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O Metodo Experimental Nas Ciencias Sociais PDF
O Metodo Experimental Nas Ciencias Sociais PDF
METODOLOGIA
DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
3"Edição
última edição:
Silva, A. S., & Pinto, J. M. (Eds.).
(1999). Medologia das Ciências
Sociais. Porto: Edições Afrontamento.
última edição:
Silva, A. S., & Pinto, J. M. (Eds.).
(1999). Medologia das Ciências
Sociais. Porto: Edições Afrontamento.
Edições Afrontamento
1989
Jorge Correia Jesuíno
partir de princípios ou leis gerais, são explicadas por razões e não por causas. Tal
questão, que permanece em aberto, não será aqui examinada~osseus diversos contor-
nos, adoptando-se a posição de uma possível unidade metodológica válida em toda a
actividade científica.
A explicação causal, em psicologia como noutTas disciplinas científicas, acha-se
estreitamente associada ao método experimental. E através da experimentação, efec-
tuada no interior dum modelo, que se procede à dedução dos nexos causais entre as
variáveis isoladas. Note-se que tal não significa, como por vezes se considera, que o
método científico se reduza apenas à experimentação, na sua acepção estrita de mani-
pulação física de objectos. Se assim fosse, uma ciência como a astronomia não seria
possível. Tal como observa Ackoff (1962) o controlo também pode ser obtido pela
manipulação conceptual de representações simbólicas, ou seja, de modelos dos fenó-
menos a estudar. Com o desenvolvimento, nos anos recentes, de técnicas estatísticas
como a classificação e a aleatorização, a manipulação física tende a tomar-se menos
necessária.
A preocupação com o problemada explicação causal em ciência é relativamente re-
cente. Deve-se a John Stuart Mill a primeira abordagem sistemática desta questão, na
sua obra Systern of b g i c datada de-1843. Stuart Mill procura aí especificaf as condi-
ções que permitem que uma coisa A possa ser considerada causa de outra, P. Ele esta-
beleceu cinco métodos ou cânones de indução: o método da concordância, o método
da diferença, o método conjunto da concordância e da diferença, o método dos resí-
duos e o método das variações concomitantes. Os primeiros três métodos dizem res-
peito ao estabelecimento das causas. O método dos resíduos .constitui uma variante
do método da concordância. O método das variações concomitantes corresponde ao
que actualmente se designa como método correlacional. Experimentação e correlação
vêm a afirmar-se como os d a s métodos utilizados na investigação científica. Basean-
do-nos na análise proposta pòr Ackoff (1962) conviria aqui alertar para algumas ambi-
guidades que por vezes surgem com a relação causa-efeito. Quando um fenoméno X
--
é dito causar outro, Y, podem significar-se diferentes coisas:
(1) X C necessário e suficiexiie para Y - GZ^~O &- f h-<-i>
L $'C-
(3) X não C necessário nem suficiente para Y, mas ambos tendem a estar presen-
tes ou ausentes em conjunto. C.=- (L: I
A, B, C
A, B', C
A, B, C'
A, B', C'
A', B, C
A', B', C
A', B, C'
A', B', C'
na e não a validade interna. Isso não significa, como é óbvio, que a validade externa
não seja uma condição importante para o desenvolvimento da ciência. Há, todavia,
que a não constituir como condição única de validade, sob pena de se obscurecer os
termos do debate.
Voltaremos a este ponto.
Uma vez caracterizadas as condições de validade da experimentação vejamos
quais os factores susceptíveis de as afectar. Éessa a principal contribuição da sistema-
tização iniciada por Campbell(1957) e sucessivamentecompletada em textos posterio-
res (Campbell e Stanley, 1963; Cook e Campbell, 1979).
No que se refere à validade interna são de considerar os seguintes principais facto-
res de "ameaça".
(a) História - acontecimentos específicos que têm lugar entre a primeira e a se-
gunda medição e que podem constituir uma interpretação alternativa para o efeito ob-
servado na variável dependente.
