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Sólidos e Fluidos 1

O QUE APRENDEREMOS 8
1.1 Átomos e a composição da matéria 8
1.2 Estados da matéria 10
1.3 Tensão, compressão e cisalhamento 11
Elasticidade dos sólidos 11
Tensão e deformação 11
Exemplo 1.1 Montagem de uma TV de
tela plana na parede 13
Problema resolvido 1.1 Fio esticado 13
1.4 Pressão 15
Relação pressão-profundidade 15
Pressão manométrica e barômetros 16
Exemplo 1.2 Submarino 16
Relação da altitude barométrica para gases 17
Princípio de Pascal 18
Exemplo 1.3 Pressão do ar sobre o Monte Everest 18
1.5 Princípio de Arquimedes 20
Força de empuxo 20
Exemplo 1.4 Iceberg flutuando 21
Determinação da densidade 22
Exemplo 1.5 Um balão de ar quente 22
Exemplo 1.6 Encontrando a densidade de um corpo 22
1.6 Movimento do fluido ideal 24
Equação de Bernoulli 24
Aplicações da Equação de Bernoulli 26
Exemplo 1.7 Pulverizador 28
Problema resolvido 1.2 Tubo de Venturi 29
Drenando um tanque 30
Exemplo 1.8 Drenando uma garrafa 31
1.7 Viscosidade 32
Exemplo 1.9 Agulha hipodérmica 33
1.8 Turbulência e fronteiras da
pesquisa em fluxo de fluidos 34
O QUE JÁ APRENDEMOS /
G U I A D E E S T U D O PA R A E X E R C Í C I O S 35
Figura 1.1 Simulação computacional da NASA, mostando o fluxo aerodinâmico de
ar do sistema de propulsão do jato Harrier em voo. As cores das linhas de fluxo Prática de resolução de problemas 36
aerodinâmico indicam o tempo decorrido desde que a exaustão iniciou. Problema resolvido 1.3 Encontrando a densidade
de um líquido desconhecido 36
Problema resolvido 1.4 Sino de mergulho 38
Questões de múltipla escolha 39
Questões 40
Problemas 40

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8 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

O QUE APRENDEREMOS

■ O átomo é o bloco básico de construção da matéria macros- podem ser expressas em termos de relações lineares entre a
cópica. pressão aplicada e a deformação resultante.
■ O diâmetro de um átomo é aproximadamente 10–10 m. ■ Pressão é força por unidade de área.
■ A matéria pode existir como um gás, um líquido ou um sólido. ■ A pressão da atmosfera da Terra pode ser medida pelo uso
de um barômetro de mercúrio ou um instrumento similar.
• Um gás é um sistema no qual os átomos movem-se livre-
mente através do espaço. ■ A pressão do gás pode ser medida pelo uso de um manôme-
tro de mercúrio.
• Um líquido é um sistema no qual os átomos movem-se
livremente, mas formam uma substância quase incom- ■ O princípio de Pascal afirma que a pressão aplicada a um
pressível. fluido confinado é transmitida para todas as partes do fluido.
• Um sólido define seu próprio tamanho e forma. ■ O princípio de Arquimedes afirma que a força de empuxo
sobre um corpo em um fluido é igual ao peso do fluido des-
■ Sólidos são quase incompressíveis.
locado pelo corpo.
■ Várias formas de pressão, como tração, compressão ou cisa-
■ O princípio de Bernoulli afirma que quanto mais rápido um
lhamento, podem deformar os sólidos. Essas deformações
fluido flui, menor a pressão exercida sobre suas fronteiras.

O fluxo de ar ao redor de um avião é de grande interesse para os projetistas, construtores e


usuários de aviões. Entretanto, as características do movimento dos fluidos não são fáceis de
descrever matematicamente. Frequentemente, modelos em escala de novos aviões são cons-
truídos e colocados em túnel de vento, para mostrar como o ar flui e turbilhona em detalhes
drásticos. A Figura 1.1 ilustra o fluxo de ar em volta de um avião a jato de decolagem vertical.
O Boeing 777 foi a primeira aeronave modelada inteiramente em computador, sem testes em
túnel de vento. A dinâmica de fluidos é atualmente a área de maior pesquisa, com aplicações
em todas as áreas de física, desde a astronomia até as pesquisas nucleares.
Até aqui, estudamos o movimento de corpos idealizados, ignorando fatores, tais como o
material de que são feitos e o comportamento desses materiais em resposta às forças exercidas
sobre eles. Ignoramos, geralmente, a resistência do ar e outros fatores envolvendo o meio atra-
vés do qual o corpo se move. Este capítulo considera alguns desses fatores, apresentando uma
visão geral das características físicas dos sólidos, líquidos e gases.

1.1 Átomos e a composição da matéria


Durante a evolução da física, cientistas já exploraram as menores dimensões, olhando fundo
para a matéria a fim de examinar seus blocos de construção elementares. Essa maneira geral de
aprender mais sobre um sistema pelo estudo de seus subsistemas é chamada de reducionismo e
provou ser um princípio-guia frutífero durante os últimos quatro ou cinco séculos de avanços
da ciência.
Hoje, sabemos que os átomos são os blocos de construção elementares da matéria, embora
eles mesmos sejam compostos de partículas. A subestrutura dos átomos, entretanto, pode ser ana-
lisada somente com aceleradores e outras ferramentas da moderna física nuclear e de partículas.
Para os propósitos deste capítulo, é razoável ver os átomos como blocos de construção elementares.
De fato, a palavra átomo provém do grego atomos, que significa “indivisível”. O diâmetro de um
átomo é aproximadamente 10–10 m = 0,1 nm, ou, como geralmente é chamado, um angstrom, Å.
O átomo mais simples é o de hidrogênio, composto de um próton e de um elétron, e é o
elemento mais abundante no universo. Em seguida, há o hélio, como mais abundante, com
dois prótons e dois nêutrons em seu núcleo, além de dois elétrons circundando o núcleo. Outro
átomo comum é o de oxigênio, com oito prótons e oito elétrons, bem como oito nêutrons. O
átomo urânio, com 92 prótons, 92 elétrons e 146 nêutrons, é o mais pesado encontrado na-
turalmente. Até agora, 117 elementos diferentes foram reconhecidos e classificados na tabela
períodica dos elementos.
Essencialmente, todo o hidrogênio no universo, com um pouco de hélio, foi produzido no
Big Bang, há 13,7 bilhões de anos. Elementos mais pesados, acima do ferro, foram e ainda são
produzidos nas estrelas. Acredita-se que os elementos com mais prótons e nêutrons do que o

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Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 9

ferro (ouro, mercúrio, chumbo e assim por diante) foram produzidos pelas explosões de su-
pernovas. A maioria dos átomos dos elementos da Terra foi produzida há mais de 5 bilhões de
anos, provavelmente em função de uma explosão de supernova, e tem sido reciclada desde en-
tão. Mesmo os nossos corpos são compostos de átomos das cinzas de uma estrela que explodiu.
Considere o número de átomos em 12 g do isótopo de carbono, 12C, onde 12 representa o
número da massa atômica – isto é, o número total de prótons (seis) mais os nêutrons (seis) no
núcleo do carbono. Esse número de átomos foi medido como 6,022 ⋅ 1023, o qual é chamado de
número de Avogadro, NA:
(a)
NA = 6,022 ⋅ 10 .
23

Para ter ideia de quanto carbono corresponde a NA, considere duas formas de carbono: diamante
e grafita. Os diamantes são compostos de átomos de carbono arranjados em cristais estruturados,
enquanto os átomos de carbono na grafita estão arranjados em camadas bidimensionais (Figura
1.2). Na estrutura do diamante, os átomos de carbono estão entrelaçados de modo que faz o dia-
mante ser muito duro e transparente à luz. Já na da grafita, os átomos do carbono estão arranjados
em camadas que podem deslizar umas sobre as outras, tornando-a macia, escorregadia e sem
refletir luz, parecendo preto. A grafita é usada em lápis e para lubrificação.
3 3
A densidade do diamante é 3,51 g/cm e a da grafita é 2,20 g/cm . Os diamantes são fre-
quentemente classificados em termos de massa em quilates, sendo 1 quilate = 200 mg. Um (b)
diamante de 12 g teria NA átomos, uma massa de 60 quilates e um volume próximo a 3,4 cm3,
cerca de 1,5 vez maior do que o diamante Hope Diamond. Um típico anel de casamento possui
um diamante de um quilate contendo aproximadamente 1022 átomos de carbono.
Novas estruturas compostas inteiramente de carbono foram produzidas, tais como os fu-
lerenos e os nanotubos. Os fulerenos são compostos de 60 átomos de carbono arranjados em
um icosaedro truncado, cuja forma lembra uma bola de futebol, como mostrado na Figura
1.3a. Em 1996, o prêmio Nobel em Química foi ganho por Robert Curl, Harold Kroto e Richard
Smalley pelo descobrimento dos fulerenos. Os fulerenos são também chamados de buckyballs
e foram nomeados em referência Buckminster Fuller (1895-1983), que inventou o domo geo-
désico, cuja geometria lembra a do fulereno. A Figura 1.3b mostra a estrutura de um nanotubo (c)
de carbono, consistindo em hexágonos de átomos de carbono entrelaçados. Um nanotubo de
carbono pode ser pensado como uma camada de grafita (Figura 1.2c) que envolve as paredes
no interior do tubo. Os fulerenos e nanotubos de carbono são produtos recentes de uma emer-
gente área de pesquisa chamada nanotecnologia, termo que se refere ao tamanho dos corpos
sob investigação. Novos materiais construídos usando nanotecnologia podem revolucionar a
ciência dos materiais. Por exemplo, cristais de fulereno são mais duros do que diamantes, e
fibras compostas de nanotubos de carbono são mais leves e fortes do que o aço.
Um mol de uma substância contém NA = 6,022.1023 átomos ou moléculas. Devido às massas
dos prótons e dos nêutrons serem aproximadamente iguais e às suas massas serem muito maio-
res do que a dos elétrons, a massa de 1 mol de uma substância em gramas é dada pelo número (d)
atômico de massa. Assim, 1 mol de 12C tem uma massa de 12 g e 1 mol de 4He tem massa de 4 g. Figura 1.2 Diamantes e grafita são
A tabela períodica dos elementos lista o número atômico de massa para cada elemento. Esse compostos de átomos de carbono. (a)
número atômico de massa é igual ao número de prótons e nêutrons contidos no núcleo do áto- Estrutura do diamante, consistindo
mo, mas não é inteiro, porque ele leva em conta as abundâncias naturais isotópicas. (Isótopos de de átomos de carbono ligados em um
um elemento têm números diferentes de nêutrons no núcleo. Se um núcleo de carbono tem sete arranjo tetraédrico. (b) Diamantes.
(c) Estrutura da grafita compreendida
de camadas paralelas de estruturas
hexagonais. (d) Um lápis mostrando
o grafite.

(a)
(b)
Figura 1.3 Nanoestruturas consistindo de arranjos de átomos de carbono: (a) fulereno, ou buckyball;
(b) nanotubo de carbono.

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10 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

1.1 Pausa para teste nêutrons, ele é o isótopo 13C.) Para moléculas, a massa molar é obtida pela adição dos números
Quantas moléculas de água es-
de massa de todos os átomos na molécula. Assim, 1 mol de água, 1H216O, tem massa de 18,02 g.
tão em uma garrafa de meio litro (Não é exatamente 18 g, porque 0,2% dos átomos de oxigênio é do isótopo 18O.)
de água? A massa de 1 mol de Os átomos são eletricamente neutros, pois têm o mesmo número de prótons carregados
água é 18,02 g. positivamente e de elétrons carregados negativamente. As propriedades químicas de um átomo
são determinadas por sua estrutura eletrônica, a qual permite ligações destes com outros áto-
1.2 Pausa para teste mos para formar as moléculas. Por exemplo: a água é uma molécula que contém dois átomos
Um mol de qualquer gás ocupa de hidrogênio e um de oxigênio. As estruturas eletrônicas dos átomos e das moléculas determi-
um volume de 22,4 L em condi- nam as propriedades macroscópicas das substâncias, caso existam, como um gás, um líquido
ções normais de temperatura e ou um sólido a uma dada temperatura e pressão.
pressão (CNTP: T = 0 °C e p = 1
atm). Quais são as densidades do
gás hidrogênio e do gás hélio? 1.2 Estados da matéria
Um gás é um sistema no qual cada átomo ou molécula se move através do espaço como partí-
cula livre. Ocasionalmente, um átomo ou molécula colide com outro átomo ou com as paredes
de um recipiente. Ele pode ser tratado como um fluido, porque ele pode fluir e exercer pressão
sobre as paredes do recipiente, além de ser compressível, o que significa que o volume do reci-
piente pode ser alterado e, mesmo assim, o gás ainda preencherá o volume, embora a pressão
que ele exerça sobre as paredes do recipiente mude também.
Em contraste aos gases, a maioria dos líquidos é quase incompressível. Se um gás é colo-
cado em um recipiente, ele expandirá para preenchê-lo (Figura 1.4a). Quando um líquido é
colocado em um recipiente, ele preenche somente o volume correspondente ao seu volume ini-
cial (Figura 1.4b). Se o volume do líquido é menor do que o volume de recipiente, o recipiente
(a) se enche parcialmente.
Um sólido não requer um recipiente; ele mesmo define sua própria forma (Figura 1.4c).
Como os líquidos, os sólidos são quase incompressíveis, mas podem ser comprimidos e defor-
mados levemente.
A classificação da matéria em sólidos, líquidos e gases não cobre todo o alcance de possibili-
dades. Claramente, em cada estado, certa substância é dependente de sua temperatura. Água, por
exemplo, pode estar na forma de gelo (sólido), de água (líquido) e/ou de vapor (gás). A mesma
condição mantém-se praticamente para todas as outras substâncias. Entretanto, existem estados
da matéria que não seguem a classificação sólido/líquido/gás. A matéria nas estrelas, por exem-
(b)
plo, não está em qualquer um desses estados, mas sim na forma de plasma, ou seja, está em um
sistema de átomos ionizados. Na Terra, muitas praias são feitas de areia, exemplo de granulado
médio. Os grãos desse tipo são sólidos, mas suas características macroscópicas podem ser bem
próximas àquelas dos líquidos (Figura 1.5). Por exemplo: areia pode fluir como um líquido. Vi-
dros parecem ser sólidos à primeira vista, porque não mudam de forma, mas há uma justificativa
para vê-los como um tipo de líquido com uma viscosidade extremamente alta. Para propósitos
de classificação da matéria em estados, o vidro não é nem sólido e nem líquido, mas um estado
(c)
separado da matéria. Espumas e géis são outros estados da matéria que, atualmente, interessam
Figura 1.4 (a) um recipiente cúbico
cheio com um gás; (b) o mesmo reci-
piente parcialmente cheio com um lí-
quido; (c) um sólido, que não precisa
de um recipiente.

