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Professor Me.

Rubem Almeida Mariano

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO
E CAPELANIA CRISTÃ

GRADUAÇÃO

TEOLOGIA

MARINGÁ-PR
2012
Reitor: Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho
Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância

Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva


Coordenação Pedagógica: Gislene Miotto Catolino Raymundo
Coordenação de Polos: Diego Figueiredo Dias
Coordenação Comercial: Helder Machado
Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha
Coordenação de Curso: Edrei Daniel Vieira
Supervisora do Núcleo de Produção de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa Moura
Capa e Editoração: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Luiz Fernando Rokubuiti e Renata Sguissardi
Supervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo
Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Janaína Bicudo Kikuchi e Jaquelina Kutsunugi e Maria Fernanda
Canova Vasconcelos

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR



CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação
a distância:

C397 Teologia, aconselhamento e capelania cristã / Rubem Al -


meida Mariano - Maringá - PR, 2012.
132 p.

“Curso de Graduação em Teologia - EaD ”.




1. Teologia. 2.Capelania cristã. 3. Aconselhamento. 4. EaD. I.
Título.

CDD - 22 ed. 230


CIP - NBR 12899 - AACR/2
“As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM”.
TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO
E CAPELANIA CRISTÃ
Professor Me. Rubem Almeida Mariano
4 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância
APRESENTAÇÃO
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos
os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de
qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com
eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho.

Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que


fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro.

Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso


de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos
brasileiros.

No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas


do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-
extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que
contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização
do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade.

Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referên-
cia regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de compe-
tências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão
universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação
da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social
de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também
pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação
continuada.

Professor Wilson de Matos Silva


Reitor

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Caro aluno, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Núcleo de
Educação a Distância do Cesumar, você terá à sua disposição todas as condições para se
fazer um competente profissional e, assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da
realidade social em que está inserido.

Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o
seu processo de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação,
determinadas pelo Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas
necessidades, dispomos de uma equipe de profissionais multidisciplinares para que,
independente da distância geográfica que você esteja, possamos interagir e, assim, fazer-se
presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento.

Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente,
você construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada
especialmente no ambiente virtual de aprendizagem – AVA – no qual disponibilizamos, além do
material produzido em linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de
estudo, enfim, um mundo de linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para
a sua aprendizagem. Assim sendo, todas as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu
processo de formação, têm por intuito possibilitar o desenvolvimento de novas competências
necessárias para que você se aproprie do conhecimento de forma colaborativa.

Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os
textos, fazer anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos
fóruns, ver as indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados,
pois tais atividades lhe possibilitarão organizar o seu processo educativo e, assim, superar os
desafios na construção de conhecimentos. Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe
estendo o convite para que caminhe conosco na Comunidade do Conhecimento e vivencie
a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de aprendizagem e membro de uma
comunidade mais universal e igualitária.

Um grande abraço e ótimos momentos de construção de aprendizagem!

Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo

Coordenadora Pedagógica do NEAD- CESUMAR


APRESENTAÇÃO
Livro: TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ
Professor Me. Rubem Almeida Mariano

“Jesus era absolutamente honesto, profundamente compassivo,


altamente sensível e espiritualmente maduro”.
Collys, G. R. em Aconselhamento Cristão.

Os estudos teológicos classicamente estão subdivididos em Teologia Bíblica, Teologia


Sistemática e Teologia Prática. O primeiro volta-se para os fundamentos e os rudimentos
dos textos bíblicos do Antigo testamento (AT) e Novo Testamento (NT); o segundo aborda
as elaborações filosófico-teológicas enquanto sistema de interpretação e compreensão
de doutrinas cristãs sistematicamente construídas, bem como dialoga com outros saberes
como é o caso da Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicologia dentre outros e, por fim, a
Teologia Prática, que tem como objetivo fundamentar construções teóricas e práticas da ação
evangélica. Nesse particular, em nossos dias, há uma significativa demanda para a Teologia
Prática, haja vista que vivemos tempos de novos paradigmas, por que não dizer, os quais
exigem maior rigor e necessidades de atuação da Teologia.

A disciplina “Teologia, Aconselhamento e Capelania Cristã” é uma disciplina que se coloca no


eixo da Teologia Prática. É importante ressaltar que Teologia Prática, conforme Silva (2010),
designaria a reflexão crítica sobre a ação eclesial. No contexto da Teologia Prática, todas as
ações implicam no agir da Igreja como liturgia, ensino, diaconia, aconselhamento e capelania
dentre outras. Para Szenmártony (1999), deve-se compreender a Teologia Prática como
uma reflexão teológica sobre o conjunto das atividades nas quais a Igreja se encarna, tendo
presente a natureza da Igreja e a situação atual desta no mundo.

Os referenciais teóricos utilizados foram de literatura, devidamente sustentados na visão


clássica da Teologia, sem nunca perder o tom crítico; assim como, também, nos estudos
sobre aconselhamento e capelania. Faz-se necessário sublinhar que as fontes bibliográficas
publicadas sobre capelania são deveras escassas, diferentemente das sobre aconselhamento.

A lógica desta disciplina prima pelo diálogo e respeito entre os conhecimentos que fazem
interface com a Teologia Prática, o qual não poderia ser diferente, contudo, foi opção respeitar

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 7


as especificidades dos conhecimentos para a constituição do estudo desta disciplina, ou seja,
referente ao aconselhamento cristão, primou-se em estudá-lo de forma muito peculiar junto
com os conhecimentos de aconselhamento advindo do universo psicológico. Tal opção não
tira em nada o brilho e a riqueza das elaborações e contribuições da Teologia Prática para a
ação evangélica nessa área. Acredita-se sim que esse procedimento, na verdade, marca de
forma indelével o respeito e o entendimento que os conhecimentos devem realmente exercitar,
no contexto acadêmico, para a melhor compreensão do objeto de estudo em comum entre
esses dois saberes.

Quanto aos objetivos a serem alcançados nesta disciplina, procurou-se atender as três áreas
enfatizadas pela didática, a saber: cognitiva, afetiva e motora. Nesta sequência e sentido,
foram sendo elaborados os estudos tema a tema para que o aluno ou a aluna, ao final desta
disciplina, tenha condições de conhecer e de refletir sobre os conhecimentos necessários para
o exercício da Teologia, em especial, nas áreas do Aconselhamento e Capelania Cristã.

Por fim, a disciplina “Teologia, Aconselhamento e Capelania Cristã” está divida em 5 unidades:
UNIDADE I – Aconselhamento e Capelania Cristã: Marco Bíblico-Teológico; UNIDADE II – Os
Fundamentos do Aconselhamento e da Capelania Cristã; UNIDADE III – Teologia e Práticas
em Aconselhamento Cristão; UNIDADE IV – O Perfil e Papel do Conselheiro e do Capelão
Cristão e UNIDADE V – Temas e Procedimentos em Aconselhamento e Capelania Cristã.

8 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


SUMÁRIO

UNIDADE I

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO

DIACONIA, MINISTÉRIO, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ����������������������������14

POIMÊNICA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ������������������������������������������������16

CUIDADO, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRIST��������������������������������������������������� 21

UNIDADE II

OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: APONTAMENTOS HISTÓRICOS����������������32

FUNDAMENTOS E TEORIAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO��������������������������������������33

OS FUNDAMENTOS DA CAPELANIA CRIST���������������������������������������������������������������������42

UNIDADE III

TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

PROPOSTAS, TÉCNICAS E COMPORTAMENTOS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO���57

PROMOVENDO O DIÁLOGO EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO��������������������������������������64

UNIDADE IV

O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO

PERFIL E ATITUDES DO CONSELHEIRO CRISTÃO������������������������������������������������������������77

PERFIL E PAPEL DO CAPELÃO HOSPITALAR��������������������������������������������������������������������88


UNIDADE V

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

ACONSELHAMENTO DE APOIO������������������������������������������������������������������������������������������������������104

ACONSELHAMENTO EM CASOS DE PERDA PESSOAL����������������������������������������������������������������108

ACONSELHAMENTO EM CASO DE CRISE MATRIMONIAL����������������������������������������������������������� 112

CONCLUSÃO�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������126

REFERÊNCIAS���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 127
UNIDADE I

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO


BÍBLICO-TEOLÓGICO
Professor Me. Rubem Almeida Mariano

Objetivos de Aprendizagem

• Ressaltar os fundamentos bíblico-teológicos do Ministério, Cuidado, Poimênica,


Aconselhamento e Capelania Cristã.

• Assinalar os aspectos fundamentais do Aconselhamento e da Capelania Cristã.

• Identificar os significados do termo “diaconia”, na Bíblia.

• Conscientizar que o fazer Aconselhamento e Capelania Cristã são atos próprios do


serviço cristão.

• Conhecer os fundamentos bíblico-teológicos da poimênica.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Diaconia, Ministério, Aconselhamento e Capelania Cristã

• Poimênica, Aconselhamento e Capelania Cristã

• Cuidado, Aconselhamento e Capelania Cristã


INTRODUÇÃO
“Os ensinos do Senhor são certos e alegram o coração. Os seus ensinamentos são
claros e iluminam a nossa mente”.
Salmo 19: 8

“A tua palavra é lâmpada para guiar os meus passos e luz para o meu caminho”.
Salmo 119:105

“A Palavra era a fonte da vida e essa vida trouxe a luz para todas as pessoas”.
Evangelho de João 1: 4

A boa tradição cristã, de corte Protestante, ressalta a Bíblia como uma das fontes necessárias
para o desenvolvimento da Fé Cristã. Nesse sentido, a presente unidade busca evidenciar os
fundamentos para a prática do aconselhamento e da capelania cristã que assinalem, por um
lado, uma genuína tradição cristã e, por outro, dialogue com as necessidades de nosso tempo.

Por isso, nos voltamos para os fundamentos bíblicos e teológicos do próprio ministério
cristão em que se destacaram os seguintes temas: diaconia, ministério, poimênica e cuidado.
Nossa fundamentação teórica parte do latino Gattinoni (apud CASTRO, 1973) sobre “As
bases do ministério pastoral no Novo Testamento” e do americano Clinebell (2000) sobre “O
aconselhamento pastoral modelo centrado em libertação e crescimento no universo bíblico”
dentre outros. Em ambos os autores citados, bem como nos outros, temos o objetivo maior de
fundamentar biblicamente o aconselhamento e capelania cristã, como expressão mesma da
ação cristã, ou seja, do próprio Cristo hoje.

Como se observou na apresentação, os estudos teológicos classicamente estão subdivididos


em Teologia Bíblica, Teologia Sistemática e Teologia Prática. Esta última, a Teologia Prática,
tem como objetivo fundamentar construções teóricas e práticas da ação evangélica. Nesse
particular, em nossos dias, há uma significativa demanda para a Teologia Prática haja vista
as necessidades do nosso tempo, as quais diferem de outros; há a necessidades de novos
paradigmas, por que não dizer os quais exigem maiores, novas elaborações e ações da

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 13


Teologia na sua modalidade prática.

Nesse sentido, nota-se uma demanda significativa para dois ministérios em especial da igreja
hoje: aconselhamento e capelania cristã. Eles apontam para as necessidades individuais,
grupais, comunitárias, familiares, conjugais, sociais dentre outras. Essas necessidades
cobram respostas da igreja. Contudo, essas repostas precisam de fundamentação também
Teológica, para que esses ministérios, ações e vocações da igreja estejam em consonância
com a Palavra de Deus e, assim, sejam eficazes, do ponto de vista bíblico, teológico e prático.

DIACONIA, MINISTÉRIO, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

O exercício do aconselhamento e da
capelania cristã está na mesma
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

perspectiva do ministério cristão, uma


vez que o ato de servir e o diaconato é o
ponto de partida e de chegada de toda e
qualquer ação cristã. Isso pode ser
evidenciado quando voltamos nosso
olhar para o universo neotestamentário,
o qual ressalta como fundamento essencial do ministério cristão, o serviço. Portanto, servir se
constitui fundamentalmente no próprio ser e agir do ministério cristão, que tem no ato de cuidar,
uma de suas facetas indeléveis.

Inicialmente, Gattinoni (apud CASTRO, 1973) informa que o sentido etimológico do termo
“diákonos” indica uma tarefa de condutor de camelos no pó (poeira): diá = através kónos = pó,
portanto diácono é um servente, um servidor. Exemplo maior é o próprio Jesus quando lava os
pés dos discípulos (Jo. 13:1-17); o serviço é a definição própria da missão de Jesus, portanto
ele veio para servir, pois é um servo (Lc. 22:27 e Mc. 10:45).

Compreende Gattinoni (apud CASTRO, 1973) que o ministério pastoral não pode deixar de
evidenciar essa atitude serviçal. Tal atitude é imprescindível, conforme Mt. 20:25-28; 25:31-46;
10:24. Nesse perspectivo, tanto o aconselhamento quanto a capelania devem estar inseridos
nessa visão bíblica: servir.

14 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Gattinoni (apud CASTRO, 1973) apresenta outro significado para a palavra diaconia, a
palavra grega “doulos”, no sentido “escravo”, que serve. A ideia fundamental desse vocábulo
é ressaltar o espírito serviçal como sendo inerente ao ministério e a todo e qualquer cristão
(intra e extracomunidade). O próprio Jesus Cristo recebeu esse título como sendo “O servo
por excelência” (Fil. 2:5-11; Atos 3:13,26; 4:27). Esse título é também conferido aos autores
dos livros bíblicos: João 1:1, Atos 16:17, 2Cor. 4:5; 9:19; em II Ti. 2:24, o ministro como sendo
servo; todos os cristãos assim o são: servos (Atos 2:18 e 4:29). Esse significado é designado
universalmente e válido a todo o corpo de Cristo (I Cor. 7:22 e I Pedro 2:16).

Portanto, os cristãos são chamados a servir a Cristo e ao seu Reino (Ro. 7:6; Col. 3:24; I Ts.
1:9; 1:1; 2:20;7;3); nesse sentido, o serviço aos homens é entendido como servir ao Senhor
Jesus Cristo (Ro. 14:18; Gá. 5:13; Ef. 9:9); a ideia de servir dos seres humanos como parte do
serviço a Cristo (I Cor 16:15; II Cor. 6, 8:4; 9:1, 12; Atos 20:28, 34, 35; II Ti. 1:18; Fim. 13) ou
ainda, o servir às pessoas como sendo uma ação ao próprio Cristo (Mat. 25:31-46). Diaconia,
nesse sentido, por fim, evoca de forma categórica que todo e qualquer ministério da Igreja,
com destaque para o aconselhamento e capelania cristã, é um ato de serviço ao próximo no
mundo. Uma ação missionária que nasce do ministério de Jesus Cristo como identidade da
Igreja.

Por fim, outro sentido para “diaconia” é uma expressão, conforme Gattinoni (apud CASTRO,
1973), “Diaconia como um ministério da Igreja, a serviço da obra de Deus, no mundo”. Diaconia
como ministério de toda a Igreja e de toda a comunidade cristã, bem como de cada comunidade
em particular – Ef. 4:12; Ap. 2:19; I Co.12 e Ro. 12:1-8; ou seja, toda e qualquer comunidade
que se diz cristã tem uma identidade em comum: ser sinal de Deus por meio do serviço da
igreja às pessoas. Essa expressão coroa e assinala a riqueza dos sentidos para “diaconia” já
observados acima.

Compreende-se, sem dúvida, que os sentidos de “diaconia” abordados até o presente ressaltam
biblicamente o serviço como fundamento para o exercício do ministério cristão, ou os mais
diversos ministérios da igreja, com destaque para o aconselhamento e a capelania cristã.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 15


POIMÊNICA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

Do ponto de vista bíblico-teológico, uma das imagens mais marcantes é o testemunho do


cuidado de Deus pela humanidade.

Assim, no Antigo Testamento, surge a imagem e


a memória do Deus-Pastor como Aquele que
conduz o povo, como faz um bom pastor ao
conduzir suas ovelhas. Tal tradição faz parte da
própria experiência existencial e de subsistência
de todo um povo.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

A vida do povo hebreu dependia do cultivo


do rebanho de ovelhas. Este animal era a
principal fonte de subsistência. Nesse sentido, a
experiência pastoril e a subsistência humana que
girava ao redor do rebanho não eram exclusivas
de Israel, mas contemplavam todos os povos do
mundo bíblico; assim como, também, para os povos mesopotâmicos. Por sinal, foram estes os
primeiros a metaforizar a imagem do “pastor”.

Javé, portanto, é compreendido como o único e verdadeiro Pastor de Israel. Essa alegoria é
celebrada no AT, especificamente, no Sl 23.1: “O Senhor é meu pastor, nada me faltará”. Ao
lado Dele não há outro! Este Salmo revela a poimênica, pois ele refere-se ao centro vital do
ser humano, que é sua relação com Deus. Uma relação concretizada a partir da fé humana
em Deus, enquanto Criador e Pastor da vida. Então, a poimênica, nesse contexto, remete para
aquilo que permite e ajuda o ser humano a continuar a respirar, a manter a sua vida saudável,
afinal a morte para o semita é a falta da relação com Deus.

16 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Nesse sentido, Hoepfner (2008), comenta:
Assim a poimênica, no mundo semita, está muito próxima da luta constante do ser
humano para manter ou resgatar a sua relação com Deus por meio das diferentes
articulações da vida em comunidade, como o culto e o sacrifício a Deus. Entretanto,
compreende igualmente a busca por uma plena e justa integração social do indivíduo
que cai no abismo do isolamento, que negligencia a sua relação com Deus e,
conseqüentemente, não mais se considera parte integrante do povo de Deus. Ali
onde o ser humano petrifica o seu coração, onde vive exclusivamente a partir do seu
próprio ar, da sua exclusiva respiração, - isto é, vive ao redor do seu próprio ser -, a
nefesh sucumbe, já não encontrará fôlego de vida e, por fim, clamará: “Como suspira a
corça pelas correntes de água, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma” (Sl 42.1). A
tradução de Lutero é mais enfática, pois translada “suspira” por “gritar” (schreit). Quer
dizer, em meio ao abandono de Deus, o ser humano grita, geme, se desespera, pois
enxerga com profundidade e dor o abismo em que sua aparente auto-suficiência o
levou. “No culto se articulavam o grito, a lamentação e a prece por ajuda da pessoa
que se encontrava fora da relação com Deus, que não conseguia mais enxergar o seu
rosto” (p.55).

Nessa perspectiva, a poimênica tem a ver com o clamor e o louvor da criatura perante o seu
Criador. O ser humano clama pelo hálito de vida que provém de Deus e o louva por este hálito
que o mantém, como afirma o último salmo: “Todo ser que respira louve ao Senhor. Aleluia!”
(Sl 150.6).

Hoepfner (2008) afirma ainda que:


Os principais agentes da poimênica eram, sobretudo, os Sacerdotes (Lv 12ss.; 1 Sm
1.9ss.), os anciãos e juízes que tomam decisões em casos de conflito (Rt 4), os profetas
que desenvolvem na sua prática a admoestação e a consolação individual e coletiva
(2 Sm 12; Is 40.1ss.) e, em primeiro lugar, os sábios, homens do povo que transmitiam
como pais de família os conselhos da sabedoria popular para os filhos (Pv 4ss.) (p.56).

Nota-se que a poimênica está no coração do Antigo Testamento, pois ressalta e afirma
categoricamente que tudo aquilo que torna plena a vida é concedida pelo Bom Pastor, Javé,
o Deus que cuida de suas ovelhas, conforme o Salmo 23: “O Senhor é o meu Pastor e nada
me faltará”.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 17


Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

Hoepfner (2008) observa que no Novo Testamento a poimênica tem nas ações e atitudes
libertadoras de Jesus Cristo a expressão perfeita do que significa pastorear. Ele sim é o
verdadeiro Pastor que dá a sua vida por suas ovelhas, ressalta o Novo Testamento de forma
vigorosa. Nesse sentido, tem-se nas ações e atitudes de Jesus Cristo a prática da poimênica
como um modelo de ação.

Hoepfner (2008), nesse sentido, faz a seguinte observação sobre esse termo “poimênica” à
luz do Novo Testamento:
A poimênica neotestamentária encontra no termo grego “paraclein”, “paraclesis”, o seu
conceito-chave que aponta para a oferta de salvação e de vida em abundância oferecida
por Cristo em sua vida e cruz. A “paraclesis” remete ao consolo da salvação que Cristo
oferece por meio de sua graça (2 Ts 2.16); entretanto, igualmente admoesta às pessoas
a transformarem suas vidas cotidianas, desafiando-as a realizar uma identificação com
Jesus Cristo também no decurso de um sofrimento (2 Co 1.5-7). Após a reflexão acima,
acerca do ministério de Cristo, viu-se que Ele guiou, vigiou, providenciou a vida e sentiu
profunda afetividade pelo povo do seu Pai. (p.65)

Por fim, Hoepfner (2008) define poimênica a partir de quatro funções pastorais a partir do
ministério de Jesus Cristo:

• Poimênica é vigiar, em um sentido de observar atentamente o outro em uma relação de


cuidado constante em que a solidariedade se dá vivenciando as dores do seu irmão e irmã.
Um bom exemplo é de Zaquel em Lc 19.1-10, Jesus demonstra o amor que sente por Za-
quel ao visitá-lo.

18 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


• A poimênica consiste em constituir relacionamentos afetivos entre iguais. Nesse sentido
Jesus foi um grande mestre que ensinou, pois apesar de ser o filho de Deus sempre se re-
lacionou como sendo igual. Ele não agia com desdém, mas acolhia e ouvia pacientemente.

• Poimênica é guiar. Mas não no sentido de se colocar como maioral ou superior; Jesus se
colocou com um irmão, em conjunto pelos novos caminhos que podem surgir, novas trilhas
diante da adversidade, pois Ele é a própria esperança viva. Conforme Hoepfner (2008), Ele
é o novo caminho que possibilita a vida; Ele é o guia que leva a novas esperanças, a um
novo caminho.

• Não por último, poimênica é a afirmação de uma vida cheia de dignidade. Ali, onde a vida
corre perigo com suas contradições sociais, por exemplo, essa vida se faz presente. É
impossível desassociar a ajuda psicológica e espiritual da ação social. Nesse sentido, a
poimênica em Cristo é anúncio de um evangelho integral. (p.p 65-66)

Portanto, podemos concluir por ora, que tanto a teoria quanto a prática da poimênica está
sustentada na tradição do Bom Pastor que dá a sua vida por suas ovelhas, como o Bom Pastor
do Antigo Testamento, Javé. Jesus Cristo, sem dúvida, testemunhou de maneira viva ao fazer
poimênica como porta voz do Evangelho de Deus. Hoepfner (2008) nesse particular afirma: “É
o Evangelho o esteio da poimênica cristã e Cristo o seu paradigma” (p.66)

Ainda sobre os fundamentos bíblico-teológicos da poimênica, Clinebell (2000) afirma


reiteradamente as notáveis potencialidades dos seres humanos:

a) O ser humano é um pouco menor que Deus (Sl 8.5).

b) O ser humano foi criado a imagem e semelhança de Deus, imago Dei, (Gn 1:17).

c) Jesus veio para conceder vida e vida, em abundância (Jo. 10:10), O ser humano tem
condições de desenvolver seus potenciais de sabedoria e de vida, segundo a parábola dos
talentos (Mt. 25:14-30) e as admoestações de Paulo a Timóteo, para “acender a chama do
dom de Deus que há em ti(...), pois o espírito que Deus deu é (...) para inspirar poder, amor
e autodisciplina” (2 Tm. 1:6).

É importante ressaltar, por fim, que a concepção bíblica nessa perspectiva deixa claro que os

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 19


seres humanos, apesar de terem potencialidades, não são onipotentes. Somos seres finitos,
limitados e marcados pelas condições efêmeras da nossa humanidade.

Outra ideia bíblica que Clinebell (2000) observa é a compreensão hebraica das pessoas. Era
essencialmente não dualista, ou seja, a Bíblia assinala que a vida humana deve ser entendida
de forma integral, em unidade de dimensões, dentro de uma visão holística, em uma visão
comunitária:

a) É assim que a Bíblia reafirma o sentido de glorificar a Deus no corpo (1Cor. 6:19), e não
fora dele ou desconsiderando-o.

b) Que se deve amar a Deus com todas as dimensões humanas (Mc. 12:30).

c) Que se deve viver a vida alimentando os relacionamentos em paz, shalom, do Antigo Tes-
tamento, ou em comunhão, koinonia, na perspectiva do Novo Testamento.

d) O respeito à Criação (ecologia) como ato único da vida. “E viu Deus que tudo era bom”.

e) A libertação é tanto pessoal quanto social. Tanto o pecado quanto a salvação são comu-
nitários e sociais, assim como individuais, onde o Novo Testamento afirma “Conheceres a
liberdade e a verdade vos libertará” (Jo. 8:32).

Nota-se que o ser humano é compreendido pelas escrituras em uma dimensão holística e
integral para o crescimento, conforme Clinebell (2000).
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

20 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Essa visão deve demonstrar positivamente o fazer do aconselhamento e da capelania cristã,
pois ressalta tanto as condições existenciais da humanidade, suas potencialidade advindas
do Criador, quanto os propósitos cristãos para essa humanidade, ou seja, em Cristo, essa
humanidade tem vida, e vida em abundância!

Pode-se concluir, por enquanto, que o marco bíblico-teológico aponta tanto o termo “diaconia”
quanto “poimênica” como palavras-chave da ação cristã da própria Igreja no mundo, ou seja,
como expressão própria do mistério cristão. Podemos assinalar, portanto, que todo e qualquer
ministério da igreja, como o aconselhamento e a capelania, é ação da Missão de anúncio da
Boa Nova, do cuidado que Deus tem pelo ser humano e, por outro lado, evidencia também
as potencialidades do ser humano, criadas pelo próprio Deus, as quais revelam as suas
possibilidades para um desenvolvimento de forma integral em Cristo.

CUIDADO, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

Inicialmente, a palavra que melhor expressa bíblica e teologicamente tanto aconselhamento


quanto capelania é o termo “cuidado”, ou o verbo “cuidar”.

A seguir, vejamos o trabalho realizado por Hoepfner (2008) sobre a análise do termo “cuidar”,
em que o referido autor faz um estudo sobre o termo em seu sentido etimológico e bíblico; bem
como o trabalho de Oliveira (2004).

