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Apostila de Pesquisa Mineral

INSTITUTO FEDERAL DE CIÊNCIA, EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA DE


MINAS GERAIS – CAMPUS OURO PRETO

APOSTILA DE PESQUISA MINERAL

FELIPE DE ORQUIZA MILHOMEM


2º BIMESTRE DE 2012
Apostila de Pesquisa Mineral

INTRODUÇÃO À PESQUISA MINERAL

Recursos minerais são um bem suprimento finito e não-renovável, de utilização


crescente. Aplicação mineral encontra-se nas mais diversas áreas (alimentação, moradia,
agricultura, construção civil, etc).
Sem os recursos minerais, a humanidade não teria como subsidiar seu crescente
desenvolvimento tecnológico. A aplicação de técnicas modernas, por vezes, altamente
refinadas, permitiu-lhe descobrir, obter e transformar bens minerais em bens
manufaturados que tornaram a vida mais confortável.
Volumes gigantescos de bens minerais são rapidamente extraídos de seus
depósitos, o que pode levar à escassez ou mesmo exaustão dos mesmos.
A pesquisa geológica é, portanto, importante para propiciar melhor
aproveitamento dos recursos minerais, desenvolvimento tecnológico, fortalecimento da
economia regional e local, atração de investimentos e geração de emprego e renda.

“Considerando o importante papel da exploração


mineral para o desenvolvimento do setor mineral de um
país ou de uma região, é importante que se encoraje
essa atividade, principalmente do ponto de vista social,
econômico e ambiental, ou seja, com uma visão de
desenvolvimento sustentável. Esse encorajamento se dá
mediante políticas de incentivo para ampliação do
conhecimento geológico e dos investimentos na
exploração mineral, dentre outras.”

Andrade, 2005.
DEFINIÇÕES BÁSICAS E TERMOS TÉCNICOS

Jazida Mineral – Depósito mineral viável economicamente (é uma rocha, sendo


constituída pelo minério e pelas encaixantes).
Ocorrência Mineral - Concentração de um determinado mineral ou minerais sem
interesse econômico imediato.
Encaixantes – São as rochas estéreis.

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Minério – De onde são extraídos os metais e minerais de valor econômico;


O minério é dividido em mineral-minério e ganga:
• Mineral-Minério – São os minerais que são aproveitados economicamente.
Ex: Au nativo, calcopirita (Minério e Cu), Galena (Minério de Pb);
• Ganga – São os minerais que ocorrem no minério sem valor econômico. Ex:
Au em veios de quartzo, onde o Au é o mineral-minério e o quartzo é a ganga.
Teor de uma jazida – É a relação entre mineral-minério e o minério Ex: 2 g/t de Au
em veios de quartzo, jazida com 1,2 % Pb e 4% de Zn associado rochas carbonatadas.
Subprodutos – Alguns minérios têm minerais que isoladamente na jazida não poderiam
ser aproveitados economicamente. Porém, extraídos juntamente com o mineral-minério
amplia a margem de lucro na explotação da jazida. Ex:

• Jazida de Cu-Ni-Pt em rochas peridotíticas, onde o Cu e o Ni são os minerais-minério


e a Pt o subproduto;
• Jazida de Au e Pirita em veios de quartzo, onde o Au é o mineral-minério e a pirita o
subproduto.
Teor de Corte ou Cut-off – representa o valor mínimo para o qual é rentável a sua
explotação.
Teor Crítico – representa o teor limite entre lucro e prejuízo. É importante frisar que na
maioria das jazidas são extraídos minérios com valores de teores abaixo do teor crítico,
porém estes são blendados (misturados) com minérios com teores mais elevados,
portanto, o teor final fica acima do teor crítico.
Teor Limite – Representa os teores de minérios que não servem nem para blendagem,
que podem acarretar prejuízos na extração. Os teores crítico e limite variam de acordo
com os seguintes fatores:

• O preço de comercialização do minério ou concentrado;


• A extensão ou tipo de jazida;
• A posição geográfica da jazida;
• Minerais acessórios associados;
• Novas descobertas tecnológicas;
• Características do minério e da encaixante.

Principais teores críticos para alguns metais:

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• Minérios de Ferro – Hematita e magnetita > 46% de Fe ; Limonita > 37-45%;


• Minérios de Manganês – 35-42% ; Lavra a céu aberto;
• Minérios de Ouro – Até 0,35 g/t em mina a céu aberto e 2-5 g/t em minas
subterrâneas; em jazidas aluvionares > 0,5 g/t;
• Minérios de Cobre – 0,4% em minas a céu aberto e 1% em minas subterrâneas;
• Minérios de Prata - > 350-400 g/t;
• Minérios de Tungstênio – 0,1-0,3% WO3.

Beneficiamento - Processo de separação e concentração dos materiais de valor do


minério utilizando métodos físicos e químicos.
Concentrado - É o material de valor separado após o beneficiamento.
Rejeito - É o material não valioso do minério separado após o beneficiamento.
Recuperação - É a relação entre a quantidade de mineral de valor recuperada e a
quantidade total de mineral de valor que foi processado na usina, dada em porcentagem.
Recuperação da Mina - É a relação entre a quantidade de mineral de valor extraído e a
quantidade total existente na mina.
Lavra - É um conjunto de processos tecnológicos de extração de um minério
(explotação);
Mina: É uma jazida em processo de lavra;
Prospecção - Conjunto de métodos de pesquisa que objetivam a descoberta de
depósitos minerais;
Exploração geológica - Etapa inicial de reconhecimento/levantamento geológico para
seleção de regiões prioritárias para pesquisa futura;
Pesquisa mineral - Conjunto de estudos que visam identificar a presença de
quantidades anômalas de elementos químicos ou minerais em uma determinada porção
da crosta.
Prospecção superficial - Metodologia de superfície e subsuperfície através de poços de
pesquisa, trincheiras, amostragem de afloramentos, geofísica e geoquímica, para
caracterização superficial de depósito mineral;
Cubagem dos depósitos - Última fase de pesquisa a partir de furos de sonda, trabalhos
mineiros (galerias, travessas, poços inclinados, shafts, etc.) e levantamentos
geológicos/topográficos detalhados;

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NOÇÕES DE DEPÓSITOS MINERAIS

