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Nuno Domingos
A ÓPERA DO TRINDADE
FNAT: Política Social, Divulgação Cultural e Ideologia
A Companhia Portuguesa de Ópera (1963-1975)
Opera do Trindade.qxp 5/28/07 11:25 AM Page 4
Título
A Ópera do Trindade
© 2006, Nuno Domingos
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Agradecimentos
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Conteúdos
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Ópera para Trabalhadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1 > Ideologia, Políticas Sociais e Tempos Livres . . . . . . . . . . . . . . . 26
O lazer moderno e as suas funções sociais . . . . . . . . . . . . . . . 36
O Estado moderno e as políticas sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . .39
1.1 > A organização dos lazeres na Itália fascista
e na Alemanha nacional-socialista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
1.2 > O percurso histórico da FNAT . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Alegria no Trabalho e a dimensão cultural . . . . . . . . . . . . .56
O Portugal do pós-guerra e o crescimento da FNAT . . . . .62
O crescimento da acção ideológica da FNAT . . . . . . . . . . .67
2 > A Companhia Portuguesa de Ópera: Os Fundamentos . . . . . . 80
A política cultural da FNAT no Teatro da Trindade . . . . . . . . . . 80
A ópera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Desproletarizar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
O Trindade e o meio operático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Políticas culturais e objectivos políticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
O São Carlos e o Trindade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
Sobre a sensibilidade para a ópera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
O público . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
Enobrecer a cultura popular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
O Caso Ruy Coelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
Os limites do espectáculo corporativo: as actas do
Conselho Consultivo do Teatro da Trindade . . . . . . . . . . . . . . 110
Um modelo operático alternativo: o caso do Grupo
Experimental de Ópera de Câmara (GEOC) . . . . . . . . . . . . . . 118
Os cantores do Trindade e a sua condição . . . . . . . . . . . . . . . 126
3 > A Companhia Portuguesa de Ópera: As Temporadas . . . . . . 133
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
Posfácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .206
Anexo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
Índice Remissivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219
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Índice de Abreviaturas
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Apresentação
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Apresentação
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Introdução
1. Modelo patente na obra historiográfica de Fernando Rosas, que abarca essencialmente o período do Estado Novo anterior à Se-
gunda Guerra Mundial, mas também em trabalhos mais recentes, como, por exemplo: José Carlos Valente, Estado Novo e Alegria
no Trabalho – Uma História Política da FNAT (1935-1958), Colibri/INATEL, Lisboa, 1999.
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Se é verdade que, ainda quando parece assentar na força nua, a das armas ou do di-
nheiro, o reconhecimento da dominação supõe sempre um acto de conhecimento,
isso não implica que se justifique descrevê-lo na linguagem da consciência, cedendo
a um “través” intelectualista e escolástico que, como acontece com Marx (e sobre-
tudo com aqueles que, na esteira de Lukács, falam de “falsa consciência”), leva a
esperar a emancipação… do efeito automático da “tomada de consciência”, igno-
rando, à falta de uma teoria disposicional das práticas, a opacidade e a inércia que
resultam da inscrição das estruturas sociais nos corpos.2*
2. Pierre Bourdieu, A Dominação Masculina, Celta, Oeiras, 1999, ed. orig. 1998, p. 34.
* Em todas as citações presentes neste livro optou-se por preservar a grafia original da época, facto que conduz a um duplo critério
de revisão. A título de exemplo, tanto poderemos ler “S. Carlos” (nas citações) como “São Carlos” (no texto do autor). (N. do E.)
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Introdução
3. Pierre Bourdieu,”Sobre o Poder Simbólico”, em O Poder Simbólico, Difel, Linda-a-Velha, 1994, p. 12.
4. Margaret R. Somers, “We’re No Angels: Realism, Rational Choice, and Relationality in Social Science”, American Journal of So-
ciology , Vol. 104, n.o 3, Novembro de 1998, pp. 722-84.
5. Kiser e Hetcher escrevem um artigo no mesmo número do American Journal of Sociology. Edgar Kiser; Michael Hetcher, “The
Debate on Historical Sociology: Rational Choice Theory and its Critics”, AJS, Vol. 104, n.o 3, Novembro de 1998, pp. 785-816.
6. Em certo sentido não se afasta da expressão de Bourdieu: o real é relacional. Pierre Bourdieu, “Introdução a uma Sociologia Re-
flexiva”, em O Poder Simbólico, Difel, Linda-a-Velha, 1994, ed. orig. 1982, p. 28.
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A Ópera do Trindade
1. Carta de Quirino Mealha ao chefe de gabinete do ministro das Corporações e Previdência Social, Arquivo do Ministério do Tra-
balho e Solidariedade, pasta 313.
2. As óperas referidas ao longo deste livro são nomeadas de acordo com a grafia presente em jornais, programas e outros docu-
mentos de época.
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3. Carta de Serra Formigal ao presidente da Emissora Nacional, 14/8/1974, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1974.
4. Victor Pavão dos Santos, “A Trindade e o S. Luís – Grandeza e decadências de dois teatros do Chiado”, em Tomás Ribas, O Teatro
da Trindade – 125 anos de vida, Porto, Lello & Irmão, 1993, p. 13.
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5. Ibidem, p. 13.
6. Ibidem, p. 37.
7. Como notava Tomás Ribas, “A companhia de Eva Stachino extasiava Lisboa com as suas revistas enfeitadas pelos restos dos
guarda-roupa dos espectáculos parisienses do Folies Bergères, do Casino e do Moulin Rouge.” Tomás Ribas, op. cit., p. 48.
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8. José Serra Formigal: “Plano Geral Para Uma Programação Anual do Teatro da Trindade”, p. 1, Acervo Serra Formigal.
9. Os editoriais de O Século vinham, nas mais diversas áreas da vida pública, demonstrando um certo sentido crítico em relação
à governação.
10. “Ópera só para alguns”, O Século, 17/3/1959, p. 1.
11. Ibidem. Serra Formigal sugeriu, na entrevista que nos concedeu, que foi pela sua acção junto do ministro Gonçalves Proen-
ça que se patrocinaram as récitas populares no Coliseu.
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13. João de Freitas Branco, Arte Musical, Julho/Novembro de 1963 e Maio de 1964, n.os 20, 21 e 22, p. 528.
14. Diário da Manhã, 17/5/1963, p. 3.
15. João de Freitas Branco, Arte Musical, Julho/Novembro de 1963 e Maio de 1964, n.os 20, 21 e 22, p. 526.
16. João de Freitas Branco, Arte Musical, Julho/Novembro de 1963 e Maio de 1964, n.os 20, 21 e 22, p. 526.
17. “Alguns elementos sobre a ‘Temporada Popular de Ópera e Opereta do Teatro da Trindade’ referidos pelo director do teatro à impren-
sa na reunião efectuada em 27/4/1963”, em Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1963.
18. João de Freitas Branco, Arte Musical, Novembro de 1962, n.o 18, p. 611.
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1.
Ideologia, Políticas Sociais
e Tempos Livres
1. José Carlos Valente, Estado Novo e Alegria no Trabalho – Uma História Política da FNAT, Edições Colibri-INATEL, Lisboa, 1999.
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António Oliveira Salazar, João Gonçalves Proença e Maria José Salavisa. Visita de Salazar ao Teatro da
Trindade depois das obras de renovação, dirigidas pelo arquitecto Miguel Evaristo de Lima Pinto e cuja
parte de decoração coube a Maria José Salavisa, 1967
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4. Os estudos sobre o sistema corporativo português têm atribuído uma importância marginal à questão dos lazeres. Ver Manuel
de Lucena, A Evolução do Sistema Corporativo Português, vol. I, O Salazarismo, Perspectivas e Realidades, Lisboa, 1976; Fátima Pa-
triarca, A Questão Social no Salazarismo, 1930-1947, vol. 1, INCM, Lisboa, 1995; Philippe C. Schmitter, Portugal: do Autoritarismo à
Democracia, ICS, Lisboa, 1999.
5. José Carlos Valente, op. cit., p. 10.
6. José Carlos Valente, op. cit., p. 10.
7. Ibidem, p. 9.
8. Ibidem, p. 208.
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ao nível das práticas sociais, que corre o risco de ser afastada, ou peri-
ferizada, da análise histórica, se permanecer a opção de considerar a
política social como um objecto a-ideológico, ou debilmente ideológico.
No universo da política social, ao modo como a ideologia formata o pensa-
mento, sobrepõe-se o interesse em perceber a sua eficácia em sociali-
zar as relações concretas onde esse pensamento é produzido. Implica,
portanto, que as formas de mediação instrumental entre doutrinas e
práticas sejam explicitadas.9 A esfera cultural, relevando as vivências e
as socializações quotidianas, é um elemento central na interpretação
dos processos de dominação.
Neste quadro de análise, o conceito gramsciano de hegemonia cultu-
ral possibilita analisar, para além dos quadros institucionais repressores
e autoritários, a subsistência de determinados padrões de organização
social.10 A hegemonia cultural, legitimadora de uma ordem social, resul-
tava de um conjunto de normas e valores socialmente prevalecentes,
transmitidos por diversos mecanismos de socialização. A incorporação
de “formas de ser e de agir” reflectia a desigualdade no que respeita às
relações de poder. Este tipo de controlo social impunha-se como natural.
O conceito de dominação weberiano11 revela o modo como as práticas
quotidianas, envolvidas por relações de poder desiguais, legitimam elas
próprias os grandes complexos de dominação social, transformando o
poder em autoridade, ou seja, em dominação consentida e reconhecida
pelos actores sociais. A descrição, pelo mesmo autor, dos mecanismos
de dominação que envolvem as sociedades modernas remetia para a
compreensão dos processos macrossociais que enformavam as práticas
quotidianas. A dominação moderna, dita racional-legal, originava uma
burocratização das relações sociais, organizada por uma divisão social
de trabalho progressivamente complexa. A alteração, nos países que li-
deravam o processo de modernização, dos grandes eixos organizadores
da vida quotidiana obrigou ao estudo das melhores formas de controlar
9. Como afirma Juan Linz, a propósito do regime franquista em Espanha: “Podemos ficar seriamente equivocados se estudarmos
determinados regimes através das suas Constituições, leis, discursos ou textos de ideólogos desconhecidos e ignorados sem ques-
tionar a forma como tudo isto se disseminou na realidade social.” Juan Linz, “An Authoritarian Regime: Spain”, in Allardt, E. e Lit-
tunen, Y., ed., Cleavages, Ideologies, and Party System, The Academic Bookstore Helsinki, 1964, p. 294, tradução do autor.
10. Sobre o conceito de “hegemonia cultural”, ver Antonio Gramsci, Obras Escolhidas, vol. I, Estampa, Lisboa, 1974, pp. 384-387;
Kate Crehan, Gramsci, Cultura e Antropologia, Campo da Comunicação, Lisboa, 2004, ed. orig. 2002, pp.122-133.
11. Max Weber, Economy and Society, 3 vols. Totowa, N.J., Bedminster Press, 1968, pp. 215-223.
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12. Como afirma Bourdieu: “Se as relações de força objectiva tendem a reproduzir-se nas visões do mundo social que contri-
buem para a permanência dessas, é porque os princípios estruturantes da visão do mundo radicam nas estruturas objectivas
do mundo social e porque as relações de força estão sempre presentes nas consciências em forma de categorias de percep-
ção dessas relações.” Pierre Bourdieu, “Espaço Social e Génese de Classes”, em O Poder Simbólico, Difel, Linda-a-Velha, 1994,
ed. orig. 1984, p. 142.
13. Michael Mann, “The Autonomous Power of the state: Its Origins, Mechanisms and Results”, em States in History, Stuart Hall
ed., Basil Blackwell, New York, 1997, pp. 109-136.
14. Ibidem, p. 132, fragmento traduzido pelo autor. Mann aponta quatro parâmetros que reflectem o poder infraestrutural do Es-
tado: a divisão do trabalho no interior da organização das actividades estatais; a literacia, que permite a transmissão de conheci-
mentos, regras e ordens; os mecanismos económicos que permitam a troca de mercadorias; a criação de estruturas que
possibilitem uma rápida circulação de pessoas e bens. Ibidem, p. 117.
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15. Frances Fox Piven e Richard A. Cloward referem os exemplos das leis contra os pedintes que acompanharam, nalgumas ci-
dades europeias, a evolução do feudalismo, a actuação de Lutero nos municípios alemães ou o caso paradigmático de Lyon, onde
a intervenção social da Igreja foi substituída pela administração central. Frances Fox Piven e Richard A. Cloward, Regulating the
Poor – The Functions of Public Welfare, Vintage Books, New York, 1993, pp. 8-13.
16. Idem, pp. 5-8.
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>>>>>>>>>>>
17. Evitando juízos de valor sobre a substância das diversas práticas culturais, é possível afirmar que a exclusividade no consumo
de certos bens culturais implica uma exclusão. As dimensões desta exclusão podem ser determinadas na observação da capaci-
dade (não nos referimos apenas às capacidades objectivas mas, fundamentalmente, às que resultam de desigualdades da incor-
poração de competências) de uns grupos consumirem os bens culturais e de lazer a que outros grupos acedem.
18. Disciplina que teria as suas origens no novo liberalismo oitocentista, desenvolvido no âmbito da institucionalização acadé-
mica de disciplinas como a Economia, a Ciência Política e a Economia Política, e pelo trabalho de figuras eminentes do pensa-
mento social e económico como John Stuart Mill e, mais tarde, Alfred Marshall. Ira Katznelson, “Knowledge about What? Policy
Intellectuals and the New Liberalism”, in Theda Skocpol e Dietrich Rueschemeyer (eds.), States, Social Knowledge, and the Origins
of Modern Social Policies, Princeton University Press, New Jersey, 1996, pp. 17-47.
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19. Armindo Monteiro destacar-se-ia fundamentalmente como ministro das Colónias, cargo para o qual foi designado em 1931.
20. Armindo Monteiro, Ensaio de um Curso de Economia Política, I, Coimbra Editora, Coimbra, 1923, p. 85, em António da Silva
Leal, Apontamentos das Lições proferidas pelo Dr. António da Silva Leal aos alunos do 3.o ano, Lisboa, 1969/70, p. 38.
21. António da Silva Leal, op. cit., p. 43.
22. Ibidem, p. 7. O autor remete ao século xix a origem do conceito, provavelmente aos economistas alemães liderados por Gus-
tavo Schmoller, que ficaram conhecidos por socialistas catedráticos, op. cit., p. 8.
23. Ibidem, p. 9.
24. Ibidem, p. 9.
25. Ibidem, p. 13.
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exigências da própria vida colectiva, os problemas de uma acção comum que se le-
vantam em cada dia da vida real.26 A política social, porque animada “de uma preo-
cupação de eficiência” deve assentar sobre um conhecimento tanto quanto possível
rigoroso das condições de facto que configuram a vida colectiva.27
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A nossa é, por definição, uma luta pela paz e pelo entendimento entre os homens
que só por si quase ficará manchada quando, para triunfar, tenha de recorrer à força.
Sob tal aspecto, e sem exagero, bem se poderá dizer que a nossa vitória será tanto
33. Juan Linz, op. cit, p. 321. Fragmento traduzido pelo autor.
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maior quanto mais despercebida passar aos olhos dos homens e naturalmente for
aceite por estes sem constrangimentos ou coacções, mas por simples e natural ade-
são do seu espírito e da sua vontade livre. É o paradoxo da vitória que, para ser nossa,
tem de o ser também daqueles sobre quem é alcançada, sob a pena de o não ser de
nenhum.34
34. Gonçalves Proença, A política social e o desenvolvimento económico, Junta de Acção Social, Lisboa, 1963, p. 3.
35. Norbert Elias, A Busca da Excitação, Difel, Lisboa, 1992, ed. orig. 1986, p. 59.
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36. Karl Marx, O 18 de Brumário de Louis Bonaparte, Edições Nosso Tempo, Coimbra, 1971, ed. orig. 1852, p. 79.
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O que pode mudar, e aquilo que de facto mudou durante o longo desenvolvimento
da humanidade, são os padrões sociais de autodomínio e a maneira segundo a qual
eles se forjam no sentido de activar e modelar o potencial natural dos indivíduos, no
sentido de retardar, suprimir, transformar, em resumo, de controlar de várias formas
energias elementares e outros impulsos espontâneos.37
Nas sociedades avançadas do nosso tempo, muitas profissões, muitas relações pri-
vadas e actividades, só proporcionam satisfação se todas as pessoas envolvidas con-
seguirem manter uma razoável harmonia e um controlo estável dos seus impulsos
libidinais, afectivos e emocionais mais espontâneos, assim como dos seus estados
de espírito flutuantes. Nestas sociedades, a sobrevivência social e o sucesso depen-
dem, por outras palavras, em certa medida, de uma armadura segura, nem demasiado
frágil nem demasiado forte, de autocontrolo individual. (…) No caso das sociedades
que atingiram um nível relativamente avançado de civilização, isto é, com relativa es-
tabilidade e com forte necessidade de sublimação, as restrições harmoniosas e mode-
radas, na sua globalidade, podem ser observadas, habitualmente, numa considerável
multiplicidade de actividades de lazer, que desempenham essa função (…)39
(…) muitas ocupações de lazer fornecem um quadro imaginário que se destina a au-
torizar o excitamento ao representar, de alguma forma, o que tem origem em muitas
37. Norbert Elias, A Busca da Excitação, Difel, Lisboa, 1992, pp. 74-75.
38. Ibidem, pp. 74-75.
39. Ibidem, pp. 69-70.
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situações da vida real, embora sem os seus perigos e riscos. Filmes, danças, pinturas,
jogos de cartas, corridas de cavalos, óperas, histórias policiais e jogos de futebol –
estas e muitas actividades de lazer pertencem a esta categoria.40
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43. Skocpol e Rueschemeyer, States, Social Knowledge and the Origins of Modern Social Policies, Princeton University Press, New
Jersey, 1996, pp. 304-308.
44. O Manifesto do Partido Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels, data de 1848 e é porventura o marco deste traba-
lho teórico visando a acção política imediata.
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45. Ver a este propósito: Pierre Bourdieu, “Espaço Social e Génese de Classes”, em O Poder Simbólico, Difel, Viseu, 1994, pp. 133-162;
Frank Parkin, Marxism and Class Theory: A Bourgeois Critique, Londres, Tavistock Publications, 1981; Anthony Giddens, The Class
Structure of the Advanced Societies, Londres, Hutchison Library, 1973.
46. Como afirmam Theda Skocpol e Dietrich Rueschemeyer: “Sem a intensificação das divisões de classe durante a fase inicial
do capitalismo industrial as políticas sociais públicas provavelmente nunca teriam sido instituídas.” Skocpol e Rueschemeyer,
op. cit., p. 305. Fragmento traduzido pelo autor.
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47. Alexander Hicks enumera as diferentes teorias que procuram explicar a emergência do welfare state e das políticas sociais cor-
relativas, distinguindo-as pela centralidade que conferem a determinados factores de causalidade, como o contexto da socieda-
de industrial, o papel da formação de classes e da organização de movimentos trabalhistas ou a acção do Estado. Alexander Hicks,
Social Democracy and Welfare Capitalism, Cornell University Press, Ithaca, 1999, pp. 15-31.
48. Karl Marx, O 18 de Brumário de Louis Bonaparte, Edições Nosso Tempo, Coimbra, 1971, p. 70.
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49. António Gramsci, Obras Escolhidas, vol. 1, Estampa, Lisboa, 1974, ed. orig. 1945, p. 399.
50. Na leitura de Marx feita por Gramsci: “A proposição contida na introdução à Crítica da Economia Política, de que os homens
tomam consciência dos conflitos de estrutura no terreno das ideologias deve ser considerada como uma afirmação de valor gno-
seológico e não puramente psicológico e moral.”, António Gramsci, op. cit., p. 87.
51. Piven e Cloward, op. cit., p. 45. Segundo Hobsbawm, em 1932/33 estava desempregada 23 por cento da força de trabalho britâ-
nica e belga, 24 por cento da sueca, 27 por cento da americana, 29 por cento da austríaca, 31 por cento da norueguesa, 32 por cen-
to da dinamarquesa e 44 por cento da alemã. Eric Hobsbawm, A Era dos Extremos, Presença, Lisboa, 1996, ed. orig. 1994, p. 99.
52. Na Alemanha, o partido nacional-socialista derrubou, em 1933, pelo voto democrático, uma social-democracia incapaz de in-
verter o drama económico e social do país. O fascismo, sob a batuta germânica, tende a internacionalizar-se (com fortes movi-
mentos na Hungria, na Roménia e na Croácia, mas também noutras latitudes, como em países da América do Sul, casos da
Argentina, do Brasil ou da Colômbia. Eric Hobsbawm, op. cit., p. 122), atraindo fundamentalmente as classe média e média bai-
xa, aquelas que viam a sua posição mais ameaçada pelo rumo da crise do sistema liberal.
