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PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública.

3. ed. São Paulo: Ática, 2012.

Maristela Longo

Administração, Supervisão e Orientação (Celer – Xaxim/SC), Graduada em Ciências Biológicas


(URI – Câmpus Erechim) e Acadêmica de Pedagogia (UFFS –Câmpus Erechim)

A obra mãos para cumprir a lei e a ordem. No en-


, de Vitor Henrique Paro, professor tanto, a mesma pessoa que detém o poder,
titular da Faculdade de Educação da Uni- encontra-se impotente para dirimir os pro-
versidade de São Paulo (USP), aborda, na blemas cotidianos da instituição de ensino.

e contextos de investigação sobre a admi- são o resultado de uma ideologia dominante


nistração escolar nas escolas públicas, que que se encontra em voga.Também apresenta
como condição para que a escola alcance seus
dos pais, dos alunos, da comunidade e dos objetivos educacionais a articulação do saber
Conselhos escolares, em prol de um sistema com os interesses das camadas trabalhadoras.
de ensino democrático e produtor de conhe- Apesar da imagem do diretor estar nega-
tivada e entender-se que o mesmo cumpre
resultados de pesquisas as quais o próprio
autor está vinculado.
Essencialmente o livro está estruturado
em oito ensaios. Inicialmente, o autor discu- trabalho está articulado com a equipe peda-
gógica e tem por função a aprendizagem de
contribuição da sociedade, especialmente todos os educandos. Pode-se dizer que esta é
das camadas mais pobres e excluídas, as a atribuição mais importante do gestor, mas,
quais, segundo o autor, são negligenciadas muitas vezes, a menos priorizada, devido às
e o sistema de ensino brasileiro não se volta demandas legais e judiciais que aguardam
para elas, sendo estas as que mais precisam de resposta pela parte administrativa da escola.
Em relação à quebra da imagem negativa
do grupo dominante, relacionando à pressão do administrador escolar, o autor esclarece-
dos mesmos para com o governo sobre o ges- que a mesma deve ocorrer com a reorgani-
tor educacional, visando o poder dominador zação da divisão das responsabilidades pelos
à formação do cidadão para o trabalho. setores da escola, pois deste modo a própria
escola é quem ganha poder. Argumenta que,
relacionadas ao trabalho do diretor na esco- para a gestão da escola ser democrática, é
la, uma vez que o mesmo encontra-se em imprescindível a participação de todos os
um sistema hierárquico que o coloca como setores, destacando-se educadores, alunos,
autoridade máxima, tendo o poder em suas funcionários, comunidade e pais, os quais

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são andaimes fundamentais para a tomada gico para a superação do autoritarismo, da

assim como a apropriação de conhecimen-


recursos e a autonomia que a escola precisa tos, atitudes, valores e habilidades pelos
para o seu funcionamento. Além deste, outros educandos em prol de um ensino universal
autores relatam a importância da agregação e de qualidade.
dos sujeitos de modo coletivo e democrático Ao longo do livro, também são citados
- relatos de gestores, professores e membros
lar, os quais estão sistematizados em Libâneo
(2011) e Pimenta (1991). Nesta concepção a presença do autoritarismo nas escolas, e a
entende-se a escola, como um espaço em não compreensão, ou, por assim dizer, a não
construção social com a plena participação aceitação da participação dos pais e demais
de professores, pais, alunos e demais mem- membros pela direção na escola. Ao mesmo
bros da comunidade, todos envolvidos com -
a gestão escolar. lização dos pais em seu trabalho administra-
-
cola só será verdadeiramente pública quando comprometimento e mobilização dos pais
a “[...] população escolarizável tiver acesso em querer mudar a educação escolar de seus
geral e indiferenciado a uma boa educação
escolar (p.17)”. A partir desse argumento, do Estado.
pode-se dizer que a educação estará ao aces- Dentre os aspectos importantes da gestão
so de todos os sujeitos quando o ambiente democrática do ensino, o autor procura desta-
democrático escolar empregar métodos e car os altos índices de evasão e repetência na
escola pública, constituído por um sistema de
às camadas da sociedade que fazem parte da avaliação punitivo e um modelo de educação
escola pública e não aos setores e grupos que em vigor ultrapassado, preocupado apenas
estão fora dela. na preparação do aluno para o mercado de
Visando esclarecer o leitor a respeito da trabalho e para o vestibular. Analisando o
gestão democrática, Paro apresenta esclare- entendimento do autor, a escola de hoje não
cimentos sobre a participação dos membros se preocupa em atender o sujeito de hoje, com
que fazem parte da escola em conjunto com características próprias e diferentes dos su-
a direção. A partir desse entendimento, argu- jeitos de épocas passadas, nem busca atender
menta que o processo só se torna democrático aos interesses e objetivos destes estudantes
quando todos lutam pela mesma causa, não para a autonomia intelectual e política.
havendo resistência entre a instituição escolar Para o desenvolvimento do ensino pauta-
e os demais participantes. Compartilha desta do numa gestão democrática é essencial que a
avaliação do processo de aprendizagem ocor-
“participar é dar parte e ter parte”. É a partir ra de modo contínuo, sistemático e gradativo,
da participação que todos os envolvidos pas- vinculado ao processo de planejamento e
desenvolvimento do ensino. Para tanto, no
- ato de avaliar deverão estar envolvidos dife-
rias para a instituição escolar, efetivando-se, rentes procedimentos que possibilitem acom-
assim, a prática escolar. Cabe, então, a todos panhar o desempenho e o aproveitamento do
os envolvidos um esforço coletivo e dialó- educando, conforme discutem Fernandes e

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Freitas (2013) numa relação colaborativa que necessidade da atualização permanente dos
envolva o coletivo da escola acerca do papel professores.
social que a educação escolar desempenha. Com base na síntese elaborada, a leitura
A partir das características do estudo desta obra é de grande valia para estudantes
apresentado, o autor torna a enfatizar a par- que se interessam pela gestão escolar, pro-
ticipação dos pais e membros da comunidade fessores da educação básica e superior que
se dedicam a este ensino, assim como pes-
escolar, bem como a necessidade de repassar quisadores em gestão educacional, uma vez
o saber permanentemente acumulado pelas
práticas relacionadas à gestão democrática
condizente com os moldes atuais dos estudan-
respeito da democratização do ensino, bem
pedagógico dominador e, para tanto, cita um -
sistema de direção que seja exercido por um cesso democrático de gestão desempenhado
conselho. Encerra considerando que a escola pelo diretor em conjunto com a participação
pública não deve favorecer aos interesses par- da comunidade escolar, visando à qualidade
ticulares e restritos dos grupos dominantes, educacional e o desempenho de todos os
por outro lado, complementa, enfatizando, a envolvidos.

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