Para Hoepfner (2008), o termo cuidar provém do latim cura, que assinala uma relação de
amor e amizade, uma atitude de cuidado, de desvelo, de preocupação e de inquietação
em relação a alguém ou a algo estimado. Portanto, o sentido aqui deve ressaltar, conforme
observa Hoepfner (2008), uma relação pessoal, existencial, e, por consequência, estabelecer
uma preocupação frente à vida de outra pessoa ou de algo, como o cuidado com os enfermos
ou com o meio ambiente.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 21


Hoepfner (2008), baseado em Boff, faz a seguinte observação sobre o cuidado:
[...]é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de
atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de
responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro, pois uma atitude perfaz uma
fonte, pela qual descendem muitos atos. (p.14-15)

Nesse sentido ainda, Hoepfner (2008) exemplifica e comenta da seguinte maneira essa
questão:
Quando uma mãe afirma: “Estou cuidando do meu filho adoentado!”, subentendem-
se, nesta afirmação, múltiplos atos. Atos como: estar preocupado com seu filho; levá-
lo ao médico; dar a ele, não apenas remédios, mas, igualmente carinho; orar com e
por ele, enfim, estar próximo dele por meio de ações diversas que compreendem uma
atitude de cuidado. Nesse sentido, pode-se afirmar que uma atitude de cuidado abarca
o ser humano em sua totalidade de vida. No que tange ao relacionamento humano,
tanto a pessoa que toma uma atitude de cuidar de alguém, quanto o indivíduo para o
qual é dirigida tal atitude, há um contato não meramente físico, mas também afetivo-
emocional, concretizando uma relação de sujeito para sujeito e não de sujeito para
sujeito-objeto, ou seja, o cuidado possibilita a dignidade, pois abre mão do poder
dominador e afirma uma comunhão entre seres reais. “A relação não é de domínio
sobre, mas de com-vivência. Não é pura intervenção, mas interação” Por conseguinte,
pode-se reiterar que só recebemos zelo se cuidarmos de outras pessoas; portanto,
nessa dimensão, apenas nos tornamos pessoa no encontro com outra. Percebe-se,
então, que a categoria cuidado tem conotações que superam as noções comuns que
lhe são aplicadas. (p.15)

Nota-se que o sentido ora ressaltado assinala vigorosamente uma atitude de cuidado total,
não com o que é particular ou pontual, mas sim com o ser humano em sua integralidade, em
suas mais diversas áreas e dimensões: física, afetivo-emocional, social, ecológica, cultural e
espiritual.

Outra questão importantíssima ressaltada ainda por Hoepfner (2008) é a relação entre os
seres humanos que deve ser pautada não pelo domínio sobre, mas pela convivência. Pode-se
compreender nessa perspectiva que só recebemos cuidado se cuidarmos também de outras
pessoas; portanto, nessa dimensão ou relação, apenas nos tornamos pessoa efetivamente
quando estamos no encontro com outra, ou seja, nos relacionamos respeitosamente como
iguais.

22 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Diante do exposto, Hoepfner (2008) conclui as seguintes considerações:
Explicitando, o cuidado vê os contornos concretos dos problemas, da realidade,
enxerga e abraça o ser em sua integralidade vital e, portanto, não se resume a
apenas fidelidade, a princípios profissionais e a deveres morais impostos por uma
sociedade deveras injusta. Perceptivelmente esclarecedor é o vocábulo alemão Sorge,
comumente traduzido ao vernáculo pátrio como “cuidado”, “preocupação”, “aflição”. Se
por um lado, a Sorge remete para o cuidado de si, por alguém ou por algo (Fürsorge),
por outro, remete, igualmente, para uma situação existencial de aflição, ou seja, o de
estar preocupado consigo mesmo, por alguém ou com algo (sich sorgen um). O termo
inglês care, da mesma forma, traz consigo a idéia de um cuidar solícito, bem como o
de um cuidar ansioso e aflito junto a alguém ou a algo. Conclui-se que, uma atitude de
cuidado frente a pessoas, requer envolvimento, pois “o cuidado é aquela relação que se
preocupa e se responsabiliza pelo outro, que se envolve e se deixa envolver com a vida
e o destino do outro, que mostra solidariedade e compaixão”. Tal atitude é a condição
prévia para o eclodir da amorosidade humana, afinal, quem cuida, ama e, quem ama,
cuida (p.16)

Hoepfner (2008) faz ainda um estudo sobre expressões correlatas ao termo “cuidar” no Antigo
Testamento e Novo Testamento:

O principal correlato do termo cuidar no Antigo


Testamento (AT) é o verbete shãmar. Ao longo
Fonte: PHOTOS.COM

do testamento hebraico ele aparece 420


vezes. A ideia básica da raiz deste termo,
conforme o Dicionário Internacional do Antigo
Testamento, é a de “exercer grande poder
sobre”, significado que permeia as várias
alterações semânticas sofridas pelo verbo.
Combinado com outros verbos, o sentido
expresso é o de “fazer com cuidado”, “fazer diligentemente”, por exemplo, como aparece
em Nm 23.12: “(...) Porventura, não terei cuidado de falar o que o Senhor pôs na minha
boca”. O verbo pode vir a exprimir também a atenção cuidadosa que se deve ter com as
obrigações contidas em leis e na própria aliança de Deus com o seu povo, como
expresso em Gn 18.19 ou Êx 20.6. Frequentemente, o verbo ainda é utilizado para
designar a necessidade de ser cuidadoso frente às próprias ações; frente à própria vida
(Sl 39.1; Pv 13.3), ou ainda, designar a atitude de alguém de dar atenção ou reverenciar
Deus, outras pessoas ou ídolos (Os 4.10; Sl 31.6). O verbo shãmar abrange ainda os
sentidos de “preservar”, “armazenar” e “acumular” a ira (Am 1.11), o conhecimento (Ml
2.7), o alimento (Gn 41.35) ou qualquer coisa de valor (Êx 22.7). Um último desdobramento
da raiz exprime a ideia de “tomar conta de” ou “guardar”, ou seja, envolve manter ou
cuidar de um jardim (Gn 2.15), de um rebanho (Gn 30.31) ou de uma casa (2 Sm 15.16).

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 23


É nessa ótica que Davi admoesta Joabe a cuidar de Absalão: “Guardai-me o jovem
Absalão” (2 Sm 18.12), ou quando Davi, nos Salmos 34.20; 86.2; 121.3-4 e 7, utiliza o
termo para falar do cuidado e da proteção divina.
No que tange ao Novo Testamento, o principal correlato de cuidar é o verbete grego
merimna. Assim como o termo alemão sorge e o inglês care, merimna pode remeter a
dois significados. Num sentido negativo, é traduzido por “preocupação” ou “ansiedade”
do ser humano. É nesse parâmetro que merimna é empregado no Sermão do Monte
(Mt 6.25-34). Jesus, nessa homilia, critica a demasiada preocupação do ser humano
em torno de questões materiais que o afastam de Deus. Paralelamente, a passagem
de Lc 21.34, adverte para as fúteis preocupações concernentes à vida diária. Já o
sentido positivo de merimna, remete ao “ter cuidado de” ou “preocupar-se com” alguém
ou algo. Em 2 Co 11.28, o apóstolo Paulo se vê como aquele que deve preocupar-se
com as igrejas. Já em 1 Co 12.25, a Igreja é vista como “corpo de Cristo”, no qual todos
os membros cuidem e cooperem uns a favor dos outros. Em 1 Pd 5.7, o ser humano é
chamado a lançar toda a sua ansiedade aos cuidados de Deus.
Outras tantas passagens bíblicas poderiam ser aqui arroladas. Perícopes, que
dependendo do testamento, utilizam os termos shãmar ou merimna, para expressarem
a ampla ideia do cuidado humano ou de Deus por sua criação. Entretanto, ressalta-se,
a partir dessa breve investigação acerca dos correlatos bíblicos do termo cuidar, que
em muitas passagens nas quais os termos shãmar e merimna são empregados, eles
compreendem, ao menos indiretamente, uma atitude que lida com a própria condição
de vida do ser humano. Atitude esta, profundamente arraigada na fé dos inspirados
escritores bíblicos em Deus. (p.p 17-18)

Ainda nessa direção, Oliveira (2004) afirma, a partir das elaborações teológicas de Leonardo
Boff sobre o cuidado com o ser humano no contexto maior que é o cuidado com a natureza, o
seguinte: “cuidar da alma implica cuidados sentimentos dos sonhos, dos desejos, das paixões
contraditórias, do imaginário, das visões e utopias que guardamos dentro do coração” (p.17).
Tal elaboração aponta o cuidar como um ato integral da existência humana.

Oliveira (2004), tomando afirmação de Brakemeier, destaca que o cuidado com o ser humano
está justamente na afirmação doutrinaria da Imago Dei, ou seja, que o ser humano é imagem
e semelhança de Deus. Portanto, há uma dignidade no ser humano que lhe é atribuída,
concedida sem merecimento que provém de Deus e que se manifesta em si mesmo.

Teologicamente, observa Oliveira (2004) que os atos de misericórdia e compaixão

24 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


testemunhados por Jesus Cristo, em sua prática, revelam o próprio amor de Deus dispensado
ao ser humano. Enquanto os atos de poder coisificavam o ser humano, escravizando-o, Jesus
testemunhava o amor de Deus que transforma a dor e a escravidão em amor, saúde e vida,
vida em abundância.

Oliveira (2004) assinala que a desesperança e o pessimismo podem ser revestidos pela
ressurreição de Cristo, pois ela apresenta uma nova condição antropológica para a existência
humana; bem como pela cruz que não nega o sofrimento, mas assinala que todos estão
suscetíveis nesta condição humana, pois Jesus também recebeu cuidados quando de sua
morte.

Por fim, o aconselhamento e a capelania cristã também são experiências construídas e


contextualizadas pela riqueza do serviço cristão que se explicita no ato de cuidar do ser
humano numa perspectiva bíblica. E essa tradição bíblica tem como eixo fundante e articulador
o Cristo da Fé e o Jesus Histórico. No primeiro, se evidencia a celebração da Vida e no
segundo se ressalta as contradições existenciais da Vida. Nessa dinâmica é que se encontram
relacionadas fundamentalmente o aconselhamento e a capelania cristã.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro aluno (a), esta nossa primeira unidade nos lançou no universo bíblico-teológico. Nela
visitamos e revisitamos textos clássicos e fundamentais da Fé Cristã que são imprescindíveis
não só para os nossos intentos, como para todo e qualquer objetivo que queira fundamentar
o testemunho cristão.

Em nosso caso, olhamos firmemente para o campo da Teologia Prática, ou mais especificamente,
para as áreas do Aconselhamento e da Capelania Cristã. Nesse sentido, quando estudamos a
palavra “diaconia”, vimos como este termo é rico e diverso, bem como aponta indelevelmente
para o ser próprio do Cristianismo: servir ao mundo. Destacou o nome e o sobrenome dessa
essência diaconal: Jesus Cristo, o servo por excelência. Assim, ficou límpido que o ministério
cristão, guarda-chuva maior que abarca o Aconselhamento e a Capelania Cristã, é um
instrumento de serviço no mundo, quer intra ou extraigreja.

Vimos ainda, juntos, o termo poimênica. Termo que deve ser entendido como ponto de

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 25


partida e de chegada do aconselhamento cristão, e por que não dizer da Capelania Cristã
também? Claro que sim. Esse termo alimenta essas duas atividades que, do ponto de vista
bíblico-teológico, são instrumentos para possibilitar ajuda e crescimento a todo aquele que se
encontra necessitado. Contudo, esse termo guarda também as potencialidades inerentes ao
ser humano; isso não pode ser esquecido quando se faz Aconselhamento e Capelania nessa
perspectiva, pois o aconselhando não é um objeto, mas um sujeito em crescimento. Isso deve
ser compreendido como um mote da ética da ajuda cristã.

Por fim, vimos cuidadosamente o verbo “cuidar”, ou o substantivo “cuidado”. Brincadeiras à


parte. “Cuidar” e “cuidado” são as palavras, sem dúvida, que melhor interpretam, em última
instância, toda e qualquer ação cristã. Nesse sentido, o oxigênio afetivo do Aconselhamento e
da Capelania Cristã é justamente a boa nova de Salvação a todo aquele que crê: “Porque Deus
amou (cuidou) do mundo de tal maneira que enviou o seu Filho unigênito para que todo o que
nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” (João 3:16).

Neste link, você encontrará mais informações sobre o cuidado à luz da poimênica. Especifi camente, o
texto enfoca a questão do cuidado de pastores e pastoras.

<http://www3.est.edu.br/biblioteca/btd/Textos/Mestre/Oliveira_rmk_tm105.pdf>.

ATIVIDADE DE AUTOESTUDO

1. Como vimos nesta unidade, o termo “diákonos” é muito rico e diverso em sua significação.
Aponte em que sentido Jesus é entendido como exemplo maior enquanto “diákonos”.

2. O estudo do termo “diákonos”, na perspectiva bíblica que vimos, é essencial para direcionar
o Ministério Cristão, o qual também orienta o aconselhamento e a capelania cristã. Diante
disso, interprete a seguinte afirmação: “Diaconia como um ministério da Igreja, a serviço da
obra de Deus, no mundo”.

3. Fundamentar, bíblica e teologicamente, é indispensável para toda e qualquer teoria ou


26 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância
prática cristã. Nesse sentido, elabore um texto, entre 4 e 8 linhas, que ressalte o sentido de
poimênica, no que concerne às potencialidades próprias dos seres humanos.

4. A partir da elaboração teológica do cuidado como fundamento para o aconselhamento e


capelania, aponte e argumente o porquê desse tema: “cuidado” é essencial para o exercício do
aconselhamento e da capelania cristã.

5. Nesta unidade foram vistos os termos “Diaconia”, “Ministério Cristão” e “Cuidado”. Vimos
que esses três termos são importantes para uma compreensão bíblico-teológica do fazer
aconselhamento e capelania cristã. Construa um texto argumentativo entre 5 e 10 linhas,
a partir desta unidade, que expresse a importância desses termos para a atividade de
aconselhamento e capelania cristã.

Comunidade de Fé: Aconselhamento – Missão e Diaconia


“Enviou-os a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos” (Lc 9.2). No afã de anunciar o Evangelho
até aos confi ns da Terra, a Igreja centra-se muitas vezes na primeira parte deste mandato divino e es-
quece sua missão de “curar os enfermos”. O ser missionário se dá de forma plena quando assumidas
todas as dimensões do Reino. Anunciar o Reino implica, na sua essência, a ajuda ao próximo, pois
o ensinamento primordial de Jesus é o da caridade. Avaliando a ação da Igreja através da história,
reconhece-se hoje a necessidade de retomar as características primeiras da comunidade de fé cristã,
ou seja, a recuperação de sua ação de diaconia.
As crises na vida do ser humano suscitam questionamentos existenciais. É bom que eu exista? Por
que eu existo? São perguntas que requerem respostas consistentes e efetivas para a vida da pessoa
em crise. Estas perguntas podem ser resumidas na questão central: Como posso aceitar a vida pas-
sada e futura?
Esta pergunta primária, essência da busca de sentido do ser humano, aponta para além do mundo
imamente. Ela expressa o desejo ilimitado do ser humano por felicidade, integridade, aceitação e
paz consigo mesmo e com os outros. Os cristãos acreditam que neste desejo pelo céu Deus mesmo
permanece na lembrança da humanidade. As crises na vida levam, como nenhuma outra experiência
biográfi ca, a este desejo humano primário por Deus. A pessoa afetada por crises se depara irremedia-
velmente – quando se preocupa com estas questões - com a necessidade de Deus.
É na comunidade de fé que a pessoa deve encontrar apoio e arrimo na busca por respostas existen-
ciais. Profi ssionais da área de Saúde Mental feriram por anos de sua história um direito fundamental
do portador de transtornos mentais ao ignorar sua dimensão espiritual. Dada a difi culdade de delimitar
fé sincera e coerente como direito fundamental e a confusão mental relativa a elementos religiosos,
TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 27
optou-se não tocar neste aspecto da vida. Por outro lado, constata-se a difi culdade de instituições
denominacionais para tratar questões religiosas abertamente de forma a respeitar o direito à liberdade
religiosa. Subestimar as capacidades mentais e cognitivas dos pacientes em instituições psiquiátricas
constituiu-se em um entrave para avançar nas refl exões sobre a experiência religiosa no campo da
Saúde Mental.
Por parte das comunidades de fé cristãs coexistem os bons propósitos a partir do Evangelho que en-
sina a não fazer acepção de pessoas nas relações e cuidados e a crença milenar preconceituosa que
vê as patologias mentais como possível castigo divino ou possessão demoníaca.
Para anunciar o Reino a todos – indiscriminadamente – é preciso superar tais paradigmas e construir
um novo modo de integrar portadores de transtornos mentais nas comunidades. A comunidade de fé
é o espaço privilegiado para a concretização do Reino aqui e agora. É nela que o portador de transtor-
nos mentais faz a experiência de um Deus de amor e ternura. O encontro de cristãos comprometidos
com os valores do Evangelho permite uma aproximação real com Deus, mesmo que, dependendo do
grau de transtorno mental, não haja uma sistematização e compreensão da relação com a Transcen-
dência. Antes da Palavra está a experiência. Se há limites para acolher a Palavra falada e sistemati-
zada, o mesmo não acontece com a Palavra encarnada, pois esta remete diretamente à experiência
do sagrado, portanto, acessível a todos.
Geni Hoss
Fonte: <http://www.rcaap.pt/detail.jsp?id=urn:repox.ibict.brall:oai:est.edu.br:172>. Acesso em: 26 dez de 2011.

28 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


UNIDADE II

OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA
CAPELANIA CRISTÃ
Professor Me. Rubem Almeida Mariano

Objetivos de Aprendizagem

• Conhecer as origens históricas do Aconselhamento e Capelania Cristã.

• Assinalar os aspectos fundamentais das teorias em Aconselhamento e em Capela-


nia Cristã.

• Apontar atitudes em Aconselhamento e Capelania Cristã.

• Identificar os objetivos principais do Aconselhamento e Capelania Cristã.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Aconselhamento e Capelania Cristã: Apontamentos Históricos

• Fundamentos e Teorias em Aconselhamento Cristão

• Os Fundamentos da Capelania Cristã

• Capelania Hospitalar
INTRODUÇÃO
“Assim como o corpo precisa do médico, a vida espiritual da pessoa precisa do
capelão”.

Jung, G. In: Silva – Capelania Hospitalar e terapia da enfermidade: uma visão pastoral.

No contexto religioso de corte


Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

cristã, são duas as práticas, em


especial, o Aconselhamento e a
Capelania, que são marcadas pelo
termo “ajuda”. Ambas se encontram
no campo da Teologia Prática,
bem como a liturgia, a educação, a
pastoral e o cuidado (diaconia).

Especificamente, como bem ressalta Barrientos (1991), o tema do aconselhamento é bastante


amplo e delicado, enquanto o tema da capelania ainda é pouco conhecido. Nessa área há
questões polêmicas, como a utilização ou não de técnicas e procedimentos do aconselhamento
psicológico para o aconselhamento ou a capelania cristã. Contudo, este livro tem o objetivo de
ser didático, ou seja, ser uma introdução aos temas do aconselhamento e da capelania para a
formação universitária em Teologia. Não obstante, o leitor atento e interessado deve buscar na
literatura especializada seu aprofundamento. É verdade, até então, que há bem mais material
disponível em aconselhamento do que em capelania.

Diante disso, esta unidade desenvolve estudos nos campos da história e das teorias puras, bem
como das teorias sobre as práticas do Aconselhamento e da Capelania Cristã. É importante
ressaltar que focamos na área Hospitalar em Capelania e, ainda, que os conceitos, a natureza,
os objetivos, o intento, as dimensões, os procedimentos, as atitudes, os instrumentos e os
comportamentos em Aconselhamento e Capelania Cristã foram observados e abordados à luz

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 31


de diferentes autores, uns bem conhecidos e outros menos pelo público especializado.

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: APONTAMENTOS


HISTÓRICOS

Acompanhar, ajudar e fortalecer na fé sempre foi uma atividade própria da Igreja de Cristo.
Flor (2010) observa três modelos básicos de aconselhamento cristão durante o período Antigo
e Medieval:

a) “poimênica como instrumento a serviço da disciplina eclesiástica” (cuidado com a fé para


que ninguém se afastasse do caminho reto);

b) “poimênica como caminho de aperfeiçoamento da vida monástica” (cuidado com a vida


interior e experiência mística de união com Deus);

c) “poimênica como função terapêutica” (na visão de luta entre poderes, era comum a busca
de cura de males atribuídos aos espíritos imundos).

Outras referências históricas dessa atividade podem ser encontradas logo nos primeiros cem
anos da Igreja Cristã. A história registra textos cuidadosos como, por exemplo, a Carta a
uma Jovem Viúva, escrita por João Crisóstomo em 380; o “Livro de Cuidado Pastoral”, de
Gregório, o Grande, no final do século VI ou a carta “Catorze Consolos Para os Exaustos e
Sobrecarregados”, escrita por Martinho Lutero em 1520. Em cada um destes há a demonstração
de um tempo na Igreja Cristã em que o cuidado era parte integrante do ensino e da vivência
pastoral (FLOR, 2010).

Como é bom estar localizado ou contextualizado. Isso não é diferente quando estudamos o
tema da capelania. Saber nossas origens, e, principalmente, os fundamentos da nossa forma
de pensar, bem como os motivos que estão na base de uma determinada ação ou atitude é
sempre importante. Conforme Gentil, Guia e Sanna (2011):

32 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Historicamente o termo “capelania” foi criado na França, em 1700 porque, em tempos
de guerra, o rei costumava mandar para os acampamentos militares, uma relíquia
dentro de um oratório, que recebia o nome de “Capela”. Essa capela ficava sob a
responsabilidade do sacerdote, conselheiro dos militares. Em tempos de paz, a capela
voltava para o reino, ainda sob a responsabilidade do sacerdote, que continuava como
líder espiritual do rei, e assim ficou conhecido por capelão. Com o tempo, o serviço de
capelania se estendeu aos parlamentos, colégios, cemitérios e prisões (p.1).

Silva (2010), ao tratar sobre a conceituação de capelania, observa que o termo aponta para
o cargo, a dignidade e o ofício de capelão. Tal atividade é exercida por um religioso, católico
ou protestante, responsável em prestar assistência religiosa e/ou realizar culto ou missa nas
instituições que serve. É comum ter um local denominado capela em repartições públicas ou
privadas, escolas, hospitais, quartéis, presídios, universidades etc., onde o capelão atende às
pessoas e essas podem também exercitar a sua fé. Observa ainda Silva (2010) que é comum
haver instituições que só têm capelão católico ou protestante, mas há também instituições que
comportam as duas ramificações do cristianismo, bem como fora do país há outras religiões
que também têm exercido essa mesma função.

Silva (2010) destaca em seu texto a importância do papel do capelão enquanto facilitador. Ele
observa que Jung atribuía ao capelão o papel de sujeito facilitador do encontro do homem com
a sua dimensão espiritual; assim como o corpo precisa do médico, a vida espiritual da pessoa
precisa do capelão, compreendia Jung, conforme Silva (2010).

FUNDAMENTOS E TEORIAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 33


A compreensão tradicional de aconselhamento cristão pode ser identificada nas palavras de
Cunha (2004) ao tratar sobre o tema citando Mack:
O aconselhamento para ser chamado cristão precisa possuir quatro características:
1. Ser realizado por um cristão; 2. Ser centrado em Cristo (Cristo não é um adendo
ao aconselhamento, mas é a alma e o coração do aconselhamento, a solução para os
problemas. Isto contrata com o caráter antropocêntrico das psicologias modernas); 3.
Ser alicerçado na Igreja (a Igreja é meio principal pelo qual Deus trás às pessoas ao
seu convívio e as conforma ao caráter de Cristo); 4. Ser centrado na Escritura Sagrada
(a Bíblia ajuda a compreender os problemas das pessoas e prover solução para os
mesmos)” (p.1).

Contudo, tomemos em termos o conceito advogado por Clinebell (2000), que vê o


aconselhamento, o qual constitui uma dimensão da poimênica, como a “utilização de uma
variedade de métodos de cura (terapêuticos) para ajudar as pessoas a lidar com seus
problemas e crises de uma forma mais conducente ao crescimento e, assim, a experimentar a
cura de seu quebrantamento” (p.25). Nesse sentido, o aconselhamento tem função reparadora
quanto ao crescimento de uma pessoa.

É importante, inicialmente, nos localizarmos sobre qual modalidade de aconselhamento


nós estamos nos referindo ou tratando aqui. Barrientos (1991) apresenta quatro tipos de
aconselhamento:

1. Aconselhamento popular

É o que ocorre nos relacionamentos diários das pessoas que trocam problemas e conselhos
entre si.

2. Aconselhamento comunitário

Em muitos grupos latino-americanos, especialmente os de cultura indígena, existe essa prática


de aconselhamento em grupo. Se uma pessoa tem dificuldades em seu lar recorre aos líderes
da tribo, então eles, em grupo, escutam e aconselham.

34 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


3. Aconselhamento pastoral

É uma prática exercida por um pastor junto a sua comunidade. Precisa de preparo e
muita competência para tratar os mais diversos temas, como: problemas matrimoniais,
relacionamentos entre pais e filhos, disputas entre irmãos na fé, dificuldades econômicas,
dificuldades sobre a fé, falta de sentido na vida, homossexualidade, alcoolismo, vício de
drogas, prostituição e problemas emocionais mais profundos.

4. Aconselhamento profissional

Esse tipo de aconselhamento é exercido por conselheiros, psicólogos e psiquiatras. Esses são
profissionais que o pastor pode e deve trabalhar junto, pois há problemas mais profundas na
comunidade e por isso necessitam de um cuidado maior.

Nossos estudos assinalam o aconselhamento pastoral primeiramente, bem como o profissional,


com destaque para o aconselhamento psicológico. Nossa perspectiva é o diálogo. Esse
diálogo está imbuído pelo respeito e consideração entre os conhecimentos da Teologia e da
Psicologia.

Avançando um pouco mais, Barrientos (1991) apresenta as cinco objetivos do aconselhamento,


e ainda destaca que o mesmo não está indicado somente para os momentos de crise, mas
é também um meio de ajuda, com isso corroborando com a ideia acima de Clinebell (2000).
Vejamos os cinco objetivos:

1. Relatar a situação que está enfrentando.

2. Obter uma visão global do problema, e não reparar apenas em detalhes.

3. Descobrir as causas.

4. Tomar decisões.

5. Amadurecer para que, em situações futuras, possa resolvê-los por si mesmo.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 35


Mannóia (1985) também corrobora ao apresentar os seguintes objetivos:

a) Auxiliar o indivíduo a alcançar o conhecimento e a aceitação de si mesmo.

b) Auxiliar o indivíduo a analisar rumos de ação alternativos.

c) Oferecer oportunidades ao indivíduo de escolher um modo de proceder que seja viável.

d) Oferecer ao indivíduo uma situação na qual tome iniciativa e aceite se responsabilizar por
ela.