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55. Barrington Moore Jr. destacou, na sua conhecida tese, o carácter modernizador dos regimes fascistas. Barrington Moore Jr.,
Social Origins of Dictatorship and Democracy, Penguin, Harmondsworth, 1966, pp. 433-452.
56. Peter Wagner e Bjorn Wittrock assinalam as diferenças entre as políticas sociais ocidentais oitocentistas prosseguidas pelos Es-
tados e aquelas que apresentaram uma base não-estatal. Relacionando o desenvolvimento do pensamento social institucionalizado
com os objectivos práticos da estrutura política e dos seus interesses associados em debelar a proeminente “questão social”, os au-
tores apontam as diferenças entre as políticas estatais centralizadas da França, da Alemanha e da Itália e uma tradição mais liberal,
presente em Inglaterra e, sobretudo, nos Estados Unidos. No caso americano, as reformas sociais não se desenvolveram a partir de
instituições centralizadas mas, diferentemente, de uma aplicação na esfera do trabalho e na comunidade de princípios práticos de
regulação organizados quase sempre pela iniciativa privada ou por unidades administrativas de nível local. Peter Wagner e Bjorn
Wittrock, “Statist and Non-Statist Societies”, in Theda Skocpol e Dietrich Rueschemeyer (eds.), States, Social Knowledge, and the Ori-
gins of Modern Social Policies Princeton University Press, New Jersey, 1996, pp. 90-113.
57. A Westhinghouse, empresa americana cujos métodos foram mimetizados e transformados pela organização corporativa italia-
na, perde, entre 1929 e 1933, dois terços das suas vendas e vê o seu rendimento baixar 76 por cento. Eric Hobsbawm, op. cit, p. 98.
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58. Expressão que se torna o mote de explicação do domínio cultural organizado na Itália fascista na obra de Victoria Grazia. Victo-
ria Grazia, The Culture of Consent – Mass Organization of Leisure in Fascist Italy, Cambridge University Press, Cambridge, 1981, p. 62.
59. Eric Hobsbawm, op. cit., p. 99.
60. Deutschland-Berichte der Sozialdemokratischen Partei Deutschlands (Sopade), 1934-1940. Frankfurt: Salzhausen, 1980; Vier-
ter Jahrgang (1937), p. 1259, citado por José Carlos Valente, “A FNAT: das origens a 1941 – Estado Novo e Alegria no Trabalho”,
em História, n.o 5, 1996, p. 15.
61. Arbeitertum, ano 5, n.o 1, 1/4/1935, p. 8, citado por José Carlos Valente, Estado Novo e Alegria no Trabalho – Uma História Polí-
tica da FNAT, Colibri-INATEL, Lisboa, 1999, p. 25.
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62. Em 1943, o jornalista Tomé Vieira, que irá colaborar no Boletim da FNAT Alegria no Trabalho, escreveu um texto intitulado “A
Questão Social”. Nele se explica a forma “superior” como a Alemanha resolvera o problema da luta de classes: “O nacional-socia-
lismo não acabou simplesmente com a luta de classes, que considera absurda e criminosa. Instituiu a legislação social mais avan-
çada que se conhece. Dando ao trabalhador os direitos que lhe confere a sua condição de pessoa, não lhe criou simplesmente
meios de vida material. A obra do nacional-socialismo revolucionou profundamente os costumes do povo pela garantia da vida
social que deu ao trabalhador. O desemprego acabou, os seguros de invalidez foram instituídos, a protecção à mulher e à criança
deixou de ser simples aspiração ou programa de partido. A casa saudável e económica para o operário foi construída. E uma nova
mentalidade surgiu entre os trabalhadores, pela mais bela criação que até hoje foi conhecida: ‘A Alegria no Trabalho’.” Tomé Viei-
ra, A Questão Social, Edições Biblioteca, Lisboa, 1943, pp. 9-10.
63. Peter Reichel, “Ästhetik Staat Politik Zum Verhaltnis von Kultur und Politik im NS-Staat”, em Politische Vierteljahrsschrift,
Sondenheft, Ano 28, pp. 133-134, em José Carlos Valente, op. cit, p. 25.
64. Expressão que Victoria Grazia utiliza para descrever a acção da OND. Victoria Grazia, op. cit., p. 158.
65. O apelo nacionalista criava óbvios problemas nas estruturas políticas oposicionistas, que eram incapazes de combater o po-
deroso efeito político da nacionalização da vida quotidiana, acabando, muitas vezes estratégica ou inconscientemente, por con-
tribuírem elas próprias para a construção nacional. Mesmo os movimentos políticos de cariz internacionalista, que assentavam
a sua análise do real nas questões das lutas de classes, introduziram no seu discurso a prioridade nacional. Ver a este propósito
José Neves, Comunismo, Nacionalismo e Colonialismo – Notas sobre o Partido Comunista Português de 1921 a 1957, Tese de Licencia-
tura apresentada em 2001 no âmbito do Curso de História Contemporânea do ISCTE. (Texto policopiado)
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cia dos matizes do factor nacional sobre a sociedade civil levou Victoria
Grazia a referir-se à acção dos Dopolavori em Itália como uma tentati-
va de nacionalização do lazer: da sua ideologização pela componente
nacional.
Os casos italiano e alemão permitem um exercício comparativo acer-
ca da acção de instituições estatais de política social situadas em países
em fases diferentes de desenvolvimento sócio-económico – fundamental
para testar a eficácia ideológica das políticas sociais. A experiência ita-
liana de instrumentalização das técnicas de controlo de lazer, a primei-
ra em Estados com regime de tipo fascista, confrontou-se de imediato
com a evidente dualidade da organização do espaço económico e social
do país. Os desequilíbrios regionais italianos obrigaram a uma adap-
tação dos instrumentos de regulação do lazer. Os Dopolavori rurali,
instrumentos na defesa dos valores da ruralidade contra a desfuncio-
nalidade do cosmopolitismo urbano, acabaram por soçobrar perante
uma sociedade tradicional alicerçada em vínculos antigos, e onde a for-
ça das elites locais era a prova da condição embrionária do controlo do
Estado sobre o seu território e as suas populações. A retórica ruralista
do fascismo italiano dissimulou uma prática efectiva, típica de um Es-
tado moderno, mas denotando graves deformações estruturais, em que
a aposta na indústria foi feita contra os campos e a vasta classe campo-
nesa. As discussões acerca da política social no mundo rural, como veio
a suceder nos casos italiano e português, expõem alguns dos limites
dessa mesma intervenção. Uma estrutura produtiva tradicional e rura-
lizada, com uma divisão do trabalho pouco desenvolvida, dispensava,
pesem embora as tentativas efectuadas pelos regimes em causa, a aplica-
ção de políticas que visavam enquadrar uma realidade sócio-económica
distinta. Os efeitos dos instrumentos modernos do lazer, como o cine-
ma e a rádio, típicos das sociedades industriais e modernas, em espaços
sociais que sempre se apresentaram, na sua autarcia, como forte sus-
tentáculo social dos regimes, surgindo como a expressão ideal e perfeita
de uma “cultura popular” entretanto forjada em gabinetes etnográficos,
provocaram compreensíveis receios. Ao contrário do que sucedeu no
mundo agrário, o movimento criado em torno dos Dopolavori situados
em meio urbano, apesar da concorrência das associações socialistas e
católicas, foi bastante dinâmico. No espaço rural, foi apenas nas regiões
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73. Os outro quatro distritos são o Porto, Setúbal, Coimbra e Funchal. José Carlos Valente, op. cit., p. 45.
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76. Ver a este propósito Daniel Melo, Salazarismo e Cultura Popular (1933-1958), ICS, Lisboa, 2001, especialmente, pp. 326-374.
77. José Carlos Valente, op. cit., pp. 121-123.
78. Terá sido um republicano democrata, Armando Marques Guedes, professor no Instituto Superior de Ciências Económicas
e Financeiras, que, defendendo as linhas mestras deste plano, atacou o que chamou de corporativismo medieval. Marques Gue-
des criticava os limites de um corporativismo demasiado apegado a antigas fórmulas de concertação social, aproximando-se da
defesa de um neocorporativismo característico das modernas sociedades democráticas, assente num sistema global que garan-
tisse aos trabalhadores um conjunto de regalias a que teriam direito. Num texto redigido em 1956, intitulado O Destino das Clas-
ses Médias, Marques Guedes, afirmando-se um neoliberal profundamente convicto (p. 15), traça o percurso histórico das classes
médias, defendendo a necessidade urgente do Estado impedir a proletarização de vastas camadas da população – que Marques
Guedes integra no conjunto das classes médias. O autor mostrava-se especialmente preocupado com a proletarização de algu-
mas profissões intelectuais: “o sector intelectual proletarizado pode fornecer, melhor do que nenhum outro, os quadros de co-
mando do exército revolucionário” (p. 15). Considerava, porém, que as políticas sociais prosseguidas em alguns estados europeus
conduziam a um socialismo desvairado. Armando Marques Guedes, O Destino das Classes Médias, Academia das Ciências de Lis-
boa (separata de Memórias – classe de Letras – Tomo VI), 1956. É curioso que Tomé Vieira, no seu já citado texto sobre a Ques-
tão Social, defende as políticas sociais dos estados fascistas (neste caso, do fascismo italiano), através de uma frase de Marques
Guedes no seu livro sobre o Plano Beveridge: “o sr. Prof. Marques Guedes, diz, a propósito da política social do fascismo: ‘Pro-
curou-se melhorar a situação dos trabalhadores, por salários melhores, por obras públicas extensas, com que se pôs termos a
muito desemprego; fixaram-se salários mínimos; regulou-se a política preventiva e reparadora quanto à higiene e segurança das
oficinas e à indemnização do operário sinistrado ou da família do que morresse ou ficasse permanentemente inabilitado por aci-
dente ou doença profissional; tomou-se mesmo a direcção e ocupação dos lazeres, das horas vagas do operário, na organização
Dopolavoro’ ”. Tomé Vieira, A Questão Social, Edições Biblioteca, Lisboa, 1943, p. 11.
79. Em relação à aposta industrial, Manuel Vilaverde Cabral refere que a Campanha do Trigo, normalmente conotada, e certa-
mente com fundamento, com os grandes interesses agrários tinha características fortemente industriais. Vilaverde Cabral assi-
nala o forte impacte, quase sempre encoberto pela lógica puramente cerealífera, que a campanha causou na indústria dos
adubos e na metalomecânica. Manuel Vilaverde Cabral, “Sobre o Fascismo e o seu Advento em Portugal”, em Análise Social, n.o 48,
1976, pp. 887-889 (873-915).
80. Ferreira Dias, Linha de Rumo, Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1945.
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E porque obter uma existência tranquila e cómoda para os que trabalham, é um de-
ver a que ninguém se deve furtar, eis a razão pela qual os sociólogos procuram solu-
cionar, um a um, os problemas que se podem destacar da complexa Questão Social,
concorrendo assim para a resolução integral do sistema. (…) Procurei demonstrar a
razão do problema e dar-lhe a solução capaz. Sorel afirmou que o socialismo aspirava
a transportar para a sociedade o regime da oficina, eu poderei afirmar que aspiro a
transportar para a oficina o regime da sociedade.82
81. A publicação da FNAT parecia dirigir-se essencialmente aos quadros intermédios e outros funcionários da organização, no
sentido de fazer a pedagogia da utilidade das técnicas de política social aplicadas ao universo dos lazeres.
82. Felner da Costa, “A Monotonia do Trabalho”, em Alegria no Trabalho – Boletim da FNAT, n.o 6, Junho de 1945, p. 75.
83. A monotonia no trabalho foi o modo como Felner da Costa se referiu aos problemas colocados pela industrialização e pelo
capitalismo: “Verifica-se a necessidade instante de estudar o assunto no sentido positivo, abstraindo-nos de condenar o sistema
económico que lhe deu origem. O estudo do sistema compete aos economistas; o estudo dos problemas resultantes pertence aos
sociólogos.” Entre os sociólogos que Felner da Costa sabia tratarem destas questões, procurando os efeitos de “compensação”
para os problemas da modernidade, encontravam-se: Ludwig Heyde, Émile Durkheim, Max Weber, Werner Sombart, Georg
Simmel, Ferdinand Tönnies, Franz Oppenheimer, Leopold von Wiese, Gaetan Pirou, Heinz Zilcher, Bruno Rauecker e Conwell
Evans. Felner da Costa, A Monotonia do Trabalho, FNAT, 1945, p. 10.
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84. Citando Eisenstadt: “Sectores apolíticos, relativamente passivos, da sociedade foram transformados e tornados politicamen-
te activos, expressando não só os interesses discretos de diferentes grupos, mas também concepções diferentes e em competi-
ção quanto ao bem comum; actores mais activos em arenas dispersas passaram a participantes, ao menos potenciais, da arena
política central.” S.N. Eisenstadt, op. cit., p. 26.
85. Alexander Hicks, op. cit., pp. 76-127.
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Esta receptividade do povo para com a cultura de tipo escolar, de médio ou alto
grau, suscita a reflexão demorada de quem esteja habituado a tratar com atenção os
problemas sociológicos. Com efeito, o homem do povo que corresponde à chamada
das instituições de cultura é movido pelo secreto ou confessado desejo de uma me-
tamorfose mental. E seja qual fôr a intenção privada e o resultado individual da assi-
milação dos dados da cultura este fenómeno é sempre acompanhado de aspectos
que devem ser sociologicamente analisados: a alteração do nível intelectual, a perda
do carácter popular, a distinção em frente da comunidade profissional, o desequilí-
brio social. A cultura desloca certos indivíduos do ambiente concreto a que estavam
adaptados, sem que por virtude própria os transfira para mais alta situação profissio-
nal e social. A alteração da capacidade de saber, o aperfeiçoamento das faculdades
intelectuais, o desenvolvimento do espírito crítico, o apuramento do gôsto estético,
etc., em breve formulam exigências cuja satisfação já não compete às instituições
de cultura e que, insatisfeitas, suscitam melindrosos problemas de ordem pública.86
A análise da situação social do país nos anos 60, efectuada por Her-
mínio Martins, descreve um contexto no qual os receios aludidos pelo
texto que a FNAT publicou em 1944 se tornaram mais prementes:
(…) na esfera do consumo, houve uma apropriação por parte dos estratos inferiores
de muitos correlativos simbólicos do status da classe média, de tal modo que o
“efeito de gota” – agarrar constantemente o antigo e ser ultrapassado pelos novos
símbolos de consumo dos estratos superiores – está certamente a funcionar na si-
tuação presente. É duvidoso que possa assumir de facto a mesma função estabiliza-
dora que tem nas sociedades mais industrializadas.87
86. O Aproveitamento do Tempo Livre dos Trabalhadores Portugueses pela Cultura Popular, edição da FNAT, 1944, p. 14.
87. Hermínio Martins, Classe, Status e Poder, ICS, Lisboa, 1998, p. 130.
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88. O Aproveitamento do Tempo Livre dos Trabalhadores Portugueses pela Cultura Popular, edição da FNAT, 1944, p. 14.
89. Manuel de Lucena, “Casas do Povo”, em Dicionário de História de Portugal, vol. 7, coord. António Barreto e Maria Filomena
Mónica, Figueirinhas, Porto, 1999, p. 246.
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Gosto de ver o povo nas festas, nos divertimentos públicos. Precisa disso. (…) O tra-
balho violento, as privações de todos os dias, a miséria do desamparo, a comparação
com outros destinos que são ou parecem melhores, o assombro de tantas coisas
inexplicáveis no mundo e na consciência, a impossibilidade de contemplar a vida no
conjunto dos seus aspectos, e de repousar assim a inteligência em alguma verdade
geral – tudo isto, se não houvera compensações, tornaria verdadeiramente insupor-
tável a existência de numerosas classes, a que o morgadio social instituído em favor
deixa apenas o usufruto gratuito do sol, do ar, e de poucas coisas mais. O povo di-
verte-se pouco. É um sintoma grave; mais grave do que parece. Se eu governasse,
havia de proteger, de preferência a outras indústrias, a que tivesse por fim recrear,
alegrar e consolar e divertir o povo. (…) Mas a participação do povo nas festas públicas
tem diminuído sempre, cada vez mais. É pena; até porque, ao contrário daquele conhe-
cido verso de um grande poeta, um povo que folga não é nunca um povo perigoso.91
90. A tentativa da formação de quadros intermédios que sustentassem a dinâmica corporativa registou, mais uma vez, resulta-
dos negativos. Rogério Reis afirmava, em Agosto de 1968, nas páginas do Mensário: “De resto, não falta quem pense que basta
marcar presença em ocasiões solenes e cumprimentar entidades representativas (alguém disse que ‘politicamente, o que pare-
ce é’) para exibir uma espécie de comunhão de desobriga… que na prática se contradiz. Na verdade, sem irmos todos os que de
algum modo podem – verdadeiros proprietários, sacerdotes, professores, diplomados, intelectuais – ao encontro das prementes
realidades e das aspirações da gente rural, como conter o seu êxodo e a sua insatisfação? Como elevar-lhe o nível mental, cívico,
económico e familiar? Como aperfeiçoar as Casas do Povo? Como alargar a sua rede e o seu labor? Rogério Reis, “As Casas do
Povo e a valorização rural”, Mensário das Casas do Povo, n.o 266, Agosto de 1968, p. 10.
91. António Cândido, citado por Felner da Costa, “Alguns aspectos da valorização económica dos trabalhadores portugueses – VI
– A alegria no trabalho”, in Alegria no Trabalho – Boletim da FNAT, n.o 19, Julho de 1946, p. 134.
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92. Felner da Costa, “Alguns aspectos da valorização económica dos trabalhadores portugueses – Para um Melhor Nível Moral
e Cultural do Trabalhador Português”, in Alegria no Trabalho – Boletim da FNAT”, n.o 41, Maio de 1948, p. 107.
93. Felner da Costa, “Alguns aspectos da valorização económica dos trabalhadores portugueses – I – O trabalho e a técnica”, in
Alegria no Trabalho – Boletim da FNAT, n.o 9, Setembro de 1945, p. 138.
94. Felner da Costa, “Alguns aspectos da valorização económica dos trabalhadores portugueses – Para um Melhor Nível Moral
e Cultural do Trabalhador Português”, Alegria no Trabalho – Boletim da FNAT, Setembro de 1948, pp. 187-188.
95. António de Oliveira Salazar, Salazar – Discursos, Notas, Relatórios, Teses, Artigos e Entrevista (1909-1953), edição do SPN/SNI,
editorial Vanguarda, 1954, p. 13.
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96. Os CAT’s eram “núcleos de carácter cultural, recreativo e desportivo, constituídos por trabalhadores dependentes de organis-
mos oficiais e particulares e ainda os agrupamentos desportivos, culturais e recreativos de trabalhadores que tenham por objec-
to o aproveitamento útil das suas horas livres.” Dez Anos de Alegria no Trabalho (1935-1945), p. 163.
97. Decreto-Lei n.o 31.036.
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Todos sabem que dentro da FNAT não se faz política; nos Refeitórios como nas Co-
lónias de Férias as paredes não se encontram forradas de cartazes de propaganda,
como também não se fez ali a distribuição de panfletos. Os serões culturais e as
competições desportivas não servem de pretexto para conferências ou discursos
apologéticos. Quer, porém, isto dizer que a FNAT é um organismo apolítico? Por
forma alguma. A FNAT é um organismo de vanguarda dentro do Estado Corporativo.
(…) Despontou por fim um dia radioso de primavera que tu olhaste com desconfian-
ça, mas que a pouco e pouco te foi convencendo com as coisas novas que te oferecia,
a dignificação do trabalho, o horário de trabalho, as casas económicas, as Casas do
Povo e dos Pescadores, o abono de família, o auxílio na doença e na invalidez, o se-
guro de velhice, os contratos colectivos de trabalho, os salários mínimos, as férias
pagas, os refeitórios económicos, as colónias de férias para ti e para os teus filhos.102
102. Higino Queiroz e Mello, Alegria no Trabalho – Boletim da FNAT n.o 49, Janeiro de 1949, p. 2.
103. Aprovados pelo Decreto-Lei n.o 37.836, de 24/5/1950.
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104. Para este resultado contribuíram, fundamentalmente, de acordo com os princípios do Plano, as indústrias de base, desta-
cando-se as celuloses, as metalomecânicas, as químicas e as metalúrgicas. João Confraria, “Indústria”, em Dicionário de Histó-
ria de Portugal, vol. 8, coord. António Barreto e Maria Filomena Mónica, Figueirinhas, Porto, 1999, pp. 263-264.
105. O sector agrícola, ganhando inicialmente com a quebra demográfica sentida nos campos, equilibrando-se a oferta e a pro-
cura de emprego, foi incapaz de se modernizar. A contínua sangria humana do interior do país repercutiu-se numa produção
agrícola tradicional, para a qual as modernas técnicas de cultivo, fossem as máquinas para lavrar os campos ou os adubos para
os fertilizar, eram uma miragem distante.