(a) (b)
Figura 1.5 (a) Vazamento de prata líquida (um metal sólido em temperatura ambiente); (b) vazamento
de areia (um ganulado médio).

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Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 11

aos pesquisadores. Na espuma, o material forma finas membranas ao redor de bolhas de gás
fechadas de diferentes tamanhos; assim, algumas espumas são muito rígidas e, ao mesmo tempo,
têm uma densidade de massa muito baixa.
Há menos de duas décadas, a existência de uma nova forma de matéria, o condensado
Bose-Einstein, era experimentalmente verificada, e um entendimento sobre o novo tipo de ma-
téria requer alguns conceitos básicos de física quântica. Entretanto, em termos básicos, em
temperaturas muito baixas, um gás de certos tipos de átomos pode assumir um estado ordena-
do, no qual todos os átomos tendem a ter a mesma energia e o mesmo momento, muito similar
ao modo com que a luz assume um estado ordenado em um laser.
Finalmente, as matérias em nossos corpos, e na maioria dos organismos biológicos, não
satisfazem quaisquer dessas classificações. Tecidos biológicos consistem, predominantemente,
de água, ainda que sejam capazes de manter ou mudar sua forma, dependendo das condi-
ções-limite do ambiente.

1.3 Tensão, compressão e cisalhamento


Vamos examinar como os sólidos respondem às forças externas.

Elasticidade dos sólidos


Muitos sólidos são compostos de átomos arranjados em cristais tridimensionais, nos quais os
átomos têm uma distância bem definida de equilíbrio em relação aos seus vizinhos. Os átomos
em um sólido são mantidos no lugar pelas forças interatômicas que podem ser modeladas
como molas. A estrutura é muito rígida, fazendo com que as molas imaginárias sejam muito
duras. Corpos sólidos macroscópicos, tais como uma chave-inglesa ou uma colher, são com-
postos de átomos arranjados em tal estrutura. Todavia, outros corpos sólidos, como bolas de
borracha, são compostos de átomos arranjados em longas cadeias, em vez de em uma estrutura
bem definida. Dependendo de suas estruturas atômicas ou moleculares, sólidos podem ser (a)
extremamente rígidos ou mais facilmente deformáveis.
Todos os corpos rígidos são um tanto elásticos, ainda que não o pareçam. Compressão,
tração ou torção podem deformar um corpo rígido. Se um corpo rígido for pouco deformado,
ele retornará à sua forma e tamanho originais quando a força causadora da deformação for re-
tirada. Mas, se um corpo rígido for deformado e ultrapassar do ponto chamado limite elástico,
ele não voltará mais ao seu tamanho e forma originais e permanecerá deformado. Caso um
corpo rígido seja deformado muito além de seu limite elástico, ele quebrará.

Tensão e deformação
Deformações de sólidos são geralmente classificadas em três tipos: tração (ou tensão), com-
pressão e cisalhamento. Exemplos de tensão, compressão e cisalhamento são mostrados na
Figura 1.6. O que essas três deformações têm em comum é que a tensão, ou força deforma-
dora por unidade de área, produz uma deformação, ou unidade de deformação. A tração, ou (b)
tensão, está associada com a tensão de ductilidade. A compressão pode ser produzida pela
tensão hidrostática. O cisalhamento é produzido pelo esforço transverso ou cortante, às vezes
chamado de tensão de desvio. Quando uma força de cisalhamento é aplicada, os planos do ma-
terial paralelos à força e sobre qualquer um dos lados do material permanecem paralelos, mas
mudam um em relação ao outro.
Embora a tensão e a deformação tomem formas diferentes nos três tipos de deformação,
elas estão relacionadas linearmente por meio de uma constante chamada de módulo de elas-
ticidade:
Tensão = módulo de elasticidade ⋅ deformação (1.1)
Essa relação empírica se aplica enquanto o limite elástico do material não é excedido.
(c)
No caso da tração, uma força F é aplicada às extremidades opostas de um corpo de com-
primento L e o corpo estica-se para um novo comprimento L + ⌬L (Figura 1.7). O esforço de Figura 1.6 Três exemplos de tensão
esticamento ou tração é definido como a força, F, por unidade de área, A, aplicada à extremi- e deformação: (a) os fios esticados
dade de um corpo. A deformação é definida como a variação fracionária no comprimento do das linhas de força; (b) a compressão
corpo, ⌬L/L. A relação entre tensão e deformação no limite elástico é, então, da represa Hoover Dam; (c) cisalha-
mento pela tesoura.

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12 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

Tabela 1.1 Alguns típicos F


valores do
módulo de
Young L L  L
Módulo de Young F
Material (109 N/m2)
(a) (b)
Alumínio 70
Figura 1.7 Tensão aplicada às extremidades opostas de um corpo por uma força que as puxa. (a) Cor-
Osso 10 – 20
po antes de a força ser aplicada. (b) Corpo após a força ser aplicada. Note: a tensão pode também ser
Concreto 30 – 60 aplicada empurrando-se as extremidades do corpo, resultando numa variação negativa no comprimento
(compressão) (não mostrada).
Diamante 1.000 – 1.200
Vidro 70
Poliestireno 3 (1.2)
Borracha 0,01 – 0,1
o Y, na equação anterior, é chamado de módulo de Young e depende somente do tipo de
Aço 200
material e não de seu tamanho ou forma. Alguns valores típicos do módulo de Young são apre-
Titânio 100 – 120
sentados na Tabela 1.1.
Tungstênio 400
A compressão linear pode ser tratada de uma maneira similar à tração para a maio-
Madeira 10 – 15 ria dos materiais, dentro dos limites elásticos. Contudo, muitos materiais têm diferentes
pontos de ruptura para a tração e a compressão. O mais notável exemplo é o concreto, que
resiste à compressão muito melhor do que à tração, razão pela qual as vigas de aço são
Tabela 1.2 Alguns típicos adicionadas a ele, em lugares onde tolerâncias maiores de tração são requeridas. Uma viga
valores do de aço resiste à tração muito melhor do que à compressão, força através da qual o aço pode
módulo empenar.
Volumétrico A tensão, em relação ao volume de compressão, resulta de uma força por unidade de área
Módulo aplicada à superfície inteira da área de um corpo, por exemplo, ou submerso em um líquido
Volumétrico (Figura 1.8). A deformação resultante é a variação fracionária do volume do corpo, ⌬V/V.
Material (109 N/m2) O módulo de elasticidade nesse caso é o módulo de elasticidade volumétrica, B. Podemos,
assim, escrever a equação relacionando a tensão e a deformação por volume de compressão
Ar 0,000142 como
Alumínio 76
Basalto 50 – 80 (1.3)
Gasolina 1,5
Granito 10 – 50 Alguns valores típicos do módulo de elasticidade volumétrica são dados na Tabela 1.2. Note o
Mercúrio 28,5 salto extremamente grande no módulo de elasticidade volumétrica do ar, que é um gás e pode
Aço 160 ser comprimido facilmente, para os líquidos, como a gasolina e a água. Os sólidos, tais como
Água 2,2 pedras e metais, têm valores de módulo de elasticidade volumétrica mais altos do que os dos
líquidos por um fator entre 5 e 100.
No caso do cisalhamento, a tensão é, outra vez, uma força por unidade de área. Contudo,
para o cisalhamento, a força é paralela à área em vez de perpendicular a ela (Figura 1.9). Para
o cisalhamento, a tensão é dada pela força por unidade de área, F/A, exercida sobre a extremi-
dade do corpo. A deformação resultante é dada pela deflexão fracionária do corpo, ⌬x/L. A
tensão está relacionada à deformação por meio do módulo de cisalhamento, G:

(1.4)

Alguns valores típicos do módulo de cisalhamento são dados na Tabela 1.3.

F
x F
x
L
V V  V

(a) (b)
(a) (b)
Figura 1.9 Cisalhamento de um corpo causado por uma força paralela à área da
Figura 1.8 Compressão de um corpo pela pressão do fluido: extremidade do corpo. (a) Corpo antes da força de cisalhamento ser aplicada;
(a) corpo antes da compressão; (b) corpo após a compressão. (b) corpo após a força de cisalhamento ser aplicada.

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Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 13

Tabela 1.3 Alguns valores


EXEMPLO 1.1 Montagem de uma TV de tela plana na parede
típicos do
Você acabou de comprar uma TV de tela plana (Figura 1.10) e quer montá-la na parede com quatro módulo de
parafusos, cada um com um diâmetro de 0,50 cm. Você não pode montar a TV diretamente encostada cisalhamento
na parede, pois precisa deixar um espaço entre a TV e a parede para a circulação de ar. Módulo
volumétrico
PROBLEMA 1 Material (109 N/m2)
Se a massa de sua nova TV é de 42,8 kg, qual é a tensão de cisalhamento sobre os parafusos?
Alumínio 25
SOLUÇÃO 1 Cobre 45
A área das seções transversais combinadas dos quatro parafusos é Vidro 26
Polietileno 0,12
Borracha 0,0003
Titânio 41
Aço 80 – 90
Uma força atuando sobre os parafusos é , a força da gravidade sobre a TV, exercida na extremi-
dade de cada parafuso. Essa força é equilibrada por uma força da parede, atuando sobre a outra
extremidade dos parafusos. A força da parede mantém a TV no lugar; assim, ela tem exatamente
a mesma intensidade da força da gravidade, mas apontando na direção oposta. Logo, a força que
entra na equação 1.4, para a tensão, é

Assim, obtemos a tensão de cisalhamento sobre os parafusos:

PROBLEMA 2
O módulo de cisalhamento do aço usado nos parafusos é 9,0 ⋅ 1010 N/m2. Qual é a deflexão verti- Fg
cal resultante dos parafusos?
Figura 1.10 Forças atuantes sobre
SOLUÇÃO 2 uma montagem de parede para uma
Resolvendo a equação 1.4 para a deflexão, ⌬x, encontramos TV de tela plana.

Mesmo que a tensão de cisalhamento seja maior do que 5 milhões de N/m2, a flexão resultante de
sua TV de tela plana é somente cerca de 0,006 mm, uma distância que é indetectável a olho nu.

PROBLEMA RESOLVIDO 1.1 Fio esticado L L

PROBLEMA
Um fio de aço, de comprimento 1,50 m e diâmetro de 0,400 mm, está pendurado verticalmente.
L
Um holofote de massa m = 1,50 kg é fixado ao fio e solto. Quanto o fio estica?
m
SOLUÇÃO
(a) (b)
PENSE
A partir do diâmetro do fio, podemos obter sua área de seção transversal. O peso do holofote Figura 1.11 Um fio (a) antes e (b)
fornece a força para baixo. A tensão sobre o fio é o peso dividido pela área da seção transversal. após um holofote ser fixado a ele.
A deformação é a variação no comprimento do fio dividido pelo seu comprimento original. A
tensão e a deformação estão relacionadas através do módulo de Young para o aço.

DESENHE
A Figura 1.11 mostra o fio antes e após o holofote ser fixado.
Continua →

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14 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

PESQUISE
A área da seção transversal do fio, A, pode ser calculada a partir do diâmetro, d, do fio:

(i)

A força sobre o fio é o peso do holofote,


F = mg. (ii)
Podemos relacionar a tensão e a deformação sobre o fio através do módulo de Young, Y, para o aço:

(iii)

onde ⌬L é a variação do comprimento do fio e L é seu comprimento original.

SIMPLIFIQUE
Podemos combinar as equações (i), (ii) e (iii) para termos

Com a resolução da variação no comprimento do fio, obtemos

CALCULE
Colocando os valores numéricos, temos

Ponto de , , ,
escoamento
,
Ponto de
,
F/A Limite
ruptura
proporcional
ARREDONDE
Apresentamos nosso resultado com três algarismos significativos

L/L ⌬L = 0,000878 m = 0,878 mm.