1. INTRODUÇÃO

Um Depósito Mineral é uma concentração anômala de um bem mineral,


constituído de minério, encaixante, estéril, mineral-minério, ganga e sub-produto(s). O
depósito mineral, embora seja um corpo rochoso diferenciado, devido a sua inusitada
composição química e mineral, tem sua origem relacionada aos processos geológicos
comuns, como: sedimentação, intemperismo, metamorfismo, vulcanismo, plutonismo,
etc., daí a importância do conhecimento geológico prévio de petrografia e mineralogia.
Desta forma, os processos geológicos concorrem para a formação de concentrações
anômalas, resultando no Depósito Mineral.
Existem diversas classificações dos Depósitos Minerais, cada uma delas
utilizando-se de um critério específico. como, por exemplo: utilização comercial do
mineral-minério (commodity), morfologia (Forma do Corpo Mineralizado), origem
(Ígneo, Metamórfico e Sedimentar), rocha hospedeira da mineralização, processo
formador, ambiente geotectônico, tempo relativo de formação com respeito à
encaixante, Regularidade Estatística etc. Cada uma delas com vantagens e desvantagens
na aplicação. Um Depósito bem conhecido (bastante estudado) serve de referência para
o estudo de outros. Esse Depósito é chamado de Depósito-Padrão ou Jazida-Tipo, os
quais, via de regra, são os maiores do mundo (chamados de “world class”).
Quando o Minério é formado ao mesmo tempo em que a(s) Encaixante (s) diz-se
que ele é SINGENÉTICO. Quando é formado posteriormente a(s) Encaixante(s) diz-se
que é EPIGENÉTICO. Chamam-se Depósitos Primários aqueles de origem magmática
e Secundários aqueles de origem sedimentar. O depósito pode ainda ser classificado
como disseminado ou confinado ou se é concordante ou discordante, conforme segue a
seguir:

• Depósito disseminado: os minerais-minério encontram-se dispersos em grandes


volumes de rocha;
• Depósito confinado: minérios encontram-se concentrados em um pequeno
volume de rocha;
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• Depósito discordante: minérios são mais jovens que as rochas hospedeiras e as


cortam em ângulos diversos;
• Depósito concordante: podem ou não ser mais jovens que a rocha hospedeira e
se posicionam paralelamente ao acamamento da rocha.

Figura 01: depósito confinado.

Os depósitos também podem ser classificados quanto à sua forma, sendo as mais
comuns: bandado, em camadas, lenticular (em lentes), disseminado, schilirien, poroso,
pulverulento, massivo (maciço), Stockwworks, amas, filão, etc.
Diz-se que um minério é bandado, acamadado ou em camadas (Depósitos
Estratiformes – em forma de estratos) quando se apresentam como corpos tabulares
onde a espessura é muito pequena em relação às outras duas dimensões do corpo. São
do tipo singenético. Lentes ou lenticulares são aqueles em forma de bolsões ou
elipsóide.

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Figura 02: depósito acamado à esquerda e lenticular à direita.

Os stockwerks ou stockworks são finos veios interconectados. A forma de


amas é utilizada para designar morfologia de difícil definição (formas caprichosas que
não podem ser expressas por um modelo geométrico simples). O filão (Depósitos
Filoneanos) fissuras na rocha, preenchidas por substâncias minerias, podendo ser
simples ou complexos. Possuem faces mais ou menos paralelas e de fraca espessura em
relação às outras dimensões. Também chamados de “veios”.

Figura 03: exemplo de stockworcks e de amas

Figura 04: exemplo de filão: simples e complexo.

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Outra forma de classificação dos depósitos minerais está relacionada ao seu


processo formador, podendo este ser de dois tipos:

• Processos hipogênicos: processos de dinâmica interna, atuantes no interior


da Terra (depósitos magmáticos e metamórficos);
• Processos supergênicos: processos geológicos de dinâmica externa, atuantes
na superfície da Terra ou próximos a ela.

Na tabela a seguir, está a classificação dos depósitos minerais quanto ao seu


processo formador.

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Tabela I:: Resumo da classificação dos depósitos minerais quanto ao seu


processo formador.

2. Depósitos Hipogênicos (Processos Atuantes No Interior Da Terra)

2.1 Segregação magmática

Ocorre devido cristalização do magma. Pode ser de dois tipo: cristalização


fracionada e líquido imiscível.

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Cristalização fracionada:: alguns cristais se formam mais cedo que outros. Os cristais
não estão em equilíbrio com a fase líquida, e por meio de diferenças de densidade e
processos gravitacionais, os mesmos sedimentam na base da câmara magmática.

Líquido imiscível:: São líquidos que não se misturam como o óleo e água. Os exemplos
clássicos envolvem sulfetos e silicatos Os casos
casos mais comuns são sulfetos de ferro,
níquel, cobre e platina também ocorrer.

2.2 Pegmatitos

Na realidade Depósitos Minerais econômicos são relacionados com pegmatitos


graníticos oriundos de magmas félsicos mais água. A formação dos pegmatitos se dá na
fase
ase final de resfriamento do magma, através da percolação de soluções ricas em sílica,
água e, ocasionalmente, em alguns íons que não entraram na estrutura cristalina dos
minerais até então formados. A partir destas soluções hidrotermais são gerados os
pegmatitos,
matitos, constituídos principalmente por quartzo e feldspato potássico. No entanto,
em alguns casos, estas soluções hidrotermais podem estar enriquecidas por elementos
químicos de importância econômica fazendo com que os pegmatitos sejam
mineralizados a tungstênio,
ngstênio, uraninita, estanho, turmalina, topázio, etc.

Figura 05:: formação de pegmatitos: a. Quartzo, feldspato e mica são os três principais minerais a se
cristalizarem; b. Como os metais não se encaixam nas estruturas desses minerais, eles ficam enriquecidos
enriq
no magma residual (estágio de cristalização fracionada); c. Concentração de água aumenta, acarretando
uma separação de fluido aquoso magmático contendo os metais de valor econômico. Esse fluido poderá
se injetar no próprio granito ou nas rocha encaixantes
enca e cristalizar-se
se como segregação de veios
pegmatíticos.

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2.3 Hidrotermal

Os processos hidrotermais são caracterizados por soluções aquosas quentes


responsáveis pela formação do Depósito Mineral. A faixa de temperatura varia desde 50
°C a 450 °C, sendo a água com alta salinidade (salmoura) a fase mais importante.

Figura 06: exemplo de formação de depósito hidrotermal.