106. Ver José da Silva Lopes, A Economia Portuguesa desde 1960, Gradiva, Lisboa, 1996.
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107. O PIB cresce, entre 1957 e 1965, a um ritmo anual de 5,5 por cento contra 2,9 por cento da década anterior, registando, no pe-
ríodo entre 1965 e 1973, um aumento anual de 7,2 por cento O sector industrial é o grande responsável por esta evolução, cres-
cendo entre 1957 e 1973, a um ritmo anual de 8,6 por cento Destes valores, o sector primário, que, no início da década de 50,
representava 38,9 por cento do PIB, chega a 1970 com o valor de 20,2 por cento. Inversamente, o sector secundário cresce, no
mesmo período, de 23 por cento para 36 por cento. Pedro Lains, “Crescimento Económico”, em Dicionário de História de Portugal,
vol. 7, coord. António Barreto e Maria Filomena Mónica, Figueirinhas, Porto, 1999, pp. 460-461.
108. Deste modo, entre 1950 e 1970, a percentagem de população urbana situada na faixa litoral entre Setúbal e Braga passa de 57,9
por cento para 66 por cento, sendo a área metropolitana de Lisboa, especialmente através dos seus concelhos limítrofes, a gran-
de receptora desta população, crescendo, no mesmo período, mais de meio milhão de habitantes. Jorge Gaspar, “Cidades”,
idem, p. 317.
109. Se, em 1930, a esperança de vida era, respectivamente, para homens e mulheres, de 46,5 e 50,6 anos, no início da década de
70 registava os valores de 64,4 e 67,7 João Ferreira de Almeida, “Crescimento Económico”, em Dicionário de História de Por-
tugal, vol. 7, coord. António Barreto e Maria Filomena Mónica, Figueirinhas, Porto, 1999, p. 511. Entre 1960 e 1970, Portugal
vê a sua taxa de mortalidade infantil reduzida de 65 por mil para 39 por mil (a média da Europa e América do Norte era 21), a
taxa de analfabetismo de 30 por cento para 25 por cento (a média da Europa e América do Norte era de 14 por cento, as suas ca-
lorias per capita de 2567 para 3108 mil (a média da Europa e América do Norte era de 3135). João César das Neves, “Economia”,
idem, p. 579.
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Ano . . . . . . . Património (Esc.) . . . . Índice . . . . . N°. Sócios . . . . . . Índice . . . . . N°. CAT’S . . . . N°. CRP’S
110. A gravidade da situação irá originar uma revisão da Constituição, em 1959, que retira aos cidadãos a possibilidade de elege-
rem o Presidente, passando esta mesma eleição a ser feita por colégio eleitoral restrito. Este colégio eleitoral era composto pelos
membros da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa e pelos representantes municipais de distrito ou de província ultra-
marina.
111. Vilaverde Cabral, “Classes Sociais”, em Dicionário de História de Portugal, vol. 7, coord. António Barreto e Maria Filomena
Mónica, Figueirinhas, Porto, 1999, pp. 335-336.
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Ano . . . . . . . Património (Esc.) . . . . Índice . . . . . N°. Sócios . . . . . . Índice . . . . . N°. CAT’S . . . . N°. CRP’S
Gráfico n°. 1
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Gráfico n°. 2
112. Relatório de Actividade e Contas da FNAT de 1963, Março de 1964, Arquivo do INATEL, p. 4
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Gráfico n°. 3
Gráfico n°. 4
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113. Relatório de Actividade e Contas da FNAT de 1967, 1968, Arquivo do INATEL, p. 38. Das empresas e instituições que tinham
refeitórios organizados pela FNAT encontravam-se, só em Lisboa, entre outras: o Arsenal do Alfeite, BP, Cidla, Firestone, Mer-
cauto, Metropolitano, Mobil, Sacor, Sécil, Central de Cervejas, Sopac, Soponata, Tabaqueira, TAP, Porto de Lisboa, Refinaria do
Ultramar, Sonap, Cometna, Dyrup, Cabos d’Ávila, Publicações Europa América, Somapre, Sores, Valentim de Carvalho. Ibidem,
p. 41, e Relatório de Actividade e Contas de 1969, p. 36.
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Gráfico n°. 5
114. A lacuna em relação aos dados das despesas administrativas impede uma ideia mais concreta do crescimento burocrático da FNAT.
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115. Relatório de Actividade e Contas da FNAT de 1957, 1958, Arquivo do INATEL, p. 61.
116. Relatório de Actividade e Contas da FNAT de 1969, 2/3/1970, Arquivo do INATEL, pp. 58-59 e Relatório de Actividade e Con-
tas da FNAT de 1970, 15/3/1971, Arquivo do INATEL, pp. 54-55.
117. Relatório de Actividade e Contas da FNAT de 1969, 2/3/1970, Arquivo do INATEL, p. 27.
118. Relatório de Actividade e Contas da FNAT de 1973, 1974, Arquivo do INATEL, p. 30.
119. Relatório de Actividade e Contas da FNAT de 1957, 1958, Arquivo do INATEL, pp. 57-61.
120. Relatório de Actividade e Contas da FNAT de 1969, 2/3/1970, Arquivo do INATEL, pp. 58-59.
121. Relatório de Actividade e Contas da FNAT de 1963, Março de 1964, p. 30.
122. Relatório de Actividade e Contas da FNAT de 1965, 18/3/1966, p. 7.
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termos relativos, estável: 28,2 por cento em 1955131, 33,5 por cento em
1960132, 20,4 por cento em 1965133, e 31 por cento em 1970134. Há que
considerar, no entanto, a variação que, a partir de 1962, as Apostas Mú-
tuas introduzem no quadro. É impossível deixar de as considerar um
benefício estatal.
O aumento do investimento estatal não chegou para contentar as suas
sucessivas direcções, que consideravam ter a FNAT condições para
crescer mais: “Verifica-se que à medida que se vão desenvolvendo as
actividades da FNAT o seu número de beneficiários vai acompanhan-
do paralelamente aquela evolução.”135
As consecutivas direcções da FNAT sentiram que a organização só não
se desenvolvia em moldes mais eficazes por não possuir as condições
necessárias para incrementar a oferta de bens e serviços. Dotada de infra-
-estruturas, a FNAT poderia gerar verbas que, por si só, a sustentassem.
Determinadas actividades da Fundação, além do seu relevante efeito so-
cial, proporcionavam lucros consideráveis.
Em 1957, a organização das cantinas e refeitórios suscitou à direcção
de Quirino Mealha uma reclamação quanto à colaboração técnica e
funcional do Ministério das Corporações, bem como dos diversos organis-
mos corporativos. À semelhança do que sucedia noutros países, era im-
portante criar “sistemas de controle de modo a permitir que os serviços
sejam de engrenagem fácil, na sua maior parte mecanizados, de óptimo
rendimento de trabalho com pessoal muito reduzido e a burocracia ex-
tremamente simplificada (…) Os serviços têm de adaptar-se aos objec-
tivos específicos do Organismo e não serão estes que se têm de limitar
por causa daqueles. Será esta a orientação a imprimir à FNAT (…)136
Por falta de verba, a FNAT, ainda em relação aos refeitórios, não pôde
aproveitar os serviços do Centre d’Etudes & Organisation de Versailles,
que já realizara vários estudos em Portugal e com quem a direcção da
Fundação estivera em contacto. O mesmo motivo colocava a FNAT na
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Sem prejuízo do que se vier a apurar no final, parece evidente que convirá futuramen-
te à FNAT tentar substituir a sua actual administração tradicional, de índole predomi-
nantemente burocrática, por uma administração moderna, tipo “management”, em
140. Ibidem, p. 2
141. Ibidem, p. 80.
142. Relatório de Actividade e Contas da FNAT de 1973, 1974, Arquivo do INATEL, p. 3.
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A Ópera do Trindade
143. Ibidem.
144. José Carlos Valente, op. cit., pp. 196-197.
145. Ibidem, pp. 196-197.
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11.
A Companhia Portuguesa
de Ópera: Os Fundamentos
1. O chefe de gabinete do ministro das Corporações, Gonçalves Proença, informou o presidente da FNAT, em carta com data de
7 de Março de 1962, que o ministro autorizara, com dispensa do pagamento de sisa, a compra do Teatro da Trindade pela quan-
tia de 8.000.000$00. Carta n.o 292/62, Arquivo do Ministério do Trabalho e Solidariedade, pasta 313.
2. Em 24 de Outubro de 1962, o presidente da FNAT escreveu ao chefe de gabinete do ministro das Corporações, informando da
deliberação da direcção em criar o lugar de director do Teatro da Trindade. A nomeação, atribuída a José Serra Formigal, era com-
patível com outras funções. Depois da resposta do ministro, seguiu outra carta da FNAT, de 25 do mesmo mês, desta vez para a
JAS, transcrevendo a autorização de Gonçalves Proença em nomear Serra Formigal director do Teatro da Trindade, podendo o
mesmo acumular este cargo com o de vogal da Comissão Executiva da JAS onde tratava do cinema, rádio e televisão e pelo qual
recebia 5.500$00 mensais. Arquivo do Ministério do Trabalho e Solidariedade, pasta 313. O dia 24 de Outubro de 1962 é preci-
samente a data em que Gonçalves Proença aprovou o Plano Geral Para uma Programação Anual do Teatro da Trindade, apresen-
tado por Serra Formigal, em 18 de Setembro do mesmo ano.
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As Variedades de Proteu, de António José da Silva, musicada por António Teixeira. A encenação foi de
Artur Ramos, Julho de 1968
3. Serra Formigal, em entrevista concedida a propósito deste trabalho, atribui a sua nomeação para a direcção do Teatro à ami-
zade que mantinha com Gonçalves Proença, com quem partilhava uma enorme paixão pela música. O ministro abordou-o
afirmando que a compra do Trindade era ideal “para se fazer centralização cultural” já que só tinham “os serões para traba-
lhadores”.
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A Ópera do Trindade
Pretende-se que o Teatro da Trindade constitua uma fonte viva de cultura artística e de
saudável recreio para o trabalhador português o que obriga a especiais cuidados na pro-
gramação, elencos, encenações, montagens e restantes elencos técnicos e artísticos.
Tais circunstâncias envolverão necessàriamente uma despesa que se não se pode con-
siderar avultada em função dos resultados que se pensam vir a obter, será no entanto
vultuosa em face dos critérios que normalmente orientam a vida portuguesa neste sec-
tor de actividades. Estamos, porém, certos que a visão superior de quem tanto se preo-
cupa por estes importantes aspectos da cultura popular e com a aquisição do Teatro
que a veio possibilitar, dará o apoio necessário e possível à concretização da obra.5
4. Currículo de Serra Formigal integrado em documentação seleccionada para acompanhar a Companhia de Ópera do Trindade
a Barcelona, aquando da representação de A Serrana. Arquivo do Teatro da Trindade, 1966.
5. José Serra Formigal, Plano Geral Para Uma Programação Anual do Teatro da Trindade, p. 2, em Arquivo Serra Formigal.
6. Ibidem, pp. 1-2.
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7. Ibidem, p. 3.
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A Ópera do Trindade
8. Este problema orquestral foi um primeiro indício das inúmeras complicações que a constituição de formações musicais de or-
questra traria ao Trindade, ao longo dos seus anos de actividade sob gestão da FNAT.
9. João de Freitas Branco (1922-1989) dedicou-se fundamentalmente ao ensino e divulgação musical. A sua figura é absoluta-
mente central para o entendimento da vida musical portuguesa na segunda metade do século xx.
10. Relatório das Actividades do Teatro da Trindade relativas ao ano de 1963, Arquivo do Ministério do Trabalho e Solidariedade,
pasta 313, p. 13.
11. Diário das Sessões da Assembleia Nacional, n.o 184, de 5/3/1965, p. 4474 (113).
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A Ópera
A forma lírica é talvez a mais adequada para trazer ao nosso povo, com eficácia,
a mensagem artística da música, e em que a sugestão das belas vozes ainda
mais humaniza esta. A experiência está feita e não apenas com os espectáculos
dos últimos anos, no Coliseu – espectáculos que só merecem aplausos e conti-
nuação – mas pelas sucessivas companhias que passaram em muitas décadas
pela mesma casa de espectáculos e que sempre atraíram as massas populares.
Se a ópera é um bom espectáculo cultural e o povo a ama, o teatro do povo deverá
promovê-la.12
12. Plano Geral para uma Programação Anual do Teatro da Trindade, p. 12.
13. Ibidem, p. 13.
14. Ibidem. Como o princípio da década de 60 foi época de êxitos desportivos – o Benfica ganha duas taças dos Clubes Campeões
Europeus (1961 e 1962) comandado pelo húngaro Bela Gutmann – Formigal arriscou uma comparação: “Perdoe-se o paralelo,
mas para se conseguir “o profissionalismo” no futebol foi à custa de técnicos estrangeiros que instruíram os nossos jogadores,
o mesmo terá que acontecer na ópera.”
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A Ópera do Trindade
Outro aspecto que interessa focar é a questão da língua em que são cantadas as
óperas. Tanto em França como na Alemanha e na Itália, verifiquei que em todos os
teatros, e abstraindo algumas récitas especiais, as óperas são cantadas na língua do
país. Só entre nós e em alguns outros poucos países, especialmente na América do
Sul, se cantam sempre nas línguas originais, salvo algumas excepções sem conti-
nuidade. Aponte-se no entanto que a Companhia de Ópera de Câmara da Fundação
Gulbenkian está começando a cantar óperas em português. E tem de ser este o
caminho, pois de contrário a compreensão do espectáculo fica muito diminuída,
sobretudo quando se dirige às camadas populares.15
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Desproletarizar
16. Ibidem, p. 15. Na entrevista que realizámos com Serra Formigal, o antigo director do Trindade acrescenta outros argumentos: “Mo-
destamente, pensei que o que era bom (e o Alcaide concordava comigo) era o italiano. É uma língua boa, ajuda, as vogais são boas. No
português, as vogais são péssimas. Temos vogais que não permitem cantar bem, a não ser com uma adaptação. Uma língua difícil. Mas
deve-se cantar em português. Os ingleses não têm uma vogal pura, são todas sujas. O alemão é uma língua dura, mas as vogais são lim-
pas. A Itália tem as duas coisas. Por isso o italiano facilmente canta, os populares facilmente cantam. Assim, pensei que a ópera italiana
era uma boa base para a formação do cantor português, como de qualquer lado. Portanto, uma certa maioria de óperas italianas.”
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É que temos de pensar nas famílias em que o chefe tem que arcar com as despesas
de todos os bilhetes, muitas vezes quatro ou cinco. Com tal preço máximo, a des-
pesa pode atingir o limite médio de 20$00, o que é compatível com o nível de vida
das classes trabalhadoras. Não podemos esquecer que, embora pareça ridículo o
preço máximo de 5$00, ele é o que convém ao nosso operário se queremos real-
mente “desproletarizar” já que os seus salários ainda orçam, muitas vezes, pelos
30$00 a 40$00 diários, em semanas de seis dias.18
18. Plano Geral para uma Programação Anual do Teatro da Trindade, pp. 5-6.
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19. É possível argumentar que o Coliseu, ou a Gulbenkian, mais significativamente no caso dos concertos, dos bailados e da ópe-
ra, desempenhavam semelhante função de democratização cultural. A FNAT, aliás, tinha acordos com estas entidades com vista
à reserva de entradas destinadas aos seus sócios, nos espectáculos por elas oferecidos. Desde 1959 que a FNAT pôs à disposição dos
seus sócios bilhetes para as récitas populares que as companhias que passavam no São Carlos apresentavam no Coliseu. Seme-
lhante colaboração existiu entre a FNAT e a Gulbenkian, especialmente aquando da realização do Festival de Música.
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20. Mário Vieira de Carvalho, Pensar é Morrer ou O Teatro de São Carlos na Mudança de Sistemas Sociocomunicativos Desde Fins do
Séc. XVIII aos Nossos Dias, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Maia, 1993.
21. Em 1946, o compositor Luiz de Freitas Branco propôs uma outra forma de estabelecer a relação entre público e comunica-
ção artística: “Na impossibilidade de atingir o esplendor vocal dos italianos, esplendor até hoje não igualado por nação alguma,
poderíamos trabalhar no sentido da encenação, fazer espectáculos que valessem pelo estilo e pela interpretação, para o que tería-
mos a vantagem de um pessoal fixo, vantagem que não têm as companhias estrangeiras, formadas por elementos diversos.” Luiz
de Freitas Branco, “Arte Musical”, 25/6/1946, citado por Mário Vieira de Carvalho, ibidem, p. 237.
22. Ibidem, p. 215.
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23. Ibidem, p. 225. No São Carlos, as componentes internas da obra seriam secundarizadas em relação à função social de distin-
ção, inerente aos espectáculos, embora seja impossível separar esta função da predominância de algumas formas líricas sobre
outras. O potencial dramático ligado à palavra era especialmente sacrificado; as obras, na expressão de Mário Vieira de Carvalho,
encontravam-se «dessemantizadas».
24. Ibidem, pp. 213-254.
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Deverá fazer-se notar que o SNI subsidia todos os espectáculos de revista do parque
Mayer, certamente porque entende que aquilo sim, aquilo é que é “cultura popular”
e da boa… Para espectáculos do nível e categoria dos que a FNAT apresenta… não
há verba. Valha-nos… Santo António.30
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A acção desenvolvida neste sector foi, segundo nos parece, a mais interessante e difí-
cil, dado as circunstâncias em que se desenvolveu. Na verdade, constituir uma com-
panhia lírica apenas integrada por artistas portugueses para a realização de uma
temporada que se processou ao longo de três meses e que constou de 46 récitas, in-
cluindo as do Funchal e Porto, foi um facto inédito entre nós.33
31. Alguns elementos sobre a Temporada Popular de Ópera e Opereta do Teatro da Trindade referidos pelo director do Teatro à im-
prensa na reunião efectuada em 27/4/1963, em Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1963, p. 1.
32. Ibidem, pp. 1-2.
33. Relatório das Actividades do Teatro da Trindade relativas ao ano de 1963, Arquivo do Ministério do Trabalho e Solidariedade, pas-
ta 313, p. 11.
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Em todo o mundo civilizado, os diversos países têm construído as suas óperas naci-
onais; não me refiro aos edifícios pois que a esse respeito temos um dos mais belos
de todo o mundo mas sim à construção do edifício músico-dramático ou seja à
constituição de companhias permanentes englobando cantores, maestros e règistas.
Esta construção iniciou-se em Portugal em 1963 tudo levando a crer que se desen-
volva, complete e institucionalize nos anos que se vão seguir. E a autoria dessa obra
transcendente no plano músico-teatral da vida portuguesa, ninguém pode ignorá-lo,
é exclusivamente da FNAT.34
34. Ibidem.
35. Ibidem, p. 12.
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Num plano cultural das mesmas classes sociais, a conquista parece-me igualmente
valiosa, pois que para muitos, neste ano de 1964, nomes que representam glórias da
Humanidade, como Puccini, Rossini e Verdi, e outros que são valores nacionais, como
Alfredo Keil, Tomaz Alcaide, Álvaro Malta, Hugo Casais, Guilherme Kjölner, Fernanda
Machado, Maria Teresa de Almeida, Ana Lagoa, etc, já estão devidamente hierarquiza-
dos na escala dos valores em relação aos de Matateu, Eusébio, Simone de Oliveira e
outras vedetas do desporto e teatro ligeiro, únicas que tinham verdadeira consagração
popular. E isto, parecendo graça, tem muita importância no campo da cultura.36
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Julgo de ser tempo de reconhecer que a intuição e sensibilidade artísticas têm pouco
ou nada a ver com o rendimento financeiro das pessoas. (…) É preciso não esquecer
que todos os empregados por conta de outrem constituem o tal público especial do
Trindade. Em certo sentido, penso que o público do D. Maria ou do S. Carlos é muito
mais “especial”. Pelo menos neste último teatro, tenho ouvido opiniões sobre ópera
verdadeiramente “especiais”, o que não acontecia quando frequentava a “geral” do
Coliseu em espectáculos da mesma natureza.38
O Público
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A maior parte desta gente não está habituada a ir à ópera… Se eu puser ópera a trin-
ta mil reis ou quarenta, o “Zé” lê aquilo: Quarenta paus, ópera? Isso é uma grande
chatice, não vou. Depois vai para o Trindade, depois o taxi, os transportes não são
fáceis, não vai. Mas se puser a cinco mil reis, é capaz de ir. Lê aquilo e diz: isto não
presta, mas vamos lá a ver. E vai. E se for e gostar, volta. E assim foi. No primeiro
ano esteve sempre cheio.43
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Havia muito entusiasmo porque havia muita gente que vinha aqui e que conhecia
as óperas de ouvirem bocadinhos na telefonia. Havia muita gente que nunca foi a S.