Para Collins (1995), o aconselhamento tem os seguintes objetivos:

a) Estimular o desenvolvimento da personalidade.

b) Enfrentar mais eficazmente os problemas da vida, os conflitos íntimos e as emoções preju-


diciais.

c) Promover encorajamento e orientação para aqueles que perderam alguém querido ou que
estejam sofrendo uma decepção.

d) Assistir as pessoas cujo padrão de vida lhes cause frustração e infelicidades.

e) Levar o indivíduo a uma relação pessoal com Jesus Cristo.

Collins (1995) ressalta, ainda, os seguintes alvos do aconselhamento:

a) Autocompreensão – compreender a si mesmo é o primeiro passo para a cura.

b) Comunicação – é essencial para a pessoa. Isso envolve a expressão da pessoa e a capa-


cidade de receber mensagens corretas por parte de outras.

c) Aprendizagem e Modificação de comportamento – desenvolver comportamentos adequa-


dos e abandonar os inadequados é essencial para o aconselhando.

d) Autorrelização – desenvolver uma vida realizada em Cristo, na força do Espírito Santo, em


que nota-se o amadurecimento espiritual do aconselhando.

36 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


e) Apoio – o aconselhando em situações de crise pode necessitar de apoio para enfrentá-las.

Já Clinebell (2000) apresenta o seguinte quadro de áreas funcionais onde há oportunidades


dentre as quais o aconselhamento se desenvolve de maneira efetiva:
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

Clinebell (2000) observa que o fim último do aconselha-


mento é o crescimento espiritual integral das pessoas.
Para isso, o conselheiro deve utilizar os instrumentos que
são próprios ao cristianismo, como:

• A bíblia.
• A oração.
• A visitação.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 37


• A meditação.
• A exortação.
• O perdão.
• A comunhão, dentre outros.

Se assim podemos nos referir, esses instrumentos têm o objetivo de potencializar esse
crescimento espiritual integral à luz da ação do Espírito Santo.

Nessa perspectiva, Clinebell (2000) observa, ainda, seis dimensões da integralidade da vida
de uma pessoa:

1. Avivamento da sua mente.

2. Revitalização de seu corpo.

3. Renovação e enriquecimento de seus relacionamentos íntimos.

4. Aprofundar sua relação com a natureza e a biosfera.

5. Crescimento em relação às instituições significativas em sua vida.

6. Aprofundamento e vitalização de seu relacionamento com Deus.

Castro (1974) faz a seguinte pergunta: qual será a meta da atividade pastoral? Ele mesmo
responde assim “logicamente como todo conselheiro, procura ajudar a recuperar a saúde
plena da personalidade do aconselhando” (p.182). Nessa direção, Castro (1974) destaca as
seguintes questões do aconselhamento:

a) A capacidade de uma pessoa de ter o controle sobre seu próprio destino.

b) Fazer suas próprias escolhas.

c) Ser responsável tanto no desenvolvimento de suas ações como nos resultados das mes-
mas.

38 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


É fundamental ressaltar que Castro (1974) assevera que tais questões do aconselhamento,
que se apresentam como objetivos que devem ser tomados dentro da seguinte perspectiva:
“vão acompanhados normalmente por uma militância serviçal, uma atitude vicária em relação
com o mundo, com o exemplo de Zaquel” (p. 183), ou seja, servir ao Senhor Jesus Cristo.

Schipani (2004) parte dessa mesma direção quando observa que:

[...] o aconselhamento pastoral é um ofício e uma forma especial do ministério do cuidado


pastoral na Igreja. No aconselhamento pastoral, o emergir humano é promovido de
maneira especial por meio de uma forma distinta de caminhar com as pessoas, casais
e membros de famílias ou pequenos grupos, no momento em que enfrentam desafios
e dificuldades na vida. O objetivo maior, termos simples, é que vivam sabiamente à luz
do Deus (p.97).

Por isso, para Schipani (2004) aconselhamento pastoral deve ser entendido teologicamente
como:

a) Adoção da sabedoria à luz de Deus como a metáfora fundamental que reconstrói a estrutura
teórica e os fundamentos teológicos do aconselhamento pastoral em solo firme.

b) Integração das perspectivas psicológicas e teológicas à luz da sabedoria de Deus como o


princípio digno para orientar, compreender e realizar um tipo de aconselhamento pastoral
ao mesmo tempo plenamente aconselhador e plenamente pastoral.

c) A luz de Deus que define a natureza e a orientação de forma do ministério cristão, de modo
que prontamente reconhecemos as dimensões éticas e o contexto moral do aconselha-
mento.

d) A luz de Deus que orienta os aconselhadores pastorais a caminharem com os outros na


esperança de construir uma sociedade de liberdade, justiça, paz, amor e integridade e os
chama, de forma singular, a se tornar em terapeutas para um mundo melhor.

Schipani (2011) observa ainda que em aconselhamento pastoral é imprescindível que se tenha
claro que cada situação requer formulação de objetivos específicos, bem como, em cada
situação, que se apliquem estratégias próprias. Contudo, há também de se reconhecer que há
muitas ocorrências em comum que apontam para um propósito geral ou fundamental, o qual,

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 39


nesse caso, é a sabedoria à luz de Deus. Portanto, o propósito mais amplo de crescer em
sabedoria inclui três aspectos inseparáveis para se buscar alívio e resolução, advoga Schipani
(2011):

1. Crescimento na visão

A experiência do aconselhamento pastoral tem de ser orientada para ajudar o aconselhando


a encontrar novas e melhores formas de conhecer e compreender a realidade, incluindo as
dimensões da sua própria pessoa, o mundo social, as ameaças do vazio e a realidade da
graça do Sagrado.

2. Crescimento em virtude

A experiência do aconselhamento deve convidar o aconselhando a descobrir maneiras de


ser e amar mais satisfatoriamente, com particular ênfase na sua relação com outras pessoas
- especialmente amigos, familiares e colegas de trabalho - com o Espírito de Deus e consigo
mesmo.

3. Crescimento em vocação

A experiência de aconselhamento pastoral procura capacitar o aconselhando a tomar boas


decisões e investir energias novas em relacionamentos interpessoais, profissionais, nas
horas de descanso, lazer, alimentação espiritual, serviço, e encontrar formas de apoiar essas
decisões com integridade. É fundamental encontrar uma orientação para a vida que seja mais
livre e esperançosa, em meio à situação social que vivemos.

Portanto, Schipani (2011) entende que o propósito geral do aconselhamento pastoral é ajudar
o aconselhando a descobrir como viver uma vida mais íntegra, moral e plena.

Brister (1980), ao tratar da natureza do aconselhamento pastoral, observa que há muitos


problemas, dos mais diversos possíveis, entre as pessoas hoje. Tal realidade assinala a

40 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


necessidade de um melhor preparo por parte de pastores e pastoras, bem como liderança
religiosa como um todo, incluindo entendimento técnico e busca por resultados efetivos.
Deve-se reconhecer que o aconselhamento pastoral não é uma atividade nova, por mais que
tenha ganhado visibilidade atualmente, como nos cursos de formação teológica e na própria
comunidade cristã, ele é muito antigo.

Em seu estudo pela compreensão da natureza do aconselhamento pastoral, Brister (1980)


destaca os seguintes elementos:

a) O aconselhamento pastoral pressupõe um diálogo entre Deus e o ser humano, na perspectiva


da Fé Cristã. Seja em que situação for, Deus sempre se fará presente nessa relação (Mt. 18:20),
por isso em certo sentido, do ponto de vista teológico, a experiência do aconselhamento deve
ser compreendida como uma oração, uma conversa com Deus na presença de outra pessoa.
Que responsabilidade nossa, você não acha?

b) O aconselhamento pastoral tem como contexto o ambiente cristão e recursos ou fontes


únicas. Ou seja, sempre está relacionado à igreja e ao contexto tipicamente comunitário.
Como, por exemplo, na visão dos membros da comunidade um conselheiro pastor é um guia
espiritual. Ele pode até não usar desse poder, mas tal realidade é difícil de desvencilhar. Por
isso, cabe ao conselheiro possibilitar ajuda adequada à pessoa, oportunizando para que ela
tenha um melhor entendimento da sua situação e das condições proporcionadas por essa
relação de ajuda.

c) O aconselhamento pastoral é distinto das outras modalidades de aconselhamento


profissional, por exemplo, pois ele é um processo de conversação entre um pastor responsável
e um indivíduo preocupado ou grupo íntimo, com a intenção de permitir que tais indivíduos
resolvam as suas preocupações, e assim, possam atingir uma ação construtiva. Nesse sentido,
é fundamental a criação de vínculos antes mesmo de qualquer utilização de técnica.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 41


OS FUNDAMENTOS DA CAPELANIA CRISTÃ

No que se refere à capelania deve-se observar, inicialmente,


que é uma ação que nasce a partir da interação e da relação
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

de ajuda, de auxílio, de cooperação e de cuidado humanizado,


onde a marca principal é a da solidariedade e da fraternidade,
conforme Souza (2006).

Segundo Barros (2008), Capelania é uma atividade cuja


missão é colaborar na formação integral do ser humano,
oferecendo oportunidades de conhecimento, reflexão, desenvolvimento e aplicação dos valores
e princípios ético-cristãos e da revelação de Deus para o exercício saudável da cidadania.

Na atualidade há diversas modalidades de Capelania, contudo se destacam entre as mais


conhecidas:

• Educacional.

• Carcerária.

• Hospitalar.

• Militar.

• Empresarial.

Essas modalidades já estão em todo Brasil, devidamente reconhecidas por lei com uma longa
folha de serviços prestados à sociedade, como é o caso da capelania militar.

O capelão, seja qual for o contexto em que os tiver inserido, tem a missão de ajudar a pessoa
em seu crescimento utilizando os instrumentos próprios da ajuda cristã ou pastoral, os quais
já foram citados acima a bíblia, a oração, a visitação, a meditação, a exortação, o perdão, a
comunhão, dentre outros.

42 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Nesse sentido, cabe ao capelão desenvolver procedimentos contextualizados à sua área de
ação, ou seja, escola, universidade, quartel, presídio, hospital buscando sempre uma atuação
em equipe, mas que ressalte as contribuições específicas e próprias do trabalho espiritual;
sempre ciente de que a pessoa é um ser de várias dimensões, e por isso ele deve exercer seu
trabalho à luz da interdisciplinaridade.

Capelania Hospitalar

Um bom exemplo é a atuação do capelão no


Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

hospital. Esse contexto tem suas especificida-


des, sendo muitas vezes marcado por contradi-
ções que lhe são próprias, como:

a) De um lado, o adoecer, a doença, o morrer e


a morte.

b) De outro, a convivência com diversos profissionais da área da saúde e áreas afins que,
independente de suas possíveis crenças, têm uma formação profissional específica que pauta
a sua atuação, como é o caso da enfermagem, da medicina, da fisioterapia, da psicologia, da
assistência social, da administração dentre outras.

A capelania hospitalar é uma atividade que remonta a datas longínquas da nossa história, por
volta dos cem primeiros anos da Era Cristã, conforme Silva (2010). Hoje ela já é respeitada
e presente positivamente nos hospitais. Quem faz uma exposição muito interessante sobre a
capelania hospitalar em nossos dias é Silva (2010). A seguir, transcrevemos algumas de suas
principais ideias sobre essa questão. Vejamos:

Silva (2010) localiza a capelania hospitalar no contexto da teologia pastoral, mais especificamente
na tradição da Teologia Prática, que tem sua origem nos estudos de Schleiermacher (1768-
1834). Este Teólogo foi responsável por chamar a atenção dos estudos teológicos para a

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 43


prática pastoral como uma área autônoma, pois compreendia que a riqueza da teologia está
justamente em sua ação ou aplicabilidade. Nesse sentido, o teólogo brasileiro Zabatieiro
(2005) observa que toda teologia é prática, no sentido de finalidade mais premente.

Silva (2010) faz o seguinte comentário sobre a localização da capelania hospitalar no contexto
da Teologia Prática:
A capelania hospitalar se insere na chamada ‘’teologia prática’’ como o serviço cristão
da Igreja ao mundo dos doentes, nas casas, nos hospitais. Com o objetivo de ajudá-
los a partir da fé, da esperança e da caridade, em sua luta pela recuperação de sua
saúde ou pela cura integral da aceitação e da humanização dos últimos momentos da
existência mediante o diálogo...
O serviço de capelania hospitalar consiste num ministério de apoio, fortalecimento,
aconselhamento e consolação, desenvolvidos junto aos enfermos e seus familiares,
funcionários e médicos do hospital... É um serviço de dimensão holística, que considera
o enfermo uma unidade pluridimensional. Consiste em levar conforto em horas de
angústia, incerteza, aflição, desespero e compartilhar o amor de Deus por meio de
atitudes concretas: presença; gestos; palavras; orações; textos bíblicos; música e
silêncio. A capelania hospitalar é uma organização religiosa interdenominacional com a
finalidade principal de prestar assistência espiritual em instituições hospitalares...
A capelania colabora na formação integral do ser humano, oferecendo oportunidade de
conhecimento, reflexão, desenvolvimento e aplicação dos valores e princípios éticos,
na revelação de Deus para o exercício da cidadania. A capelania realiza também a
assistência espiritual, social e emocional às famílias de enfermos, equipes de saúde
dos hospitais e estudantes de medicina.
De acordo com Bautista, a capelania hospitalar tem como característica ser um serviço
sanativo, porque pretende a apropriação da realidade pessoal até o último instante
de vida. Esse serviço (diaconia) exige, em primeiro lugar, a colaboração dos cristãos
próximos ao mundo do enfermo, especialmente os agentes mais idôneos, desde os
pastores, diáconos e os leigos que vivem e conhecem o contexto hospitalar e podem
ajudar nas atividades no hospital. Esse trabalho é baseado no conceito de “atendimento
integral” em que o paciente tem uma aceitação melhor da hospitalização e tem mais
chances de um rápido reestabelecimento por ter também contemplados os aspectos
espirituais e emocionais. (p.p 26-27)

Teologicamente, Silva (2010) lembra que como toda ação pastoral, a capelania hospitalar está
fundamentada na própria prática de Jesus, pois Ele atendeu e cuidou dos enfermos e doentes
de sua época, em um contexto bem peculiar de pobreza e de contradições socioeconômicas.

44 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


O próprio testemunho bíblico do Novo Testamento assinala que Ele atendia os que sofriam,
curando-os e anunciando o Reino de Deus, de vida e paz.

Silva (2010) observa o papel imprescindível do capelão ao afirmar:


O profissional da saúde nem sempre está preparado para trazer relações saudáveis
de ajuda. Depois de esgotadas todas as possibilidades técnicas e feito todo o possível
do ponto de vista clínico, justamente, então, estaremos diante do momento de maior
vulnerabilidade e de maior necessidade do enfermo. E quase sempre nessa situação,
os profissionais da saúde deixam o doente sozinho e desamparado. Por diversos fatores
alheios a nossa vontade, não se leva a sério com a devida frequência, intensidade e
consideração, a máxima de que o doente deve ser protagonista da visita do médico, da
enfermeira e do visitador. Deve, portanto, ser o centro do hospital e de todo o sistema
de saúde. Por isso, precisamos fortalecer a redescoberta da capelania hospitalar,
uma capelania da humanização e da vida para com os doentes, especialmente os
marginalizados, esquecidos e abandonados. (p.p. 27-28)

Portanto, a Capelania Cristã é uma atividade legitima do ambiente teológico, especificamente


do ambiente pastoral, o qual tem no universo bíblico sua principal inspiração, na própria
ação e atitude de Jesus Cristo diante dos enfermos, os quais em estado de vulnerabilidade
encontravam alento e esperança de cura. E, assim, hoje a Capelania Cristã é uma realidade
que continua seguindo essa boa tradição de Jesus Cristo, como uma atividade parceira, em
especial, dos profissionais da saúde no contexto hospitalar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossos estudos nos revelaram que tanto o Aconselhamento quanto a Capelania Cristã remonta
de uma datação longínqua, contudo, ambas foram mais recentemente tomando a forma que
temos nos estudos clássicos modernos. Ambas seguem a mais pura tradição cristã de ajuda
aos necessitados e aos que sofrem.

Vimos conceitos, objetivos e finalidades, bem como teorias sobre Aconselhamento Cristão.
Vimos também que algumas teorias ora enfatizaram os fundamentos, ora enfatizaram as
finalidades. Observamos ainda a riqueza de argumentos puramente teóricos e teorias sobre a
prática, bem como argumentações ricas teologicamente.

Sobre a Capelania Cristã foi dado um tom apenas introdutório e panorâmico. Focou-se mais
especificamente na capelania hospitalar. É importante ressaltar que essa área será mais
bem desenvolvida quando forem tratados o perfil e o papel do capelão, na Unidade IV desta

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 45


disciplina.

Por fim, esta unidade teve como objetivo tornar mais evidente ao leitor os fundamentos teóricos
e práticos do Aconselhamento e da Capelania Cristã, e assim possibilitar informações básicas,
fundamentais e técnicas sem as quais essas áreas ficam apenas no campo do voluntarismo
desprovido de toda sorte de competências.

Este link remete você ao site do Conselho Federal de Capelania Hospitalar. Nele há diversas informa-
ções sobre esse tema, bem como cursos e orientações básicas.
<http://www.capelaniafederal.org/>.

ATIVIDADE DE AUTOESTUDO

1. Quando se trata sobre a conceituação de Aconselhamento e Capelania Cristã, se sobressai


a palavra “cuidado”. Cite dois elementos históricos que localizem essas atividades ao longo
da história.

2. Uma das atividades essenciais da academia é capacitar o educando a construir entendi-


mentos, bem como precisar conceitos. Diante disso, elabore e explique os conceitos de
aconselhamento e Capelania cristã a partir dos estudos feitos sobre esses temas nesta
unidade.

3. Esta unidade foi rica em demonstrar objetivos e propósitos sobre aconselhamento cristão.
Desenvolva um texto de 5 a 10 linhas, que tenha como competência ressaltar os objetivos
essenciais do aconselhamento cristão a partir das concepções de Collins e de Clinebell.

4. Atualmente, há diversas construções teóricas sobre aconselhamento cristão ou pastoral.


Vimos várias nesta unidade, entre elas a de autoria de Schipani. Posto isso, liste os pontos
positivos da concepção de Schipani para a prática do aconselhamento pastoral.

5. Capelania cristã é uma atividade que hoje goza de respeito e consideração. Sua atividade
já é reconhecida pelo governo em nosso país, prova disso é a capelania militar. A partir da
Leitura Complementar “Capelania Hospitalar –Levando o amor de Cristo aos enfermos e
necessitados” e dos estudos realizados sobre capelania hospitalar, discuta qual a importân-
cia dessa atividade para o atendimento de enfermos no contexto hospitalar.

46 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Capelania Hospitalar
Levando o amor de Cristo aos enfermos e necessitados
Atuar nos hospitais levando o amor de Deus, Seu consolo e alívio num momento de dor. Esta é a
principal missão da Capelania Hospitalar, que, através de gestos de solidariedade e compaixão, tem
levado a Palavra de Deus não só aos pacientes, mas também aos seus familiares, sem esquecer
ainda dos profi ssionais de saúde, tantas vezes vivendo situações de estresse ou mesmo passando
por momentos difíceis. Os capelães respeitam a religião de cada paciente sem impor nada, apenas
levando a Palavra àqueles que desejarem.

O que faz um capelão?


O capelão, integrante da equipe multidisciplinar de saúde, é uma pessoa capacitada e sensível às
necessidades humanas, dispondo-se a dar ouvidos, confortar e encorajar, ajudando o enfermo a lutar
pela vida com esperança em Deus e na medicina. Oferece aconselhamento espiritual e apoio emo-
cional tanto ao paciente e seus familiares, como aos profi ssionais da saúde. É importante elo com a
comunidade local.

REAÇÕES DO ENFERMO PERANTE A DOENÇA


Diante da enfermidade a pessoa se vê tolhida de sua liberdade de ser ela mesma, não pode desempe-
nhar suas atividades e sente-se ameaçada quanto a seu viver ou futuro. A reação diante de tudo isso
é uma atitude psicológica chamada de MECANISMO DE DEFESA, classifi cada como inconsciente.
Eis algumas reações dessa natureza:
- REGRESSÃO – O paciente se torna dependente dos outros, sem autonomia, adotando atitudes in-
fantis, exagerando desproporcionalmente a gravidade do seu caso; reclama sem fundamento e cons-
tantemente do atendimento e da alimentação; queixa-se que os parentes ou conhecidos não o visitam.
- FORMAÇÃO REATIVA – Os impulsos e as emoções censuradas como impróprias assumem uma
forma de expressão contrária, aceitável para o consciente. No caso de doenças longas ou piora gra-
dativa, o paciente afi rma que está sendo perseguido pelos funcionários do hospital, adotando uma
atitude defensiva e agressiva, pois estes representam sofrimento para ele. Pragueja, xinga, acusa os
familiares de falta de interesse, que os médicos são irresponsáveis.
- NEGAÇÃO – Ao tomar conhecimento do diagnóstico, o paciente se recusa a aceitar que esse pro-
blema de saúde é dele. A negação funciona como uma proteção contra a angústia. Ele acha que o
resultado está errado, que outro médico deve ser procurado e continua tentando viver como se a
enfermidade não existisse, evitando falar sobre o assunto. A negação pode ocorrer em crentes que
adotam uma atitude triunfalista ao afi rmarem: “Em nome de Jesus já estou curado, Deus não permitirá
que eu seja operado”.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 47


REAÇÕES DOS FAMILIARES DO ENFERMO:
A família acaba sendo afetada e as reações negativas podem ser a de estresse psíquico, ocorrendo
desgaste físico e até depressão. A família se organiza nas suas funções, ocorrendo sobrecarga para
alguns membros familiares e até a omissão de cuidados. A vida sócio-econômica também pode mu-
dar radicalmente devido as perdas. Os familiares prejudicam o tratamento se forem excessivamente
desconfiados em relação à equipe do hospital, com muitos questionamentos ou palpites. Alguns fa-
miliares se sentem culpados ou transferem a culpa ao paciente. Também podem se sentir vítimas do
destino, castigo de Deus ou retaliação do inimigo. O enfermo muitas vezes precisa se esforçar para
acalmar a família. Conforme a enfermidade, alguns familiares entram em crise de desespero, tirando
a tranqüilidade do paciente.

QUALIFICAÇÕES PARA VISITAÇÃO:


Vários requisitos necessários do visitador:
- Ter sabedoria e humildade para saber que você não é melhor do que ninguém;
- Cultivar uma personalidade amável, agradável, cativante;
- Ter habilidade de comunicar-se;
- Ter humor estável;
- Ter respeito às opiniões religiosas divergentes;
- Ter discernimento e sensibilidade na conversação;
- Saber guardar as confidências dos pacientes;
- Saber usar a linguagem e forma de abordagem a cada pessoa;
- Dar tempo e atenção ao paciente visitado;
- Ter sensibilidade para com discrição, sentir quando é o momento mais oportuno para visitar;
- Saber evitar a intimidade e não invadir a privacidade alheia;
- Saber ouvir.

PRINCÍPIOS A SEREM OBSERVADOS NA VISITAÇÃO A ENFERMOS:


- Bater à porta.
- Pedir licença ou cumprimentar só verbalmente (a menos que o paciente estenda a mão).
- Se apresentar como pastor (a); obreiro (a).
- Se oferecer para orar (respeitar as negativas) pedindo o favor de abaixar o volume do rádio ou TV.
- Convidar as pessoas do ambiente pra ouvirem a leitura bíblica e oração.
- Caso o enfermo estiver no banho, fazendo curativos ou algum exame,

48 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


RETORNE POSTERIORMENTE.
- Se a enfermeira estiver atendendo o paciente ou o médico estiver presente no quarto, RETORNAR
POSTERIORMENTE.
- Se o paciente está com algum mal-estar (vômito, dor, confuso), abreviar a visita.
- Às vezes o paciente faz as seguintes solicitações: para ajeitá-lo no leito, pede água ou algum alimen-
to, solicita medicação. TODAS essas solicitações devem ser atendidas pelo serviço de enfermagem.
Por isso, responda ao paciente que ele deve fazer esse pedido a enfermeira, ou em alguns casos
(queda do paciente, escapou o soro) avisar o ocorrido no posto de enfermagem.
- Em alguns casos quando o paciente apresenta um quadro de contaminação, é colocado um cartaz
de alerta e de instruções na porta do quarto. Na dúvida, perguntar no posto de enfermagem e que
deve fazer para entrar no quarto (utilizar máscara, luva, etc).
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
O objetivo da visita NÃO É doutrinação, mas atender à necessidade do paciente; a visita deve ter um
propósito: conforto, consolo para quem sofre. Muitas vezes, a tentação de “pregar” e apresentar o seu
discurso faz com que muitos se esqueçam de que estão num hospital, desvirtuando, assim, todo o
propósito da visita;
- Quando tiver dúvidas sobre a situação do paciente, procure a enfermeira.
- Ter discernimento para dosar o tempo da visita;
- Não demonstre “pena” do paciente;
- Mostre seu interesse pelo paciente, mas sem exageros;
- Preste atenção naquilo que o paciente está falando, verificando quais são suas preocupações;
- Não conduza a sua conversa de tal maneira que exija do paciente grande concentração e esforço
mental para acompanhar (ele pode estar sob o efeito de medicamentos);
- Ao paciente que acha que não será curado, encoraje. Mas, faça-o com prudência, sem promessas
infundadas;
- Não fale sobre assuntos pavorosos;
- Nunca pratique atos exclusivos de auxiliar de enfermagem, tais como: dar água ou qualquer alimen-
to, ou locomover o paciente, mesmo que seja a pedido dele;
- Nunca discuta sobre a medicação com os pacientes;
- Mantenha os segredos profissionais (num leito de hospital o paciente fala muita coisa de si mesmo
e de sua vida pessoal);
- Nunca comente nos corredores do hospital, ou fora deles, o tipo de conversa ou encaminhamento de
sua entrevista mantida com o paciente;
- A ética deve ser rigorosamente observada. Tome muito cuidado!
- Não cochiche! Pacientes apresentam alto nível de desconfiança;

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 49


- Aproveite a oportunidade como se fosse a única. Na medida do possível, o ministério junto ao enfer-
mo, dentro de um hospital deve ser completo, numa “dose única”;
- Evite a intimidade excessiva, não invadindo a privacidade alheia (tanto do paciente quanto do seu
acompanhante);
- Respeite a liberdade do paciente quando ele não quiser (ou não estiver preparado para) falar sobre
seus problemas;
- Nunca tente ministrar o enfermo quando ele está sendo atendido pelo médico ou pela enfermeira, ou
quando estiver em horários de refeições, ou quando a situação impossibilite (familiares, telefonando
ou algo importante que ele está assistindo na TV);
- Não faça promessas de qualquer espécie (cura, conseguir medicação, maior atenção dos profissio-
nais de saúde, transferências, conseguir entrevista com o diretor). O próprio hospital tem meios de
solucionar essas solicitações;
- Em caso de possessão demoníaca, elas precisam ser discernidas;
- Preste atenção nos cartazes afixados na porta do quarto, pois eles orientam por qual motivo você
não pode entrar naquele momento ou quais os cuidados você deve tomar ao entrar no quarto. Talvez
seja proibida a entrada por causa de curativo, troca de bolsa em pacientes renais, proibição de visita
por ordem médica. O paciente pode estar isolado por causa de problemas de contágio e o cartaz
estará orientando se for necessário utilizar máscara, jaleco, luvas ou evitar tocar no paciente. Também
pode estar tomando banho;
- Evitar apertar a mão do paciente, a não ser que a iniciativa seja dele;
- Nunca sentar-se na cama do paciente, evitando assim contaminar o doente ou ser contaminado por
ele. Quando o paciente está em cirurgia, os lençóis ficam enrolados, não devendo NINGUÉM sentar
ali;
- Procurar estar numa posição em que o paciente veja você;
- Cuidado se a sua voz for estridente;
- Se for insultado, reaja com espírito cristão;
- Em suas conversas, orações, leituras de textos, fale em tom normal. Evite a forma discursiva e com
voz estridente, a não ser que seja em ambiente amplo.
- Observar se o paciente está com mal-estar (náuseas ou dor), procurando abreviar ao máximo a
visita.

