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CAPES - Troca Rápida de Ferramentas Estudo de Casos em Diferentes Segmentos Industriais
CAPES - Troca Rápida de Ferramentas Estudo de Casos em Diferentes Segmentos Industriais
ISSN: 1678-5428
exacta@uninove.br
Universidade Nove de Julho
Brasil
condução de estudos de campo, realizados para maioria dos textos técnicos nacionais e interna-
verificar o grau de aplicação desses conceitos cionais que abordam o assunto, verifica-se certa
em empresas localizadas no interior do Estado dificuldade em seu entendimento e aplicação no
de São Paulo. ambiente fabril.
Por tempo set up ou tempo de preparação en-
tende-se “o tempo transcorrido para que todas as
2 Aspectos relativos à tarefas necessárias desde o momento em que se te-
diminuição do tempo nha completado a última peça do lote anterior até
de set up o momento em que, dentro do coeficiente normal
de produtividade, se tenha feita a primeira peça do
A metodologia de Troca Rápida de lote posterior” (MOURA, 1996, p.12).
Ferramenta, originalmente denominada SMED A Ilustração 1 representa o conceito de
(Single Minute Exchange of Die), foi desen- tempo set up.
Saída
de
linha Produção
perdida
durante fase
de ajustes
Produção tempo
perdida Tempo de preparação
durante fase ou tempo de set up
de setup
A execução da TRF ocorre por meio de está- up, a qual se inicia no momento em que for con-
gios evolutivos e técnicas de implementação, e, ao cluída a fabricação da última peça do lote anterior,
se utilizar esse método no ambiente fabril, deve- sem que nenhuma providência em especial tenha
se classificar o tempo transcorrido no set up em sido tomada, e finaliza-se quando a primeira peça
(PINTO e SOUTO, 2007): do lote posterior, em conformidade, for obtida
• Tempo de Preparação Externo (TPE): tem- (SHINGO, 1985; MOURA, 1996; McINTOSH,
po despendido em procedimentos conduzi- 2000; CALARGE & CALADO, 2003; PINTO e
dos (estando a máquina em operação), tais SOUTO, 2007);
como preparação de ferramentas e separa- Estágio 1: Separação de TPI e TPE.
ção de dispositivos. Esse estágio é considerado, por diversos au-
• Tempo de Preparação Interno (TPI): tem- tores, um dos mais importantes na implementação
po despendido em procedimentos execu- da TRF, pois, por meio da averiguação da filma-
tados (somente estando a máquina para- gem conduzida, determinam-se e classificam-se
da), tais como a troca da matriz ou molde todas as operações envolvidas no processo de set
no equipamento e ajustes do ferramental up em TPI e TPE (MONDEN, 1984; SHINGO,
no equipamento. 1985; SHINGO, 1989; OISHI, 1995; MOURA,
Os estágios que compõem a TRF têm como 1996; BLACK, 1998; McINTOSHI et al., 2000;
ênfase a abordagem e distinção das atividades re- FAGUNDES & FOGLIATTO, 2003; CALADO
lacionadas a TPE e TPI, sendo principais os se- & CALARGE, 2003, PINTO e SOUTO, 2007).
guintes (FAGUNDES & FOGLIATTO, 2003): Estágio 2: Conversão de TPI em TPE.
Estágio 0: Não distinção entre TPE e TPI. Envolvem-se nesse estágio duas atividades
Nesse primeiro estágio, ocorre uma avalia- importantes: reexaminar as operações, avalian-
ção do estado original, tendo como técnica mais do se alguma foi erroneamente classificada como
difundida a filmagem de todo o processo de set TPI, e a análise da possibilidade de converter o
Fator
Fator 10
Fator 15
Fator 16
Fator 12
Fator 13
Fator 14
Fator 11
Fator 1
Fator 2
Fator 3
Fator 4
Fator 5
Fator 6
Fator 7
Fator 8
Fator 9
Autor
Fagundes e Fogliatto (2003) X X X X X
Neumann e Ribeiro (2004) X X X X X X X X X X
Bacchi, Sugai e Novashi (2005) X X X X X X X
Monteiro et al. (2005) X X X X X
Pinto e Souto (2007) X X X X X X
Pontes et al. (2007) X X X
Palomino e Carissimi (2007) X X X
Maia, Idrogo, Leite (2008) X X X X X
Oliveira (2008) X X X X
Elias, Neto e Dyna (2008) X X X X
Elias et al. (2008) X X X
Cechect et al. (2008) X X X X X X X
Frequência (%) 75 75 66 66 33 33 25 25 25 25 16 16 16 8 8 8
Legenda:
Fator 9: Redução tempo de espera de produtos para
Fator 1: Rápida resposta às variações de mercado (maior processamento
flexibilidade)
Fator 10: Possibilidade de aumento do mix de fabricação
Fator 2: Possibilidade de produção em pequenos lotes
Fator 11: Redução de esforços do operador
Fator 3: Redução de custos
Fator 12: Redução dos defeitos e retrabalhos provenientes
Fator 4: Diminuição do lead time de preparação malfeita
Fator 5: Aumento de produtividade Fator 13: Aumento da taxa de giro de estoque
Fator 6: Redução de níveis de estoque Fator 14: Mudança na cultura organizacional
Fator 7: Eliminação de gargalos Fator 15: Melhor utilização de área fabril
Fator 8: Melhoria de qualidade Fator 16: Redução de lotes em processo
Fonte: Os autores.
