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1.

Cabo
Cabos são membros estruturais longos, delgados e flexíveis projectados para suportar
cargas axiais.

1.1. Para que serve


 Importante elemento estrutura
 Uso:
– Pontes
– Teleféricos
– Linhas de transmissão
 2 Tipos de funcionamento
– Cargas uniformemente distribuídas com relação a horizontal à
configuração parabólica
– Cargas uniformemente distribuídas com relação a configuração do
cabo (peso próprio) à configuração catenária
 Hipótese
– A força no cabo é sempre na direcção do cabo
1.1.1. Comportamento
O esforço de tracção simples é o mais favorável, resultando em elementos estruturais
muito esbeltos, portanto leves física e visualmente.
O cabo é predominantemente comprido, portanto torna-se flexível e apresenta
resistência apenas quando traccionado.
As estruturas de cabos, também chamadas estruturas suspensas ou penseis, são
estruturas que podem vencer grandes vãos com pequeno consumo de material.
O cabo é um sistema estrutural que tende a adquirir a forma directamente ligada à
posição, direcção, sentido, quantidade e intensidade das forças que atuam sobre ele.
Torna-se uma estrutura pouco estável quando sujeito a variações de cargas acidentais,
principalmente o vento. Para ser estável, deverá estar sempre associado a outros
sistemas estruturais.
Para entender o comportamento de um cabo deve-se supor um fio que tenha em seus
extremos anéis que o prendam a uma barra fixa. Uma carga P aplicada em seu ponto
médio fará os anéis se juntarem no meio da barra, solicitados por uma força horizontal
(Fay, 2006) .

Para evitar o escorregamento deve-se fixar os anéis, então o cabo adquirirá uma forma
triangular. A altura do triângulo será a flecha.
Aumentando o número de cargas o cabo apresentará diferentes formas de equilíbrio.
As diferentes formas que o cabo adquire em função do carregamento denominam-se
funiculares das forças. A forma funicular apresentada pelo cabo é análoga ao gráfico de
variação do momento flector ao longo de uma viga de mesmo vão e de mesmo
carregamento do cabo.
Para um determinado carregamento e vão, a força horizontal necessária para dar o
equilíbrio ao cabo aumenta com a diminuição da flecha. Quanto menor a flecha, maior
será a solicitação no cabo.

A relação entre flecha e vão que resulte em menor volume de material, depende do
tipo de carregamento e encontra-se entre os limites:

1 𝑓 1
<𝐿<5 onde: f: flecha do cabo
10

L : vão do cabo

1.1.2. Materiais e seções usuais


Por estar o cabo sujeita a esforços de tracção o material mais resistente à tracção é o aço
de alta resistência. A seção circular plena é a mais indicada, pois apresenta
concentração da massa junto ao centro de gravidade, ocupando menores espaços.

1.1.3. Aplicações e limites de utilização


O cabo de aço quando submetido apenas ao peso próprio pode vencer um vão de
aproximadamente 30km, ma apresenta como desvantagens a dificuldade de absorção do
empuxo horizontal e a sua instabilidade de forma quando submetido a variações de
carregamento.
A absorção dos empuxos pode ser feita por pilares livres ou atarantados.
Com os tipos de aço disponíveis hoje, pode-se atingir limites de vãos em torno de
1.500 m para pontes, ou em torno de 5.500 m para torres de transmissão.

Figura 1-Cabos carregados verticalmente

2. Características dos cabos

Os cabos, feitos de um grupo de fios de alta resistência trançados para formar uma
cordoalha, têm uma resistência à tracção máxima de aproximadamente 270 kips/pol2 (1
862 MPa). A operação de entrelaçamento confere um padrão espiral aos fios
individuais.
Ao mesmo tempo que o estiramento dos fios por meio de moldes durante o processo de
manufactura eleva o ponto de escoamento do aço, também reduz sua maleabilidade. Os
fios podem sofrer um alongamento máximo de 7% ou 8%, comparado ao de 30% a 40%
do aço estrutural com ponto de escoamento moderado, digamos, 36 kips/pol2 (248
MPa). Os cabos de aço têm um módulo de elasticidade de aproximadamente 26000
kips/pol2 (179 GPa), comparado ao módulo de 29000 kips/pol2 (200 GPa) das barras de
aço estruturais. O módulo mais baixo do cabo deve-se ao desenrolar da estrutura espiral
do fio sob carga. Como um cabo transmite apenas tracção directa, a força axial
resultante T em todas as seções deve actuar tangencialmente ao eixo longitudinal do
cabo (ver Figura 6.2b). Por não possuir rigidez à flexão, os projectistas (Kenneth M.
Leet, 2009).

