autonomia para gerar receita própria;

5
Vide «http://www.dgo.pt/cge/cge2008/CGE_2008_vol1.pdf» (pág. 15)
 Administração central e Segurança Social – cerca de 70
mil milhões de euros.

o Receita gerada pela Administração Central e Segurança


Social6 - 64 mil milhões de euros;
o Peso do PIB na despesa7 - superior a 50%;
o Áreas de maior intervenção da Administração directa8:
 Funções gerais de soberania (14%);
 Funções sociais, como Educação e Saúde (61%)
 Revela que vivemos num Estado Social orientado
para a redistribuição.
 Funções económicas, de apoio à Economia (3,8%);
 Outras funções (20%).

Nota-se uma ineficiência da aplicação dos gastos na


qualidade dos serviços sociais.

 Tributação
o Corresponde ao custo, para os cidadãos, das despesas do
Estado. A tributação não é a única receita do Estado, mas é a
mais importante;
o Na lição de Teixeira Ribeiro, o imposto é definido como uma
“prestação pecuniária ou patrimonial, coactiva e unilateral,
sem o carácter de sanção, estabelecida pela Lei ou exigida
pelo Estado e outro ente público, com vista à realização de
fins públicos e ainda tendo objectivos de ordem económico-
social”, uma vez que se trata de uma prestação em dinheiro
ou equivalente, cujo montante é estabelecido na lei ou por
força de lei, a que não corresponde qualquer contraprestação
por parte do Estado (pelo menos em sentido sinalagmático e
imediato) e desprovido da natureza de penalidade (como, v.g.
as coimas ou as multas). Como exemplo de imposto com

6
Vide «http://www.dgo.pt/cge/cge2008/CGE_2008_vol1.pdf» (pág. 15)
7
Vide «http://www.dgo.pt/cge/cge2008/CGE_2008_vol1.pdf» (pág. 22)
8
Vide «http://www.dgo.pt/cge/cge2008/CGE_2008_vol1.pdf» (pág. 52)
objectivos de ordem económico-social, temos os impostos
especiais de consumo (sobre bebidas alcoólicas ou tabaco,
por exemplo) e o Imposto de Pigou;
o O imposto distingue-se da multa, dado que esta tem carácter
de sanção, como também se diferencia da taxa, visto que
esta constitui uma espécie de preço, impondo uma relação
bilateral, com benefícios associados. Exemplos de taxas são as
portagens ou a taxa sobre a recolha de lixo urbano.
o O património do Estado (bens públicos e privados) é
constituído por uma diversidade de elementos, tais como
participações (acções/títulos financeiros) em empresas,
recursos ambientais (como eucaliptos, para a indústria de
papel e celulose) ou imóveis;
o Os impostos representam cerca de 75% das receitas do
Estado e podem agrupar-se em:
 Impostos directos – incidem directamente sobre o
rendimento apurado para um agente económico
(sujeito passivo) num determinado período de tempo,
seja ele dos indivíduos, seja das empresas. São mais
visíveis, através dos recibos de vencimentos. Em
Portugal, temos como mais importantes impostos
sobre o rendimento:
 IRS (Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Singulares);
 IRC (Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Colectivas)

 Impostos indirectos – não incidem sobre o rendimento


mas antes sobre a sua utilização, ou seja sobre o
consumo de bens. Representam a maior receita fiscal.
Não são muito redistributivos, porque são praticados
iguais impostos sobre bens adquiridos por todos os
indivíduos, sejam eles ricos ou pobres. Tem-se
procurado auxiliar determinados sectores económicos,
com a diminuição do imposto sobre determinados
bens. São exemplos de impostos indirectos:
 IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado);
 ISP (Imposto sobre os Produtos Petrolíferos);
 ISV (Imposto sobre Veículos);
 IT (Imposto sobre o Tabaco).

Os impostos indirectos geram a chamada “anestesia


fiscal”, pois não há grande reacção popular sobre a
alteração do mesmo. Trata-se de impostos mais
facilmente maleáveis e com menor impacto sobre o
eleitorado. Por outro lado, revela-se um tipo de
impostos injusto, porque não atende à condição
económica dos indivíduos, efectuando iguais alterações
para todos. De todo o modo, revela-se um tipo de
impostos mais benéfico para a actividade empresarial,
em relação à tributação em IRC.

Relativamente à Segurança Social, as empresas e


instituições têm de entregar uma parte dos salários
pagos aos seus trabalhadores ao Estado, para a
Segurança Social. Também uma parte do salário do
trabalhador é entregue para a Segurança Social. Se a
Segurança Social fosse um imposto seria directo, mas
não o é, pois estamos perante uma relação bilateral
entre o trabalhador e o Estado, pois o trabalhador será
beneficiado futuramente. Já a empresa não será
beneficiada, podendo dizer-se que, na relação entre
empresa e Estado, estamos perante um imposto
directo. O sistema de Segurança Social é um sistema de
redistribuição que tem sofrido uma significativa
reforma, tendo em vista a manutenção da sua
viabilidade. Em termos normativos, a Segurança Social
é um imposto, mas em termos práticos não é encarado
popularmente como tal, dado que existe a noção que a
dedução que se efectua para a Segurança Social
constitui uma necessidade para a sustentabilidade da
mesma.

o Com o desenvolvimento verificado a partir da segunda


metade do século XX, também se denotou o aumento da
carga fiscal para suportar a despesa gerada;
o Análise da Conta Geral do Estado 2008
 Resultado da Conta do Subsector Estado9;
 Receita dos Impostos Directos – 15 mil milhões de
euros10;
 Receita dos Impostos Indirectos – 20 mil milhões de
euros, sendo 13 mil milhões de euros advêm do IVA11;
 Contribuições para a Segurança Social – 15 mil milhões
de euros;
 Montante que o Estado recebe em participações em
empresas – 660 milhões de euros12;
 Juros dos défices orçamentais acumulados (Juros da
Dívida Pública) – 3 mil milhões de euros (3% do PIB)13;
 Ajudas da UE (fundos comunitários) deduzidas ao
dinheiro entregue a este órgão supranacional – 2300
milhões de euros14.
o Princípios em que se baseiam os impostos:
 Princípio do benefício – indica que cada um deve pagar
os impostos de acordo com o benefício que retira da
intervenção pública;
 As taxas, tarifas e licenças estão associadas ao
princípio do benefício, sendo emitidas pelos
Governos Regionais e pelas autarquias locais
(exemplos: tarifa sobre o consumo de água e
licença emitida para construir um imóvel);
 Em termos económicos, o princípio do benefício
revela-se mais eficiente na relação entre
9
Vide «http://www.dgo.pt/cge/cge2008/CGE_2008_vol1.pdf» (pág. 37)
10
Vide «http://www.dgo.pt/cge/cge2008/CGE_2008_vol1.pdf» (pág. 97)
11
Vide «http://www.dgo.pt/cge/cge2008/CGE_2008_vol1.pdf» (pág. 102)
12
Vide «http://www.dgo.pt/cge/cge2008/CGE_2008_vol1.pdf» (pág. 113)
13
Vide «http://www.dgo.pt/cge/cge2008/CGE_2008_vol1.pdf» (pág. 134)
14
Vide «http://www.dgo.pt/cge/cge2008/CGE_2008_vol1.pdf» (pág. 139)
contribuinte e Estado, pois leva a adoptar
comportamentos mais racionais, permitindo que
o Estado tenha menores despesas em sociedades
menos desenvolvidas;
 Garante uma racionalidade do contribuinte, na
medida em que paga mediante a necessidade
que tem de consumir algo. Ainda assim, este
princípio tem como desvantagem a
impossibilidade de fazer redistribuição. Ora, é
esta desvantagem que justifica que grande parte
da acção do Estado esteja assente no princípio
da capacidade contributiva. Quando pode, o
Estado aplica o princípio do benefício;
 O princípio do benefício é aplicado pelo Estado
no lançamento de taxas.
 Princípio da capacidade contributiva – cada indivíduo
deve ser tributado de acordo com a sua capacidade
económica, independentemente dos benefícios da
intervenção pública (função redistributiva). Trata-se de
um princípio fundamental, que se revela mais
importante do que o anterior.
 Quando vigora o princípio da capacidade
contributiva e a população é pobre, há uma
ineficiência, porque o Estado não consegue
responder a todas as necessidades;
 Trata-se de um princípio mais justo mas menos
eficiente, pois os indivíduos que mais consomem
não se preocupam com o facto de o Estado estar
a gastar demais;
 Quando dissociamos os consumidores daqueles
que suportam os custos, perde-se a eficiência,
porque, quando alguém paga o que o outro
consome, há uma tendência para se consumir
para além das necessidades, não se verificando o
princípio da racionalidade;
 O princípio da capacidade contributiva é aplicado
pelo Estado para lançar impostos.

ECONOMIA POLÍTICA II

(Quinta-Feira, 25 de Março de 2010, 9h30-11h – Teórica)


o Embora os impostos sejam uma grande fonte de receita, os
fundos e serviços autónomos também o são;
o O contribuinte normalmente não sabe até que ponto os
vários sectores públicos estão mal, tendo simplesmente uma
visão genérica. A população não tem noção da dimensão do
Estado, uma vez que ele se encontra ligado às mais diversas
entidades. É por isto que, muitas vezes, o Estado toma
decisões que se podem revelar prejudiciais para a população.
Esta, por seu turno, nada faz porque não se apercebe da
situação;
o Melhor fonte de receitas: impostos directos ou indirectos?
 Actualmente, são ambos. Contudo, o Estado apenas
opta por um. Alguns economistas defendem os
impostos sobre o consumo (impostos indirectos),
porque tributam somente o consumo, não tributando a
poupança. Por outro lado, os impostos sobre
rendimentos (impostos directos) penalizam a
poupança, prevalecendo o investimento;
 Os impostos sobre rendimentos apresentam uma
vantagem principal, que consiste no facto de se
conseguir distinguir a situação económica do sujeito
passivo, pois são impostos pessoais, tributando o
indivíduo. Já os impostos indirectos são penalizadores
dos mais pobres, pois não se consegue distinguir a
situação económica das pessoas. Trata-se de um
imposto real, que tributa as coisas, que se revela
menos apto à equidade.
 Rendimento ≠ Riqueza – os impostos sobre património
ou riqueza são residuais. Como exemplo destes
impostos, temos o IMI (Imposto Municipal sobre
Imóveis), que integra tudo aquilo que o imposto sobre
rendimento não abarca.

o Teoria da incidência fiscal


 Incidência dos impostos – perceber sobre quem incide
o imposto, quem “sofre” os custos do imposto.
 Jurídica/Legal – determinar quem vai entregar o
dinheiro ao Estado, quem é o sujeito passivo
 Económica – determinar quem suporta a carga
fiscal, os custos do imposto. É importante
determinar esta realidade, pois quando sei que
recai sobre mim, eu procedo à alteração do meu
comportamento.
o Nem sempre o sujeito que suporta a carga
fiscal é o sujeito passivo que tem de
entregar o dinheiro ao Estado.

 Equidade ou Igualdade
 Horizontal – sujeitos passivos em igual situação
devem ser tratados da mesma forma;
 Vertical – sujeitos passivos, em situação
diferente, devem ter tratamento diverso.
o Imposto proporcional cumpre equidade
vertical – com um imposto de 10%: um
indivíduo com rendimento de 100€, paga
10€ de imposto; um indivíduo com
rendimento de 1000€, paga 100€ de
imposto;
o Imposto progressivo (o imposto sobe à
medida que o rendimento é mais elevado)
cumpre equidade vertical – a um
indivíduo com um rendimento de 100€, é-
lhe aplicado um imposto de 5%; a um
indivíduo com um rendimento de 1000€,
é-lhe aplicado um imposto de 10%;
o Imposto regressivo (o imposto baixa à
medida que o rendimento é mais elevado)
cumpre equidade vertical – a um
indivíduo com um rendimento de 100€, é-
lhe aplicado um imposto de 20%; a um
indivíduo com um rendimento de 1000€,
é-lhe aplicado um imposto de 5%;
 O problema é saber qual a melhor
equidade vertical, o que varia de
sociedade para sociedade.
Normalmente, afasta-se o imposto
regressivo.

o O princípio da capacidade contributiva tem


que cumprir a equidade nas suas duas
vertentes (horizontal e vertical).

ECONOMIA POLÍTICA II

(Terça-Feira, 06 de Abril de 2010, 9h30-11h – Teórica)


 Metade da riqueza gerada no mercado é entregue ao
Estado sob a forma de impostos, na expectativa que o
Estado assegure serviços essenciais;
 Os impostos interferem na racionalidade do mercado,
pois vão afectar as decisões dos agentes económicos
(os impostos não são neutros), ainda que com as
mesmas necessidades. Há uma interferência sobre o
ponto óptimo do mercado, gerando-se custos de bem-
estar e uma perda para a sociedade. De todo o modo, a
sociedade aceita os impostos, dado que, apesar de se
perder eficiência, há ganhos de justiça social. Falamos,
aqui, de custo de bem-estar da sociedade, com o corte
de eficiência protagonizado pelos impostos, que são
um instrumento muito efectivo na alteração da
distribuição do rendimento no mercado;
 Os indivíduos exigem ao sistema fiscal do Estado que se
encontre a maior justiça social com o menor recurso
aos impostos, ou seja, do modo mais eficiente possível,
com o mínimo de perdas de bem-estar. Todavia, nota-
se, em diversos países, elevados níveis de impostos, em
que mais de metade da riqueza gerada é entregue ao
Estado, sem contrapartida directa;
 Incidência económica dos impostos – consequência da
aplicação dos impostos, no modo de reacção dos
indivíduos, isto é, a alteração das suas escolhas,
adaptando-as às suas possibilidades. Estas escolhas,
com a interferência dos impostos, vão surtir efeitos na
oferta e na procura do bem, traduzindo também
efeitos no consumo da quantidade do bem, podendo
não ser a mais eficiente.
 Imposto geral vs Imposto específico
 Imposto geral – incide sobre a generalidade dos
bens / rendimentos. Por exemplo: IVA, IRS,
Segurança Social;
 Imposto específico – incide sobre um bem
unicamente. Por exemplo: Imposto sobre o
Tabaco ou o Imposto sobre Bebidas Alcoólicas.

 Imposto ad valorem vs Imposto unitário


 Imposto ad valorem – há uma taxa que incide
sobre o bem ou serviço. Não há fixação do valor
a entregar por unidade, ao Estado. Não
considera as diferentes características do mesmo
tipo de bem, mas adapta-se aos diferentes tipos
de bens. Por exemplo: IVA;
 Imposto unitário – há fixação do número de
unidades monetárias a entregar ao Estado, por
cada unidade de bem. Ex: imposto sobre bens
petrolíferos (unidades a entregar por litro de
combustível).
o Se os bens petrolíferos fossem tributados
por um imposto ad valorem, haveria um
aumento substancial da receita do Estado
e um acréscimo penoso da carga fiscal
sobre os contribuintes. Por outro lado, não
seria possível prever as receitas geradas
com este imposto, dada a instabilidade do
mercado dos produtos petrolíferos. Daí
que, com um imposto unitário, a receita
do Estado apenas dependa da oferta e da
procura e não da variação de preços.
Trata-se de um imposto sobre bens
petrolíferos, em que não há harmonização
nos diferentes países.