Carlos, para elas isto era um deslumbramento, até porque o teatro era muito bonito,
era um deslumbramento. Às vezes perguntavam-me se era preciso vir de vestido
comprido. Eu respondia que não porque era uma ópera para trabalhadores e não
era obrigatório virem com as peles. Também perguntavam se vinham de gravatinha
e eu dizia que desde que viessem compostos, não era necessário vir de lacinho. (…)
Ao princípio fazia-lhes muita confusão porque estavam habituados a ver as récitas
no S. Carlos, havia pessoas que iam mesmo ver a entrada do público, com vestidos
até aos pés, com as suas jóias, as suas peles, então quando nós começámos aqui,
as pessoas ficaram uma bocado desconfiadas se iria ser como no S. Carlos, muita
gente pôs isso em questão. Mas explicava-se que era ópera para trabalhadores, po-
dem vir compostos sem ser preciso trazer peles, se não as tiverem, se as tiverem,
que as tragam e as exibam. (…) As pessoas tinham o cuidado de vir bem arranjadas,
mas nada de grandes exageros, porque também não tinham. Então às vezes via-se
que as pessoas ficavam receosas, com vontade de virem mas, ao mesmo tempo,
com receio de não se sentirem bem ao pé das outras pessoas, porque quem tinha,
trazia. Claro que uma ida à ópera é sempre uma ida à ópera, mesmo sendo para tra-
balhadores e via-se que o público que ia para a galeria ou para o balcão de terceira,
se sentia tímido perante os outros.44
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Dada a alta categoria desta música e a possibilidade que sinto dela ser apreciada e
amada pelo público uma vez conhecida e destruindo o preconceito de intelectualismo
e portanto aborrecimento que a tem cercado, sobretudo devido à sua falta entre nós,
julgo que deverá insistir-se na organização de concertos semelhantes, pois vale a
pena o sacrifício financeiro e até moral de ver casas com tão pouco público para tão
boa música, com a esperança fundada de que se continuarmos a dá-la, o público
acabará por acorrer em maior número.49
47. Constituído por Antonino David, Mário Camerini, François Broos e Chaterine Heinz. Ibidem, p. 14.
48. Formado por Leonor de Sousa Prado, Nella Maissa e Pedro Corostola. Ibidem.
49. Relatório das Actividades do Teatro da Trindade relativas ao ano de 1963, Arquivo do Ministério do Trabalho e Solidariedade,
pasta 313, p. 15.
50. Idem, p. 15.
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52. Mário Vieira de Carvalho, Razão e Sentimento na Comunicação Musical, Relógio D’Água, Lisboa, 1999, p. 176.
53. Os documentos que retratam esta querela – um conjunto de cartas – estão agrupados no Arquivo do antigo Ministério das
Corporações, hoje Arquivo do Ministério do Trabalho e Solidariedade, num envelope destacado, pertencente à pasta 313, em cuja
face se encontra escrito “O Caso Ruy Coelho”.
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(…) excluindo as Óperas Portuguesas que foram criadas nos últimos quarenta anos,
e dando só a Serrana de 1899, vai criar no espírito dos trabalhadores da FNAT a lição
falsa e errada de que em 30 anos da política do espírito, não se criou Arte Nacional,
desmentindo grosseiramente a afirmação feita pelo Secretariado Nacional da Infor-
mação, com a Exposição “30 Anos de Cultura Portuguesa.”56
54 .Alfredo Keil (1850-1907) Compositor e pintor. Foi o autor de A Portuguesa, que se viria a tornar no hino nacional.
55. Carta de Ruy Coelho dirigida ao ministro das Corporações, Arquivo do Ministério do Trabalho e Solidariedade, pasta 313, p. 1.
56. Ibidem, p. 3.
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Mas principalmente, parece-me que os factos são apreciados numa óptica errada se
se confundir a política de espírito dos últimos trinta anos com a pessoa do Sr. Ruy
Coelho. […] Sem dúvida que o Sr. Ruy Coelho devia considerar que esta nova realiza-
ção da FNAT é mais uma afirmação de política de espírito de que o signatário não é
mais do que um executor mas, afinal, parece que só assim poderia pensar desde
que o seu nome constasse do cartaz, o que sinceramente lamento.58
57. Informação de Serra Formigal a propósito da carta de Ruy Coelho para o Ministério das Corporações, 18/4/1963. Arquivo do
Ministério do Trabalho e Solidariedade, pasta 313, p. 6.
58. Ibidem, p. 8.
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59. Ibidem, p. 5.
60. Ibidem, p. 1.
61. Ibidem, p. 1.
62. Ibidem, p. 2.
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Não se dirá que “A Serrana” seja a melhor ópera portuguesa, mas julgamos não es-
tar longe da verdade ao afirmarmos que é aquela que mais tem concitado o aplau-
so das camadas populares. As representações a que assistimos, designadamente
no Coliseu dos Recreios assim o demonstraram. Nunca faltam nem público nem
aplausos desde que o desempenho seja suficiente; o assunto muito português, o li-
breto com interesse dramático, a música de cariz popular de inspirada linha ro-
mântica e melódica, os bel-coros, levam a uma adesão fácil e proveitosa para a arte
lírica por parte dos que não estão iniciados nem familiarizados com linhas de evo-
lução estéticas mais modernas. Papini representará, talvez, o sentir geral do públi-
co médio de ópera – é sabido que tal público é regra geral conservador nos seus
gostos – quando afirma que, na ópera, prefere beber sempre o vinho velho embora
por odres novos.64
Claro que esta é uma opinião [sobre A Serrana] que, artisticamente e num plano de
elites musicais, não terá validade mas não podemos ignorar as preferências dos pú-
blicos médios e populares pelas óperas “românticas”, numa iniciativa que tem ne-
cessàriamente de conquistar a adesão do público a que se dirige e portanto ir ao
encontro dos seus gostos.65
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E não se diga que a ópera do século xix não tem qualidade artística já que ela cons-
titue ainda a parte mais vultuosa em todos os repertórios dos principais teatros do
mundo. Por isso preferimos, nesta primeira temporada, a “Serrana” a uma ópera
portuguesa de autores contemporâneos, integrados necessàriamente em estéticas
mais modernas mas também menos apreensíveis para quem toma os primeiros
contactos com a arte lírica.66
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68. Serra Formigal, Plano Geral para uma Programação Anual do Teatro da Trindade, Arquivo Serra Formigal, 1962, pp. 6-7.
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Estas reacções da crítica evidenciam um dos problemas mais difíceis em toda a explo-
ração do teatro, ou seja, a escolha das peças. Se a peça é elevada do ponto de vista li-
terário e dramático, logo aparecem os críticos que a consideram inviável para o
“público da FNAT”; se a peça tem características mais populares, então a FNAT não
está a cumprir a função de divulgação cultural que lhe incumbe; finalmente, se a
peça trata problemas de maior profundidade moral, psicológica ou político-social,
surge então o problema de poder ser perigosa.69
69. Relatório das Actividades do Teatro da Trindade relativas ao ano de 1963, Arquivo do Ministério do Trabalho e Solidariedade,
pasta 313, pp. 8-9.
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Claro que toda a regra tem excepção e que no meio é que está a virtude, e assim julgo
que, com exclusão de peças especialmente vanguardistas e herméticas ou ainda polí-
tica e moralmente desaconselháveis, a preocupação que nos deve nortear na escolha
das peças deve basear-se num critério amplo e ecléctico.70
70. Ibidem, p. 9.
71. Afonso Botelho, licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras de Lisboa, ensaísta filosófico, um dos
teóricos da filosofia da saudade, dramaturgo, apoiante da causa monárquica; Orlando Vitorino, licenciado em Ciências
Histórico-filosóficas pela Faculdade de Letras, filósofo e dramaturgo; Domingos Mascarenhas exerceu as funções de crítico
cinematográfico na Emissora Nacional, entre outras actividades culturais. Saragga Leal, vice-presidente da Junta de Acção
Social, e Beker da Assunção, chefe da repartição de Programação da Emissora Nacional tornam-se membros permanentes do
Conselho Consultivo em 1964. Acta n.o 7 do Conselho Consultivo do Teatro da Trindade, Arquivo do Teatro da Trindade,
24/4/1964, p. 1.
72. O Grupo da Filosofia Portuguesa formou-se a partir da obra O Problema da Filosofia Portuguesa, publicada em 1944 por
Álvaro Ribeiro. Deste resultou um diálogo com Eduardo Salgueiro sobre os fundamentos de uma “filosofia portuguesa”. Este
diálogo alargou-se na década de 1950 e 1960 a pensadores como António Quadros, António Telmo, Pinharanda Gomes, Afonso
Botelho, Orlando Vitorino ou António Braz Teixeira.
73. Acta n.o 1 do Conselho Consultivo do Teatro da Trindade, Arquivo do Teatro da Trindade, 13/11/1962, p. 1.
74. Ibidem, p. 1
75. Ibidem, p. 1.
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76. Ibidem, p. 2
77. Gerhart Hauptmann (1862-1946), poeta e dramaturgo alemão, com acentuada tendência socialista. Foi Prémio Nobel da
Literatura em 1912.
78. Acta n.o 2 do Conselho Consultivo do Teatro da Trindade, Arquivo do Teatro da Trindade, p. 1.
79. Tome-se o exemplo das encenações das peças da dupla Bertold Brecht/Kurt Weil.
80. Acta da segunda reunião do Conselho Consultivo do Teatro da Trindade, 13/11/1962, p. 1. Preparando a temporada de 1964, o Conse-
lho irá considerar a peça Uma Rapariga Moderna, de Francisco de Azevedo, muito apropriada para subir ao palco do Trindade, já que
“possui numerosos motivos que a recomendavam, pois tinha um nível artístico e literário aceitável, era completamente representável e ofe-
recia especiais recomendações pelo aspecto social da sua intriga que defende e propugna a responsabilidade do patronato nos problemas
do trabalho.” Acta n.o 6 do Conselho Consultivo do Teatro da Trindade, Arquivo do Teatro da Trindade, 5/2/1964, p. 1.
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86. Ibidem, p. 2.
87. Acta n.o 15 do Conselho Consultivo do Teatro da Trindade, Arquivo do Teatro da Trindade, 24/11/1965, p. 1.
88. Acta n.o 12 do Conselho Consultivo do Teatro da Trindade, Arquivo do Teatro da Trindade, 10/2/1965, p. 1.
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89. Inquérito a Couto Viana, a propósito do teatro, O Tempo e o Modo, n.o 6, Junho de 1963, p. 129.
90. É essencial não tomar o teatro experimental de forma unívoca, já que tanto ao nível da proposta estética como das relações
políticas existia bastante variedade.
91. Tome-se o exemplo da resposta de Bernardo Santareno e Fiama Hasse de Pais Brandão ao mesmo inquérito de O Tempo e o
Modo. Santareno afirmou: “O Povo tem que ser educado nas novas formas estéticas, com peças actuais, modernas na estética e
na temática. Pode-se ser simples e ter nível artístico, simultâneamente: Bertold Brecht pode ser entendido por todos os públicos,
mesmo pelos mais rudes.” Inquérito a Bernardo Santareno a propósito do teatro, O Tempo e o Modo, n.o 6, Junho de 1963, pp. 137-
138. Fiama Hasse Pais Brandão, por seu lado, referiu que “a arte deve colaborar no movimento de transformação das estruturas,
ensinando os homens a transformá-las. Função didáctica, por conseguinte. Ei-lo, portanto, em condições por excelência de en-
sino e divulgação de um tipo de comportamento.” Inquérito a Fiamma Hasse de Pais Brandão a propósito do teatro, O Tempo e
o Modo, n.o 6, Junho de 1963, pp. 139-140.
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O teatro, e mais propriamente dito, o teatro lírico, tem passado desde os primeiros
anos deste século por um processo de renovação de estéticas, de princípios e de
conceitos, que traduz e reflecte aspectos e problemas de uma nova época e de um
novo comportamento do homem perante valores essenciais. Aos novos prismas de
visão e interpretação do mundo actual, correspondem, nas artes, novas temáticas,
novos símbolos e novas linguagens, dentro de uma constante geral que foi a atitude
anti-romântica de reacção a um passado próximo e, ao mesmo tempo, atitude de
modernismo mais preocupado com a “actualidade” do que com a “sinceridade” da
obra de arte.96
94. João José Cochofel, Arte Musical, Agosto de 1962, n.o 137, p. 114.
95. Filipe de Sousa, “A propósito da Ópera de Câmara”, Colóquio Artes, n.o 25, Outubro de 1963, pp. 62-64.
96. Ibidem, p. 62.
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102. Humberto D’Ávila, Arte Musical, Julho/Novembro de 1963 e Maio de 1964, p. 529.
103. No caso do cinema, por exemplo, é a ideia da mise-en-scène que suporta a teorização francesa dos anos 50 e 60, que tomou
o nome de política dos autores, suportada por publicações como os conhecidos Cahiers du Cinema.
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104. Tomás Alcaide, “A Interpretação e Encenação das Óperas de Verdi”, Arte Musical, Julho/Novembro de 1963 e Maio de 1964, p. 583.
105. Ibidem, p. 583.
106. Ibidem, p. 583.
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(…) o tempo era sustado, quando um acelerando parecia estar a alcançar o seu
objectivo; as estruturas rítmicas, descaracterizadas, quando se tornavam dema-
siado incisivas; crescendi, contidos ou subtilmente cortados por um pianissimo
quanto estavam prestes a explodir; elementos motívicos e temáticos, cindidos,
como se tivessem perdido a capacidade de se reencontrar; a marcha harmónica,
detida, quando a sua textura se torna cadencial; a sonoridade (mormente na
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110. O editorial da Arte Musical, de Agosto de 1959, referia-se, brevemente, à situação dos maestros em Portugal: “Dão-se, às ve-
zes, no nosso meio musical, fenómenos curiosos. Um dos últimos foi o surgimento de uma quantidade de maestros, transbordan-
do da escassez das orquestras sinfónicas portuguesas. De vez em quando, aparece na imprensa a informação de que um maestro
se diplomou numa escola importantíssima estrangeira, que é o único português detentor de certo título invejável, etc, etc. Para que
a coisa perca o aspecto de guerra dos nervos, sugerimos que se examine a papelada desses laureados dirigentes e que, em confor-
midade com ela, se estabeleça um sistema de galões, como na tropa. Doutor em música? Três galões. Diplomado num curso de
aperfeiçoamento? Dois galões. Regra obrigatória: dirigir fardado. Só receamos que, por tal critério, Arturo Toscanini não passasse
de furriel, sem viabilidades de promoção.” Arte Musical, n.o 5/6, Agosto de 1959, pp. 122-123.
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Alega-se que não haverá público bastante para a sustentar. Mas não é fechando o
TNSC a um pequeno círculo de frequentadores da ópera estrangeira que esse público
se formará. E uma companhia nacional teria como uma das suas principais missões
deslocar-se à Província e levar os espectáculos de ópera às cidades e vilas que nunca
ou raramente os têm. Mas haverá realmente vontade de criar uma companhia nacio-
nal de ópera por parte das entidades a quem cabe resolver o problema?112
111. João José Cochofel, Gazeta Musical, n.o 108, Março de 1960, p. 39.
112. O Tempo e o Modo, n.o 3, Maio de 1963, p. 48.
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Eu sei que o tempo urge para todos, mas também sei a razão por que insisto. Tenho
algumas dezenas de anos de prática de teatro e já estou perfeitamente esclarecido
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114. Informação de Tomás Alcaide ao director do Teatro da Trindade, 24/4/1963, Arquivo do Teatro da Trindade, p. 1.
115. Ibidem, p. 1.
116. Informação de Tomás Alcaide ao director do Teatro da Trindade, 8/5/1963, Arquivo do Teatro da Trindade, p. 1.
117. Informação de Tomás Alcaide ao director do Teatro da Trindade, 8/11/1963, Arquivo do Teatro da Trindade, p. 1.
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Há ainda o facto… da idade dos cantores, que oscila entre os 28 e os 40 anos, o que é de-
masiado elevada, tendo ainda em consideração que todos eles gastaram muitos anos
cantando de qualquer jeito, sem escola, ou, pior ainda, com péssima escola, saltando de
um para outro “professor”, num desorientando vocal que lhes danificou o órgão fonador
e lhes criou vícios difíceis e morosos de eliminar. E é com este material humano que V.
Excia e eu temos apresentado as óperas ao público, até agora, colhendo o que se nos de-
parou à mão de semear, mas quanto tempo de vida vocal terão eles à sua frente?118
118. Ibidem, p. 1.
119. Ibidem, p. 1.
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111.
A Companhia Portuguesa
de Ópera: As Temporadas
1.
A primeira temporada de espectáculos, apesar das carências estruturais
e humanas, foi um sucesso. O público encheu quase todas as récitas,
entusiasmando-se com o que via e ouvia. A imprensa acompanhou,
na generalidade, este entusiasmo, salientando, mais do que os espec-
táculos em si, descritos muito sucintamente, a nobreza da iniciativa e
a sua importância social e artística. Todas as insuficiências foram se-
cundarizadas e compreendidas porque, como afirmou o compositor
Joly Braga Santos, na sua crónica no Diário da Manhã: “Acaba de se
abrir uma nova página na vida artística e social portuguesa, página de
profundo significado, principalmente pelas repercussões que pode ter
no futuro, no duplo aspecto dos artistas e do público.”1
A segunda ópera apresentada nesta primeira época foi A Serrana. O
sucesso foi idêntico. Formigal parecia ter vencido a polémica que tra-
vara com Ruy Coelho; mais ainda porque Joly Braga Santos fez ques-
tão de salientar a justeza da opção:
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3. Compositora, professora na Academia de Amadores de Música e crítica musical. Figura próxima de Fernando Lopes-Graça e
da oposição ao regime.
4. Francine Benoit, Diário de Lisboa, 17/5/1963, p. 3.
5. João de Freitas Branco, O Século, 16/5/1963, p. 9.
6. Francine Benoit, Diário de Lisboa, 17/5/1963, p. 3.
7. Joly Braga Santos, Diário da Manhã, 13/5/1963, p. 4.
8. Francine Benoit, Diário de Lisboa, 30/7/1963, p. 3.
9. Em 1970, Gino Saviotti, colaborador do Trindade, escreverá na revista Ópera as seguintes palavras sobre os fundamentos do
contexto da ópera cómica, um género de produção que exigia que “ as paixões fossem sinceras, não convencionais, as persona-
gens tiradas mais ou menos da vida de todos, a nossa existência quotidiana reverberada com caricatura, sim, mas no fundo com
cordialidade humana, por baixo também da cintilante alegria.” Ópera, n.o 5, Março de 1970, pp. 3-4.
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2.
A ópera A Vingança da Cigana, de Leal Moreira (1758-1819), foi a re-
presentante do teatro lírico nacional na temporada de 1964. Mais uma
vez, Serra Formigal evitava os autores portugueses contemporâneos.
O maestro José Atalaya, que se revelará um apoiante fiel da iniciativa
da FNAT, subscreveu no Diário da Manhã a escolha, apesar de consi-
derar o estilo rossiniano, imposto pelo maestro Jaime Silva Filho, pouco
apropriado para uma ópera que, segundo ele, se aproxima de Mozart.
A redescoberta da ópera de Leal Moreira foi, para Atalaya, o aconteci-
mento que marcou o espectáculo, o que lhe sugeriu um comentário
em defesa “dos mais famosos operistas portugueses do passado” de
quem se vinha tentando “ ‘apagar’ o rasto” e que “de resto, fizeram mais
prolongada carreira internacional do que qualquer dos nossos respeitá-
veis contemporâneos: Ruy Coelho, Joly Braga Santos, Frederico de Freitas
e outros.”12 Álvaro Benamor, prestigiado encenador teatral, estreou-se
na encenação lírica.
Os espectáculos de A Vingança da Cigana foram repartidos pelo tra-
balho de dois maestros, o já referido Jaime Silva Filho e o maestro Silva
Pereira. A opção da direcção do Trindade levantou acesa polémica com
10. João de Freitas Branco, Arte Musical, n.o 20, 21 e 22, Julho/Novembro de 1963 e Maio de 1964, p. 527.
11. Ibidem, p. 527.
12. José Atalaya, Diário da Manhã, 17/7/1964, p. 4.
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Filipe de Sousa, o maestro que revira a obra, e que possuía os seus di-
reitos de representação.13 Em contrapartida da cedência dos direitos
de A Vingança da Cigana, Serra Formigal prometera a Filipe de Sousa
a direcção da Orquestra da Emissora Nacional num dos concertos sinfó-
nicos da temporada do Trindade, dado que, na altura, por compromis-
sos já estabelecidos, era impossível conceder-lhe a direcção da referida
ópera. Sucedeu que, quando o programa de concertos de 1965 foi pu-
blicado, Filipe de Sousa não foi nomeado para a direcção de nenhum
dos concertos previstos. O maestro escreveu então duas cartas. A primei-
ra, para Formigal, relatando todo o episódio e pedindo explicações.14
A segunda, dirigida ao ministro das Corporações que, por sua vez, a re-
meteu ao director do Trindade.15 Filipe de Sousa juntou à carta um do-
cumento do Sindicato Nacional dos Músicos onde estavam arrolados os
nomes de todos os directores de orquestra portugueses separados por
um critério: a posse de credenciais do Conservatório. Filipe Sousa pro-
curava demonstrar ao ministro que uma importante iniciativa estatal no
campo da música não estava a servir os maestros que melhores com-
petências possuíam. Na lista dos maestros sem credenciais, encontra-
vam-se os colaboradores do Trindade: Silva Pereira, Frederico de Freitas,
Fernando Cabral e Ivo Cruz.16 No grupo dos maestros credenciados17
encontrava-se, sublinhado a preto, o nome de Filipe de Sousa. A esco-
lha dos maestros para este novo espaço de oportunidades profissionais
estava determinada por uma síntese entre opções políticas e opções
musicais, mediada por agentes como Serra Formigal, que tinham de ge-
rir as diversas sensibilidades em jogo com vista à prossecução de objec-
tivos específicos. A selecção dos directores de orquestra não poderia
13. Filipe de Sousa fora o fundador do Grupo Experimental de Ópera de Câmara, da Juventude Musical Portuguesa e do Centro
Português de Bailado, tinha sido professor do Conservatório, era júri dos concursos de composição do SNI e dos exames do Es-
tado para professores de Canto Coral, e exercia o cargo de presidente da assembleia geral do Sindicato dos Músicos. Informações
anexadas pelo próprio Filipe de Sousa à carta que enviou, em 19/7/1965, ao ministro das Corporações e Previdência Social, Arqui-
vo do Teatro da Trindade, pasta 1965.