Figura 2-Ponte estaiada sobre a baía de Tampa.

Segundo (Kenneth M. Leet, 2009) diz que deve-se tomar muito cuidado ao planejar
estruturas com cabo para garantir que as sobrecargas não causem grandes deflexões ou
vibrações. Nos primeiros protótipos, muitas pontes e coberturas apoiadas em cabos
desenvolviam grandes deslocamentos (drapejamento) causados pelo vento, que
resultavam na falha da estrutura. A completa destruição da ponte Tacoma Narrows, em
7 de Novembro de 1940, causada por oscilações induzidas pelo vento, é um dos
exemplos mais espectaculares de falha estrutural de uma grande estrutura apoiada em
cabo. A ponte, que se estendia por 5 939 pés (1 810 m) sobre o estreito de Puget, perto
da cidade de Tacoma, em Washington, EUA, desenvolveu vibrações que atingiram uma
amplitude máxima na direcção vertical de 28 pés (8,53 m), antes que o sistema de piso
rompesse e caísse na água.

2.1. Variação da força no cabo


Se um cabo suporta somente carga vertical, a componente horizontal H da tensão T no
cabo é constante em todas as seções ao longo do eixo do cabo. Essa conclusão pode ser
demonstrada pela aplicação da equação de equilíbrio ∑ 𝐹𝑥 = 0 em um segmento de
cabo (ver Figura1). Se a tensão do cabo é expressa relativamente à componente
horizontal H e à inclinação do cabo 𝜃.
(1)
Em um ponto no qual o cabo é horizontal (por exemplo, ver ponto B na Figura 1 a),
𝜃 é igual a zero. Como cos 0 = 1, a Equação acima mostra que T = H. O valor máximo
de T normalmente ocorre no apoio onde a inclinação do cabo é maior.

2.1.1. Análise de um cabo suportando cargas gravitacionais (verticais)

Quando um conjunto de cargas concentradas é aplicado, um cabo de peso


desprezível se deforma em uma série de segmentos lineares (Figura 3-a). A forma
resultante é chamada de polígono funicular. A Figura 3-b mostra as forças actuando no
ponto B em um segmento de cabo de comprimento infinitesimal. Como o segmento está
em equilíbrio, o diagrama vectorial, consistindo nas forças do cabo e na carga aplicada,
forma um polígono de forças fechado (ver, por exemplo, Figura 3-c).

Um cabo suportando carga vertical (ver Figura 3-a) é um membro determinado.


Estão disponíveis quatro equações de equilíbrio para calcular as quatro componentes da
reacção fornecidas pelos apoios. Essas equações incluem as três equações de equilíbrio
estático aplicadas ao corpo livre do cabo e uma equação de condição, ∑ 𝑀𝑧 = 𝑜. Como
o momento em todas as seções do cabo é zero, a equação de condição pode ser escrita
em qualquer seção, desde que a flecha do cabo (a distância vertical entre a corda do
cabo e o cabo) seja conhecida. Normalmente, o projectista define a flecha máxima de
modo a garantir tanto a altura livre necessária como um projecto económico.

Para ilustrar os cálculos das reacções dos apoios e das forças em vários pontos ao
longo do eixo do cabo, analisaremos o cabo da Figura 4-a. A flecha do cabo na posição
da carga de 12 kips é definida como 6 pés.
Nesta análise, vamos supor que o peso do cabo é insignificante (comparado à carga) e o
desprezaremos. (Kenneth M. Leet, 2009).
Figura 3--Diagramas vectoriais: (a), cabo (b) e força do cabo B (c).

Figura 4-(a) Cabo carregado com forças verticais, flecha do cabo em B configurada em 6 pés.

Passo 1: Calcule Dy somando os momentos sobre o apoio A.