ATITUDES ADOTADAS PERANTE O PACIENTE E O CORPO CLÍNICO:


Para o paciente, o médico é a pessoa mais importante no hospital, em quem ele deposita a sua con-
fiança. É a visita que ele deseja ansiosamente; portanto, quando chegar o médico, procure encerrar
o assunto ou oração ou retirar-se discretamente. Evite dar palpites sobre o tratamento do paciente ou
sobre a conduta do médico. Procure trabalhar em harmonia com o pessoal da enfermagem, pois os
pacientes dependem deles.

50 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


APLICAÇÃO BÍBLICA:
Sabemos que a enfermidade é proveniente da raça humana em pecado. Em muitas situações a enfer-
midade surge por culpa direta do próprio indivíduo que não cuida do seu corpo como deveria, ou por
causa da violência urbana. Mesmo que o indivíduo seja culpado de sua situação, devemos levar-lhe
uma mensagem que Jesus deseja lhe dar saúde total, tanto no corpo como na alma, pois Ele disse:
“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância“ (João 10:10).
A mensagem que se dve trazer ao enfermo é a mensagem bíblica de esperança e consolo. Essa men-
sagem é verbal através da leitura bíblica, oração e aconselhamento. Também, através de expressão
corporal, tais como expressão de carinho, sorriso e demonstração de empatia.
Encontraremos na Bíblia textos relacionados às mais diversas necessidades do ser humano. São
esses textos que devem ser apresentados aos pacientes na esperança de despertamento de fé nas
promessas de vida.

Eis alguns assuntos relacionados ao estado de espírito dos pacientes:


- Aflição – Salmos 34:19 – 86:1 – 119:107 – João 14:1,27
- Angústia – Naum 1:7 – Salmo 4:1 – 18:6 – 60:11 – 119:50
- Ansiedade – Salmos 46:10 – Mateus 6:31-34 – Filipenses 4:6-7 – I Pedro 1:7
- Cansaço – Mateus 11:28-30
- Choro – Salmos 30:2-5 – Apocalipse 21:4
- Desânimo – Salmos 42:11 – Provérbios 18:14 – Filipenses 4:13 – Hebreus 12:3
- Deus se compadece – Isaías 38:18 – Lamentações 3:22-26 – 2 Coríntios 1:3-5
- Direção divina – Salmos 37:5 – João 3:27
- Dor – Salmos 41:3 – Isaías 43:4,5
- Fraqueza – Deuteronômio 32:39 – Salmos 31:24 – Isaías 12:2 – 41:10 – Oséias 6:1 – 2 Coríntios
12:7-10
- Impaciência – Salmos 27:13-14 – 37:8
- Medo – Salmos 34:4
- Morte – Ezequiel 18:32 – Salmos 68:20 – Hebreus 2:14-15
- Oração – Salmo 5:1-3 – 66:20 – Lucas 11:9-13
- Pobreza – Salmos 40:17 – 70:5
- Preocupações – Salmos 55:22
- Raiva – Salmos 37:8 – I Tessalonicenses 5:16-18.
- Sofrimento – Salmos 22:11 – 34:6 – 57:1 – 2 Coríntios 16:18 – Hebreus 12:4-13

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 51


- Solidão – Salmos 16:1
- Presença divina – Deuteronômio 31:8
Fonte: <http://www.imwacao1.com.br/hospitalar.html>. Acesso em: 26 dez. de 2011.

52 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


UNIDADE III

TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO


CRISTÃO
Professor Me. Rubem Almeida Mariano

Objetivos de Aprendizagem

• Listar procedimentos adequados ao conselheiro em Aconselhamento Cristão.

• Identificar a natureza do Aconselhamento Cristão.

• Conhecer técnicas de intervenção em Aconselhamento Cristão.

• Descrever as técnicas diretivas e não diretivas.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Propostas, técnicas e comportamentos em Aconselhamento Cristão

• Promovendo o diálogo com o aconselhando

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 53


INTRODUÇÃO

“Não basta dizer-se vocacionado para o ministério pastoral ou para o ministério do


aconselhamento para ser bem-sucedido nestas atividades. Ser vocacionado não é uma
garantia de que as coisas darão certas. Prova disso é o grande número de ministérios que dá
errado e de igrejas com problemas muitas vezes causados por pastores. E, da mesma forma,
de conselheiros que não conseguem ajudar as pessoas. Há algo mais além da chamada e
da boa vontade em fazer a obra”.

Coelho Filho, em De perfil e Atributos do conselheiro Bíblico.

Caro aluno, esta unidade tem como objetivo abordar, os procedimentos adequados do
conselheiro, bem como refletir sobre a natureza do Aconselhamento Cristão de forma
introdutória.

Esta unidade também tem a missão de desenvolver as técnicas de intervenção como forma
de lembrar a todos os nossos leitores que a arte de aconselhar hoje necessita muito mais do
que boa vontade, como temos frisado; hoje se faz necessário conhecimento, ou como diz um
amigo, meu pastor e doutor em Psicologia, é necessário ter tecnologia para aconselhar. Pois
quem está do outro lado são pessoas que vivem em estado de sofrimento ou que precisam de
orientações e não podem continuar sofrendo mais do que estão. Portanto, cabe àqueles que
se sentem chamados cuidar de sua formação, preparando-se de forma adequada para essa
atividade. Esta unidade quer singelamente contribuir nesse processo.

Fundamentalmente serão abordadas técnicas de intervenção em Aconselhamento Cristão,


com destaque para os métodos diretivos e não diretivos.
PROPOSTAS, TÉCNICAS E COMPORTAMENTOS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

Quando se pensa na atuação do conselheiro


cristão, necessariamente se deve considerar
propostas, técnicas e atitudes em aconselhamento.
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

A seguir, estaremos expondo algumas delas, as


quais não são inéditas, mas procuramos identificar
de maneira básica e fundamental quais devem ser
os procedimentos e ações do conselheiro no
contexto pastoral.

Veremos ainda que essas propostas, técnicas


e atitudes, guardadas as devidas proporções,
servem também de base para o trabalho da
capelania e suas mais diversas atividades, em especia, quando o capelão atuar na condição
de conselheiro.

É importante observar que há muitos escritos sobre o assunto, especificamente com teorias
e métodos devidamente elaborados. Há também diversos textos sobre o aconselhamento
cristão e o aconselhamento psicológico, que observam seus vínculos, contribuições, limites e
críticas, como: Mannóia (1985), Casera (1985), Collins (1995), Barrientos (1991), Szentmartoni
(1999), Clinebell (2000), Schipani (2004), Sathler-Rosa (2004) e Pereira (2007).

Há certo consenso na literatura acadêmica pesquisada por Szentmartoni (1999), Collins


(1995), Barrientos (1991), Casera (1985), Clinebell (2000), Pereira (2007) dentre outros, que
ao tratarem do tema do aconselhamento cristão observam, de uma maneira ou de outra, as
ideias de Carl Rogers, método não diretivo, principalmente aqueles relacionados à prática
do aconselhamento. Por isso, nessa direção, uma proposta de aconselhamento passa

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 57


necessariamente pelo estabelecimento de vínculos entre o conselheiro e o aconselhando, sem
os quais é impossível um bom desenvolvimento do aconselhamento. Mannóia (1985) coloca
como premissa do aconselhamento cristão as relações pessoais e a centralidade da pessoa
no aconselhamento.

Da mesma forma, Szentmartoni (1999) também o faz, contudo ressalta ainda as marcas da
natureza do aconselhamento cristão, de onde se pode inferir:

a) Está contextualizada na missão e na evangelização da Igreja.

b) Na ajuda, desempenha um trabalho bíblico-teológico do anúncio cristão.

c) É uma atividade religiosa (conselheiro e aconselhando) onde deve ser observada a pessoa
e seu relacionamento com Deus.

d) Observa os limites da atuação e da atividade do aconselhamento cristão e suas interfaces


com outras atividades de aconselhamento.

É imprescindível que o conselheiro tenha atitudes de empatia, autenticidade e não seja


possessivo, segundo Szentmartoni (1999). Tais atitudes são consideradas, na literatura
especializada, como sendo o ponto fundamental para o sucesso de todo bom aconselhamento
que tem um propósito de ajuda genuína.

Barrientos (1991) lista os seguintes aspectos que o conselheiro deve dar atenção durante a
entrevista de aconselhamento:

• Proporcionar clima de confiança.

• Fazer com que a pessoa se sinta ao nível do conselheiro. Para isto é melhor usar duas
cadeiras ou poltronas, ou uma de frente para a outra em uma mesa.

• Em em mente e transmitir à pessoa que é possível enfrentar a situação e até resolvê-la.

• Escutar com muita atenção. Há pessoas que se sentem aliviadas de sua carga pelo sim-
ples fato de que alguém as escuta com interesse e amor.

58 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


• Ir captando, entre os detalhes do relato, os possíveis assuntos ventrais relacionados.

• Não dar opiniões negativas como: “que mau...” “que horror...”.

• Não interromper o relato, a não ser que seja para fazer alguma pergunta esclarecedora ou
que falte para completar o quadro.

• Discernir em silêncio aspectos que a pessoa poderia encobrir e que correspondem a seu
modo de ver o assunto.

• Ao final do relato, ajudar a pessoa a ver o problema como um todo, sem reparar em deta-
lhes, a menos que seja necessário.

• Levá-la a reconhecer os fatores centrais que entram em jogo.

• Ajudá-la a encontrar as causas. Aqui é necessário dar oportunidade para que a pessoa
opine e que ambos dialoguem até que concordem.

• Ajudar a pessoa a fazer um plano ou propor-lhe um alvo realista que tentará alcançar nos
dias seguintes.

• Quando necessário, levar a pessoa a colocar seu problema diante do Senhor em oração,
pedir libertação e dar graças por ela.

• Caso a pessoa não saiba orar, fazer a oração com a pessoa.

• Por fim, fazer uma seleção de textos bíblicos e indicar para a pessoa ler e meditar sobre
eles e relacioná-los aos seus problemas.

Szentmartoni (1999) apresenta as seguintes técnicas de intervenção no aconselhamento,


levando em consideração o princípio da não diretividade:

a) A reformulação – é quando o conselheiro se expressa claramente, verbal ou não verbal


mente ao aconselhando. As principais formas são: a reiteração, a resposta-eco, as expres-
sões equivalentes e a recapitulação.

b) O reflexo do sentimento – com o objetivo de criar um ambiente de emoção genuína, onde


possa haver o contato sincero da pessoa com sua afetividade. Os principais sinais são:

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 59


pausas, choro, contradições entre expressões verbais e não verbais etc.

c) A reestruturação do campo – intervenção com a finalidade de fazer reestruturações do


campo perceptivo da pessoa, referente a sua pessoa (ego) ou a imagem de si. A partir dos
conceitos da Gestalt, as intervenções devem ser: ressaltar a “figura” (tema explícito) como
é percebida pela pessoa, esclarecer uma posição entre os vários conteúdos expostos,
poder ampliar o significado do que foi dito ou mudar a ordem de importância dos elementos
pela pessoa.

Por fim, Szentmartoni (1999) observa que o conselheiro tem de ter os devidos cuidados em
sua atividade. Deve evitar colocações ou expressões que não contribuem para o objetivo
principal do aconselhamento, que segundo Mannóia (1985), “é o de facilitar o crescimento da
personalidade ao máximo nível de maturidade” (p.103). São observações que o conselheiro
passa ao aconselhando como sendo as suas conclusões, de forma moralista e sem observar
as manifestações do seu aconselhando. Segundo Szentmartoni (1999), isso denota falta de
confiança nos recursos do outro por parte do conselheiro e impede que o objetivo maior do
aconselhamento seja atingido.

Para desenvolver uma relação adequada no aconselhamento, Clinebell (1976), em um texto


denominado “Os elementos comuns a todo aconselhamento”, trata de dois itens fundamentais
e necessários para o exercício desse, o qual pode ser exercido no contexto do gabinete
pastoral ou de um leito, no hospital: o desenvolvimento de uma relação terapêutica e a facilita
ção da comunicação do aconselhando.

Outro exemplo de procedimento vem de Collins (1995) em seu texto clássico, o livro:
“O aconselhamento Cristão”. Nessa obra, o referido autor apresenta as técnicas de
aconselhamento, que considera como sendo as mais básicas em uma situação de ajuda; antes
de apresentá-las , porém, ele faz a seguinte ressalva: essa relação de aconselhamento não é
necessariamente de ajuda, mas de uma relação de ajuda que deve ser desenvolvida em um
formato profissional. Vejamos as técnicas:

60 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

1. Atenção – O conselheiro deve tentar conceder atenção integral ao aconselhando:

• Contatos visual.

• Postura relaxada, não tensa e interessada.

• Gestos naturais.

2. Ouvir – Isso significa muito mais do que uma recepção passiva da mensagem. Ouvir
envolve:

• Percepção suficiente.

• Evitar expressões verbais e não verbais dissimuladas de desprezo ou juízo antecipadas.

• Aguardar pacientemente o funcionamento do aconselhando.

• Ouvir não somente o que o aconselhando diz, mas as suas reais necessidades.

• Estar atento à fala e ao comportamento.

• Analisar as reações do aconselhando diante das suas intervenções.

• Sentar-se imóvel.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 61


• Limitar o número de execuções mentais às próprias fantasias.

• Não julgar antecipadamente por meio da manifestação de sentimentos em relação ao


aconselhando.

• Praticar a aceitação da pessoa do aconselhando.

3. Responder – o bom conselheiro é um bom ouvinte, mas também é de sua competência


agir e responder especificamente ao aconselhando. Por isso, compete ao conselheiro
em suas respostas ao aconselhando:

• Orientar ou liderar dialogicamente.

• Refletir conjuntamente de maneira presente.

• Perguntar com o objetivo único de buscar informações úteis.

• Confrontar ideias ou comportamentos que não sejam percebidos.

• Informar de maneira abrangente fatos relevantes.

• Interpretar comportamentos e eventos.

• Apoiar e encorajar sempre.

4. Ensinar – todas essas técnicas acima são verdadeiras formas especializadas de


educação psicológica. Nesse contexto:

• O conselheiro é um educador.

• O aconselhando é aprendiz.

• O aconselhamento é um espaço para a discussão.

• O aconselhamento é um espaço para uma relação sincera e honesta.

Diante dessas propostas com suas respectivas técnicas, é importante que o conselheiro

62 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


desenvolva a capacidade de conversar com vista à criação de vínculo com o aconselhando. A
seguir, veremos algumas ideias de Clinebell sobre essa matéria.

Clinebell (1976) orienta os procedimentos ou atitudes durante a primeira sessão de


aconselhamento:

1. Estabelecer o rapport como base para a relação terapêutica.

2. Escutar de forma disciplinada, bem como refletir sobre os sentimentos do aconselhando.

3. Adquirir uma compreensão aproximada do “marco de referência interna” da pessoa do


aconselhando a partir do seu mundo pessoal.

4. Fazer um primeiro diagnóstico sobre a natureza do problema do aconselhando, ou seja,


como suas relações estão fracassando para satisfazer as suas necessidades e quais são
os recursos e limitações para fazer frente a sua situação.

5. Tendo como base esse primeiro diagnóstico, sugerir uma aproximação para dar ajuda.

6. Se houver a necessidade um aconselhamento continuado, proceder com a estruturação


dessa relação de ajuda.

Para facilitar a expressão dos sentimentos do aconselhando, Clinebell (1976) faz as seguintes
considerações:

1. Evitar muitas perguntas, mas fazer o mínimo requerido para obter apenas os dados essen-
ciais.
2. Fazer perguntas sobre seus sentimentos, por exemplo: como se sente quando é ignorado?

3. Responder a sentimentos de conteúdos intelectuais.

4. Observar os caminhos que levam ao nível emocional da comunicação.

5. Estar particularmente alerta para descobrir sentimentos negativos.

6. Evitar tanto a interpretação prematura de como funciona a pessoa ou suas formas determi-
nadas de sentir, como dar conselhos prematuros.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 63


PROMOVENDO O DIÁLOGO COM O ACONSELHANDO

No aconselhamento, é fundamental ao conselheiro desenvolver a capacidade de promover


o diálogo com o aconselhando. Portanto, saber ouvir e compreender é imprescindível para
o bom exercício desta função. Clinebell (1976), citando Portes Filho, descreve cinco atitudes
que possibilitam diferentes características de respostas do aconselhando para dar mais
sensibilidade no trato com o aconselhando:

1. Evolutiva – uma resposta que indica que o conselheiro tem capacidade de fazer um juízo
de relativa bondade, apropriação, efetividade e correção. Tem condição de compreender
em certa forma o que o aconselhando pode e deve fazer; se há consequências grandes ou
profundas.

2. Interpretativa – uma resposta que indica o intento do conselheiro por ensinar, por apresen-
tar ou mostrar um significado ao aconselhando. Tem compreendido de certa forma o que o
aconselhando pode ou deve pensar.

3. De apoio – uma resposta que indica que o conselheiro intenta assegurar, reduzir a inten-
sidade emotiva do aconselhando (acalmá-lo). Possibilita, de certa forma, ao aconselhando
sentir-se fora dessa situação de desequilíbrio.

4. Indagatória – uma resposta que indica que o conselheiro intenta obter mais informações,
insistir na conversação, sobre uma linha determinada. Isso o faz chegar à conclusão de
certa forma que o aconselhando deve ou pode se desenvolver, beneficiando mais acerca
de um ponto determinado.

5. Compreensão – uma resposta que indica que há a intenção do conselheiro em perguntar


ao aconselhando se tem compreendido corretamente o que “disse”, como “sente” isto,
como “impacta” nele, como o “vê”.

Diante disso, temos a firme convicção da importância que é saber ouvir e responder no
aconselhamento, pois fazê-los de forma adequada é uma virtude indelével não só do
conselheiro, mas também do capelão. Tamanha é a importância dessas duas habilidades que
existe muita literatura especializada em psicologia, aconselhamento e capelania que versa

64 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


sobre esses assuntos.

A seguir, apresentamos as ideias e a estrutura de um texto em espanhol de autoria de Faber


e Shoot (1976) denominado “Escuchar y responder em la conversación pastoral”, que trabalha
essas habilidades.

Para se desenvolver na área do aconselhamento cristão é imprescindível saber ouvir e


responder ao aconselhando. Faber e Shoot (1976) observam inicialmente que o conselheiro
deve desenvolver uma atitude de aceitação na relação, na mesma direção de Rogers (apud:
FABER; SHOOT, 1976):
A relação conselheiro-aconselhando é um contato no qual a cordialidade de aceitação
e a falta de coerção por parte do conselheiro permite o máximo de expressão de
sentimentos, atitudes e problemas por parte do aconselhando... nesta experiência única
de completa liberdade emocional, dentro de um marco de referência bem delimitado, o
aconselhando está livre para reconhecer e compreender seus impulsos e padrões de
consultas positivas e negativas como não poderia fazê-lo em nenhuma outra relação
(p.199).

Nota-se que a própria relação entre o aconselhando e conselheiro é ponto importantíssimo no


processo terapêutico. Nesse sentido, o método adotado por Rogers (apud FABER; SHOOT,
1976) é o não diretivo, segundo o qual compreende que o ser humano tem condições e
possibilidades para enfrentar e desenvolver sua vida de forma equilibrada e saudável. Nesse
particular, Faber e Shoot (1976) comentam:
[...] um dos aspectos mais importantes desse método é que o terapeuta deve ser não
diretivo com respeito ao cliente. Somos de opinião de que devemos estar prevenidos
desde o princípio que Rogers usa esta frase como marco de referencial da relação
terapêutica. O que ele chama de não diretivo aponta aquelas escolas terapêuticas nas
quais o terapeuta diagnostica e comunica interpretações de sintomas. Rogers rechaça
uma relação na qual o aconselhando se transforma em um paciente, e assim se torna
um objeto. Sobre essa base também rechaça uma relação na qual o psicoterapeuta
“moraliza” e “dogmatiza”. O aconselhando deve seguir sendo responsável pela sua
própria vida de maneira que não pode seguir nem um tipo de perguntas que passam
pressionar ou formar, se não é uma maneira de direcionamento (p.199).

Nessa perspectiva, cabe ao conselheiro acolher a pessoa do aconselhando como um ser

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 65


responsável, e não como objeto de sua “sabedoria”, uma vez que o próprio Deus em Cristo
também acolhe a todos os seres humanos. Dessa maneira, o conselheiro cristão deve, como
servo de Deus, também proceder. Contudo, Faber e Shoot (1976) ressaltam que esta aceitação
não é o único elemento dessa relação.

Outra ideia que Faber e Shoot (1976) desenvolvem é a da reflexão dos sentimentos
significativos. Para Rogers, cabe ao conselheiro proporcionar uma relação positiva. Para
isso, ele compreende que a reflexão é fundamental. Tal dinâmica é possível numa relação
não diretiva em que aconselhando, numa relação de aceitação, desenvolve uma reflexão de
significado de seus sentimentos, que tão somente nesse contexto, ou melhor, justamente,
nesse contexto de aceitação faz toda a diferença. Nessa perspectiva assim entende Rogers:
na experiência terapêutica, um vê as suas próprias atitudes, confusões, ambivalência,
sentimentos e percepções expressadas exatamente pelo outro; porém livre das
próprias complicações emocionais, e, assim se vê a si mesmo objetivamente o que abre
caminho para aceitação do seu eu, de todos aqueles elementos que agora se percebem
claramente. Assim se avança no caminho da organização e do funcionamento mais
integrado do eu (pp.120-121)

Associada a essas duas ideias está


outra: a empatia. Faber e Shoot (1976)
Fonte: PHOTOS.COM

observam que “simpaticamente


sintonizados nos sentimentos do nosso
interlocutor. Com a ajuda de uma
simpatia saudável projetamos sobre ele,
e estamos particularmente preocupados
com os seus sentimentos” (p.121).

Nesse sentido, ouvir e responder em uma relação de aconselhamento cristão deve passar
por uma relação de aceitação, de uma significativa reflexão dos sentimentos e empatia. Tal
ambiente, na compreensão de Rogers, proporciona as condições terapêuticas para que a
pessoa veja suas reais condições e necessidades e possibilita ainda ao aconselhando seu

66 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


desenvolvimento e crescimento saudável.

Brister (1980), ao tratar sobre a natureza do aconselhamento pastoral em sua obra “El cuidado
pastoral en la Igreja”, observa que há basicamente dois métodos: um diretivo e outro não
diretivo. A seguir, transcrevo o diálogo entre os conselheiros e seus respectivos aconselhandos
como ilustração dos dois métodos. Vejamos o primeiro diretivo e o segundo não diretivo:

1. Aconselhamento diretivo

Sra. P: Olá, pastor. Desde muito tempo as coisas não vão muito bem em minha casa... (coloca-
se muito sentida).

Pastor: Veja bem, estou seguro de que as circunstâncias não são tão mal como parecem ser,
e estou seguro de que podemos ve-las melhor para ajudá-la à luz da Palavra de Deus.

Sra. P: Pastor, o senhor não sabe como é má a minha situação.

Pastor: Penso que você veio se socorrer em seu pastor, não é isso? Falemos agora sobre o
seu problema abertamente e inicie desde o começo,Me diga tudo. OK?

Sra. P: Tenho tanta vontade de conversar com alguém...

2. Aconselhamento não diretivo

Sr. B: É como quando tive o acidente com o caminhão. Tudo de ruim me aconteceu, mas agora
eu me sinto limpo. Quando sofremos nos eximimos de tudo que temos dentro de nós. Quando
perguntaram se a minha perna estava quebrada, eu falei: “quebrada, quebrada, quebrada”, e
assim foi. Disse-lhes que o meu sofrimento tinha me feito sentir mais perto do céu.

Pastor: Então, você sente que o seu sofrimento teve um propósito?

Sr. B: Na verdade, tenho uma vida muito dura. Eu não sei por que minha esposa age assim

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 67


desta forma; logo agora que tenho tanta necessidade... estou só... ninguém se preocupa com
a minha situação ... com algo que eu quero, mas só pensam em si mesmos. Ela acha que eu
sou louco.

Pastor: Por que você acha que ela pensa isso?

Sr. B: Porque estive em um hospital psiquiátrico ... isso foi antes de casarmos...