14. Carta de Filipe de Sousa ao director do Teatro da Trindade, 18/7/1965, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1965.
15. Carta de Filipe de Sousa ao ministro das Corporações e Previdência Social, 19/7/1965, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta
1965.
16. Deste mesmo grupo faziam parte nomes como Ruy Coelho, Mário Sampayo Ribeiro, Lourenço Alves Ribeiro, Leonel da Silva
Rodrigues, António Lopes, José Alves Ribeiro, José da Cruz Braz, Armando Fernandes, António Francisco Marques, Wenceslau
Pinto, Pedro Lamy Costa Reis, Manuel João Alves, Franscisco Pereira de Sousa, Gustavo Augusto Coelho, Berta Cândida Alves de
Sousa, José Luciano da Graça, Armando de Mendonça Escoto e Jaime Mestres Perez. Ibidem.
17. Do grupo de maestros com documentos do Conservatório encontravam-se Francine Benoit, Joly Braga Santos, Jorge Peixinho,
Silva Dionísio, Artur Alves dos Santos Correia de Sousa, José Maria Antunes, Domingos Fernandes Ganhão, Ilidio Gomes de Sou-
sa Cyrilo, Ruy Onofre Barral, Jorge Bettencourt, Natércia de Almeida Couto, Elvira Santos, José dos Santos Pinto e César Augusto Ri-
beiro de Morais. Ibidem.
136
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ser determinada, como Filipe de Sousa pretendia, por uma simples ra-
cionalidade meritocrática.
A Vingança da Cigana foi a última ópera em cartaz na temporada de
1964. Pelo Trindade tinham já passado o Rigoletto, O Amigo Fritz, La Tra-
viata e La Bohéme. Todas constituíram um enorme êxito de público.
Justificava-se a opção de Serra Formigal pelas óperas italianas do perío-
do romântico. O reportório era eficaz e o público aderia aos clássicos,
tocado, como no caso da Traviata, “com a essência romântica da sua mú-
sica, com as suas melodias famosas, com todo aquele caudal, ora sereno
ora apaixonado, ora lírico ou trágico, com que se desempenha musical e
dramaticamente a vida amorosa e a morte da pobre Violeta Valery.”18
Esta ópera de Verdi, precursora do verismo, tratava pela primeira vez
um drama doméstico, apelando a um certo sentimentalismo da comu-
nicação músico-dramática. O público da FNAT acolheu com entusiasmo
as grandes obras do património verista italiano, identificando-se com
os seus temas sentimentais coloridos por atractivas melodias.19
A vertente popular da ópera foi ainda acentuada com encenações e
representações que estabeleciam um fio condutor, mesmo se ténue,
com a forma e disposição de outros patrimónios artísticos. Francine
Benoit referiu que, na Traviata, um cantor “até se apresentou com ares
de compadre de revista no primeiro acto; e ainda bem que se redimiu
no quarto”20, assinalando, a propósito de La Bohème: “A vivacidade e o
capricho desenvolvidos na encenação do ano passado recrudesceram
este ano, o que, em si, seria muito acertado se não roçasse, como estilo,
por momentos, o teatro ligeiro.”21
As críticas residuais não ofuscavam a continuação do êxito. Reforçava-
-se na opinião pública e na imprensa a importância da iniciativa para
a criação de um novo público de ópera e para a sustentação progressiva
de uma companhia portuguesa em que os artistas nacionais tivessem
condições para desenvolver o seu trabalho.
137
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3.
Muitos dos termos utilizados para caracterizar o Trindade eram devedo-
res das posições teóricas e estéticas de quem classificava e, sobretudo,
do lugar que ocupava no campo musical português. As tomadas de po-
sição artísticas estavam relacionadas com a história recente da ópera,
as suas transformações, a evolução dos seus ideais de convenção e
vanguarda. Em Julho de 1964, a revista Arte Musical publicou alguns
artigos dedicados às figuras de Verdi e de Wagner. O texto de Tomás
Alcaide sobre as encenações das óperas de Verdi suscitou, em capítu-
lo anterior, a comparação da concepção artística do Trindade com a do
GEOC. A publicação em simultâneo destes textos partia de uma clara
lógica de oposição entre os dois compositores. Embora os redactores
evitassem formular uma explicitação clara dos critérios subjacentes a
esta oposição, contrapunha-se, pelo valor e significado que à época os dois
compositores tinham no campo operático, a convenção à vanguarda.
A discussão é esclarecedora quanto a alguns eixos que traçavam os
limites das posições no interior do campo musical, permitindo situar
melhor a concepção preconizada para o Trindade. Sobre Verdi escreve-
ram, entre outros, Tomás Alcaide e José Blanc de Portugal. Os dois auto-
res, incondicionais adeptos da filosofia do Trindade, tiveram o cuidado
de evitar o anátema da convenção. No seu discurso, porém, existia uma
clara relação entre a tradição verdiana e a ópera popular. Para o cantor,
Verdi, “herdeiro da grande tradição do bel canto italiano, exige dos seus
intérpretes vozes sãs, belas, e de óptima escola”22. Neste aspecto, não
se confundia com Wagner: “(…) em Wagner as vozes são apenas uma
parte do todo orquestral, tratadas no mesmo plano dos outros instru-
mentos, ao passo que em Verdi é a voz do cantor que conduz a melodia
fundida com a palavra no modo mais expressivo.”23 Na encenação das
óperas de Verdi, “pouco há a dizer além de generalidades.”24 Para Alcai-
de, a função de um teatro de ópera tocado pelo espírito de Verdi era “cum-
prir a sua nobre missão cultural e educadora, contribuindo com afã para
a elevação do nível artístico do espectáculo, incrementando assim o
22. Tomás Alcaide, “A Interpretação e Encenação das Óperas de Verdi”, Arte Musical, Julho/Novembro de 1963 e Maio de 1964, p. 580.
23. Ibidem, p. 580.
24. Ibidem, p. 582.
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25. Idem.
26. José Blanc de Portugal, “Apontamentos para um ‘Verdi Vivo’ ”, Arte Musical, Julho/Novembro de 1963 e Maio de 1964, p. 572.
27. Ibidem, p. 567.
28. Ibidem, p. 575.
29. Jorge Peixinho. “O Clímax”, Arte Musical, Julho/Novembro de 1963 e Maio de 1964, p. 549.
30. Ibidem, p. 550.
31. José Carlos Ary dos Santos, “Wagner e o Teatro”, Arte Musical, Julho/Novembro de 1963 e Maio de 1964, p. 556.
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(…) pode falar uma linguagem de homem instruído, provar que leu e compreendeu
grandes literatos, demonstrar que raciocinou e construiu uma vontade própria, indi-
vidual; pode discordar; pode mesmo escrever para publicação em letra de forma, e
tudo isso na crescente certeza de interessar um círculo de cidadãos suficientemente
vasto e garante para substituir, de facto, o apoio de outra gente de maior linhagem
(…) Deu-se uma elevação mental do músico.32
32. João de Freitas Branco, “Significados Actuais de Wagner na Música e no Teatro”, Arte Musical, Julho/Novembro de 1963 e
Maio de 1964, p. 558.
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4.
Os espectáculos do Trindade seguiam-se à temporada do Teatro Nacio-
nal de São Carlos. João Paes, crítico da revista O Tempo e o Modo, mos-
trou-se desagradado pelo modo como decorreu a temporada de 1965
no Teatro Nacional de Ópera, onde, em questões de reportório, “a ro-
tina faz lei”33. Considerou ainda que entre a rotina aceitável, Strauss,
Wagner, Verdi, Vincenzo Bellini, Gaetano Donizetti e Puccini, e a inacei-
tável, Ruy Coelho, “o assinante-médio-normal das temporadas de ópe-
ra no São Carlos saiu desta feita regalado” porque “reage simpática e
quase exclusivamente ao elemento vocal”34. A “avalanche de bel canto”,
segundo este crítico, não possibilitava a atenção que a encenação mere-
cia: “Função cuja importância a direcção do Teatro de São Carlos parece
ainda não ter avaliado. (…) Função importantíssima para a conquista
de um público jovem que não está na disposição de tomar a sério um
espectáculo de síntese com uma das componentes fundamentais visi-
velmente escamoteadas.”35
No Trindade, a ópera italiana reinava. Serra Formigal, procurando dar
brilho ao início da temporada de 1965, contratou, para representar o
principal papel na Tosca, de Puccini, a cantora Simona Dall’Argine. A par-
ticipação da cantora italiana surgiu como forma de incentivar os inter-
câmbios artísticos com outros teatros. Em informação expedida em
33. João Paes, “Recordação da Casa dos Divos”, O Tempo e o Modo, Julho de 1965, p. 549.
34. Ibidem, p. 549.
35. Ibidem, p. 50.
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36. Informação de Serra Formigal sobre o intercâmbio de cantores, 1/8/1964, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1965.
37. Ibidem.
38. Ibidem.
39. Contrato entre Serra Formigal e Simonna Dall’Argine, celebrado a 9/4/1965. Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1965.
40. Cachets dos artistas – Temporada de ópera de 1965, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1965.
41. Contrato entre Gino Bechi e o Teatro da Trindade, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1965.
42. Joly Braga Santos, Diário da Manhã, 13/5/1965, p. 4.
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A Ópera do Trindade
“Fué estrenada en 1899, o sea cuatro años después de Thaïs, dos ante de La Bohème y es
anterior en un año a Tosca. Está pués emplazada en la época y el área estética de Masse-
net y Puccini y tiene afinidades con el estilo de estos dos operistas en cuanto a lo musical.
Escénicamente pertenece a la tendencia nacionalista…”51
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5.
Em Janeiro de 1966, o compositor português Jorge Peixinho, seguidor
das vanguardas musicais europeias, escreveu na Seara Nova uma crí-
tica a quatro óperas (O Elixir do Amor, Cavalleria Rusticana, Palhaços e
A Condessa Caprichosa) que a companhia do Trindade levou ao Porto.
Louvando o esforço do projecto no respeitante às oportunidades que vi-
nham sendo dadas aos artistas portugueses, Peixinho concluiu que o
reportório apresentado pelos artistas do Trindade gorava grande parte
do mérito da iniciativa: “(…) a direcção da CPO não tem demonstrado
uma visão lúcida nem corajosa na orientação artística que tem imprimi-
do à companhia, voltando costas, não só ostensivamente à produção
moderna e contemporânea como ainda ao reportório barroco e clássi-
co.”53 Considerou ainda que sendo difícil, por questões técnicas e hu-
manas, apresentar “um Wozzeck ou uma Lulu”, já não se compreendia
a omissão de algumas obras cénico-musicais de Stravinsky, de A Mão
Feliz, de Arnold Schoenberg, ou, entre muitas outras, as óperas épicas
resultantes do trabalho conjunto de Kurt Weil e Bertolt Brecht. A apre-
ciação de Peixinho aos espectáculos apresentados no Porto, entre alguns
elogios individuais, caracterizou-se por uma crítica transversal. Aos
olhos de um vanguardista, o projecto era débil e convencional.
A temporada de 1966 foi preenchida pelo Rigoletto, de Verdi, a Lucia
de Lammermoor, de Donizetti, o Fausto, de Charles Gounod, a Inês Perei-
ra, de Ruy Coelho, e, a finalizar, a dupla Rita, de Donizetti, e Palhaços, de
Leoncavallo. No final da temporada, um relatório do Teatro da Trindade
dava conta dos números alcançados pelas várias óperas.54 O Rigoletto
registara a maior frequência nas oito récitas realizadas, com uma média
de 501 espectadores. Seguiu-se a Lucia de Lammermoor, com 486,6; o
Fausto, com 468,2; Rita e Palhaços, com 344,1. A Inês Pereira, de Ruy Co-
elho, com 240,3, fora, de longe, o espectáculo que menos suscitou o
interesse do público. Apesar dos indícios que levariam a prever este des-
fecho, Serra Formigal, contrariando a sua opinião pessoal, acabara por
ceder à representação de uma ópera de Ruy Coelho.
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A direcção da Inês Pereira foi repartida pelo seu autor e pelo maestro
Jaime Silva Filho, como consta do contrato assinado entre José Serra For-
migal e Ruy Coelho, em 2 de Novembro de 1965.55 A pacificação, pelo
menos aparente, das relações entre Ruy Coelho e o Trindade foi sentida
quando aquele iniciou uma crítica regular dos espectáculos do Trinda-
de nas páginas do Diário de Notícias. Coelho procedeu a uma alteração
na sua retórica: se não foi possível o advento de uma arte nacionalista,
o elemento pátrio estava assegurado pela actuação dos filhos da nação,
ainda mais quando este sentimento era reforçado pela presença na
sala de altas personalidades do regime, como foi o caso do Presidente
da República, Américo Thomaz, na estreia de Rigoletto:
(…) a Arte tem uma profunda função social, e de tanto maior alcance educativo de
todas as classes das populações, quando é feita com elementos criados pelo próprio
meio, como afirmação da existência das actividades seleccionadas dos artistas nacio-
nais, que desse modo confirmem o superior grau do nível da cultura artística do
próprio país.56
55. Contrato entre Serra Formigal e Ruy Coelho, com vista à representação da ópera Inês Pereira, Arquivo do Teatro da Trindade,
pasta 1966.
56. Ruy Coelho, Diário de Notícias, 5/5/1966, p. 5.
57. Ruy Coelho, Diário de Notícias, 23/5/1966, p. 6. Sprechgesang é uma técnica vocal que está entre o falar e o cantar. Chuchotement
refere-se ao canto sussurrado.
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Quando se projectou a ida a Angola, pessoas houve que, dentro do preconceito pseu-
do-culto próprio dos que desconhecem inteiramente este género artístico, exprimiram
a ideia de que o espectáculo lírico subsiste apenas para “elites” muito “snobs”, por
consequência, seria inútil e até ridículo levá-lo a Angola, onde os ânimos estão volta-
dos para realidades mais fortes e onde, por outro lado, não haveria preparação nem
disposição do público para ele. (…) Os que amam a ópera, pelo contrário, sabem que
ela é cada vez mais um espectáculo popular, aqui e no estrangeiro. Quem vai ao Trin-
dade e ao Coliseu e vê as casas sempre cheias de um público entusiástico e pagante
que, certamente, pela sua condição económica, não frequenta os espectáculos para
exibir trajes ou jóias nem para fazer ou afeiçoar relações úteis e mundanas…61
61. Súmula das entrevistas de Serra Formigal, e críticas aos espectáculos, a propósito da viagem a Angola, Arquivo do Teatro da
Trindade, pasta 1966, p. 2.
62. Ibidem, p. 3.
63. Ibidem, p. 3.
64. Nota sobre as Actividades do Teatro da Trindade em 1966, Arquivo do Teatro da Trindade, 31/5/1967, p. 2.
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6.
A temporada de 1967 iniciou-se sob o efeito das obras realizadas no
Teatro da Trindade durante o ano anterior.66 A apreciação à Tosca, de
novo eleita para a estreia da temporada, foi secundarizada pela impres-
são causada pelas alterações na morfologia do Teatro. João de Freitas
Branco aproveitou os sinais de institucionalização do projecto da Com-
panhia Portuguesa de Ópera do Trindade para fazer o elogio dos seus
promotores:
65. Ibidem, p. 2.
66. A obra, dirigida pelo arquitecto Miguel Evaristo de Lima Pinto, contou com o trabalho de decoração de Maria José Salavisa.
Sobre a sua tarefa afirmou: “No que diz respeito à decoração, houve uma sugestão desde logo a aceitar: a decoração legada pelo
final do século passado. Em faceta tão importante, realçou-se o que originalmente havia de bom e aproveitável, desembaraçado
de acréscimos e enfeites posteriores, alguns deles de manifesta incoerência e evidente mau gosto! Teve-se sempre em mente no
restauro não sobrecarregar o Teatro de decorativismos supérfluos em que o ecletismo do “fim do século” foi pródigo, mas não
se ajustavam às teorias de hoje.” Maria José Salavisa, Programa do Teatro da Trindade, 1967, p. 23.
67. João de Freitas Branco, O Século, 29/4/1967, p. 9.
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(…) se é bem certo que a função faz o órgão, não menos certo é que a existência
deste proporciona a necessidade de muitas necessidades virtuais e latentes que
doutra forma não se concretizariam e nem, talvez, chegassem a manifestar-se, nesta
impotência realizadora em que, à míngua de estruturas culturais, as melhores inten-
ções têm vindo a estiolar-se. A conclusão lógica de tudo isto é que, com a realização
presente e outras já devidas à mesma origem, a simples formação e manutenção de
uma companhia de ópera portuguesa, assente em quadros estáveis, quer artísticos
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quer de apoio, com que a FNAT soube tão meritória como bem orientadamente res-
ponder à metodologia preconizada pelos sectores mais interessados, veio provar à
saciedade (…) que a promoção de uma autêntica actividade musical nacional só é
possível a partir de uma institucionalização das estruturas necessárias…69
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Teria também muito prazer que V. Exa. não considerasse as actuações do Coro do Tea-
tro Nacional de S. Carlos no Trindade (FNAT) como efectuados fora do Teatro Nacional,
pois que foi sempre nosso propósito, e assim temos procedido, que as temporadas do
Teatro da Trindade, dada a sua função nacional atrás referida, se processassem em ínti-
ma colaboração com o Teatro de S. Carlos; este aliás, tem sido o nosso mútuo desejo e
intenção de suas Excelências os Ministros da Educação Nacional e das Corporações e
Previdência Social que presidem aos destinos dos Ministérios que ambos servimos.73
71. Carta do Coro do Teatro Nacional de São Carlos ao director do Teatro Nacional de São Carlos, Setembro de 1967, enviada
como anexo de uma carta do Teatro Nacional de São Carlos ao Director do Teatro da Trindade em 19/9/1967, Arquivo do Teatro
da Trindade, pasta 1967.
72. Carta de Serra Formigal ao director do Teatro Nacional de São Carlos, 20/12/1967, p. 1 Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1967.
73. Ibidem, pp. 2-3.
74. Ibidem, p. 3.
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7.
A Companhia Portuguesa de Ópera entrou na sexta temporada com a
Sonambula, de Bellini. A escolha da ópera de um dos mestres do bel-
canto não deixava evidenciar as representações importantes que marca-
ram o ano de 1968 no Trindade. Na estreia, o Presidente da República,
Américo Thomaz, condecorou Tomás Alcaide. A encenação de Bechi
foi muito admirada, levando o crítico Nuno Barreiros76, no Diário de
Lisboa, a formular um desejo: “Além de a CPO proporcionar emprego
a muita gente poderia permitir a alguns elementos experimentar solu-
ções que noutros espaços não lhes seriam permitidas.”77
A troca da habitual dupla Os Palhaços e Cavalleria Rusticana pela
parelha que agregava Os Palhaços e O Segredo de Susana, de Ermanno
Wolf-Ferrari, autorizou, segundo o crítico do Diário da Manhã, que se
tivesse poupado “ao público dois dramas sangrentos”78. Entretanto, Ruy
75. Carta de José Serra Formigal ao presidente do Instituto de Alta Cultura, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta da Correspondência.
76. Nuno Barreiros, adepto de um modernismo musical, próximo dos Freitas Branco. Nuno Barreiros era casado com Maria
Helena de Freitas, uma das principais colaboradoras de Serra Formigal no Trindade.
77. Nuno Barreiros, Diário de Lisboa, 8/5/1968.
78. JCP, Diário da Manhã, 24/5/1968, p. 4.
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A mistura de alguns números soltos, de música para canto e pequena orquestra entre
muitas e diversas passagens declamadas pelos próprios cantores e diversos quadros
com as respectivas mutações, o que, desde logo, com tantos hiatos, cria uma atmos-
fera sem acção musical. E, conjuntamente, a fraca acção musical dá monotonia.93
89. O maestro Filipe de Sousa assinou um contrato, em 4/4/1968, com José Serra Formigal, onde se compromete, em troca de uma
remuneração de 15 mil escudos, a dirigir seis récitas de As Variedades de Proteu, como a ensaiar a orquestra e os cantores “tanto ‘à ita-
liana’ como de cena”. Contrato entre Filipe de Sousa e Serra Formigal, 4/4/1968, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1969.