2.4 Secreção Lateral

Formação de depósitos minerais por lixiviação de metais e SiO2 da rocha


hospedeira. O magma segrega os elementos químicos das rochas adjacentes, interagindo
com a encaixante devido à abertura promovida por fraturas.

2.5 Processos Metamórficos

Metamorfismo são todas as modificações na assembléia mineral de uma rocha,


que ocorrem no interior da crosta da Terra, como resultado das mudanças na
temperatura (T) e pressão (P), ou ação de fluidos hidrotermais a partir de 200-250 oC
(<200-250 oC ocorre a diagênese/rochas sedimentares) e vai até a fusão parcial da rocha
e formação de MIGMA (migmatitos) ou até a fusão total com a formação do magma
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(rochas magmáticas ou Ígneas). Essas modificações podem ser de caráter regional,


restrita ao contato entre um corpo de rocha quente intrudido em uma rocha mais fria
(Met. de Contato), devido a fluidos quentes (Hidrotermal), atuação preponderante da
pressão (dinamometamorfismo), entre os principais tipos. Os processos hidrotermais e o
de escarnitização – formação de “skarn” merecem especial destaque sendo, por isso,
tratados separadamente quando se trata de Depósitos Minerais.

3. Depósitos Supergênicos (Processos Atuantes Na Superfície Da Terra)

Alguns autores designam o termo “Depósitos Residuais” para englobar todos os


processos de seleção natural sedimentar de minerais minérios, tanto os placers
(Acumulação Mecânica) como Alteração Supergênica. Ou seja, nestes depósitos, há
acumulação residual de uma ou mais substâncias estáveis em condições superficiais
(presença atuante do intemperismo).

3.1 Acumulação mecânica

São processos gravimétricos responsáveis pela concentração natural de minerais


pesados e de baixa solubilidade. Assim, agentes como a água ou o vento transportam os
minerais mais leves e concentram aqueles mais pesados. São também chamados de
“placer” ou depósitos detríticos, e podem formar depósitos recentes ou antigos (paleo-
placer). Exemplos de depósitos de placer são inúmeros, como Ouro, ilmenita, magnetita
e diamantes estão entre os minerais obtidos de placers.

Figura 07: exemplo de acumulação mecânica.

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3.2 Enriquecimento supergênico.

Lixiviação de certos elementos da parte superior de um depósito mineral e sua


reprecipitação em profundidade para produzir concentrações mais altas. A porção
superior de muitos depósitos de cobre pórfiro tem seu enriquecimento devido aos
processos supergênicos. Esse processo tem sido invocado para a maioria dos depósitos
de “gossans” (chapéu de ferro), lateritas e bauxitas. Nas bauxitas a lixiviação de ferro e
óxido promove o enriquecimento de Alumínio. Naquele sentido mais amplo, os
depósitos residuais seriam de dois tipos, um englobando os dentríticos (as
concentrações mecânicas ou placers) e outro englobando todos os processos de
enriquecimento através da lixiviação natural.

Figura 08: enriquecimento supergênico.

3.3 Precipitação sedimentar

A concentração anômala se forma devido a precipitação química (evaporação ou


saturação) de certos elementos dissolvidos na água (mar, lagoa,etc), como calcários , sal
gema, evaporitos, Formação de Ferro Bandada BIF (Banded Iron Formation), em que
ferro e chert (gel silicoso) definem seqüências acamadadas (bandadas). Todos os
depósitos sedimentares químicos estão incluídos nessa classificação.

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3.4 Processo vulcano-exalativo


exalativo

São Depósitos Minerais sedimentares que mostram relação com Rochas


Ro
Vulcânicas ou vulcanismo.

Na figura a seguir, está um exemplo geral da formação dos depósitos minerais:

Figura 09:: exemplo esquemático de formação de depósitos minerais (processos supergênicos ou


hipogênicos).

RECURSOS E RESERVAS MINERAIS

1. Recurso Mineral

Recurso Mineral é uma concentração ou depósito na crosta da Terra, de material


natural, sólido, em quantidade e teor e/ou qualidades tais que, uma vez pesquisado,
exibe parâmetros mostrando, de modo razoável, que seu aproveitamento econômico
econômi é
factível na atualidade ou no futuro.
O Recurso Mineral é uma mineralização estimada por pesquisa. Condicionantes
diversos farão com que o todo, ou uma parcela do mesmo, possa se tornar uma Reserva
Mineral.
A pesquisa mineral mostra que se trata de uma concentração ou depósito que
possa ser economicamente aproveitado. A adequação dos parâmetros de quantidade e
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teor e/ou qualidades deve ser realizada, ou supervisionada, por um ou mais profissionais
experientes e qualificados, que avaliam as características geológicas do material, tais
como tonelagem ou volume, qualidade e/ou teor, espessura, atitude, etc.
O aproveitamento econômico não é, necessariamente, alicerçado por estudos de
viabilidade, mas podendo ser por comparação com outros depósitos bem conhecidos e,
eventualmente, em lavra.
A expressão “aproveitamento econômico”, aplicada às substâncias minerais,
significa que sua extração é viável técnica e economicamente, observando-se certos
condicionamentos relevantes, adotados no momento da avaliação, de tal modo que
assegura o retorno do investimento, com lucro.
Os parâmetros geológicos de um recurso são estabelecidos a partir de
estimativas e de interpretações derivadas de evidências geológicas. A partir de crescente
conhecimento geológico estabelecem-se classes de recursos.
O conhecimento geológico não especifica fatores econômicos, legais, de lavra,
etc. Refere-se apenas a segurança da avaliação dos recursos (isto é, alicerça-se nos graus
de exploração e reconhecimento). A exatidão dos cálculos e os erros inerentes
dependem do grau de exploração (natureza, número e arranjo dos trabalhos de
pesquisa). A precisão maior ou menor na revelação do modelo empírico (ou
condicionamento geológico) depende do grau de reconhecimento do depósito.
O conhecimento geológico inclui as conclusões de todas as fases de uma
pesquisa mineral. Quando se fala de conhecimento geológico crescente, isto quer dizer
melhor conhecimento dos parâmetros geológicos do depósito, tais como a sua
arquitetura (morfologia ou forma), trama (estrutura e textura), distribuição mineral ou
de teor, etc. O conjunto destes parâmetros permite um melhor entendimento sobre a
persistência (ou não) da mineralização (na horizontal e na vertical). Repare-se, então,
que as classes de recursos minerais são suportadas por crescente conhecimento
geológico, da classe inferida passando-se à indicada e findando-se na medida.
O grau de exploração define a exatidão dos cálculos e os erros inerentes aos
mesmos, pelo que, em pesquisa mineral, depende da natureza, número e arranjo dos
trabalhos de pesquisa.
O grau de reconhecimento é definido pela precisão, maior ou menor, possível de
ser obtida na pesquisa mineral, pelo que depende do condicionamento geológico do
depósito em consideração.