@) Maturação - mudança no desenvolvimento dos sujeitos durante o estudo ex-
perimental. Esta ameaça é particularmente importante em estudos com crianças que se
prolonguem por períodos de meses ou mais, ou populações adultas sujeitas a efeitos
-
de socializacão or~anizacional.
(c) Testagem -ocorre quando se utiliza o mesmo teste em aplicações sucessivas,
pelo que os sujeitos podem melhorar os resultados obtidos.
(d) Instrumentação - ameaça resultante de instrumentos de medida pouco fiá-
veis, produzindo resultados variáveis em diferentes aplicaçóes.
(e) Selecção - ameaça devida ao efeito observqdo poder resultar de diferenças
das pessoas seleccionadas para os grupos experimentais e não dos diferentes aata-
mentos recebidos por cada grupo.
(f) Mortalidade - ameaça resultant~:de queths verificadas nos sujeitos experi-
.
mentais entre sucessivas a~licacães. .
(g) Regressão estatística - ameaça resultante 'de os scores extremos das medidas
observadas regredirem para a média em posteriores aplicações. Por outras palavras,
sujeitos com scores baixos i 5, -
-
3
7
' %-
* -
-4'"
6
.
(h)Interacções com a selecção -as ameaças antérionnente indicadas podem inte-
ragir com a selecção, produzindo efeitos espúrios. Uma das ameaças mais comuns é
a selecção-maturação, resultante de grupos experimentais compostos por diferentes ti-
pos de pessoas com diferentes taxas de maturação.
Uma outra distinção conceptual proposta
- - é a que se refere à experimentação
. pro-
-
PERIMENTAIS
Tratamento Obsemação/Medida
A referência a este plano tem apenas a intenção de ilustrar uma situação mínima,
um ponto zero. Um estudo desta natureza reveste-se duma ausência total de controlo,
de escasso valor científico. No máximo terá apenas a utilidade de suscitar hipóteses.
teste pelo que é possível determinar tanto os efeitos principais do teste como os seus
efeitos de integcção com o tratamento (Solomon, 1949). Desta forma é possível au-
mentar o potencial de generalização dos resultados. Para este plano não existe um
teste estatístico que englobe os seus conjuntos de observações. Recorre-se como alter-
nativa a uma análise de vanância 2x2 dos resultados pós-teste (02040506).
número de níveis. Se A tiver 2 níveis, B tiver 3 níveis e C tiver 4 níveis haverá 24 cé-
lulas = 2x3~4.
Num plano factorial os sujeitos são igualmente distribuídos por forma aleatória pe-
las diferentes células. A grande vantagem dos planos factoriais é a possibilidade que
oferecem para determinar, para além dos efeitos principais, efeitos de interacção, ou
seja, da a q ã o conjugada das diferentes variáveis independentes.
Tal é possível a partir do modelo estatístico de análise de variância, abreviadamen-
te designada por ANOVA,criado por Fisher (1925) e inicialmente utilizado em expe-
riências no domínio da agricultura. Existem muitos planos factoriais, alguns de consi-
derável complexidade proporcionando grande flexibilidade de actuação ao experimen-
tador. Para um maior aprofundamento do tema recomendam-se, para além dos já cita-
dos, os textos clássicos de Lindquist (1940) e de Cochran e Cox (1957).
Antes, porém, de encerrarmos esta secção, vale a pena referir alguns planos facto-
riais com características tão específicas corno engenhosas na sua concepção.
Este plano recebeu a designação de quadrado latino.Tal como se pode verificar ca-
da célula é definida por 3 valores. Cada valor de c aparece apenas uma vez em cada
coluna e em cada linha. O mesmo sucede com as outras variáveis. Por exemplo:
226 JORGE CORREIA J E S U ~ N O
Note-se que um dos requisitos deste plano é que o número de factores seja o mes-
mo que o número de níveis por factor.
@) Quadrado greco-latino
A ideia central, e que distingue este plano dos anteriores, é a sua maior adequação
para observar efeitos de tratamentos resultantes de combinações de níveis dos facto-
res e não apenas efeitos dos factores tomados separadamente, ou ainda efeitos dos
factores uns em relação dos outros. No exemplo ilustrativo as 8 combinatórias de três
tratamentos, cada um deles com dois níveis, são atribuídas aleatoriamente a 8 amos-
tras aleatórias de sujeitos SI,S2....S8.