Figura 1.12 Um diagrama típico
S O L U Ç Ã O A LT E R N AT I VA
tensão-deformação para um metal
Uma verificação importante e fácil de um resultado é confirmar se as unidades estão certas. A
dúctil sob tensão, mostrando o limite
variação no comprimento, que calculamos, tem a unidade em milímetros, o que faz sentido. Se-
proporcional, o ponto de escoamento
guindo, examinamos a grandeza: o fio estica exatamente menos do que 1 mm comparado ao seu
e o ponto de ruptura.
comprimento original de 1,50 m. Esse esticamento é menor do que 0,1%, o que parece razoável.
Em um dado momento, o fio de aço experimenta um esticamento perceptível e sua ruptura torna-
-se uma preocupação. Esse não é o caso aqui, o que nos deu alguma confiança de que nosso resul-
tado está aproximadamente na ordem certa de grandeza.

Tabela 1.2 Tensão de


Como já referido, a tensão aplicada sobre um corpo é proporcional à deformação enquan-
ruptura para
to o limite elástico do material não for excedido. A Figura 1.12 demonstra um típico diagrama
materiais
tensão-deformação para um metal dúctil (facilmente provocado em um fio) sob tensão. Até o
comuns
limite proporcional, o metal dúctil responde linearmente à tensão. Se a tensão for removida,
Tensão de ruptura o material voltará ao seu tamanho original. Se a tensão aplicada ultrapassar o limite propor-
Material (106 N/m2) cional, o material continuará a alongar-se até atingir seu ponto de escoamento. Se a tensão
Alumínio 455 for aplicada entre o limite proporcional e o ponto de ruptura e, então, retirada, o material não
voltará ao seu tamanho original e ficará permanentemente deformado. O ponto de escoamento
Bronze 550
é o ponto onde a tensão causa súbita deformação sem qualquer aumento na força, como pode
Cobre 220
ser visto pelo achatamento da curva (veja Figura 1.12). Uma tensão adicional fará o material
Aço 400
esticar até atingir seu ponto de ruptura, onde ele, evidentemente, quebra. Essa tensão de ruptu-
Osso 130 ra é também chamada de tensão final, ou, em relação à tração, de resistência à tração. Algumas
Note que esses valores são aproximados. tensões de ruptura aproximadas são dadas na Tabela 1.4.

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Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 15

1.4 Pressão
Esta seção examina as propriedades dos líquidos e gases que, juntos, chamamos de fluidos. As
propriedades de tensão e de deformação, discutidas na Seção 1.3, são muito úteis quando estu-
damos sólidos, pois as substâncias que fluem, como líquidos e gases, oferecem pouca resistên-
cia ao cisalhamento ou à tensão. Nesta seção, consideramos as propriedades dos fluidos em re-
pouso. Mais adiante, neste capítulo, discutiremos as propriedades dos fluidos em movimento.
A pressão, p, é a força por unidade de área:

(1.5)
2
A pressão é uma quantidade escalar. A unidade no SI para pressão é o N/m , nomeado pascal,
abreviado Pa:
1.1 Exercícios
de sala de aula
Suponha que você esteja bom-
A pressão média da atmosfera da Terra ao nível do mar, 1 atm, é uma unidade comumente beando ar para fora de uma lata
usada, a qual não é do SI, e que é expressa em outras unidades, conforme segue: de tinta coberta com uma tam-
pa. A lata é cilíndrica, com 22,4
1 atm = 1,01 ⋅ 105 Pa = 760 torr = 14,7 lb/in2 . cm de altura. Quanta força a
Padrões usados para medir a quantidade de ar removida de um vaso são frequentemente cali- atmosfera exerce sobre a tampa
da lata de tinta evacuada?
brados em torr, unidade assim nomeada em referência ao físico italiano Evangelista Torricelli
(1608-1647). A pressão dos pneus dos automóveis, nos Estados Unidos, é medida comumente a) 9,81 N c) 2030 N
em libras por polegada quadrada (lb/in2 ou psi). b) 511 N d) 8120 N

Relação pressão-profundidade
Considere um tanque de água aberto à atmosfera da Terra e imagine um cubo de água dentro y
desse tanque (mostrado na Figura 1.13). Suponha que a superfície superior do cubo seja hori-
zontal e esteja na profundidade y1, e que a superfície inferior do cubo também seja horizontal e
que esteja na profundidade y2. Os outros dois lados do cubo estão orientados verticalmente. A Ar
pressão da água atuando sobre o cubo produz força. Entretanto, pela Primeira Lei de Newton, F2
0
não deve haver força resultante atuando sobre esse cubo de água imóvel. As forças atuando y1
sobre os lados verticais do cubo se anulam. As forças verticais sobre os lados superior e inferior Água y2
do cubo devem, também, somar zero:
F1 mg
F2 – F1 – mg = 0, (1.6)
onde F1 é a força para baixo sobre o lado superior do cubo, F2 é a força para cima sobre o lado Figura 1.13 Cubo de água dentro de
um tanque de água.
inferior do cubo e mg é o peso do cubo de água. A pressão à profundidade y1 é p1 e na profun-
didade y2 é p2. Podemos escrever as forças nestas profundidades em termos de pressões, assu-
mindo que a área dos lados superior e inferior do cubo seja A:
F1 = p1A
F2 = p2A
Podemos, também, expressar a massa, m, da água, em termos de densidade da água, ␳, assu-
mida constante, e o volume, V, do cubo, m = ␳V. Substituindo F1, F2 e m na equação 1.6, temos
p2A – p1A – ␳Vg = 0.
Rearranjando essa equação e substituindo A(y1 – y2) por V, obtemos
p2A = p1A + ␳A(y1 – y2)g.
Dividir a equação pela área A produz uma expressão para a pressão como uma função de pro-
fundidade em um líquido de densidade uniforme ␳:
p2 = p1 + ␳g(y1 – y2). (1.7)
Um problema comum envolve a pressão como função de profundidade abaixo da superfí-
cie de um líquido. Iniciando com a equação 1.7, podemos definir a pressão na superfície de um

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16 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

líquido (y1 = 0) como p0 e a pressão na profundidade dada h (y2 = –h) como p. Essas definições
nos guiam à equação
p = p0 + ␳gh (1.8)
para a pressão em uma dada profundidade de um líquido com densidade uniforme ␳.
Observe que na derivação da equação 1.8 fizemos uso do fato de que a densidade do
fluido não varia como uma função de profundidade. A suposição de incompressibilidade é
essencial para a obtenção desse resultado. Ainda nesta seção, vamos abrandar esse reque-
rimento de incompressibilidade, o que nos levará a uma fórmula diferente, relacionando
altura e pressão para gases. Além disso, é importante notar que a equação 1.8 especifica a
pressão em um líquido na profundidade vertical h, sem qualquer dependência da posição
horizontal. Assim, a equação mantém-se independentemente da forma do vaso que contém
o líquido. A Figura 1.14, por exemplo, mostra três colunas conectadas contendo um fluido.
Você pode observar que o fluido alcança a mesma altura em cada coluna, independente-
mente da forma da área da seção transversal. Isso ocorre porque as bases estão interconec-
tadas e, desse modo, têm a mesma pressão.
Figura 1.14 Três colunas conectadas
– o fluido sobe à mesma altura em
cada coluna. EXEMPLO 1.2 Submarino
Um submarino da marinha norte-americana, da classe Los Angeles, tem 110 m de
comprimento e um diâmetro de casco de 10 m (Figura 1.15). Suponha que o subma-
rino tenha a parte superior lisa com área A = 1100 m2 e que a densidade da água do
mar seja 1024 kg/m2.

PROBLEMA
Qual é a força total empurrando para baixo sobre a parte superior do submarino na
profundidade de mergulho de 250 m?

SOLUÇÃO
A pressão no interior do submarino é a pressão atmosférica normal, p0. De acordo
Figura 1.15 Submarino navegando na superfície. com a equação 1.8, a pressão à profundidade de 250 m é dada por p = p0 + ␳gh. Logo,
a diferença de pressão entre o interior e o exterior do submarino é
1.2 Exercícios
de sala de aula ⌬p = ␳gh = (1024 kg/m3)(9,81m/s2)(250m) = 2,51 ⋅ 106 N/m2 = 2,51 MPa,
Um esfera de aço, diâmetro 0,250 ou aproximadamente 25 atm.
m, está submersa no oceano a Multiplicar a área pela pressão nos dá a força total; de acordo com a equação 1.5, encontra-
uma profundidade de 500,0 m. mos a força total de
Qual é a variação percentual no
volume da esfera? O módulo vo- F = ⌬pA = (2,51 ⋅ 106 N/m2)(1100 m2) = 2,8 ⋅ 109 N.
lumétrico do aço é 160·109 Pa.
Esse número é assombrosamente grande e corresponde ao peso de uma massa de aproximada-
a) 0,0031% d) 0,55% mente 280.000 toneladas métricas!
b) 0,045% e) 1,5%
c) 0,33%

y Pressão manométrica e barômetros


p0
h A pressão p na equação 1.8 é uma pressão absoluta, o que significa que ela inclui a pressão do
líquido, bem como a pressão do ar acima dele. A diferença entre a pressão absoluta e a pressão
do ar atmosférico é chamada de pressão manométrica. Por exemplo, um manômetro usado
para medir a pressão do ar em um pneu é calibrado de maneira que a pressão atmosférica seja
zero. Quando o manômetro mede a pressão do ar comprimido do pneu, ele mede a pressão
p0
adicional presente no pneu. Na equação 1.8, a pressão manométrica é ␳gh.
0 Um aparelho simples para medir a pressão atmosférica é o barômetro de mercúrio (Figura
1.16). Você pode construir um pegando um tubo longo de vidro, fechado em uma extremidade,
enchendo-o com mercúrio e invertendo sua posição, de modo que a extremidade aberta fique
dentro de uma vasilha de mercúrio. O espaço acima do mercúrio é um vácuo e, assim, tem
Figura 1.16 Um barômetro de mer-
pressão zero. A diferença na altura entre a parte de cima do mercúrio no tubo e a parte de cima
cúrio mede a pressão atmosférica p0.

_Livro_Bauer_Vol_2.indb 16 09/08/12 11:10


Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 17

do mercúrio na vasilha, h, pode ser relacionada à pressão atmosférica, p0, usando a equação 1.7, y
com p2 = p1 + ␳g(y1 – y2), y2 – y1 = h, p2 = 0 e p1 = p0: p0

p0 = ␳gh.
Note que a medição da pressão atmosférica pelo uso de um barômetro de mercúrio depende do
valor local de g. A pressão atmosférica é frequentemente expressa em milímetros de mercúrio
(mmHg), correspondendo à diferença de altura h. O torr equivale a 1 mmHg, então, a pressão pg y1  0
atmosférica padrão é 760 torr, ou 29,92 in, de mercúrio (101,325 kPa). h
y2  h
Um manômetro de tubo aberto mede a pressão manométrica de um gás. Ele consiste em
um tubo em forma de U, parcialmente cheio com um líquido, como mercúrio (Figura 1.17).
A  extremidade fechada do manômetro é conectada ao recipiente que contém o gás, cuja
pressão manométrica, pg, está sendo medida, e a outra extremidade está aberta, experimentan-
do a pressão atmosférica, p0. Usando a equação 1.7, com y1 = 0, p1 = p0, y2 = –h, e p2 = p, onde p é Figura 1.17 Um manômetro de tubo
a pressão absoluta do gás no recipiente, obtemos p = p0 + ␳gh, a relação pressão-profundidade aberto mede a pressão manométrica
de um gás.
derivada anteriormente. A pressão manométrica do gás no recipiente é, então,
pg = p – p0 = ␳gh. (1.9)
Observe que a pressão manométrica pode ser positiva ou negativa, ou seja, o ar dentro de um
pneu inflado de um carro tem pressão manométrica positiva, enquanto que na extremidade de
um canudo usado para tomar um refrigerante, por exemplo, a pressão manométrica é negativa.

Relação da altitude barométrica para gases


Na derivação da equação 1.8, fizemos uso da incompressibilidade dos líquidos. Entretanto, se o
fluido é um gás, não podemos usar essa hipótese. Por isso,vamos começar outra vez, com uma
fina camada de fluido em uma coluna de fluido. A diferença de pressão entre as superfícies su-
perior e inferior é o resultado negativo do peso da camada fina de fluido dividido por sua área:

(1.10)

O sinal negativo reflete o fato de que a pressão decresce com o aumento da altitude (h), desde
que o peso da coluna de fluido acima da camada possa ser reduzido. Até agora, nada é diferente
da derivação para a incompressibilidade fluida. Contudo, para fluidos compressíveis, a densi-
dade é proporcional à pressão:

(1.11)

Essa relação, estritamente falando, é verdadeira para um gás ideal em temperatura constante,
como veremos no Capítulo 7. Mas, se combinarmos as equações 1.10 e 1.11, obtemos

Tomando o limite como ⌬h → 0, temos

Esse é um exemplo de equação diferencial e precisamos encontrar uma função cuja derivada
seja proporcional à própria função, o que nos leva a uma função exponencial:

p(h) = p0e –h␳0g/p0. (1.12)


É fácil convencer-se de que a equação 1.12 é, de fato, uma solução para a equação diferen-
cial precedente, simplesmente tomando a derivada em relação a h. A equação 1.12 é, às vezes,
chamada de fórmula da pressão barométrica e relaciona a pressão e a altitude para gases.
Tal fórmula somente é aplicada enquanto a temperatura não variar como função da altitude
e enquanto a aceleração gravitacional puder ser dita constante. (Consideraremos o efeito da
variação da temperatura quando discutirmos a Lei do Gás Ideal, no Capítulo 7.)

