Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
JURÍDICOS DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
ORGANIZAÇÃO DO VI ENCONTRO:
SERVIÇO DE APOIO AOS PSICÓLOGOS DA
CORREGEDORIA GERAL DO TJRJ
ORGANIZAÇÃO DO LIVRO:
SERVIÇO DE APOIO AOS PSICÓLOGOS DA
CORREGEDORIA GERAL DO TJRJ
APOIO:
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO
CORREGEDORIA GERAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ESCOLA DA MAGISTRATURA DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Dia 17 de novembro:
9h – Mesa de Abertura:
• Desembargador Manoel Carpena Amorim -
Corregedor-Geral do Tribunal de Justiça / RJ
Palestrantes:
• Vera Malaguti Batista – Mestre em História
pela Universidade Federal Fluminense.
Doutora pelo Instituto de Medicina Social /
Uerj. Professora da Universidade Cândido
Mendes e membro do Instituto Carioca de
Criminologia. Autora dos livros ‘Difíceis
Ganhos Fáceis’ e ‘O medo na cidade do Rio
de Janeiro’.
• Mário Bruno – Professor do Instituto de
Letras da Uerj. Mestre e Doutor em Teoria
Literária/UFRJ. Doutor em teoria
psicanalítica/UFRJ. Autor de ‘Lacan e
Deleuze: o trágico em duas faces do além do
princípio do prazer’.
12h - Almoço
Palestrantes:
• Lilian Monteiro Ribeiro - Psicóloga do Projeto
de Medidas Terapêuticas da Vara de
Execuções Penais - Rio de Janeiro ‘Medidas
Terapêuticas para Adultos’
• Daniele Venâncio - Psicóloga do TJMG
‘Projeto de Atendimento Integral ao Paciente
Judiciário/PAI PJ’
• Mônicca Moreira - Psicóloga do TJRJ
‘Adoção’
Palestrantes:
• Gisálio Cerqueira Filho - Cientista político,
Doutor em Ciências Humanas e Professor
Titular de Sociologia. Pesquisador do
Laboratório de Psicanálise, Psicossomática e
Psicopatologia Fundamental da UFF.
Uma
vez que
a
impolíti
ca vida
natural,
converti
da em
fundam
ento da
soberan
ia,
ultrapas
sa os
muros
dos
oîcos e
penetra
sempre
mais
profund
amente
na
cidade,
ela se
transfor
ma ao
mesmo
tempo
em uma
linha
em
movime
nto que
deve ser
incessa
ntement
e
redesen
hada
(AGA
MBEN,
2002,
p.138)
Giorgi
o
Agamb
en
Introdução
A lettre-de-cachet
Foucault relaciona o surgimento da prisão a
uma prática para-judiciária denominada lettre-de-
cachet. Tratava-se de uma utilização do poder real
feita espontaneamente por grupos. Quando uma
lettre-de-cachet era enviada contra alguém, esse
não era enforcado, nem multado, nem marcado,
mas preso numa cela por um tempo não
estabelecido previamente até nova ordem do rei. A
idéia era aprisionar para corrigir.
A prática da lettre-de-cachet não tem
origem no universo do Direito e não nasceu da
teoria jurídica do crime. A idéia de uma penalidade
que procura corrigir aprisionando nasceu num jogo
de trocas entre demandas sociais (de grupos
determinados) e o exercício do poder, mas,
sobretudo, era uma idéia policial, nasceu paralela à
justiça. O que ocorreu na França no século XVII é
que os instrumentos estatais, estabelecidos pelo
poder real, passaram a ser usados por grupos
sociais. O que estava na origem do aparecimento
desses grupos de controle era a emergência de um
novo tipo de riqueza (materialidades não-
monetárias): máquinas, estoques, mercadorias, etc.
Era o nascimento do capitalismo. As riquezas
estavam expostas à depredação. O problema do fim
do século XVIII era proteger essa nova forma
material da fortuna. Não é estranho que o criador
da polícia na Inglaterra, Colquhon, era alguém que
foi inicialmente comerciante. A polícia inglesa
nasceu para vigiar as mercadorias armazenadas nas
docas de Londres. Outra forte razão para a
pilhagem, tanto na Inglaterra quanto na França, foi
o desaparecimento dos grandes espaços não-
cultivados e das terras comuns. Com isso,
multiplicaram-se os trabalhadores agrícolas
desempregados, vivendo como conseguiam
(pilhando frutas, legumes, etc). Fica claro que a
nova distribuição espacial e social da riqueza
industrial e agrícola tornou necessária novas
formas de controle. Para Foucault, esta foi a origem
da sociedade disciplinar.