 No caso de um imposto específico unitário sobre as


vendas:
 Atentando na figura III.5 do livro de referência,
verificamos que estamos na presença de custos
constantes de produção;
 Não havendo imposto, o valor praticado será a
intersecção da curva da procura com a curva da
oferta;
 Lançando o Estado um imposto unitário sobre as
vendas de cada unidade de produto:
o O vendedor apenas recebe a parte não
tributada (0,70 € de 1€, com taxa de 30%);
o Há uma alteração da curva da oferta de
mais 0,30 €, pois se antes o vendedor
tinha lucro 0, passa a ter prejuízo com o
imposto;
o Há uma alteração, correspondente, da
curva da procura dos consumidores, que
retrocede, passando o produto a custar
1,30 €;
o É o consumidor que assume o imposto
sobre as vendas do produto – carga fiscal
sobre o consumidor –, pois é ele que
entrega o dinheiro ao Estado;
o Todavia, se pretendermos fazer uma
análise económica global, teremos de
verificar os efeitos sobre os mercados,
relacionados com bens substitutos, que
são relativamente negligenciáveis.
Importa, sobretudo, fazer a análise do
equilíbrio parcial sobre o mercado directo;
o Perante um bem com procura rígida sem
substituto, os consumidores ainda se
predispõem mais a suportar o imposto.
Veja-se, por exemplo, o caso do imposto
sobre o tabaco;
o Com a incidência do imposto, os
consumidores ficarão mais pobres, salvo
se o Estado decidir redistribuir estes
rendimentos sobre os contribuintes;
o Receita fiscal com imposto compreendida
pelo espaço P2 – A – P1 – B (área sobre
unidades vendidas);
o A alteração do excedente do consumidor
foi P1 – A – P2 – D (perdas do consumidor),
podendo uma parte ser entregue ao
consumidor pelo Estado (redistribuição).
Ainda assim, há um custo de bem-estar do
imposto, representado pela área A-B-D,
espaço não compensado pelo Estado, o
que constitui uma perda dos
consumidores (de consumo e bem-estar).
Perante esta realidade, os contribuintes
ainda pretendem a existência de imposto,
por questões de equidade.

 No caso de um imposto específico unitário sobre o


consumo de um bem (suportado pelo consumidor):
 O consumidor tem de pagar, para além de 1 €, os
0,30€ que revertem a favor do Estado;
 Logo, o consumidor vai procurar menos,
adquirindo a quantidade Q2.

 Note-se que, se se impuser um imposto sobre os lucros


do empresário, este tenderá a diminuir os salários dos
trabalhadores, para compensar o prejuízo, sendo que,
assim, o imposto incidirá, na realidade, sobre os
trabalhadores;
 Aquando do lançamento de juros bonificados,
assumidos pelo Estado, para a aquisição da primeira
habitação pelos jovens, verificou-se que as
distribuidoras de imóveis aumentaram o preço delas,
apropriando-se dos lucros. Deste modo, deixam de
fazer sentido os juros bonificados. O mesmo sucedeu
com a possibilidade que o Estado concedeu de os
particulares efectuarem Planos Poupança Reforma
(PPR) privados, junto dos bancos e seguradoras. Neste
caso, as empresas distribuidoras aumentaram os custos
sobre estes produtos, ficando com os ganhos.

 No caso de um imposto específico unitário quando há


custos crescentes na produção:
 Com imposto específico unitário de 0,30€ sobre
o vendedor (curva da oferta), o novo ponto de
intersecção é P2 – Q2;
 P2 é menos que 1,30 €;
 P2 – T corresponde ao valor recebido pelos
vendedores, necessariamente inferior a 1 €,
sabendo que P2 é inferior a 1,30€ e T
corresponde a 0,30€;
 A diferença entre P2 e P1 é a parte suportada pelo
consumidor, isto é, a diferença entre aquilo que
paga agora e aquilo que pagava antes;
 A parte recebida pelo vendedor é P2 – T;
 A parte suportada pelo vendedor é P1 – (P2 - T);
 Excedente do consumidor perdido: A + B + C;
 Perda de bem-estar do vendedor: D+E;
 Custo (perda) de bem-estar da sociedade: C+E →
corresponde às unidades que se deixaram de
vender. Obtém-se esta área, pois resulta de
(Perda do Consumidor + Perda do Produtor) –
receita fiscal, correspondente a A+B+D;

 Com a alteração da inclinação da curva da


procura:
o Por efeito de elasticidade rígida
 O imposto sobre os vendedores leva
a que o consumidor suporte a parte
(P2 + T) – P1 e o vendedor suporte
uma diminuta parte;
 O custo de bem-estar é A+B+C.
o Por efeito de elasticidade elevada
 O vendedor recebia P1 e vai passar a
receber P2, assumindo grande parte
do efeito do imposto;
 O consumidor suporta apenas (P2 +
T) – P1;
 A perda de bem-estar é A+B+C.

o Há maior perda de bem-estar em


situações de elasticidade elevada;
o Em termos de eficiência, é melhor
tributar os bens com baixa elasticidade,
porque há menor perda de bem-estar.
Logo, quanto maior for a elasticidade da
procura, maior será o custo do bem-estar
sobre esse bem, com a aplicação do
imposto;
o Já em termos de equidade, a melhor
tributação seria sobre bens de
elasticidade elevada, o que, contudo, gera
maior perda de bem-estar da economia.

 Com a alteração da inclinação da curva da


oferta:
o Por efeito de elasticidade rígida
 Diminuta perda de bem-estar;
 O vendedor suporta a grande parte
do imposto
o Por efeito de elasticidade elevada
 Elevada perda de bem-estar;
 O vendedor suporta uma pequena
parte do imposto.

o Neste caso, estamos perante uma questão


de estatuto da empresa.

ECONOMIA POLÍTICA II
(Quinta-Feira, 08 de Abril de 2010, 9h30-11h – Teórica)
o O custo do bem-estar dos consumidores e
dos produtores é superior ao valor do
imposto;
o Dever-se-ia tributar mais os bens que
apresentam menor elasticidade e tributar
menos os bens que apresentam maior
elasticidade – lição de eficiência. Todavia,
do ponto de vista da equidade, em relação
aos consumidores, esta situação não é
favorável, dada a necessidade de consumo
de bens de 1.ª necessidade. Instala-se,
aqui, mais um conflito entre equidade e
eficiência;
o Os custos de bem-estar no mercado
existem com a variação de consumos dos
indivíduos, o que resultará também na
variação dos preços dos produtos sujeitos
a tributação;

 Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Físicas /


Singulares (IRS, sobre particulares) ≠ Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Colectivas / Jurídicas (IRC,
sobre empresas)
 Note-se que as empresas não usufruem da
utilidade do rendimento como um particular,
considerando alguns que, por isso, não deviam
ser alvo de tributação. Todavia, elas são
produtoras de rendimento, podendo adquirir
propriedade e devendo, por isso, ser tributadas;
 O IRC é um pagamento por conta dos sócios da
empresa, havendo lugar a uma dedução
específica na distribuição dos rendimentos, para
não haver lugar a uma dupla tributação. Há,
portanto, uma integração dos dois impostos.
Aplica-se, aqui, o critério da equidade
horizontal, havendo igual tratamento. A fonte
declarada de rendimento em IRC, tendo já
havido pagamento em IRS, é passível de dedução
(não na totalidade), para não haver pior
tratamento destes face aos assalariados. Mas,
como referido, não há integração plena dos
impostos, pois não é possível a dedução na
totalidade. Ainda assim, são apresentadas, por
alguns autores, propostas de integração plena
dos impostos. Há territórios, em plena situação
de concorrência internacional, em que não há
lugar a tributação das empresas, conhecidos por
“paraísos fiscais”;
 O facto de, nalguns países, a taxa deduzida (taxa
média) – no caso português é de 18% - ter vindo
a diminuir prende-se com a necessidade de, em
plena concorrência internacional, retirar esta
carga fiscal às empresas, tornando-as mais
competitivas. O IRC revela-se um imposto que
tende a desaparecer. A maior parte das
empresas em Portugal não paga IRC, pois
apresentam lucro zero ou negativo. Desta
realidade, exceptuam-se as grandes empresas
cotadas em bolsa. Há necessidade de tornar o
IRC um simples pagamento por conta, ainda que
conduza a uma diminuição da carga fiscal. Pode-
se colmatar esta perda de receita fiscal com
maior tributação em IRS, IVA ou contribuição
para a Segurança Social;
 Em pleno contexto de concorrência
internacional, podemos referir que o custo da
procura se revela grande, com a rivalidade de
empresas estrangeiras, o que pode conduzir à
falência das empresas nacionais;
 Sendo o IRS aplicado na aquisição de produtos
ao mercado externo, um aumento do mesmo
conduzirá à retracção do consumo e,
consequentemente, à diminuição das
importações. Obviamente que, esta tributação
não pode ser muito pesada, devendo ter como
objectivo a redução da aquisição, pelos
portugueses, de produtos estrangeiros. Recorde-
se que os portugueses adquirem,
maioritariamente, produtos estrangeiros;
 A influência governamental na motivação de
uma política de concorrência das empresas
portuguesas face ao exterior é diminuta. Note-se
que, sendo a economia portuguesa
maioritariamente dominada pelos serviços, há
uma necessidade de também desenvolver o
sector primário e o sector secundário, dada a
relação de interdependência.

 Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Físicas


o É erradamente designado por imposto
único, dado existir uma dupla ou tripla
tributação. Esta designação prende-se com
o facto de se integrar todas as fontes de
rendimento;
o Cálculo deste imposto
 Há lugar a um englobamento de
todos os rendimentos, definindo-se
posteriormente a taxa aplicável.
Contudo, o Estado permite-nos
realizar algumas deduções fiscais
(normalmente por agregados
familiares), por exemplo no caso de
aquisição de computadores,
instalação de painéis solares ou
subscrição de Planos Poupança
Reforma (PPR). Assim, a taxa incide
sobre o rendimento colectável;
 Em função da actual crise
internacional, haverá lugar à
diminuição das deduções
permitidas;
 Revela-se difícil avaliar a riqueza
gerada por um indivíduo, pois pode
haver lugar a variação do valor do
bem, em função de determinadas
circunstâncias. Veja-se, por
exemplo, os casos de imóveis, cujo
valor ascende significativamente,
por inclusão no Plano Director
Municipal. Nestas situações, revela-
se difícil ao Estado avaliar os
rendimentos produzidos pelo
indivíduo, por vezes por falta de
comprovativo;
 Por outro lado, em função de
determinada época, sai uma nova
Lei de Enquadramento Orçamental,
que altera as deduções possíveis;
 O Imposto sobre o Rendimento de
Pessoas Físicas começou por ser um
imposto proporcional, sendo
depois um imposto linear e é
actualmente um imposto
progressivo;
 O imposto regressivo cumpre o
princípio da capacidade
contributiva, sendo, contudo,
considerado injusto pela sociedade
e, por isso, impopular;
 O imposto proporcional acaba por
ser um imposto regressivo
“escondido”;
 O IVA deveria ser um imposto
progressivo, pois acaba por
beneficiar os mais ricos, o que
conduz a uma situação de injustiça
social;

 Taxa marginal ≠ Taxa média


 Taxa marginal de imposto –
em cada escalão de
rendimento;
 Taxa média (efectiva) de
imposto – rendimento sobre
carga fiscal.

o Com imposto
proporcional – taxa
marginal e taxa média
são coincidentes. A taxa
média é constante com
o aumento de
rendimentos;
o Com imposto
progressivo – taxas
marginais crescentes,
com rendimentos
crescentes.
o Estrutura das taxas de tributação do
imposto sobre o rendimento de pessoas
físicas

Escalões de Mais de
0-1000 1000-2000
Rendimento 2000
Carga Fiscal
Imposto
Taxa Média
proporcional
Taxa Marginal
Carga Fiscal
Imposto
Taxa Média
progressivo
Taxa Marginal 5% 10% 25%
Carga Fiscal
Imposto
Taxa Média
regressivo
Taxa Marginal

 Com imposto progressivo, para


uma família com rendimento 2000:
 Nos primeiros 1000, paga:
1000 X 5% = 50
 Nos segundos 1000, paga:
1000 X 10% = 100
 Assim, a taxa média efectiva
é: (50+100) / 2000 = 7,5%

 Com imposto progressivo, para


uma família com rendimento 3000:
 Nos primeiros 1000, paga:
1000 X 5% = 50
 Nos segundos 1000, paga:
1000 X 10% = 100
 Nos terceiros 1000, paga:
1000 x 25% = 250
 Assim, a taxa média efectiva
é: (50+100+250) / 3000 =
13,3%

 Deste modo, comprovamos que


com um imposto progressivo, a
taxa média é sempre crescente,
ainda que a taxa marginal não
tenha rendimento crescente.

o Estrutura das taxas de tributação do


imposto sobre o rendimento de pessoas
físicas (outro exemplo)

Escalões de Mais de
0-1000 1000-2000
Rendimento 2000
Carga Fiscal
Imposto
Taxa Média
proporcional
Taxa Marginal 10% 10% 10%
Carga Fiscal
Imposto
Taxa Média
progressivo
Taxa Marginal 5% 10% 10%
Carga Fiscal
Imposto
Taxa Média
regressivo
Taxa Marginal 15% 5% 5%

 Com imposto progressivo, para


uma família com rendimento 3000:
 Nos primeiros 1000, paga:
1000 X 5% = 50
 Taxa média com rendimento
1000: 50/1000 = 5%
 Nos segundos 1000, paga:
1000 X 10% = 100
 Taxa média com rendimento
2000: (50+100) / 2000 = 7,5%
o Podemos constatar um
aumento da taxa
média, com o aumento
do rendimento (entre
1000 e 2000).

 Nos terceiros 1000, paga:


1000 x 10% = 100
 Taxa média com rendimento
3000: (50+100+100) / 3000 =
8,3%
o Com o aumento do
rendimento, houve um
aumento da taxa
efectiva.

 Com imposto regressivo, a taxa


média decresce com o rendimento.

 Incidência fiscal (aplicado às fontes


de rendimento do trabalho, na
maior parte tributadas em IRS)
 Mercado de trabalho com
oferta rígida (Figura III.12)
o Ponto de equilíbrio E;
o A curva da oferta de
trabalho pelos
trabalhadores é rígida
(esta situação aplica-se
a profissionais menos
qualificados);
o De E para A, com
deslocação da curva da
procura, há diminuição
do rendimento do
trabalhador;
o Com imposto
proporcional sobre o
rendimento a entregar
ao Estado, o montante
entregue por hora é
proporcional com o
rendimento;
o Com imposto
progressivo sobre o
rendimento do
trabalho, há sucessivas
diminuições do declive
da curva, com o ritmo
crescente do imposto.
Por exemplo: 0-1000 –
10%; 1000-2000 – 15%;
o Reacção rígida do
trabalhador, que
suporta a totalidade do
imposto;
o Não há perda de bem-
estar.

 Mercado de trabalho com


oferta elástica (Figura III.13)
o Ponto de equilíbrio E;
o Imposto sobre o
trabalhador, que vai
exigir um pagamento
superior ao
empregador,
correspondente ao
valor do imposto;
o Novo ponto de
equilíbrio H;
o A diferença entre H e A
(imposto) é suportada
pelo empresário (Wg-
W) e pelo trabalhador
(W-Wn);
o Se tivesse de ser o
empresário a entregar
o imposto, há
alteração na incidência
legal, mas não há
alteração na incidência
económica. Assim: Wg-
W é o imposto; Wg-W é
a parte suportada pelo
empresário; W-Wn é a
parte suportada pelo
trabalhador;
o Perda de bem-estar
dos empresários →
Wg-H-E-W;
o Perda de bem-estar
dos trabalhadores →
Wn-A-E-W;
o Perda de bem-estar da
Economia → (Wg-H-E-
W) + (Wn-A-E-W) –
(Wn-A-H-Wg). Ou, se
quisermos, a soma das
perdas de bem-estar,
subtraindo-se a receita
fiscal. Deste modo, se
conclui que a perda de
bem-estar da Economia
é A-E-H.

 Quanto mais elástica for a


curva da oferta, maior é a
parte de imposto suportada
pelo empregador. Daí que,
um trabalhador mais
qualificado possa negociar
muito melhor os salários,
passando a tributação ao
empresário.