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18 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

Pontos dos dados reais Podemos obter uma fórmula para a densidade do ar, ␳, como uma função de altitude, pela
Gráfico de ␳(h)  ␳0eh␳0 g/p0
1 combinação da equação 1.11 e 1.12:
␳(h) = ␳0e –h␳0g/p0. (1.12)
␳ar (kg/m3)

103 Mesmo que os resultados obtidos com essa equação sejam somente aproximados, eles con-
cordam com os dados atmosféricos reais, como mostrado na Figura 1.18, onde ␳(h) foi posto
no gráfico usando g = 9,81 m/s2, p0 = 1,01 ⋅ 105 Pa, pressão do ar ao nível do mar (h = 0) e ␳0
106
= 1,229 kg/m3, densidade do ar ao nível do mar. Como você pode ver, a concordância é muito
próxima ao limite superior da estratosfera, cerca de 50 km acima do solo.
109
0 30 60 90 120
h (km)
EXEMPLO 1.3 Pressão do ar sobre o Monte Everest
Figura 1.18 Comparação de valor À medida que os alpinistas aproximam-se do pico da montanha mais alta da Terra, o Monte Everest,
para a densidade do ar pelo gráfico eles geralmente usam equipamento para respiração. A razão para isso é que a pressão do ar é muito
da equação 1.13 (linha azul) com os
baixa para os pulmões dos alpinistas, que estão acostumados às condições próximas ao nível do mar.
dados reais da atmosfera (pontos ver-
melhos).
PROBLEMA
Qual é a pressão do ar no topo do Monte Everest (Figura 1.19)?

SOLUÇÃO
Essa é a solução onde usamos a fórmula da pressão barométrica (equação 1.12). Pri-
meiramente, anotamos as constantes: p0 = 1,01 ⋅ 105 PA, a pressão do ar ao nível do
mar, e ␳0 = 1,229 kg/m3, a densidade do ar ao nível do mar. Então, encontramos o
inverso da parte constante do expoente na equação 1.12:

Podemos, então, reescrever a equação 1.12 como


p(h) = p0e–h/(8.377 m).
Figura 1.19 O Monte Everest é o pico mais alto
A altura do Monte Everest é de 8.850 m. Logo, obtemos
da Terra, com 8.850 m (29.035 pés).
p(8.850 m) = p0e–8.850/8.377 = 0,348p0 = 35 kPa.
A pressão do ar calculada no topo do Monte Everest é somente 35% da pressão do ar ao nível do
1.3 Exercícios mar. (A pressão real é ligeiramente menor, principalmente devido aos efeitos da temperatura.)
de sala de aula
Se você desce um túnel de uma
mina abaixo do nível do mar, a Você não precisa viajar até o topo do Monte Everest para sentir a variação na pressão do
pressão do ar ar com a altitude. Você já dever ter sentido, provavelmente, seus ouvidos “estalarem” enquanto
a) diminui linearmente. dirigia pelas montanhas. Esse efeito fisiológico de percepção da pressão sobre os tímpanos é
resultado de um desajuste da pressão interna de seu corpo em resposta à variação da pressão
b) diminui exponencialmente. externa devido à variação na altitude.
c) aumenta linearmente.
d) aumenta exponencialmente.
Princípio de Pascal
Se uma pressão é exercida sobre uma parte de um fluido incompressível, essa pressão será
transmitida para todas as partes do fluido sem perdas. Esse é o Princípio de Pascal, que pode
ser apresentado como segue:

Quando uma variação na pressão ocorre em qualquer ponto de um fluido confinado, a


mesma variação na pressão ocorre em cada ponto no fluido.

O Princípio de Pascal é a base para vários equipamentos hidráulicos modernos, como os


freios dos carros, grandes máquinas de terraplenagem e elevadores para automóveis.
Ele pode ser demonstrado tomando-se um cilindro parcialmente cheio de água, com um
pistão sobre a parte superior da coluna de água e um peso sobre o pistão (Figura 1.20). A
pressão do ar e o peso exercem uma pressão, pt, sobre a coluna de água. A pressão, p, na pro-
fundidade h é dada por
p = pt + ␳gh.

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Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 19

Devido à água poder ser considerada incompressível, se um segundo peso for adicionado ao
pistão, a variação na pressão, ⌬p, na profundidade h resulta somente da variação na pressão, ⌬pt,
em cima da água. A densidade da água e a profundidade não variam; então, podemos escrever
⌬p = ⌬pt . Peso
pt
Esse resultado não depende de h, por isso, ele deve valer para todas as posições no líquido. Pistão
Agora, considere dois pistões conectados dentro de cilindros cheios de óleo, como mos- h
trado na Figura 1.21. Um pistão tem área Aentrada e o outro pistão área Asaída, com Aentrada < Asaída. Água p
A força, Fentrada é exercida sobre o primeiro pistão, produzindo uma variação da pressão no óleo.
Essa variação é transmitida para todos os pontos do óleo, incluido os pontos adjacentes ao
segundo pistão. Podemos escrever Figura 1.20 Cilindro parcialmente
cheio de água, com um pistão colo-
cado sobre a água e um peso posto
sobre o pistão.

ou

(1.14)

Por que Asaída é maior do que Aentrada, Fsaída é maior do que Fentrada. Assim, a força aplicada ao pri-
meiro pistão é ampliada. Esse fenômeno é a base dos equipamentos hidráulicos que produzem
grandes forças de saída com pequenas forças de entrada.
A quantidade de trabalho realizado sobre o primeiro pistão é a mesma quantidade de tra-
balho realizado pelo segundo pistão. Para calcularmos o trabalho realizado, precisamos calcu-
lar a distância sobre a qual as forças atuam. Para ambos os pistões, o volume V de óleo incom-
pressível, que é movido, é o mesmo:
1.4 Exercícios
V = hentradaAentrada = hsaídaAsaída, de sala de aula
onde hentrada é a distância em que o primeiro pistão se move e hsaída é a distância em que o segun- Um carro com massa de 1.600
do pistão se move. Podemos ver que kg está suspenso por um eleva-
dor hidráulico, como ilustrado
(1.15) na Figura 1.21. O pistão maior
suportando o carro tem diâme-
tro de 25,0 cm. O pistão menor
o que significa que o segundo pistão se move em uma distância menor do que o primeiro
tem um diâmetro de 1,25 cm.
pistão, porque Aentrada < Asaída. Podemos encontrar o trabalho realizado usando o fato de que o Que força deve ser exercida so-
trabalho é a força vezes distância, e usando as equações 1.14 e 1.15: bre o pistão menor para supor-
tar o carro?
a) 1,43 N d) 23,1 N
b) 5,22 N e) 39,2 N
Assim, esse equipamento hidráulico transmite uma força maior sobre uma pequena distância.
No entanto, nenhum tabalho adicional é realizado. c) 10,2 N

Fsaída, Asaída

Fentrada, Aentrada

hsaída

hentrada

Óleo Figura 1.21 Aplicação do Princípio


de Pascal em um elevador hidráuli-
co. (A escala do elevador relativa ao
carro está fora de proporção a fim de
mostrar os detalhes essenciais mais
claramente.)

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20 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

1.5 Princípio de Arquimedes


Arquimedes (287-212 a.C.) de Siracusa, Sicília, foi um dos maiores matemáticos de todos os
tempos. O rei Hieron, de Siracusa, mandou fazer uma nova coroa e cedeu a um ferreiro a exata
quantidade de ouro necessária à criação do objeto. Quando a coroa estava terminada, tinha o
peso correto, mas Hieron suspeitou de que o ferreiro tivesse usado um pouco de prata na coroa
no lugar do valioso ouro. Hieron não pôde provar isso e foi à procura de Arquimedes para aju-
dá-lo. De acordo com a lenda, a resposta foi encontrada quando Arquimedes se preparava para
tomar seu banho e notou que o nível da água subia e seu peso aparente diminuia, à medida que
sentava dentro da banheira. Ele, então, correu nu pelas ruas de Siracusa até o palácio, gritando
y
“Eureka!” (“eu achei”, em grego). Usando sua descoberta, ele foi capaz de demonstrar a troca
do ouro pela prata e, assim, provou o roubo praticado pelo ferreiro. Mais adiante, nesta seção,
Ar examinaremos os métodos de Arquimedes para resolver esse problema, após considerarmos a
força de empuxo e o deslocamento de fluidos.
FB
0

Água
Força de empuxo
Fres A Figura 1.22 mostra um cubo de água dentro de um grande volume de água. O peso do cubo
mg
é sustentado pela força resultante da diferença de pressão entre a superfície superior e inferior
do cubo, como indica a equação 1.6, a qual podemos reescrever como
Figura 1.22 O peso de um cubo de
aço submerso em água é maior do F2 – F1 = mg = FB, (1.16)
que a força de empuxo atuando sobre onde FB é definida com a força de empuxo atuando sobre o cubo de água. Para o caso do cubo
o cubo. de água, a força de empuxo é igual ao peso da água. Em geral, a força de empuxo atuando sobre
um corpo submerso é dada pelo peso do fluido deslocado,
FB = mf g.
Agora, suponha que o cubo de água seja substituído por um cubo de aço (Figura 1.22).
Devido ao cubo de aço ter o mesmo volume e estar na mesma profundidade, como o cubo de
água, a força de empuxo permanece a mesma. Entretanto, o cubo de aço pesa mais do que o
cubo de água, então a componente y da força resultante que atua sobre o cubo de aço é
Fres,y = FB – maço g < 0.
Essa força resultante para baixo faz com que o cubo afunde.
Se o cubo de água for substituído por um cubo de madeira, o peso do cubo de madeira é
menor do que aquele do cubo de água, então, a força resultante será para cima, e o cubo de ma-
deira subirá em direção à superfície. Se um corpo for menos denso do que a água e for colocado
(a) nela, ele flutuará. Um corpo de massa mcorpo afundará na água até que o peso do deslocamento
de água se iguale ao peso do corpo:
FB = mf g = mcorpo g.
Um corpo flutuante desloca seu próprio peso de fluido. Essa afirmação é verdadeira in-
dependentemente da quantidade de fluido presente. Para deixarmos mais claro, a Figura 1.23
mostra um navio em uma eclusa. A parte (a) mostra o navio na posição baixa e a parte (b) na
posição alta. Em ambas as posições, o navio flutua com a mesma porção abaixo da linha d’água.
O que importa para a força de empuxo não é a quantidade de água na eclusa (azul-claro na
figura), mas a quantidade de água deslocada pela porção do navio sob a água (comporta azul
e marrom na figura). Claramente, na Figura 1.23a, há muito menos água na eclusa do que o
volume que foi deslocado pelo navio. A única coisa que importa é o peso da água que deveria
estar onde o navio está, não o peso da água ainda na eclusa. (De fato, com um recipiente da
forma correta, mesmo um simples galão de água poderia ser “o bastante para fazer flutuar um
navio de guerra”.)
Se um corpo que tem um alta densidade em relação à água for colocado sob a água, ele ex-
perimentará uma força de empuxo para cima, que é menor do que seu peso. Seu peso aparente
(b)
é, então, dado por
Figura 1.23 Um navio numa eclusa:
(a) posição baixa; (b) posição alta. Peso real – força de empuxo = peso aparente, (1.17)

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Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 21

EXEMPLO 1.4 Iceberg flutuando


Icebergs, tal como o mostrado na Figura 1.24a, são um sério perigo para os navios em viagem pelo
oceano. Muitos navios, como o famoso Titanic, afundaram após colidirem com icebergs. O pro-
blema é que a maior porção do volume do iceberg está escondida abaixo da linha d’água e, assim,
praticamente invisível aos marinheiros, como ilustrado na Figura 1.24b.

Figura 1.24 (a) Um iceberg flutu-


ando no oceano. (b) Ilustração mos-
trando o volume do iceberg acima e
(a) (b) abaixo da linha d’água.

PROBLEMA
Qual porção do volume de um iceberg, flutuando na água do mar, é visível acima da superfície?

SOLUÇÃO
Façamos Vt o volume total do iceberg e Vs o volume submerso do iceberg. A fração, f, acima da
água é, então,

Em função de o iceberg estar flutuando, o volume submerso deve deslocar um volume de água
do mar que tenha o mesmo peso do iceberg inteiro. A massa do iceberg, mt, pode ser calculada
pelo volume do iceberg e pela densidade do gelo ␳gelo = 0,917 g/cm3. A massa da água do mar
deslocada pode ser calculada pelo volume submerso e pela conhecida densidade da água do mar,
␳água mar = 1,024 g/cm3. Equacionamos os dois pesos:
␳geloVt g = ␳água marVs g,
ou
␳geloVt = ␳água marVs.
Podemos rearranjar essa equação para termos

Agora, podemos encontrar a fração acima d’água:

ou cerca de 10%. A Figura 1.24b mostra um iceberg com aproximadamente 10% de seu volume
acima da linha d’água.