Uma das vantagens deste plano é o número de sujeitos não ter de ser o mesmo
em todas as amostras Si a S8,o que possibilita utilizar todas as experiências que pos-
sam ser realizadas e resistir, por outro lado, a efeitos de mortalidade. Tal vantagem
contribui, por outro lado, para aumentar o erro experimental, sendo todavia possível
estimá-lo com precisão. Daqui resulta que o plano será tanto mais eficaz quanto maior
MÉTODO EXPERIMENTAL NAS CIENCIAS SOCIAIS 227
A sigla utilizada neste caso é RBF (Randomized Block Factorial Design). Neste
plano factorial os sujeitos a observar são agrupados, tão homogeneamente quanto pos-
sível, em blocos, sendo os tratamentos aplicados aleatoriamente em cada bloco. Para
uma melhor ilustração do procedimento reproduzimos comparação com o plano CRF,
para um caso de 2 tratamentos com 3 níveis cada aplicado a blocos de 6 sujeitos cada
(Kirk 1982):
Bloco 1
Bloco 2
Bloco n
c'.
(a) Plano RBF-23 (b)Plano
.. tipo CRF-23
Um dos planos mistos mais utilizados nas ciências sociais é o plano factorial de 10-
tes subdivididos (Split-Plot Factorial Design). Conjuga características do tipo CR e do
tipo RB, anteriormente descritos. A ideia principal do plano dos blocos aleatonzados
é isolar os efeitos duma variável parasita mediante a constituiçáo de blocos homogé-
neos, cada um deles representando níveis da variável parasita. O plano SP (Split-Plot)
generaliza esse procedimento às diferentes amostras ou grupos desses blocos. Um
plano possível é um plano com dois tratamentos: os níveis de um tratamento sáo alea-
toriamente atribuídos aos grupos ou blocos; os níveis do segundo tratamento sáo alea-
toriamente atribuídos aos sujeitos experimentais dentro de cada bloco. O esquema a
seguir, reproduzido com base na sugestáo de Kirk (1982), ilustra as características
do plano SP, comparando-o com os planos CR e RB.
Bloco 1
BIOCO 2,
Bloco 1
(a) Plano SP
(c) Plano RB
Os planos factoriais SP, como aliás toda a técnica experimental moderna, foram
iniciaimente usados na agricultura. O próprio termo lote (plot) refere-se a um lote de
terreno subdividido ou parcelado.
De acordo com a lógica deste plano as diferenças entre os blocos confundem-se
com as diferenças entre os níveis de A. Assim, uma consequência do plano SP é pro-
duzir uma estimativa mais precisa dos efeitos principais de B e dos efeitos de inte-
racção (AB) do que dos efeitos principais de A. Sacrifica-se portanto o rigor da esti-
mativa dos efeitos de A. A principal vantagem prática deste tipo de arranjo, para além
da economia na dimensão de blocos, consiste em conjugar na mesma experiência fac-
tores com diferentes graus de complexidade, permitindo obter informação adicional
com custos relativamente reduzidos (Cochran e Cox, 1957).
5. PLANOS QUASE-EXPERIMENTAIS
Neste plano dispõe-se apenas dum grupo experimental. A ideia básica consiste
em obter múltiplas observações em diferentes momentos antes de introduzir o trata-
mento. Em seguida aplica-se o tratamento. Pode ser esquematizado da seguinte forma
230 JORGE CORREIA J E S U ~ O
A aplicação das séries temporais revela-se sobretudo útil em meios como a in-
dústria ou a educação, onde é possível dispor de registos sistemáticos das populações
observadas. Permite, no mínimo, formular hipóteses sobre possíveis efeitos de alte-
rações inuoduzidas nos sistemas.