90. João de Freitas Branco, O Século, 28/7/1968, p. 4.
91. Ibidem, p. 4.
92. Ibidem, p. 4.
93. Ruy Coelho, Diário de Notícias, 27/7/1968, p. 5.
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94. Em comentário, Freitas Branco cita um artigo de Ernst Krause para a revista alemã Opernwelt, que dizia: “Acaso vamos ainda
assistir a La Bohème de Puccini, ou será Zeffirelli o seu autor? Discutimos o Barbeiro, de Herlschka, ou a partitura de Rossini?
Qual é o Wagner mais importante, o Wieland ou o Richard? João de Freitas Branco, O Século, 28/7/1968, p. 4.
95. Ibidem, p. 4.
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8.
A temporada de 1969 não se adivinhava fácil. As dificuldades de orga-
nização da temporada, motivadas pelas muitas solicitações feitas aos
artistas portugueses, ficaram bem elucidadas numa carta que Serra
Formigal enviou à cantora Ana Lagoa, a propósito da sua contribuição
para os espectáculos previstos. O Trindade estava ainda longe dos cen-
tros musicais da capital, verdadeiros monopolizadores de eventos e
congregadores das sensibilidades mais apuradas:
96. Carta de Serra Formigal para Ana Lagoa, 7/12/1968, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1969.
97. João de Freitas Branco, “O XIII Festival Gulbenkian de Música foi o de maior projecção”, em Colóquio Artes, n.o 54, Junho de
1969, pp. 43-51.
98. Orçamento Ordinário da Receita e Despesa para o ano de 1969, Arquivo do Teatro da Trindade.
99. Nesse ano, as Contas Gerais do Estado assinalavam um gasto de 10.006.000$00 com o Teatro de São Carlos. Diário das
Sessões n.o 89, de 14/4/1971, p. 1788 (97).
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100. Na nota justificativa do orçamento, Serra Formigal fundamenta a decisão: “Os bilheteiros estavam a metade dos ordenados nor-
mais mais baixos dos vários teatros de Lisboa, conforme verificámos. Quanto ao pessoal de cena (electricistas e maquinistas), tam-
bém os seus vencimentos são baixos, mesmo depois deste aumento, relativamente a alguns teatros, mas ficam agora mais
equilibrados”. Nota justificativa do Orçamento Ordinário da Receita e Despesa do Teatro da Trindade para o ano de 1969, Arquivo
do Teatro da Trindade, p. 2.
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O que em 1963 era admissível, seis anos depois deixara de o ser. Joly
Braga Santos, o compositor português que mais se destacava na con-
juntura política e social da época, parecia exigir, não se sabendo em que
termos concretos, uma nova política para o Trindade, em especial no
que respeitava às óperas portuguesas.
Seguiram-se Amélia al Ballo, de Menotti, e Il Gobbo del Califfo, de Franco
Casavola. Ruy Coelho considerou as óperas, nomeadamente a primeira,
“na linha das melhores óperas italianas, onde a música é sempre mú-
sica e não mera especulação da escrita.”104 A Joly Braga Santos também
agradou a ópera de Menotti; quanto a Il Gobbo del Califfo, “Lasciate mo-
rire lo chi è morto.”105 João de Freitas Branco sugeriu que a ópera de Casa-
vola “é uma brincadeira cénico-musical suficientemente conseguida
para proporcionar um recreativo entretenimento.”106 Werther, de Mas-
senet, voltou a levar aos palcos do Trindade o romantismo exacerbado.
A temporada finalizou com três óperas de Rossini: La Scala di Seta, Cam-
biale de Matrimonio e Adina. Com o maestro Mario Pellegrini a dirigir
a orquestra, Artur Ramos foi o responsável pela encenação. Quase to-
dos os críticos concordaram que das três óperas, só a Cambiale di Ma-
trimonio poderia proporcionar um bom espectáculo.
Entretanto, nas páginas da Vida Mundial, o crítico Mário Vieira de Car-
valho107, numa retrospectiva da temporada da Companhia Portuguesa
de Ópera do Trindade, sistematizou um modelo alternativo ao tipo de
concepção artística que ia decorrendo no Teatro.108 Antes, porém, apon-
tou aquelas que julgava constituírem-se como as principais deficiên-
cias estruturais da organização da FNAT:
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9.
O impacte que a actividade operática do Teatro da Trindade represen-
tou para as carreiras de muitos artistas foi reforçado, em 1970, quan-
do o orçamento ordinário do Trindade concedeu uma verba destinada
a descontos para a previdência social. O objectivo da profissionaliza-
ção, definido desde o início por Serra Formigal, estava mais perto. Como
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Nos “encargos com os artistas” verifica-se uma menor despesa prevista em relação a
1969, apesar de se considerar a contribuição para a Previdência, que não só nos é exi-
gida pela Caixa respectiva, como representa uma decisão de eminente justiça social,
primeira e importante medida no caminho da profissionalização sócio-económica do
cantor lírico português, que assim é iniciada (…)111
111. Nota Justificativa do Orçamento Ordinário do Teatro da Trindade para o ano de 1970, Arquivo do Teatro da Trindade, p. 2.
112. Ibidem, p. 2.
113. Jean-Louis Cassou fora director do Centre Lyrique Populaire de France e desempenhava, na altura, as funções de ence-
nador.
114. Jean-Louis Cassou, «Le Theatre de la Trindade a Lisbonne: une expérience passionnante de théâtre populaire», Opéra, n.o 69,
Setembro de 1967, pp. 44-45.
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115. Jean-Louis Cassou, “Comment Nait l’Opéra Portugais de Demain”, Opéra, n.o 78, Julho de 1968, p. 31.
116. Carlos Rego, Vida Mundial, n.o 1614, pp. 62-64.
117. Carlos Rego, O Século, 16/5/1969, p. 11.
118. Carlos Rego, O Século, 15/7/1970, p. 11.
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peita aos papéis principais, dez récitas a 1.500$00 cada, o que perfazia
15.000$00. Em 1965 e 1966, as récitas reduziram-se para oito por ópera,
tendo o pagamento subido para 2.000$00, o que, no total, implicava um
pagamento de 16.000$00. Entre 1967 e 1970 o número de récitas baixou
para seis por ópera, pagas a 2.500$00 a récita, o que totaliza 15.000$00.119
Segundo os cantores, a situação artística da Companhia Portuguesa de
Ópera do Trindade atingira um patamar incompatível com a modéstia
dos primeiros salários, na altura “plenamente aceites porque todos com-
preenderam o objectivo grandioso que V.Exa se propunha realizar e
todos nos orgulhamos de ter dado a colaboração necessária dentro do
melhor que cada pode. (…) Felizmente, o nível dos espectáculos evoluiu
favoràvelmente durante as últimas temporadas e, talvez por isso, todos
sentimos mais exigência, tanto dos críticos como do público.”120
Os artistas reivindicaram, além de alguns pormenores relativos à orga-
nização dos ensaios, o pagamento de 5.000$00 por récita para os papéis
principais, 3.000$00 para os segundos, e 1.500$00 para os pequenos. O
director do Trindade encheu a margem esquerda do original da carta
com pequenos comentários, muitos deles ilegíveis. Parece, no entanto,
tratar-se de um esboço de carta à direcção da FNAT, sustentando as exi-
gências dos cantores. A primeira frase ainda é perceptível: “Os cachets
são, com efeito, muito baixos (…) Desta forma o Trindade não pode ser es-
timulante.”121 O pedido do director do Trindade à direcção da FNAT, não
chegando aos números sugeridos pelos artistas, foi generoso: principais
papéis 4.000$00, segundos 2.400$00 e pequenos 1.200$00.
A afirmação da Companhia Portuguesa de Ópera do Trindade no meio
operático nacional, aspiração fundamental do seu director, era incompa-
tível com as remunerações praticadas. Sustentando as reivindicações
salariais dos cantores, Serra Formigal esperava fortalecer a autonomia
de um projecto que continuava a sofrer duras comparações com a re-
alidade do São Carlos.
119. As contas devem, no entanto, ser feitas deste modo. Se as récitas vinham a baixar progressivamente, o número de óperas,
até certa altura, aumentara, o que implicava mais récitas. Por outro lado, nem todos cantores tinham um número de récitas
assegurado, variando a sua intervenção consoante a programação apresentada.
120. Carta dos Artistas Líricos da Companhia Portuguesa de Ópera do Trindade ao director do Teatro, 20/7/1970, Arquivo do
Teatro da Trindade, pasta 1970.
121. Ibidem.
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10.
A distribuição dos papéis e respectivas remunerações122 para as óperas
a apresentar em 1971 confirmaram a concretização dos aumentos su-
geridos à FNAT por Serra Formigal. Em documento interno que resu-
mia o trabalho realizado até ao ano de 1970, referiu-se à representação
de 400 récitas, em que participaram 360 mil espectadores. A meta se-
guinte era alcançar “o profissionalismo integral dos artistas líricos na-
cionais através da formação de um quadro estável.”123 Tal finalidade só
seria alcançável com um acordo institucional, porque “só pode obter-se
em colaboração com o Ministério da Educação Nacional através do Tea-
tro de S. Carlos, por razões de ordem financeira e por serem as duas
entidades – Teatro da Trindade e Teatro Nacional de S. Carlos – interes-
sadas no sector.”124
Serra Formigal sabia que a continuidade do Trindade estava mais se-
gura se a Companhia Portuguesa de Ópera, como projecto de produ-
ção e de formação, fosse integrada em estruturas estatais relacionadas
com o universo cultural. Esse seria o seu lugar natural, e não no inte-
rior de uma instituição que funcionava sob a alçada do Ministério das
Corporações, a quem cabia a coordenação e pacificação controlada dos
diversos interesses sociais e económicos. Fora das atribuições de um
Ministério como o da Educação, que financiava o São Carlos, a institu-
cionalização de uma estrutura operática era uma realidade complexa.
O “Trindade do futuro” deveria ser valorizado pela sua relevância na es-
fera cultural e não apenas como um instrumento da política social do
país. Na introdução do programa das óperas do Trindade para 1971, Ser-
ra Formigal expressava todas estas tensões:
122. Temporada de Ópera de 1971 – Repertório e Elenco, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1971.
123. Documento que resume o trabalho realizado no Trindade, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1971, p. 2.
124. Ibidem, p. 2.
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já hoje um grupo de melómanos que não saiu, pròpriamente, dos antigos frequen-
tadores do Coliseu nem dos actuais assinantes de S. Carlos. Muito embora uns e
outros se juntem com o novo grupo da rejuvenescida sala do velho Trindade. As noi-
tes de estreia adquiriram até, ao longo destes nove anos, um ar de gala, pois não
raro deparamos com pessoas conhecidas, que fazem parte da assistência elegante
de S. Carlos. Porém, os trabalhadores – mesmo os mais modestos – não perderam
o seu lugar e estão em sua casa. Esta iniciativa da FNAT destina-se a eles, muito es-
pecialmente, mas alargou-se a um público mais vasto, mercê do bom nível conse-
guido em tantos espectáculos.125
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ção da produção musical levou Freitas Branco a considerar que não exis-
tia “uma autêntica vida musical portuguesa” mas, “em poucos milha-
res de habitantes de Lisboa e Porto, o hábito de assistir a espectáculos
musicais”.128 A democratização musical estava adiada porque “os melho-
res agentes de captação, junto de pessoas desprovidas de qualquer gosto
pela música séria, são o concerto sinfónico e a récita de ópera: precisa-
mente aquele que só por milagre se desloca aonde mais falta está fazen-
do.” A modificação de tal panorama cabia ao Estado, que devia assegurar,
sem qualquer “dirigismo asfixiante”, “os meios eficientes de educação
musical, estendida a todo o País e a todos os graus de ensino, para que
não continue desaproveitado um dos melhores meios de elevação men-
tal e de preenchimento de tempos livres de uma nação”, o que implica-
va “a reorganização do ensino profissional em conservatórios e outras
escolas, para formação de professores, compositores e executantes.”129
No seu quinto número, em Março de 1970, a revista Ópera130 publi-
cou a primeira entrevista131 com o novo director do São Carlos. João de
Freitas Branco pretendia ampliar a actividade do teatro, acrescentando
às temporadas já existentes conjuntos de espectáculos protagonizados
por companhias portuguesas ou estrangeiras. Considerava importante
a criação de uma nova orquestra sinfónica “que fizesse as temporadas
de ópera e de bailado do São Carlos e do Trindade e que, nos restantes
meses, percorresse, em tournée a província.”132 A possibilidade de profis-
sionalizar o coro do São Carlos, para “que os seus elementos possam viver
dessa actividade”133, era outro dos seus objectivos. João de Freitas Bran-
co desejava ainda a criação de uma relação profícua com o Conservatório,
ao qual, afirmou, compete a formação de cantores. O novo director do
São Carlos esperava reformar os reportórios, dando especial atenção às
obras contemporâneas e descentralizando a origem geográfica das ópe-
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134. Mário Vieira de Carvalho refere as propostas que João de Freitas Branco apresentou na lei orgânica por si elaborada: 1)
Criação de uma companhia residente que actuaria em alternância com companhias estrangeiras; 1.1 – Essa companhia só faria
reportório que pudesse verdadeiramente dominar; 1.2 – Esse reportório deveria consistir em obras cénicas do período
compreeendido entre Monteverdi e Mozart, bem como de autores contemporâneos e portugueses; 2) Criação de uma orquestra
privativa do TSC; 3) Criação de um Departamento de Dramaturgia; 4) Descentralização da actividade do TSC para a província,
onde a companhia residente deveria dar espectáculos regulares; 5) Alargamento da actividade a sectores culturais à margem da
ópera, dos concertos e do bailado, como, por exemplo, colóquios, exposições, etc.; 6) Ligação ao Conservatório, para facultar a
estudantes finalistas estágios na companhia residente ou na orquestra. Mário Vieira de Carvalho, Pensar é Morrer ou o Teatro de
São Carlos na mudança de sistemas sociocomunicativos desde fins do séc. XVIII aos nossos dias”, INCM, Lisboa, 1993, p. 257.
135. Entrevista de Serra Formigal à revista Ópera, Ópera, n.o 6, Abril de 1970, p. 14.
136. Ibidem, p. 14.
169
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11.
Pela segunda vez, uma temporada de ópera no Trindade não apresen-
tou nenhuma obra portuguesa. A ausência de obras nacionais, em dois
anos consecutivos, demonstrava o afrouxamento de imposições exte-
riores e um consequente fortalecimento da autonomia do empreendi-
mento. Serra Formigal arriscou apresentar, na abertura da temporada
de 1971, uma obra inesperada: o Orfeo e Eurídice, de Gluck. Procurava-se
continuar a “seguir o critério de enriquecer o reportório da Companhia
Portuguesa de Ópera com algumas obras significativas da dramaturgia
lírica.”137 Quase todos os cronistas, antes de se referirem à representação
do Trindade, detiveram-se sobre a importância histórica da obra. João
Paes, nas páginas d’O Século, referiu que o Orfeo e Eurídice “marcou
uma data padrão na História da ópera, momento de reforma no sentido
de uma reivindicação, para o drama musical, da sua essencial verdade
dramática, algo esquecida então, em benefício de outros aspectos mais
superficiais do espectáculo.”138 Edmundo Oliveira, na Vida Mundial, acen-
tuou a importância paradigmática da obra porque “com ela é desferido
um duro golpe na proverbial prepotência e ‘falso orgulho dos canto-
res’(…) Alteravam, abreviavam, recusavam, impunham, compunham,
punham e dispunham a seu bel-prazer, sem qualquer espécie de consi-
deração por aquilo a que hoje se chama a vontade do autor.”139 A autono-
mia das formas impunha-se pelo emergir da figura do autor, e, na obra
de Gluck, contra a “pomposa roupagem barroca”140, pelo papel da pala-
vra e do libreto como materialidade artística fundamental, porque a
“música faz-se em função da letra, e o cantor em função destas”; depu-
rava-se a obra, acabando com as “cedências a virtuosismos fáceis”, crian-
do-se “uma atmosfera de sabor clássico, solene sem redundâncias,
137. José Serra Formigal, Programa da Temporada de Ópera da FNAT, 1971, p. 13.
138. João Paes, O Século, 6/5/1971, p. 11.
139. Edmundo Oliveira, Vida Mundial, n.o 1670, 11/6/1971, p. 42
140. Ibidem, p. 42.
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Depois da entrada em falso desta temporada de ópera do teatro da Trindade, que foi
a pretensiosa e sensaborona representação do Orfeo, de Gluck, esta Lucia de Lam-
mermoor veio repor as coisas mais no seu lugar. O espectáculo teve imperfeições, é
certo – outra coisa seria milagre –, mas teve virtudes que conseguiram, ao fim e ao
cabo, prevalecer.148
172
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12.
O reportório apresentado pelo Trindade, num contexto em que a nova
direcção do São Carlos imprimia um cunho modernista à programação
do teatro nacional de ópera, era cada vez mais o alvo preferencial das crí-
ticas efectuadas por especialistas do meio musical erudito. Em Outubro
de 1971, o director do Trindade, na revista Rádio e Televisão153, respondeu
ao conjunto de críticas apontadas por Mário Vieira de Carvalho aos es-
pectáculos da Companhia Portuguesa de Ópera, por ocasião de um in-
quérito publicado pela mesma revista no dia 14 de Agosto. Vieira de
Carvalho, citado por Formigal, considerou o reportório do Trindade de
um italianismo “comum e rotineiro”, afirmando, ainda, que os “empre-
sários gostam de falar e pensar pelo público e confundem os seus gos-
tos pessoais com o gosto do público. Como são os empresários que têm
nas mãos a forma de fazer chegar ao público determinado tipo de arte,
é deles que depende a formação ou deformação do gosto do público.”154
O director do Trindade, inventariando as óperas que passaram pelo
Teatro, concluiu que das 33 óperas que constituíram o reportório em
151. Já em Julho de 1969, Serra Formigal escrevera ao director Juan Pamias, perguntando-lhe acerca das possibilidades da sua
companhia representar em Barcelona a Condessa Caprichosa, de Marcos de Portugal, para assim “continuar o bom nome deixa-
do pela Serrana”. Na mesma carta, e em jeito de introdução, Formigal informa Pamias da condecoração que recebera do Presi-
dente da República na presença de altas figuras do regime. Carta de Serra Formigal a Juan Pamias, 23/7/1969, Arquivo do Teatro
da Trindade, pasta Correspondência.
152. Carta de Filipe de Sousa a José Serra Formigal, 8/11/1971, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1971.
153. Carta de Serra Formigal à revista Rádio e Televisão, Rádio e Televisão de 2/10/1971, pp. 36-37.
154. Ibidem, p. 36.
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A Ópera do Trindade
nove anos de actividade, onze não eram italianas. Afirmou ainda que
das óperas italianas apresentadas, pelo menos três eram contemporâ-
neas – Amélia al Ballo, de Menotti, Il Gobbo del Califa, de Casavola, e o
Segredo de Susana, de Wolf Ferrari. Das 33 óperas referidas, apenas tre-
ze pertenciam ao reportório italiano tradicional. Por fim, Formigal re-
correu ao Boletim Lírico Internacional, elaborado por Robert Deniau
para os anos de 1969/70, para provar que o quarteto Rossini, Donizet-
ti, Verdi e Puccini obtivera 1600 representações em 76 dos principais
teatros da Europa, número que excluía os italianos, para não suscitar
preferências. Adiantou ainda que, no mesmo universo teatral, Luigi
Dallapicola, Alban Berg, Schönberg e a dupla Weil-Brecht, alguns dos
autores que Vieira de Carvalho considerava como boas hipóteses para
o Trindade, representavam apenas 4 por cento do número de espectá-
culos de ópera conseguidos pelos mestres italianos.
A origem do debate, todavia, não passava tanto pela discussão da na-
cionalidade das óperas, ou da sua datação, embora a tradição operática a
isso convide. As divergências entre Formigal e Vieira de Carvalho assi-
nalavam diferentes concepções de modelo artístico, para além das ób-
vias divergências políticas. A maior parte das óperas não pertencentes
a um património italiano clássico representadas no Trindade integrava-
-se, tendo em conta o que envolvia a sua apresentação no Trindade, num
mesmo modelo de relação entre a produção e a recepção das obras. Foi
o caso das óperas francesas de Massenet, Gounod e Bizet, e mesmo das
portuguesas A Serrana, Condessa Caprichosa ou A Vingança da Cigana.
A argumentação da contemporaneidade também não introduz uma
profunda alteração na comunicação, algo que se aplica aos exemplos
italianos que Formigal adiantou.