Um interessante experimento sobre empuxo pode ser realizado quando você derrama
água (com corante vermelho) em um recipiente (Figura 1.25a) e coloca um densímetro dentro
dele (Figura 1.25b). O densímetro está 90% submerso, então, sua densidade média é de 90% da
densidade da água, como o iceberg no Exemplo 1.4. Seguindo, você derrama solvente de tinta (a) (b) (c)
sobre a superfície da água. O solvente não se mistura com a água e tem uma densidade igual
Figura 1.25 Experimento do empu-
a 80% da densidade da água, ficando em repouso sobre a superfície da água. Se você coloca o
xo com dois líquidos: (a) água com
densímetro dentro de um recipiente com solvente de tinta, ele submerge até o fundo. E o que
corante vermelho; (b) um densímetro
acontece quando você derrama solvente de tinta sobre a superfície da água com o densímetro já colocado na água; (c) solvente de
dentro d’água? O densímetro subirá à superfície, ficará no mesmo nível ou afundará? tinta adicionado acima da água.

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22 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

A resposta é mostrada na Figura 1.25c. O densímetro sobe à superfície. Por quê? Nos dois
líquidos, duas forças de empuxo estão presentes – uma da porção do volume do densímetro
submerso na água e a outra da porção do volume do densímetro submerso no solvente de
tinta. Logo, para gerar a mesma força de empuxo, menos volume do densímetro precisa ficar
submerso na água, quando o solvente de tinta também estiver presente, do que quando o ar e
nenhum solvente ficam na superfície da água.

EXEMPLO 1.5 Um balão de ar quente


Um típico balão de ar quente tem um volume de 2.200 m3. A densidade do ar, na temperatura
de 20 °C, é 1,205 kg/m3. A densidade do ar quente dentro do balão, na temperatura de 100 °C, é
0,946 kg/m3.

PROBLEMA
Que peso o balão de ar quente, mostrado na Figura 1.26, pode levantar (contando o próprio
balão)?

SOLUÇÃO
O peso do ar a 20 °C que o balão desloca é igual à força de empuxo:
FB = ␳20 Vg.
O peso do ar quente dentro do balão é
Wbalão = ␳100 Vg.
Figura 1.26 Balão de ar quente em
voo. O peso que pode ser levantado é

1.3 Pausa para teste


Suponha que o balão do Exem-
plo 1.5 foi cheio com hélio em Note que o peso deve incluir o envelope do balão, a cesta e o combustível, bem como qualquer
vez de ar quente. Que peso po- carga útil, como o piloto e os passageiros.
deria o balão cheio com hélio
levantar? A densidade do hélio
é 0,164 kg/m3.
Determinação da densidade
Vamos retornar ao método de descoberta de Arquimedes, que buscou saber se a coroa do rei
era de ouro puro ou uma mistura de prata e ouro. Visto que a densidade do ouro é 19,3 g/cm3 e
a densidade da prata é somente 10,5 g/cm3, Arquimedes precisava medir a densidade da coroa
para descobrir que parte dela era ouro e que parte era prata. Mas, como ele poderia medir a
densidade? Ele precisava submergir a coroa na água e determinar o volume de subida do nível
da água. Pesando a coroa dava-lhe a massa, e dividindo a massa pelo volume resultou na den-
sidade, ou seja, a resposta que o rei procurava.

EXEMPLO 1.6 Encontrando a densidade de um corpo


O método mostrado na Figura 1.27 pode ser utilizado para determinar a densidade de um corpo
apenas pela pesagem, sem a necessidade de medir os níveis de água. Esse método geralmente é
mais preciso e, assim, o preferido. Primeiro, pesamos um béquer contendo água (com corante
verde adicionado), cuja densidade é assumida como 1.000 kg/m3, como mostrado na parte (a).
A massa do béquer mais a água é determinada como m0 = 0,437 kg. Na parte (b), submergimos
uma bola de metal, suspensa por uma corda, na água, tomando o cuidado de não deixar a bola
tocar o fundo do béquer. A nova massa total para esse arranjo é determinada na parte (c) como
m1 = 0,458 kg. Finalmente, na parte (d), fazemos a bola repousar no fundo do béquer, sem puxar
a corda. Agora, a massa é determinada como m2 = 0,596 kg.

PROBLEMA
Qual é a densidade da bola de metal?

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Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 23

SOLUÇÃO
A Figura 1.28 mostra o diagrama de forças para as diferentes partes da Figura 1.27. O diagrama
mais à esquerda mostra a bola suspensa pela corda em equilíbrio estático, com seu peso –mbgŷ,
equilibrado pela tensão na corda. O segundo diagrama da Figura 1.28 (a) corresponde à Figura
1.27a, e mostra as únicas forças atuando sobre o recipiente cheio de água: seu peso, –mwgŷ, e a for-
ça normal, m0 gŷ. O valor de m0 foi determinado como resultado da primeira medida. O terceiro
diagrama, da esquerda para direita, na Figura 1.28, corresponde às partes (b) e (c) da Figura 1.27 e
mostra o diagrama de forças para a bola submersa, bem como para o recipiente. Ele ilustra o efeito
da força de empuxo, , sobre a bola e sobre o recipiente cheio. Note que a bola experimenta uma
força de empuxo para cima e, assim, o recipiente deve experimentar uma força de módulo igual na
(a)
direção oposta (para baixo), ou , de acordo com a Terceira Lei de Newton. A força normal re-
querida para manter o recipiente em equilíbrio nessa situação é m1gŷ. O diagrama de forças mais à
direita na Figura 1.28 corresponde à parte (d) da Figura 1.27, e mostra a força normal como m2gŷ.

T T
FB

mbgŷ

mbgŷ
m2gŷ
m0gŷ m1gŷ
mwgŷ mwgŷ (b)
mwgŷ FB
mbgŷ

(a) (b) e (c) (d)

Figura 1.28 Diagrama de forças para diferentes partes do experimento.

A massa combinada da água e do béquer, m0, foi determinada na parte (a) pelo método ilustrado
na Figura 1.28. Na parte (c), medimos a soma da massa de água deslocada mais o volume (ainda
desconhecido) V da bola de metal. A massa da água deslocada é mw = ␳wVb e a massa total medida
na parte (c) é
m1 = m0 + ␳wVb. (i)
Finalmente, a massa medida na parte (d) é a massa combinada da bola, do béquer e da água. Para (c)
a massa da bola, podemos, outra vez, usar o produto da densidade pelo volume:
m2 = m0 + mb = m0 + ␳bVb. (ii)
Combinando as equações (i) e (ii), temos

Como você pode ver, o volume da bola foi anulado, e conseguimos obter a densidade da bola pela
densidade conhecida da água. Nossas três medidas, m0, m1 e m2, ficam:

(d)

Figura 1.27 Método para determi-


nação da densidade de um corpo de
metal.

1.5 Exercícios de sala de aula


Suponha que usemos a mesma configuração do Exemplo 1.6 e uma bola de mesmo tamanho, mas
com metade da densidade: pb = 3.785 kg /m3. A medição de m1 (a bola é segura por uma corda de
modo que fique sob a água sem tocar o fundo do béquer) produzirá
a) um valor menor b) o mesmo valor c) um valor maior
A medição da massa m2 (a bola está em repouso no fundo do béquer) produzirá
a) um valor menor b) o mesmo valor c) um valor maior

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24 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

1.6 Movimento do fluido ideal


Examinamos o comportamento dos fluidos em re-
pouso. Agora, vamos examiná-los em movimento.
O movimento dos fluidos reais é complicado e de
difícil descrição. Técnicas numéricas e computado-
res são frequentemente requeridos para calcular as
quantidades relacionadas ao movimento dos fluidos.
Nesta seção, consideramos os fluidos ideais que po-
dem ser tratados de maneira mais simples e ainda
nos dão importantes e relavantes resultados. Para
ser considerado ideal, um fluido deve exibir fluxo,
(a) (b) (c) que pode ser laminar, incompressível, não viscoso e
irrotacional.
Figura 1.29 (a) Fluxo laminar do rio Firehole, em Yellowstone; (b) transição do Fluxo laminar significa que a velocidade do
fluxo laminar para o turbulento na fumaça subindo; (c) fluxo turbulento nas quedas fluido em movimento, relativa a um ponto fixo no
d’água Upper Falls, no rio Yellowstone.
espaço, não varia com o tempo. Um rio correndo
suavemente exibe um fluxo laminar (Figura 1.29a).
A água em uma catarata exibe fluxo não laminar ou fluxo turbulento (Figura 1.29c). A fumaça
subindo exemplifica a transição do fluxo laminar para o turbulento (Figura 1.29b). A fumaça
quente inicialmente mostra fluxo laminar à medida que sobe. E, conforme continua subindo,
sua velocidade aumenta até o fluxo turbulento instalar-se.
v
Fluxo incompressível significa que a densidade do líquido não varia à medida que o lí-
Elemento de fluido quido flui. Um fluido não viscoso flui completamente livre. Alguns líquidos que não fluem
livremente são a massa de panqueca e a lava. A viscosidade de um fluido tem um efeito análogo
ao atrito. Um corpo movendo-se em um líquido não viscoso não experimenta força como a
de atrito, mas, se o mesmo corpo se move num fluido viscoso, fica sujeito à força de arrasto
Figura 1.30 Linhas de fluxo de um
fluido em escoamento laminar.
devido à viscosidade, força similar ao atrito. Um fluido viscoso fluindo perde energia cinética
de movimento, e esta é transformada em energia térmica. Admitimos que os fluidos ideais não
perdem energia conforme fluem.
Fluxo irrotacional significa que parte do fluido gira sobre seu próprio centro de massa. O
movimento rotacional de uma pequena parte do fluido poderia indicar que a parte em rotação
tivesse energia rotacional, o que não ocorre em fluidos ideais.
O fluxo laminar pode ser descrito em termos de linhas de fluxo (Figura 1.30). Uma linha
de fluxo representa o caminho que um pequeno elemento de fluido toma. A velocidade, , do
pequeno elemento é sempre tangente à linha de fluxo. Note que as linhas de fluxo nunca se cru-
zam e, caso elas o fizessem, a velocidade do fluxo no ponto de cruzamento teria dois valores.

Equação de Bernoulli
O que fornece a sustentação que permite a um avião voar? Para entender esse fenômeno, você
pode fazer uma simples demonstração com duas latas de refrigerante e cinco canudinhos. Po-
Figura 1.31 Assoprando ar pelo o nha cada lata vazia sobre dois canudinhos, com um espaço de aproximadamente 1 cm entre
espaço entre as duas latas de refri- eles, como mostrado na Figura 1.31. Nesse arranjo, as latas são capazes de fazer movimentos
gerante. laterais de maneira relativamente mais fácil. Agora, usando o quinto canudinho, assopre ar
no espaço entre as duas latas. O que acontece? (Essa questão será respondida mais tarde nesta
seção.)
Para iniciarmos nosso estudo do fluido em movimento, vamos primeiro apresentar a
equação de continuidade. Considere um fluido ideal escoando com velocidade v em um reci-
piente ou tubo, com área de seção transversal A (Figura 1.32). Então, ⌬V é o volume de fluido
que escoa através do tubo durante um tempo ⌬t e é dado por
⌬V = A⌬x = Av⌬t.
Podemos escrever o volume do fluido passando em um dado ponto do tubo por unidade de
tempo como

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Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 25

Agora, considere um fluido ideal se deslocando em um tubo que tenha uma área de seção 1.6 Exercícios
transversal que varie (Figura 1.33). O fluido está inicialmente escoando com velocidade v1 atra- de sala de aula
vés de uma parte do tubo com área de seção transversal A1. Na jusante, o fluido escoa com veloci-
dade v2 em uma parte do tubo com área de seção transversal A2. O volume do fluido ideal que en- Outra demonstração é feita
segurando duas folhas de papel
tra nessa seção do tubo, por unidade de tempo, deve igualar-se ao volume do fluido ideal saindo
paralelas entre si, separadas por
do tubo, por unidade de tempo, porque o fluido é incompressível e o tubo não tem vazamentos.
aproximadamente uma polega-
Podemos expressar o volume fluindo no primeira parte do tubo por unidade de tempo como da, e assoprando ar entre elas.
O que você espera do movimen-
to das folhas?
a) Elas se moverão para longe
e o volume fluindo na segunda parte do tubo por unidade de tempo, como uma da outra.
b) Eles permanecerão aproxima-
damente na mesma separação.