Trata-se dum plano muito utilizado e recomendável em situações onde não se dis-
ponha de melhor meios. Compreende um grupo experimental e um grupo de contro-
lo, ambos submetidos a um pré-teste e a-Üm pós-teste. Os grupos não
I _I I.____I --
são equivalen-
tes, como será o caso, por exemplo, de turmas escolares, nao sedispensando pois o
pré-teste:
MÉTODO EXPERIMENTAL NAS CI$NCIAS SOCIAIS
Convém pois não confundir este plano com o plano "pré-teste, pós-teste e grupo
de controlo", analisado anteriormente na rubnca dos planos expenmentais puros.
Neste plano só o tratamento é que é atribuído aleatoriamente a um outro grupo.
No que se refere às ameaças à validade interna. este dano é sobretudo vulnerável
aos efeiios da selecção-matur~ção.
A sua interpretabilidade depende todavia dos resultados empíricos obtidos em ca-
da caso. Cook e Campbell(1976) distinguem cinco possíveis situações representadas
a seguir:
Trata-se de um plano em que se dispõe dum único grupo ao qual se aplica o pn5-
-teste e o pós-teste, seguindo-se, porém, uma terceira fase de colheita de dados antes
do tratamento ser removido (simbolizado no esquema por X)e uma medição final
após o tratamento ter sido removido. A sequência O3 O4 serve de controlo h sequência
O1 02. NO caso do tratamento ser eficaz será de esperar uma diferença entre O1 e O2
oposta em direcção à diferença entre O3 e 04. Mas nem sempre os resultados são clara-
mente interpretáveis.
Outro exemplo é o dos tratamentos inversos
De acordo com Campbell e Staníey (1963) sena talvez preferível, no Quese refere
aos planos correlacionais, considerá-ios ma& como plan6s de análise de dados do
que como planos quase-experimentais.
O plano correlacional consiste, com efeito, em comparar duas variáveis observa-
das num grupo, não havendo lugar para aplicação dum tratamento. Podemos esque-
matizar o plano da seguinte forma:
Teste I Teste 2
Grupo
Existe aliás uma tradição que opõe método correlacional e método experimental.
Cronbach distingue, inclusivamente, duas "disciplinas" em psicologia. Enquanto a 1ó-
gica experimental, segundo este autor, se interessa pela variação por ela própria pro-
vocada, a lógica correlacional centra-se em variações já existentes entre indivíduos e
entre grupos. Ainda segundo este autor, enquanto que as diferenças individuais são
um obstáculo para o experimentador, elas são um estímulo para o "correlacionador".
Ambas as perspectivas seriam todavia indispensáveis numa ciência como a psicolo-
gia.
Os métodos correlacionais implicam com efeito maior peso atribuído à experiên-
cia passada, enquanto que o método experimental se centra predominantemente na es-
uutura actual dos factores determinantes.
Na análise a que, por seu turno, procedem Cahpbell e Stanley (1963), o método
correlacional tem alguma relevância para teste de hipóteses causais na medida em que
expõe os dados ao teste da falsificabilidade. Se a c6rrelação obtida for zero, a credibi-
lidade da hipótese diminui, se for elevada aumenta. E se é certo que a correlação não
implica causalidade, a causalidade implica correlação:
Em textos mais recentes, Cook e Campbell(1979) examinam desenvolvimentos
que entretanto se verificaram nos métodos correlacionais, sobretudo no domínio da
sociologia, e segundo os quais se tomaria possível, a partir da estrutura das cor-
relações, proceder a inferências causais. Estão nessas condições as técnicas designa-
das por modelos causais, análise de percurso @ath analysis) ou ainda modelos estrutu-
rais.
Um conjunto de textos básicos introdutórios a estas técnicas foi editado por Bla-
lock (197111985).
Uma introdução prática e simplificada a este tema foi igualmente incluida na útil
série de textos Quantitative Applications in the Social Sciences (Asher, 1976).