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1.1 Recurso Mineral Inferido

Recurso Mineral Inferido é a parte do Recurso Mineral para a qual a tonelagem


ou volume, o teor e/ou qualidades e conteúdo mineral são estimados com base em
amostragem limitada e, portanto, com baixo nível de confiabilidade. A inferência é
feita a partir de informações suficientes (geológicas ou geoquímicas ou geofisicas,
utilizadas em conjunto ou separadamente), admitindo-se, sem comprovação, que haja
continuidade e persistência de teor e/ou qualidades, de tal modo que se pode ter um
depósito de mérito econômico potencial. A pesquisa realizada não é detalhada (as
estações de amostragem têm espaçamento relativamente amplo) e pode incluir
exposições naturais e artificiais (estas em trincheiras, poços, galerias e furos de sonda).
Conteúdo é aquilo que está contido em alguma coisa, no caso, são os minerais
contidos no depósito. Este conteúdo pode ser representado na forma de um teor. No
caso dos minérios, o conteúdo mineral será o “metal contido”.
Um nível de confiabilidade é medido pelo intervalo de confiança que revelará a
precisão da estimação (Precisão de estimativa) e a sua acurácia (Ordem de acurácia),
para um determinado nível de probabilidades. Precisão é o rigor adotado na
determinação dos parâmetros considerados na pesquisa mineral, com a determinação da
faixa de sua variação, para mais ou para menos, do valor estimado, para um
determinado nível de probabilidades. Acurácia é a proximidade entre o valor medido
experimentalmente e o valor real, no processo de medição de parâmetros. No caso da
pesquisa mineral, dos parâmetros físicos e químicos do depósito, sendo, para cada um
deles, calculado o respectivo “erro de estimação”, levando-se em consideração o
método de estimação usado.
Estações de amostragem são todos os pontos de coleta de amostras (locados a
3D), devidamente descritos quanto ao seu método de coleta e ao volume e geometria de
cada amostra.
1.2 Recurso Mineral Indicado

Recurso Mineral Indicado é a parte do Recurso Mineral para a qual a tonelagem


ou volume, o teor e/ou qualidades, conteúdo mineral, morfologia, continuidade e
parâmetros físicos estão estabelecidos, de modo que as estimativas realizadas são
confiáveis. Envolve pesquisa com amostragem direta em estações (afloramentos,
trincheiras, poços, galerias e furos de sonda), adequadamente espaçadas.

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1.3 Recurso Mineral Medido

Recurso Mineral Medido é a parte do Recurso Mineral para a qual a tonelagem


ou volume, o teor e/ou qualidades, conteúdo mineral, morfologia, continuidade e
parâmetros físicos são estabelecidos com elevado nível de confiabilidade. As
estimativas são suportadas por amostragem direta em retículo denso (afloramentos,
trincheiras, poços, galerias e furos de sonda), de modo que se comprova a permanência
das propriedades.
Retículo é a malha da amostragem a 3D. “Retículo denso” é uma malha ajustada
para a densidade de exploração adequada à fase da pesquisa mineral em que se está e
para o tipo de depósito em estudo.

2. Reserva Mineral

Reserva Mineral é a parte do recurso mineral para a qual demonstra-se


viabilidade técnica e econômica para produção. Essa demonstração inclui considerações
sobre elementos modificadores, tais como fatores de lavra e beneficiamento, de
economia e mercado, legais, ambientais e sociais, justificando-se a avaliação,
envolvendo análise de lucratividade, em um dado tempo.
Uma reserva mineral com viabilidade técnica e econômica demonstrada,
significa que tal reserva está apta para aproveitamento econômico e que existe
tecnologia disponível para tal aproveitamento, conforme deve ser consubstanciado no
pertinente estudo de viabilidade, com adequado nível de confiabilidade.
A análise de lucratividade é um capítulo do estudo de viabilidade técnica e
econômica, devendo ser efetuada sobre um fluxo de caixa descontado que represente o
empreendimento em estudo, para todo o período da sua vida útil.
Reservas incluem materiais diluídos, se aproveitáveis. Diluir é diminuir a
concentração. Em geral, entende-se por diluição a diminuição de um teor pela
contaminação do material útil desmontado, vinda da sua mistura com materiais estéreis,
interiores e exteriores à mineralização.
Dadas as limitações atribuídas aos “recursos inferidos”, não se justifica
transformá-los em “reservas”, sem pesquisa adicional, pois não procedem estudos de
viabilidade sobre algo que tem baixo nível de confiabilidade.

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Rejeitos de operações mineiras anteriores, com atual potencial de


aproveitamento, serão recursos ou reservas. Rejeitos de operações mineiras são todos os
materiais desmontados e não utilizados comercialmente. Incluem os estéreis de lavra
(materiais que não sofreram beneficiamento) e os rejeitos do beneficiamento.

2.1 Reserva Mineral Indicada

Reserva Mineral Indicada é a parcela economicamente lavrável do Recurso


Mineral Indicado e, mais raramente, do Recurso Mineral Medido, para a qual a
viabilidade técnica e econômica foi demonstrada; inclui perdas (e diluição) com a lavra
e o beneficiamento. Avaliações apropriadas, além da viabilidade técnica e econômica,
são efetuadas compreendendo elementos modificadores, tais como fatores legais,
ambientais e sociais. As avaliações são demonstradas para a época em que se reportam
as reservas e razoavelmente justificadas.
A diluição representa uma perda no teor da mineralização. As outras perdas são
devidas à não recuperação total, na fase de lavra, do volume estimado como reserva do
depósito e ao rendimento metalúrgico do seu beneficiamento.
Define-se como “razoavelmente justificada”, a critério da “pessoa devidamente
qualificada e experiente”, a malha de pesquisa que produzirá as informações necessárias
e suficientes para as “classes indicadas” de recursos e reservas minerais.