O volume de fluido passando por qualquer ponto do tubo por unidade de tempo deve ser o c) Elas se moverão para perto
mesmo em todas as partes do tubo. Do contrário, mais fluido seria, de algum modo, criado ou uma da outra.
destruído. Assim, temos
A1v1 = A2v2. (1.18)
Essa equação é chamada de equação de continuidade.
Podemos expressar a equação 1.18 como uma taxa de fluxo de volume constante, Rv: t: A v

RV = Av.
Admitindo um fluido ideal, cuja densidade não varia, podemos, também, expressar uma taxa t  t: A v
de fluxo de massa constante, Rm:
x
Rm = ␳Av. x x  x

A unidade no SI para a taxa de fluxo de massa é o quilograma por segundo (kg/s). Figura 1.32 Fluido ideal escoando
Vamos agora considerar o que acontece com a pressão em um fluido ideal, deslocando- através de um tubo com área de se-
ção transversal constante.
-se através de um tubo a uma taxa constante (Figura 1.34). Começamos pela aplicação da
conservação de energia ao fluido ideal escoando entre a parte mais baixa e a parte mais
alta do tubo. Na parte mais baixa, à esquerda do tubo, o fluido, de densidade constante,
␳, escoando, é caracterizado pela pressão p1, velocidade v1 e elevação y1. O mesmo fluido v2
v1
escoa através da região de transição para a parte mais alta, à direita do tubo. Aqui, o fluido
é caracterizado pela pressão p2, velocidade v2 e elevação y2. A relação entre as pressões e as A1
velocidades, nessa situação, é dada por A2

Figura 1.33 Fluido ideal escoando


(1.19) através de um tubo com área de se-
ção transversal variável.
Outro modo de escrever essa relação é

(1.20)

Essa é a Equação de Bernoulli. Se não há fluxo, v = 0 e a equação 1.20 é


equivalente à equação 1.8. y
Uma consequência da equação de Bernoulli torna-se evidente se y = 0,
o que significa que, em elevação constante,
p2,v2
y2
(1.21)

Da equação 1.21, podemos ver que, se a velocidade de movimento do flui-


do é aumentada, a pressão deve diminuir. A diminuição da pressão trans-
versa ao escoamento do fluido tem muitas aplicações práticas, incluindo a
medição da taxa de fluxo de um fluido e a criação de vácuo parcial. p1,v1
A Demonstração 1.1 apresenta a Equação de Bernoulli matematica- y1
mente. As únicas duas condições que entram nessa derivação são a lei da x
conservação de energia e a equação de continuidade, o que reafirma o x1 x2
fato básico de que o número de átomos em um fluido ideal é conservado. Figura 1.34 Fluido ideal escoando através de um tubo com
área de seção transversal variável e com elevação.

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26 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

DEMONSTRAÇÃO 1.1 Equação de Bernoulli


O trabalho realizado resultante sobre o sistema, W, é igual à variação da energia cinética, ⌬K, do
fluido escoando entre a seção transversal inicial e final do tubo, na Figura 1.34.
W = ⌬K. (i)
A variação na energia cinética é dada por

(ii)

onde ⌬m é a quantidade de massa entrando na parte mais baixa e saindo na parte mais alta do
tubo em um tempo ⌬t. O fluxo de massa por unidade de tempo é a densidade do fluido vezes a
variação do volume por unidade de tempo:

Assim, podemos reescrever a equação (ii) como

O trabalho realizado pela gravidade sobre o fluido escoando é dado por

(iii)

sendo que o sinal negativo aparece, porque o trabalho negativo está sendo feito pela gravidade
sobre o fluido quando y2 > y1. Podemos, também, reescrever a equação (iii) em termos do fluxo de
volume ⌬V e da densidade do fluido:

O trabalho realizado pela força F, atuando sobre uma distância, ⌬x, é dado por W = F⌬x, que,
nesse caso, podemos expressar como

porque a força aparece da pressão no fluido. Podemos, então, expressar o trabalho realizado sobre
o fluido pela pressão forçando o fluido a escoar dentro do tubo como p1⌬V, e o trabalho realizado
sobre o fluido saindo como –p2⌬V, dando o trabalho realizado como um resultado da pressão,

p1⌬V é positivo porque aparece do fluido à esquerda do escoamento, exercendo força sobre o
fluido que entra no tubo. p2⌬V é negativo porque aparece do fluido à direita do escoamento, exer-
cendo uma força sobre o fluido que sai do tubo. Usando a equação (i) e W = Wp + Wg, obtemos

a qual podemos simplificar para

Essa é a Equação de Bernoulli.

Aplicações da Equação de Bernoulli


Agora que derivamos a Equação de Bernoulli, podemos retornar à demonstração da Figura
1.31. Se você fez a demonstração, descobriu que as duas latas de refrigerante movem-se uma
para perto da outra. Isso é o oposto do que a maioria das pessoas espera, ou seja, assoprar ar
no espaço entre as latas forçará seu afastamento. A Equação de Bernoulli explica esse surpreen-
dente resultado. Uma vez que é constante, quanto maior a velocidade do ar se movi-
mentando entre as latas, mais a pressão diminuirá. Assim, a pressão do ar entre as latas é menor
do que a pressão em outras partes das latas, fazendo com que se aproximem uma da outra. Esse

_Livro_Bauer_Vol_2.indb 26 09/08/12 11:10


Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 27

é o efeito Bernoulli. Outra maneira de demonstrar o mesmo efeito é segurar duas folhas de pa-
pel paralelas entre si, separadas por mais ou menos uma polegada, e assoprar ar entre elas. As
folhas serão empurradas uma para perto da outra.
Motoristas de caminhão conhecem esse efeito: quando dois caminhões de 18 rodas, cada
um puxando o típico reboque em forma de caixa retangular, andam na estrada, próximos um
ao outro, em alta velocidade, os motoristas precisam prestar atenção na distância que os se-
parara, porque o efeito Bernoulli pode fazer com que os reboques sejam empurrados um em
direção ao outro.
Projetistas de carros de corrida também fazem uso do efeito Bernoulli. A maior limitação
para a aceleração de um carro de corrida é a força de atrito máxima entre os pneus e a pista.
Essa força de atrito, por sua vez, é proporcional à força normal. A força normal pode ser au-
mentada, potencializando a massa do carro, mas isso anula o objetivo, porque uma massa
maior significa menor aceleração, de acordo com a Segunda Lei de Newton. Um meio muito
mais eficiente para aumentar a força normal é desenvolver uma grande diferença de pressão
entre a superfície superior e inferior do carro. De acordo com a equação de Bernoulli, isso pode
ser realizado, fazendo o ar se mover mais rápido debaixo do carro do que por cima. (Outro
modo seria usar uma asa para deflexionar o ar para cima e, assim, criar uma força para baixo.
Contudo, as asas foram eliminadas das corridas de Fórmula 1.)
Vamos reconsiderar a questão do que faz um avião voar. A Figura 1.35 mos-
tra as forças atuantes sobre um avião voando com velocidade e altitude constan- Fl
tes. O empuxo, , é gerado pelos motores a jato recebendo ar pela frente e ejetan- Ft
Fd
do-o para fora, por trás. Essa força é orientada para frente, em relação ao avião. A
força de arrasto, , devido à resistência do ar, está orientada para trás, em relação
ao avião. À velocidade constante, essas duas forças se anulam: . As forças Fg
atuando na orientação vertical são peso, , e a de sustentação, , a qual é provida
quase que exclusivamente pelas asas. Se o avião voa em altitude constante, essas Figura 1.35 Forças atuando sobre um avião em voo.
duas forças também se anulam: . Uma vez que um Boeing 747, completa-
mente carregado e abastecido, tem geralmente uma massa de 350 toneladas mé-
tricas, seu peso é 3,4 MN. Assim, a sustentação provida pelas asas para manter o avião voando
deve ser muito grande. A título de comparação, o empuxo máximo produzido pelos quatro
motores do 747 é de 0,9 MN.
A noção considerada mais comum sobre o que gera a sustentação que permite ao avião
manter-se no ar é mostrada na Figura 1.36a: a asa se move através do ar e força as linhas de v
fluxo do ar acima dela a fazerem um caminho maior. Assim, o ar acima da asa precisa mover-se
em alta velocidade para se reencontrar com o ar que se move por baixo da asa. A equação de (a)
Bernoulli nos diz, então, que a pressão sobre o lado de cima da asa é menor do que no lado de
baixo da asa. Visto que a soma das áreas das superfícies das duas asas do Boeing 747 é 511,0 m2,
uma diferença de pressão de ⌬p = F/A = (3,4 MN)/(511,0 m2) = 6,6 kPa (0,66% da pressão at- v
mosférica ao nível do mar) entre a parte inferior e a parte superior das asas seria requerida para
essa noção ter um resultado quantitativo.
Uma interpretação física alternativa é mostrada na Figura 1.36b. Nessa visão, as moléculas (b)
de ar são deflexionadas para baixo pelo lado inferior da asa e, de acordo com a Terceira Lei de Figura 1.36 Duas visões extremas
Newton, a asa experimenta uma força para cima que fornece a sustentação. Para funcionar, a do processo que cria a sustentação
parte inferior da asa precisa ter um ângulo diferente de zero (o ângulo de ataque) relativo à na asa de um avião: (a) o efeito Ber-
horizontal. (Para alcançar essa posição, o nariz do avião aponta levemente para cima, então, o noulli; (b) a Terciera Lei de Newton.
motor de empuxo também contribui para a sustentação. Alternativamente, o ângulo de ataque
pode também ser entendido como a variação dos flaps nas asas.)
Essas simples ideias contêm elementos da realidade, e os efeitos contribuem para a susten-
tação em diferentes graus, dependendo do tipo de aeronave e da fase do voo. O efeito newto-
niano é mais importante durante a decolagem, a aterrissagem e em todas as fases do voo de
aviões de caça (que têm uma área de asa menor). Entretanto, em geral, o ar não atua como um
fluido ideal incompressível, à medida que flui ao redor da asa de um avião. O ar é comprimido
na borda dianteira da asa e descomprimido na borda traseira. Esse efeito de compressão-des-
compressão é mais forte no lado de cima da asa, criando uma pressão resultante maior no lado
inferior da asa e fornecendo sua sustentação. O projeto de asas para aeronaves está ainda sob
intenso estudo e pesquisas em andamento procuram desenvolver novos desenhos de asas que
possam produzir maior eficiência em relação ao combustível e à estabilidade.
Podemos aplicar considerações similares para o voo de uma bola em curva, no beisebol.
A bola em curva tem giro lateral e, se um pitcher (lançador) canhoto lhe der uma forte rotação

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28 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

horária (como visto acima), a bola se desviará para a direita em relação a uma linha reta (como
v visto pelo pitcher) Na Figura 1.37, a velocidade relativa entre o ar e um ponto sobre a superfí-
cie esquerda da bola é maior do que a velocidade relativa entre o ar e um ponto na superfície
direita. A aplicação da equação de Bernoulli deveria nos fazer esperar que a pressão fosse mais
baixa sobre o lado esquerdo da bola do que sobre o direito, fazendo, assim, a bola mover-se
␻ Fres para a esquerda.
A interpretação usando a Terceira Lei de Newton (Figura 1.37a) chega mais perto da expli-
(a)
cação correta, por que uma bola de beisebol girando no sentido horário experimenta uma de-
flexão no mesmo sentido. A figura mostra o ponto de vista de cima da bola girando no sentido
horário, movendo-se de baixo para cima da página, com as moléculas de ar que a bola encontra
representadas pelas setas vermelhas. Conforme as moléculas de ar colidem com a superfície da
v
bola, aquelas sobre o lado onde a superfície está girando em direção a elas (lado esquerdo na Fi-
gura 1.37a) recebem um golpe lateral mais forte, ou impulso, do que aquelas sobre o outro lado.
Pela Terceira Lei de Newton, a força resultante de recuo sobre a bola a deflexiona na mesma
direção de sua rotação. Enquanto a explicação newtoniana fica na direção do efeito certo, esta
␻ Fres não é uma explicação bastante correta, porque as moléculas de ar em aproximação não atingem
a superfície não perturbada da bola, como é requerido para que esse modelo funcione.
Exatamente como a sustentação de um avião, o fenômeno da bola em curva tem uma ex-
(b)
plicação mais complexa. Uma esfera girando, ao mover-se através do ar, arrasta uma camada
Figura 1.37 Visão de cima de uma limite de ar junto a sua superfície. As moléculas de ar que encontram essa camada limite são
bola de beisebol girando no sentido arrastadas junto por alguma distância. Isso causa uma aceleração nas moléculas de ar no lado
horário e movendo-se de baixo para direito da bola, na Figura 1.37b, e aquelas no lado esquerdo retardam-se. A velocidade maior
cima da página: (a) interpretação do ar no lado direito indica uma pressão menor, em função do efeito Bernoulli, e causa uma
usando a Terceira Lei de Newton;
deflexão para direita. Isso é conhecido como o efeito Magnus.
(b) explicação envolvendo a camada
limite.
No tênis, um topspin faz a bola cair mais rápido do que uma bola batida sem giro; backspin
faz a bola voar mais longe. Ambos os tipos de efeitos ocorrem pela mesma razão mostrada para
a bola em curva no beisebol. Golfistas também usam backspin para fazer suas tacadas irem
mais longe. Uma bola de golfe bem batida terá um backspin de aproximadamente 4.000 rpm.
Sidespin, no golfe, faz a bola puxar, curvar, enfraquecer ou enviesar, dependendo da intensida-
de e direção do giro da bola. Incidentalmente, ondulações em uma bola de golfe são essenciais
para seu voo característico, porque causam turbulência ao redor da bola e, assim, reduzem a
resistência do ar. Mesmo o melhor profissional não seria capaz de bater em uma bola de golfe
sem ondulações a mais de 200 m.

EXEMPLO 1.7 Pulverizador

PROBLEMA
Se você apertar o cabo de um pulverizador (Figura 1.38), fará o ar fluir horizontalmente pela
abertura de um tubo que se estende para dentro do líquido, quase até o fundo do recipiente. Se
o ar está se movendo a 50,0 m/s, qual é a diferença de pressão entre a parte de cima do tubo e a
atmosfera? Admita que a densidade do ar seja ␳ = 1,20 kg/m3.

