PROPRIEDADES FUNCIONAIS DO MÚSCULO DE CORVINA (Micropogonias furnieri)
DESIDRATADA
FUNCTIONAL PROPERTIES OF DEHYDRATED WHITEMOUTH CROAKER
(Micropogonias furnieri) MUSCLE
Gabrielle Victoria Gautério1, Irene Rodrigues Freitas2, Carlos Prentice-Hernández3
1 Graduanda em Engenharia de Alimentos; 2Mestranda em Engenharia e Ciência de Alimentos; 3Professor da Escola de Química e Alimentos – Universidade Federal do Rio Grande – FURG
A indústria pesqueira de Rio Grande é responsável pelo processamento de uma
grande variedade de espécies de pescado. Dentre as espécies capturadas na região está a corvina (Micropogonias furnieri), que é pouco comercializada devido ao seu baixo valor comercial, mas que poderia ser utilizada para a produção de alimentos processados. O termo funcionalidade é definido como toda propriedade não nutricional que influi no comportamento de certos componentes de um alimento. A maior parte das propriedades funcionais influencia as características sensoriais, mas igualmente pode desempenhar importante papel nas propriedades físicas dos alimentos e de seus ingredientes durante o processamento, armazenamento, preparo e consumo (ORDÓÑEZ et. al., 2005) Deste modo, o presente trabalho teve como objetivo avaliar as propriedades funcionais do músculo de corvina (Micropogonias furnieri) desidratada.
2. Materiais e métodos
A matéria-prima utilizada foi o músculo de corvina (Micropogonias furnieri), obtida
nas indústrias de pescado da cidade de Rio Grande. Posteriormente, realizou-se a secagem em estufa com circulação de ar a temperatura de 40 ± 2 ºC, durante 48 horas. A determinação da capacidade de retenção de água foi realizada segundo REGENSTEIN et.al. (1979), adaptando às condições do laboratório. Foram preparadas dispersões proteicas a 1%, com variação de pH na faixa de 3 a 11; após agitação, a dispersão foi centrifugada a 9000xg durante 20 minutos. A CRA foi expressa como a quantidade de água retida pela proteína contida na amostra. A capacidade de retenção de óleo foi analisada de acordo com o método descrito por FONKWE & SINGH (1996) com modificações, onde 0,5g de amostra foram homogeneizadas com 10 mL de óleo de soja e, a seguir, a mistura foi centrifugada a 9000xg por 20 minutos. A CRO foi expressa como a quantidade de óleo retido por grama de proteína. A capacidade emulsificante foi determinada segundo OKEZIE & BELLO (1988) adaptada por CENTENARO et. al. (2009). A quantidade de óleo remanescente após a centrifugação foi medida com o auxílio de proveta. A diferença entre a camada de óleo remanescente e a quantidade de óleo adicionado foi expressa como a quantidade de óleo emulsificado e retido, por grama de proteína contida na amostra.
3. Resultados e discussão
A Tabela 1 apresenta os valores encontrados para as análises de capacidade de
retenção de água (CRA), capacidade de retenção de óleo (CRO) e capacidade emulsificante (CE) para o músculo de corvina (Micropogonias furnieri) desidratada. Tabela 1 – Valores encontrados nas análises de CRA, CRO e CE para o músculo de corvina (Micropogonias furnieri) desidratada. CRA (pH3)1 CRA (pH5)1 CRA (pH7)1 CRA (pH9)1 CRA (pH11)1 CRO2 CE2
1 – Expresso em gH2O/gproteína; 2 – Expresso em mLóleo/gproteína.
A menor CRA foi observada no pH 5 e maiores valores de CRA foram observados
em pH 9 e 11. Isto era esperado, uma vez que em pH próximo ao ponto isoelétrico, ocorre a diminuição da capacidade da proteína em se ligar à água devido ao aumento da interação proteína-proteína, pois conforme o pH se torna mais ácido ou mais alcalino, as interações entre as moléculas proteicas tornam-se mais fracas e, consequentemente, fortalece a atração entre estas moléculas e a água. A capacidade de retenção de óleo média para o músculo de corvina desidratada foi de 7,042 mLóleo/ gproteína. A CRO é uma das propriedades funcionais mais importantes na elaboração de produtos, podendo influenciar na ordem de adição dos ingredientes secos na mistura, contribuindo para uma distribuição uniforme (CENTENARO et. al., 2009). Além disso, o mecanismo de retenção de óleo se deve principalmente à captura física do óleo pela proteína, tornando-se uma característica funcional muito requerida pela indústria alimentícia. A presença de proteínas miofibrilares no músculo de corvina desidratada e sua solubilização prévia em solução salina contribuiu para o valor de 10,667 mLóleo/ gproteína encontrada na análise de CE. A utilização de um emulsificante na indústria de alimentos é de grande importância, pois são incorporados às formulações visando uma boa qualidade dos produtos finais, entre outras funções que exerce.
4. Conclusão
O músculo de corvina desidratada apresentou menor CRA em pH próximo ao ponto
isoelétrico e valores elevados em condições de alta acidez ou alcalinidade.
5. Bibliografia
CENTENARO, G.S.; PRENTICE-HERNÁNDEZ, C.; SALAS-MELLADO, M.; NETTO, F.M.
Efeito da concentração de enzima e de substrato no grau de hidrólise e nas propriedades funcionais de hidrolisados proteicos de corvina (Micropogonias furnieri). Química nova, Vol. 32, No. 7, 1792-1798, 2009. FONKWE, L. G.; SINGH, R. K.; Proc. Biochem., 32, 309. 1996 OKEZIE, B. O.; BELLO, A. B.; J. Food Sci., 53, 540. 1988 ORDÓÑEZ, Juan A. et. al.; Tecnologia de Alimentos. Vol.1, 1ª ed., Editora Artmed: Porto Alegre, 2005. REGENSTEIN, J. M.; GORIMAR, T. S.; SHERBON, J. W.; J. Food Biochemistry. 3, 205. 1979
Autor a ser contatado: Gabrielle Victoria Gautério, Laboratório de Tecnologia de Alimentos,
Universidade Federal do Rio Grande – FURG – e-mail: gabiivic@yahoo.com.br