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METROLOGIA-2003 – Metrologia para a Vida

Sociedade Brasileira de Metrologia (SBM)


Setembro 01−05, 2003, Recife, Pernambuco - BRASIL

CÁLCULO DA INCERTEZA DE MEDIÇÃO


NA CALIBRAÇÃO DE LUXIMETROS

José Gil Oliveira 1, Alfredo Heitor Lucato 2 , Ricardo Souza Brandão 3


1
Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, São Paulo, Brasil
2
Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, São Paulo, Brasil
3
Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, São Paulo, Brasil

Resumo: Os luxímetros são instrumentos utilizados para b) Somar a esse cálculo a estimativa da incerteza dos
medir a grandeza luminotécnica iluminância[2]. Devido as equipamentos e/ou instrumentos utilizados no ensaio,
exigências da norma NBR ISO/IEC 17025:2001 e da considerando a seguinte equação:
elevada demanda por calibração em luxímetros verificada
pelo grande número de solicitações feitas pelos clientes
 2
 B   A
2 
(U ) = 
tradicionais do IEE/USP, a Seção Técnica de Fotometria
resolveu iniciar um estudo visando a implementação do   +   ×k
  3 2 
cálculo de incerteza de medição na calibração de luxímetros.  
Atualmente, existe apenas um único laboratório de Óptica
(INMETRO) no Brasil, que está credenciado junto a Rede Onde:
Brasileira de Calibração (R.B.C.) para atender a demanda U= incerteza expandida associada aos equipamentos e/ou
por este tipo de serviço. Espera-se, com a conclusão deste instrumentos usados no ensaio.
estudo, que o IEE/USP possa ser credenciado junto ao
INMETRO para atender seus clientes na prestação de A[] = incerteza de medição decorrente de análises
1
serviço de calibração em luxímetros, dentro da R.B.C. estatísticas de uma série de observações (avaliação do Tipo
A da incerteza padrão).
Palavras chave: calibração, luxímetros, iluminação.
B= incerteza de medição com base em algum conhecimento
1. INTRODUÇÃO científico (avaliação do Tipo B da incerteza padrão).
Os luxímetros são instrumentos utilizados para medir a k = 2 (fator de confiabilidade).
grandeza luminotécnica iluminância[2]. Devido as
exigências da norma NBR ISO/IEC 17025:2001 e da Nota[1] : Para o cálculo da incerteza padrão de estimativa de
elevada demanda por calibração em luxímetros verificada saída (y), utiliza-se a seguinte expressão:
pelo grande número de solicitações feitas pelos clientes
tradicionais do IEE/USP, a Seção Técnica de Fotometria
(S.T.F.) resolveu iniciar um estudo visando a
implementação do cálculo de incerteza de medição na n
µ 2 (y ) = ∑ µi (y )
2
calibração de luxímetros. A partir da evolução e conclusão
deste estudo, a S.T.F. vai solicitar credenciamento para esse i =1
serviço de calibração junto a R.B.C./INMETRO.
c) Expressar em termos matemáticos a dependência do
2. METODOLOGIA [1] mensurando (grandeza de saída) Y com as grandezas de
entrada Xi, conforme a equação [7]:
A metodologia seguiu o roteiro relacionado abaixo:
Y = f (X 1 , X 2 ,..., X n )
a) Calcular, em geral, o valor médio ( x ) e o desvio padrão
(s) sobre 3 medidas consecutivas por grandeza envolvida.
Associa-se um fator de abrangência padronizado k = 2 nos No caso de uma comparação direta de dois padrões a
casos em que uma distribuição normal (Gaussiana) possa ser equação pode ser muito simples, por exemplo,
atribuída ao mensurando e a incerteza padrão associada à Y = X1 + X 2
estimativa de saída tenha suficiente confiabilidade.
d) Identificar e aplicar todas as correções significativas;
x = ∑n
xi
e) Relacionar todas as fontes de incerteza na forma de uma
análise de incertezas [7];
∑ (xi − x )
2

s=
(n − 1)
Para o equacionamento da Intensidade Luminosa
f) Calcular a incerteza padrão u (q ) para grandezas assumiremos algumas hipóteses, listadas e justificadas
medidas repetidamente [7]; abaixo:

g) No caso de valores individuais, por exemplo, valores • Consideraremos I (cd ) = f (V ) : pois a variação
resultantes de medições prévias, valores de correção ou da tensão é um dos fatores de maior influência na
valores da literatura, adotar a incerteza padrão onde ela intensidade luminosa.
for fornecida ou possa ser calculada [7]. Prestar
• A fonte de luz é puntual: Para as distâncias de
atenção à forma utilizada na apresentação da incerteza.
trabalho no Banco Fotométrico (1m a 5m), uma
Se não houver nenhum dado disponível a partir do qual
lâmpada com diâmetro de 6 cm pode ser
a incerteza padrão possa ser calculada, declarar um
considerada puntual, ou seja, sempre será menor
valor de u (x ) com base na experiência científica.
i que 10% da distância entre a lâmpada e a superfície
de medição [4].
h) Para grandezas de entrada para as quais a distribuição • Para fontes de luz puntuais temos a relação:
de probabilidade seja conhecida ou possa ser suposta, 1 cd = 12,56 lúmens [4].
calcular a esperança e a incerteza padrão u = (xi ). [7] • Para lâmpadas incandescentes [3]
Se somente os limites inferior e superior forem
fornecidos ou possam ser estimados, calcular a
incerteza padrão u(xi ) [7].
3, 4
 fluxo Medido(lum)   Tensão(V) 
 fluxo Nom(lum)  =  TensãoNom(V) 
   
i) Calcular para cada grandeza de entrada Xi a
contribuição u ( y ) para a incerteza associada com a Com as hipóteses acima chega-se facilmente a equação:
i
estimativa de saída resultante da estimativa de entrada 3, 4
Xi [7] e somar seus quadrados [7], para obter o 12,56 × IntensidadeMedida(cd )   Tensão(V ) 
quadrado da incerteza padrão u ( y ) do mensurando,  12,56 × IntensidadeNom(cd )  =  TensãoNom(V ) 
considerando que as grandezas de entrada são    
3, 4
correlacionadas.
 IntensidadeMedida(cd )   Tensão(V ) 
 IntensidadeNom(cd )  =  TensãoNom(V ) 
j) Calcular a incerteza expandida U por meio da    
multiplicação da incerteza padrão u(y) associado à
grandeza de saída por um fator de abrangência k . [7] 3, 4
 Tensão( v ) 
k) Relatar o resultado da medição no certificado de IMedida ( cd ) =   x INom ( cd )( 1.0 )
calibração incluindo a estimativa y do mensurando, a  Tensão Nom( v ) 
incerteza expandida associada U e o fator de
abrangência k. [7]
Para a lâmpada utilizada no laboratório temos:

Para que se exemplifique a aplicação desse roteiro, utilizou- VNom = 112V


se a calibração de luxímetros. Essa calibração foi utilizada
Substituindo na equação 1.0 temos...
na “Análise de Caso” a seguir.
3, 4 (1.1)
V 
I= × I nom Lâmpada
3. RESULTADOS OBTIDOS
112 
3.3.1 Cálculo da Incerteza do Banco Fotométrico:

3.2. Cálculo da Incerteza de Medição da Intensidade


A iluminância emitida por uma fonte luminosa é definida
Luminosa:
pela lei:

Considerando que o cálculo da incerteza de medição para


calibração de luxímetros envolve várias grandezas físicas
E (lux) = I (cd ) / D (m) [2]
2
que contribuem conjuntamente para o resultado do valor
Sendo, I (cd ) = f (V ) global da incerteza de calibração, estimou-se essas parcelas
isoladamente. As principais grandezas físicas envolvidas no
método, são: tensão, intensidade luminosa e distância.
As incertezas dessas grandezas foram estudadas e chegou-se
ao seu valor final.
3.2.1 - Estimando a incerteza de medição da tensão:
Luxímetro
Durante o processo de calibração de luxímetros, a tensão na
lâmpada é medida utilizando-se o multímetro digital. O Observador
certificado de calibração número 51.729 contém a Eo Ei
informação que na escala utilizada para se medir 112 Vcc I irradiado
(Faixa de 1000 Vcc) a incerteza da medição é de 0,001%.

Agregando a incerteza declarada no manual do fabricante


(0,0045%+0,008%) temos: D
2
V medido + -
 0,000135   0,00001 
2

U (VMult ) =   +   = 0,0000781 = 0,00781%


 3   2  V

Para gerar a tensão de alimentação é utilizada uma fonte de FIGURA 3.2.2 – Esquema do ensaio realizado e das
tensão D.C., que possui regulação declarada em manual de grandezas envolvidas
0,2% e 0,5% e foi calibrada em ensaio registrado no
certificado oficial nº 37.461. Estimando a incerteza da fonte
como sendo a regulação apresentada e propagando a Definindo:
incerteza ficamos com:
• Eo = iluminância lida pelo observador, fornecida
2
 0,002   0,005 
2 pelo luxímetro.
U (V Fonte ) =   +   = 0,002753 = 0,27537% • Ei = iluminância irradiada pelo banco fotométrico
 3   2 
na superfície de medição do luxímetro.
• D = distância medida pela régua que indica a
distância da lâmpada ao centro da superfície de
Consideremos o conjunto formado pela fonte de tensão medição.
D.C.e o multímetro digital a fim de estimar a incerteza de
• I irradiado = é a intensidade luminosa emitida
medição na tensão. A tensão gerada pela fonte D.C. e
pela lâmpada.
controlada pela leitura do multímetro digital tem uma
• V = é a tensão de alimentação da lâmpada
incerteza que equivale à soma das incertezas de cada
fornecida pela fonte DC.
equipamento, sendo assim temos:
• Vmedido = é a tensão medida pelo multímetro que
U (Vmult + Fonte ) = 0,007810 % + 0,2753 % =
é utilizada para controlar a tensão da lâmpada
durante o ensaio.