ECONOMIA POLÍTICA II

(Terça-Feira, 13 de Abril de 2010, 9h30-11h – Teórica)


 Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Físicas
(continuação)
o O rendimento sobre o qual incide o
imposto não é o rendimento total bruto,
dadas as situações em que a Lei permite
efectuar deduções para isenção de
imposto (benefícios fiscais):
 Despesas de Saúde, de forma a
garantir o preceito constitucional de
acesso generalizado a cuidados
médicos, não excluindo ninguém
por motivos económicos;
 Despesas com dependentes a
estudar, no agregado familiar, como
um apoio à formação dos futuros
profissionais a laborar;
 Planos Poupança Reforma (PPR),
permitindo-se a dedução até certo
montante do valor investido;
 Aquisição de painéis solares,
incentivando-se a adopção de
energias renováveis;
 Donativo, até certo limite, para
instituições não lucrativas de
utilidade pública;
 Crédito à habitação para aquisição
do primeiro imóvel.

o Assim, a taxa marginal de imposto só


incide sobre uma franja do rendimento,
podendo atingir valores até 45%;
o Recorde-se, a propósito dos benefícios
fiscais, os subsídios que os indivíduos
recebem, nomeadamente abono de
família, subsídio de desemprego, subsídio
por deficiência, subsídio para aleitamento.
Também isto comprova que não é pago
imposto sobre todo o rendimento;
o A forma como está estruturado o Imposto
sobre o Rendimento de Pessoas
Singulares, que incide sobre a decisão dos
cidadãos na aquisição de todos os bens, é
bastante contestada, pois uma estrutura
com taxas marginais crescentes significa
que, um indivíduo que tenha atingido um
elevado nível de rendimento, se quiser
trabalhar mais tempo, o acréscimo de
rendimento vai implicar uma taxa muito
alta (até 65%). O esforço adicional é
desincentivado pelas taxas de crescimento
elevadas. Coloca-se a questão do trade-off
esforço (rendimento) vs lazer (efeito
substituição);
 Um imposto sobre o rendimento
não vai implicar substituições
significativas de bens, pois não há
bens que fiquem mais atraentes que
outro, entendendo-se, por isto, que
não havia custos de bem-estar,
desde que o Estado redistribuísse a
receita fiscal. Todavia, há um bem
que fica mais atraente e que não se
adquire no mercado e que se surge
como alternativa ao rendimento –
lazer. Assim, quanto maior a
tributação sobre o rendimento,
maior a atracção pelo lazer. A partir
de determinado nível de tributação,
o trabalhador opta pelo lazer. Nota-
se, portanto, que mais uma unidade
adicional de trabalho implicaria
enorme sacrifício;
 Se se verificar um desincentivo
generalizado, podem daí resultar
graves custos para a Economia;
 Ronald Reagan e Margaret
Thatcher defenderam a diminuição
das taxas marginais para a
obtenção de maior receita pelo
Estado: diminuindo a tributação
sobre os melhores remunerados, há
um incentivo ao trabalho. Ora,
deste modo, adicionam-se
unidades de trabalho e aumenta-se
a receita do Estado;
 A maior tributação vai desincentivar
os profissionais mais qualificados e
capazes a trabalharem;

 Os autores críticos deste imposto


propõem uma taxa marginal única
até 20% (imposto linear sobre o
rendimento – flat tax), continuando
progressivo e gerando-se maior
receita para o Estado, que
entregará os impostos aos mais
desfavorecidos, não deixando de
incentivar ao trabalho. Tal não se
verifica no nosso país, colocando-se
em causa a eficiência e não se
garantido a equidade. Com esta
proposta, visa-se combater o lazer,
que só se torna atractivo com o
aumento da tributação. Esta
proposta inclui uma zona de
imposto negativo (subsídio),
procurando acabar com os
benefícios fiscais anteriormente
referidos que, no entender destes
críticos, não vão ajudar as pessoas.
Justificam esta opinião com o facto
de, ao se concederem benefícios
fiscais, promove-se o aumento da
procura de bens, o que vai
aumentar o preço destes –
incidência económica.
Naturalmente, esta proposta só
beneficia os grupos de interesse
associados. Assim, os autores
defendem que todo o indivíduo
deve ser alvo de tributação, sendo
que os indivíduos com rendimentos
mais baixos não devem pagar
impostos (ou pagam uma taxa
diminuta), recebendo subsídios e,
pelo contrário, os que têm elevados
rendimentos devem pagar impostos,
não lhes sendo conferida qualquer
hipótese de dedução.
A ideia é a criação de uma estrutura
de imposto simples, com referência
àquele que se entende por
rendimento baixo e fixando-se uma
taxa única.

Flat tax
1.º Lado – Zona de subsídios
2.º Lado – Zona de imposto

Assuma-se a seguinte fórmula:


T = Rm – r x y i
ou
T = r (B – yI)
em que:
o O montante T é o imposto a
pagar ou o subsídio a receber;
o Rm é o rendimento mínimo;
o r é a taxa de imposto;
o yi é o rendimento do
indivíduo;
o B é o breakeven income
(rendimento a partir do qual a
transferência é igual a zero e
o imposto começa a ser
positivo)

De acordo com a fórmula


apresentada, podemos afirmar que
quanto maior o rendimento,
menores as transferências.

Assim, um indivíduo com


rendimento (yi) zero tem direito a
transferência, recebendo o
rendimento mínimo.

Rm – r x y i = 0

yi = Rn / r
sendo que o yi é o B (breakeven
income)

Exemplo:
Sabendo-se que:
yi = 0€
r = 50%
Está definido que todo o cidadão
com rendimento inferior a 800€ não
paga imposto.

Aplicando-se a fórmula:
T = r (B – yI)

tem-se que: T = 0,5 (800-0)


T = 400€ → valor da
transferência
Da mesma forma, com yi = 100€:
T = 0,5 (800-100)
T = 350€ → valor da transferência,
gerando um rendimento, após
transferência de 450€ (100+350)

Da mesma forma, com yi = 800€:


T = 0,5 (800-800)
T = 0€ → valor da transferência,
ficando com o rendimento 800€.

Já um indivíduo com yi = 1000€, o


valor da transferência será negativo
de 100€ ou, se quisermos, paga um
imposto de 100€, ficando com um
rendimento, após o pagamento do
imposto, de 900€.

Da mesma forma, com yi = 10000€:


T = 0,5 (800-10000)
T = -4600€ → valor do imposto,
ficando com o rendimento 5400€
(10000-4600).

A partir dos sucessivos exemplos,


verificamos que, a partir de uma
única taxa, obtêm-se valores de
transferência/imposto e rendimento
finais.

Para um indivíduo com yi = 1000€,


tem-se que a taxa média é:
100/1000 = 10%. Já para um
indivíduo com yi = 10000€, a taxa
média é: 4600/10000 = 46%.
Estamos na presença de um
imposto progressivo.

A fly tax revela-se um imposto


maleável, com alteração do
rendimento mínimo ou da taxa, de
acordo com as intenções de maior
ou menor redistribuição. Há lugar a
situações de zona de subsídio.
Estamos perante um imposto
progressivo linear.

o Temos incidido o nosso estudo sobre os


rendimentos de salário. Mas também
podemos considerar os rendimentos de
capital (oferta e procura de capital. De
acordo com a função rendimento, os
impostos sobre o rendimento
desincentivam o investimento;
o Com a perda do valor da moeda e a acção
do imposto sobre o rendimento, há um
rendimento significativamente menor, em
relação a dividendos;
o A tributação de investimento só tem lugar
quando há vendas – imposto sobre mais-
valias.
ECONOMIA POLÍTICA II

(Quinta-Feira, 15 de Abril de 2010, 9h30-11h – Teórica)


 Imposto sobre o Rendimento de Pessoas
Jurídicas ou Colectivas
o Incide sobre o rendimento (lucro) das
empresas, que resulta da sua actividade
(receitas – despesas);
o Este rendimento recai a favor dos sócios
ou accionistas da empresa;
o Em Portugal, não há integração total de
IRS e IRC, enquanto compensação por já
ter sido tributado em IRC;
o Trata-se de um imposto que está em crise,
dada a concorrência internacional a que as
empresas portuguesas estão expostas,
representando este imposto um
desincentivo à actividade empresarial,
visto que representa um custo acrescido.
Este imposto diminui a rentabilidade
prevista pelo empresário. Se Portugal,
exigindo elevada tributação, concorre com
Estados que impõem menores taxas de
imposto, isto culminará com a
incapacidade da empresa portuguesa
competir externamente. Daí que, tenda a
haver uma uniformização fiscal nos
diferentes países, com predomínio de
reduções da taxa deste imposto;
o Não podemos, contudo, efectuar uma
compensação de taxas marginais
praticadas em diferentes países, sem
atender à matéria colectável (rendimento)
gerado. Para além disto, importa
considerar os custos salariais,
amortizações (repartição do valor de
aquisição de equipamentos), custos
resultantes das matérias-primas e
despesas com energia eléctrica e restante
equipamento de apoio (custos
operacionais), empréstimos
obrigacionistas (custos financeiros),
variações do custo das matérias-primas
(perdas ou custos extraordinárias)
inesperadas. Assim como pode ter receitas
extraordinárias. Importa, portanto,
considerar a estrutura de custos e lucros
da empresa;
o Ao total de rendimentos, chamamos
resultado bruto, já os rendimentos
entregues aos accionistas designamos por
resultado líquido;
o Os custos financeiros podem assumir
posição primordial nos custos,
considerando os avultados preços da
aquisição de equipamentos e matérias-
primas, que podem dificultar o pagamento
do empréstimo;
o Se a Direcção-Geral de Contribuições e
Impostos (DGCI) de Portugal permitir a
dedução dos custos financeiros, temos
que, perante empresas semelhantes,
localizadas em Portugal e Irlanda, com
iguais rendimentos, o lucro tributado a
25% no nosso país corresponde aos
rendimentos subtraídos os custos
financeiros, sendo que na Irlanda incide
sobre todo o rendimento a taxa de 8%;
o Para incentivar o exercício da actividade
empresarial, poder-se-ia propor apenas a
tributação sobre receitas extraordinárias.
o Incidência económica (figura III.18)
 Verificação das diferenças entre
sector tributado (X, à taxa efectiva
de 8%, à diferença de 4%) e sector
não tributado (Y, à taxa efectiva de
4%, à diferença de 0%);
 Compara-se o rendimento (eixo das
ordenadas) com o capital investido
(eixo das abcissas), onde se integra
o factor de produção “trabalho”;
 Dx – curva da rentabilidade,
descendente, dada a maior
concorrência e a consequente
necessidade de investir mais capital;
D’X – curva respeitante ao
rendimento, aplicado o imposto;
 Partamos do princípio que o
rendimento de equilíbrio, nos dois
sectores, é de 8% e o imposto de
50%, no sector X. Ou seja, no sector
X, há obrigatoriedade de entregar
metade do rendimento ao Estado.
Se se verificar esta situação apenas
no sector X, há tendência para a
mudança do capital para o sector Y,
o que conduz a maior uso de capital.
Portanto, o impacto sobre o sector X
também influenciou o sector Y (não
dispomos de autocontrole da
Economia);
 Consequências sequenciais:
 Diminuição de salários do
sector X;
 Necessidade de mais mão-de-
obra no sector Y,
aumentando-se os salários e,
consequentemente, os custos
de trabalho;
 Custos de adaptação dos
trabalhadores do sector X ao
sector Y;
 Diminuição do bem-estar,
com a não utilização de
recursos em projectos com
rentabilidade entre 8% e
12%, em favor de projectos
com menor rentabilidade;
 Admitindo que o sector X
produz bens de 1.ª
necessidade e o sector Y
produz bens supérfluos: os
preços dos produtos de 1.ª
necessidade vão aumentar,
enquanto os preços dos
produtos supérfluos vão
diminuir. Isto gera um
problema de equidade;
 Admitindo que a produção do
sector X é de capital intensivo
(mecanizada, com pouca
mão-de-obra) e a do sector Y
é de uso intensivo de mão-de-
obra: há um aumento de
salários, dada a procura no
sector Y, o que não sucede no
sector X;
 Admitindo que a produção do
sector X é de uso intensivo de
mão-de-obra e a do sector Y é
de uso de capital intensivo: há
uma diminuição de salários e
baixos custos para os
empresários, ficando os
trabalhadores a suportar os
custos. Considerando-se esta
situação, seria fomentado o
desemprego. Tal situação
sucederia se não forem
garantidas condições sociais;
 Admitindo que o sector X é
Portugal e o sector Y a China,
compete ao nosso país
qualificar a sua mão-de-obra e
fomentar a criatividade
humana, para não haver uma
quebra de competitividade;

o Este imposto pode ser um instrumento de


política fiscal para obrigar as empresas a
adoptar comportamentos desejáveis. Se a
empresa se propuser a utilizar os seus
rendimentos em investigação científica,
pode o Estado fazer discriminação positiva
e permitir a dedução ao lucro tributável. O
mesmo se aplica à adopção de tecnologia
menos poluente;
o Amortização
 Quotas constantes – repartição a
cada ano, de igual modo;
 Acelerada – repartição desigual,
podendo, por exemplo, meter nos
primeiros anos uma maior fatia.
Pode beneficiar as empresas em
função do rendimento: se houver
maior lucro, haverá maior
pagamento e, pelo contrário, se
houver menor lucro, haverá menor
pagamento. Isto também incentiva
à adopção de novos equipamentos.

o Quando se verifica uma situação de


inflação, este imposto auxilia as
empresas, pois quando o Estado
possibilita a dedução de custos
financeiros, que apresentam uma taxa de
juro nominal, permite-se meter mais
custos e pagar menos impostos.

 Imposto sobre o consumo e Imposto sobre as vendas


 Juridicamente distinguem-se, mas são
equiparáveis economicamente (= incidência
económica);
 No imposto sobre o consumo, a incidência legal é
sobre o consumidor; no imposto sobre as
vendas, a incidência legal sobre o vendedor;
 Trata-se de um mecanismo de tributação
indirecta e que não é tão notado pelos
trabalhadores;
 Existem impostos gerais e específicos sobre os
bens.
o Impostos específicos – conduzem à
substituição do bem e a uma redução do
bem-estar;
o Impostos gerais sobre o consumo –
incidem sobre todos os bens e serviços,
gerando efeitos de substituição sobre o
lazer (e não de bens) e de perda de bem-
estar, dada a subida do preço de todos os
bens. Conduz a uma perda de rendimento
e diminuição do poder de compra. O
esforço do trabalho permite adquirir
menos bens e serviços, o que constitui
um desincentivo ao trabalho e,
consequentemente, menor produtividade
e competitividade.

ECONOMIA POLÍTICA II

(Terça-Feira, 20 de Abril de 2010, 9h30-11h – Teórica)


 Seria admissível a eliminação de um dos
Impostos Gerais (sobre rendimento ou
consumo)?
o O Imposto Geral sobre o Consumo não é
pessoal, não havendo lugar a adaptação da
taxa em função da capacidade
contributiva, ao contrário do IRS;
o Seria então difícil apenas fixar um
Imposto sobre o Consumo, com fixação de
igual taxa para todos, não se distinguindo
em função da capacidade económica do
consumidor;
o O Imposto sobre o Consumo (imposto
regressivo) é um imposto injusto, pois é
uma forma de obtenção de receita fiscal
que afecta principalmente as famílias
mais desfavorecidas, em que a
percentagem de rendimento utilizada no
consumo de bens essenciais é bastante
elevada.