SOLUÇÃO
Antes de você apertar o cabo, a velocidade do fluxo de ar é v0 = 0. Usando a Equação de Bernoulli
Figura 1.38 Pulverizador para apli- para uma ínfima diferença de altura (equação 1.21), encontramos
cação de líquidos na forma de uma
fina névoa.

Resolvendo essa equação para a diferença de pressão, p–p0, sob a condição de v0 = 0, chegamos em

Logo, vemos que a pressão baixa para 1,50 kPa, fazendo com que o líquido seja empurrado para
cima e se fragmente em pequenas gotículas na corrente de ar, formando uma névoa.
O mesmo princípio é usado em antigos carburadores, que misturavam combustível com ar em
velhos carros. (Nos carros mais novos, o carburador foi substituído por injetores de combustíveis.)

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Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 29

PROBLEMA RESOLVIDO 1.2 Tubo de Venturi


Em pequenos aviões, um aparelho chamado tubo de Venturi é usado para criar uma diferença de
pressão que pode ser usada para acionar instrumentos de navegação baseados em giroscópios. O
tubo de Venturi é montado fora da fuselagem, em uma área de fluxo de ar livre. Suponha que um
tubo de Venturi tenha uma abertura circular em uma extremidade de diâmetro 10,0 cm, estreitan-
do-se para uma abertura circular de diâmetro 2,50 cm e voltando, na outra extremidade, ao diâmetro
original de 10,0 cm. Qual é a diferença de pressão entre a abertura de 10,0 cm e a região de estreita-
mento do tubo de Venturi, admitindo que o avião esteja voando a uma velocidade constante de 38,0
m/s em baixa altitude, onde a densidade do ar pode ser a do nível do mar (␳ = 1,30 kg/m3) a 5 °C?

SOLUÇÃO
PENSE
A equação de continuidade (equação 1.18) nos diz que o produto da área pela velocidade do fluxo
através do tubo de Venturi é constante. Podemos, então, relacionar a área de abertura, a área da
região mais estreita, a velocidade do ar entrando no tubo de Venturi e a velocidade do ar na região
mais estreita. Usando a Equação de Bernoulli, relacionamos a pressão de entrada à pressão na
região mais estreita.

DESENHE p1 p2 p1
Um tubo de Venturi é mostrado na Figura 1.39

PESQUISE
A equação de continuidade é v1 v2 v1
A2
A1v1 = A2v2.
A Equação de Bernoulli nos diz que A1

Figura 1.39 Um tubo de Venturi com ar escoando através


dele.
SIMPLIFIQUE
A diferença de pressão entre a abertura do tubo de Venturi e a área mais estreita é encontrada pelo
rearranjo da Equação de Bernoulli:

Resolvendo a equação de continuidade para v2 e substituindo este resultado na Equação de Ber-


noulli rearranjada, temos a diferença de pressão, ⌬p:

Visto que ambas as áreas são circulares, temos e e, então,


, o que nos conduz a

CALCULE
Colocando os valores numéricos, temos

onde usamos ␳ = 1,30 kg/m3 como a densidade do ar.

ARREDONDE
Reportamos nosso resultado com três algarismos significativos
⌬p = 239,0 kPa.
Continua →

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30 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

S O L U Ç Ã O A LT E R N AT I VA
A diferença de pressão entre o interior do avião e a parte mais estreita do tubo de Venturi é 239
kPa, ou mais de duas vezes a pressão atmosférica normal. Conectar uma mangueira entre a parte
mais estreita do tubo ao interior do avião permite uma corrente estável de ar através do tubo, que
pode ser usada para impulsionar rapidamente um giroscópio rotatório.

Drenando um tanque
Vamos analisar outro experimento simples. Um grande recipiente com um pequeno furo no fun-
do está cheio de água, e medições de quanto tempo ele leva para ser drenado são feitas. A Figura
1.40 ilustra esse experimento. Podemos analisar o processo quantitativamente e chegaremos à
descrição da altura da coluna de fluido como uma função do tempo. Uma vez que o recipiente é
aberto em cima, a pressão atmosférica é a mesma na superfície superior da coluna de fluido, as-
sim como no pequeno furo no fundo. Assim, obtemos, da Equação de Bernoulli (equação 1.19),

Anulando as densidades e reordenando os termos, temos

onde h = y1 – y2 é a altura da coluna do fluido.


A equação de continuidade (equação 1.18) relaciona as duas velocidades, v1 e v2, uma a ou-
tra por meio da razão entre suas correspondentes áreas de seção transversal: A1v1 = A2v2. Assim,
encontramos a velocidade com a qual o fluido escoa do recipiente, como uma função da altura
da coluna de fluido acima do furo:

Se A2 é pequena comparada a A1, o resultado pode ser simplificado:

(1.22)
A velocidade com que o fluido escoa de um recipiente, às vezes, é chamada de velocidade de
efluxo, e a equação 1.22 é frequentemente chamada de Teorema de Torricelli.
Como a altura da coluna de fluido varia em função do tempo? Para responder à questão,
observamos que v1 é a derivada negativa da altura, h, da coluna de fluido em relação ao tempo:
v1 = −dh/dt, uma vez que a altura diminui com o tempo. Da equação de continuidade, encon-
tramos

(1.23)

t⫽0 15 s 30 s 45 s 60 s 75 s 90 s 105 s

Figura 1.40 Drenando uma garrafa de água através de um pequeno furo no fundo.

_Livro_Bauer_Vol_2.indb 30 09/08/12 11:10


Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 31

Pelo fato de a equação 1.23 relacionar a altura com sua derivada, ela é uma equação diferencial,
e sua solução é

(1.24)

onde h0 é a altura inicial da coluna de fluido. Se você quiser comprovar que a equação 1.24 é
realmente a solução, derive-a e a substitua pela equação 1.23. A derivada é

O tempo no qual essa derivada é zero é o tempo no qual a drenagem acaba:

(1.25)

Se você substituir t por essa expressão na equação 1.24, você verá que tf é também o tempo no
qual a altura da coluna de fluido é zero, como esperado. Porque, de acordo com a equação 1.23,
a derivada da altura em relação ao tempo é proporcional à raiz quadrada da altura, esta deve ser
zero quando a derivada for zero.
A equação 1.25 nos mostra, também, que o tempo para drenar um recipiente cilíndrico é
proporcional à área da seção transversal do recipiente e inversamente proporcional à área do
furo pelo qual o fluido é drenado. Contudo, o tempo também é proporcional à raiz quadrada
da altura inicial do fluido. Desse modo, se dois recipientes contiverem o mesmo volume de
líquido e furos para drenagem de mesmo tamanho, o recipiente que for mais alto e tiver uma
área menor de seção transversal drenará mais rápido.
Por fim, tenha em mente que a equação 1.25 é válida somente para um fluido ideal em
um recipiente com área de seção transversal constante em função da altura e quando a área da
seção transversal do furo é pequena comparada à do recipiente.

0,3

0,2
h (m)

EXEMPLO 1.8 Drenando uma garrafa 0,1


2
A Figura 1.40 mostra uma grande garrafa cilíndrica com área de seção transversal A1 = 0,100 m . 0
O líquido (água com corante vermelho) é drenado por um pequeno furo de raio 7,40 mm ou de 0 15 30 45 60 75 90 105
área A2 = 1,72  10–4 m2. A sequência de quadros na figura representa o tempo em intervalos de t (s)
15 s. A altura inicial da coluna de fluido acima do furo era h0 = 0,300 m.
Figura 1.41 Altura da coluna de flui-
do em função do tempo: os pontos
PROBLEMA verdes são os dados observados; a
Quanto tempo leva para drenar essa garrafa? linha vermelha é a solução calculada.

SOLUÇÃO 1.7 Exercícios


Usamos a equação 1.25 com os valores fornecidos no problema: de sala de aula
Se a garrafa e o nível inicial do
fluido permanecem o mesmo,
como no Exemplo 1.8, mas o
diâmetro do furo for a metade,
A solução desse problema é direta, mas é instrutivo traçar um gráfico da altura em função do o tempo necessário para drenar
tempo, usando a equação 1.24, e comparar com o gráfico de dados experimentais. Na Figura 1.40, todo o fluido será aproximada-
o nível do furo está marcado com uma linha horizontal tracejada e a altura da coluna de fluido, mente
em cada quadro da sequência, está marcado com um ponto verde. A Figura 1.41 mostra a compa-
a) 36 s. d) 288 s.
ração entre a solução calculada (linha vermelha) e os dados obtidos do experimento. Você pode
observar que a concordância é boa, dentro da incerteza da medição, representada pelo tamanho b) 72 s. e) 578 s.
dos pontos verdes.
c) 144 s.

_Livro_Bauer_Vol_2.indb 31 09/08/12 11:11


32 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

1.7 Viscosidade
Se um rio calmo já carregou seu barco, talvez você tenha notado que ele se moveu mais rápido
no meio do rio do que perto das margens. E por que isso acontece? Se a água do rio fosse um
fluido ideal escoando laminarmente, não faria diferença alguma a que distância você estaria
das margens. Entretanto, a água não é realmente um fluido ideal, pois ela possui uma espécie
de “grude” chamado viscosidade. Para a água, a viscosidade é bastante baixa; para óleo pesado
de motores, a viscosidade é significativamente alta, e para substâncias como o mel, ela é mais
alta ainda e faz com que o mel escoe vagarosamente. A viscosidade faz com que as linhas de flu-
xo na superfície de um rio se distendam a partir das margens, pois as linhas de fluxo vizinhas
(a)
estão parcialmente aderidas umas às outras. O perfil de velocidade para as linhas de fluxo no
escoamento viscoso em um tubo é esboçado na Figura 1.42b. O perfil é parabólico, com a ve-
locidade aproximando-se de zero nas paredes e alcançando seu valor máximo no centro. Esse
fluxo é ainda laminar, com todas as linhas de fluxo escoando paralelas entre si.
Como a viscosidade de um fluido é medida? O procedimento padrão é usar duas placas
paralelas de área A e preencher a distância h entre as placas com o fluido. Uma placa é arrastada
sobre a outra e a força F usada no arrasto é medida. O perfil de velocidade resultante do esco-
amento do fluido é linear (Figura 1.43). A viscosidade, ␩, é definida como a razão da força por
unidade de área pela diferença de velocidade entre as placas, sobre a distância entre as placas:
(b)
(1.26)
Figura 1.42 Perfis de velocidade em
um tubo cilíndrico: (a) fluxo do fluido
ideal não viscoso; (b) fluxo viscoso. A unidade de viscosidade é a mesma da pressão (força por unidade de área) multiplicada pelo
tempo, ou pascal segundo (Pa s). Essa unidade é também chamada de poiseuille (Pl). (Você
deve tomar cuidado para evitar confundir essa unidade do SI com a unidade do CGS poise (P),
porque 1 P = 0,1 Pa s.)
É importante entender que a viscosidade de qualquer fluido depende muito
F
A da temperatura. Você pode perceber essa dependência da temperatura na cozi-
nha, quando armazena azeite de oliva na geladeira e depois o derrama. Ele flui
h v vagarosamente. Aqueça o óleo numa frigideira e ele fluirá tão facilmente quanto a
água. A dependência da temperatura é uma grande preocupação para os óleos de
motores e o objetivo é fazer com que essa dependência seja pequena. A Tabela 1.5
lista alguns valores característicos de viscosidades para diferentes fluidos. Todos
Figura 1.43 Medindo a viscosidade de um líquido os valores são tomados a temperatura ambiente (20 °C = 68 °F), exceto para o
com duas placas paralelas. sangue, cujo valor é dado pela temperatura fisiologicamente relevante do corpo
humano (37 °C = 98,6 °F). Incidentalmente, a viscosidade do sangue aumenta
cerca de 20% durante o tempo de vida e o valor médio para homens é levemente mais alto do
que para mulheres (4,7  10–3 Pa s para homens e 4,3  10–3 Pa s para mulheres).
A viscosidade de um fluido é importante na determinação de quanto fluido pode escoar
através de um tubo de raio r e comprimento l. Gotthilf Heinrich Ludwig Hagen (em 1839) e
Jean Louis Marie Poiseuille (em 1840) descobriram, independentemente, que Rv, o volume de
fluido que pode escoar por unidade de tempo, é

(1.27)

Tabela 1.5 Alguns valores de viscosidade a temperatura ambiente


Material Viscosidade (Pa s)
–5
Ar 1,8  10
Álcool (etanol) 1,1  10–3
Sangue (à temperatura corporal) 4  10–3
Mel 10
–3
Mercúrio 1,5  10
Óleo de motor (SAE10 a SAE40) 0,06 – 0,7
Azeite de oliva 0,08
–3
Água 1,0  10

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Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 33

Aqui, ⌬p é a diferença de pressão entre as duas extremidades do tubo. Como esperado, o fluxo
é inversamente proporcional à viscosidade e ao comprimento do tubo. O mais importante,
contudo, é que o fluxo também é proporcional ao raio do tubo elevado na quarta potência. Se
considerarmos um vaso sanguíneo como um tubo, essa relação nos ajuda a compreender o pro-
blema associado à obstrução das artérias. Se os depósitos produzidos pelo colesterol reduzem
o diâmetro de um vaso sanguíneo em 50%, o sangue flui pelo vaso reduzido de 1/2 4 = 1/16 ou
6,25% da taxa original – uma redução de 93,75%.