A ideia básica destas técnicas reside em detectar qual a direcção da causalidade a
partir de estruturas correlacionais complexas. De acordo com Cook e Campbell
(1976) estes modelos correlacionais seriam a forma mais fraca dos planos quase-expe-
234 JORGE CORREIA JESUÍNO
rimentais. A aplicação de tais modelos nos vários domínios das ciências sociais acon-
selham a emitir juízos mais prudentes quanto ao seu futuro enquanto técnica experi-
mental.
sado. Tais resultados põem em causa a concepção da memória enquanto arquivq pas-
sivo e mostram o papel activo do sujeito na selecção e interpretação dos dados. E esta
ideia central que vai ser retomada e desenvolvida na psicologia social cognitiva.
No que se refere a Sherif (1936), a expenência por ele realizada consistiu em
expor sujeitos, tanto isoladamente como em grupos, ao efeito auto-cinético, ou seja,
a uma ilusão óptica que consiste em ver deslocar-se um ponto luminoso fixo, em am-
biente obscurecido. Sherif verificou que os sujeitos, na condição individual, ao fim
de um certo número de ensaios estabilizam as suas alternativas, as quais correspon-
dem às normas individuais. Esse resultado já era aliás conhecido pelos observadores
de astronomia, servindo para determinar a equação pessoal.
O que há de inovador na expenência de Sherif é a contribuição que ela fornece pa-
ra explicar a emergência de normas de grupo. Sherif verificou, com efeito, que na
condição de grupo os sujeitos ajustavam as suas estimativas em função uns dos ou-
tros, vindo a estabilizar em tomo dum resultado obtido por convergência, e não neces-
sariamente idêntico à média das normas individuais. Pelo contrário, ao inverter-se a
ordem das condições experimentais, o que se verificou foi que as normas individuais
eram influenciadas pelas normas de grupo. As experiências de Sherif, largamente apli-
cadas e confirmadas posteriormente, revestiram-se de grande importância para a cons-
tituição da psicologia experimental. Elas ilustravam de formaexemplar autilização do
laboratório no controlo das variáveis, designadamente no que se refere amanipulação
de variáveis cujo verdadeiro significado não é conhecido pelos sujeitos submetidos à
experiência. Para além disso a experiência de Sherif veio ainda contribuir, no plano
teórico, para mostrar que a formação de normas de grupo é explicável a partir do con-
texto imediato, no caso vertente o próprio laboratório; sem recurso à mediação de fac-
tores mais distantes, de carácter sócio-cultural.
A terceira grande contribuição citada refere~seaos estudos d e Lewin, Lippit e
White (1939) sobre a atmosfera de liderança. ais estudos consistiam em manipular
três diferentes estilos de liderância aplicados a grupos de crianças ocupadas em tra-
balhos manuais como a construção de máscaras e aeromodelismo. A manipulação foi
feita mediante monitores adultos recebendo treino p&io para dirigirem os grupos de
forma autoritária, democrática ou anárquica (laissez-$aire). KURLewin, recentemente
refugiado nos Estados Unidos, estava interessado em verificar que o sistema demo- Lt<Jir,
crático era, pelo menos, tão eficiente como o sistema directivo e que, para além disso, 4
oferecia vantagens suplementares decisivas no domínio da imaginaçao, cnatividade e
satisfação do grupo liderado. As experiências são por demais conhecidas, bastando
aqui recordar que as-- hipóteses
--- formuladas receberam confirmação, verificando-se
-- -----.---
que o estilo democrático, a não confundir com a permissividade e anarquia do estilo
lÜ~GFfa~re, provocava maior cnauvidade e satisfação sem afectar significativamente
Õ-aeprodutiwdade, enquanto que o estilo autoritário, embora eficiente do p x o
de vista estritamente
------...- - quantitativo, era gerador de agressividade ou, alternativamente,
de a p a m
Os estudos de Lewin e colaboradores deram igualmente lugar a muitas investi-
gações utilizando o mesmo quadro de referência teórico. Eles ilustravam pela primei-
238 JORGE CORREIA JESU~NO
uma "exigência da ciência" e submetem-se. Pode deste modo suceder, como notam
Tajfel e Fraser (1979), "que o experimentador crie requisitos característicos num gm-
po experimental que difiram dos requisitos numa condição de controlo. E daí pode re-
sultar que se encontrem diferenças consistentes devido não à variável explicitamente
manipulada mas às exigências implícitas de que o próprio investigador não estava
consciente" (p. 49).