Segundo Brister (1980), no primeiro o conselheiro demonstra rigidez e controla o rumo da


entrevista em cada momento, apesar de se esforçar por aparentar imparcialidade. Nota-se que
ele não percebe a necessidade da aconselhanda. Contudo, o segundo conselheiro esforça-se
em se aproximar e permanecer com os sentimentos do aconselhando, o qual expressa uma
variedade de sentimentos, mas deles se destacam o de rechaço e dependência. Portanto,
nesse segundo exemplo, observamos essa condição como sendo imprescindível para a
criação de vínculo e entendimento do caso, pois o próprio aconselhando dá o tom, ou melhor,
dá o significado para os seus sentimentos, bem como os temas que quer tratar; basta ao
conselheiro estar atento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta unidade, caro aluno, foi estruturada para fundamentar o ato do Aconselhamento
Cristão propriamente dito. Aqui foram tratadas propostas, técnicas e procedimentos em
Aconselhamento Cristão.

Nesse sentido, destacou-se o tema da natureza do Aconselhamento Cristão, do qual, pela


literatura consultada, sobressai o método não diretivo como sendo uma das opções mais
usadas pela grande maioria dos especialistas consagrados na atualidade. Essa fundamentação
contou com Szentmartoni (1991) e Brister (1980).

As propostas apresentas ficaram por conta de Szentmartoni (1991) e Collins (1995). Do


primeiro, as técnicas de procedimento denominadas reformulação, reflexo do sentimento e
reestruturação do campo. Do segundo, os seguintes procedimentos: atenção, ouvir, responder
e ensinar.

Foi destacada a conversação como uma das técnicas imprescindíveis para o exercício do
Aconselhamento Cristão. Saber entrevistar, ouvir e responder o aconselhando é essencial
68 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância
para o sucesso dessa atividade. Foram trabalhadas as ideias de Barrientos (1991) e de
Clinebell (2000) sobre entrevistas iniciais. Sobre o saber ouvir e responder ficou por conta
de clássicos do aconselhamento cristão, Faber e Shoot (1976) e Clinebell (1985). Este deu
destaque para as repostas evolutivas, interpretativas, de apoio, indagatórias e compreensivas;
enquanto aqueles à luz de Carl Rogers, destacaram: a aceitação, a reflexão dos sentimentos
significativos e a empatia. Todos foram categóricos em afirmar que ouvir e responder não são
atos simplesmente mecânicos, mas envolvem toda uma relação afetiva, comportamental e
espiritual.

O Perfi l do conselheiro no Aconselhamento Cristão


Considerações Iniciais
Segundo os postulados tradicionais, o aconselhamento cristão constitui uma área especializada do
ministério eclesiástico que se ocupa em ajudar os indivíduos, famílias ou grupos a lidarem com as
pressões e crises da vida. O objetivo do aconselhamento é dar estímulos e orientação às pessoas que
estão enfrentando perdas, decisões difíceis, culpas, ou desapontamentos.
O processo de aconselhamento cristão deve, portanto, estimular o desenvolvimento sadio da perso-
nalidade; ajudar as pessoas a enfrentar melhor as difi culdades da vida, os confl itos interiores e os
bloqueios emocionais; auxiliar os indivíduos, famílias e casais a resolver confl itos gerados por tensões
interpessoais, melhorando a qualidade de seus relacionamentos; e, fi nalmente, contribuir para a mu-
dança dos padrões de comportamento autodestrutivos ou depressivos já internalizados.
O objetivo fi nal é que os aconselhandos cheguem à cura, aprendam a lidar com situações semelhan-
tes no futuro e passem a enfrentar os seus problemas de forma coerente com os ensinamentos bíbli-
cos. O papel do conselheiro cristão, nesse processo, é, em essência, o de levar as pessoas a terem
um relacionamento pessoal com Jesus Cristo, ajudando-as, assim, a encontrar perdão e a se livrar dos
efeitos incapacitantes do pecado e da culpa.
Todas as técnicas de aconselhamento têm, pelo menos, quatro objetivos principais: levar a pessoa a
crer que é possível obter ajuda; corrigir concepções equivocadas a respeito do mundo; desenvolver
competências para a vida social; e levar os aconselhandos a reconhecer o seu próprio valor como
indivíduos. Para atingir esses propósitos, os conselheiros aplicam técnicas básicas como ouvir, de-
monstrar interesse, tentar compreender e, pelo menos eventualmente, dar orientação.
Muitos dos métodos utilizados por conselheiros cristãos são semelhantes aos aplicados pelos não
cristãos. Os cristãos, porém, não utilizam técnicas que contrariem os princípios bíblicos, oram durante
as sessões de aconselhamento, lêem a Palavra de Deus e confrontam gentilmente o aconselhando
com os princípios bíblicos.
TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 69
Características essenciais do Conselheiro Cristão.
O cerne de toda forma de assistência genuinamente cristã, seja ela pública ou particular, é a influência
do Espírito Santo. Na verdade, o que torna o aconselhamento cristão realmente único é justamente a
influência e a presença do Espírito Santo. É ele quem capacita o conselheiro, dando-lhe as caracte-
rísticas que o tornam mais eficiente no desempenho de sua tarefa: amor, alegria, paz, longanimidade,
bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Através da oração, meditação nas Escrituras, con-
fissão regular dos pecados e renovação diária de seu compromisso com Cristo, o conselheiro cristão
torna-se um instrumento por meio do qual o Espírito Santo pode confortar, ajudar, ensinar, convencer
ou guiar outro ser humano.
Jesus Cristo é o melhor modelo que existe de um “maravilhoso conselheiro”, cuja personalidade,
sabedoria, conhecimento, amor, bondade e compaixão capacitavam-no a dar assistência efetiva aos
necessitados. O conselheiro cristão, antes de mais nada, precisa ser um imitador do Senhor Jesus;
alguém em quem habita o Espírito Santo; alguém que apresente, manifestamente, características
do fruto do espírito; enfim, alguém que tenha um relacionamento de intimidade com o Deus Todo-
-Poderoso, que o capacite a ouvir e a obedecer as Suas orientações.
Segundo pesquisas recentes, os conselheiros são mais eficientes quando demonstram, pelo histórico
de vida, um sólido conhecimento dos problemas humanos. É fato que, em qualquer atividade humana,
o conhecimento teórico sem o domínio da experiência prática representa um obstáculo ao melhor
aproveitamento da atividade, por maior que seja a motivação e a disposição de acertar.
No caso do aconselhamento cristão não é diferente. O histórico de vida do conselheiro, com todas
as experiências já vivenciadas na área em que está se dando o aconselhamento, ao lado do estudo
detalhado de situações acompanhadas por outros conselheiros é uma ferramenta importante para
uma boa condução do processo de aconselhamento.
Contudo, é preciso ressalvar que no mundo real, no início do seu ministério, o conselheiro poderá não
ter uma gama tão variada de experiência com os diversos problemas humanos, bem como é forçoso
reconhecer ser impossível a qualquer conselheiro, por mais experiente que seja, ter um domínio pré-
vio sobre todo o tipo de situações que terá com que se deparar. Porém, isso não deve inibi-lo no seu
mister, pois o estudo de casos na literatura especializada, mesmo concomitantemente ao processo de
aconselhamento em curso, e a ajuda do Espírito Santo, poderão suprir a contento essa deficiência,
quando não houver a possibilidade/disponibilidade de transferir o aconselhado para outro conselheiro,
que tenha a experiência demandada.
O conselheiro cristão precisa ter como propósito contínuo e fundamental do seu ministério a bus-
ca por sabedoria, vez que ela constitui a ferramenta de excelência, fundamental para o trabalho de
aconselhamento. Não basta ao conselheiro ter um bom conhecimento das Escrituras e dominar bem
as técnicas de aconselhamento. Para atingir um grau satisfatório de eficiência no aconselhamento
cristão, o conselheiro precisa, acima de tudo, ter sabedoria para: identificar e aplicar adequadamente
os princípios bíblicos no contexto das situações sob exame; formular as perguntas adequadas; avan-
çar até o ponto desejado de extração de informações no timing correto; ponderar com eficiência todo
o material trabalhado; e confrontar com delicadeza, quando for o caso, o aconselhado quanto aos
padrões inadequados de comportamento frente aos princípios de Deus.
Frente a essa necessidade e a importância do seu trabalho para ajudar outras vidas a enfrentarem

70 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


satisfatoriamente os seus problemas, o conselheiro cristão precisa estar constantemente aos pés do
Senhor para buscar sabedoria, ciente de que Ele a dá, liberalmente, a todos quanto a buscam com
sinceridade, para realizar os Seus propósitos.
Uma característica que não pode faltar na vida do conselheiro cristão é a humildade, a consciência
das suas próprias limitações. O princípio fundamental da sabedoria é ter o temor do Senhor, mas exis-
te um outro muito importante que é ter um bom conhecimento de si mesmo, das próprias fraquezas e
vulnerabilidades pessoais e das áreas de conhecimento que não se domina.
O conselheiro cristão tem de ter muito claro na sua mente que o seu ministério está focado em condu-
zir as pessoas a uma vida harmoniosa com Cristo e o próximo, em meio às dificuldades da lida diária
e que, portanto, tem de discernir muito bem as suas limitações, de forma a não adentrar em áreas
onde não está apto a oferecer ajuda. Isso se dá tanto em relação às áreas onde o próprio conselheiro
enfrenta dificuldades na sua vida pessoal como em relação àquelas que demandam um conhecimento
especializado, muitas vezes da medicina, ou uma experiência substancial que não se possui.
Outra característica relevante, que precisa integrar a personalidade do conselheiro cristão é a obje-
tividade. Em nenhuma hipótese o conselheiro deve compartilhar os seus próprios problemas ou fra-
quezas pessoais com o aconselhando, vez que o conselheiro está ali para ajudar e não para resolver
os seus próprios problemas, além do enorme potencial que tal atitude teria para induzir insegurança
naquele que precisa ser ajudado, trazendo danos irreparáveis ao processo de aconselhamento.
Da mesma forma, é inegável que o excesso de envolvimento emocional pode fazer com que o con-
selheiro perca a dose de objetividade necessária, reduzindo a eficiência do aconselhamento, o que
sugere que o conselheiro deve evitar aconselhar pessoas com as quais já tenha, previamente, fortes
laços afetivos pessoais estabelecidos ou permitir, descuidadamente, que eles sejam desenvolvidos
durante o processo de aconselhamento, principalmente quando o aconselhando está muito perturba-
do, confuso ou enfrenta um problema semelhante àquele que o próprio conselheiro está passando.
O conselheiro cristão, como o próprio nome sugere, deve ter muito bem internalizado que o seu manu-
al essencial de trabalho é a Bíblia. Cristo é a verdade, o caminho e a vida, e é o Verbo, que é a Palavra
e, portanto, o centro de todo o aconselhamento cristão.
Assim, é que o conselheiro cristão pode até utilizar técnicas variadas de extração de informações
e de condução do processo de aconselhamento, mas os valores referenciais para o aconselhando,
que nortearão todas as possíveis orientações a serem transmitidas, devem se fundamentar única e
exclusivamente nos princípios bíblicos que tratam do assunto, examinados à luz da sua aplicação à
nossa realidade contextual.
Não é o que o conselheiro cristão pensa ou acha, na sua razão natural, por mais inteligente e es-
tudioso que seja, que ajudará o aconselhando a resolver os seus conflitos interpessoais e os seus
sentimentos de culpa ou peso pelo pecado ou a desenvolver um relacionamento saudável com Deus
e com o os seus semelhantes, mas, unicamente, o que a Bíblia revela, iluminada pelo entendimento
dado pelo Espírito Santo.
Ao discorrer sobre os princípios bíblicos aplicáveis à situação de aconselhamento, o conselheiro cris-
tão deve evitar ao máximo toda e qualquer discussão ou polêmica doutrinária, com relação àqueles
pontos nos quais as diversas denominações evangélicas possuem discordâncias de interpretação,
pois isso pode levar o aconselhando a uma atitude defensiva e de resistência frente ao conselheiro,
caso ele tenha uma concepção diferente, inviabilizando por completo os resultados almejados com o
TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 71
aconselhamento.
Cabe ressalvar, entretanto, que se o conselheiro cristão constatar que existe uma “notória” deturpação
de um conceito bíblico por parte do aconselhando, ele não deverá se furtar a procurar esclarecê-lo,
mas deverá proceder com toda a prudência, sabedoria e gentileza possíveis, de forma a não transpa-
recer nenhum pretenso estigma de superioridade ou de vaidade pessoal, nefasta ao estabelecimento
de uma empatia com o aconselhando.
Outro fator da maior importância é que o conselheiro cristão tem de ser ético e respeitar cada indiví-
duo que recorre à sua ajuda. Ele precisa reconhecer o valor do aconselhando como pessoa criada à
imagem e semelhança de Deus e preciosa aos Seus olhos, não importando o quanto ele possa estar
desfi gurado pelo pecado.
A ética indica que o conselheiro cristão tem o dever de tentar ajudar o aconselhando sem manipular
nem se intrometer em sua vida e de guardar sigilo de todas as informações reveladas em confi ança,
dentro ou fora do gabinete pastoral. Além disso, manda a ética que um conselheiro cristão jamais se
preste a fornecer qualquer orientação que ultrapasse os limites da sua habilitação.
Em todas as decisões que envolvem a ética, o conselheiro cristão deve procurar, antes de mais nada,
honrar a Deus, agir de conformidade com os princípios bíblicos e respeitar o bem-estar do aconse-
lhando e das demais pessoas que possam estar envolvidas na situação de aconselhamento, sempre
colocando a vida como bem supremo a ser preservado.
Enfi m, já há muitos anos, diversos autores de livros didáticos sobre o tema, vêm relatando que as
técnicas de aconselhamento são mais efi cazes quando o indivíduo que as maneja apresenta as virtu-
des do Espírito, ou seja, quando ele: transmite confi ança e honestidade; é afetuoso, sensível, manso,
paciente e compreensivo; demonstra saber ouvir e possuir um interesse sincero no problema do inter-
locutor; e tem disposição para confrontar as pessoas, mantendo uma atitude de amor.
Assim sendo, o aconselhamento cristão só se torna factível e real quando existe um compromisso
sincero com Cristo e o Espírito Santo está no comando e é o verdadeiro conselheiro, por trás do ser
humano instrumentalizado para esse serviço. Só o Espírito Santo é capaz: de sondar o íntimo dos co-
rações; revelar as verdadeiras causas dos problemas; e apontar a melhor orientação para cada caso.
Fonte: <http://www.icjb.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=131:o-perfi l-do-conse-
lheiro-no-aconselhamento-cristao&catid=46:estudos&Itemid=93>. Acesso em: 02 dez. 2011.

72 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Este link remete você a uma dissertação que trabalha a questão do aconselhamento pelo telefone,
no contexto urbano, além de fazer um trabalho de conceituação sobre o tema do aconselhamento.
<http://pt.scribd.com/doc/50448684/17/Aconselhamento-Pastoral>.

ATIVIDADE DE AUTOESTUDO

1. Atualmente, estamos chegando à compreensão que o conselheiro cristão não pode ter ape-
nas boa vontade, apesar de ser muito importante essa motivação. Ele tem que dispor de
competências para exercer essa função que hoje está se constituindo imprescindível para
a Igreja da atualidade. Liste dois procedimentos adequados do conselheiro em Aconselha-
mento que você julga necessário para o desempenho dessa atividade. Sua resposta tem
que conter argumentos que acompanhe suas escolhas.

2. Nessa mesma direção, no que concernem as propostas e técnicas que vimos nesta unida-
de, relacione e discuta as propostas e técnicas de aconselhamento de Szentmartoni (1999)
e Collins (1995) apontando sua importância para o aconselhamento cristão.

3. Nesta unidade, vimos que Szentmartoni (1999) lista aspectos distintivos da natureza do
aconselhamento cristão. Dentre eles está este: “Limites da atuação e da atividade do acon-
selhamento cristão e suas interfaces com outras atividades de aconselhamento”. Diante
disso, elabore um texto, 4 a 8 linhas, que ressalta a relação interdisciplinar entre os co-
nhecimentos da Teologia e Psicologia, no que toca ao tema principal do aconselhamento
cristão.

4. Saber conversar é uma necessidade pra todo e qualquer profi ssional na atualidade, contudo
para o conselheiro é essencial. Se ele não sabe conversar não conseguirá desenvolver a
sua função adequadamente. Contudo, para desenvolver uma conversa tecnicamente acer-
tada é necessário que o conselheiro saiba ouvir e responder ao aconselhando. A partir das
elaborações fundamentadas no texto intitulado “Escuchar y responder em la conversación
pastoral” de autoria de Faber e Shoot (1976), discuta como proceder e a importância de se
saber ouvir e responder do conselheiro ao aconselhando.

5. Quando estudamos a disciplina de Psicologia vimos os vários métodos de aconselhamento


psicológico; naquela oportunidade ressaltamos dois métodos: diretivo e não diretivo. Nesta
unidade esses métodos foram tratados de maneira bem prática. Cite, explique e exemplifi -
que esses dois métodos objetivamente.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 73


UNIDADE IV

O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO


CAPELÃO CRISTÃO
Professor Me. Rubem Almeida Mariano

Objetivos de Aprendizagem

• Assinalar as atitudes inadequadas do conselheiro cristão.

• Conhecer o perfil e atributos do conselheiro e capelão cristão.

• Identificar o perfil do conselheiro e capelão cristão.

• Caracterizar o papel do conselheiro e do capelão cristão.

• Conscientizar o conselheiro e o capelão das competências necessárias para o de-


senvolvimento de suas atividades.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Perfil e atitudes do Conselheiro Cristão

• Perfil e papel do Capelão Hospitalar


INTRODUÇÃO

“São muitas as pessoas à procura de um ouvido que ouça. Elas não o encontram entre os
cristãos, porque eles falam quando deveriam ouvir. Quem não mais ouve a seu irmão (ou
irmã), em breve também não mais ouvirá a Deus [...] quem não consegue ouvir demorada e
pacientemente, estará apenas conversando à toa e nunca estará realmente falando com os
outros, embora não esteja consciente disso”.

Dietrich Bonhoeffer, em Life Together

Para Clinebell (2000), o ato de aconselhar inicia-se na própria pessoa do conselheiro. Isso
também pode ser aplicado para o âmbito da capelania. Esta unidade que se inicia tem como
grande objetivo abordar o perfil e papel ou atributo do conselheiro e do capelão cristão.

Contudo, vamos destacar inicialmente algumas atitudes inadequadas dos conselheiros quanto
aos seus procedimentos em aconselhamentos.

Sobre o perfil do conselheiro e do capelão serão estudadas principalmente as habilidades para


o exercício dessa atividade; da mesma forma será abordado o perfil do capelão.

Também será tratado o papel do conselheiro e do capelão, com destaque para as competências
esperadas de ambos. Serão ressaltadas mais uma vez as práticas, principalmente a relação
do conselheiro e do capelão com os seus respectivos sujeitos.

PERFIL E ATITUDES DO CONSELHEIRO CRISTÃO

Quando lançamos nosso olhar para a realidade humana e suas carências, ficamos cientes da
enorme necessidade do papel do conselheiro cristão no contexto da Igreja tanto no sentido
intraeclesial quanto extraeclesial. Hoje, mais do que nunca, a figura do conselheiro cristão é
necessária e urgente. Contudo, nota-se que ainda há a produção de literatura destinada ao
grande público que continua a construir um perfil e um papel de conselheiro cristão que não
atende às reais necessidades do nosso momento, como afirma Coelho Filho (2011):
Não basta dizer-se vocacionado para o ministério pastoral ou para o ministério do
aconselhamento para ser bem-sucedido nestas atividades. Ser vocacionado não é uma
garantia de que as coisas darão certo. Prova disso é o grande número de ministérios
que dá errado e de igrejas com problemas muitas vezes causados por pastores. E, da

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 77


mesma forma, de conselheiros que não conseguem ajudar as pessoas. Há algo mais
além da chamada e da boa vontade em fazer a obra (p.1).

Contudo, antes de avançarmos na direção da apresentação do perfil e papel do aconselhamento


cristão, faz-se necessário ressaltar algumas ações do conselheiro que demonstram equívocos
nesse papel. A seguir, listamos os comportamentos, nessa área, que revelam inadequação,
pautados em (WAGNER apud LINO, 1998):

• Visitar em vez de aconselhar, gerando confusão no momento da atuação de aconselha-


mento pastoral.

• Não possuir tempo disponível, podendo ser entendido pelo aconselhando como desinteres-
se de sua parte.

• Rotular em vez de respeitar a diferença é um equívoco que afasta e não possibilita novos
encontros entre conselheiro e aconselhando.

• Condenar em vez de ser imparcial gera uma relação de desconfiança por parte do aconse-
lhando, pois este se fecha e não fica disponível para a relação de aconselhamento.

• Querer resolver tudo em um só momento revela a ansiedade da relação entre conselheiro e


aconselhando e, ainda, gera interpretações apressadas e cansaço, pois é comum delongar
encontros.

• Ser diretivo por parte do conselheiro é uma atitude que revela uma concepção de negação
das potencialidades do ser humano, as quais são fundamentais para agir de forma adequa-
da e saudável por si só.

• Envolver-se emocionalmente com o aconselhando é a manifestação mais viva que o foco


da relação terapêutica está equivocado e que se deve buscar ajuda. Cabe ao conselheiro
também cuidar da sua saúde emocional buscando ajuda para si em um processo de acon-
selhamento individual onde deve tratar as suas próprias questões espirituais e emocionais;
ou para quem lhe procura para ser ajudado. O conselheiro deve fazer uma análise honesta
e serena quando não reunir as devidas competências para tratar o caso. Cabe, portanto,
ao conselheiro buscar ajuda junto a outros conselheiros experientes, bem como outros
profissionais da área da psicologia ou da psiquiatria para fazer supervisão ou para encami-
nhamento do caso atendido.

78 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


• Distanciar-se em vez de ter empatia, quando o conselheiro por algum conteúdo da relação
com o aconselhando procede se distanciando quando deveria estar presente na relação
como facilitador.

Não poderíamos deixar de


expor uma lista do perfil ou
atitudes do conselheiro cristão
Fonte: PHOTOS.COM

neste texto, contudo é salutar


que registremos que há muitos
perfis espalhados pelas
literaturas especializadas na
atualidade. Não tivemos
pretensão de construir ou
advogar determinadas atitudes,
mas sim expormos de maneira
básica ou fundamental algumas necessárias para a construção de um perfil de conselheiro
que atenda as nossas necessidades hoje e que, do ponto vista didático, possibilite abrir
discursos e reflexões sobre o trabalho do conselheiro cristão.

Nesse sentido, passo a transcrever um artigo de autoria de Coelho Filho (2011), que aborda
o perfil e os atributos do conselheiro bíblico. Um trabalho expressivo, com um toque todo
especial de sabedoria e com um bom suporte de fundamentação, informação e reflexãosobre
o conselheiro cristão. Ainda é necessário registrar que tal transcrição sofreu, em alguns
momentos, supressão ou acréscimo, contudo que fique também registrado que toda e qualquer
interpretação do texto apresentado abaixo, resguardado o seu sentido original, é de inteira
responsabilidade nossa.

Coelho Filho (2011) inicia seu artigo abordando o perfil do conselheiro cristão, como segue:

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 79


O primeiro deles é empatia. A palavra vem da mesma raiz de “simpatia” e de “antipatia”. Simpatia é
sentir na mesma direção, sentir com. Antipatia é sentir contra. Sobre empatia, o prefi xo grego en nos
esclarece: é “sentir dentro”, “sentir como se fosse a pessoa”. A simpatia pode ser entendida como uma
ternura, mas a empatia é uma profunda compaixão que nos faz colocar-nos no lugar daquela pessoa.
O fundador do cristianismo foi a maior manifestação de empatia que o mundo já viu: “O Verbo se fez
carne” (Jo 1.14). Deus foi empático conosco, na pessoa de Jesus. Empatia tem a ver com compai-
xão. O Salvador era profundamente empático, porque era profundamente compassivo: “Vendo ele as
multidões, compadeceu-se delas, porque andavam desgarradas e errantes, como ovelhas que não
têm pastor” (Mt 9.36). E este é um conselho bíblico para todos os cristãos: “Alegrai-vos com os que
se alegram; chorai com os que choram” (Rm 12.15). Somos exortados a experimentar e partilhar os
sentimentos dos irmãos. O autor de Hebreus aconselhou a comunidade cristã nos seguintes termos:
“Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós
mesmos também no corpo” (Hb 13.3). O conselheiro cristão deve ter este sentimento bem aguçado.
Ele não é juiz nem um crítico, mas um ajudador. E um ajudador com compaixão.

Não somos profi ssionais que atendem a pessoa, ouvem-na sem experimentar emoção alguma (algu-
mas vezes bocejando de indiferença), e depois apenas perguntam: “Sim, o que você pensa em fazer
sobre isso?”. Somos pessoas que amam a Deus, que amam o povo de Deus e que servem a Deus
servindo a seu povo. E mostramos nosso amor a Deus no amor ao seu povo. Empatia é mais uma
postura que adotamos que um sentimento que experimentamos. É sentir com a pessoa. A frieza ou a
indiferença é mortal no trabalho do conselheiro. Como bem frisou Collins: “É possível ajudar as pes-
soas mesmo sem compreendê-las inteiramente, mas o conselheiro que consegue transmitir empatia
(principalmente no início do processo terapêutico) tem maiores chances de sucesso”. Ouvi um pastor
psicólogo criticar um pastor que chorou no sepultamento de uma de suas ovelhas, dizendo que ele
era um amador e que não sabia controlar as emoções. O pastor que chorou não se descontrolou,
não surtou nem se mostrou histérico. E merece elogios exatamente porque não foi um profi ssional de
religião, mas um amador. Benditos sejam os amadores assim!