 Imposto sobre o consumo e Imposto sobre as vendas


(continuação)
 Diferença de taxas médias de imposto sobre as
vendas entre famílias com elevada poupança e
famílias que dedicam quase todo o rendimento
ao consumo (Quadro III.5)
o Família A – 100/1000 = 10%
o Família B – 18/100 = 18%
 Verifica-se que estamos perante um
imposto regressivo, considerado
injusto pela sociedade, porque as
famílias mais pobres são as mais
penalizadas;
 Por outro lado, é o imposto que
mais receita fiscal gera (mais do que
o IRS);
 Ainda assim, a diferença
anteriormente apresentada não é
tão nítida como evidenciado, se
consideramos a existência de
poupanças;
 Taxa intertemporal de consumo – o
dinheiro vale cada vez menos com o
decorrer dos dias face aos dias de
hoje (“desconto de dinheiro com o
decorrer do tempo”). As famílias
mais ricas podem adiar o
pagamento, ao contrário dos mais
pobres;
 Trata-se de um imposto que
contraria critérios de equidade;
 Ainda assim, note-se que se revela
mais difícil a fuga ao fisco em
matéria de IRS face ao Imposto
Geral sobre o Consumo, dada a
possibilidade de cruzamento de
dados e registo de compras;
 No Imposto Geral sobre o Consumo,
há uma tributação, enquanto no IRS
pode haver lugar a dupla tributação;
 Proposta alternativa ao Imposto
Geral sobre o Consumo: Imposto
Pessoal sobre o Consumo
 Distinção entre quem
consome muito e pouco;
 De difícil exequibilidade, pois
implicava a determinação do
nível de consumo do
indivíduo, aplicando a taxa
correcta;
 Ainda assim, a tecnologia
actual já permite que isto
aconteça, dado o recurso à
Estatística, não sendo
necessária a detecção de todo
o consumo do indivíduo.
Aliás, a maior parte das
pessoas efectua as suas
compras através da Rede
Caixa Automático Multibanco
(ATM), com cartão de crédito.
Trata-se de um sistema que
permite detectar o nível de
consumo e combateria
eficazmente o combate à
evasão fiscal, prejudicial à
fixação de critérios
equitativos, e para a definição
de um imposto mais
equitativo;
 Crítica:
o Ainda há alguma gente
que não utiliza estes
recursos electrónicos;
o Tal solução implicaria
uma alteração brusca
de equipamentos,
bastante dispendiosa;
o Dificuldades de
adaptação a uma nova
realidade, bastante
díspar em relação à
anterior.

 A implementação deste novo


sistema de imposto conduziria
a que o indivíduo não tivesse
necessidade de declarar os
seus rendimentos, deixando
de haver um dever de
informação para o
contribuinte, isto para além
de a evasão fiscal diminuir
substancialmente;
 Mesmo que não se utilizasse
o sistema electrónico, visto
que o consumo resulta da
subtracção das poupanças ao
rendimento, seria possível
determinar o consumo.
Todavia, trata-se de uma
solução mais falível, que
depende da informação do
rendimento pelo contribuinte.
Por outro lado, a informação
prestada pelo contribuinte
está sujeita a maior controlo,
o que lhe confere menor
margem de manobra. Isto
justifica-se através de recurso
à fórmula “Rendimento –
(menos) Poupança”,
conhecendo-se as poupanças
(que o Estado pode
determinar). Contudo, este
sistema implicaria a extinção
do sigilo bancário, efeito
resultante do direito
constitucionalmente previsto
de preservação da intimidade
da vida privada. Perante este
entrave, poderia o Estado
adoptar uma das seguintes
medidas, para revelação
voluntária da informação:
o Reduzir as taxas
incidentes sobre o
indivíduo (bonificação);
o Isentar fiscalmente o
indivíduo.

 Trata-se de uma solução


ainda longínqua, que
conduzirá à extinção da
tributação sobre o
rendimento, imensamente
permeável à evasão fiscal por
parte das classes altas. Esta
questão está a “minar” a
nossa democracia.

 Se se prescindisse da tributação do
rendimento, mantendo e agravando
a tributação sobre o consumo,
penalizar-se-ia os indivíduos
reformados que aproveitam a sua
condição para usufruir de bens e
serviços, criando-se uma situação de
injustiça;
 Prevê-se para o futuro a adopção do
flat tax e, se esta se revelar uma
experiência mal sucedida, recorrer-
se-á ao Imposto Pessoal sobre o
Consumo;
 A evasão fiscal constitui um grave
problema da sociedade, que conduz
ao descrédito na política, na
democracia e na justiça,
possibilitando-se aos mais ricos
(como os profissionais liberais ou os
empresários) fugir ao pagamento de
impostos. Tal realidade leva ao
desagrado das classes baixas e
médias e ao descrédito face ao
sistema actual, que é urgente
reformar;

 Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA)


o Imposto sobre o consumo construído de
uma maneira específica;
o O consumidor não entrega o dinheiro ao
Estado, ainda que suporte o imposto;
o Não é apenas o último vendedor que
entrega o imposto (imposto plurifásico);
o Apresenta iguais consequências
económicas relativamente a qualquer
imposto sobre o consumo (igual incidência
económica, apesar de diferente incidência
legal);
o Um exemplo de aplicação do IVA (Quadro
III.7)
 Admite-se que todas as empresas
têm uma margem de lucro de 20%,
correspondente ao valor
acrescentado, isto é, tudo o que foi
gasto pela empresa para a produção
(lucros e custos diversos, como
salários, juros e amortizações);
 Imposto incide sobre o valor
acrescentado, ainda que o
consumidor seja o visado e os
empresários a entregá-lo;
 Foram simplificadas as fases de
produção do bem;
 Fábrica: 100 (valor ganho pela
fábrica) + 0,21 (valor do IVA,
entregue ao Estado) = 121 (valor
com IVA);
 Armazenista:
 Assumindo os custos de
distribuição como valor
acrescentado (20%), o fato foi
vendido com valor de 120;
 IVA = 0,21x120 = 25,2 → valor
recebido pelo armazenista;
 25,2 – 21 (valor pago à
fábrica) = 4,2 → valor
entregue ao Estado
(retirando-se o que já foi
entregue à fábrica);
 Valor total com IVA → 120 +
25,2 = 145,2

 Loja:
 Registo do fato com custo
120;
 Considerando o valor
acrescentado (custos),
associado à renda da loja e
aos salários dos funcionários,
a loja vende o fato a 144€;
 IVA = 0,21X144=30,2 → valor
recebido pela loja;
 30,2 – 25,2 (valor pago ao
armazenista) = 5 → valor
entregue ao Estado;
 Valor total com IVA →
144+30,2 = 174,2
 Há como que uma antecipação do
pagamento do imposto pelos
diferentes vendedores. Trata-se de
um sistema favorável ao Estado,
pois:
 Recebe o imposto
antecipadamente, garantindo
a receita fiscal;
 Diminui a evasão fiscal, pois o
Estado nunca perde o
imposto todo, o que não
sucedia com o imposto sobre
o último vendedor, apenas;
 Também através de um
encontro de contabilidades, é
possível ao Estado detectar
uma possível fraude, passível
de medida penal (encontra-se
criminalizada). Compete às
empresas declarar o conjunto
de compras e vendas totais
devidamente registadas.

 É o consumidor que paga o imposto,


mas não o entrega ao Estado,
sendo, na verdade, entregue por um
conjunto de empresas. Quem
suporta o imposto depende da
elasticidade da carga fiscal.
ECONOMIA POLÍTICA II

(Quinta-Feira, 22 de Abril de 2010, 9h30-11h – Teórica)


 Contribuições para a Segurança Social
o A Segurança Social constitui um sistema
redistributivo, que garante, aos mais
desfavorecidos, as condições mínimas de
vida e, para os aposentados, pensões de
reforma. Apresenta um carácter
cumulativo, podendo o trabalhador
manter o seu salário quando já não
trabalha (manutenção do nível de vida);
o Constitui um sistema que se encontra
ameaçado pelo actual cenário
macroeconómico;
o Trata-se de um sistema aplicado nos
países desenvolvidos da Europa Ocidental.
Todavia, tal não se verifica nos EUA;
o Em Portugal, aqueles que descontam mais
para a Segurança Social podem usufruir,
futuramente, de uma pensão maior,
dentro do tecto máximo definido, o que
impossibilita aos mais bem remunerados
receber a mesma quantia;
o Trata-se de um sistema de contribuição
obrigatório, que não exclui a possibilidade
de subscrever Planos Poupança Reforma
(PPR). Não é um sistema garantido, que
apenas assegura a reforma para os
aposentados deste momento, mas que
pode falir ou, por profundas alterações
políticas, resulte numa modificação do
sistema. Constitui um sistema que
funciona autonomamente do Estado e
depende das receitas obtidas para suprir
as despesas com pensões e apoios sociais.
Quando as receitas não se revelem
suficientes, é necessário recorrer às
receitas de outros impostos, o que se
revela perigoso e indesejável;
o As contribuições para a Segurança Social
representam uma fatia superior a 10% do
PIB. Relativamente à zona Euro, Portugal
encontra-se abaixo da média europeia, o
que lhe fornece alguma margem de
manobra;
o É retirado ao contribuinte uma parte
significativa do custo de trabalho (salário),
correspondente a cerca de 30%. Tal
justifica as reivindicações de maiores
rendimentos. Isto resulta numa elevada
incidência sobre o contribuinte e a
empresa;
o Não é só o empresário ou o trabalhador
que entregam a contribuição ao Estado.
Ambos o fazem, retirando parte do seu
rendimento;
o A deslocalização de empresas não é
necessariamente um facto prejudicial,
dado que as empresas geradoras do
desemprego no nosso país até podem
gerar outras oportunidades de emprego
noutros sectores inovadores. Tudo
depende, claro, da qualificação dos
trabalhadores que, no caso dos
profissionais portugueses, se revela
deficitária. Também a legislação laboral se
demonstra inflexível para favorecer a
competitividade e a produtividade, o que
conduz, por vezes, à adopção de práticas
fraudulentas por parte dos empresários;
o Também questões demográficas, como o
acréscimo significativo da esperança
média de vida, contribuem para
consequências negativas ao nível das
contribuições. Na verdade, graças aos
reconhecidos desenvolvimentos da
Medicina, aos melhores hábitos
alimentares e à melhoria das condições de
higiene e segurança, verificou-se essa
alteração relevante nesse indicador
demográfico. Ora, isto conduz ao
acréscimo dos anos em que um
pensionista gozará de pensão social. Por
outro lado, a taxa de natalidade tende a
estabilizar ou até diminuir. Assim, o
número de contribuintes tende a diminuir
e, pelo contrário, o número de
beneficiários deverá aumentar, dada a
redução da população activa contributiva.
Em 2007, 2,6 trabalhadores contribuíam
para a pensão de 1 reformado; nos anos
80, 3,7 trabalhadores contribuíam para 1
trabalhador. Isto evidencia o risco de
falência da Segurança Social;
o Para procurar suportar a Segurança Social,
o Estado (em 2005) efectua uma reforma,
tomando as seguintes medidas:
 Limitação das reformas máximas;
 Adaptação da fórmula de cálculo de
pensões, de acordo com a evolução
da esperança média de vida;
 Consideração, para efeitos de
cálculo de pensões, de todo o
percurso contributivo (e não apenas
os últimos 10 anos);
 Abandono dos incentivos à reforma
antecipada sem penalizações. Estes
incentivos atendiam ao facto de os
profissionais portugueses
apresentarem fraca qualificação,
substituindo-os por novas
tecnologias e por jovens mais
qualificados. Favoreceu-se
especialmente o sector da banca,
possibilitando aos profissionais
desta actividade económica a
apresentação do pedido de reforma
bastante antes dos 65 anos. Agora, a
formulação de pedido para
antecipação da reforma é
susceptível de formas de
penalização duras. Ainda assim, não
se verificou contestação popular,
dado o reconhecimento da
necessidade de realizar esta reforma
para salvar a Segurança Social.

o De todo o modo, a reforma não se revelou


suficiente, atendendo aos hábitos
consumistas actuais. Isto revela que a
população portuguesa vive acima das
suas possibilidades, não acumulando
poupanças (como antigamente), mas
dívidas. O povo português é dos mais
endividados do mundo. Tal situação
também se prende com as facilidades
concedidas pelos bancos para contrair
empréstimos;
o Proposta de medidas de alteração das
contribuições para a Segurança Social:
 Aumentar a taxa de contribuições ,
a que os portugueses estão mais
acessíveis, dado o reconhecimento
da necessidade premente e a
promessa de uma retribuição para
empresários e trabalhadores
contribuintes, na actualidade;
 Aumentar a idade da reforma,
actualmente nos 65 anos,
considerando o aumento da
esperança média de vida e a
melhoria das condições de vida.

o Nesta matéria, a incidência legal não é


relevante (Figura III.22).
 Se o imposto for lançado, na
totalidade, sobre o trabalhador
(que, por exemplo, recebe 10€,
entregando 2€ ao Estado), a oferta
de trabalho diminui, tendo a
procura que pagar mais (no caso
10,5€);
 Se o imposto for lançado, na
totalidade, sobre o empresário, há
diminuição de 2€ (valor do imposto)
na curva da procura, pois não há
mesma disposição para pagar igual
valor aos trabalhadores. Assim, o
empresário atribui, no caso, 8,5€ ao
trabalhador + 2€ ao Estado;
 Portanto, resultam iguais
consequências de diferentes
incidências legais;
 Ainda assim, é maior a incidência
económica sobre o empresário, que
tem de desembolsar 10,5€ (8,5€
+2€). Já o empregado recebia 10€,
tendo de entregar 2€ ao Estado
(10€-2€=8€);
 Sendo a oferta de trabalho
inelástica (Figura III.23), em que os
trabalhadores não mudem o seu
tipo de actividade profissional, a
contribuição é suportada pelo
trabalhador, que antes recebia 10€
e agora ganha 8€; pelo contrário,
perante oferta de trabalho elástica,
é o empresário que suporta os
custos com a contribuição.

 Evasão Fiscal
o Implica a prática de um comportamento
fraudulento ilícito, de uma infracção à Lei;
o Distinga-se a evasão fiscal de dois outros
comportamentos diferentes, que
constituem actos legais:
 Contrariando o espírito para que a
lei foi criado (comportamento
nocivo), aproveitando a falha do
sistema – abuso da Lei;
 Uso da Lei de modo a pagar o
menos possível (por exemplo:
criação das Sociedades Gestoras de
Participações Sociais (SGPS)), dentro
dos limites impostos –
comportamento racional.
o A reprovação da evasão fiscal prende-se
com a impossibilidade de o sistema fiscal
cumprir a sua missão – obter as receitas
devidas –, constituindo também um modo
de criação de grandes desigualdades,
através da obtenção de benefícios ilícitos
(ou vantagens competitivas ilícitas). Esta
prática é, infelizmente, comum entre as
classes com maiores possibilidades
económicas. Para além do referido,
verifica-se que os autores dos ilícitos não
são punidos por tal, o que favorece a
generalização deste comportamento. Se
se pretender fazer vigorar os valores da
justiça e da democracia, importa
combater a evasão fiscal;
o A “economia subterrânea” pode atingir
valores superiores a 40%, sendo que, no
caso português, se produz mais de 20% do
que é conhecido e declarado. Trata-se de
um valor que se encontra a níveis
comparáveis com o da Grécia. Para
combater a evasão fiscal, importa realizar
uma análise custo-benefício nas medidas
tomadas para afastar este flagelo;
o Ainda assim, há uma racionalidade
relativa (Figura III.27) associada à fuga do
pagamento de impostos, visto que existe a
possibilidade de os ganhos serem
superiores aos prejuízos. Importa, aqui,
considerar a:
Possibilidade de o indivíduo ser
detectado (p) X penalidade marginal
= Custo marginal esperado (CMG)
ECONOMIA POLÍTICA II

(Segunda-Feira, 26 de Abril de 2010, 14h-16h – Teórica)


o O reforço da fiscalização implica,
necessariamente, mais custos para o
Estado, insustentáveis neste momento;
o O ideal seria que os custos fossem
superiores aos benefícios inerentes à
evasão fiscal. Para tal, pode-se aumentar o
momento da sanção e fazer com que a
probabilidade de se ser detectado pelo
fisco aumente. É precisamente isto que se
tem realizado no nosso país, na tentativa
de redução de práticas evasivas, através,
por exemplo, do cruzamento de dados
entre Direcção Geral de Contribuições e
Impostos (DGCI) e outras entidades, como
o registo predial ou automóvel,
socorrendo-se das novas tecnologias.
Ainda assim, há muitas actividades que
ainda não são detectadas. A detecção pelo
fisco é realizada, prioritariamente, na
ocorrência de comportamentos anormais,
tais como diferenças assinaláveis entre
rendimento declarado e património detido
por um indivíduo, ou doações realizadas;
o Importa, também, considerar os custos
psicológicos associados a esta realidade.
Veja-se, por exemplo, a medida tomada
em Portugal de publicar os nomes dos
devedores no sítio online do Ministério das
Finanças, o que vai denegrir a imagem
destes contribuintes e destabilizar o
princípio da confiança. Isto resultou na
recuperação de muitos milhões de euros;
o Outra medida que o Estado pode tomar
para reduzir a evasão fiscal prende-se com
a realização de acções de marketing, de
sensibilização para a aversão à evasão
fiscal;
o A propósito dos benefícios marginais,
importa considerar a variável receita
fiscal, pois se a carga fiscal for diminuída,
existe menor atracção à fuga dos
impostos.