Noutro momento, Vieira de Carvalho afirmara que as óperas do Trin-
dade eram apresentadas “dentro de uma concepção tradicional pouco
esclarecida, apagando o significado cultural e ideológico profundo que
essas óperas têm.”155 A resposta de Serra Formigal consistiu na apresen-
tação do comentário sobre La Traviata, presente no programa da Ópera
Nacional de Cuba. O programa cubano caracterizava a obra como um
“ininterrumpido curso de las bellas melodias que Verdi habia escrito, junto
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A Ópera do Trindade
13.
As novas condições que estruturavam o campo operático nacional são
essenciais para compreender a informação que Serra Formigal escre-
veu, em 27 de Janeiro de 1972, ao presidente da FNAT.158 O assunto fo-
cava o futuro da Companhia Portuguesa de Ópera. Salientando o papel
fundamental que a organização da FNAT desempenhou no fomento
do género lírico em Portugal, o director do Trindade começou por expor
a importância que o investimento público representava na institucio-
nalização de uma ópera sustentada, que facultava aos variados agentes
envolvidos condições para desenvolver a sua actividade sem percalços
financeiros, à semelhança do que se fazia “na Alemanha, Áustria e Es-
tados da Cortina de Ferro”159. Ao contrário, em Itália, a pátria da ópera,
o género decaía às mãos de “direcções políticas” e “explorações comer-
ciais incompetentes”160.
O trabalho desenvolvido no Trindade, objectivado no número dos
seus espectáculos, pela adesão permanente do público, pela participação
e formação dos artistas, permitia que Formigal encarasse o futuro da
companhia de forma diferente. As relações institucionais entre o Trin-
dade e o São Carlos possibilitavam uma transformação no desenvolvi-
mento da ópera em Portugal:
158. Informação de José Serra Formigal ao presidente da FNAT sobre a Companhia Portuguesa de Ópera, Arquivo Serra Formigal.
159. Ibidem, p. 1.
160. Ibidem, p. 1.
161. Ibidem, pp. 2-3.
176
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a) A FNAT só produziu a obra hoje existente no sector, por o S. Carlos não a ter feito
nem estar, ao tempo, interessado em fazê-la pois que sempre pensou que o Teatro Na-
cional de Ópera era e é a instituição própria e o quadro natural para tal actividade se
desenvolver e expandir. Deve notar-se, porém, que a única forma de o público traba-
lhador ter podido assistir, nomeadamente na província, a espectáculos de ópera com
preços muito acessíveis, consistiu na organização da Companhia Portuguesa de Ópe-
ra. b) Desde que a Companhia Portuguesa atingiu grau suficiente de desenvolvimento
e o Teatro Nacional de S. Carlos a julga digna de ser recebida no quadro normal das
suas actividades, o nosso parecer é de que tal será a melhor solução para os artistas lí-
ricos nacionais, por os situar na instituição que, na verdade, lhes pertence, com me-
lhores possibilidades de promoção profissional e imunes de futuras discussões sobre
o seu justo enquadramento orgânico. Tal solução, para a FNAT, constitui, aliás, o me-
lhor galardão para o seu labor de 10 anos neste sector. c) Parece-me, outrossim, im-
portante a posição actual da Direcção do Teatro Nacional de S. Carlos, orientada no
sentido de a Companhia Portuguesa realizar não apenas espectáculos «especiais»
que, quase sempre, não podem dar a verdadeira medida das possibilidades dos canto-
res, mas também e normalmente, “óperas de repertório” embora em temporadas po-
pulares, além das habitualmente realizadas por companhias estrangeiras. d) Tal
procedimento produzirá a almejada e necessária democratização do Teatro como
acontece na generalidade dos teatros da Alemanha, Áustria, França e cortina de ferro.
E a prova em grandes salas está feita quanto à Companhia Portuguesa, nas sucessivas
temporadas no Coliseu do Porto e récitas dadas no congénere de Lisboa: casas sem-
pre cheias e êxito total. O que é preciso é que as récitas sejam cuidadosamente prepa-
radas, o que certamente ainda melhor se conseguirá no Teatro de S. Carlos e que os
preços sejam baratos; o erro consistiria em cobrar o mesmo preço para se ouvir uma
companhia de celebridades internacionais e a Companhia Portuguesa. É uma questão de
senso e realismo. Dado o exposto e após ter ouvido o parecer da Direcção da FNAT que
foi favorável, julga-se que, se o Teatro Nacional de São Carlos obtiver a concordância
superior para dar sequência ao seu plano de incorporação da Companhia Portuguesa
177
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A Ópera do Trindade
14.
Aquela que parecia ser a última temporada da Companhia Portuguesa
de Ópera no Trindade começou, ambiciosamente, com A Flauta Mágica,
de Mozart. Ruy Coelho163, não reflectindo nas suas apreciações jorna-
lísticas os problemas que tinha com a direcção do Trindade, rejubilou
com a tradução da ópera alemã para o português, afirmando que era
essencial que a obra lírica fosse entendida pelo público. José Atalaya
afinou pelo mesmo diapasão. As presenças no camarote de Américo
Thomaz e do ministro das Corporações e Previdência Social, Baltazar
Rebelo de Sousa, reforçavam, segundo este maestro, a demanda de uma
arte nacionalista, para a qual era essencial “a difusão da cultura operáti-
ca nas camadas populares através de sucessivas edições, na nossa lín-
gua, das obras-primas do teatro lírico.”164 Atalaya aproveitou a ocasião
para afirmar que se assistiu, naquela noite, a “um bom espectáculo – e
178
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165. Ibidem, p. 8.
166. Ibidem, p. 8.
167. Edmundo Oliveira, Vida Mundial, n.o 1722, 9/6/1972, p. 52.
168. José Atalaya, O Século, 17/6/1972, p. 4.
169. Edmundo Oliveira, Vida Mundial, n.o 1728, 21/7/1972, p. 49.
170. Ibidem, p. 49.
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15.
Em Julho de 1972, a direcção da FNAT redigiu um extenso documen-
to que diagnosticava os problemas da organização e apresentava algu-
mas soluções que deveriam ser postas em prática entre 1974 e 1979,
período do quarto Plano de Fomento governamental.
Na rubrica respeitante ao Teatro da Trindade e às suas várias activida-
des, o autor, provavelmente Serra Formigal, acentuou que o objectivo da
FNAT de “programar espectáculos de carácter elevado”, presente desde
a aquisição do Teatro da Trindade em 1962, se mantinha incólume.175 Do
conjunto da programação do Trindade resultara uma grande conquista: a
Companhia Portuguesa de Ópera. Batendo-se com bastantes dificulda-
des, a iniciativa do Trindade prosperara com o tempo, constituindo-se,
na altura, uma realidade inquestionável da ópera em Portugal. O carác-
ter prospectivo do documento indicava que a hipótese de dissolução da
Companhia Portuguesa de Ópera do Trindade, decorrente da sua trans-
ferência para o São Carlos, já não se colocava. O texto destacou, além das
récitas no Trindade, a importante actuação na província, 47 récitas, traba-
174. Ibidem, p. 5.
175. Documento da direcção da FNAT que traça um diagnóstico geral das actividades da Fundação, 1972, Arquivo Serra For-
migal, p. 36.
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lho pioneiro, que o São Carlos não pudera fazer, dados os enormes encar-
gos financeiros que as companhias estrangeiras acarretavam; “julgamos
ser esta a principal e única razão”, afirmou o autor com alguma ironia.176
Algumas lacunas continuariam a marcar a iniciativa. O documento
aponta duas essenciais: a profissionalização do artista do teatro lírico
e as colaborações orquestrais. A primeira, apesar de estar em vias de re-
solução, obrigava a um desfecho pronto. A contribuição orquestral esta-
va, à época, em vias de se extinguir. A formação da Orquestra Filarmónica
Municipal de Lisboa “roubou” os instrumentistas de arco à Orquestra da
Emissora Nacional. O facto impedia esta de se desdobrar, como até à data
sucedia, numa orquestra de ópera, e participar nos espectáculos do Trin-
dade. Quanto à profissionalização dos artistas de ópera, foram referidos o
aumento das remunerações e a inscrição dos artistas na Caixa de Previ-
dência dos Espectáculos como duas primeiras medidas importantes.
No entanto, era impossível o Trindade encetar o processo ideal, que se-
ria o modelo seguido na “Alemanha, França e Países da Cortina de Fer-
ro”, ou seja, a contratualização anual ou bianual dos artistas, recebendo
estes um vencimento mensal que lhes asseguraria a desejada estabilida-
de. Por manifesta insuficiência financeira do Trindade, tal procedimento
seria executado, como havia sido várias vezes sugerido, em colaboração
com o São Carlos.
Revelaram-se, nesse momento, as razões que obviaram o prossegui-
mento das intenções de Formigal em transportar para São Carlos a
sua companhia de ópera:
João de Freitas Branco concluíra que a solução ideal consistia “na for-
mação de uma Companhia Residente com os melhores elementos por-
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16.
Depois de aturadas negociações, foi acordada a colaboração da Or-
questra Filarmónica de Lisboa para a totalidade da temporada. Os eixos
desta colaboração foram firmados numa carta de Serra Formigal182 à
direcção da FNAT, enunciando o acordo entre a Câmara Municipal de
Lisboa, o Teatro de São Luís, e o director da orquestra, o maestro Ivo
Cruz. A organização de um núcleo de ópera inserido na Filarmónica
de Lisboa implicava a contratação de dez músicos de arco, estrangeiros,
e de alguns de sopro, exteriores à Filarmónica. O Trindade pagaria a
importância habitual de 500.000$00, e a Câmara Municipal de Lisboa
suportaria o contrato dos músicos externos à orquestra, num valor es-
timado em 500.000$00. No momento da redacção da carta, o acordo
não tinha ainda existência formal, embora tudo estivesse acertado.
A temporada de 1973 contou com seis obras.183 Na introdução ao pro-
grama dos espectáculos, Serra Formigal denunciava a situação pericli-
tante da ópera do Trindade. A FNAT não tinha competências para dar o
passo essencial, a institucionalização de uma Companhia Portuguesa de
Ópera: “A profissionalização integral e o ensino adequado e completo do
artista lírico são funções do teatro nacional de ópera e das escolas ofi-
ciais de música.”184 O director do Trindade aproveitou para confrontar
João de Freitas Branco com as suas declarações públicas, “escritas e tele-
visionadas”, em que afirmara as suas intenções de reformar o meio ope-
rático nacional, criando uma Companhia Portuguesa de Ópera.
182. Carta de Serra Formigal à direcção da FNAT, intitulada: “Apontamentos sobre as conversações relativas à colaboração da
Orquestra Sinfónica na temporada de ópera popular da FNAT no Teatro da Trindade”, Arquivo do Teatro da Trindade, (sem data),
pasta 1973.
183. Em carta encontrada nos arquivos do Teatro da Trindade, dirigida aos detentores dos direitos da ópera de Modeste Mus-
sorgsky, Boris Godunov, ficava expressa a vontade do director do Trindade de apresentar uma tradução portuguesa desta obra rus-
sa na temporada de 1973. Contudo, o processo nunca se veio a desenvolver. Carta de José Serra Formigal a W. Bessel & Cie.,
23/6/1972, Arquivo do Teatro da Trindade.
184. José Serra Formigal, Programa da Temporada de Ópera da FNAT, 1973, p. 6.
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Ruy Coelho viu a sua ópera em um acto, Rosas de Todo o Ano, ser re-
presentada juntamente com o clássico de Mascagni, Cavalleria Rusti-
cana. Inês de Castro ficou de fora da programação. Massenet ocupou um
terço das representações: Werther, em repetição, e a estreia de Dom Qui-
xote. A Viúva Alegre tentava repetir o sucesso de público conquistado na
época transacta. Acrescentou-se a este conjunto A Sonâmbula, de Bel-
lini, e o espectáculo de estreia, O Matrimónio Secreto, de Domenico Ci-
marrosa. Álvaro Cassuto dirigiu a ópera, que fora estreada em Viena,
em 1792. Ruy Coelho e João Paes, por razões diferentes, consideraram
a escolha acertadíssima. Coelho aludiu à “prudência e sentido práti-
co”185 que o Trindade tem demonstrado na escolha dos reportórios:
“não se tem corrido o risco, tantas vezes inútil, de dar ao público óperas
que sejam charadas ou meras palavras cruzadas.”186 Para o composi-
tor, a obra da FNAT “implanta-se naquele princípio educativo de Gar-
rett, quando disse que a verdadeira educação é a que é eminentemente
nacional.”187 João Paes concordava com a representação da obra de Ci-
marrosa porque era adequada a um Trindade que desistira das ousadias:
“Operazinha notável (…) que pode vir a conquistar mais gente do que
as versões deficientes de obras consagradas, que não se acomodam fa-
cilmente de soluções de compromisso.”188
A representação do Werther, de Massenet, obra que, afirmou o arti-
culista do Diário de Notícias, “contém todos aqueles elementos de ex-
pressividade, de intensidade dramática, de romantismo exacerbado em
que música e drama se casam tão intimamente e se projectam na cena
com a força imanente das coisas irreprimíveis e chegam ao espectador
com todo o seu domínio e convencimento”189, causou forte efeito no
público do Trindade: “O público bem sentiu aquele tão aliciante e su-
gestivo clima de natureza romântica em que a obra vibra, se desenvolve
e afirma, e aquela tonalidade permeável ao sonho e à realidade, ao amor
e ao sofrimento, à vida e à morte que dela se desprende: este um dos
méritos do drama lírico.”190
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A direcção (…) do teatro incluiu assim uma ópera portuguesa, em português, na sua
temporada deste ano, e uma ópera actual, porque quando se eliminam as óperas do
nosso tempo, isso certamente criará o equívoco, o que levará a erradamente se con-
cluir que, em Portugal, nada se criou de novo, tendo-nos que limitar às óperas do
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passado. Neste caso não verdadeiro, o que deixaríamos como herança espiritual ao
futuro, seria coisa nenhuma.194
17.
A situação da ópera em Portugal foi, em Outubro de 1973, alvo de uma
posição política crítica sobre a sua evolução recente. O denominado
Grupo Sócioprofissional de Músicos do Movimento CDE de Lisboa,
Comissão Democrática Eleitoral do Movimento Democrático Portu-
guês, próxima do Partido Comunista Português na clandestinidade,
publicou um opúsculo intitulado Pela Música em Portugal.197 Conside-
rado pelos seus redactores como um documento inédito no meio ar-
tístico português, este pequeno texto procurava unificar a posição dos
músicos perante as transformações que a massificação da arte em
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198. Entre as propostas adiantadas para a alteração do panorama da música em Portugal constavam: a intenção de intervir em todos os
graus de ensino, no sentido de considerar a música como parte de uma formação geral; uma democratização da vida musical, com um
mais justo acesso à carreira musical e a descentralização social e geográfica das actividades musicais; colocação dos media ao serviço da
música; desenvolver o movimento associativo e recreativo popular e expandir o movimento coral. Para melhorar a situação do músico
profissional em Portugal, “um músico de corte numa sociedade burguesa-fascista”, propunha-se uma imediata correcção salarial, me-
lhorias das condições de trabalho, a formação de orquestras autogeridas e autónomas, abolição dos regimes de exclusividade e elabora-
ção de um contrato colectivo de trabalho. Grupo Sócio-Profissional de Músicos do Movimento CDE de Lisboa, Outubro de 1973.
199. Ibidem, p. 12.
200. Ibidem, p. 12.
201. Ibidem, pp. 12-13.
188
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18.
Ainda antes do final de 1973, Serra Formigal redigiu uma informa-
ção acerca da profissionalização de um núcleo da Companhia Portu-
guesa de Ópera da FNAT.202 No documento estão traçados os critérios
que presidiram à selecção do conjunto de cantores a ser profissionali-
zado. A informação de Serra Formigal contém, como antecâmara do
assunto fundamental, uma introdução histórica que faz recuar o leitor
180 anos, ao momento da inauguração do Teatro Nacional de São Carlos.
Ao fim de todo este tempo, e onze anos depois da Companhia Portu-
guesa de Ópera da FNAT actuar, consecutivamente, no Teatro da Trin-
dade, foram criadas as condições para uma profissionalização gradual
do artista lírico português:
Com efeito desde os fins do século xviii, pode ver-se na História do Teatro Nacional
de S. Carlos de Fonseca Benevides que, se foram, em número considerável os artistas
portugueses que cantaram no Teatro Nacional de S. Carlos, fazem-no quase sempre
como comprimários, ou então, os muito poucos que desempenharam 1.os papéis, já
tinham geralmente conquistado celebridade no estrangeiro. Depois da reabertura do
Teatro, em 1940, e à parte as óperas portuguesas, sobretudo de Ruy Coelho, interpre-
tadas pelos nossos artistas, o mesmo panorama se depara com poucas variantes.203
202. Informação de Serra Formigal acerca da Profissionalização de um Núcleo da Companhia Portuguesa de Ópera da FNAT, 19/12/1973,
Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1974.
203. Ibidem, p. 1.
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204. Ibidem, p. 3.
205. Ibidem.
206. Ibidem, p. 4.
207. Ibidem.
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208. Ibidem, p. 7.
209. Ibidem, p. 9.
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210. Entrevista de Luís Filipe Pires a Fernando Serafim, Autores, Março/Abril de 1974, n.o 73, pp. 16-17.
211. Ibidem, p. 16.
212. Ibidem, p. 17.
192
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19.
O orçamento213 do Teatro da Trindade relativo ao ano anterior revelara
as mesmas situações de dependência. A expectativa para o volume de
rendimentos próprios era de 350.000$00, o que, num total de receita
prevista de 6.150.000$00 representava 5,69 por cento. A contribuição
da FNAT atingia os 4.500.000$00, aumentando 800.000$00 num
ano, e as restantes receitas dividiam-se pelos 600.000$00 da JAS, os
200.000$00 da Gulbenkian, e os 150.000$00 do Ministério da Educa-
ção. Acrescente-se a estes números 350.000$00 da previsão de receitas
213. Orçamento Ordinário da Receita e Despesa para o ano de 1973, Arquivo do Teatro da Trindade.
193
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20.
A revolução de Abril de 1974 implicou mudanças imediatas na direc-
ção da FNAT. Foi nomeada uma comissão administrativa liderada por
Rogério Paulo, conhecido actor de teatro. A organização da temporada de
1974 estava já há muito programada. O secretário do Teatro, Francisco
de Oliveira Santos, escreveu ao director, informando-o das sucessivas
214. Documento que justifica e descreve as Contas do Teatro da Trindade em 1973, Arquivo do Teatro da Trindade.
194
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Entretanto a presente temporada terá de seguir o seu curso – com ou sem interesse
cultural em prosseguir no rame-rame de um pequeno repertório de êxito assegurado,
em que o público perdoa as insuficiências de qualidade, num palco de poucas con-
dições, sob uma orientação que deixa a desejar; e, por último, até se desistiu de
apresentar uma partitura portuguesa.217
215. Carta de Francisco Oliveira Santos ao director do Teatro acerca das folhas de serviço diárias, no que concerne ao período entre
1 e 31 de Maio, 13/6/1974, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta Correspondência.
216. Ruy Coelho, Diário de Notícias, 31/5/1974, p. 5.
217. Francine Benoit, Expresso, 8/6/1974.
218. Ruy Coelho, Diário de Notícias, 4/7/1974, p. 5.
195
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21.
O futuro da Companhia Portuguesa de Ópera dependia da natureza
dos objectivos do novo regime e da forma como a transição da política
se reflectiria na FNAT. A função social dos espectáculos, como instru-
219. O período revolucionário é um óptimo objecto de estudo comparativo da evolução das representações, para uma
confrontação estabelecida com a época anterior (como para todo o período posterior até à actualidade).
220. Francine Benoit, Expresso, 17/8/1974.
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22.
Já em 1975, não sabemos em que data, Rogério Paulo escreveu à direc-
ção do Teatro Nacional de São Carlos a seguinte carta:
197
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23.
Ao Trindade chegavam, entretanto, propostas que reflectiam a nova si-
tuação política e cultural. Ainda em 1974, no dia 20 de Novembro, Ro-
gério Paulo autorizou o aluguer do Trindade para a comemoração dos
30 anos da Associação de Amizade Portugal-Albânia222; em Fevereiro
de 1975, foram Luiz Vilas-Boas e Duarte Mendonça que pediram in-
formações quanto à possibilidade do Trindade receber o Cascais Jazz223;
em Junho, foi o Partido Revolucionário do Proletariado – Brigadas
Revolucionárias – que pediu a cedência do espaço para efectuar o seu
congresso.224
221. Carta de Rogério Paulo à direcção do Teatro Nacional de São Carlos, 1975, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1975.
222. Carta da Associação de Amizade Portugal Albânia à Comissão Administrativa da FNAT, 20/11/1974, Arquivo do Teatro da
Trindade, pasta 1975.
223. Carta dos promotores do Cascais Jazz à Comissão Administrativa da FNAT, 18/2/1975, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1975.