O segundo é respeito. Por vezes a pessoa chega e abre o seu coração, contando-nos um pecado
que julgamos ser escabroso (e às vezes é mesmo). Então fi camos chocados com a revelação e mos-
tramos à pessoa que não esperávamos aquilo da parte dela. Ou ela nos ataca ou ataca alguém da
igreja. O conselheiro, muitas vezes, é machucado pelo aconselhando. Qual deve ser a reação numa

80 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


circunstância dessas? Kaller, em uma obra sobre aconselhamento cristão, usa esta figura: uma pes-
soa não crente se aconselha com o pastor, e lhe diz: “Os membros de sua igreja fazem pior do que as
pessoas que não são crentes”. Ele alista quatro possíveis respostas do conselheiro, e entre elas duas
bem curiosas. O conselheiro poderá dizer: “Você não sabe nada; pior que você não há nenhum” ou
“Os crentes têm suas falhas, mas as falhas dos não crentes são piores”. Diz Kaller: “Esta reação não
facilitará a continuação da conversa, mas é o início de uma discussão”. Ele mostra duas respostas
que seriam mais viáveis: “Você acha que muitos crentes não vivem de acordo com suas crenças?” ou
“Você acha os não crentes melhores que os crentes?”.

Na primeira resposta viável, o conselheiro circunscreveu a questão a uma opinião pessoal do acon-
selhando, e não a deixou como um absoluto. Na segunda, deixou a porta aberta para o aconselhando
continuar a expor sua mágoa. Em nenhum dos dois casos ele deixou a questão descambar para o
bate-boca.

Respeito significa valorizar a pessoa, não a vendo como uma coitadinha ou uma leprosa moral ou
espiritual. É vê-la como sendo uma pessoa, imagem e semelhança de Deus, valiosa aos olhos do
Senhor, que no momento passa por uma crise e veio lhe pedir ajuda. Não esfregue sal e pimenta
nas feridas dela. Respeite seu desabafo, suas atitudes e sua postura. Isto é diferente de aceitar um
comportamento errado. É respeitar a pessoa que está querendo ajuda como pessoa. Não é um traste.
Lembremos que Paulo recomendou que apoiássemos aqueles que estão fracos.

O terceiro é sigilo. O que um conselheiro ouve deve morrer com ele. Ele não passa para frente nem
mesmo com pessoas interessadas no assunto. Muitas vezes alguém me procura e depois uma pessoa
da família ou do relacionamento com esta pessoa vem me perguntar o que foi dito. Geralmente me
nego, dizendo que o que a pessoa me contou pertence ao sigilo. Se quiser saber, que meu indagador
lhe pergunte. Lembre-se que comentar o que lhe foi dito em confiança acabará não apenas com sua
atividade, mas com seu caráter. E você terá traído quem confiou em você. Poucas coisas são tão
ruins para um pastor ou para um conselheiro que ser conhecido como fofoqueiro, como alguém que
passa para frente coisas que ouviu em confidência. Há pastores que contam de púlpito experiências
de gabinete. Não citam o nome da pessoa, mas deixam pistas claras de quem sejam. Isto é muito ruim.

Abrir o coração com alguém é tarefa difícil. Muitas vezes é um desnudar da alma, e é doloroso para a
pessoa. Já ouvi muitos casos tristes e dolorosos em gabinete, desde violência sexual que uma criança
sofreu por parte de pai até o uso de drogas por líderes da igreja. Por vezes, o peso era esmagador
e eu me sentia deprimido, querendo um buraco para me enfiar. Mas sabia que não podia partilhar

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 81


com ninguém. Um conselheiro deve ser sigiloso. Por isso que deve ser uma pessoa que cuide de sua
vida espiritual e se fortaleça, sempre, com o Grande Conselheiro, Deus. É a vinha dele que ele deve
guardar.

O quarto é sobriedade. O Novo Testamento faz várias referências à sobriedade. Nós é que pouco
mencionamos esta virtude cristã. Há líderes que amam holofotes ou são pouco discretos. Têm grande
necessidade de atenção. Jesus exortou a discrição na vida espiritual, quando deixou recomendações
sobre a oração e o jejum. Sobriedade tem a ver com discrição. Não se faz alarde de que estamos
ajudando alguém. O trabalho do conselheiro é um trabalho de bastidores, que se faz nos bastidores,
e não em público. Como o aconselhamento envolve questões emocionais, e por vezes delicadas, o
conselheiro deve lembrar que a imagem do aconselhando deve ser poupada. Repreensão pública ou
conselhos dados em voz alta prejudicam muito. Ninguém precisa ouvir a conversa. Por isso, quando
atender, fale baixo. Uma das tarefas do conselheiro é ajudar a pessoa a ser madura e tomar decisões
por si, orientada pelo Espírito Santo. Outra tarefa é levantar a pessoa. Neste sentido, expô-la em
público, como alguém tutelado, é prejudicial. Somos conselheiros e não pais de criancinhas travessas
que devem ser chamadas à atenção.

Há conselheiros que gostam de publicidade para que os demais vejam como ele é importante ou como
está sendo usado por Deus. Remo Machado, psicólogo cristão, faz esta afirmação, em uma de suas
obras: “Caso Deus seja o centro de nossa vida, ele tem um plano para nossa existência, e se ele nos
delegou a posição de psicoterapeutas, devemos usá-la para enaltecimento do nome de Deus, e não
para o nosso engrandecimento pessoal”. Sobriedade é esta característica assumida de que somos
apenas instrumentos, a glória é de Deus, fazemos o que temos que fazer e saímos de cena, sem es-
perar aplausos ou reconhecimento. O conselheiro não faz alarde do seu trabalho. A vaidade sempre
é notada, sempre desgasta o vaidoso e geralmente cobra um preço muito elevado. E as pessoas que
aconselhamos não devem ser vistas como troféus a exibir.

O quinto é desprendimento. Isso significa que o conselheiro não deve levar vantagem na tarefa de
aconselhar. Por vezes, o conselheiro é profissional, um psicólogo ou outro tipo de terapeuta. Neste
caso, ele cobrará consultas. O levar vantagem, neste contexto, significa que o conselheiro não usa
as informações que recebe, nem antes nem depois do processo de aconselhamento. Suponhamos
que o conselheiro seja o pastor ou o líder de um trabalho. Um irmão o procura e lhe revela um pro-
blema e pede ajuda. Não será justo o conselheiro divulgar publicamente uma possível incapacidade
da pessoa para o exercício de uma função para a qual ela vier a ser indicada. Evidentemente que se
for um caso grave, como uma pessoa que tenha tendências pedófilas sendo indicada para cuidar de

82 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


crianças, o conselheiro precisará agir. Mas isso exige cautela. A questão principal é de ordem pessoal:
não levar vantagem. Não impugnar a pessoa para um cargo ou função porque tem outro nome que é
seu preferido ou porque o ambiciona etc. Deve se lembrar também que Cristo pode transformar uma
vida e que um pecado que uma pessoa cometeu no passado não será, necessariamente, cometido
outra vez pela pessoa.

O sexto é capacitação. Já tangenciamos este aspecto anteriormente. Trata-se da capacitação para


o serviço a desempenhar e da capacitação espiritual para poder desempenhar o serviço. Precisamos
ter em mente que nenhum de nós, como líder cristão, é um produto acabado. No que se presume
ser sua última carta, já idoso, Paulo pede a Timóteo: “Quando vieres, traze a capa que deixei em
Trôade, em casa de Carpo, e os livros, especialmente os pergaminhos” (2Tm 4.13). Os especialistas
distinguem entre “livros” e “pergaminhos”. O primeiro termo aludiria a obras seculares, e o segundo
teria o sentido de livros canônicos, isto é, os escritos sagrados. Ele está detido na cadeia, e prestes
a ser executado, mas ainda quer os livros. O obreiro cristão em geral e o conselheiro em particular
sempre devem querer crescer. Adquirir livros, ouvir palestras, fazer cursos, tudo isso ajuda muito o
conselheiro. Mas o preparo espiritual nunca pode ser negligenciado. O Pr. Falcão dá como sendo um
dos aspectos mais importantes na vida do conselheiro ao ajudar alguém em crise: “Orar por si mesmo
e colocar-se nas mãos de Deus para prestar uma ajuda afetiva”. Desempenhamos uma atividade
espiritual e nunca podemos nos esquecer disso. A autoridade espiritual que vem da comunhão com
Deus e da submissão à sua Palavra é sempre notada na vida de quem a tem. E quem a tem não
precisa alardear.
Fonte: <http://www.isaltino.com.br/2011/11/o-perfi l-e-atributos-do-conselheiro-biblico/>. Acesso em:
27 dez. 2011.

Quem também apresenta um perfil de conselheiro cristão é Clinebell (2000) quando trabalha
a questão das habilidades de poimênica e aconselhamento para o pastor, em especial. Para
este autor, a chave para ser bem-sucedido no aconselhamento está na própria pessoa do
conselheiro. Diante disso, Clinebell (2000) lista seis características, qualidades ou habilidades
que tipificam um perfil de conselheiro cristão.

Clinebell (2000) começa sua lista trazendo as ideias rogerianas, as quais são: congruência,
calor humano não possessivo (solicitude e respeito pela pessoa) e compreensão empática, e,

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 83


depois, apresenta mais três de sua autoria.

1. Congruência – significa que o conselheiro deve desenvolver autenticidade interior, integri-


dade e abertura. Nesse sentido, deve proceder a comportamentos que expressem auten-
ticidade e transparência. O oposto a essa característica é a impostura, “fazer de conta” e
“fingir”. Sendo assim, compreende Clinebell (2000) que a pessoa que esconde seus reais
sentimentos, mais cedo ou mais tarde perde a noção de muitos deles, produzindo pontos
cegos emocionais, principalmente nas áreas de hostilidade, agressividade, sexualidade e
carinho.

2. Calor humano não possessivo (solicitude e respeito pela pessoa) – é o equivalente


humano à Graça de Deus em Cristo. Graça é o amor que não se precisa granjear, porque
já está existente em um relacionamento. Segundo Clinebell (2000), “consideração positiva
incondicional é uma mescla de calor humano, gostar da pessoa, preocupa-se com ela,
interessar-se por ela, aceitá-la e respeitá-la” (p.406).

3. Compreensão empática – significa entrar no


mundo interior de significados e sentimentos profun-
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

dos da pessoa, escutando com atenção e interesse.


Clinebell (2000) observa, que uma das barreiras para
o desenvolvimento da compreensão empática é o
narcisismo defensivo, pois não permite olhar para o
outro, mas apenas para si. Nesse sentido, Clinebell
(2000) em tom pastoral afirma: “a oração contínua do
pastor-aconselhador poderia muito bem ser o verso
de hino: ‘afasta de mim o obscurecimento de minha
alma’” (p.406).

As outras três características, Clinebell (2000)


acrescenta:

4. Uma robusta noção da própria identidade como pessoa - é quando o conselheiro de-
senvolve firmemente sua identidade e valor próprio, de sua personalidade e vida. É centra-
do. Certamente, observa Clinebell (2000, p.406), quando há essa condição, o conselheiro
é capaz de responder com sensibilidade necessária às necessidades dos outros na medida
em que possui esta consciência centrada de seu próprio valor e personalidade.

84 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


5. Sarador ferido - esta é uma expressão usada pro Clinebell (2000) que evoca a atitude
terapêutica descrita por Henri Nouwen. Essa atitude provém de uma consciência vivida
de familiaridade com a doença, o pecado, a solidão, a alienação e o desespero da pessoa
com distúrbio e, fundamentalmente, quando o conselheiro se coloca também nesse plano e
reconhece a ação superior de Deus na vida daquela pessoa, pois ele mesmo (conselheiro)
também é suscetível e frágil, necessitado. Por isso Clinebell (2000) afirma: “pela graça de
Deus”, como afirmação de fé necessária para o exercício do aconselhamento cristão.

6. Vivacidade pessoal – essa característica é quando se mantém o vigor e a energia sempre


presentes. Contudo, Clinebell (2000) destaca que tal atitude não é simples, mas necessita
de aprendizado constante. Pois quando se fala em vivacidade, está se pensando naquela
que é contagiante. Não é fácil manter essa atitude, lembra Clinebell (2000), ao solicitar
ao leitor que observe o seu próprio comportamento após atender certas pessoas, como o
conselheiro fica diferente; como a vivacidade interessada oscila.

Vejamos agora algumas atitudes necessárias ao conselheiro cristão, que são apresentadas
por Coelho Filho (2011):

Primeiro: ele deve proceder sem preconceito quando aconselha


Pode ser que a pessoa aconselhada esteja em pecado e deva ser orientada
quanto a isso, mas não compete ao conselheiro, como conselheiro, condená-la. No
aconselhamento não se prega. Conversa-se e se mostra à pessoa a situação em que
ela se encontra e as alternativas a tomar na sua vida. Em outras ocasiões, o conselheiro
administrará conflitos de relacionamentos entre partes. Deve evitar se posicionar contra
um ou contra outro. Ele deve ser uma ponte e não um juiz. Pode ser que a questão
esteja bem clara e ele tenha uma posição bem definida, mas deve se lembrar que está
ali para conciliar partes.
Já me aconteceu, em passado remoto, aconselhar um líder da igreja com problemas
de drogas. No íntimo, por dentro, fiquei muito indignado com este comportamento
vindo de um líder em que eu e a igreja confiávamos, mas sabia que perderia a pessoa
se manifestasse este sentimento. Ela já estava bastante frustrada e envergonhada.
Não manifestei minha postura de censura. Ela já sabia que estava errada. Tratamos
de como superar a situação. Mostrei-lhe empatia. A pessoa superou o problema e
até hoje está na liderança (pedi permissão a ela para citar o evento, sem nomear e
localizar, e ela me concedeu). Precisamos ter muita cautela e lutar para impedir que
nossos sentimentos pessoais de aceitação ou rejeição nos levem a tomar atitudes que
bloqueiem o processo de aconselhamento.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 85


Segundo: ele deve evitar dar ordens

Fonte: PHOTOS.COM

Inconscientemente, o conselheiro tem o desejo de dominar e exercer controle na vida


da pessoa aconselhada. Até porque se sente em condições de orientar a outra parte.
Nosso papel é levar a pessoa a ver a vontade de Deus para sua vida. E precisamos
ser humildes para reconhecer que nem sempre a vontade de Deus é a nossa, como
conselheiros. Podemos mostrar à pessoa as opções e as consequências das opções,
mas deve ser deixada com ela a decisão a tomar. É assim que ela amadurecerá. Quando
dizemos às pessoas o que fazer, elas criam dependência emocional. E isto não é bom.
O conselheiro poderá dizer que executou bem sua função quando a pessoa chegar a
um ponto em que o aconselhado não mais precisar dele como orientador. Essa ideia
de “guru” ou de um mentor que tutoreia a pessoa por toda sua vida não é uma medida
salutar. É antibíblica. Conforme Efésios 4.13, o exercício de dons na igreja é para que
os crentes cheguem “ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de
Cristo” (Ef 4.13). Conduzir alguém pela mão por toda a vida não faz desse alguém uma
pessoa neste patamar de adulto em Cristo. Há muito manipulador querendo ser mentor.

Terceiro: o conselheiro deve cultivar objetividade e não ser envolvido


emocionalmente
Não confunda as coisas nem tente fazer “pegadinhas”, dizendo que isto é o oposto da
empatia mostrada como necessária. Terapeutas profissionais não devem aconselhar
parentes ou pessoas a eles ligadas emocionalmente. Sua análise sempre será
prejudicada porque terá envolvimento emocional. Há uma linha divisória entre empatia
e envolvimento emocional. A empatia é produto da misericórdia cristã. O envolvimento
sucede quando o conselheiro se sente perturbado porque aquilo o atinge diretamente.
Por vezes, ele está passando por um problema semelhante ao que a pessoa que lhe
procura está passando e sente desnorteado, ou sem condições de fazê-lo. Não é
errado um conselheiro ter problemas e passar por lutas, é preciso dizer neste contexto.
O problema é quando o aconselhando está numa situação idêntica e o conselheiro
sente que está sem condições.
A eficácia do aconselhamento, neste caso, será reduzida. Ao mesmo tempo, em

86 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


contrapartida, o conselheiro poderá ver nesta situação como a pessoa está sofrendo.
Mas sua orientação poderá ser apenas um reflexo do que ele faria. E as pessoas
reagem de maneira diferente. O conselheiro poderá mostrar um caminho que ele tem
condições de percorrer, mas talvez a outra pessoa não tenha. Ele precisará refletir
bastante, orar e ter humildade para, se for o caso, dizer à pessoa que naquele momento
não poderá ajudá-la. Se tiver certeza de que estará mais capacitada exatamente por
estar vencendo o problema, deve ajudar. Mas se estiver sendo abatida pelo problema,
terá pouco o que dizer. E deverá ter a humildade de reconhecer isto.

Quarto: Saber filtrar o que está sendo dito


Nem sempre as palavras revelam. Por vezes mascaram. Para filtrar bem, o conselheiro
precisa de um bom filtro (ou um coador). É oportuno lembrar que vivemos numa
sociedade massificada pelo egoísmo e que as pessoas, em sua maior parte, têm
motivações egoístas. Até mesmo na área espiritual. O conselheiro precisa ter um bom
parâmetro para avaliar e orientar. Por exemplo: qual é a finalidade da vida? É a busca
de felicidade? É o que as pessoas buscam e o que muitas pregações sinalizam. Mas é
este o propósito de Deus para nós?
Um problema muito sério é que os crentes estão buscando felicidade, e não mais
santidade, como se pudessem ser felizes à parte de sua comunhão com Deus. Com
esta visão, a vida cristã passa a ser a busca de satisfação de necessidades pessoais
(algumas irrelevantes e supérfluas). É um conceito mundano. Assim, o trabalho do
conselheiro passa a ser mais o de um terapeuta secular, levando as pessoas a se
aceitarem como são e a buscarem necessidades muitas vezes mundanas, que um
servo cristão que ajuda os crentes na sua caminhada a uma vida mais profunda com
Deus. Muitos dos problemas espirituais e emocionais não estão ligados à área espiritual
ou da vontade de Deus, mas a projetos pessoais que os indivíduos têm, muitos deles
modelados pelo padrão do mundo. Eles não alcançam tais projetos e se frustram. Tenho
observado, em quarenta anos de ministério (o que não me torna infalível, mas me faz
entender muitas coisas) que grande parte da aflição dos crentes é por coisas das quais
não precisam e sem as quais podem viver. Mas deixam-se modelar pela massificação
mundana de uma sociedade materialista que espiritualmente é decadente. Eles querem
ser como o mundo. E querem as coisas que o mundo quer.
O conselheiro deve ter em conta que lidará com muitas pessoas que têm problemas
por causa de necessidades que não devem ser atendidas.
[...] A atividade de aconselhar biblicamente não é a de dar pirulitos a crianças frustradas,
mas ajudar as pessoas a entenderem o propósito de Deus para a vida delas. Há uma
diferença enorme entre desejos e necessidades. É preciso saber a distinção entre os
dois. E o conselheiro, algumas vezes, terá que levar a pessoa a entender isso [...]
Assim sendo, não se culpe se não vir resultado imediato ou se a pessoa custar a aceitar

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 87


sua orientação. Sua missão não é produzir resultados, mas fazer o melhor que puder,
na dependência do Espírito Santo. O resto compete a Deus, que fará a obra no tempo
dele. Que sempre é o certo (pp. 5-9).

PERFIL E PAPEL DO CAPELÃO HOSPITALAR

Como demos destaque para a capelania


Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

hospitalar quando tratamos sobre a


fundamentação teórica sobre capelania; nesta
parte desenvolveremos o perfil e o papel do
capelão hospitalar. Tal intento será construído
transcrevendo algumas partes do capítulo
denominado “O capelão hospitalar” de autoria de
Silva (2010), que se encontra em sua dissertação
de mestrado, a qual versa sobre “A Capelania
Hospitalar: uma contribuição na recuperação do
enfermo oncológico”; bem como as contribuições
de Saad e Nasri (2008). Fica aqui o registro de
que pode haver na transcrição de algumas partes
do capítulo supracitado, supressão ou acréscimo
com o objetivo tão somente de atender as necessidades desta unidade de estudo.

Silva (2010) observa que o capelão hospitalar deverá ter as seguintes características:
Vocacionado
O capelão hospitalar, para exercer sua práxis no hospital, deve ter convicção de sua
chamada, de sua vocação para esse ofício, o que exige fé de que foi chamado por
Cristo para este trabalho junto aos enfermos. Ele deve sentir-se chamado por Deus a
partir da realidade do sofrimento para produzir saúde e vida.
Sendo assim, torna-se continuador da ação misericordiosa e libertadora do Cristo para
com os doentes, a exemplo do Bom Samaritano (Lc 10,29-37). Sua ação vai muito
além da simples caridade ou filantropia, transformando situações de indiferença em
solidariedade, contextos de morte em vida, realidades manipuladoras em defesa

88 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


da dignidade humana ferida. Portanto, transforma-se em agente de mudança e
transformação.

Agente de transformação
Inconformado com a realidade social em que está inserido, ele alimenta uma indignação
ética diante do descaso no tocante à vida humana. O capelão é um profeta. Denuncia o
que contradiz a verdade do evangelho de Jesus Cristo e anuncia uma nova perspectiva
sobre a realidade opressora. Apresenta-se como um ser ativo de presença crítica e
questionante diante da realidade do hospital que não vá ao encontro das necessidades
do enfermo.
Consequentemente é um militante de políticas de humanização que busca colocar
o enfermo como razão de ser e existir do hospital. Para que o capelão consiga
desempenhar bem o seu papel, faz-se necessária uma formação específica e uma
reciclagem (formação) continuada.

Profissional
Segundo Cavalcanti, o hospital funciona sem a presença de um capelão, mas não sem
a presença de médicos e enfermeiros. Portanto, o capelão deverá conduzir-se frente a
esses servidores da saúde com todo respeito e cortesia. Haverá sempre a prioridade
médica ao atendimento do paciente: são raros os casos ao contrário.
Os médicos e enfermeiros estarão trabalhando em suas respectivas áreas, sejam
doenças físicas ou psíquicas, enquanto o capelão direciona a atuação aos cuidados
espirituais. O capelão não deve dar conselhos médicos, receitar remédios, divulgar
diagnósticos ou outro assunto concernente à área médica.
O capelão apresenta-se normalmente à Chefia de Enfermagem quando em visitas
a pacientes nas enfermarias. Devendo participar de treinamento junto aos demais
profissionais para receber informações sobre como proceder em relação a veículos
transmissores de infecção, priorizando o tratamento do paciente e protegendo-o de
possíveis contaminações. Deverá, também, ser informado sobre diagnóstico de
pacientes com doenças infecto-contagiosas. O capelão hospitalar pode, também,
como forma de reconhecimento e congraçamento, promover comemorações no Dia do
Médico e do Enfermeiro.
Educador e evangelizador
Para o bom desempenho do seu trabalho no hospital, o capelão deve desenvolver a
competência de despertar novas lideranças para atuarem neste ministério que está no
“coração de Deus’’, na dimensão humana e ética. O capelão comunica e educa para
uma visão holística em que a pessoa humana é respeitada integralmente nas suas

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 89


dimensões sociais, físicas, psíquicas e espirituais.
No Hospital Evangélico de Vila Velha, no Estado do Espírito Santo, uma das atribuições
do capelão é ministrar cursos aos agentes voluntários da Pastoral da Saúde de confissão
católica, os quais recebem todo o preparo prático e teórico para atuarem no Hospital.
Atualmente, a capelania deste Hospital conta com cerca de 120 voluntários de várias
denominações religiosas, os quais recebem treinamento para atuarem lá.
Diante disso, pode-se constatar a necessidade de uma formação sólida e específica do
capelão. Por isso, verifica-se a necessidade de o capelão desenvolver a competência
de liderança para desenvolver esse aspecto de sua função no hospital.

Espiritualidade salvífica
De acordo com a capelã e pastora do Hospital Evangélico de Vila Velha Maria Luiza
Ruckert, o serviço de capelania representa um espaço privilegiado para traduzir a
Boa-Nova para a linguagem dos relacionamentos, uma linguagem que nos permite
comunicar uma mensagem de cura, salvação e esperança às pessoas que se debatem
em dor e desespero, incertezas e vazio (característica muito presente na nossa época ).
Portanto, o capelão valoriza a vida humana cultivando uma espiritualidade salvífica,
sendo agente gerador de vida e esperança em meio a dor, sofrimento e morte. Por
isso, deve ser um homem de oração constante e de comunhão profunda com Deus.
Um crente que ora com e pelo doente, um ser que vivencia uma vida orante a partir do
sofrimento humano numa perspectiva de salvação e cura. A partir dessa espiritualidade,
o capelão se torna um pedagogo da fé.
Líder
O capelão deverá saber delegar responsabilidades confiando nas capacidades das
pessoas, com isso evitando centralizações. Ele estimula iniciativas voluntárias que se
apresentam de forma gratuita e solidária movidas pelo amor ao próximo, como, por
exemplo, o voluntariado.
Fonte: PHOTOS.COM

Como líder religioso carismático na comunidade hospitalar, procura sempre estar

90 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


inovando, buscando novos métodos e iniciativas para alcançar as pessoas na sua
totalidade. Nesse sentido, a criatividade o leva a sair da rotina e buscar sempre o novo.
Sendo líder, é um conhecedor da realidade pluralista que o cerca e com a qual dialoga.

Ecumênico
A função ocupada pelo capelão exige um bom relacionamento com outros religiosos que
atuam no hospital. Haverá certas ocasiões em que os capelães (católico, evangélico,
rabino etc.) serão convidados pela Administração para participar de solenidades ou
comemorações ecumênicas: cada convite deverá ser estudado para que não haja
dúvida quanto à presença e à mensagem proferida pela capelania.
O capelão, nessa realidade, zela pelo atendimento das necessidades psicoespirituais
dos enfermos segundo a sua tradição religiosa, o que não o impede de manter-se
aberto ao diálogo com outras tradições religiosas.
Nesse sentido, deve ser capaz de realizar um diálogo inter-religioso, cooperando no
objetivo comum de servir ao doente, preservando a própria identidade de fé, nesse
contexto pluralista, onde se encontram diferentes opções religiosas (pp. 32-35).

Conforme Silva (2010), o capelão deve ser uma pessoa de bom relacionamento com todos
no hospital. Sua amizade deve se estender, dos cargos mais simples até os mais elevados.
Sempre deve estar pronto para ajudar, aconselhar e prestar seus serviços. Isso requer
humildade, empatia, sinceridade e também versatilidade. Sua imagem ou papel social é
sempre de alguém espiritual, amoroso e testemunha de Cristo, por isso sua responsabilidade
estende-se a todas as pessoas com as quais convive.

Ainda sobre o perfil do capelão, Saad e Nasri (2008) observam a importância da espiritualidade
no contexto hospitalar, bem como ressaltam a relevância da assistência espiritual ao paciente
internado. Nesse particular, os referidos autores são taxativos em afirmar que não é qualquer
um que pode oferecer esse serviço. Tem que ter conhecimento e habilidade. Nesse sentido,
Saad e Nasri (2008) ressaltam que os capelães têm que desenvolver as seguintes habilidades
religiosas:

• Sensibilidade à realidade de múltiplas culturas e crenças.