dos artigos as vantagens obtidas pela aplicação literatura como vantajosos/benéficos à TRF, ain-
da TRF. Desses artigos, por meio da pesquisa da que apresentem baixo índice de freqüência:
bibliográfica, foram arrolados os 16 principais redução dos defeitos e retrabalhos provenientes
benefícios, sendo, dessa maneira, relacionados os de preparação malfeita, aumento da taxa de giro
fatores identificados como mais e menos citados. de estoque, mudança da cultura organizacional e
Na Tabela 1, observa-se que os benefícios melhor utilização de área fabril.
mais citados foram os seguintes: rápida respos- Em relação às dificuldades elencadas na lite-
ta às variações de mercado (maior flexibilidade), ratura, Patel, Dale e Shaw (2001) apontam que a
possibilidade de produção em pequenos lotes, TRF pode enfrentar barreiras em sua implemen-
redução de custos e diminuição do lead time. tação, principalmente quando a hostilidade e o
Outros fatores também foram mencionados na sentimento de trabalho desperdiçado por parte
estágio estratégico: criação de um ambiente fa- mente em centros de usinagem que realizam a
vorável à implantação; (ii) estágio preparatório: troca de ferramental em tempo inferior a cinco
definição das estratégias de implantação, por segundos (NOVA SÉRIE NT, 2002).
meio da análise e avaliação do processo atual; Contudo, embora diversos procedimentos
(iii) estágio operacional: consiste na aplicação para a implementação da técnica de TRF te-
das sistemáticas propostas para TRF, sendo es- nham sido desenvolvidos, muitos fatores ainda
tas as mesmas do SMED, e (iv) estágio de com- impedem a disseminação e assimilação desses
provação: em que ocorre a consolidação de está- conceitos nos ambientes fabris, destacando-
gios e técnicas, devendo estar o ambiente fabril se dificuldades na orientação e assimilação
preparado para novas ações e projetos voltados à de mudanças, falta de capacitação e treina-
redução do set up. Verifica-se, dessa forma, uma mento da força de trabalho e de recursos fi-
distinção entre etapas de planejamento, prepa- nanceiros e linhas de fomento para aquisição
ração e implantação, enfatizando a necessidade de dispositivos e equipamentos automatizados
da formação de times de trabalho e criação de (PATEL, DALE & SHAW, 2001; CALARGE &
um ambiente favorável à implantação da TRF. CALADO, 2003).
A tabela 2 sumariza as principais diferen-
ças entre tais metodologias.
Nesse contexto evolutivo, é possível encon- 5 Método de pesquisa
trar, no mercado, máquinas que realizam a tro-
ca de ferramentas em um tempo inferior a um A fim de verificar se os aspectos encontrados
minuto, por meio da utilização de sistemas au- na literatura condizem com a prática nas organi-
tomatizados, os quais permitem que as trocas de zações, conduziram-se estudos de caso em empre-
matrizes e ferramentas sejam feitas por sistemas sas de diferentes segmentos industriais. Segundo
passíveis, ou seja, sem a interferência humana. Miguel (2007), a condução de estudo(s) de caso(s)
Tal técnica, denominada NOTED (Non Touch se dá por meio de seis etapas principais, que foram
Exchange of Dies) ou “Troca de Ferramentas adotadas para a realização deste trabalho e estão
Sem Toque”, pode ser encontrada comercial- arroladas na Ilustração 3.