(2)

Passo 2: Calcule Ay

(3)

Passo 3: Calcule H; some os momentos sobre B (Figura 4-b).


(4)

Configurando hb= 6ft resulta H= 51kips

Após H ser calculada, podemos estabelecer a flecha do cabo em C considerando


um corpo livre do cabo imediatamente à direita de C (Figura 4-c).

Passo 4:

(5)

Para calcular a força nos três segmentos de cabo, estabelecemos 𝜃A, 𝜃B e 𝜃C, então, usamos a
primeira Equação.

Calcule TAB.

Calcule TBC.
Calcule TCD.

Como as inclinações de todos os segmentos de cabo na Figura 4-a são


relativamente pequenas, os cálculos acima mostram que a diferença na magnitude entre
a componente horizontal da tensão do cabo H e a força total no cabo T é pequena.
3. Teorema geral dos cabos

Quando efectuam os cálculos para a análise do cabo da Figura 4-a, porem tendo
observado que certos cálculos são semelhantes aos que faria na análise de uma viga com
apoio simples com vão igual ao do cabo e suportando as mesmas cargas aplicadas no
cabo. Por exemplo, na Figura 4-c, aplicamos as cargas do cabo em uma viga cujo vão é
igual ao do cabo. Se somarmos os momentos sobre o apoio A para calcular a reacção
vertical Dy no apoio à direita, a equação do momento será idêntica à Equação 2 escrita
anteriormente para calcular a reacção vertical no apoio à direita do cabo. Além disso,
você notará que o formato do cabo e o diagrama de momento para a viga da Figura 4
são idênticos. Uma comparação entre os cálculos de um cabo e de uma viga com apoio
simples que suporta as cargas do cabo leva ao seguinte enunciado do teorema geral dos
cabos:

“Em qualquer ponto de um cabo que suporta cargas verticais, o produto da flecha
do cabo h e a componente horizontal H da tensão no cabo é igual ao momento flector
no mesmo ponto em uma viga com apoios simples que suporta as mesmas cargas nas
mesmas posições que o cabo. O vão da viga é igual ao vão do cabo” (Kenneth M. Leet,
2009).
A relação acima pode ser expressa pela seguinte equação:

Hhz = Mz (6)
em que H = componente horizontal da tensão do cabo
hz =flecha do cabo no ponto z onde Mz é avaliado
Mz= momento no ponto z em uma viga com apoio simples suportando as cargas
aplicadas no cabo

Como H é constante em todas as seções, a Equação 6 mostra que a flecha do cabo


h é proporcional às ordenadas da curva de momento.
Para verificar o teorema geral dos cabos dado pela Equação 6, mostraremos que,
em um ponto arbitrário z no eixo do cabo, o produto da componente horizontal H da
tracção do cabo e a flecha do cabo hz é igual ao momento no mesmo ponto em uma
viga com apoio simples que suporta as cargas do cabo (ver Figura 5). Também vamos
supor que os apoios das extremidades do cabo estão localizados em diferentes
elevações. A distância vertical entre os dois apoios pode ser expressa em termos de a, a
inclinação da corda do cabo e do vão do cabo L como

y = L Tang ∝
(7)

Figura 5

Imediatamente abaixo do cabo, mostramos uma viga com apoio simples na qual
aplicamos as cargas do cabo. A distância entre as cargas é a mesma nos dois casos.
Tanto no cabo como na viga, a seção arbitrária na qual avaliaremos os termos da
Equação 6.6 está localizada a distância x à direita do apoio esquerdo. Começamos
expressando a reacção vertical do cabo no apoio A em relação às cargas verticais e H
(Figura 5-a).

(8)

Em que ∑ 𝑚B representa o momento sobre o apoio B das cargas verticais (P1 a


P4) aplicadas no cabo.

Na Equação 8, as forças Ay e H são as incógnitas. Considerando um corpo livre à


esquerda do ponto z, somamos os momentos sobre o ponto z para produzir uma segunda
equação relativamente às reacções desconhecidas Ay e H.
(9)

Em que ∑ 𝑚z representa o momento sobre z das cargas em um corpo livre do


cabo à esquerda do ponto z. Resolvendo a Equação 6.8 para Ay, temos.