U (Vmult + Fonte ) = 0,2803%


O roteiro para determinação da intensidade nominal da
lâmpada padrão de trabalho consiste em fazer medidas
comparativas entre a lâmpada padrão secundário e a
3.2.2 - Estimando a incerteza de medição da intensidade lâmpada padrão de trabalho. Cada medida consiste na
luminosa nominal da lâmpada padrão de trabalho: leitura de um luxímetro calibrado com rastreabilidade a
padrões nacionais efetuada com ambas as lâmpadas a uma
Em calibrações no banco fotométrico é utilizada uma mesma distância. A intensidade da lâmpada padrão de
lâmpada padrão de trabalho para intensidade luminosa, que trabalho é determinada pela comparação entre a leitura das
é calibrada no próprio banco. lâmpadas e é dada pela equação:
A calibração consiste em uma comparação da iluminância
emitida, no banco, por uma lâmpada padrão secundário
(calibrada pelo INMETRO) a uma distância “D” e a
iluminância da lâmpada padrão de trabalho à mesma E (lux ) = I (cd ) / D 2 (m)
distância. Após a realização dessa calibração, determinou-se
a intensidade luminosa da lâmpada padrão de trabalho.
A disposição do sistema de calibração é mostrado na Sendo, I (cd ) = f (V )
FIGURA 3.2.2.
Como calculado em (1.1) temos:
3, 4
 V 
I =  × I nom
 112 
Sabemos que: Aplicando os valores, em p.u., da tensão e da iluminância de
trabalho na equação de U(I) temos:
2 2
  
3, 4
   1  3, 4 
U (I ) =  3,4 × (1) ×   × 1 × U (V )  +    × U ( I nom ) 
2 2, 4 1
  1 
U 2 (I ) = CV, × U 2 (V ) + C I, nom × U 2 (I nom ) 1
2 2
   

2 2
 1
3, 4
   1  3, 4 
U 2 (I ) =  3,4 × (1) ×   × 1× 0,002803)  +    × 0,0202  = 0,02233
2, 4
 1  1 
2 2
   
  1 
3, 4
   V  3, 4 
U 2 (I ) =  3,4 × (V ) ×   × I Nom × U (V ) +   × U ( I nom ) 
   112 
2, 4
   
 112    U(V) = 0,002803 ; U ( I nom ) = 0,0202

Como estamos trabalhando com incertezas expressas em U I = 2,23 %


percentual definiremos valores de base para as grandezas. A
fim de normalizar a expressão acima, dividiremos todos os 3.3 Cálculo da incerteza de medição Final do Banco
valores pelas respectivas bases de suas grandezas. Fotométrico:

São definidos: Para o cálculo final da incerteza consideraremos a incerteza


da régua como sendo 0,1%, pois equivaleria a 1mm de erro
I base = I nom = 880,28 cd na menor distância utilizada (1m).
Vbase = Vnom = 112V I base = 880,28cd

D base = 1m
3.2.3 – Cálculo da incerteza de medição da lâmpada padrão
de trabalho quanto a intensidade luminosa: Distância mínima para realização de medidas no banco
fotométrico

U I (No min al ) = (U lâmp. padrão ) + (U Método ) + (U D ) + (U V )


Erro em D = 1m

,2 ,2 1 2 ×1
U 2 ( E ) = C I × U 2 ( I ) + C D × U 2 ( D) = ( ) 2 × (0,02233) 2 + ( − ) 2 × 10 −6 = 0,0223747
(1)2 (1)3
Onde:

U lâmp . padrão = 2% ( valor obtido do certificado U ( E ) = ± 2,23%


de calibração da lâmpada padrão secundário )
A incerteza expandida de medição relatada é
U ( Método ) = 1,45 cd ⇒ I Nom = 880,28 cd ∴U ( Método ) = 0,165% definida como a incerteza padronizada de medição
multiplicada pelo fator de abrangência k = 2, que para uma
(valor obtido do certificado de calibração da lâmpada padrão distribuição normal corresponde a uma probabilidade de
de trabalho ). abrangência de aproximadamente 95%.
U (D ) = 0,1%
(metade da menor divisão da régua milimetrada ) U ( E ) = 2,23 × 2 = ± 4,46 %
U (V ) = 0,2803%
(valor obtido do cálculo da estimativa da incerteza de
medição do conjunto formado pelo multímetro e fonte de 3.4. Cálculo da Incerteza de Medição na Calibração de um
alimentação ). dado luxímetro.
Assim, obtemos:

U ( I ) Nom = [(0,02) 2
+ (0,00165) + (0,001) + (0,002803) =
2 2 2
]
 2 
= 4,1158 × 10 − 4 = 0,02028  B   A 2 
(U ) =  

 +  ×k
 2 
  3    

U (I )Nom = 2,02%
Onde: [2] Vocabulário Internacional de termos fundamentais e
gerais de metrologia, publicado pelo INMETRO Portaria
U = incerteza expandida associada aos equipamentos e/ou INMETRO 029, de 10/03/1995.
instrumentos usados no ensaio
[3] Apostila de Fotometria do Prof. Dr. Walter Kaiser
A = incerteza expandida de medição relatada do banco Escola Politécnica – USP.
fotométrico, para um fator de abrangência k = 2
B = incerteza de medição declarada pelo fabricante do [4] Moreira, Vinícius de Araújo. Iluminação Elétrica
luxímetro ( 0,2 % ) Primeira Edição – 1999, Editora Edgard Blücher Ltda.

[5] NB–1188:1988. Interpretação estatística de resultados de


 2  ensaio – Estimação da média - Intervalo de confiança.
 0,002   0,0446 2 
(U ) =  

 +
  ×2
2  
  3  
[6] Pesquisa sobre Cálculo da Incerteza – Técnicas

Estatísticas. Westgard Quality Corporation
(http://www.westgard.com )

U (E ) = ± 4,46% [7] Versão brasileira do Documento EA-4/02-S1,


Suplemento 1 ao EA-4/02, Exemplos: Expressão da
- O resultado final do cálculo da incerteza de medição Incerteza de Medição na Calibração, fevereiro de 1999.
expandida relatada do luxímetro sob estudo é menor do que
± 5%. Autores: (1) Mestre, José Gil Oliveira, Instituto de Eletrotécnica e
Energia da Universidade de São Paulo, Av. Prof. Luciano
4. CONCLUSÃO Gualberto, 1289, CEP.: 05508-900, São Paulo, Brasil,
55 11 3091-2673, Fax: (55 11 3815-2423), gil@iee.usp.br
Devido as exigências da norma NBR ISO/IEC 17025:2001 e (2) Físico, Alfredo Heitor Lucato, Instituto de Eletrotécnica e
da elevada demanda por calibração em luxímetros verificada Energia da Universidade de São Paulo, Av. Prof. Luciano
pelo grande número de solicitações feitas pelos clientes Gualberto, 1289, CEP.: 05508-900, São Paulo, Brasil,
tradicionais do IEE/USP, a Seção Técnica de Fotometria Fone: 55 11 3091-2673, Fax: 55 11 3815-2423.
resolveu iniciar um estudo visando a implementação do (3) Bolsista em Nível Superior, Ricardo Souza Brandão, Instituto
cálculo de incerteza de medição na calibração de luxímetros. de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, Av. Prof.
Esse estudo objetivou demonstrar a competência técnica do Luciano Gualberto, 1289, CEP.: 05508-900, São Paulo, Brasil,
Laboratório da Seção Técnica de Fotometria, para realizar Fone: 55 11 3091-2673, Fax: 55 11 3815-2423
os cálculos de incerteza de medição na calibração de
luxímetros. Porém existem outras grandezas de interesse,
no cálculo da incerteza de medição para calibração de
luxímetros, que devem estar presentes nas próximas revisões
deste estudo. Alguns investimentos estão sendo realizados
tanto nas instalações do banco fotométrico quanto nos
equipamentos utilizados na calibração da lâmpada padrão de
trabalho (fonte de corrente e luxímetro). Com esses
investimentos deseja-se obter uma incerteza de medição na
calibração de luxímetros ainda menor.
Atualmente, existe apenas um único laboratório de Óptica
(INMETRO) no Brasil, que está credenciado junto a Rede
Brasileira de Calibração (R.B.C.) para atender a demanda
por este tipo de serviço. A partir da evolução e conclusão
deste estudo, espera-se que o IEE/USP possa ser
credenciado junto ao INMETRO para atender seus clientes
na prestação de serviço de calibração em luxímetros, dentro
da R.B.C.

5. BIBLIOGRAFIA

[1] Guia para a expressão da incerteza de medição, segunda


edição brasileira publicada pelo INMETRO e pela ABNT,
agosto 1988.

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