EXEMPLO 1.9 Agulha hipodérmica


Para muitas pessoas, a pior parte da visita ao médico é a hora da injeção. É claro que aprender
sobre a mecânica do fluido na agulha hipodérmica (Figura 1.44) não mudará isso, mas é interes-
sante, apesar de tudo.

PROBLEMA 1 Figura 1.44 Uma agulha hipodér-


3
Se 2,0 cm de água são ejetados de uma seringa de 1,0 cm de diâmetro, por uma agulha padrão 15, mica ilustra o escoamento do fluido
de 3,5 cm de comprimento (diâmetro interior da agulha = 1,37 mm) em 0,4 s, qual deve ser a força com viscosidade.
aplicada ao êmbolo da seringa?

SOLUÇÃO 1
A lei de Hagen-Poiseuille (equação 1.27) relaciona o fluxo do fluido à diferença de pressão, que
causa o movimento. Podemos resolver essa equação para a diferença de pressão, ⌬p, entre a ponta
da agulha e a extremidade que está conectada à seringa:

A viscosidade da água pode ser obtida a partir da Tabela 1.5: ␩ = 1,0 ⋅ 10–3 Pa s. A taxa de fluxo, Rv,
é exatamente a razão entre o volume e o tempo:

As dimensões geométricas da seringa são especificadas no enunciado do problema, então obtemos

Em virtude de a pressão ser força por unidade de área, podemos encontrar a força necessária pela
multiplicação da diferença de pressão, que acabamos de calcular, pela área apropriada. Que área
é essa? A força necessária é dada pelo empurrão sobre o êmbolo. Logo, usamos a área do êmbolo:

Assim, a força necessária para ejetar os 2,0 cm3 de água em 0,4 s é somente

PROBLEMA 2
Com que velocidade a água sai da agulha da seringa?

SOLUÇÃO 2
Na Seção 1.6, vimos que a velocidade de escoamento do fluido está relacionada à taxa de fluxo do
volume por Rv = Av, onde A é a área da seção transversal – nesse caso, a área da ponta da agulha,
cujo diâmetro é 1,37 mm. Resolvendo esta equação para a velocidade, encontramos

Continua →

_Livro_Bauer_Vol_2.indb 33 09/08/12 11:11


34 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

DISCUSSÃO
Se você já empurrou o êmbolo de uma seringa, sabe que fez mais força do que os 0,16 N. (Uma
força de 0,16 N é equivalente ao peso de uma caneta esferográfica comum.) O que faz com que a
força precise ser maior? Lembre que o êmbolo deve prover um selo bem apertado com a parede da
seringa. Assim, o principal esforço para empurrar o êmbolo é resultado de superação da força de
atrito entre as paredes da seringa e o êmbolo. Poderia ser um caso totalmente diferente, contudo,
se a seringa estivesse cheia de mel. Note, também, que a agulha padrão 15, usada no exemplo, é
maior do que a agulha tipicamente usada para uma injeção, a com padrão 24 ou 25.

1.8 Turbulência e fronteiras da pesquisa em fluxo de fluidos


No escoamento laminar, as linhas de fluxo de um fluido seguem um caminho suave. Em
contraste, para um fluido em escoamento turbulento, vórtices se formam, separam-se e
se propagam (Figura 1.45). Já vimos que um fluxo laminar ideal ou fluxo laminar visco-
so faz a transição para um fluxo turbulento quando a velocidade do fluxo excede certo
valor. Essa transição é claramente ilustrada na Figura 1.29b, que mostra como a fumaça
do cigarro subindo sofre uma transição do fluxo laminar para o turbulento. Qual é o
critério que determina se um fluxo é laminar ou turbulento?
A resposta está no número de Reynolds, Re, em que é a razão de uma força iner-
cial para uma força viscosa, sendo um número puro e adimensional. A força inercial
deve ser proporcional à densidade, ␳, e à velocidade do fluido, , porque F = dp/dt, de
acordo com a Segunda Lei de Newton. A força viscosa é proporcional à viscosidade, ␩,
e inversamente proporcional ao comprimento de escala característico, L, sobre o qual
o fluxo varia. Para um fluxo através de um tubo com área de seção transversal circular,
esse comprimento de escala é o diâmetro do tubo, L = 2r. Assim, a fórmula para o cál-
culo do número de Reynolds é

(1.28)

De maneira prática, um número de Reynolds menor do que 2.000 significa fluxo lami-
nar e maior do que 4.000 significa fluxo turbulento. Para números de Reynolds entre
2.000 e 4.000, o caráter do fluxo depende de detalhes muito refinados para a exata con-
Figura 1.45 Fluxo turbulento extremo – um figuração. Engenheiros tentam evitar de todo o jeito esse intervalo, em função de sua
tornado é um vórtice. absoluta imprevisibilidade.
O verdadeiro poder do número de Reynolds está no fato de que os fluidos escoam em
sistemas com a mesma geometria e o mesmo número de Reynolds, comportando-se de modo
similar. Isso permite que os engenheiros reduzam os típicos comprimentos de escalas ou as
velocidades de escalas, construam modelos de barcos ou aviões e testem o desempenho destes
em tanques de água ou túneis de vento, com escalas relativamente pequenas (Figura 1.46).
Em vez de modelos em escala, a pesquisa moderna sobre escoamento de fluidos e tur-
bulência recai sobre os computadores (Figura 1.1). Modelagem hidrodinâmica é empregada
para estudar aplicações em variedades inacreditáveis de sistemas físicos, tais como o desem-
penho e a aerodinâmica de carros, aviões, foguetes e barcos. Entretanto, a modelagem hidro-
dinâmica é utilizada, também, nos estudos de colisões de núcleos atômicos a altas energias,
conseguidas em modernos aceleradores, e na modelagem das explosões de supernovas (Figu-

Figura 1.46 (a) Túnel de vento tes-


tando um modelo de asa em escala.
(b) Modelo em escala de um caça a
jato com partes intercambiáveis para
testes em túnel de vento. (a) (b)

_Livro_Bauer_Vol_2.indb 34 09/08/12 11:11


Capítulo 1 Sólidos e Fluidos 35

ra 1.47). Em 2005, um grupo experimental trabalhando no Relativistic Heavy 500


Ion Collider (Colisor de Íons Pesados Relativísticos), em Brookhaven, New
York, descobriu que núcleos de ouro apresentam características de um per-
feito fluido não viscoso, quando colidem entre si em altas energias. (Um dos
autores – Westfall – teve o privilégio de anunciar essa descoberta no encon-
tro anual da American Physical Society, em 2006.) Resultados de pesquisas
sobre movimento de fluidos continuarão a surgir nas próximas décadas, na

y (km)
medida em que esta é uma das mais interessantes áreas interdisciplinares nas 0
ciências físicas.

⫺500
⫺500 0 500
x (km)
Figura 1.47 Modelagem hidrodinâmica do colapso do
núcleo de uma supernova. As setas indicam a direção
do fluxo dos elementos de fluido e a cor indica a tem-
peratura.

O Q U E J Á A P R E N D E M O S | G U I A D E E S T U D O PA R A E X E R C Í C I O S
■ Um mol de um material tem NA = 6,022  1023 átomos ou mo- ■ A força de empuxo sobre um corpo imerso em um fluido é
léculas. A massa de 1 mol de um material em gramas é dada igual ao peso do fluido deslocado: FB = mf g.
pela soma dos números atômicos de massa dos átomos que
■ Um fluido ideal pode exibir um fluxo laminar, um fluxo in-
constituem o material.
compressível, um fluxo não viscoso e um fluxo irrotacional.
■ Para um sólido, tensão = módulo·deformação, onde tensão é
■ O fluxo de um gás ideal segue as linhas de fluxo.
força por unidade de área e deformação é uma deformação
unitária. Existem três tipos de tensão e deformação, cada um ■ A equação de continuidade para um fluido ideal escoando
com seu próprio módulo: relaciona a velocidade e a área do fluido escoando através de
um recipiente ou tubo: A1v1 = A2v2.
• Tensão ou compressão linear leva a uma variação positiva
■ A Equação de Bernoulli relaciona a pressão, a altura e veloci-
ou negativa no comprimento: , onde Y é o módu-
dade de um fluido ideal escoando através de um recipiente ou
lo de Young. tubo: = constante.
• Compressão de volume leva à variação em volume: ■ Para fluidos viscosos, a viscosidade, ␩, é a razão entre a força
, onde B é o módulo de elasticidade volumétrica. por unidade de área e a diferença de velocidade por unidade
de comprimento: .
• Cisalhamento leva à flexão: , onde G é o módulo
■ Para fluidos viscosos, a taxa de fluxo de volume através de
de cisalhamento. um tubo cilíndrico de raio r e comprimento  é dada por:
■ Pressão é definida como força por unidade de área: . , onde ⌬p é a diferença de pressão entre as duas
■ A pressão absoluta p, em uma profundidade, h, em um líqui-
extremidades do tubo.
do com densidade ␳, e pressão p0 sobre a superfície do líqui-
do é p = p0 + ␳gh. ■ O número de Reynolds determina a razão entre a força iner-
■ Pressão manométrica é a diferença de pressão entre o gás em cial e a força viscosa, e é definido como , onde é
um recipiente e a pressão da atmosfera da Terra.
a velocidade média do fluido e L é a escala de comprimento
■ O Princípio de Pascal afirma que quando uma variação na característico sobre o qual o fluxo varia. Um número de Rey-
pressão ocorre em qualquer ponto em um fluido incompres- nolds menor que 2.000 siginifica fluxo laminar e maior do
sível confinado, uma variação igual da pressão ocorre em que 4.000 significa fluxo turbulento.
todos os pontos no fluido.

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36 Física para Universitários – Relatividade, Oscilações, Ondas e Calor

T E R M O S - C H AV E
Átomos, p. 8 Fluxo incompressível, p. 24 Manômetro, p. 17 Pascal, p. 15
Barômetro, p. 16 Fluxo irrotacional, p. 24 Módulo de cisalhamento, Pressão, p. 15
Cisalhamento, p. 11 Fluxo laminar, p. 24 p. 12 Pressão absoluta, p. 16
Compressão, p. 11 Fluxo turbulento, p. 24 Módulo de elasticidade, Pressão manométrica, p. 16
Deformação, p. 11 Força de empuxo, p. 20 p. 11 Princípio de Pascal, p. 18
Equação de Bernoulli, p. 25 Fórmula da pressão Módulo de elasticidade Sólido, p. 10
Equação de continuidade, barométrica, p. 17 volumétrica, p. 12 Tensão, p. 11
p. 25 Gás, p. 10 Módulo de Young, p. 12 Tração/tensão, p. 11
Fluido não viscoso, p. 24 Limite elástico, p. 11 Número de Avogadro, p. 9 Velocidade de efluxo, p. 30
Fluido, p. 10 Líquido, p. 10 Número de Reynolds, p. 34 Viscosidade, p. 32

N OVO S S Í M B O L O S E E Q UAÇ Õ E S
23
NA = 6,022  10 átomos, número de Avogadro = constante, Equação de Bernoulli
Tensão = módulo ⋅ deformação, relação tensão-deformação
, viscosidade
p = p0 + ␳gh, pressão absoluta
FB = mf g, força de empuxo , taxa de fluxo de volume
A1v1 = A2v2, equação de continuidade
, número de Reynolds

R E S P O S TA S D O S T E S T E S
1.1 O volume da água na garrafa é de 500 cm3. A densidade
1.2
da água é de 1 g/cm3. Assim, a garrafa contém 500 g de água. A
massa de 1 mol de água é 18,02 g, então
n = (500 g) / (18,02 g/mol) = 27,7 mol. Assim,
N = n ⋅ NA = 27,7 (6,022 ⋅ 1023 mol–1) = 1,67 ⋅ 1025 moléculas.
1.3

P R ÁT I C A D E R E S O L U Ç Ã O D E P R O B L E M A S
Guia de solução de problemas: Sólidos e Fluidos fluido; você frequentemente precisará calcular a massa e o vo-
1. Os três tipos de tensão têm a mesma relação com a defor- lume separadamente e tomar suas razões para obter um valor
mação: a razão entre a tensão e a deformação iguala-se a uma para a densidade.
constante para o material, a qual pode ser o módulo de Young, 3. A Equação de Bernoulli é derivada da conservação de ener-
o módulo de elasticidade volumétrica ou o módulo de cisalha- gia e os principais guias de solução de problemas para proble-
mento. Tenha certeza de que entende o tipo de tensão que está mas de energia aplicam-se, também, aos problemas de fluxo.
atuando em uma situação particular. Em particular, tenha certeza de identificar claramente onde o
2. Lembre que a força de empuxo é exercida por um fluido so- ponto 1 e o ponto 2 estão localizados para aplicar a Equação de
bre um corpo flutuando ou nele submerso. A força resultante Bernoulli e listar os valores conhecidos para pressão, altura e
depende da densidade do corpo, bem como da densidade do velocidade do fluido em cada ponto.

PROBLEMA RESOLVIDO 1.3 Encontrando a densidade de um


líquido desconhecido
Uma esfera sólida de alumínio (densidade = 2.700 kg/m3) está suspensa no ar de uma escala (Fi-
gura 1.48a). A escala marca 13,06 N. A esfera, então, é submersa em um líquido com densidade
desconhecida (Figura 1.48b). A escala marca 8,706 N. Qual é a densidade do líquido?

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