(10)

Substituindo Ay da Equação 10 na Equação 9 e simplificando, encontramos.

(11)

Em seguida, avaliamos Mz, o momento flector no ponto z da viga (ver Figura 5b):

(12)

Para avaliar RA na Equação 12, somamos os momentos das forças sobre o rolo em
B. Como as cargas na viga e no cabo são idênticas, assim como os vãos das duas
estruturas, o momento das cargas aplicadas (P1 a P4) sobre B também é igual a ∑ 𝑚B.

(13)

Substituindo RA da Equação 13 na Equação 12, temos

(14)

Como os lados direitos das equações 11 e 14 são idênticos, podemos igualar os


lados esquerdos, dando Hhz = Mz; assim, a Equação 6 nesta confirmada.

3.1. Estabelecendo a forma funicular de um arco


O material necessário para construir um arco é minimizado quando todas as seções ao
longo do seu eixo estão em compressão directa. Para um conjunto de cargas em
particular, o perfil do arco em compressão directa é chamado de arco funicular.
Imaginando que as cargas suportadas pelo arco são aplicadas a um cabo, o projectista
pode gerar uma forma funicular para as cargas, automaticamente. Se a forma do cabo
for virada de cabeça para baixo, o projectista produzirá um arco funicular. Como os
pesos próprios normalmente são muito maiores do que as sobrecargas, o projectista
pode utilizá-los para estabelecer a forma funicular (ver Figura 6).

Figura 6- Estabelecendo a forma do arco funicular

Exercícios propostos.
1- Determine as reacções nos apoios produzidas pela carga de 120 kips em meio
vão (Figura 7) usando (a) as equações de equilíbrio estático e (b) o teorema
geral dos cabos. Despreze o peso do cabo.

Solução:
a) Como os apoios não estão no mesmo nível, devemos escrever duas equações
de equilíbrio para encontrar as reacções desconhecidas no apoio C. Primeiramente,
considere a Figura 7a.

(1)

Em seguida, considere a Figura 7b.

(2)

Substitua H da Equação 2 na Equação 1.

Substituindo Cy na Equação 2, temos

b) Usando o teorema geral dos cabos, aplique a Equação 6.6 no meio do vão, onde
a flecha do cabo hz = 8 ft e Mz = 3 000 kip.ft (ver Figura7c).
Após H ser avaliada, some os momentos sobre A na Figura 7a para calcular Cy =
78,757 kips.

Nota. Embora as reacções verticais nos apoios do cabo da Figura 7a e da viga da Figura
7c não sejam iguais, os resultados finais são idênticos.

2- Uma cobertura apoiada em cabo suporta uma carga uniforme w = 0,6 kip/ft (ver
Figura 8a). Se a flecha do cabo em meio vão é configurada em 10 pés, qual é a
tensão máxima no cabo (a) entre os pontos B e D e (b) entre os pontos A e B?

Solução:

a) Aplique a Equação 6.6 no meio do vão para analisar o cabo entre os pontos B e
D. Aplique a carga uniforme em uma viga com apoios simples e calcule o momento Mz
no meio do vão (ver Figura 8c). Como o diagrama de momento é uma parábola, o cabo
também é
uma parábola entre os pontos B e D.
A tensão máxima do cabo no vão BD ocorre nos apoios onde a inclinação é
máxima. Para estabelecer a inclinação nos apoios, usamos a derivada da equação do
cabo y = 4hx2/L2 (ver Figura 8b).

Substituindo em

b) Se desprezarmos o peso do cabo entre os pontos A e B, o cabo poderá ser tratado


como um membro recto. Como a inclinação do cabo 𝜃 é de 45°, a tensão é igual a
Bibliografia
Fay, L. (2006). Estruturas Arquitetônicas Composicão e Modelagem. In L. Fay,
Concepcão Estrutural e a Arquitetura (p. 1). Rio de Janeiro.

Kenneth M. Leet, C.-M. U. (2009). In C.-M. U. Leet Kenneth M, Fundamentos da


análoise estrutural (J. E. Tortello, Trad., 3 ed., pp. 226-239). São Paulo, Brazil:
McGraw-Hill 2010.

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