Outro autor igualmente muito crítico relativamente ao experimentalismo é Gergen
(1973), que põe inclusivamente em causa a possibilidade duma psicologia social cien-
tífica. Para Gergen a "psicologia social ocupa-se de factos que em grande parte não
se repetem e que flutuam marcadamente ao longo do tempo.. .O conhecimento em psi-
w . habitual da ciência.,'Doraue tal conhe-
cologia social não se w d e acumular. na acemão ~ -
taçóes que os sujeitos transportam com eles para a situação experimental" (p. 153).
Através da experimentação, essas relações sociais são reforçadas ou enfraquecidas a
fim de melhor detectar os processos, estimulando o indivíduo e as estruturas sociais.
Com Doise assiste-se assim à recuperação do próprio método experimental, em
si mesmo compatível com uma psicologia social mais social. O autor, aliás, dá nume-
rosos exemplos, alguns deles clássicos, onde claramente se ilustra a possibilidade
efectiva duma psicossociologia experimental concebida nestes moldes.
Em resumo, verifica-se que o método experimental se tomou praticamente exclusi-
vo na psicologia social que se pratica nas décadas de sessenta e de setenta e que, em-
bora menos evidente, tal hegemonia se acha ligada a uma centração nos processos in-
tra-individuais e inter-individuais, abstraídos das estruturas sociais e das ideologias.
Verifica-se ainda que este panorama é típico da produção científica norte-americana,
cuja actividade editorial logra normalizar a comunidade dos psicossociólogos, e que a
isso não serão estranhas motivações de carácter ideológico. Enfim, vias alternativas
são referidas, sobretudo a partir de psicossociólogos europeus, no sentido da consti-
tuição duma psicologia social mais social.
Em termos globais verifica-se que esta nova edição inclui, pela primeira vez, um
capítulo sobre o interaccionismo simbólico, por forma a proporcionar "uma maior in-
tervenção das perspectivas sociológicas", como é expressamente declarado pelos edi-
tores no Prefácio (p. 10). As considerações dum Farr (1978) preconizando uma
maior aproximação entre o experimentalismo e as novas correntes da "psicologia so-
cial sociológica" adquirem assim maior pertinência. Outro aspecto que igualmente nos
parece sintomático nesta nova edição do HSP é a inclusão de novos capítulos sobre
papéis sexuais, psicologia ambienta1e aplicações da psicologia social da investigação
neste domínio. Enfim, a inclusão dum autor europeu - Moscovici - responsável
pelo capítulo sobre "influência social e conformidade", sobretudo porque as suas in-
vestigações, neste domínio, partem de posições muito críticas relativamente à psicolo-
gia social norte-americana, não deixa igualmente de ser sintomático. Trata-se aliás do
único capítulo, entre trinta, não redigido por um autor norte-americano.
METODO EXPERIMENTAL NAS CIENCIAS SOCIAIS 245
Todos estes indícios, quer isolados, quer em conjunto, parecem ter de comum o
objectivo de inflectir a disciplina para temáticas de maior relevância social, a par de
uma maior abertura a teorias alternativas.
No que se refere especificamente ao método experimental, que continua, apesar
de tudo, dominante, são igualmente de registar mudanças de orientação significati-
vas. No capítulo do HSP sobre o método experimental, da responsabilidade dos mes-
mos autores que o redigiram para a segunda edição, verificamos que, de 1968 para
cá, haveria três aspectos a salientar: em primeiro lugar manipulações experimentais
mais fracas, menos indutoras de stress nos sujeitos experimentais e menos recurso ao
embuste; em segundo lugar, mais recurso às "experiências de julgamento" de pre-
ferência às "experiências de impacto"; enfim um maior afastamento do laboratório a
favor das "experiências no terreno" (Aronson et al, 1985 p. 443).