 Restrições para o aumento da tributação


o Para além da evasão fiscal, podemos
considerar outras restrições ao aumento
da tributação;
o Análise da Curva de Laffer (Figura III.29)
 Com taxa de imposto 100%, a
receita fiscal é 0, pois ninguém
trabalharia;
 Aumento a nível decrescente da
receita fiscal até tC, a partir do qual
começa a diminuir;
 Se a taxa de imposto efectiva em
Portugal se encontrar acima de t C,
esta tem de ser diminuída. Por outro
lado, se a taxa de imposto concreta
estiver abaixo de tC, tem de ser
aumentada;
 A taxa tC seria uma taxa de cerca de
50%, muito distante da praticada
em Portugal. De todo o modo, não
podemos fazer uma abordagem tão
simplista, dado que a utilização da
receita geral vai gerar despesa,
tendo custos marginais crescentes,
pois cada unidade adicional trará
menor bem-estar aos indivíduos.
Portanto, temos de cruzar o efeito
da taxa de imposto com o efeito de
utilização da receita fiscal;
 A melhor taxa de imposto seria uma
correspondente a algo próximo de
tC. Apesar de trazer elevada receita
fiscal, implica um aumento
substancial da taxa de imposto, em
relação à diferença com a receita
fiscal. Estará à volta dos 20%/25%,
não valendo a pena, por isso, ao
Estado Português aumentar a
receita fiscal, competindo-lhe agora
apenas reduzir a despesa pública.
Tal realidade pode implicar uma
dissonância cognitiva nos
contribuintes, na medida em que se
pode exigir a adopção de medidas
impopulares, inclusive a remoção de
direitos, o que conduz à perda de
votos.

 Análise económica do défice e da dívida pública


o Défice público – excesso de despesa pública face às receitas
públicas. Distingue-se de superávit ou excedente. Diz apenas
respeito à Administração Pública;
 Importa não confundir esta noção com défice externo,
isto é, a diferença entre aquilo que os agentes
económicos (Estado e privados) têm de pagar e
receber, sendo a despesa superior.
o O Estado Português padece destes dois problemas, estando
obrigado a contrair empréstimos, o mesmo se aplicando aos
particulares. Esta realidade torna-se grave com o acréscimo
da taxa de juro, principalmente para um país já endividado.
Compete ao Estado começar a dar o exemplo e reduzir a sua
dívida pública;
o Um défice público nem sempre é prejudicial, pois pode
contribuir para a obtenção de melhores condições de vida,
desde que se consiga garantir o cumprimento do
empréstimo. Compete ao Estado aplicar o dinheiro em
investimentos com rentabilidade;
o Note-se a dificuldade do Estado Português em reverter a
situação em que se encontra, dada a falta de
competitividade dos nossos produtos e a ausência de moeda
própria;
o Dívida pública – soma dos excedentes e dos défices passados,
sendo que os défices são superiores aos excedentes;
 A dívida pública pode ser contraída junto dos próprios
cidadãos nacionais, através de obrigações do Tesouro
ou certificados de aforro (dívida interna), ou dos
Estados estrangeiros (dívida externa), dando-se
preferência àqueles que estão dispostos a fixar uma
taxa de juro mais baixa;
 O Estado português gasta o dinheiro proveniente
destes empréstimos na aquisição de bens e serviços e
no pagamento de salários. Na actualidade, o Estado
tenta poupar nestas despesas, através da aglutinação
de serviços, da redução de mão-de-obra e da adopção
de novas tecnologias, sem que se diminua a qualidade
dos serviços. Ao nível do Estado, importa atender às
necessidades dos diferentes ministérios, afastando as
despesas que se podem dispensar, ainda que, para isso,
se tenha de adoptar uma atitude progressista e
suportar a contestação popular – Reforma da
Administração Pública;
 Dadas as exigências da União Europeia, para diminuir a
despesa pública, tender-se-á a efectuar cortes
orçamentais com claro prejuízo para o bem-estar dos
indivíduos;
 A dívida pública, nos últimos 30 anos, ascendeu de 20%
do PIB para quase 100% do PIB, o que revela uma
incapacidade para cobrir as despesas;
 Portugal assume também um pesado encargo ao nível
dos juros, visto que se revelam superiores à despesa
por aquisição de bens e serviços.

 Restrição Orçamental do Estado


 Constituiria a situação ideal para o Estado
Gt = Tt + RPt
em que:
Gt – gastos no ano “t”;
Tt – impostos no ano “t”;
RPt – receitas próprias no ano “t”.

o Nos gastos, incluem-se:


 Gastos da dívida pública, que se
revelam prejudiciais;
 Outras despesas, que podem gerar
benefícios, na medida em que são
aplicadas em favor dos cidadãos
portugueses.

Despesa Pública – Juros = Despesa primária


A despesa primária é utilizada em benefício
dos cidadãos.

Despesa primária + Juros = Despesa efectiva


Despesa verdadeiramente assumida.
 Se Gt > Tt + RPt, temos de adicionar o
endividamento público e criação de moeda:

Gt > Tt + RPt + Endividamento público + criação de moeda

o No caso português, não se aplica a criação


de moeda, na medida em que a política
monetária está centralizada no Banco
Central Europeu;
o A criação de moeda tende a gerar o
aumento de preços, pelo que não constitui
boa solução.

 Admitindo que houve um aumento da despesa,


requerida pelos cidadãos e adoptada pelo Estado, tal
pode não se revelar desfavorável a curto prazo, ainda
que se comprometam as gerações futuras, com o
aumento dos juros da dívida pública;
 A escolha do endividamento não é apenas económica,
mas também política, colocando-se em questão a
equidade entre gerações, visto que as gerações futuras
não podem manifestar a sua posição sobre essa opção,
ainda que vivamos num regime democrático. Esta
questão pode ser ultrapassada com a criação de
restrições constitucionais à dívida pública do Estado;
 Outra questão que se coloca nesta matéria prende-se
com a rentabilidade de um investimento público,
sendo que o Estado não tem como fim o lucro. Em
relação à rentabilidade social, que justifique ou não o
endividamento, trata-se de avaliar em dinheiro os
benefícios directos e indirectos que o projecto vai gerar
para a sociedade, comparando com os custos
associados (análise custo-benefício). Vejamos um
exemplo:
 Projecto – Aeroporto Internacional de Lisboa
o Benefícios associados (exemplos)
 Atractividade turística;
 Desenvolvimento da zona
envolvente;
 Menor risco de acidentes de viação.

o Custos associados (exemplos)


 Custos de encerramento e
deslocalização do Aeroporto da
Portela;
 Custos de construção do aeroporto
e do sistema integrado de
acessibilidades (travessia do Tejo,
redes ferroviárias e rodoviárias);
 Impactes ambientais da construção
da infra-estrutura.

O problema destes estudos prende-se com a sua


subjectividade, dado o diferente valor atribuído a cada
parâmetro em causa. Tal sucedeu, por exemplo, com o
esforço de investimento realizado com a dívida pública
contraída após o ingresso na Comunidade Económica
Europeia.

 Os custos da dívida pública, com a entrega voluntária


de dinheiro pelos cidadãos ao Estado, apenas se fazem
sentir a médio-longo prazo, junto das gerações futuras.
De acordo com a equivalência ricardiana, é igual
contrair dívida ou aumentar os impostos, pois David
Ricardo entende que os cidadãos são prospectivos,
sendo capazes de se aperceberem da possibilidade de
o Estado incrementar os impostos, de acordo com a
Teoria da Expectativa, com a emissão de dívida pública,
não havendo diferença entre a aplicação no momento
ou no futuro, em relação a custos imediatos.
Obviamente, que a verificação da Teoria da Expectativa
está dependente da informação existente. Ora, a
constatação prática desta teoria está limitada com a
falta de informação que chega aos indivíduos, sentindo
os efeitos dos impostos apenas no momento do seu
aumento;
 Normalmente, os cidadãos aceitam melhor um
aumento da dívida pública do que um aumento dos
impostos. O aumento da carga fiscal conduz a acções
de contestação significativa, pois os cidadãos estão
atentos aos custos imediatos. Já o endividamento não
gera reacções populares e permite fornecer aos
cidadãos os bens essenciais que eles pretendem. Isto
justifica a tendência de as Democracias tenderem a
endividarem-se significativamente;
 Note-se que os cidadãos, adoptando uma postura
racional, apenas se dispõem a assumir a despesa do
Estado (através de certificados de aforro, por exemplo),
se este oferecer uma taxa de juro superior aos
privados;
 Se o Estado decidir, em alternativa, endividar-se ao
exterior, aumenta o risco de incumprimento de todo o
indivíduo e não apenas da entidade Estado, o que
conduz ao aumento da taxa de juro;

 Devem o défice e, consequentemente, a dívida


pública ser reduzidos?
 Aspectos negativos de sucessivos défices:
o Todo o Estado deve evitar défices
sucessivos, salvo se verificar aumentos
astronómicos de receitas, provenientes da
produção nacional, como sucede na China;
o A acumulação de sucessivos défices
penaliza as gerações futuras, que vão
assumir elevados encargos;
o Cria ilusão de riqueza, quando ela não
existe. Este excesso de despesa faz com
que os cidadãos não optem por um
comportamento eficiente, óptimo;
o Verifica-se a deterioração das condições
de crédito a contrair, face à concorrência
estrangeira – crowding-out;
o O défice permite ganhar votos, dado o
incentivo ao investimento público,
gerando distorções políticas, em prejuízo
do país, atirando os custos para os ciclos
políticos seguintes.

 Aspectos positivos de sucessivos défices:


o Projectos de investimento (TGV,
Hospitais), pensados a longo prazo, têm
benefícios para as gerações futuras,
sendo lícito, portanto, que elas também os
paguem. Nestes termos, o endividamento
faz sentido;
o Necessidade de o Estado gastar mais para
a realização da função estabilização,
tendo em vista o relançamento da
economia;
o Recuperação de infra-estruturas
destruídas em situação de catástrofe
imprevisível. Nestas circunstâncias, não
faz sentido impor o aumento dos
impostos;
o Num país pouco desenvolvido, com
diminutas infra-estruturas, mas com
elevada tendência para um
desenvolvimento económico significativo,
faz sentido que o Estado se endivide para
melhorar a situação das gerações actuais,
sabendo-se que as gerações futuras terão
meios para suster a situação.

 O facto de o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC)


fixar um défice máximo de 3% do PIB e uma dívida
pública de 60% do PIB prende-se com questões
políticas, dada a disparidade de défices dos novos
Estados-Membros da União Europeia, como meio de
disciplinar a economia destes, procurando garantir que
todos os Estados vivem uma situação uniforme e
favorável. Importa ao Estado português fazer crescer o
PIB e ir reduzindo substancialmente o défice e a dívida
pública, controlando as Finanças Públicas. Acima de
tudo, e não dramatizando a existência de uma dívida,
importa garantir a competitividade da Economia
Portuguesa.

ECONOMIA POLÍTICA II

(Terça-Feira, 27 de Abril de 2010, 9h30-11h – Teórica)


 Note-se que o crescimento da dívida pública, a partir
de 1974, se prende com a necessidade de melhorar a
qualidade de vida, na esperança de conseguir criar
riqueza suficiente para colmatar as despesas;

Saldo Primário = Despesa primária – Receitas


O saldo primário15 deve ser, preferencialmente,
positivo. Deveria, pelo menos, haver um equilíbrio (=0).
Se assim fosse, concluir-se-ia que as receitas fiscais
seriam suficientes para cobrir a despesa primária.
15
Ver saldo primário no OE 2010, retirando os juros da despesa primária.
 Admite-se a prossecução de grandes investimentos
públicos, perante o actual cenário de défice e dívida
pública?
 O Estado pode recorrer às parcerias público-
privadas para a construção de infra-estruturas e
respectiva gestão administrativa, que não
implicam investimento estatal. O Estado propõe-
se a pagar uma determinada quantia atractiva,
de acordo com a receita gerada – cash-flow – ao
longo do tempo, actualizada com a variação de
preços. Por seu turno, os privados contraem
empréstimos junto das entidades bancárias, com
interesse no investimento, dado o juro obtido e o
prestígio de se associarem a projectos destes,
após realização de um project finance. Deste
modo, as Finanças Públicas não sentem, no
imediato, os custos associados ao investimento;
 O recurso a esta solução só deve ser
considerado, quando o Estado não assumir
menores custos com um investimento
totalmente público. Não deve, de modo algum,
celebrar um acordo que prejudique o Estado;
 A primeira Parceria Público-Privada foi celebrada
a propósito da construção da Ponte Vasco da
Gama. Têm-se alastrado para outros serviços
sociais, como administração de hospitais,
prisões, auto-estradas, em busca de maior
eficiência;
 Trata-se de uma solução que contorna a actual
situação das Finanças Públicas;
 Perigos desta solução:
o Ilusão criada no contribuinte, dada a
“desorçamentação” das despesas
associadas a estas parcerias, colocando-se
em causa as gerações futuras, que
assumirão estas despesas, nas quais não
intervieram. As despesas associadas, por
exemplo, aos institutos públicos e às
parcerias público-privadas não aparecem
no Orçamento de Estado. Importa divulgar
todas as parcerias celebradas,
nomeadamente junto da Assembleia da
República, que vota a despesa do Estado,
tornando-as parte integrante do OE;
o “Não há almoços grátis”, porque o Estado
terá de pagar, quando o investimento
começar a gerar receita.

 Flexigurança – termo inventado na Dinamarca,


país com elevada intervenção estatal e elevada
carga fiscal. Perante esta realidade, havia
necessidade de diminuir a acção do Estado e
flexibilizar o mercado de trabalho.
o Trata-se de uma solução que pode gerar
menor segurança no emprego, na medida
em que são retirados direitos aos
trabalhadores, em nome da
competitividade. Por outro lado, de modo
a conferir maior qualificação aos
profissionais, são fornecidos pacotes de
formação, recebendo o seu salário, ainda
que no desemprego, durante um largo
período;
o Esta medida não se coaduna com a rigidez
do Código de Trabalho Português,
aplicável ao sector público e ao sector
privado;
o Importa considerar que este programa foi
lançado na Dinamarca, quando
apresentava uma Balança de Transacções
Correntes (BTC) excedentária;
o A dificuldade de aplicação deste programa
em Portugal prende-se com o mau Estado
das Finanças Públicas e do défice.
Recorde-se que a BTC nacional é
deficitária.