O lirismo e a obsessão
No Panóptico de Bentham, no centro da
prisão há uma torre que é projetada de tal forma
que pode vigiar sem que o vigilante seja visto. O
vigilante pode até ser virtual, mas o indivíduo que
está na cela tem a impressão de ser vigiado e de
poder ser punido. Foucault denuncia que o modelo
da vigilância e da punição foi um coeficiente de
efetuação que atravessou todos os dispositivos
institucionais. Em outras palavras, a família passou
a ser uma espécie de prisão, assim como a fábrica,
etc. Claro isso que isso se dava em graus diferentes.
Numa entrevista, Foucault (FOUCAULT,
1984, p.215) diz que Bentham é o complemento de
Rousseau. O sonho rousseauniano, presente em
muitos revolucionários, era de uma sociedade
transparente, visível e legível em cada uma de suas
partes, nas quais cada lugar que ocupemos nos
permita ver o conjunto da sociedade; que os
corações se comuniquem uns com os outros, que os
olhares e opiniões se encontrem. Bentham é isso
mesmo pelo avesso. Ele pensa uma visibilidade
organizada inteiramente em torno de um olhar
dominador e vigilante; um poder rigoroso e
meticuloso. Nesse sentido, o lirismo da Revolução
articula-se à monstruosa idéia técnica do exercício
de um poder omnividente. A obsessão de Bentham
complementa o lirismo de Rousseau.
A tanatocracia do biopoder
Numa conferência, denominada “O
nascimento da medicina social”, Foucault
apresentou o conceito de biopolítica. Para ele
(FOUCAULT, 1984, p. 80), com o capitalismo, em
fins do século XVII e início do século XIX, o corpo
enquanto força de produção, força de trabalho, foi
socializado. O controle da sociedade sobre os
indivíduos não se operou simplesmente pela
consciência ou pela ideologia. O grande
investimento capitalista foi na biologia, no
somático, no corporal: o corpo tornou-se uma
realidade biopolítica.
Agamben elogia Foucault pelo mérito de
trazer à tona o horizonte biopolítico para pensar a
Modernidade. No entanto, fica perplexo diante de
alguns recortes na pesquisa de Foucault. Afinal,
para Agamben o biopoder não surgiu com a
Modernidade, havia uma continuidade de fundo
entre o poder soberano e o biopoder. A implicação
da vida na esfera política constitui o núcleo
originário do poder soberano. O fato fundamental
na Modernidade é que a política moderna, em
íntima simbiose com a vida, perdeu a
inteligibilidade que parecia caracterizar o edifício
jurídico-político da vida clássica. Aqui, a
interpretação do conceito de biopoder traz uma
sutil diferença em relação às teses de Foucault
sobre a Modernidade. Segundo Agamben, “a vida
nua natural que no antigo regime era politicamente
indiferente e pertencia, como fruto da criação, a
Deus, e num mundo clássico era (ao menos em
aparência) como zoé da vida política, entra agora
em primeiro plano na estrutura do Estado”
(AGAMBEN, 2002, p.134). A vida nua tornou-se o
fundamento e a legitimidade da soberania.
Os novos morto-viventes
A Declaração dos direitos do homem e a
Declaração dos direitos do cidadão são duas
realidades diferentes? São proclamações gratuitas
de valores eternos metajurídicos, sem muito
sucesso? Essas perguntas não são novas, apenas
retomadas por Agamben que na esteira de Hanna
Arendt, procura encontrar nessas declarações, uma
espécie de significação latente. De acordo com
Agamben (AGAMBEN, 2002, p.135), na passagem
da soberania régia de origem divina à soberania
nacional, a vida nua natural tornou-se portadora
imediata de soberania. As conseqüências
biopolíticas disso só começamos a medir nos dias
atuais. No antigo regime, o princípio de natividade
e o princípio de soberania estavam separados. O
nascimento dava lugar ao sujet, ao súdito. Com a
Revolução Francesa sugiu o sujeito soberano para
constituir o fundamento do Estado-nação. Com a
Revolução, a vida passou a ser a origem e o
fundamento da soberania. Era ao mesmo tempo um
novo princípio igualitário e uma nova determinação
biopolítica da soberania. Essa mesma política
chega a sua exasperação no século XXI. Ela
redefine continuamente a vida no limiar que
articula e separa aquilo que está dentro do que está
fora. Trata-se agora de uma vida natural
integralmente incluída na pólis. Sem dúvida é essa
política que nos coloca todos em estado de
abandono. Somos os novos morto-viventes.
Agamben esforça-se por enumerar as situações de
abandono nos séculos XX e XXI: os hebreus
desnacionalizados para serem enviados aos campos
de extermínio; a seguida falência dos esforços de
organismos internacionais, inclusive da ONU; toda
a biopolítica do terceiro Reich; a politização da
morte nos casos de coma dépassé, etc. Não é difícil
aumentar essa lista de exemplificações fornecida
por Agamben. A política em que a exceção torna-se
regra parece dominar o mundo contemporâneo. O
abandono está longe de ser uma deficiência do
Estado-nação.