2.2 Reserva Mineral Medida

Reserva Mineral Medida é a parcela economicamente lavrável do Recurso


Mineral Medido, incluindo perdas (e diluição) com a lavra e o beneficiamento, para a
qual a viabilidade técnica e econômica encontra-se tão bem estabelecida que há alto
grau de confiabilidade nas conclusões. Os estudos abrangem análises dos diversos
elementos modificadores (tais como lavra, metalurgia, economia e mercado, fatores
legais, ambientais e sociais) e demonstram que, na época em que se reportaram as
reservas, sua extração era claramente justificável, bem como adequadas as hipóteses
adotadas para investimentos.
Define-se como “claramente justificada”, a critério da “pessoa devidamente
qualificada e experiente”, a malha de pesquisa que produzirá as informações necessárias
e suficientes para as “classes medidas” de recursos e reservas minerais.

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Tonelagens ou volumes e teores sempre serão fornecidos, mesmo que se


apresentem estimativas
imativas envolvendo valores equivalentes de metal contido ou
o conteúdos
minerais.
As classes de reservas minerais Provada e Provável, constantes em alguns
códigos, correspondem, respectivamente, às classes de reservas minerais Medida e
Indicada, aqui usadas.

Figura 10: relação entre recursos e reservas minerais.

FATORES QUE CONTROLAM A VIABILIDADE MINERAL

São quatro principais fatores:

• Fatores geológicos;
• Fatores técnicos;
• Fatores econômicos;
• Fatores ambientais.

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Fatores geológicos

O suprimento mineral vem dos depósitos minerais, que são concentrações de


elementos ou minerais que podem ser recuperados com lucro.

• O minério:
• O caráter e o teor estabelecem o valor unitário.
• Da quantidade dependem a escala e duração da operação lucrativa.
• Depende da qualidade e quantidade do minério determinado nas estimativas de reserva
medida,
• Também da extensão provável do minério, incluída nas reservas indicadas e inferida.

Fatores técnicos

• Planta ou instalações tanto para mina como para beneficiamento,


• Operação da mina e beneficiamento,
• Pessoal
• Miscelânea
• Eficiência de operação

Fatores econômicos

Afetam indiretamente o custo do produto e seu preço de venda no mercado:


• Transporte mina -local de venda (Al, Fe)
• Aceitação no mercado
• Não produzir mais do que o mercado pode consumir
• Matéria prima x manufaturados (mudanças de preço, de mercado

Fatores ambientais

• Poluição associada a extração e beneficiamento.


• Leis e regulamentações para prevenir tais problemas tem regido a determinação de se
um depósito mineral pode ter lucro ou onde pode ser instalado.

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A globalização dos anseios ambientais apresenta problemas éticos complexos


que recém começaram a aparecer.
• Que direito um país tem de poluir a atmosfera e oceano, quando a poluição afeta
outros países?

FASES DA MINERAÇÃO

A atividade mineira é constituída das seguintes etapas:

a) Pesquisa;
b) Desenvolvimento;
c) Lavra;
d) Beneficiamento;
e) Fechamento de mina (recuperação de áreas degradadas)

A primeira etapa (exploração e prospecção) está relacionada com as atividades


de pesquisa mineral, para a descoberta da jazida. O desenvolvimento está relacionado
com o desenvolvimento da infraestrutura necessária para a lavra:

• desbravamento,
• decapeamento,
• drenagem,
• terraplenagem,
• pavimentação,
• instalações elétricas,
• construções,
• barragens, etc.

Na parte do desenvolvimento também são realizados os estudos de viabilidade


econômica, além da escolha do método de lavra. Ainda na etapa de desenvolvimento
mineiro, ocorre a expedição das licenças ambientais (EIA-RIMA) e a busca pelo
financiamento para a exploração. A figura mostra um cronograma de desenvolvimento
de um projeto mineiro.

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Figura 11: cronograma de desenvolvimento de um projeto mineiro.

Por fim, é realizada a reabilitação das áreas degradadas pela atividade mineira.
Ela é realizada de tal forma, a deixar o local explorado o mais próximo possível das
condições que possuía antes do início das operações.
Importante salientar o fato que a primeira etapa, de pesquisa e prospecção dos
depósitos, é uma etapa de alto risco envolvido, e a partir da sua elaboração surgem as
demais etapas.

FASES DA PESQUISA MINERAL

Como falado anteriormente, a etapa da pesquisa e prospecção é muito


importante, pois a partir dela será verificada a viabilidade econômica de uma jazida.
Assim, estudos detalhados são realizados na área de interesse. Esse estudo é realizado
por meio de etapas sucessivas, distintas e dependentes entre si:

a) Exploração geológica: é a fase inicial de reconhecimento geológico de grandes


áreas, execução dos primeiros levantamentos geológicos e seleção de áreas
prioritárias que serão detalhadas durante a segunda fase do trabalho.
b) Prospecção superficial: são determinadas as características superficiais do
depósito através de aberturas de frentes de trabalho de pesquisa, como poços,
trincheiras, amostragem de afloramentos e eventualmente execução de trabalhos
geofísicos e geoquímicos.

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c) Avaliação dos depósitos: esta avaliação compreende a última etapa e é


realizada a partir da análise dos furos de sonda, dos trabalhos mineiros (galerias,
travessas, poços inclinados, etc.), levantamentos geológicos e topográficos
detalhados.

As campanhas de prospecção mineral envolvem diversas etapas de trabalho,


cada uma delas desenvolvida em uma escala apropriada.
Antes de qualquer trabalho de campo, são realizados o levantamento de todos os
dados existentes na área (revisão de dados bibliográficos). N exploração geológica
utilizam-se mapas geológicos nas escalas 1:100.000 e 1:50.000, pois permitem uma
melhor individualização e controle da mineralização e em consequência à definição
adequada de áreas alvos para os trabalhos de detalhamento subseqüentes. Nesta etapa
são visitadas as jazidas e ocorrências já estudadas, que devem ser plotadas no mapa
geológico de base, salientando-se os principais controles de mineralização.
No mapeamento geológico executado na fase de exploração em superfície, as
áreas levantadas não devem ficar restritas as faixas anômalas ou as zonas contendo
indícios de mineralização. Esta ampliação possui finalidade de se ter uma noção da
estruturação regional e da petrografia das rochas regionais.
No final do trabalho de exploração geológica, tem-se uma mapa geológico original
enriquecido com todas as observações efetuadas pelos geólogos prospectores (dados de
geologia, da distribuição e tipo das mineralizações, etc) e que irá favorecer a seleção das
áreas alvos potencialmente promissores.
A segunda etapa (prospecção superficial) é efetuada numa área menor, a
elaboração de mapas geológicos das áreas (1:20.000/1:25.000) e dos alvos (1:10.000)
selecionados é indispensável podendo essses mapeamentos, na medida em que a
pesquisa progride, serem efetuados em diversas escalas.
Metodologia de superfície e subsuperfície englobam poços de pesquisa,
trincheiras, amostragem de afloramentos, geofísica e geoquímica, para caracterização
superficial de depósito mineral. No final dos serviços executados na fase de prospecção
superficial o levantamento geológico é mais preciso.
A etapa final da pesquisa mineral é a avaliação dos depósitos. Os elementos
essenciais que devem ser determinados para a avaliação de um depósito mineral são o
teor e volume. Estes elementos são definidos a partir de medições e amostragens dos
pontos acessíveis no corpo mineralizado. Também são realizados mapeamento de