 O sistema político e a intervenção estatal


o A Democracia e a Escolha Pública
 Por escolha pública, entende-se as motivações políticas
para a tomada de decisões, compreendidas por uma
análise económica, que verificam a racionalidade das
mesmas;
 Faz-se uma abordagem positiva da realidade política:
 Exige-se ao Estado que as despesas e receitas
associadas à sua actividade sejam decididas de
acordo com a vontade da maioria, representada
na AR – princípio democrático. Como exemplo
desta realidade, temos a Segurança Social e as
quantias investidas nos diferentes ministérios;
 Maioria relativa ≠ Maioria absoluta ≠ Maioria
qualificada (de 2/3, exigida para alteração
constitucional ou até 75%, noutros países) – é
definida a maioria exigida, de acordo com o grau
de importância da questão em causa. Em último
caso, pode exigir-se a unanimidade para decidir,
que tende contudo a ser abandonada;
 Benefício de uma regra de voto exigente:
reunião de um amplo número de vontades
(consenso); Custo de uma regra de voto
exigente: dificuldade constatável de obter um
consenso alargado. Note-se, contudo, que
existem matérias que devem manter um regime
de votação exigente, como por exemplo a
Segurança;
 Perante um partido mais votado que não goza de
maioria absoluta, e de acordo com a regra da
pluralidade, este necessita do apoio ou pelo
menos da abstenção (entendida como
consentimento) dos restantes partidos para fazer
aprovar as suas propostas. Isto significa que, na
prática, um governo só exerce a sua actividade
com uma maioria absoluta;
 Um dos problemas da Democracia prende-se
com a seguinte situação: se a sociedade tiver
determinada preferência e for alterada a regra
de votação, a decisão final poderá não ser a
mesma. Não existe, portanto, uma regra
óptima;

 Considerando todas as hipóteses de regra de


votação e os diferentes custos da escolha pública
(ver figura V.1 do livro adoptado):
o Curva CC – aumenta, conforme o grau de
dificuldade de tomar decisão;
o Curva C – conjunto da curva CC e da curva
CI, encontrando-se o ponto óptimo (50%).

o Como é óbvio, este gráfico difere de


acordo com a questão política em causa.

 Sistemas de votação:
o Comum – cada indivíduo tem direito a um
voto;
o “Approval voting” – trata-se de uma
proposta de alteração da regra comum,
em que cada indivíduo pode votar em
mais do que uma hipótese, permitindo-se
assim uma melhor expressão da
posição/vontade;
o Eleição por pontos – atribuição de pontos
a cada proposta, o que permite reflectir
muito melhor a preferência. A proposta
vencedora com este sistema pode não ser
aquela que resulte do sistema
comummente aplicado. Crítica: existe a
possibilidade de atribuição de pontos de
acordo com a preferência dos outros, de
modo estratégico, para precaver o receio
de vitória de uma proposta que não se
aprecie;
o Método da ordenação ou Borda count –
também constitui uma alternativa ao
sistema comum. Efectua-se uma
ordenação das propostas, atribuindo
pontos. Por exemplo:
1.º - 3 Pontos;
2.º - 2 Pontos;
3.º - 1 Ponto.

Esta proposta permite uma maior


expressão das preferências, devidamente
ordenadas. Trata-se de um método sobre
o qual já se equacionou a possibilidade de
aplicação nos EUA e na Europa.

o Voto pelo veto: não se aplica nos assuntos


políticos gerais. Consiste na eliminação de
propostas, até aquela que não for vetada.
 Kenneth Arrow procurou determinar uma função
matemática que permitisse transformar as
preferências individuais em preferência
colectiva. Condições exigidas:
o 1 – Princípio da racionalidade colectiva:
se a alternativa “A” é preferida a “B”, e “B”
é preferida a “C”, então “A” é preferida a
“C”;
o 2 – Princípio de Pareto: se toda a gente do
universo eleitoral prefere “A” a “B”, então
deve-se escolher “A” – escolha colectiva;
o 3 – Princípio da independência face a
alternativas irrelevantes: indo a votação a
proposta “A – 1000” e a proposta “B –
500”, todas as outras alternativas não
consideradas são irrelevantes (“C” e “D”).
Um indivíduo que prefere “A” a “B”, ainda
que antes preferisse “D” a “A”, deve
escolher “A”, pois não deve preferir uma
alternativa irrelevante;
o 4 – Princípio da não ditadura: Nenhum
indivíduo deve impor a sua vontade à dos
outros;
o 5 – Princípio do Domínio Não-Restrito:
nenhum indivíduo do universo eleitoral
pode ser excluído da escolha colectiva.

Conclusão: Arrow apurou que não existe


nenhuma regra matemática que cumpra
os cinco princípios, dado que as
preferências são transitivas (ou agregação
de preferências). Não há nenhuma regra
que consiga traduzir as preferências
individuais e garanta que a decisão
colectiva reflicta as primeiras.
ECONOMIA POLÍTICA II

(Quinta-Feira, 29 de Abril de 2010, 9h30-11h – Teórica)


 As regras apresentadas por Arrow garantem que
indivíduos racionais tomem uma decisão racional
e prevaleça a vontade da maioria. Assim,
nenhum indivíduo pode impor a sua vontade ao
resto da comunidade e as escolhas colectivas são
racionais;
 Através do “teste de Arrow”, comprova-se que
a Democracia padece de uma falha: qualquer
dos sistemas de votação pode não traduzir a
vontade da maioria;

 Paradoxo de Condorcet
o Com três eleitores e três possíveis
alternativas de escolha, tem-se que:

Opções
Eleitore X Y Z
s
A 3 2 1
B 1 3 2
C 2 1 3

Analisando o quadro, constatamos que


haveria lugar a uma situação de
indefinição, isto é, uma ausência de
preferência destacada.

Assim, as propostas vão a votação duas a


duas:

Eleições Resultado Resultado


entre: Intercalar Final
YeX XeZ Z
XeZ ZeY Y
ZeY YeX X
Confrontos:
Entre “X” e “Y”: 2 votos para “X” e 1 voto
para Y” – ganha “X”;
Entre “X” e “Z”: 1 voto para “X” e 2 votos
para “Z” – ganha “Z”;
Entre “Z” e “Y”: 1 voto para “Z” e 2 votos
para “Y” – ganha “Y”.

o Mudando a agenda de votação, é


claramente influenciada a preferência. Isto
demonstra a influência da agenda política.
Organizando-se a votação de determinada
maneira, estruturando as diferentes
propostas, obtêm-se um dado resultado,
que difere caso seja alterada a
organização. Trata-se de uma
demonstração do efeito do lobbying, para
alteração da agenda política. Note-se a
influência de um grupo de influência
minoritário na alteração da agenda
política;

o Para solucionar este problema, importa,


em primeiro lugar, detectá-lo. Procedamos
a uma alteração das preferências do
eleitor “C”.

Opções
Eleitore X Y Z
s
A 3 2 1
B 1 3 2
C 1 2 3
Confrontos:
Entre “X” e “Y”: 1 voto para “X” e 2
votos para Y” – ganha “Y”;
Entre “X” e “Z”: 1 voto para “X” e 2 votos
para “Z” – ganha “Z”;
Entre “Z” e “Y”: 1 voto para “Z” e 2 votos
para “Y” – ganha “Y”.

Agora, ganha sempre “Y”, em relação a


“X” e “Z”, não ocorrendo o Paradoxo de
Condorcet.

Em quase todos os assuntos, os indivíduos


têm um valor mais preferido – a moda –
sendo que as restantes propostas são
necessariamente menos preferidas. Nesta
situação, é possível construir uma curva
unimodal, que assume a seguinte
configuração:

Retomando o exemplo inicial, apenas as


preferências do eleitor C não são
unimodais.

Opções
Eleitor X Y Z
C 2 1 3

o Considere-se este último exemplo de


preferências do eleitor C. Imagine-se que a
matéria dos gastos estatais em Educação
vai a sufrágio. Tem-se que:

Z – poucos gastos em Educação;


X – muitos gastos em Educação;
Y – valor elevado de investimento sem
qualidade educativa.

Aplicando isto ao eleitor C, temos que:

Opções
Eleitor X Y Z
C 2 1 3

Estamos na presença de uma situação de


“tudo ou nada”.

o Outro problema que se coloca prende-se


com o facto de estar em discussão mais do
que um assunto, tornando-se difícil para o
cidadão se colocar numa única dimensão
(por exemplo: direita ou esquerda), dado
que as propostas não se enquadram
perfeitamente numa única tendência;
o Quando os professores do ensino
secundário votaram em protesto no Bloco
de Esquerda, foi por interesse num único
assunto específico em que o partido
apoiou a posição dos docentes, acabando
por votar em todo o seu programa. O voto
no programa do Bloco de Esquerda não
reflecte o reconhecimento na maioria do
seu programa, apenas numa questão em
particular;
o Determinados grupos de pressão, como os
enfermeiros, que cuidam dos cidadãos
fragilizados, têm um forte poder de
influência na definição da tendência de
voto dos eleitores em geral. Gozam,
portanto, de um poder com impacto
significativo, ainda que constituindo uma
minoria;
o Conclusão: De algum modo, todos os
cidadãos eleitores estão integrados em
grupos de interesse, tendo especial
atenção a propostas específicas que
assumem especial relevância.

 Teorema do votante mediano16


o Este teorema só é válido no caso de haver
preferências unimodais, admitindo-se que
os eleitores estão bem informados sobre
as propostas;
o De acordo com este teorema, existe um
votante mediano, isto é, aquele eleitor
que não evidencia qualquer tipo de
posição ideológica, encontrando-se
posicionado no chamado “centro”.
Estando dois partidos a concorrer (Figura
V.4 do livro de referência), tem-se que:
16
A mediana é uma medida de tendência central, um número que caracteriza as observações de uma
determinada variável, de tal forma que este número (a mediana) de um grupo de dados ordenados
separa a metade inferior da amostra, população ou distribuição de probabilidade, da metade superior.
Mais concretamente, 1/2 da população terá valores inferiores ou iguais à mediana e 1/2 da população
terá valores superiores ou iguais à mediana.
E/D – eleitores ideologicamente de
esquerda/direita;
E-centro/D-centro – captam eleitores
menos defensores de ideologias, ainda
que com uma preferência entre Esquerda
e Direita.

É com base na figura apresentada que os


partidos tendem a apresentar propostas
que se direccionem à vontade do
“centro”, onde está o domínio da escolha
pública. O “votante mediano” revela-se o
“ditador” da escolha pública, decisivo
num sistema de maioria 50%+1. É de
acordo com as condições de vida desse
indivíduo (pobre ou rico, ou pelo menos
mais capacitado economicamente) que
são definidas as propostas dos partidos
que se enquadram no “centro”. Daí que se
verifique o predomínio do Estado Social
em países europeus, cujo “votante
mediano” não é dotado de grande
capacidade económica;

o Na prática, chega-se à conclusão que o


“votante mediano” não é decisivo na
escolha pública, pois não goza de
informação plena e não está a par de
toda a realidade. Começando a estar ao
corrente da situação económica global,
pode-se constituir uma restrição à tomada
de más decisões, para além das tomadas.
Aplica-se a políticas particulares, sendo
contudo decisivo nas matérias de maior
importância para o cidadão (por exemplo:
desemprego);

o Democracia directa (é ainda aplicada na


Suíça, atribuindo-se menor poder aos
grupos de interesse minoritários) ≠
Democracia representativa (comum na
maior parte dos países, em que os
votantes elegem representantes que têm
a missão de fazer valer os seus interesses).
 Em democracia representativa,
verifica-se o logrolling, isto é, a
variação do bem-estar (utilidade)
associada às diferentes propostas (X
e Y), apresentadas em simultâneo.

Propostas
Eleitores X Y
A -5 -5
B 6 -3
C -2 7

Considerando que os valores


negativos representam votos contra
e os valores positivos votos a favor,
temos que:

Proposta “X” – 1 voto a favor e 2


votos contra;
Proposta “Y” – 1 voto a favor e 2
votos contra.

Para ultrapassar esta situação de


impasse e fazer aprovar as
propostas, B e C podem,
informalmente, combinar a
aprovação das propostas,
propondo-se a abster ou atribuir
utilidade positiva.
Deste modo, as propostas são
aprovadas, ainda que com utilidade
negativa para os cidadãos:

Proposta “X” → -5 + 6 + (-2) = -1


Proposta “Y” → -5 + (-3) + 7 = -1

Isto revela um desvio às


preferências do votante mediano.

 Preferência dos representantes


 Eleitores votam, em
separado, as propostas “X ou
Y” e “Z ou W”.

Propostas Públicas
Votantes X ou Y Z ou W
A 9 1 6 4
B 4 6 1 9
C 4 6 6 4

De acordo com a preferência da


maioria, ganhariam as propostas
“Y” (2 votos, de B e C) e “Z” (2
votos, de A e C).

Mas pode o Governo pretender


que sejam aprovadas as outras
propostas, fazendo uma
proposta conjunta “Y e Z” e outra
“X e W”. Somando as utilidades
atribuídas pelos votantes a cada
grupo de propostas, temos que:

Propostas Públicas
Votantes YeZ XeW
A 7 13
B 7 13
C 12 8

Através da criação de plataforma política,


venceram as propostas pretendidas pelo
Governo. Trata-se de uma possibilidade de
combinação de propostas, que faz passar
determinados assuntos sem alteração das
preferências da maioria. Consiste em mais
um desvio às preferências do votante
mediano.

 Interacção política – importa


considerar o poder do lobbying dos
grupos de interesse sobre os
votantes representantes,
governantes e serviços
administrativos, como também
importa assinalar o poder dos meios
de comunicação social na
divulgação da informação;

 Poder de monopólio dos burocratas


 Constituem funcionários
dotados de grande
conhecimento das matérias
dos Ministérios, dificilmente
despedidos, que estão a par
dos custos de decisão de uma
proposta política, podendo
transmitir informações
erradas ou, pelo menos,
deturpadas ao ministro;
 Compete aos políticos
controlar a acção dos
burocratas, designando
membros da sua confiança
para esses cargos.

ECONOMIA POLÍTICA II

(Segunda-Feira, 10 de Abril de 2010, 14h-16h – Teórica)

 Teoria dos grupos de interesse


o A despesa e receita pública podem não
corresponder à vontade da maioria, por
acção de grupos de interesse, que
influenciam a escolha pública, através da
pressão que exercem sobre os burocratas;
o Abordagem de Olson
 Apresentada por Olson, em 1965, e
contraria a Teoria do “Votante
Mediano”;
 De acordo com Olson, autor de uma
análise inovadora na Teoria da
Escolha Pública, o Teorema do
“Votante Mediano” é irrealista,
porque parte do pressuposto que
todos os indivíduos dispõem de
informação plena. Na verdade, os
indivíduos gozam de informação
diferente, integrando grupos de
interesse, importando-se com
determinada matéria específica;
 Olson questiona-se: Porque é que as
pessoas aderem a determinados
grupos, que protagonizam uma
acção colectiva, mas não geram
apenas efeitos para os associados,
como também para os membros do
ramo (veja-se o caso dos
professores)? Segundo Olson, então
seria mais racional aderir ao “free-
riding”, não pagando quotas, pois
sabe-se que, pertencendo ou não ao
grupo, ser-se-á sempre influenciado
pela sua acção;
 Olson apura que quem manda na
escolha pública são os pequenos
grupos, muito homogéneos. Isto
porque os grandes grupos (entenda-
se a maioria, como um todo) não
têm força na Democracia;
 De acordo com o raciocínio de
Olson, os indivíduos esperam
benefícios na integração do grupo,
sabendo que o poder de uma acção
colectiva é muito superior. Deste
modo, diz-nos Olson que nos
grandes grupos o contributo de
cada indivíduo é muito menor,
tornando-se praticamente
semelhante ao benefício que se
obteria se não integrasse o grupo.
Assim, há medida que o grupo
cresce, verifica-se maior tendência
para o free-riding, o que torna o
acção colectiva menos poderosa e
coerente. Pelo contrário, nos
pequenos grupos, que exigem
elevadas quotizações, há muito
maior envolvência e união entre os
membros, exercendo-se uma acção
muito mais poderosa;
 O grupo da maioria é tão grande e
diverso, que acaba por não ter uma
acção colectiva organizada nem
dispor de informação plena. Já os
pequenos grupos têm um enorme
poder de influência junto do poder
político, influenciado também a
maioria desinteressada. Assim,
sendo que o “votante mediano”
representa a maioria, verifica-se
que não se interessa em dispor de
informação plena, não exercendo,
efectivamente, um grande poder de
influência;
 Esta teoria demonstra o porquê de,
a dado momento, os grupos de
interesse não crescerem mais.
Trata-se que uma questão de
racionalidade e custo-benefício.

o Teoria da regulação da Escola de Chicago


(1974)
 Esta teoria, para além de afirmar
que a vontade da maioria pode não
ser muito importante, é a resposta
ao porquê de pequenos grupos de
interesse serem muito influentes;
 Os grupos económicos mais fortes
gozam de grande poder
contributivo para auxiliar a
realização de campanhas eleitorais,
criando associações para fornecer
os recursos necessários. Em troca, é
criada, pelo movimento partidário
apoiado, legislação que lhes seja
benéfica;
 Estes pequenos grupos assumem
maior poder que a maioria da
sociedade, sendo que esta última
não se apercebe desta realidade.

o As actividades de rent-seeking, por


Gordon Tullock (figura V.8)
 O Estado goza de um poder muito
importante, mas que não é falado –
a concessão de monopólios para o
exercício de uma determinada
actividade económica.
 Por monopólio, entende-se aqui a
criação de barreiras à entrada de
determinadas empresas numa
actividade económica;
 Assim, muitos grupos de interesse
fazem pressão junto do Estado, de
modo a garantirem a exclusividade
do exercício daquela actividade
económica;
 O rent-seeking é um custo para a
sociedade, que poderia ser
empregue em actividades
produtivas, mas é, na verdade,
investido na garantia de licenças
estatais;

 Atentando na figura V.8, relativa à


atribuição de uma única licença
estatal para o sector do papel,
temos que:
 “R” – Lucro extraordinário
monopolístico. Transferências
dos consumidores para o
monopolista (não é um
custo);
 A intersecção do ponto Pm
com a curva D corresponde ao
ponto monopólio;
 “L” – custos para a Economia
(cerca de 1% do PIB).