Principais
características Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D Empresa E Empresa F
verificadas
Utiliza a
metodologia
para redução Sim Sim Sim Não Sim Sim
do tempo de
set up
Metodologia
SMED SMED SMED – SMED SMED
empregada
Início da
implantação 2001 2001 2003 – Não informado 2000
do SMED
Fonte: Os autores.
conforme estudos conduzidos em condições simi- pesquisadas, não existe a prática de relacionar o
lares (CALARGE e CALADO, 2003). sucesso na implementação da TRF a prêmios e
Essa situação verificada na empresa D de- participações financeiras, adotando, assim, uma
nota aspectos que poderiam restringir a ampla abordagem que privilegia desenvolvimento e reco-
aplicação da TRF em empresas: o fato de ainda nhecimento pessoal.
existir certo desconhecimento sobre os reais be- Fato importante e até então não verificado
nefícios obtidos com a implantação da TRF bem na literatura pesquisada se refere à alternância dos
como as condições em que eles poderiam ser con- times de trabalhos (conforme praticado pela em-
duzidos nas empresas. presa C) para difusão e aprimoramento da TRF,
Nota-se, portanto, que a aplicação de uma mantendo-se apenas o líder dos times nas trocas,
metodologia de diminuição no tempo de set up, as quais ocorrem em período regular. Tal situação
apesar do aparato literário que possui, é de difícil visa manter os times de trabalho motivados por
implementação nas empresas. novos desafios, ao passo que se mantém, em cada
área, um funcionário que possibilita a continuidade Linhas de Produção 1 e 2 de 43% e 33%, respecti-
dos trabalhos e o registro do aprendizado obtido. vamente, no tempo de set up.
A Ilustração 4 apresenta um gráfico compa- Apesar de o método da TRF ter como objeti-
rativo da implementação do método de TRF e os vo principal a redução dos tempos de preparação
resultados alcançados pelas empresas B, C e F. A de máquinas, pode-se verificar, nesta pesquisa,
apresentação dos resultados advindos da imple- outros benefícios advindos de sua implantação,
que foram citados pelas empresas participantes,
mentação do método de diminuição de set up, por
entre os quais os principais são: aumento de pro-
apenas algumas empresas, deu-se por dois motivos
dutividade (empresas B e F); redução do tamanho
principais: a não-mensuração ou conhecimento do
dos lotes de produção (empresa F); aumento da
entrevistado do tempo de preparação (empresa A)
flexibilidade do mix de produção (empresa B); me-
e o julgamento pela alta direção da empresa de
lhoria da qualidade dos produtos (empresas E e F),
que tais dados são confidenciais (empresa E).
e redução do lead time (empresa E). Entretanto,
As reduções obtidas pelas empresas B, C e F
para as empresas A e C, tais benefícios não são
representam indicativos da eficácia na utilização mensurados ou analisados, uma vez que a TRF é
da TRF, pois, com a implementação do método, utilizada unicamente para diminuir os tempos de
a empresa B obteve, em Linha de Produção 1, re- preparação de máquinas.
dução de 34,54%, e 56,36% de redução, na Linha Os dados obtidos na pesquisa denotam que
de Produção 2; a empresa C atingiu uma redução algumas empresas ainda utilizam a TRF como
de 36% e a empresa F conseguiu reduções em suas uma ferramenta isolada e dissociada de um con-
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Empresa B - LInha Empresa B - LInha Empresa C Empresa F - LInha Empresa F - LInha
de produção 1 de produção 2 de produção 1 de produção 2
MONDEN, Y. Sistema Toyota de Produção. São Paulo: Revista Exame. As 100 melhores empresas para se
IMAN, 141p., 1984. trabalhar. Revista Exame, São Paulo, p.44-229, 2008b.
Monteiro, a.; Menezes, j. o.; monteiro, d. v. Revista Exame. As 500 maiores empresas do Brasil.
c. Troca rápida de ferramentas aplicada a uma indústria Revista Exame, São Paulo, p.59-79, 2008a.
siderúrgica do Rio de Janeiro: um estudo de caso. In: SAMARA, B.S.; BARROS, J.C. Pesquisa de marketing:
Simpósio de Engenharia de prodção, 12, conceitos e metodologia. São Paulo: Makron Books, 2
Bauru, SP, p. 1 – 12, nov. 2005. ed., 156p., 1994.
MOURA, R A. Redução do tempo de setup: troca SEADE. Fundação Sistema Estadual de Análise
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