Que caminhos nos aponta Agamben quanto
a essa situação política? Diante de questões tão
delicadas, o filósofo italiano mostra-se prudente em
suas conclusões. Não tem propriamente um projeto
político. Contudo, parece simpatizar com uma certa
tendência heideggeriana.
Heidegger e a vida factícia
Para Agamben (AGAMBEN, 2002, p.160),
a questão do abandono não pode ser pensada sem
levarmos em consideração o que Heidegger
denominou de Dasein. A estrutura do Dasein, na
sua facticidade, pressupõe uma distinção
impossível entre a vida e sua situação efetiva, entre
o ser e seus modos de ser. Com isso, desaparecem
as distinções da antropologia tradicional (corpo e
espírito; sensação e consciência; eu e mundo;
sujeito e propriedade). Aliás, é na compreensão da
facticidade da vida que Heidegger discordará
gravemente do Nacional-Socialismo. O que
Heidegger desprezou, sobretudo em Rosemberg,
foi ter transformado a experiência da vida factícia
em valor biológico. A facticidade como “fato”,
aprisionava a vida factícia numa determinação
racial objetiva. Para concluirmos, diremos que
Agamben se aproxima de Heidegger para pensar o
abandono à luz do que o filósofo alemão
denominou de “sem-abrigo”. O habitar nunca
abolirá essa ausência de abrigo. Talvez seja esse o
nosso desafio no século XX. Para além das
tradicionais formas de soberania, teremos que
caminhar como Édipo em Colono (sem Estado e
sem Deus?), num mundo em que não há mais como
esconder um abandono ao fora de si. Precisamos
reinventar uma ética e uma política da finitude.
Referências Bibliográficas
Mário Bruno
mariobrunouerj@yahoo.com.br
As classificações e os desclassificados
conquista”11.
Inquisição:
Eu abaixo assinado
Mestre cirurgião... certifico
que... examinei Lazare
Lamy de Safre acusado de
sortilégio em todas as
partes de seu corpo onde
minha vista e meu tato
puderam chegar e não
encontrei nele quaisquer
marcas nem cicatrizes,
senão duas a saber uma
sobre a nuca do pescoço
muito pequena e muita
sensível e a outra, acima
do ânus juntado-se ao
cóccix, um pouco puxado
ao lado da nádega
esquerda, e tendo-me dito
o dito Lamy que o Diabo o
havia marcado naquela
parte, eu o apalpei em seis
ou sete lugares tanto
sobre a dita cicatriz
quando nas proximidades
dela, sem que o dito Lamy
se queixa-se de que se lhe
fazia mal, embora as ditas
picadas fossem bastante
profundas; entretanto
todas elas verteram
sangue. A dita cicatriz
sendo da largura de cerca
de um duplo tornês de cor
semelhante às outras
cicatrizes que podem
ocorrer seja por
queimadura de carvão,
chagas e outras coisas
semelhantes que impedem
de reconhecer a causa
primitiva e eficiente12.
sistemático.
Os ventos da classificação
imaginação ou na memória.
equilibrada.
eventualmente punidos”17.
É na compreensão do excesso do
morrer.
e cultural.
populacional.
saneadas.
nascidos no positivismo.
demarcação e o olhar
barbarização consentida.
Esta expansão da jurisdição penal sem
terapeuta?
Penal?
Pena Alternativa
O ato de cumprir uma pena alternativa não
conduz o sujeito à reflexão sobre o seu uso de
drogas, servindo, no máximo, para reforçar o
fenômeno que está em jogo nos toxicômanos
e também no delinqüente. Charles Melman
afirma que, “há uma erotização do jogo do
toxicômano com os poderes públicos de todas
as ordens, sejam eles médicos, judiciários ou
policiais, que parece ser do mesmo tipo de
erotização que aquela exercida pelo
delinqüente. O toxicômano ama se envolver
com os poderes públicos. E caímos no
ridículo, se interferirmos como parte em
causa, para fazer girar sua economia libidinal.”
Tratamento compulsório
Sabemos que, na maioria das vezes, o
toxicômano chega ao consultório médico ou à
clínica especializada, trazido por um outro,
sendo raro que a iniciativa parta dele mesmo.
Nestes casos, profissionais da saúde
submetem-no a uma avaliação sobre os
procedimentos adequados para aquela
situação.
Resultados:
Origem do PAI-PJ
Referências Bibliográficas:
judicial
Muito obrigado.
gisálio@superig.com.br