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detalhe, com grade precisão, em escalas pequenas, de 1:1.000. Todos os trabalhos de


investigação de subsuperfície efetuados (poços, trincheiras, furos de trado,etc) devem
ser devidamente amarrados, determinado-se as suas localizações precisas através de
coordenadas geográficas ou UTM. Deve-se ainda calcular as cotas das bocas de poços,
furos de sonda, etc., pois essas informações serão fundamentais para a determinação do
volume (cubagem) do corpo pesquisado.

PROSPECÇÃO GEOQUÍMICA

Os métodos de investigação geoquímica são úteis a diversas áreas do


conhecimento e da atividade econômica. Fundamentam-se na determinação dos teores
dos elementos químicos e amostras de sedimentos ativos de drenagem, água, solo,
rocha, espécies vegetais e emanações gasosas de origem natural ou artificial. O
conhecimento da distribuição geográfica dos elementos químicos e a delimitação de
regiões onde haja abundância ou escassez podem ser utilizados como indicadores ou
rastreadores de:

• Variações naturais no quimismo das litologias, da cobertura de solo, da rede


hidrográfica superficial e até mesmo da biota;
• Focos de poluição industrial, agrícola e doméstica em ambientes rurais e
urbanos;
• Extensão da pluma de contaminação das fontes de poluição sobre as águas
superficiais e de subsuperfície;
• Regiões de risco à saúde humana e animal;
• Jazidas minerais.

Na pesquisa mineral, o que mais importa é a utilização da geoquímica para a


descoberta de jazimentos, assim, tem-se a chamada Prospecção Geoquímica, que
consiste num método de pesquisa que procura sistematicamente o conteúdo de um ou
mais elementos traços contidos nos mais diversos tipos de materiais. Com isso,
objetiva-se ressaltar a presença de anomalias geoquímicas, ou seja, as zonas com
concentrações anômalas em determinados elementos, que contrastem com o ambiente

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que representa o fundo geoquímico ou background. Na figura a seguir, está


demonstrada a relação com a prospecção geoquímica e outras áreas do conhecimento.

Figura 11: Relação entre prospecção geoquímica e demais áreas do conhecimento.

A prospecção geoquímica possui grande importância na pesquisa mineral, pois


possui grande eficiência na descoberta de depósitos minerais assim como pela facilidade
na coleta de amostras e ainda pelos baixos custos e curto prazo. A Geoquímica torna-se
mais importante ainda nesse contexto, pois ela tem a capacidade de “ler”, através de
dados de superfície, as informações de sub-superfície, incapazes de serem observadas
diretamente. Com isso a geoquímica é orientada para a descoberta de novos corpos de
minério e, consequentemente as pesquisas de campo tem se concentrado principalmente
em trabalhos com sedimentos de corrente e água, e trabalhos de solos, desde que os
padrões de dispersão nestes materiais ocorram a consideráveis distâncias da fonte.
O estudo detalhado de um recurso ou reserva mineral pode levar à viabilidade técnico-
econômica de um depósito mineral. Tendo como fim à exploração econômica dos
elementos, foi introduzido o conceito de Clarke, que significa a abundância média de
um elemento na crosta.

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Tabela II: alguns valores característicos do Clark.

Em geral, as substâncias minerais, salvo raras exceções, estão presentes em seus


depósitos em concentrações superiores àquelas com que participam na composição
química média da crosta terrestre, ou seja, acima de seu Clarke.
Entre as vantagens da técnica, estão: identificação de anomalias associadas a
jazidas; identificação de elementos de pouca expressão superficial; auxilia
auxi na utilização
de métodos geofísicos; ferramenta de baixo custo; os mapas geoquímicos auxiliam na
implementação de mapas geológicos.
Alguns dos principais conceitos da prospecção geoquímica são mostrados a
seguir:

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Ambiente geoquímico: Soma de todas as forças físicas e químicas atuantes na crosta


terrestre. Podem ser de dois tipos: primário (ambiente hipogênico) e secundário
(supergênico).

O ambiente PRIMÁRIO abrange a zona abaixo dos níveis inferiores de


circulação das águas meteóricas até as profundidades onde se processam os fenômenos
de diferenciação magmática e metamorfismo. São características do ambiente primário:

⇒ Alta pressão (P) e temperatura (t);


⇒ Pouco oxigênio (O2) livre;
⇒ Pouca circulação de fluidos;
⇒ Os depósitos podem ser singenéticos e epigenéticos;
⇒ Exemplos: Cu-Ni em rochas máfica - ultramáficas, berilo e tantalita em pegmatitos;
Au em veios de quartzo.

O ambiente SECUNDÁRIO compreende a zona onde se desenvolvem os


processos superficiais de intemperismo, erosão, sedimentação, diagênese, pedogênese e
atividade biológica. São características do ambiente secundário:

⇒ Baixa P e T;
⇒ Presença de O2 e CO2 (abundante);
⇒ Fluxo de fluidos relativamente livres;
⇒ Os depósitos podem ser singenéticos e epigenéticos;
⇒ Exemplos: Placers, BIFs; bauxita

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Figura 12:
12 diferenças entre ambiente primário e secundário.

Background:: Faixa de valores razoavelmente definidos (valor máximo e mínimo) que


caracterizam cada tipo de rocha, ou seja, trata-se
trata se da representação do valor médio.
Anomalia: Valores de concentração de elemento químico fora do background (pode ser
positiva ou negativa).

Figura 13: Anomalia indicando presença de depósito mineral.