• Respeito às preferências espirituais ou religiosas dos pacientes.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 91


• Entendimento do impacto da doença no indivíduo e seus cuidadores.

• Conhecimento da estrutura e da dinâmica de uma organização de saúde.

• Responsabilidade como parte de uma equipe profissional de saúde.

• Responsabilidade diante de seu grupo religioso.

Partindo desses pressupostos acima, destacamos a partir de Silva (2010, p.36) algumas das
principais atribuições que o capelão possui, as quais o autor faz referência em sua dissertação.
Vejamos:

• Coordena o serviço da Capelania – tem a responsabilidade institucional junto à Direção do


Hospital.

• Participa de treinamento – principalmente sobre contaminação e recebe orientações sobre


como proceder junto aos pacientes.

• Atende pacientes e funcionários.

• Dirige e coordena cultos e funerais.

• Organiza as atividades da capelania.

• Aprova todo o material impresso a ser distribuído.

• Orienta os deveres e direitos dos pastores visitantes.

• Assegura o cumprimento do regulamento interno do Hospital e convívio com outros religio-


sos e pessoas da saúde.

• Organiza as atividades de visitação de religiosos no hospital.

• Escreve ou aprova artigos escritos para a publicação no boletim do hospital e para cartões
e datas especiais.

92 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Fonte: PHOTOS..COM Silva (2010) compreende, por fim, que o
capelão deve ser um profissional que
possui um bom relacionamento com a
Administração do Hospital, não só pelo
aspecto formal de sua função. Por isso,
requer-se de todo aquele que exerce
capelania hospitalar ética e uma postura
irrepreensível.

Saad e Nasri (2008) observam que o


capelão é um profissional que pode atuar como membro de saúde por:

a) Participar em visitas médicas e discussões de caso de pacientes, oferecendo perspectivas


no estado espiritual destes.

b) Participar em educação interdisciplinar.

c) Traçar o plano de intervenções de cuidados espirituais.

Cabe, portanto, ao capelão desenvolver conhecimentos básicos e fundamentais para o exer-


cício de sua profissão, com a finalidade de contribuir nesse contexto, que é de ajuda espiritual
para o crescimento diante da dor ou do sofrimento.

Conforme Saad e Nasri (2008), são essas as atividades típicas do capelão, no contexto
hospitalar:

• Cuidado em perdas e luto.

• Triagem de risco, identificando indivíduo cujos conflitos internos comprometem sua recupe-
ração satisfatória.

• Facilitação de questões espirituais relacionadas à doação de órgãos.

• Intervenção em crise.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 93


• Avaliação espiritualista.

• Facilitação de comunicação entre a equipe.

• Resolução de conflitos entre equipe, paciente e família.

• Encaminhamento a recursos de auxílios externos ou internos.

• Auxílio em tomadas de decisões.

• Apoio à equipe em crises pessoais ou estresse trabalhista.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como havíamos observado anteriormente, nesta unidade foi aprofundada teoricamente a


prática do conselheiro e do capelão.

Antes, contudo, foram assinaladas algumas atitudes inadequadas do conselheiro, como:


visitação informal; desinteresse no atendimento; rotulação o aconselhando; condenação
precipitada; negação das potencialidades do aconselhando; relação informal; envolvimento
emocional e distanciamento.

Sobre o perfil, a partir de Coelho Filho (2011) e Clinebell (2000), destacaram-se do primeiro
autor: empatia, respeito, sigilo, sobriedade, desprendimento e capacidade enquanto do
segundo autor: congruência, calor humano não possessivo, compreensão empática, uma
robusta noção da própria identidade como pessoa sarador ferido e vivacidade pessoal.

Com relação às atitudes do conselheiro, fundamentadas em Coelho Filho (2011), são: não ser
preconceituoso, não ser controlador, ser objetivo, não se envolver emocionalmente e saber
filtrar o que ouve.

Sobre Capelania Cristã foram trabalhados os estudos de Silva (2010) e Saad e Nasri (2008),
que desenvolveram seus estudos abordando o perfil e papel do capelão.

No que tange ao perfil destacou-se; portanto, que o capelão: é vocacionado, agente de


transformação, profissional, educador e evangelizador, possui espiritualidade salvífica, é
líder e ecumênico, respeita as preferências espirituais ou religiosas dos pacientes, conhece o
impacto da doença no indivíduo e seus cuidadores, conhece a estrutura e a dinâmica de uma
94 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância
organização de saúde é responsável com relação à equipe de trabalho e com o seu grupo
religioso.

Com relação às tarefas ou atitudes que o capelão desenvolve, foram destacadas as seguintes:
coordenar o serviço de capelania; capacitar pessoal sobre as questões religiosas e espirituais;
organizar as atividades; orientar os religiosos e pastores que visitam o hospital; assegurar o
cumprimento dos regulamentos sobre a visitação religiosa; aprovar e escrever artigos sobre
temas afins e atuar como membro da equipe médica.

Este link remete a uma associação de capelania hospitalar. Nele você tem informações, orientações,
mensagens, literatura e cursos.

<http://www.capelania.com/2008/index.php>.

ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1. Como temos ressaltado, é fundamental que tanto o conselheiro quanto o capelão desen-
volvam comportamentos adequados. Nesta unidade, foi concedido espaço para também
listarmos atitudes inadequadas do conselheiro cristão. Diante disso, relacione duas ati-
tudes inadequadas listadas e desenvolva um texto, entre 5 e 10 linhas, que ressalte as
implicações negativas desse comportamento.

2. Sobre o perfi l do conselheiro, vimos que há um universo comum de características ne-


cessárias para que esse ministério seja desenvolvido a contento. Quem de uma maneira
sistemática, articulada e apaixonada, diga-se de passagem, abordou sobre o perfi l do con-
selheiro foi Coelho Filho. Ele destacou o seguinte perfi l: ser empático, respeitoso, sigiloso,
sóbrio, desprendido e capaz. Dessas seis habilidades, escolha apenas duas e em seguida
elabore um texto, entre 4 e 8 linhas, em que você argumenta que essas duas habilidades
são imprescindíveis para um bom desempenho da atividade de conselheiro cristão hoje.

3. Vimos dois perfi s de conselheiro cristão. Um apresentado por Coelho Filho (2011) e outro
por Clinebell (2000). Faça uma relação entre esses dois perfi s destacando pontos seme-
lhantes e diferenças. Seja objetivo em sua resposta, citando e argumentando com referên-
cia aos próprios textos estudados.

4. Assim como o conselheiro tem um papel esperado que aqui foi destacado, assim também
tem o capelão hospitalar. Que relação é possível fazer entre o perfi l do capelão hospitalar e
do conselheiro? Apresente pelo menos duas atitudes que podem ser relacionadas.
TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 95
5. A capelania é uma atividade essencialmente de cuidado. Isso não é em absoluto estranho
no contexto hospitalar. Ser capelão hospitalar é cuidar. Relacione o papel apresentado por
Silva (2010) e as habilidades apresentadas por Saad e Nasri (2008), que argumentam no
sentido positivo de que a capelania é cuidar. Faça essa relação produzindo um texto entre
4 e 8 linhas.

O visitador, sua função e suas atividades


Assuntos que devem ser avaliados com respeito ao trabalho com os enfermos:
* O hospital é uma instituição que busca uma cura física. Temos que respeitar o ambiente, a estrutura
hospitalar e trabalhar dentro das normas estabelecidas. Como evangélicos a Constituição Brasileira
nos dá direitos de atender os doentes, porém não é um direito absoluto. Devemos fazer nosso trabalho
numa forma que não atinja os direitos dos outros.
* Como é que você encara uma doença ou o sofrimento humano? Tem que avaliar suas atitudes, seus
medos, suas ansiedades, etc. Nem todos podem entrar numa enfermaria ou visitar um doente no lar,
porque não é fácil lidar com situações que envolvem o sofrimento humano.
* Quando visitamos os enfermos devemos estar atentos aos sentimentos e preocupações deles. Nos-
sa agenda precisa priorizar os assuntos que eles desejam abordar.
* Como crente em Jesus temos algo que todos desejam: esperança. Deve expressar esta esperança
de maneira realística e com integridade. Tenha cuidado com promessas feitas em nome de Deus.
Podemos levar palavras seguras, mas devemos evitar a criação de uma esperança falsa.
* Observar e respeitar as visitas de outros grupos. Faça seu ministério sem competir ou entrar em
confl itos. Seja uma boa testemunha.
* Saiba utilizar bem nossos instrumentos de apoio que são: oração, a Bíblia, apoio da igreja, e a espe-
rança em Jesus Cristo, o Médico dos Médicos.
* Ore e confi e no Espírito Santo para lhe ajudar.
* Aprenda os textos Bíblicos apropriados para usar nas visitas hospitalares ou nos lares dos enfermos.
*Aprenda algumas normas, regras, e orientações para visitar os enfermos.

A Prática
Como capelão por mais de 20 anos do Hospital Presbiteriano Dr. Gordon, procurei desenvolver um
ministério prático de visitação. Este projeto de Voluntários para a Capelania do Hospital que segue
representa o aprendizado da teoria que foi confi rmada e ampliada na prática. Cada experiência de
Capelania Hospitalar ou cada visita aos enfermos são experiências distintas. Porém, os princípios, os
valores, as regras, e as normas são semelhantes e válidos para todos os casos.

96 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


1. Como criar seu espaço de trabalho:
* Entender seu propósito
* Ganhar seu direito
* Trabalhar com equipe médica

2. Deve:
* Identificar-se apropriadamente.
* Reconhecer que o doente pode apresentar muita dor, ansiedade, culpa, frustrações, desespero, ou
outros problemas emocionais e religiosos. Seja preparado para enfrentar estas circunstâncias.
* Usar os recursos da vida Cristã que são: oração, Bíblia; palavras de apoio, esperança, e encoraja-
mento; e a comunhão da igreja. Se orar, seja breve e objetivo. É melhor sugerir que a oração seja feita.
Uma oração deve depender da liderança do Espírito Santo, levando em consideração as circunstân-
cias do momento, as condições do paciente, o nível espiritual do paciente, as pessoas presentes, e
as necessidades citadas.
* Deixar material devocional para leitura: folheto, Evangelho de João, Novo Testamento, etc.
* Visitar obedecendo às normas do Hospital ou pedir de antemão, se uma visita no lar é possível e o
horário conveniente.
* Dar liberdade para o paciente falar. Ele tem suas necessidades que devem tornar-se as prioridades
para sua visita.
* Demonstrar amor, carinho, segurança, confiança, conforto, esperança, bondade, e interesse na pes-
soa. Você vai em nome de Jesus.
* Ficar numa posição onde o paciente possa lhe olhar bem. Isto vai facilitar o diálogo.
* Dar prioridade ao tratamento médico e também respeitar o horário das refeições.
* Saber que os efeitos da dor ou dos remédios podem alterar o comportamento ou a receptividade do
paciente a qualquer momento.
* Tomar as precauções para evitar contato com uma doença contagiosa, sem ofender ou distanciar-se
do paciente.
* Aproveitar a capela do hospital para fazer um culto. Se fizer um culto numa enfermaria pode atrapa-
lhar o atendimento médico de outros pacientes ou incomodá-los. Deve ficar sensível aos sentimentos
e direitos dos outros.
* Avaliar cada visita para melhorar sua atuação.

3. Não deve:
* Visitar se você estiver doente.
* Falar de suas doenças ou suas experiências hospitalares. Você não é o paciente.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 97


* Criticar ou questionar o hospital, tratamento médico e o diagnóstico.
* Sentar-se no leito do paciente ou buscar apoio de alguma forma no leito.
* Entrar numa enfermaria sem bater na porta.
* Prometer que Deus vai curar alguém. Às vezes Deus usa a continuação da doença para outros fins.
Podemos falar por Deus, mas nós não somos o Deus Verdadeiro.
* Falar num tom alto ou cochichar. Fale num tom normal para não chamar atenção para si mesmo.
* Espalhar detalhes ou informação íntima ou o paciente. Pode orientá-los, mas deixe-os tomarem as
decisões cabíveis e sobre o paciente ao sair da visita.
* Tomar decisões para a família ou o paciente. Pode orientá-los, mas deixe-os tomarem as decisões
cabíveis e sob a orientação médica.
* Forçar o paciente falar ou se sentir alegre, e nem desanime o paciente. Seja natural no falar e agir.
Deixe o paciente a vontade.

Numa visita hospitalar ou numa visitação em casa para atender um doente, sempre observamos
vários níveis de comportamento. Cada visita precisa ser norteada pelas circunstâncias, os nossos
objetivos ou alvos, e as necessidades da pessoa doente.
As perguntas servem como boa base para cultivar um relacionamento pessoal. As perguntas foram
elaboradas pelo Dr. Roger Johnson num curso de Clinical Pastoral Education em Phoenix, Arizona,
EUA . Dr. Johnson lembra-nos que há perguntas que devemos evitar. Perguntas que comecem com
“por que” e perguntas que pedem uma resposta “sim”ou “não” podem limitar ou inibir nossa conversa
pastoral. Segue uma lista de perguntas próprias. A lista não é exaustiva e as pessoas podem criar
outras perguntas. A lista serve como ponto de partida para uma conversa pastoral.
* O que aconteceu para você encontrar-se no hospital?
* O que está esperando, uma vez que está aqui?
* Como está sentindo-se com o tratamento?
* Como está evoluindo o tratamento?
* O que está impedindo seu progresso?
* Quanto tempo levará para sentir-se melhor?
* Quais são as coisas que precipitaram sua enfermidade?
* Ao sair do hospital ou se recuperar, quais são seus planos?
* Como sua família está reagindo com sua doença?
* O que você está falando com seus familiares?
* O que seus familiares estão falando para você?
* O que você espera fazer nas próximas férias (outro evento ou data importante)?

98 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Os enfermos passam por momentos críticos. Devemos fi car abertos e preparados para ajudar com
visitas e conversas pastorais. Os membros de nossas igrejas podem atuar nessa área. Uma visita
pastoral ou conversa pastoral serve para dois aspectos de nossa vida.
Primeiro, uma visita demonstra nossa identifi cação humana com o paciente. Como ser humano nós
podemos levar uma palavra de compreensão, compaixão, amor, solidariedade e carinho. Segundo, na
função de uma visita ou conversa pastoral representamos o povo de Deus (Igreja) e o próprio Deus na
vida do paciente. Assim, levamos uma palavra de perdão, esperança, confi ança, fé e a oportunidade
de confi ssão. O trabalho pastoral visa o paciente como um “ser humano completo, holístico” e não
apenas como um corpo ou um caso patológico para ser tratado.
Eudoxio Santos
Fonte: <http://capelaniahospitalar.blogspot.com/>. Acesso em: 27 dez.2011.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 99


UNIDADE V

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO


E CAPELANIA CRISTÃ
Professor Me. Rubem Almeida Mariano

Objetivos de Aprendizagem

• Conhecer os procedimentos e técnicas de aconselhamento de apoio, de perda pes-


soal e de crise matrimonial.

• Identificar os procedimentos e metodologias necessários para o desempenho em


Aconselhamento e Capelania Cristã.

• Conscientizar-se dos comportamentos do aconselhando ou paciente em situação


de crise.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Aconselhamento de apoio

• Aconselhamento em casos de perda pessoal

• Aconselhamento em casos de crise matrimonial

• Atividade de exercício prático de aconselhamento de apoio


102 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância
INTRODUÇÃO
“Bem-aventurados os que choram,
porque serão consolados”.
Evangelho de Mateus 5:4

“É ele que nos conforta em toda nossa


tribulação, para podermos consolar os que
estiverem em qualquer angustia”.

2 Coríntios 1:4

“Em pleno inverso, dei-me conta,


finalmente, de que dentro de mim havia
um verão invencível”.

Albert Camus, Actuelles

Certa vez ouvi de um dos meus alunos, em uma aula de aconselhamento pastoral, a seguinte
afirmação: “o nosso problema, no aconselhamento, não é falta de conhecimento bíblico, mas
falta de conhecer a pessoa do aconselhando, seu comportamento”. Essa afirmação remete
sem dúvida aos conhecimentos de métodos e técnicas sobre o ato de aconselhar.

Tenho notado que o grande interesse das pessoas é como proceder quando alguém precisa
de apoio, ou quando está em crise; diante de uma separação; perda pessoal; crise matrimonial
ou como aconselhar toda uma família.

Hoje, temos um número considerável de literatura cristã que tem dado conta dessa demanda,
lembro aqui alguns clássicos, como “Aconselhamento Cristão” e “Ajudando uns aos outros
pelo Aconselhamento” de Collins; “Aconselhamento Pastoral: modelo centrado em libertação e
crescimento” de Clinebell e um dos textos mais recentes nessa área, do conhecido argentino
psicólogo e pastoralista Schipani, “O caminho de sabedoria no Aconselhamento Pastoral”.

Diante disso, nesta unidade estaremos apresentando alguns dos temas em aconselhamento,
bem como métodos e técnicas, que podem ser utilizados para o enfrentamento dessas
situações. Aqui fizemos uma opção em trabalhar com as ideias e casos apresentados pelo

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 103


conselheiro Clinebell em seu livro “Aconselhamento Pastoral”. Fizemos uma seleção de alguns
temas e procedimentos sugeridos pelo referido autor, são eles:

a) Aconselhamento de apoio.

b) Aconselhamento em casos de perda pessoal.

c) Aconselhamento em casos de crise matrimonial.

Esperamos que este texto não seja encarado como um receituário, mas como um guia
introdutório teórico-prático para o enfrentamento dos temas abordados aqui.

Ao final de cada tema estudado, tem-se uma sessão denominada “Atividade de exercício
prático de aconselhamento sobre o tema abordado”. O objetivo é bem simples, caro aluno,
possibilitar uma reflexão ou prática para implementar os conhecimentos estudados. Essas
atividades foram todas elaboradas a partir do livro “Aconselhamento Pastoral” de Clinebell
(2000).

ACONSELHAMENTO DE APOIO

Apoio. Essa é uma palavra muito comum no meio cristão. Afinal as pessoas procuram as
igrejas muitas vezes para enfrentar situações que as desestabilizam, pois se encontram
atribuladas quer no âmbito pessoal, conjugal ou grupal. Diante disso, é fundamental que o
conselheiro cristão desenvolva métodos e técnicas que possibilitem:

a) Estabilidade.

b) Alicerce.

c) Alimento.

d) Orientação.

Portanto, cabe ao conselheiro desenvolver naquele que procura ajuda as condições ou


capacidades para enfrentar, manejando de forma adequada, os seus problemas e os seus
relacionamentos mais construtivamente, dentro dos limites que lhes são impostos pelos
recursos de sua personalidade e pelas circunstâncias oferecidas.

104 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


No aconselhamento de apoio, o conselheiro faz uso de:

1. Orientação.

2. Informação.

3. Tranquilização.

4. Inspiração.

5. Planejamento.

6. Formulação de respostas e perguntas.

7. Encorajamento ou desencorajamento de certas formas de comportamento, as quais devem


ser observadas de forma cuidadosa e muito atenta.

A seguir, vejamos sete procedimentos sugeridos por Clinebell (2000) para o aconselhamento
de apoio:

1) Satisfazer necessidades de dependências – deve ser uma atitude que comunique solici-
tude a uma pessoa atribulada. Há muitas formas de satisfação de dependência:

a) confortar;

b) sustentar;

c) alimentar (emocional ou fisicamente);

d) inspirar;

e) orientar;

f) proteger;

g) instruir;

h) colocar limites seguros para evitar comportamento prejudicial à própria pessoa ou a outras.

2) Catarse emocional – compete ao conselheiro realizar a aceitação dos sentimentos opres-


sivos de uma pessoa, inicialmente. Quando uma pessoa se sente aceita pode liberar senti-
mentos que estão guardados e contidos em seu ser. Sentir que outra pessoa conhece sua
dor interior e se importa com ela dá às pessoas atribuladas a força que provém do fato de
terem suas vidas alicerçadas.

3) Exame objetivo da situação de estresse - quando as pessoas atribuladas são apoiadas,

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 105


podem imprimir objetividade para ver seu problema a partir de uma perspectiva um tanto
mais ampla e explorar alternativas viáveis. Podem tomar decisões mais sábias a respeito
do que podem e devem fazer.

4) Promover as defesas do ego – há situações que podem desestruturar totalmente a pes-


soa, por exemplo, um acidente de carro em que essa pessoa foi a única sobrevivente, mas
foi também justamente a culpada pela morte dos passageiros; no momento do funeral, ela
começa explicar que foi o outro motorista e não ela a culpada. Deve-se compreender que
esse funcionamento, negando e projetando, é defensivo e que aos poucos, ao longo do
tempo, deve-se trabalhar essa questão.

5) Mudanças da situação de vida – o conselheiro pode ajudar o aconselhando a fazer mu-


danças ou, se isso não for possível, providenciar para que sejam feitas nas circunstâncias
(físicas, econômicas ou interpessoais) que estão produzindo distúrbios deliberados em
suas vidas.

6) Encorajar ação apropriada – quando as pessoas estão aturdidas ou paralisadas por sen-
timentos de ansiedade, derrota, fracasso a autoestima prejudicada por uma perda trágica,
é útil que o conselheiro prescreva alguma atividade que as mantenha em funcionamento
e em contato com outras pessoas; um tipo de “tarefa para casa”. Por exemplo: leituras
relevantes para o problema que a pessoa enfrenta.

7) Usar subsídios religiosos – oração, Bíblia, literatura devocional, a Ceia do Senhor etc,
constituem valiosos recursos de apoio, que são características singulares do aconselha-
mento pastoral.

Por fim, Clinebell (2000) alerta para os perigos do aconselhamento de apoio. Ele faz uma
comparação oportuna quando usa o exemplo do aparelho ortopédico. Ele tem a funçãode
dar um suporte temporário, contudo, existe o perigo desse aparelho se tornar uma muleta (no
sentido negativo), bloqueando o crescimento por meio de uma dependência persistente. É o
que acontece, por exemplo, quando o conselheiro faz alguma coisa que cabe ao aconselhando
fazer. Por isso é fundamental que o conselheiro esteja atento à pessoa e ao contexto em que
está inserida.

106 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Atividade de exercício prático de aconselhamento de apoio

Orientações:

1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta como cenas que
aconteceriam e como você procederia na qualidade de pastor, por exemplo.

2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas ou com mais outras pessoas,
fazerem uma dramatização ou teatralização. Os personagens são apenas dois. Você
necessariamente tem que seguir as sugestões propostas para o exercício. Lembre-se de
estudar e revisar os conteúdos e procedimento do aconselhamento de apoio.

3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de exercício prático de
aconselhamento de apoio.

Papel do aconselhando

Você é a Sra. V., uma viúva de 81 anos, acamada em consequencias de uma queda que
resultou na fratura de um punho e da clavícula. Você mora com seu filho e a esposa dele.
Sua fé foi seriamente posta a prova por seu acidente. Você não pode compreender por que
Deus parece tão distante. Muitas de suas amigas já morreram e você se sente extremamente
solitária. Você sabe que pode não lhe restar muito tempo de vida (deite-se para assumir esse
papel).

Papel do pastor

Você é o pastor da sra. V. e ela é o membro mais velho de sua congregação. Você tem um
sólido relacionamento pastoral com ela. Enquanto ela fala durante a visita, você percebe a
oportunidade de fazer aconselhamento de apoio como parte de seu ministério poimênico para

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 107


com ela. Enquanto você fala, fique atento aos sentimentos dela e faça com que ela saiba que
você está consciente, refletindo o que você acha que ela está dizendo e sentido. Experimente
os métodos de apoio descritos neste capítulo na medida em que sejam pertinentes. Seja
sensível à possível presença de tensão entre os membros da família.

Papel do observador-monitor

Sua função é ajudar a sra. V. e o pastor, aumentar sua consciência do que está ocorrendo
entre eles e sua consciência do tom de sentimentos da relação de aconselhamento. Sinta-se à
vontade para interromper o aconselhamento ocasionalmente a fim de dar sugestões de como
ele poderia tornar-se mais proveitoso. Seja franco. Como observador você perceberá coisas
importantes que eles talvez não vejam.

ACONSELHAMENTO EM CASOS DE PERDA PESSOAL

A perda pessoal é uma crise humana universal. O pesar está presente: em todas as mudanças,
perdas e transições importantes na vida, não só por ocasião da morte de uma pessoa amada.

Diante das perdas que são as mais diversas, Clinebell (2000) propõe um esquema de cinco
tarefas nesse processo e o tipo de ajuda que facilita a realização de cada tarefa:

108 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Tarefa de elaboração do pensar Ajuda necessária
1. Experimentar o choque, o entorpecimento, a negação e Ministério de solicitude e presença; ajuda prática
a gradativa aceitação da realidade de perda. e conforto espiritual.
2. Experimentar, expressar e digerir sentimentos Ministério de apoio e escuta responsiva para
dolorosos, por exemplo, culpa, remorso, apatia, raiva, estimular catarse plena.
ressentimento, anseio, desespero, ansiedade, vazio,
depressão, solidão, pânico, desorientação, perda da
identidade clara, sintomas físicos etc.
3. Aceitação gradativa da perda e remontagem da vida da Ministério de apoio e escuta responsiva para
pessoa sem aquilo que se perdeu, tomando decisões e estimular catarse plena.
enfrentando a nova realidade desaprendendo antigas
maneiras de satisfazer as próprias necessidades e
aprendendo novos modos. Dizer adeus e reinvestir a
energia vital em outros relacionamentos.
4. Situar a perda da pessoa em um contexto mais amplo Ministério de facilitação do crescimento
de sentido e fé; aprender com a perda. espiritual.
5. Dirigir-se a outros que estão experimentando perdas Ministério de capacitação para entrar em contato
semelhantes, para ajuda recíproca. com outros.

É importantíssimo ressaltar que há perdas que podem ser difíceis de serem enfrentadas. A
ambivalência é esperada, mas quando a pessoa continua, por exemplo, a superidealizar o
falecido, está usando das defesas da negação e repressão. É necessário que a pessoa saiba
entender os sentimentos reprimidos. Clinebell (2000) destaca alguns perigos:

a) Retraimento cada vez maior de relacionamentos e atividades normais.

b) Ausência de luto.

c) Estado de luto que não tende a se amenizar.

d) Profunda depressão que não desaparece.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 109


e) Problemas psicossomáticos graves.

f) Desorientação.

g) Alterações na personalidade.

h) Sentimentos de culpa.

i) Indignação.

j) Fobias muito fortes e que não tendem a desaparecer.

k) Perda de interesse na vida.

l) Fugas constantes por meio de drogas e álcool.

m) Sentimentos de mortificação interior.