Mas porventura o aspecto mais significativo a sublinhar é o reconhecimento explí-
cito por pane destes autores da vantagem de combinar a experimentação no laborató-
rio e no terreno para fins de elaboração teórica e para o desenvolvimento duma verda-
deira psicologia social. Um exemplo duma tal síntese entre o laboratório e o terreno
seria o dos estudos sobre o controlo e responsabilidade psicológica. Começou com
os estudos sobre psicologica animal no laboratório, passando, em seguida, a estudos
sobre o stress humano, voltando novamente ao laboratório e ao terreno. Desse vai-
-vem obtiveram-se resultados demonstrando a importância da percepção, por parte
do sujeito, mesmo que ilusória, de controlo e de responsalibidade, para aumentar a
sua capacidade de resistência a acontecimentos geradores de tensão (Aronson et al,
1985, p. 483).
Note-se que não se trata aqui de "corrigir" o "artificialismo" do laboratório subme-
tendo-o à prova de fogo da "realidade". A questão diz sobretudo respeito à "validade
externa" dos resultados experimentais de certo modo sacrificada à "validade interna",
implícita na lógica dos modelos desenvolvida por'~ampbelle associados (1963). A
situação de laboratório é tão real e mesmo tão complexa como as situações naturais.
O importante do ponto de vista experimental é, conforme a distinção proposta por
Aronson et a1 (1968, 1985), entre "realismo experimèntal" e "realismo mundano".
Uma experiência é realista na medida em que envolve'os sujeitos, em que tem capaci-
dade para os interessar. É este realismo que interessa o experimentador, esteja ele a in-
vestigar no laboratório ou no terreno, e é também este o processo que permite fazer a
ligação entre validade interna e validade externa.
Também Doise (1982) sublinha a importância da complementaridade entre o labo-
ratório e o terreno, como instância de articulação de diferentes níveis de análise, toma-
da possível pela experimentação.
A psicologia social europeia é aliás particularmente fértil em exemplos deste vai-
-vem entre o laboratório e o terreno. Tal é o caso dos estudos sobre as relações inter-
gmpo conjugando as experiências de laboratório conduzidas por Tajfel e colaborado-
res (1978) e o teste efectuado por Brown (1978). Numa experiência realizada numa
fábrica de construçáo aeronáutica, mostrou este autor, de acordo com a teoria, que os
membros dum --determinado
--- -- grupo de trabalhadores
-- preferiam
--- -- uma situação salarial
-
246 JORGE CORREIA JESUINO
menos vantajosa em termos absolutos, desde que mantivesse uma superioridade relati-
va sobre outro com o qual desenvolveram uma relação de competição social.
Outro exemplo de complementaridade entre o laboratório e o terreno é dado pelos
estudos de Lemaine sobre a originalidade social, inicialmente conduzidos com crian-
ças em colóquios de férias (Lemaine, 1966, 1974), testando a hipótese de que os gru-
pos, quando em desvantagem relativa, procuram redefinir a situação segundo novas
dimensões tornando-se, de algum modo, "incomparáveis". Este mesmo quadro te6ri-
co de referência é igualmente aplicado à comunidade científica (Lemaine, Matalou e
Provansal, 1969; Lemaine, 1983), oferecendo-se como possível explicação para o es-
forço desenvolvido pelos cientistas, sempre em competição para se tornarem "visí-
veis".
Enfim, um terceiro exemplo, mas muitos outros poderiam ser fornecidos, é o dos
estudos de Stephenson (1984) sobre negociação inter-grupos. Conduzidos alternada-
mente no laboratório e no terreno, esses estudos permitem verificar que um grupo dis-
pondo, à partida, de maiores vantagens negociais terá maior probabilidade de tirar par-
tido dessa vantagem objectiva utilizando uma estratégia negocia1 em que a dimensão
inter-grupo tenha primazia sobre as relações inter-pessoais.
Resultados deste tipo ligando o laboratório ao terreno permitem não apenas confir-
mar teorias mas também revelar o seu valor prático e aplicável. Porque, tal como teria
dito Kurt Lewin, nada há mais prático que uma boa teoria.
Nota - As obras assinaladas com um * consideram-se as mais indicadas para uma ini-
ciaçáo ao método experimeptal; as obras assinaiadas com ** ilustram aplicações do mktodo.