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Introdução

A vida espiritual cristã não é outra senão a que vivemos desde e no nosso
corpo e nos conduz à plena humanização. Tem uma forma cristocêntrica,
pois encontra em Cristo o Narrador, a Revelação, do Deus Trinitário. Se
sabemos qualquer coisa de Deus é a partir daquilo que Jesus narrou e
disse (cf. Jo 1, 18). Buscar a Deus significa, por isso, seguir a Jesus Cristo.

O Espírito Santo é o invisível de Deus que se torna visível nos frutos das
nossas intenções, ações e operações. Na humanidade de Jesus, o Espírito
Santo torna-se visível nos seus gestos, no seu falar, na sua relação com a
natureza, os pobres, etc.

Desde cedo os evangelhos nos revelam que a vida de Jesus é gerada e


guiada totalmente pelo Espírito Santo que O leva a uma particular relação
com Deus revelado como Abba.

Depois da contemplação do Nascimento de Jesus importa aceder ao


convite de Jesus a ESTAR. Trata-se oferecer densidade ao MEU ESTAR
através da PROXIMIDADE e CUMPLICIDADE a uma dimensão particular da
vida de Jesus que se estende por mais de 30 anos: a vida oculta.

Graça a pedir
Conhecimento interno do Senhor que por mim se fez homem, para que
mais o ame e o siga. (EE 104)

Textos
Lucas 2, 40-52; 4,1.42; 6,12; 9,28

Pontos
#1: A vida oculta de Jesus desenvolve-se por um período superior a 30
anos. Pretendemos endereçar a vida para lá dos almoços, dos
ensinamentos nas sinagogas ou dos milagres. A vida é oculta porque
discreta. É a Sua relação com Deus que aflora desde tenra idade – perda e
o encontro de Jesus no templo – e que tanto surpreende Maria e José. É
uma vida – ESTAR – que mais tarde suporta o FAZER performativo dos
milagres e das curas. Trata-se de rezar a minha vida oculta: momentos de
paragem, silêncio e encontro com Deus onde desenvolvo o meu ESTAR,
único e pessoal. Ali se recria um LASTRO que oferece espessura ao meu
FAZER e o torna performativo.

#2: A vida oculta de Jesus revela-nos igualmente a profundidade do seu


desprendimento. Na carta aos Coríntios, S. Paulo revela-nos: “Conhecei a
bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual, sendo rico, se fez pobre
por vós a fim de vos enriquecer pela pobreza” (2 Cor. 8,9) A pobreza, no
seguimento de Jesus, não se reduz a uma questão de perfeição ascética
ou moral, mas situa-se no centro do seu modo de ESTAR. Não podemos
confessar interiormente Jesus Cristo e, de seguida, perguntarmo-nos em
que consiste o desprendimento. O desprendimento não está à descrição
do cristão, mas encontra-se no fundamento da sua fé. Não é um fim em si
mesmo, mas uma expressão da entrega de Jesus a Deus. Em que
dimensões da minha vida e sob que forma (escuta, vontade, memória,
etc) o desprendimento vai ganhando mais densidade ou expressividade
como entrega a Deus?

#3: Num poema apresentado a Bento XVI, o P. Tolentino Mendonça refere


que: “O Mistério todo está na infância.” O poema revela-nos a importância
da infância espiritual ou da construção de uma inocência. A inocência é
descoberta, caminho e decisão. Por um lado, é dom; por outro, é tarefa
permanecer no espanto e na simplicidade que desarma a vida. Revisitar a
minha infância, não como passado inamovível ou pouco profundo, mas
como projeto criativo: que caraterísticas da minha infância me adensam
hoje o espanto e admiração na fé e na vida?

Colóquio

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