Por fim, é importantíssimo ressaltar que o pesar em si não é doença. Trata-se de um processo
normal de cura; somente quando o pesar passa a ser um processo patológico é que requer
aconselhamento ou psicoterapia especializada.

Atividade de exercício prático de aconselhamento de apoio

Orientações:

1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta como cenas que
aconteceriam e como você procederia na qualidade de pastor, por exemplo.

2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas, ou com mais outras pessoas,
fazerem uma dramatização ou teatralização. Os personagens são apenas dois. Você
necessariamente tem que seguir as sugestões propostas para o exercício. Lembre-se de
estudar e revisar os conteúdos e procedimento do aconselhamento de apoio.

110 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de exercício prático de
aconselhamento de apoio.

Papel do aconselhando

Se você teve uma perda dolorosa em sua vida dirija-se ao pastor, pedindo que o ajude. Ou
procure mergulhar nos sentimentos de alguém que você conhece bem e que está em pleno
processo de digerir uma perda grave. Desempenhe o papel daquela pessoa buscando a ajuda
do pastor.

Ou você é Jane Carone, uma mulher de uns 45 anos, cujo marido Ricardo faleceu
inesperadamente a 2 meses, de ataque cardíaco. Você sente profundamente a perda e acha
quase impossível enfrentar contatos sociais, principalmente na igreja, onde vocês participavam
ativamente como casal. Você se sente muito deprimida e gostaria de se esconder das pessoas.

Papel do pastor

Utilize o que você aprendeu nesta unidade sobre a facilitação do trabalho de pesar, fazendo
aconselhamento com um desses membros. Lembre-se da necessidade que a pessoa tem de
ajuda por meio de tarefas específicas de trabalhar o pesar.

Papel do observador-monitor

Interrompa a sessão periodicamente para fornecer ao pastor feedback sobre sua eficiência
no processo de elaboração do pesar, principalmente no que tange à vazão de sentimentos
inacabados.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 111


ACONSELHAMENTO EM CASOS DE CRISE MATRIMONIAL

Principalmente no contexto religioso, o casamento é tido como uma benção para a vida
amorosa e sexual do homem e da mulher. Contudo, o relacionamento no contexto conjugal
não é tão simples assim, uma vez que quando homem e mulher se unem produzem uma
identidade conjugal própria.

Segundo Clinebell (2000), o homem e a mulher se atraem porque cada um espera que o
relacionamento satisfaça várias necessidades suas. Cada qual traz por dentro do casamento
uma constelação singular de necessidades da personalidade. Essas necessidades precisam
receber o mínimo de satisfações, para que a pessoa seja capaz de satisfazer as necessidades
do parceiro e dos filhos.

Collins (1995) observa que a origem dos problemas, do ponto de vista bíblico, é justamente
quando o casal se afasta dos princípios bíblicos, os quais são transformados consequentemente
em problemas conjugais. Vejamos alguns deles:

a) Comunicação defeituosa – esta é uma das principais causas de discórdia conjugal. É quando
um não consegue ouvir ou responder ao outro. E isso se dá pelas mensagens verbais e não
verbais, em nosso dia a dia. Por exemplo, quando um marido que dizer “eu te amo”, para ele
fazer isso é comprar um presente; mas sua esposa não o entende, pois quer ouvir literalmente
as palavras de sua boca.

b) Atitudes egocêntricas defeituosas – se aproximar de alguém é um risco. Há uma tendência


de não nos abrirmos para as críticas e uma possível rejeição quando permitimos que outra
pessoa nos conheça intimamente, sinta nossa insegurança e perceba nossas fraquezas. É
bem mais fácil fazer críticas ao outro do que aceitar ou reconhecer as atitudes defensivas e
egocêntricas que estão provocando tensão.

c) Tensão interpessoal – quando nos casamos, já temos um repertório de habilidades sociais

112 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


desenvolvidas, pois temos duas ou três décadas de vida e já estamos bem “treinados” em
um modo de vida, ou seja, em viver “solteiros”. Quando nos casamos, temos que interagir
e buscar conviver com o outro, e aqui são fundamentais o entendimento e os processos de
síntese para a construção madura de uma conjugalidade. Quando isso não ocorre e há má
vontade porparte de um dos cônjuges certamente os problemas conjugais vão aparecer. Esses
problemas muitas vezes se configuram nessas áreas: sexo, papéis no relacionamento, religião,
valores, necessidades e dinheiro.

d) Pressões externas – elas acontecem devido a pessoas ou situações, como:

• Sogros e filhos que interferem no relacionamento.

• Amigos que fazem exigências sobre o tempo do casal.

• Crises que interrompem os relacionamentos familiares.

• As exigências profissionais.

e) Tédio – à medida que vão se passando os anos, os casais se estabelecem na rotina,


acostumando-se um ao outro e sem perceber, caminham para a autoabsorção, autossatisfação
e autopiedade, desaparecendo o prazer de viver a dois. Isso também é desestimulante e
rotineiro. Os casais começam a buscar em outros lugares variedades e desafios.

Vejamos, a seguir, os objetivos do aconselhamento de crise matrimonial, conforme enumerado


por Clinebell (2000), para ajudar os casais a aprenderem como fazer com que seus
relacionamentos proporcionem maior satisfação mútua de necessidades, fomentando melhor
seus crescimentos:

1. Reabrir suas linhas de comunicação bloqueadas e aprender habilidades de comunicação


mais efetivas.

2. Interromper a escalada do ciclo autoperturbador de ataque mútuo e retaliação, desencadeado


pela frustração profunda das satisfações mútuas de necessidade.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 113


3. Se conscientizar dos pontos fortes e dos recursos não utilizados em si próprio e em seu
relacionamento, os quais pode usar para efetuar mudanças construtivas em si próprio e em
seu matrimônio.

4. Identificar áreas específicas em que crescimento e/ou mudança precisa acontecer na


conduta de cada um, a fim de interromper sua crise e tornar seu casamento mais compensador
de necessidades recíprocas.

5. Negociar e então executar planos viáveis e justos de mudanças, nos quais cada pessoa
assume a responsabilidade de mudar a sua parte na interação entre os dois.

6. Experimentar o reavivamento da energia para mudança em esperança realista. Mudança


construtiva gera esperança realista, e esperança gera mais mudança. São três as maneiras
que se manifesta essa esperança no aconselhamento:

a) capacidade que o casal demonstra empaticamente de mudar e de crescer;

b) conscientização maior dos pontos fortes e dos seus recursos;

c) mudança de comportamento autolesivo dentro de si próprio e entre os dois.

7. Descobrir, explorar e até certo ponto exorcizar as raízes subconscientes ou inconscientes


de imagens conflitantes do papel a ser desempenhado e de necessidades neuróticas
aprendidas principalmente pelos pais. Lidar com fantasias, temores e raiva que comprometem
o relacionamento. Pode haver necessidade de aconselhamento individual entre as sessões do
casal.

8. Renegociar e revisar aspectos de maior importância na relação matrimonial que sejam


injustos e/ou inviáveis.

Assim como é necessário que o conselheiro disponibilize técnicas e habilidades para conversar
com o aconselhando, também é fundamental que o conselheiro de casal desenvolva também

114 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


uma metodologia na primeira sessão para garantir o sucesso no processo de aconselhamento
conjugal. Vejamos os seguintes procedimentos do conselheiro:

1. Comunicar calor humano, demonstrar solicitude e disposição para ajudar, bem como
certificar o casal da validade de sua iniciativa de vir buscar ajuda.

2. Descobrir como cada um está se sentindo por se encontrar ali.

3. Ajudar a motivar o parceiro menos motivado, estabelecendo sintonia com o mesmo e


despertando esperança realista de maior satisfação e menos dor no casamento.

4. Descobrir a quanto tempo a crise ou os problemas vêm se desenvolvendo.

5. Proporcionar oportunidade comparável para cada pessoa descrever os problemas do casal.

6. Após expressar a dor e o sofrimento, descobrir o que cada pessoa ainda aprecia no
casamento e no outro; e quais os pontos fortes e os recursos potenciais que eles têm para
fortalecer seu matrimônio pelo aconselhamento.

7. Fazer uma escolha provisória (com base nos pontos 2 e 4) entre tentar aconselhamento de
curto prazo para crise matrimonial ou encaminhar o casal ao terapeuta conjugal.

8. Caso houver sinais de que o aconselhamento de curto prazo provavelmente será útil,
pedir ao casal que venha a três ou quatro sessões adicionais para poder decidir sobre o
encaminhamento.

9. Ajudar o casal a decidir e comprometer-se com certas tarefas a serem efetuadas em casa
entre as sessões; alguma pequena ação construtiva que empreenderão no sentido de contribuir
para que o quanto antes seu relacionamento se torne mais satisfatório reciprocamente.

10. Verificar e aceitar, perto do final da sessão, quais sentimentos negativos que possam ter.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 115


11. Somente use da oração ou de outros recursos religiosos quando for claramente apropriado
para o casal em questão.

12. Após a sessão, reflita sobre o que ficou sabendo e faça planos para tentar ajudar o casal;
entre em contato com um colega aconselhador, caso a situação seja complicada ou confusa.

O trabalho com casais vai bem além da boa vontade ou de boa intenção. É necessário ter uma
metodologia que contribua para a identificação precisa do que de fato tem gerado conflitos
e problemas ao casal. A falta de comunicação é um dos primeiro sintomas: deixa de haver
ou apresenta muitos ruídos, como se diz na linguística moderna. Vejamos, a seguir, duas
propostas de intervenção em aconselhamento conjugal, uma elaborada por Clinebell (2000) e
outra por Collins (1995).

A primeira proposta metodológica é de Clinebell (2000); ele a desenvolve no subitem


denominado. “O método de relacionamento intencional ou método de matrimônio intencional”.
Esse método tem quatro passos:

Primeiro passo:

Identifiquem e afirmem os pontos fortes do seu relacionamento, contemplando um de vocês a


sentença: “Em você eu aprecio...” tantas vezes quantos puder.

A tarefa de quem ouve é receber esses atributos.

Após ambos ouvirem um ao outro, devem anotar tudo o que ouviram em um caderno
denominado de crescimento.

Segundo passo:

116 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Identifiquem a frente de crescimento da sua relação completando um de vocês a sentença:
“De você eu preciso...” tantas vezes quantas quiser. Declarem suas necessidades/desejos
correspondidos ou parcialmente correspondidos em termos de comportamento da parte de
outro.

Depois de um completar a lista, o outro deve repetir o que ouviu, para garantir que as
necessidades foram bem entendidas.

Depois que ambos declararam suas necessidades e verificaram o que um entendeu do que
o outro disse, tirem um tempo para anotar as necessidades de cada um em seu caderno do
crescimento.

Terceiro passo:

Aumentem intencionalmente a satisfação mútua do seu relacionamento e fomentem assim o


seu amor, pela escolha de uma das necessidades de cada um (ou uma necessidade conjugal)
a qual vocês corresponderão.

Elaborem um plano concreto e viável, com uma programação cronológica, de corresponder a


essas necessidades.

Anotem também isso em seus cadernos de crescimento.

Quarto passo:

Executem o seu plano de mudança.

Depois escolham outro par de necessidades, elaborando e executando um plano de supri-las


intencionalmente.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 117


Convém repetir o primeiro passo com regularidade ao colaborarem no sentido de fazer com
que seu relacionamento faça mais jus as suas necessidades.

Anotem seu progresso em seus cadernos individuais de crescimento.

Por fim, é importante ressaltar que esse método pode ser aplicado não somente com casais,
mas famílias, amigos, colegas e relacionamentos de equipe de trabalho, por exemplo. O
objetivo é aumentar a satisfação mútua de necessidades e assim reduzir frustração e conflitos,
como afirma Clinebell (2000).

Collins (1995) apresenta os procedimentos de aconselhamento conjugal que tanto o conselheiro


pode utilizar quanto o aconselhando em seu livro “Aconselhamento Cristão”; esse método tem
quatro estágios, denominadas respectivamente: início; manifestação de problemas básicos;
desenvolvimento e aplicação de soluções e tentativas e final. Vejamos:

Estágio I – Início

Conselheiro:

• Atitudes cordiais e de aceitação.

• Mostrar confiança.

• Não fazer críticas.

• Ajudar a vencer os temores iniciais do aconselhando.

Aconselhando:

• Contar suas razões iniciais para a procura de ajuda.

• Vencer seus medos e dúvidas relacionados a esta iniciativa.

118 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Estágio II - Manifestação de problemas básicos

Conselheiro:

• Suscita questões ou faz comentários para estimular mais pensamentos.

• Esclarece tanto as questões como os sentimentos.

• Continua a dar apoio e encorajamento.

Aconselhando:

• Dar mais detalhes por meio da expressão de sentimentos e frustrações.

• Aprender a construir um relacionamento de segurança e confiança com o conselheiro.

Estágio III - Desenvolvimento e aplicação de soluções e tentativas

Conselheiro:

• Continua a dar apoio.

• Fica alerta quanto a novas informações.

• Encoraja e orienta na consideração de soluções e tentativas, tais como mudanças de atitu-


de, modificação de comportamento, confissão, perdão, reavaliação das percepções etc.

• Guia e encoraja à medida que as soluções são tentadas, avaliadas e tentadas novamente.

Aconselhando:

• Aprender a formular.

• Agir com relação a...

• Avaliar soluções.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 119


• Expressar frustrações e temores.

• Experimentar algumas vitórias.

Estágio IV - Final.

Conselheiro:

• Encorajar a agir independente.

• Recapitular o progresso feito no passado.

• Expressar sua disponibilidade ao aconselhando caso necessário.

Aconselhando:

• Manifestar dúvidas e temores pelo término do aconselhamento.

• Reavaliar o progresso.

• Examinar seus recursos espirituais e pessoais.

Proposta de exercício prático de aconselhamento de apoio

Orientações:

1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta, como cenas que
aconteceriam e como você procederia na qualidade de pastor, por exemplo.

2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas, ou com mais outras pessoas,
fazerem uma dramatização ou teatralização. Os personagens são apenas dois. Você
necessariamente tem que seguir as sugestões propostas para o exercício. Lembre-se de

120 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


estudar e revisar os conteúdos e procedimento do aconselhamento de apoio.

3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de exercício prático de
aconselhamento de apoio.

Papel dos aconselhandos

Requer duas pessoas. Como casal, vocês estão experimentando doloroso conflito e frustração
em seu relacionamento. Use um relacionamento com o qual um de vocês dois está bem
familiarizado para definir a dinâmica dos papéis. Procurem a ajuda de seu pastor.

Papel do pastor

Utilize o que você aprendeu ao ler e refletir sobre esta unidade, Para fazer aconselhamento
com este casal. Experimente a adaptação do MRI descrito para aconselhamento neste caso.

Papel do observador-monitor

Procure dar ao pastor feedback sobre o quanto ele se concentra na interação do casal como
diretriz primordial do aconselhamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta unidade, caro aluno, foi desenvolvida com o objetivo de expor uma teoria da prática em
aconselhamento cristão que pudesse atender tanto o conselheiro quanto o capelão.

Foram expostos procedimentos e técnicas de aconselhamento de apoio, de perda pessoal e


de crise matrimonial.

Também vimos procedimentos e metodologias necessárias para o desempenho em


Aconselhamento e Capelania Cristã, ou seja, para se ter resultados, é necessário desenvolver
procedimentos que de fato possibilitem uma condição adequada para o exercício dessas
atividades. No caso específico, vimos duas formas de intervenção para agir em casos de crise

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 121


matrimonial, uma com Collins (1995) e a outra com Clinebell (2000). A primeira ressaltou os
seguintes estágios: início, manifestação de problemas básicos, desenvolvimento e aplicação
de soluções e tentativas e final. A segunda é um método denominado relacionamento ou
matrimônio intencional, o qual tem como objetivo provocar o aumento da satisfação mútua de
necessidades e assim reduzir frustrações e conflitos por meio de quatro passos: 1) ouvir e
receber esses atributos; 2) neste passo destacam-se as necessidades/desejos correspondidos
ou parcialmente correspondidos em termos de comportamento do casal; 3) o objetivo neste
passo é aumentar intencionalmente a satisfação mútua do relacionamento e fomentar assim
o amor, pela escolha de uma das necessidades de cada um (ou uma necessidade conjugal), e
isso é feito com a elaboração de um plano concreto e viável, com uma programação cronológica
que corresponda a essas necessidades do casal e 4) após a execução do plano de mudança,
deve-se executar outros planos para atender outra necessidades e assim sucessivamente.

Por fim, observaram-se os comportamentos do aconselhando ou paciente em situação de


crise e como interpretá-los para melhor atuação do conselheiro.

Este link remete você, caro aluno, ao livro digitalizado de Aconselhamento Pastoral de Clinebell. Esta
obra é um clássico da literatura em aconselhamento pastoral.
<http://books.google.com.br/books/about/Aconselhamento_pastoral.html?hl=pt-
-BR&id=vYIK7NvMMbEC>.

ATIVIDADE DE AUTOESTUDO

1. O sentimento de ser abandonado ou estar só, guardadas as devidas proporções, pode


representar de fato uma necessidade circunstancial. Cabe tanto ao conselheiro como ao
capelão, quando exerce também o aconselhamento, apoiar aquele que sofre. Diante disso,
cite e explique três procedimentos sugeridos por Clinebell (2000) que devem ser realizados
pelo conselheiro, no ato do aconselhamento de apoio, que você compreende como sendo
os mais importantes.

2. Assim como o aconselhando pode desenvolver comportamentos inadequados, o conse-


lheiro também. Aponte os perigos que podem surgir no aconselhamento de apoio e que
122 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância
devem ser evitados.

3. O luto é um processo próprio de todo aquele que vive uma relação. A morte de um ente que-
rido é um dos exemplos mais apropriados de luto. Não vivenciá-lo pode ser uma das formas
de negação da pessoa que sofre além do que pode suportar. Por isso, cabe ao conselheiro
desempenhar seu papel como suporte nessa situação. Posto isso, os comportamentos de
perda em um aconselhando devem ser entendidos como uma doença? Sim ou não? Expli-
que e justifi que a sua resposta.

4. É importante ressaltar que quando uma pessoa procura ajuda ela pode não reunir condições
para se expressar adequadamente. E, ainda, se procura ajuda é porque não consegue
identifi car as suas necessidades e tratá-las. Por isso, cabe ao conselheiro desenvolver
técnicas que deem conta de ajudar o aconselhando a falar. Elabore um texto, entre 5 e 10
linhas, que explique como ajudar um aconselhando se expressar da melhor forma.

6. Ao longo dos nossos estudos vimos algumas técnicas de intervenção em aconselhamento,


dentre elas, no aconselhamento conjugal. Foi também ressaltado que um dos signifi cativos
problemas está na comunicação. Explique e exemplifi que em qual situação deve ser usado
o Método Matrimonial (relacional) Intencional – MMI, de Clinebell (2000).

A Importância do Aconselhamento Pastoral Para a Saúde da Igreja

O físico, matemático e fi lósofo francês Blaise Pascal, disse que: “Existe no coração do homem um
vazio do tamanho de Deus, o qual, somente Jesus Cristo pode preencher”.
Segundo o estudo da psiquiatra brasileira, Nise da Silveira, religião é compreendida no sentido de
“religar o consciente com certos poderosos fatores do inconsciente” onde o ponto de conexão é esti-
mulado pela força da experiência com o “numinoso”, conceito que ela toma da fi losofi a de Otto.
Esta autora compreende que Jung valida a realidade dos deuses desde que estes “sejam ou tenham
sido atuantes no psiquismo do homem...”, pois, “...há verdades psíquicas que, do ponto de vista físico,
não podem ser explicadas ou demonstradas, nem tão pouco recusadas.”
Rollo May (2002, p. 172) afi rma que “o abuso da religião é o que Freud ataca” sugerindo com essa
colocação que Freud não descarta o fenômeno religioso e sim o abuso dele.
Então, vou partir da compreensão dos autores citados, bem como do autor de referência que o “re-
-ligar” com o transcendente (religião) é algo existente e necessário ao homem. Assim, entendendo
religião como um fenômeno complexo, mas inegavelmente a difi culdade que parece surgir, segundo
a exposição de May, é quando:

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 123


Certas pessoas fazem uso da religião como meio para se apoiarem num estado
intermediário de desenvolvimento, construindo para si um ninho de falsa segurança e
proteção em que possam ver a vida como proteção doce e cor-de-rosa que cuida de
todos os verdadeiros crentes...

E é exatamente neste ponto que há de se definir a prática da “...religião autêntica ou seja, uma afir-
mação fundamental do sentido da vida...”, ou uma ação perigosa que leva o indivíduo aos “bosques”
de ilusão, incapazes de aceitar a si e a humanidade, nunca chegando a encontrar o caminho da
verdadeira segurança.
O reconhecimento desta realidade, qual seja, a prática da religião autêntica ou neurótica por parte
do devoto vai definir a qualidade e saúde da Igreja. A religião para ser válida contrária a ansiedade
neurótica, conduzindo o indivíduo a um nível de ansiedade equilibrado que lhe permita segurança e
personalidade estável, longe de paralisias e pânicos pessoais, como tende ocorrer com aqueles que
utilizam a religião como “amuletos” de suas neuroses.
Entendo que o religar precisa responder ao homem ao menos as seguintes questões: De onde vie-
mos? Para que vivemos? Para onde iremos? Como chegaremos lá? Aceito estas como sendo as
maiores crises existenciais do homem. O homem equilibrado que aceita a si e ao mundo e que,
confiantemente responde estas perguntas através daquilo que crê, alcança a realização humana em
sua plenitude. Devo destacar, que sou cristão e, baseado na fé que pratico, admito a existência de
um só caminho que torna o homem religado a Deus e pleno em sua jornada humana – o caminho do
nazareno!

O aconselhamento pastoral para a saúde da Igreja


Roger F. Hurding (1995, p. 36) define aconselhamento como “uma atividade com o objetivo de ajudar
aos outros em todo e qualquer aspecto da vida, dentro de um relacionamento de cuidado”, salientando
que este modelo de ajuda ao indivíduo coloca o aconselhamento num quadro bastante amplo.
Aconselhamento Pastoral pode ser descrito como uma atividade onde o líder espiritual promove entre
os fiéis, individualmente ou em grupo, o estímulo às respostas daqueles que lhe pedem ajuda, para
que eles possam resolver aspectos das suas vidas, prática e religiosa, bem como as questões de
caráter existencial que os condicionam, incomodam ou os fazem sofrer.
Isto significa exortar o crescimento da personalidade, ajudando o fiel a enfrentar com eficácia às
questões pertinentes aquilo que professa, sobretudo o confronto da fé com os problemas da vida, os
conflitos íntimos, os desequilíbrios emocionais, oferecendo encorajamento para os que precisam lidar
com decepção, com a perda, assim como dar assistência às pessoas cujo modelo de vida lhe cause
infelicidade e decepção.
Através do aconselhamento pastoral se tem a possibilidade de descobrir com cada indivíduo que
compõe a Igreja, diferentes situações de vida e especialmente em conflitos e crises, o verdadeiro
significado da liberdade que a fé oferece, conduzindo-os a uma saudável relação com Deus, consigo
mesmo e com o próximo, de uma maneira consciente e adulta.
Na jornada do aconselhador/pastor, creio que sua maior tarefa é o tratamento dessas tensões in-
teriores complexas existes em cada indivíduo ou grupo, que sempre interferem na saúde da Igreja.

124 TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância


Promover a libertação das atitudes inadequadas e distorcidas através do aconselhamento realizado
com recurso da palavra de Deus, adicionados dos recursos da experiência, pedagogia, psicologia
como complementares instrumentos de ajuda, vai ser fundamental para que a comunidade religiosa
se desenvolva de maneira saudável.
É bíblico entender o homem como um ser integral, completo, composto de corpo, alma e espírito.
Entendo que o aconselhamento pastoral é um meio bastante razoável e de vital importância para
provocar A LIBERDADE INTEGRAL DO INDIVÍDUO OU GRUPO, porque, o aconselhamento, tem
condições de identifi car se realidade vivida pela religião é autentica ou não, oferecendo, por conse-
guinte, meios de ajustá-la a sua verdadeira essência.
Alan P. Silva
Fonte: <http://numinosumteologia.blogspot.com/2009/08/importancia-do-aconselhamento-pastoral.
html>. Acesso em: 27 dez. 2011.

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ | Educação a Distância 125


CONCLUSÃO

Chegamos ao final dos nossos estudos, caro aluno. Acredito que o nosso percurso cobriu
teoricamente os principais temas sobre as duas áreas estudadas, Aconselhamento e Capelania
Cristã.

Na unidade I, fizemos um passeio no mundo bíblico e teológico sobre os temas: Diaconia,


Ministério, Cuidado e Poimênica, e assim demos fundamentos imprescindíveis ao
Aconselhamento e Capelania Cristã. Ou seja, apontamos que o serviço cristão é também
expressado nessas atividades de ajuda a todos aqueles que necessitam.

Na Unidade II, de forma introdutória, assinalamos as origens históricas, os aspectos


fundamentais das teorias, as atitudes e os objetivos principais em Aconselhamento e Capelania
Cristã.

Na Unidade III foram tratadas as propostas, técnicas e comportamentos em Aconselhamento


Cristão. Aqui listamos os procedimentos adequados, a natureza, e vimos ainda as técnicas de
intervenção em Aconselhamento Cristão sob os métodos diretivo e não diretivo.

Na Unidade IV foi o momento de tratar do perfil e do papel do conselheiro e capelão e em


contrapartida destacamos atitudes inadequadas do conselheiro cristão. Aqui nosso objetivo foi
conscientizar a todos nós que um conselheiro e um capelão têm competências necessárias
para serem desenvolvidas em suas atividades.

Por fim, na Unidade V, estudamos teorias sobre temas atuais e recorrentes em aconselhamento
de apoio, de perda pessoal e de crise matrimonial. Identificamos os comportamentos do
aconselhando ou paciente em situação de crise, bem como os procedimentos e metodologias
necessárias para um bom desempenho em Aconselhamento e Capelania Cristã.

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