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Dispersão: Distribuição ou redistribuição de elementos pelos agentes físicos, químicos


ou mecânicos que ocorre como resposta às mudanças processadas no ambiente
geoquímico. Podem ser:

 Primária: fenômenos mineralizantes;


 Secundária: alteração superficial.

Mobilidade geoquímica: a maior ou menor facilidade com que um elemento químico


se move em um meio natural específico. Vai depender de fatores físico, químicos e
mecânicos. Os elementos podem ser considerados móveis e imóveis.
Halo geoquímico: região que contém os teores anormais (elevados ou reduzidos) de
elementos químicos nas rochas encaixantes, solos, vegetação, etc., de modo a revelar a
presença de um alvo geoquímico.

Figura 14: tipos de halo.

Existem elementos que apresentam mobilidades similares, e tendem a se agrupar


em um mesmo tipo de depósito constituindo associações minerais específicas. Essa
capacidade de associação vai depender principalmente de propriedades químicas, como
valência e raio iônico dos átomos, e em menor escala como propriedades físicas como
fusão, dureza, peso específico, etc.
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Elementos que permanecem associados durante o ciclo hipógeno (atividade


ígnea e metamorfismo) podem, por outro lado, se desassociar durante o ciclo supérgeno
(intemperismo e sedimentação). É esse fato que leva a que se vise elementos
rastreadores (pathfinders), que são os elementos relativamente móveis de uma
associação, na busca de um determinado corpo mineral. Alguns elementos rastreadores
são mostrados na tabela a seguir, bem como os tipos de depósitos com os quais podem
estar associados.
Cabe ressaltar aqui a diferença entre elemento rastreador e elemento indicador.
O primeiro consiste de elementos associados com a mineralização, enquanto o
elemento indicador faz parte de um dos principais elementos do minério.

Tabela III: Pathfinders e elementos indicadores para alguns tipos de


mineralizações polimetálicas

Pathfinders Elementos do minério Tipos de depósitos


As Cu-Au (Sb, Ag) depósitos de sulfetos e metais preciosos
Hg Pb-Zn-Ag depósitos de sulfetos
Mo W-Sn depósitos de metamorfismo de contato
Elementos indicadores Elementos do minério Tipos de depósitos
Mo Cu-Re-Mo depósitos de porphyry copper
Hg Sb-As-Hg depósitos de sulfetos
Zn/Cu Cu-Pb-Zn depósitos sulfetos
Zn Ag-Pb-Zn depósitos sulfetos

ETAPAS DA CAMPANHA DE PESQUISA GEOQUÍMICA

Podem ser:

• Prospecção geral (reconhecimento regional);


• Prospecção estratégica;
• Prospecção de detalhe.

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Na etapa de prospecção geral procuramos ter uma idéia do que existe numa
região durante o levantamento geológico. Quando a área é geologicamente pouco
conhecida, podemos encontrar informações úteis em bibliografias especializadas ou
não, ou então, com velho morador da região, um garimpeiro, ou ainda em documentos
históricos existentes em Museus ou Arquivos Públicos do município. Começa-se o
trabalho de campo com locação de acampamento base, abertura de picadas,
levantamentos em igarapés, coletas, e aberturas de poços e trincheiras. Algumas
amostragens são realizadas e é possível obter o background da área.
A prospecção estratégica consiste na continuação da etapa anterior, e envolve
trabalhos mais sistemáticos e visa o levantamento de zonas anômalas, possivelmente
relacionadas aos corpos mineralizados. Podem ser realizadas amostragens de
sedimentos de corrente e de bateia ao longo das drenagens da área.
Por fim, tem-se a prospecção de detalhe ou tática, que também envolve
trabalhos mais sistemáticos, com amostragem com malha regular. Após a definição das
zonas anômalas (definidas na etapa anterior), sua origem, extensão superficial e teores
podem ser estabelecidos.

Figura 15: Evolução de uma campanha de prospecção geoquímica: estágio inicial e final
(descoberta do corpo de minério).

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A prospecção geoquímica utiliza principalmente amostras de solos residuais,


sedimentos de correntes (aluviões), água subterrânea, vegetais, gases e rochas,
georreferenciados em mapas adequados, auxiliados por GPS, bússola, caderneta de
campo, etc. A prospecção em solos residuais e em vegetais é aconselhável para áreas
reduzidas (alguns quilômetros quadrados).

Figura 16: algumas anomalias e tipos de amostragens que podem ser executadas.

Sedimentos de corrente:

• Principalmente em pesquisa regional;


• Bacias de captação;
• Influência de corrente fluvial;
• Montante da região de amostragem;

Coleta do sedimento de corrente:

a) na calha do rio, dentro do leito ativo, fora da influência das margens (diluição da
anomalia), de preferência onde a água esta correndo, e abaixo do nível d’água;
O sedimento geralmente encontra-se retido por obstáculos naturais (matacão, tronco,
etc. .), lugares onde a corrente perde velocidade;

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b) em rio seco, o sedimento está exposto ao ar, coletar onde a água provavelmente corre
na época de chuva e sempre limpar a superfície do sedimento antes de coletar a amostra,
para evitar assim a poluição orgânica ou da margem;
c) nunca amostrar na vizinhança ou dentro de acumulação local de matéria orgânica
(área pantanosa) ou de depósito ferruginoso ou manganesifero (couraça, revestimento),
acumulação que geralmente induzem a falsa anomalia;
d) nunca coletar a menos de 50m da confluência de drenagens, para evitar diluição de
anomalia transportada pelo afluente e existência na confluência de falsa anomalia por
causa de variação de pH e Eh;
e) em cada 10 amostras fazer amostragem dupla, escolhendo locais diferentes (réplica
para testar variabilidade dos dados

Pedogeoquímica:

• Coleta de solo;
• Continuação do método por sedimento de corrente;
• Pode fornecer informações pontuais do material (solo in situ);
• Importante conhecimento dos perfis do solo.

Coleta do solo:

Utiliza-se trado manual, picareta, ou enxada, com os quais se abrirá um pequeno


buraco até a profundidade previamente determinada sendo que a finalidade desta coleta
é obtermos uma amostra abaixo do nível do húmus e acima da rocha alterada.
Em seguida, secar as amostras ao sol, vento, fogo ou estufa, tendo o cuidado de
não deixar que queime ou fure o saco para evitar a perda e/ou contaminação da amostra,
desagregar a parte argilosa em um graal de ágata (fig. ao lado) sem moer os grãos,
passar em uma peneira de malha 0,1mm. Eliminar a parte restante (grosseira), embalar
os sacos em caixas apropriadas para remessa ao laboratório.