224. Carta do Partido Revolucionário do Proletariado – Brigadas Revolucionárias ao INATEL, 9/6/1975, Arquivo do Teatro da
Trindade, pasta 1975. Pedido recusado, sob o pretexto de que “o INATEL não cede a sua sala de espectáculos a partidos políticos,
visto a mesma se destinar somente a iniciativas de âmbito cultural.” Carta do INATEL ao Partido Revolucionário do Proletariado
– Brigadas Revolucionárias, 17/6/1975, Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1975.
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225. Carta da Comissão Gestora da Companhia Portuguesa de Ópera do INATEL à Comissão Administrativa do INATEL, 22/4/1975,
Arquivo do Teatro da Trindade, pasta 1975.
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tanto para uma captação pedagógica como para um efeito ideológico ba-
seado na satisfação, assentou, precisamente, o êxito considerável da
ópera da FNAT.”
Entre as várias questões a exigirem reflexão que a riqueza deste tra-
balho suscita, parece-me irrecusável a seguinte: partindo do princípio
de que é socialmente importante a democratização da ópera, de forma
a constituir um serviço cultural regular ao dispor da generalidade da po-
pulação, e tendo em atenção as condições concretas do país que somos
e temos, quais os meios e processos a implementar para, de uma for-
ma adequada e realista, se atingir esta finalidade?
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Fontes
Arquivos
Arquivo do Teatro da Trindade
> Pastas relativas aos anos de actividade da Companhia Portuguesa de Ópera (1963-1975).
Arquivo do INATEL
> Livros de Actas da Comissão Administrativa/Direcção da FNAT (1958-1975).
> Relatórios e Contas da Direcção da FNAT (1958-1975).
Arquivo do Ministério do Trabalho e da Solidariedade
> Pastas 313, 314, 315.
Arquivo do Museu do Teatro
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Legislação
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Decreto-Lei n.o 37 836 de 24 de Maio de 1950 (estatutos da FNAT).
Decreto-Lei n.o 43.777 de 3 de Julho de 1961 (referente às apostas mútuas).
Decreto-Lei n.o 44 734 de 27 de Novembro de1962 (criação do lugar de novo vice-presidente
da FNAT).
Decreto-Lei n.o 46 649 de 17 de Novembro de 1965 (criação do lugar de novo vice-presidente
da FNAT).
Publicações Oficiais
Diário da Assembleia Nacional
Diário da República
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A Ópera no Trindade
Acervos Privados
José Manuel Serra Formigal
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Índice Remissivo
A C
Academia de Amadores de Música, ........134 Cabral, Fernando, ............................126, 136
Acordo Monetário Europeu, .....................65 Câmara Municipal de Lisboa, ..183, 184, 194
Alcaide, Tomás, ..................................87, 98, Campos, Raul, ...........................................95
122, 123, 126, 128, 129, 130, 138, 139, 143, 153 Cândido, António, ....................................60
Alemanha nacional-socialista, ...................... Cardoso, José Pires, ...................................63
................................13, 43, 44, 45, 46, 47, 50 Carvalho, Mário Vieira de, ................91, 92,
Almeida, Maria Teresa de, .........24, 98, 102 105, 124, 161, 162, 169, 171, 173, 174, 175, 187
Amaral, Bento Parreira do, .........67, 80, 94 Casais, Hugo, .................................................
Angola, viagem a, ....................147, 148, 149 ...............24, 98, 102, 118, 132, 142, 191, 202
Araújo, Maria Manuela, ..........................102 Casas do Povo, ..........53, 59, 60, 64, 65, 69
Argerich, Martha, ....................................158 Casas dos Pescadores, ........................65, 69
arte nacionalista, ................91, 105, 146, 178 Casavola, Franco, ..............................161, 174
Ary dos Santos, José Carlos, ...................139 Cassou, Jean-Louis, ..................163, 164, 171
Atalaya, José, .....................135, 178, 179, 187 Cassuto, Álvaro, ...........................24, 25, 185
Castro, Maria Cristina de, .......................102
B Centro de Alegria no Trabalho, ....................
bailado, .........................................82, 83, 84, ....................................24, 62, 64, 69, 70, 71
88, 89, 93, 103, 118, 125, 136, 168, 169, 171 Centro de Avviamento do Teatro Massimo
Banco Mundial, ........................................66 de Palermo, ...............................................153
Baptista, Luís V., ........................................34 Centro de Estudos Corporativos da União
Barbieri, Teresa, ......................................164 Nacional, .....................................................51
Barbosa, Vasco, ........................................102 Centro de Preparação e Aperfeiçoamento de
Barcelona, viagem a, ..................82, 144, 173 Artistas Líricos, ........................................128
Barreiros, Nuno, ................153, 155, 160, 171 Centro de Recreio Popular, ....24, 64, 69, 70
Bayan, Elisete, ..........................150, 179, 191 Centro Português de Bailado, .................136
Bechi, Gino, ....142, 143, 149, 153, 159, 161, 186 Chailly, Luciano, .......................................158
bel canto, ...........................123, 138, 141, 146 Cimarrosa, Domenico, ............................185
Bellini, Vincenzo, ......141, 146, 153, 185, 186 cinema, ...................................20, 21, 48, 52,
Benamor, Álvaro, ..............126, 135, 143, 159 77, 80, 81, 82, 83, 88, 89, 120, 122, 125, 196
Benoit, Francine, ........................................... Cinemas
.....134, 136, 137, 143, 147, 149, 150, 195, 196 > Chiado Terrasse, .....................................19
Berg, Alban, ........................22, 158, 174, 187 > Olimpia, ..................................................24
Bizet, Georges, .................................163, 174 > Roma, ......................................................24
Boletim da FNAT Alegria no Trabalho, ....... > São Luiz, ..................................18, 183, 184
...........................................47, 56, 60, 61, 64 Claudio Abbado, .......................................158
Boletim Lírico Internacional, .................174 Cláudio, Helena, ......................................191
Botelho, Afonso, ................................113, 115 Cochofel, João José, ..................118, 126, 127
Boudon, Raymond, ....................................34 Coelho, Ruy, ..........16, 22, 86, 91, 104, 105,
Bourdieu, Pierre, ............112, 15, 30, 41, 124 106, 107, 108, 109, 110, 133, 135, 136, 141, 145,
Branco, João de Freitas, ................................ 146, 147, 154, 155, 156, 160, 161, 167, 171, 172,
...............22, 23, 84, 91, 102, 121, 128, 134, 135, 173, 178, 180, 181, 185, 186, 187, 189, 195, 203
139, 140, 143, 149, 155, 156, 157, 158, 161, 167, Coliseu do Porto, ......................................177
168, 169, 176, 178, 182, 183, 184, 186, 187, 192 Coliseu dos Recreios, ...................21, 85, 90,
Branco, Luiz de Freitas, ....................91, 105 99, 101, 109, 117, 148, 158, 162, 167, 178, 203
Branco, Pedro de Freitas, ..........................82 Como, Franca, .........................................149
Brecht, Bertolt, ...................114, 117, 145, 174 Companhia Portuguesa de Bailado, ........84
Britten, Benjamin, ....................22, 169, 187 Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, ...
Bruner, Luís, ............................................191 ...................................................................194
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A Ópera do Trindade
concertos musicais, ......................21, 82, 83, Festival Gulbenkian de Música, 23, 158, 167
84, 88, 89, 90, 102, 103, 136, 159, 169, 194 Figueiredo, José de, ...........................91, 167
Conselho Consultivo do Teatro da Trindade, Filho, Jaime Silva, ....................126, 135, 146
16, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 203 Fonseca, Carlos, .......................................191
Conservatório Nacional, ................................. França, Luís, ..............................24, 191, 202
...........................127, 136, 167, 168, 169, 192 Freitas, Eduardo de, ...................................34
controlo social/regulação social, .......13, 29, Freitas, Frederico de, ................135, 136, 144
45, 60, 73, 77, 79, 90, 118, 197, 199, 203, 205 Freitas, Maria Helena de, .........................153
Coro da Gulbenkian, ................................118 Fundação Calouste Gulbenkian, ..................
Coro do São Carlos, .............93, 95, 127, 151, .................................................16, 22, 24, 83,
152, 153, 168, 169, 171, 183, 188, 190, 194, 199 84, 86, 89, 118, 121, 144, 153, 159, 163, 193, 194
Costa, João Victor, ....................................191 Fundo Monetário Internacional, .............66
Costa, Jorge Felner da, .....56, 57, 60, 61, 62 Furiga, Alfredo, .........................................95
Crehan, Kate, .............................................29 futebol, ................................17, 18, 39, 61, 85
Cruz, Ivo, ..........................126, 136, 159, 184
cultura popular, ................10, 21, 48, 53, 54, G
55, 58, 59, 60, 64, 79, 82, 92, 93, 94, 98, 100, Gabinete de Estudos Corporativos, ..........63
102, 103, 104, 175, 179, 181, 201, 202, 203, 205 GATT-Acordo Geral sobre Tarifas e
Cunha, Francisco José de Lima de Brito e, .. Comércio, ..................................................66
...................................................................199 Geertz, Clifford, ..........................................9
Gershwin, George, ..................................169
D Giani, Mário, ..............................................45
d’Ávila, Humberto, ....................121, 150, 151 Giddens, Anthony, ..............................39, 41
Dallapiccola, Luigi, ..................................174 Gil, Vasco, .................................................191
Dall’Argine, Simona, ................................141 Giordano, Umberto, .................................137
Debussy, Claude, ......................124, 139, 155 Gluck, Christoph Willibald, 22, 170, 171, 172
Delgado, General Humberto, ...................67 Gounod, Charles, .....145, 147, 163, 164, 174
Delibes, Léo, ............................................179 Grácio, Sérgio, ...........................................34
Deniau, Robert, ........................................174 Gramsci, Antonio, ........................29, 42, 43
desproletarização, ...89, 90, 97, 131, 201, 203 Grazia, Victoria, .....................46, 47, 48, 49
Dias, Ferreira, .............................................55 Grupo de Música Contemporânea de
Donizetti, Gaetano, ....................................... Lisboa, .......................................................187
............................141, 145, 146, 148, 149, 174 Grupo Experimental de Ópera de Câmara,
Dukas, Paul, ...............................................22 ..........16, 22, 24, 118, 119, 121, 127, 136, 205
Grupo Sócioprofissional dos Músicos do
E Movimento CDE, ....................187, 188, 196
EFTA-Associação Europeia de Comércio Guedes, Armando Marques, .....................55
Livre, ....................................................65, 66 Guerreiro, Armando, ........................24, 191
Elias, Norbert, ....................36, 37, 38, 39, 41
Emissora Nacional, ........................................ H
.......................18, 19, 62, 63, 81, 87, 113, 199 Haendel, Georg Friedrich, ......................158
encenação, ......................81, 91, 11, 114, 120, Hetcher, Michael, .......................................15
121, 122, 123, 125, 126, 135, 137, 138, 140, 141, Hicks, Alexander, ................................42, 57
143, 149, 153, 156, 157, 159, 161, 164, 186, 187 Hindemith, Paul, .............................158, 199
Eisenstadt, S.N., ...................................49-57 Hitler, Adolf, ..............................................45
Estatuto do Trabalho Nacional, ................44 ideologia, ............................................10, 113,
estranhamento, ................................124, 125 14, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 34, 35, 36, 48, 50, 55,
60, 64, 67, 78, 80, 110, 174, 175, 177, 203, 205
F
Falla, Manuel de, ......................................158 I
Federação das Colectividades de Cultura e INATEL-Instituto Nacional para
Recreio, ................................................55, 121 Aproveitamento dos Tempos Livres dos
Fernandes, António Júlio de Castro, .........51 Trabalhadores, ...............................................
Ferreira, Jaime, ...........................................51 .................18, 26, 54, 69, 197, 198, 199, 205
Ferro, António, ............................91, 94, 105 Instituto de Alta Cultura, ...24, 153, 159, 163
Festival das Artes, ....................................147 Itália fascista, ....13, 43, 44, 45, 46, 48, 49, 50
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Índice Remissivo
J 102, 104, 105, 106, 107, 108, 11, 136, 151, 152,
Junta Central das Casas do Povo, .............59 162, 166, 177, 184, 188, 192, 193, 194, 197, 205
Junta de Acção Social (JAS), .......................... modernização, ...............................................
........36, 67, 77, 80, 81, 83, 113, 159, 163, 193 .......10, 29, 35, 36, 45, 52, 54, 57, 62, 66, 78
Juventude Musical Portuguesa, .......121, 136 Monteiro, Armindo, ...................................33
Moore Jr, Barrington, ................................45
K Moreira, António Leal, .............................135
Keil, Alfredo, .............20, 98, 106, 144, 160 Mozart, Wolfgang Amadeus, ........................
Keynes, John Maynard, .............................44 .............22, 134, 154, 155, 160, 169, 178, 196
Kiser, Edgar, ...............................................15 Mussolini, Benito, .................26, 45, 46, 49
Kjölner, Guilherme, ..........................98, 191 Mussorgsky, Modeste, .............................184
Kraft durch Freude, ..........26, 46, 47, 51, 53
N
L Neves, José, ................................................47
Lagoa, Ana, ........................98, 102, 158, 191 Nunes, Adérito Sedas, ...............................34
lazer, ........................................28, 32, 34, 37,
38, 39, 43, 44, 45, 46, 48, 49, 55, 56, 58, 59, 89 O
Leal, António Silva, ..................................135 OECE-Organização de Cooperação
Léhar, Franz, .....................................20, 180 Económica Europeia, ................................65
Leitão, Manuel, ..................................24, 191 Oliveira, Edmundo, ..170, 171, 172, 179, 180
Leoncavallo, Nicolo, ..................137, 143, 145 Ópera Nacional de Cuba, ........................174
Linz, Juan, ............................................29, 35 Opera Nazionale Dopolavoro, ......................
Lopes, José Silva, .......................................65 ...........................................26, 45, 46, 47, 49
Lopes-Graça, Fernando, ................................ Óperas
......................105, 124, 134, 137, 147, 175, 187 > Adina, ....................................................161
Lucena, Manuel de, 28, 44, 51, 59 > Alcina, ....................................................158
> Amélia al Ballo, .....................161, 174, 195
M > Amigo Fritz, O, .....................................137
Machado, David, ...............................154, 187 > Andrea Chénier, ....................................172
Machado, Fernanda, ...........................24, 98 > Arabella, ..................................................22
Machado, Júlio César, ...............................19 > Ariane, ....................................................22
Magnini, Sérgio, .......................................171 > Barbe-Bleue, ...........................................22
Mahler, Gustav, ........................................139 > Barbeiro de Sevilha, O, ..............................
Malaguerra, Isabel, ..................................164 .......20, 24, 108, 128, 134, 150, 157, 172, 202
Malta, Álvaro, ......24, 98, 102, 158, 186, 191 > Bodas de Fígaro, As, ..................................
Manique, Helena Pina, ...........................191 ..............................22, 154, 155, 159, 164, 195
Mann, Michael, ...................................30, 39 > Bohème, La, ...............................20, 22, 25,
Martins, Celeste, ..............99, 100, 101, 102 108, 134, 137, 144, 150, 155, 157, 164, 172, 199
Martins, Hermínio, ...................................58 > Boris Godunov, .....................................184
Marx, Karl, .......14, 15, 37, 39, 40, 41, 42, 43 > Cambiale di Matrimonio, La, ......161, 199
Mascagni, Pietro, ......................137, 143, 185 > Carmen, ........................................163, 164
Mascarenhas, Domingos, ........................113 > Cavaleiro das Mãos Irresistíveis, ........106
Massenet, Jules Emile Frédéric, ................... > Cavalleria Rusticana, ..................................
..............22, 144, 149, 155, 161, 174, 185, 186 .....................143, 145, 153, 163, 164, 185, 186
Mealha, Quirino, .......17, 18, 64, 67, 75, 201 > Condessa Caprichosa, A, ...........................
Medeiros, Germana, ................................118 .............................................144, 145, 173, 174
Mello, Higino de Queiroz e, .........51, 63, 64 > Crisfal, ..................................................106
Melo, Daniel, ..............................................55 > D. Duardos e Flérida, ...........................187
Menano, Francisco, ..................................118 > D. João IV, .......................................91, 105
Menano, Manuela, ...................................118 > Dom Quixote, ...............................185, 186
Menotti, Gian Carlo, 22, 121, 161, 174, 195, 199 > Domanda di Matrimonio, La, ..............163
Messiaen, Olivier, ....................................158 > Don Pasquale, ......................................149
Milhaud, Darius, ......................................187 > Elixir do Amor, O, .........128, 143, 145, 172
Ministério da Educação, 84, 91, 166, 193, 194 > Erwartung, ............................................187
Ministério das Corporações, ....................17, > Falstaff, ..................................................142
18, 19, 24, 35, 50, 51, 75, 77, 80, 82, 87, 91, 97, > Fausto, ...........................145, 147, 163, 164
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A Ópera do Trindade
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Índice Remissivo
S Teatro da Trindade
Salazar, António de Oliveira, .........27, 51, 61 > História, ................................19, 20, 21, 13
Salieri, António, .......................................142 > Programação, ..............................................
Santos, Joly Braga, .............25, 107, 121, 130, ...21, 73, 80, 82, 83, 85, 87, 88, 111, 181, 202
133, 134, 135, 136, 142, 150, 154, 155, 160, 161 > Público, .......................................................
São Carlos, ...........16, 21, 22, 24, 25, 82, 83, ....19, 82, 83, 85, 87, 88, 90, 94, 97, 99, 100,
84, 86, 87, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 101, 102, 103, 105, 108, 109, 110, 11, 112, 113,
99, 100, 101, 105, 108, 117, 122, 125, 126, 127, 114, 115, 116, 117, 125, 126, 127, 134, 137, 143,
141, 151, 152, 158, 165, 166, 167, 168, 169, 171, 145, 147, 155, 157, 162, 166, 167, 173, 175, 177,
173, 176, 177, 178, 181, 182, 183, 186, 187, 188, 178, 185, 188, 190, 193, 195, 196, 203, 205
189, 190, 192, 197, 198, 199, 203, 204, 205 Teatro Ginásio, ..........................................19
Saque, Elsa, ........................132, 153, 158, 191 Teatro Monumental, ...........................19, 24
Saque, Zuleika, ..........................148, 153, 181 Teixeira, António, ......................................81
Saraiva, José Hermano, ...........................167 Thomaz, Américo, ...........146, 153, 178, 186
Saviotti, Gino, ...........................................134 Tilly, Charles, .............................................39
Schmitter, Phillipe, ...................................28 Toscanini, Arturo, ....................................125
Schoenberg, Arnold, ........................145, 187 Trio de Lisboa, ..........................................103
Schubert, Franz, .......................20, 108, 129
Sckocpol, Theda, ......................33, 40, 41, 45 U
Secretariado da Propaganda Nacional União Europeia de Pagamentos, ..............58
(SPN), ...................................................21, 27
Secretariado Nacional da Informação (SNI), V
.........9, 16, 83, 92, 93, 94, 106, 113, 131, 136 Valente, José Carlos, ......................................
Serafim, Fernando, ..................102, 191, 192 ..............13, 26, 27, 28, 46, 47, 50, 53, 55, 78
serões para trabalhadores, 64, 81, 82, 88, 103 variedades, ......................21, 82, 88, 89, 103
Silva, António José da, .......................81, 187 Vaz, Helder, ...............................................24
Sindicato Nacional dos Bancários, .......50-51 Veloso, João, .............................................191
Sindicato Nacional dos Músicos, ...136, 190 Verde Gaio, bailados, .....21, 84, 93, 94, 203
sindicatos, .................................24, 45, 53, 57 Verdi, Giuseppe, ................................22, 98,
sociedade civil, ............................................... 122, 123, 137, 138, 139, 141, 145, 154, 174, 196,
...........30, 42, 45, 46, 47, 48, 50, 53, 57, 201 Viana, António Manuel Couto, ....................
Somers, Margaret R., .................................15 ........................................19, 113, 116, 117, 187
Soumagnas, Jean, ....................................147 Vieira, Tomé, .........................................47-55
Sousa, Baltazar Rebelo de, ......................178 Vitorino, Orlando, ..............................19, 113
Sousa, Filipe de, ............................................ Voyer, Giovani, ........................................199
......118, 119, 120, 121, 136, 137, 156, 173, 192
Stockhausen, Karl-Heinz, .........................23 W
Strauss, Richard, .......................................22 Wagner, ................32, 138, 139, 140, 141, 157
Stravinsky, ..................................22, 145, 187 Wallenstein, Carlos, .................................121
Wandschneider, Fernanda, .....................102
T Webern, Anton, ........................................158
Taveira, Afonso, ........................................20 Weil, Kurt, .................................114, 145, 174
teatro (como arte), ......................................... Wolf-Ferrari, Ermanno, ............132, 153, 174
20, 21, 49, 82, 83, 84, 88, 89, 93, 98, 111, 112,
113, 114, 116, 117, 119, 120, 121, 122, 123, 125, Z
126, 128, 137, 139, 159, 160, 162, 179, 187, 194 zarzuela, ............................................20, 190
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