 Esta teoria do rent-seeking vem


afirmar que o “R” (montante
máximo que os monopolistas estão
dispostos a investir para obter a
licença) também é um custo, na
medida em que constitui o prémio
atribuído ao monopolista. Recorde-
se que estes gastos não são
produtivos, pois não há criação de
bens e serviços, logo constituem
um desperdício. Portanto, “R+L”
corresponde ao custo total para a
sociedade;
 Também se verifica, aqui, o grande
poder dos pequenos grupos
intermédios em influenciar o poder
político.

o O modelo do equilíbrio geral do lobbying,


elaborado por Gary Becker
 É mais fácil aumentar a pressão para
diminuir o tamanho do Estado do
que o contrário;
 Nas sociedades democráticas,
tendem a crescer os grupos de
interesse, o que pode conduzir ao
descrédito na Democracia e ao
surgimento do fenómeno da
corrupção;
 Para combater estas consequências
nefastas, importa:
 Promover votações com
maioria qualificada;
 Descentralizar os centros de
poder político;
 Criar instituições reguladoras
destas actividades
desenvolvidas pelos grupos
de interesse.

 Porque votam os eleitores?


o O próprio voto não é suficiente para
combater o problema da Democracia;
o De acordo com uma análise economicista,
o normal da Democracia seria que
ninguém votasse;
o O voto traduz a expectativa que o eleitor
tem de a força política que mais benefício
lhe traz seja eleita;

o Análise custo-benefício do exercício de


votar:
 Custos de votar:
 Tempo perdido em recolha de
informação;
 Custo inerente ao acto de o
indivíduo se deslocar para
votar.
 Benefícios de votar:
 Utilidade de ser escolhida a
proposta que eu prefiro;
 Cumprimento de um dever
cívico.

Podemos, então, representar a análise


custo-benefício da seguinte forma:

E(U) = P(UX) – C + D

em que:

E(U) – expectativa de utilidade

P(UX) – multiplicação da probabilidade da


proposta que eu prefiro ser escolhida pela
utilidade da proposta favorita

C – Custos do acto de votar

D – Variável “dever cívico”, como


justificação para se votar e demonstração
da crença na Democracia. A cada acto
eleitoral, esta variável tem vindo a perder
peso, o que justifica os elevados índices de
abstenção.

No universo eleitoral português, a


probabilidade de a proposta que eu prefiro
ser escolhida é 1/8600000 ≈ 0. Portanto, a
utilidade é praticamente nula e,
normalmente, os custos são superiores.

Com a diminuição do número de cidadãos


eleitores a votar, promove-se a facilidade
de acção dos grupos de interesse junto do
poder político.

Na Suíça, são exigidos limites mínimos de


voto em referendo para a proposta ser
aprovada.

 A ilusão fiscal
o Criação de sistema fiscal, por parte do
Estado, que faz com que as pessoas não se
apercebam da sobrecarga fiscal a que
estão sujeitos, principalmente em matéria
de impostos indirectos (que beneficiam o
crescimento do Estado);
o A atribuição de subsídio aos juízes não foi
abolida, mesmo com o fim da
obrigatoriedade de mudança regular de
Comarca.

 A Democracia e o crescimento do sector público


o Porque tem crescido a dimensão do sector público?
 1. Lei de Wagner – elasticidades da despesa do Estado
face ao rendimento (efeito rendimento): segundo
Wagner, os bens com características de bem público ou
bem misto são cada vez mais essenciais com o
enriquecimento das sociedades (por exemplo:
educação, saúde, ambiente), exigindo maior
intervenção estatal. Portanto, seria natural este
desenvolvimento do Estado e a elasticidade seria maior
que 1 (> 1), evoluindo mais do que 1%. Contudo,
estudos empíricos contrariam esta tese, comprovando
que a elasticidade seria menor que 1 (< 1);
 2. Baumol afirma que a razão se encontra na
elasticidade-preço. Considera que não é quantidade de
intervenção que tem aumentado, mas antes o preço da
despesa pública, isto é, os custos da intervenção
pública (no caso português, a maior despesa são os
salários).
Nos últimos 100, os salários no sector privado têm
aumentado, mas produz-se bastante mais, ou seja, há
maior produtividade em relação ao aumento dos
salários. Já no sector público, os sectores estão muito
associados aos recursos humanos, ainda que se tenha
implementado muita tecnologia. Os salários públicos
acompanharam o crescimento dos salários privados,
mas não se verificou o mesmo crescimento em matéria
de produtividade.
 3. O “votante mediano” pode ser decisivo, sendo ele
pobre, votando a favor do aumento do custo da
despesa pública, que será suportado pela minoria rica;
 4. Teoria da burocracia: se a adopção de determinadas
políticas fica cara e os burocratas forem culpabilizados
pelo seguimento dessas propostas, podem ser
despedidos ou sofrer pesadas penalizações. Ora, isto
faz com que os burocratas, grupo com elevado poder
político e correspondente a cerca de 25% do
eleitorado, não revelem informação privilegiada;
 5. Teoria dos grupos de interesse – cada grupo de
interesse faz pressão para satisfazer interesses
individuais, face â ignorância da maioria;
 6. Os acordos “logrolling” – programas e soluções que
não seriam aprovadas pela maioria, mas que, por efeito
de coligação, acabam por o ser;
 7. Teoria dos ciclos políticos – em véspera de eleições,
há a tendência de efectuar um acréscimo de despesa
desmesurado;
 8. Crescimento da população – No sector público, em
economias de escala, seria possível poupar a despesa
pública. Contudo, essas economias de escala
encontram-se esgotadas, o que implica aumentos de
despesa pública, desproporcionados em excesso. Trata-
se de um argumento em desuso na actualidade, em
virtude da alteração desta variável demográfica;
 9. Envelhecimento da população – a inactividade da
população leva o Estado a financiar despesas de
Segurança Social e de Saúde. Por outro lado, a
diminuição da taxa de natalidade não permite captar
mão-de-obra produtiva;
 10. Recurso ao défice orçamental – em virtude da
teoria keynesiana, o Estado apercebeu-se que dispunha
aqui de um meio para aumentar a despesa pública,
com o argumento de melhoria das condições de vida,
para captação de votos, esquecendo o exercício da
estabilização da Economia. Como vimos, a equivalência
ricardiana não se aplica, visto que os indivíduos não
gozam, de imediato, de capacidade prospectiva;
 11. Alargamento das bases fiscais – através deste
meio, não se mexe nas taxas de imposto, mas sim na
incidência do mesmo. Deste modo, faz-se com que os
contribuintes não se apercebam do alargamento das
bases fiscais;
 12. Evolução das sociedades – trata-se de um
argumento prático, que se fundamenta na ocorrência
de dois grandes conflitos mundiais, facto que conduziu
à destruição de um grande número de instituições. Por
isto, houve necessidade de realização de um avultado
investimento que, contudo, não foi desacelerado.

o Críticas à literatura do Leviatã (“Leviathan literature”)


 Se, na prática, o “votante mediano” não está
informado, como pode influenciar?
 Porque se ignora a acção dos grupos de interesses, que
pretendem a diminuição da acção do Estado?
 Os burocratas, ao beneficiarem a ineficiência do
Estado, verão os políticos a ser prejudicados nos actos
eleitorais.

o Como travar o crescimento do sector público?


 1. É necessário que os governantes assumam a
vontade de reduzir a despesa pública;
 2. Importa fazer com que os investimentos mais
significativos sejam decididos por maioria qualificada;
 3. Revela-se importante eleger, para os quadros
superiores da burocracia, grandes individualidades
que deram provas da sua competência durante o
mandato do governante que o colocou (“jobs for the
boys”) e não nomear burocratas de carreira, que
podem actuar contra o Governo;
 4. Interessa acabar com os monopólios do Estado, na
maior parte do sectores, incentivando a concorrência
interna e deixando crescer a empresa mais eficiente.
Tudo isto sem aumentar muito a despesa pública e o
número de funcionários públicos. Considere-se o
exemplo da consultadoria jurídica do Estado, em que
podia haver recurso ao público e ao privado,
comparando a eficiência dos dois e seleccionar o mais
eficiente;
 5. Considera-se fundamental a reestruturação do
sistema político, de maneira a aproximar as decisões
do eleitorado, fazendo com que ele esteja melhor
informado.
 6. Seria importante, no domínio do sistema fiscal,
tornar os impostos mais visíveis, aumentando a
tributação directa, com recurso ao imposto único ou ao
imposto negativo.

ECONOMIA POLÍTICA II

(Terça-Feira, 11 de Abril de 2010, 9h30-11h – Teórica)


 Abordagem económica da descentralização
o A Administração Pública actua a vários níveis de governo
(central, regional, local);
o Importa, desde já, distinguir dois conceitos:
 Descentralização – o Governo central decide abdicar
de soberania, atribuindo poder de decisão autónomo e
total a níveis inferiores de governo (regionais e locais),
novas entidades públicas com total autonomia política
face aos partidos políticos e às orientações do Governo
Central.

 Desconcentração – o Governo central considera que


determinados serviços devem ser prestados junto das
populações (por exemplo: centros de saúde, Lojas do
Cidadão), sendo, para isso, constituídos órgãos, aos
quais são delegados poderes, sob dependência directa
do Governo Central.

o De todo o modo, a ligação existente entre Governo Central e


Governos Regionais e Locais não implica subordinação dos
segundos face ao primeiro, estando definidas na lei as
respectivas competências. Em função do seu âmbito de
competência geográfica, respondem perante os habitantes
desse território;
o No caso dos EUA, temos um Governo Federal, 50 Governos
Federais, que gozam de autonomia e constituição própria, e
os “counties” (autarquias locais);
o Atentando na figura VI.I, verificamos que o quociente de
centralização de Portugal é de quase 70%, o que constitui um
nível de centralização muito superior à UE-12.
Diferentemente, em Espanha apenas 37% dos recursos
públicos são geridos pelo Governo Central. Por outro lado, na
figura VII, constatamos que Portugal apresenta baixo nível de
descentralização, ao contrário de Espanha. Isto reflecte a
tradição espanhola e a dificuldade de garantir a unidade do
Estado;
o Realidades alegadas pelos adeptos da descentralização:
 A Região Norte de Portugal reivindica a centralização
na Região de Lisboa e Vale do Tejo. A decisão pela
descentralização constitui uma opção discutível, que
partirá sempre de uma posição política;
 Em Portugal, temos Governos municipais com muito
maior competência que os espanhóis. Como em
Portugal apenas existem duas Regiões Autónomas (em
Portugal Insular), denota-se uma sobrecarga sobre os
governos municipais, o que implica, necessariamente, a
atribuição de mais poder, em particular nas áreas da
Saúde e da Educação. Todavia, em virtude da crise
económico-financeira internacional, o Governo Central
impediu o endividamento dos Governos Locais, o que
retira a estes últimos as competências e faculdades
atribuídas;
 A criação da Zona Metropolitana de Lisboa e da Zona
Metropolitana do Porto constitui uma forma de suprir
a ausência de Governos Regionais;

o Argumentos económicos pela descentralização:


 1. Admita-se, teoricamente, que o Estado apenas
fornece bens públicos (bem “G” Figura VI.3) e existem
duas comunidades com preferências diferentes,
assumindo custos marginais constantes. A comunidade
A prefere o bem “G”, ao contrário da comunidade B,
sendo que o Governo Central só pode fornecer um
bem. Assim, temos que a quantidade óptima da
comunidade A é GA, enquanto a quantidade óptima da
comunidade B é GB;
Para aceder a todos os interesses, o Governo central
vai fornecer G*, apesar de ser uma quantidade de bem
público que não agrada a ninguém. Necessariamente,
tem de haver perdas de bem-estar:
Comunidade A → B-D-E (benefícios não
adquiridos por mais consumo)
Comunidade B → A-D-C (prejuízo por mais
consumo que o pretendido)

Daí que, haja governos locais a fornecer estes bens


públicos, dentro das quantidades óptimas,
maximizando-se a eficiência. Esta aqui em causa uma
questão de racionalidade para a existência e governos
locais, atendendo-se há heterogeneidade de
interesses.

Veja os seguintes exemplos;


- A Defesa Nacional, pela própria natureza do
bem, é fornecida a nível central, dadas as grandes
economias de escala;

- A iluminação pública deve, por seu turno, ser


matéria da responsabilidade das autarquias
locais, porque as economias de escala se esgotam
rapidamente. Também as polícias de segurança
devem prestar serviços de proximidade, sendo
por isso geridas a nível dos Governos Locais;

- Já o Ensino Superior não faz sentido que seja


gerido a nível local, mas pode ser gerido a nível
regional, fornecendo-se cursos adaptados à
procura manifestada (por exemplo: ciências
jurídico-políticas; ciências jurídico-económicas);

- Já o Ensino Primário (1.º ciclo) deve ser, por


lógica, gerido a nível municipal, garantindo-se a
salvaguarda das necessidades através de serviços
de proximidade. A gestão de edifícios e
funcionários não docentes é da responsabilidade
das autarquias locais. Já as questões dos
programas e da colocação dos docentes são
assumidas pelo Governo central, para evitar
disparidades nos conteúdos programáticos
ministrados. Tende-se a permitir a selecção de
diferentes disciplinas em cada instituição de
ensino, fixando como disciplinas de base o
Português e a Matemática.