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Litogeoquímica:

• Coleta de rocha;
• Amostras de fragmentos de rocha ou inteiros;
• Realização de trincheiras, galerias, poços;
• Análise de detalhe (anomalia máxima no corpo).

Água de drenagem:

• Indicadas para grandes áreas (> 100 km²);


• Grande variedade de locais (poços, fontes, lagoas);
• Método sensível à contaminações;
• Para elementos de grande mobilidade.

Coleta de água:

Para a coleta de água, o principal problema é o da poluição. Acondiciona-se a


água em recipiente de plásticos branco, mole, livre de poluição. É de grande
importância mantê-los fechados e protegidos de poeiras, chuvas e outras fontes de
poluição até o momento da coleta.
As amostras devem ser duplas (duplicata) e totalmente cheias e uma delas
acidificada ate 1% com HCl/12N, com o equivalente a 20 gotas. A outra garrafa não é
acidificada (dosagem CO-2, H- CO3, Cl-). A finalidade da acidificação é evitar a
precipitação ou co-precipitação de íons metálicos.
Inicialmente coleta-se somente água corrente nos rios principais e água de fonte
naturais próximas à estruturas ou formações favoráveis a mineralização; posteriormente
a coleta poderá ser mais sistemática dependendo do tipo e importância das
mineralizações supostas.
A água corrente pertencendo a um meio muito homogêneo, geralmente não
estratificado, a coleta poderá ser feita em qualquer ponto do meio da corrente e
aproximadamente a 30 cm abaixo da superfície, onde a garrafa será aberta para coleta.
Em caso de ocorrer um filamento d’água (caso de fonte) deve-se colocar um
tubo plástico para canalizar a coleta e, evitar assim, a contaminação da boca da garrafa

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com a formação local. Antes da coleta deve-se lavar por 3 vezes, interna e externamente
a garrafa, a rolha e o tubo plástico eventualmente utilizado com a água a ser coletada.

Concentrado de bateia:

• Obtenção de resíduo pesado (concentração gravítica);


• Pode ser usado em conjunto dos demais métodos;
• Coleta em pontos concentradores de drenagem;

Técnica de concentração por bateia

O material deve ser coletado com pás ou cavadeiras a cerca de 30 cm de


profundidade e com volume constante entre 10 a 20 litros. Pode-se fazer um pré-
peneiramento, separado e rejeitando a fração mais grossa após análise visual com
seleção dos minerais de interesse que devem ser guardados com o concentrado.
Durante o bateiamento deve-se ter cuidado para não perder materiais de interesse
como palhetas de ouro mais fino. O bateiamento é feito, se possível, no próprio local de
coleta e o concentrado é guardado em saco plástico e etiquetado. Por fim, a estação de
coleta deve ser marcada para futuras verificações e eventuais amostragens.

Figura 17: fases do bateiamento

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Análise do Concentrado

a) Minerais flutuantes apesar da alta densidade: grafita, mica, molibdenita, especularita,


sulfetos quando muito fino (pirita, galena, calcopirita) e ouro quando em palhetas finas;
b) Minerais claros: calcita, quartzo, feldspato e berilo;
c) Na parte externa da zona de minerais escuros: fluorita, andaluzita, apatita, turmalina,
anfibólio e piroxênio e limonita.
d) Na parte central das areias pretas: topázio, cianita, corindon, titanita, epidoto,
estaurolita, granadas, hematita, magnetita, ilmenita, diamante, zircão, rutilo,
scheelita e monazita.
e) No centro ou fundo de bateia: cromita, wolframita, cassiterita, columbita-tantalita,
titanita, cobre nativo, ouro e platina.

Biogeoquímica:

• Análise química de vegetação (folhas, caules, raízes);


• Pode ser usada em todas as etapas da prospecção;
• Indicada para áreas pequenas (< 10 km²).
Após todas as etapas de amostragem, é realizada a análise dos dados coletados.
Para a escolha dos métodos de tratamento dos dados é necessário distinguir entre os
diversos tipos de levantamentos geoquímicos, conforme seus objetivos e escalas de
trabalho. Segundo os objetivos são feitos mapeamentos para uso múltiplo, geralmente
em escalas regionais. Para prospecção de bens minerais, pode-se chegar a escalas de
detalhe.
Dimensões e faixas de variação dos teores dos elementos químicos irão
caracterizar padrões globais, megaprovíncias geoquímicas, anomalias regionais e, por
fim, anomalias locais, em todos o casos interpretando-se os dados geoquímicos em
conjunto com informações geológicas e geofísicas.
Os diversos levantamentos geoquímicos deverão, então, ser realizados segundo
diferentes densidades amostrais, havendo uma relação entre escala e número de
amostras.

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Tabela IV: relação entre escala e densidade de informações.

Escala Densidade

1/10.000 100 pontos/km²

1/5.000 400 pontos/km²

1/2.500 1.600 pontos/km²

1/2.000 2.500 pontos/km²

1/1.000 10.000 pontos/km²

Um dos mais importantes problemas relacionados com a aplicação da estatística


em geoquímica é no que diz respeito ao estudo do comportamento espacial dos
elementos ou compostos químicos.
A correlação entre valores amostrais é quantificada em função da distância entre
amostras, representando o aspecto geoquímico da área em estudo.
Como consequência, valores podem ser interpolados em postos não-amostrados
a partir dos valores conhecidos por amostragem e a cartografia geoquímica pode ser
efetuada de forma mais precisa.

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REFERÊNCIAS

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GROSSI SAD, J.H. e VALENTE, J., “Reservas e Recursos Minerais – Uma Revisão”,
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GROSSI, J.; VALENTE, J. Guia Prático para Calculo de Recursos e Reservas Minerais.
2003.

LACERDA, C.M.M. Apostila de Pesquisa Mineral. Notas de aula. IFMG, 2008.

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metálicos, óleo e gás. Rio de Janeiro. CPRM, 2007, 780 p.

LIMA, M.P. Apostila de Pesquisa Mineral. Notas de Aula. UFPA. Faculdade de


Engenharia de Minas. 2008.

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Técnicos de Geologia e Mineração. IFRN, Rio Grande do Norte, 2010, 267 p.

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VASCONCELLOS, E.M.G. Conceito de Geoquímica. Notas de aulas. Departamento de


Geologia, UFPR.

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