- Sabemos que o Serviço Nacional de Saúde


(SNS) é gerido pelo Governo central. Há críticos
que consideram como alternativa mais eficiente e
equitativa a entrega da gestão a nível local.
 2. Admissibilidade de impostos regionais e locais,
podendo as populações manifestarem quais os
impostos que estão dispostas a pagar. Em nome da
eficiência, importa que serviços nacionais sejam
taxados de modo diferente em pontos diversos do
território. O mais eficiente seria o fornecimento de
serviços centrais com os impostos adquiridos pelo
Governo Central e fornecimento de serviços locais
através dos impostos recolhidos pelas autarquias
locais. Todavia, em matéria de equidade, tal proposta
não é favorável, na medida em que se verificaria um
movimento de deslocação das autarquias mais pobres
(que ficariam desertificadas) para as autarquias mais
ricas. Os habitantes das autarquias mais ricas desejam
pouca intervenção local, pois querem evitar que os
fundos sejam aplicados pelo Governo Central. Pelo
contrário, os habitantes das autarquias mais pobres
desejam muita intervenção do Governo Central.

Sistema de Impostos Nacionais


IRS – Imposto sobre o Rendimento de Pessoas
Singulares
IRC – Imposto sobre o Rendimento de Pessoas
Colectivas
IVA – Imposto de Valor Acrescentado
IS – Imposto de Selo
Sistema de Impostos Locais (para além de outras taxas
e tarifas): revertem a favor da localidade onde são
colectados e que criou os serviços necessários para
garantir as condições de higiene e segurança, ainda que
haja uma entidade pública que gere os impostos.
IMI – Imposto Municipal sobre Imóveis: âmbito
de variação de taxas restrito (cerca de 2%), sendo
que os municípios do Interior tendem a colocar
taxas mais baixas para favorecer a população;
IMT – Imposto Municipal sobre as Transacções
onerosas de imóveis

Como os impostos municipais não se revelam


suficientes para sustentar as despesas locais, há uma
redistribuição dos impostos nacionais, através de
transferência, em função do:

- Nível de população do município;

- Nível de rendimento per capita.

O Governo Central efectua muita redistribuição


espacial.

o Funções dos Governos Regionais e Locais


 Não exercem a função estabilização da procura
agregada, pois não faria sentido diferenciar impostos
centrais a nível local. Trata-se de uma função
macroeconómica;
 No que concerne à função redistribuição, não faz parte
da natureza (não é a maior vocação) destes governos,
ainda que, por exemplo, criem habitação social,
maioritariamente financiada pelo Governo central. Têm
algumas competências de redistribuição, mas não é
possível manter políticas de redistribuição locais;
 A função afectação é aquela que é, efectivamente,
assumida por estes governos, numa tentativa de
aumentar a eficiência.
o Modelo de Tiebout (“votando com os pés”)
 Tiebout constrói um modelo para a intervenção local,
considerando que os cidadãos deviam escolher, por
referendo, as decisões a tomar ao nível local, ao fixar
os níveis de intervenção. Os cidadãos pronunciam-se
sobre as decisões locais, tendo em vista o aumento da
eficiência;
 Os municípios que atribuam serviços de acordo com as
preferências dos cidadãos atraem aqueles que desejam
esse serviço e estão dispostos a pagar impostos. Ora,
isto conduz à especialização dos municípios no
fornecimento de determinados serviços. Tal modelo
implicaria uma enorme mobilidade dos cidadãos, o que
se revela difícil de implementar em Portugal. De todo o
modo, dentro dos municípios, já verificamos uma
deslocação dos indivíduos, em função da proximidade
dos serviços prestados;
 Este modelo fomenta a concorrência entre municípios
e o aumento da eficiência;
 Tal modelo só pode ser implementado, se o Governo
Central se predispuser a efectuar redistribuição de
fundos.

o “Exportação” de efeitos entre jurisdições


 Efeitos que abrangem municípios terceiros (recordar
“externalidades”);
 Municípios têm de apresentar entidade superior a nível
local, quando há efeitos externos negativos ou
positivos, podendo também haver recurso para o
Governo Central.

o Os impostos locais – tributação da propriedade


 Imposto sobre as transmissões onerosas de
propriedade (Figura VI.10) – sobre a compra e venda
de propriedade. Admitindo custos constantes, dada a
grande capacidade de endividamento dos construtores,
o construtor recebe o mesmo P0, com a evolução da
quantidade e do preço, havendo um prejuízo para o
consumidor;

 Imposto sobre a posse de propriedade (Figura VI.11) –


Semelhante ao imposto de propriedade de capital, a
posse de propriedade é alvo de tributação, pelo facto
de constituir um activo que pode gerar rendimento.
Atentando na figura VI.11, supondo que é lançado o
mesmo imposto em duas localidades, a curva da oferta
de uma localidade é a curva da procura da outra
localidade e, com igual taxa de imposto, não há
variação da rentabilidade. Mas a rentabilidade diminui
com a diferença de imposto. Sendo a taxa de imposto
maior na localidade “Y” face à localidade “X”, diminui a
quantidade de “Y” e é atraída a população para “X”.
Com isto, podem-se criar zonas massivas de população
e zonas desertificadas.

ECONOMIA POLÍTICA II

(Quinta-Feira, 13 de Abril de 2010, 9h30-11h – Teórica)

PARTE II – A INTERVENÇÃO DO ESTADO NO COMÉRCIO INTERNACIONAL

 A partir de 2005, com a adesão da China à Organização Mundial do


Comércio (OMC), verificou-se uma alteração do panorama mundial,
dado tratar-se de um gigante mundial, que se compromete com um
conjunto de regras de concorrência e de direitos humanos,
beneficiando da abertura de fronteiras dos restantes Estados-
membros;
 No período do Mercantilismo (século XV-XVIII), Portugal afirmava-
se como uma importância potência ao nível do comércio
internacional, com a epopeia das Descobertas. A partir também da
descoberta da América, vive-se uma espécie de “1.ª globalização”,
ainda que o comércio internacional assumisse um carácter
extraordinário. Nessa época, o ouro constituía a moeda de
transacção entre Estados. De acordo com a ideia de mercantilismo,
revelava-se muito importante exportar bastante para o exterior e,
por outro lado, importar o mínimo, com o objectivo de acrescentar
riqueza ao país → teoria proteccionista. A massiva exportação
acarretava elevada produção a preços mais baixos que os da
concorrência. Para prosseguir esta realidade, mantinha-se os
salários dos trabalhadores muito baixos, trazendo matérias-primas
das colónias para a metrópole a baixo preço, exportando o máximo
de produtos, da maior variedade;
 A aplicação de tarifas aduaneiras e de quotas de importação sobre
as importações de bens e serviços estrangeiros pode constituir um
artifício proteccionista que gera ineficiência;
 O Mercantilismo conduziu à ruína dos países mais detentores de
metais preciosos, pois a riqueza de um país avalia-se em função da
capacidade de remunerar os trabalhadores, oferecendo boas
condições de vida. No período compreendido entre os séculos XV e
XVIII, verificou-se que a maioria da população recebia salários
baixíssimos, subordinada a uma diminuta classe privilegiada e
monopolista dos negócios de Portugal;
 O acordo da OMC é válido para todos os produtos da indústria
transformadora, tendendo a estender-se para os serviços, mas
ainda não abrange a política agrícola;
 David Hume veio atacar o Mercantilismo, afirmando que nenhum
país consegue enriquecer à custa de metais preciosos, que mediam
os preços naquela época, visto que o valor da moeda era fixado em
função da quantidade de metal precioso. Com o aumento do metal
precioso (moeda) disponível e a mesma quantidade de bens,
verificava-se o aumento dos preços dos bens (inflação), o que
implicava o aumento dos salários dos trabalhadores para garantir a
sua sobrevivência. Ora, com isto, o país começa a perder
competitividade, com taxa de câmbio fixa (como em Portugal, com
o euro), o que justifica a vontade de alguns países em possuir
moeda própria para desvalorizar;
 Em Inglaterra, surge Adam Smith, que vem defender uma visão
contrária ao Mercantilismo. Segundo este, não devemos restringir
as importações, pois constituem uma necessidade de um país que
também exporta. O resultado da eficiência do mercado é a
especialização na produção de determinados produtos que o país
venderá ao exterior, comprando o resto dos produtos de que não
dispõe. Portanto, exporta aquilo em que é melhor e importa o
restante – Teoria da Vantagem Competitiva Absoluta face aos
restantes Estados –, fomentando o incremento do valor empregue
sobre os bens exportados para aumentar o seu valor. Estamos já
aqui perante uma teoria promotora do comércio internacional. A
aplicação desta teoria em Inglaterra conduz ao fenómeno da
Revolução Industrial, aplicando-se tecnologia no sector da produção
têxtil, de modo a afirmar-se como a potência máxima neste sector;
o Admitindo que o valor de um bem se obtém em função do
factor “horas de trabalho” (noção redutora na actualidade),
considere o seguinte exemplo:

Algodão (em jardas17) Vinho (em barris)


Inglaterra 1 Hora/jarda 4 Horas/barril
Portugal 2 Horas/jarda 3 Horas/barril

Vantagens competitivas absolutas:


Inglaterra – algodão (1 hora/jarda é + barato que 2
horas/jarda);
Portugal – vinho (3 horas/por barril é + barato que 4
horas/jarda).

17
Jarda = fio de 914 milímetros (914 mm).
Em Inglaterra, um barril de vinho é trocado por 4 jardas
de algodão; em Portugal, um barril de vinho é trocado
por 1,5 jardas de algodão.

Por outro lado, em Inglaterra, uma jarda de algodão é


trocada por ¼ de barris de vinho; em Portugal, uma
jarda de algodão é trocada por 2/3 de barris de vinho.

Com isto, concluímos que, para os ingleses, vale a pena


vir comprar o vinho a Portugal e depois vendê-lo no seu
país. O mesmo se verifica, em Portugal, sobre o
algodão.

Se se fixar uma nova razão de troca para Inglaterra – 1


barril de vinho e trocado por 3 jardas de algodão –,
significa que 1 jarda de algodão é trocada por 1/3 de
barris de vinho em Portugal. Logo, a Inglaterra também
beneficia desta alteração.

É, deste modo, que se explica a especialização dos


países na produção de determinados produtos.

o Teoria da Vantagem Comparativa / Comparada de David


Ricardo
 Obtém um dos resultados mais consensuais no seio da
Economia;
 De acordo com a teoria ricardiana, os países que não
têm vantagem comparativa em qualquer produto não
tem necessariamente que viver isolados, ao contrário
do que afirmava Adam Smith. Deste modo, conclui que
qualquer país beneficia com o comércio internacional;
 Ricardo verifica que o importante é avaliar o custo de
oportunidade;
 Considere-se o seguinte exemplo:

Algodão (em jardas) Vinho (em barris)


Portugal 2 Horas 4 Horas
Resto do Mundo 1,5 Horas 1 Hora

Se aplicássemos a teoria das vantagens absolutas,


Portugal não beneficiaria do comércio internacional.

Contudo, admitindo que os países utilizam a totalidade


dos seus recursos e não há desemprego, conclui-se que
um país interessado em produzir maior quantidade de
um bem terá de reduzir a produção do outro,
havendo, portanto, um custo de oportunidade
implícito.

Aplicação da teoria ricardiana:

Portugal Resto do Mundo


Preço do barril de vinho 0,5 Jardas/barril 1,5 Jardas/barril
Preço da jarda de algodão 2 Barris/jarda 0,67 Jardas/barril

Vantagens comparadas:
Portugal – vinho (0,5 jardas/barril é melhor que 2
barris/jarda);
Resto do Mundo – algodão (0,67 jardas/barril é melhor
que 1,5 jardas/barril).

 Portugal produz vinho para os nacionais e para


exportação, enquanto o Resto do Mundo produz
algodão para os nacionais e para exportação;
 Demonstram-se os benefícios do comércio
internacional, ainda que se verifique necessariamente
uma alteração do preço dos produtos;
 Para simplificação, fixa-se o preço internacional dos
produtos, depois do comércio internacional de um;
 Com a abertura do comércio internacional, Portugal
canaliza os seus recursos para a produção de vinho e o
Resto do Mundo para o algodão.

o Teoria de Heckscher-Ohlin (dois autores que trabalharam


separados, mas apuraram a mesma conclusão)
 Admitindo igual tecnologia e não existindo
mutabilidade de trabalhadores e do factor terra, assim
como os factores de produção são utilizados na
totalidade:
 Questionam-se porque é mais barato produzir
determinados produtos em determinado países?
 Verifica-se que os recursos disponíveis são
diferentes e há uma canalização de factores de
produção intensiva diferentes:
o Algodão: mão-de-obra;
o Vinho: terra.
 A diferença de custos de oportunidade prende-
se com as diferentes necessidades de cada factor
de produção (diferentes intensidades) e as
diferentes quantidades relativas de factor de
produção nos diferentes países;
 Um país é relativamente mais abundante em
mão-de-obra se apresentar uma maior relação
(entenda-se “divisão”) entre o trabalho e os
outros factores de produção (terra),
comparativamente ao Resto do Mundo.
N.º de trabalhadores
Quantidade de terra

 Diferença entre intensidades de factores nos


produtos: um produto é relativamente mais
intensivo em mão-de-obra se os custos de
trabalho da produção desse bem
corresponderem a uma parte maior do que os
custos de trabalho no valor dos outros bens;
 Conclusão: os países mais intensivos em factor
terra/mão-de-obra especializam-se nos bens
mais intensivos em factor terra/mão-de-obra,
sendo os produtos mais baratos (melhor preço);
 Portugal especializa-se na produção de vinho,
enquanto o Resto do Mundo se especializa na
produção de algodão.

ECONOMIA POLÍTICA II

(Segunda-Feira, 17 de Abril de 2010, 14h-16h – Teórica)


 O comércio internacional e políticas associadas
são, de algum modo, sempre contestadas,
porque há sempre grupos que ganham e outros
que perdem – conflito entre grupos;
 A partir do momento em que Portugal e o Resto
do Mundo se atraem ao exterior, temos de
considerar efeitos de curto e longo prazo;
 A utilização dos factores de produção terra e
trabalho pode ser alterada entre produtos
(vinho, algodão). Não admitimos a possibilidade
de os trabalhadores emigrarem para Portugal e
vice-versa;
 Resultados no curto prazo em Portugal (os
factores de produção não se movem entre
sectores):
o Verifica-se um aumento da procura, em
Portugal, de vinho, pelos estrangeiros, na
medida em que Portugal beneficia de uma
vantagem comparada e o produto é mais
barato. O algodão português é menos
procurado, pois o algodão do Resto do
Mundo é mais barato;
o No sector do vinho, quer a remuneração
do factor terra, quer a remuneração do
factor trabalho, há um aumento dos
rendimentos, dado o aumento da procura.
Já no sector de algodão, os factores terra e
mão-de-obra sofrerão uma queda de
rendimentos;
o Assim: no sector exportador, aumentam
os rendimentos; no sector importador,
diminuem os rendimentos;
o Os industriais associados à produção de
algodão surgiriam a contestar a abertura
ao comércio internacional, o que não
sucede com os produtores de vinho. Os
consumidores querem a abertura ao
exterior, ainda que o preço do vinho para
os consumidores nacionais suba.

 Resultados no longo prazo em Portugal (os


factores de produção começam a movimentar-
se entre sectores):
o Os trabalhadores dedicados à produção de
algodão começam a mover-se para o
sector do vinho, assim como a terra
utilizada para a produção de algodão
sofrerá afectação, começando-se a
produzir vinho;
o Os proprietários da terra irão beneficiar,
ficando prejudicados os trabalhadores. O
contrário sucede no Resto do Mundo.
Pelo facto de o vinho ser um produto mais
intensivo em factor terra e o algodão em
mão-de-obra, as terras que usavam muitos
trabalhadores com a produção de vinho
deixarão de ser necessários tantos
trabalhadores, o que conduz a um
fenómeno de desemprego, enquanto os
proprietários da terra obtêm lucro;
o Obviamente, os trabalhadores
desempregados procurarão emprego,
mesmo que o salário seja baixo, o que
conduz a uma diminuição dos salários no
global;
o Se considerarmos que os cidadãos são
prospectivos, apenas os trabalhadores se
vão opor à abertura ao comércio
internacional;
o No Resto do Mundo, os proprietários
contestariam, a longo prazo, a abertura ao
comércio internacional.

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