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de repente a Desmistificando
o improviso
na Dança do Ventre
nesrine
bellydance
de repente adança
Desmistificando
o improviso
na Dança do Ventre
nesrine
bellydance
fotógrafa | jay andreotti
make e cabelo | renato macchia
figurinos | simone galassi
edição de texto | central dança do ventre
arte | coreto editorial
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sumário
introdução ...................................................................................................4
o improviso .................................................................................................... 6
nesrine bellydance...............................................................................38
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introdução
Quando você assiste uma boa apresentação
de Dança do Ventre, ela te leva para
outro lugar. Um lugar de sonhos, de
encantamento, de suspensão da realidade.
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A Nesrine, você sabe, é uma fada em cena. Se você já a viu dançar, e
pessoalmente, sabe do que estou falando. E além de grande bailarina,
é ótima professora. Ela pensa sobre a dança, sobre como ensinar não
somente cada movimento, mas também sobre como juntar cada mo-
vimento numa frase, numa coreografia, num improviso.
Por isso ela e nós vamos te ajudar a realizar seu desejo de improvisar.
E a gente acredita que você vai conseguir, vai se realizar e vai se apai-
xonar.
Aqui você vai ler dicas preciosas sobre o que pode prejudicar seu
improviso, e principalmente sobre o que pode te ajudar. Quais as eta-
pas crescentes até chegar a uma forma de improvisar que deixe você
dançando cada vez melhor e mais satisfeita.
Por que Ebook? Porque o Central Dança do Ventre mais uma vez
quer te ajudar oferecendo conteúdo e paixão grátis, pra você ter acesso
rápido e fácil em qualquer lugar do mundo.
Mariana Lolato
Fundadora e Gestora do Central Dança do Ventre
www.centraldancadoventre.com.br
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O Improviso
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Imagine três pedrinhas de cores diferentes:
branca, azul e amarela.
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Poderíamos colocar mil regras e
metas a cumprir, mas vamos come-
çar pelo começo: o improviso no seu
nascimento, desde o seu início, ainda
sem controle algum.
Talvez, nesse início, ele ainda nem
possa ser considerado uma dança,
mas é imprescindível para um dia ele
chegar lá.
Todo o conteúdo a seguir foi extra-
ído de experiências pessoais, relatos
em sala de aula e reflexões sobre o
tema improviso. De maneira natural e
algumas vezes de forma instintiva.
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A dança de
Improviso
e sua construção
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Podemos associar a construção do
improviso com a de um movimento de
dança qualquer: inicialmente ele
será imperfeito, singelo, sem controle,
sem profundidade e não suportará
muitas informações complementares.
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Tenha paciência e continue firme.
Mais pra frente dedicaremos um espaço para refletirmos sobre a auto-
crítica severa, cobranças excessivas e seus malefícios no aprendizado.
Nesse exercício, aparentemente simples e superficial, aperfeiçoamos
nossa técnica por causa das repetições, aumentamos possibilidades de
ligação dos movimentos, aprendemos a fazer escolhas, conhecemos
os movimentos que gostamos, os que não gostamos, ouvimos a músi-
ca treinando nossos ouvidos, treinamos o acesso ao repertório, visita-
mos algumas sensações que futuramente caminharão para os grandes
momentos de entrega durante a dança.
Como vimos, nesse início ainda é tudo muito singelo. Precisamos de
uma música sem muitas nuances e alguns movimentos de dança, que
ainda não precisam estar em sua plena execução e entendimento.
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Acesso ao
repertório
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É o quanto os movimentos que
você aprendeu estão disponíveis
para você usá-los durante um improviso
ou mesmo durante o planejamento
de uma dança.
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Temos que aprender a lidar com eles. Em breve falaremos sobre eles
também.
O desenvolvimento do acesso ao repertório consiste em lembrarmos
rapidamente de vários movimentos, para podemos escolher então o
melhor a se fazer naquele momento da dança. Assim, além de dispo-
nibilizar rapidamente um novo movimento, ainda teremos opções de
escolha. Isso tudo durante o improviso: dançando!
No início lembraremos sempre dos mesmos movimentos, mas, no-
vamente com o treino e o amadurecimento, desenvolveremos a prá-
tica e segurança para que novos movimentos passem a ser acessíveis.
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Esses movimentos de socorro são muito eficazes no início do impro-
viso, mas depois podemos deixá-los de lado. Eles serão usados como
qualquer um dos outros.
A velocidade do acesso ao repertório se tornará cada vez mais rápida
e a distância da caixa de passos e você cada vez menor. Assim, a qual-
quer momento durante a dança, você conseguirá pegar um ou mais
movimentos rapidamente da caixa, sem precisar de muito tempo.
Os treinos técnicos dos passos de dança e treinos de repetição darão
ao corpo habilidades para executar esses movimentos escolhidos de
maneira limpa e precisa.
Após aprimorarmos o acesso ao nosso repertório e deixarmos todos
os novos movimentos disponíveis para nosso uso, podemos começar
a dar forma para nossa dança.
Quando a ação de acessar o repertório e de executar o movimento
escolhido prontamente (mesmo com poucas opções de movimento),
e o improviso já não forem mais um problema, podemos pensar em
estruturar melhor a escolha do próximo movimento durante a dança.
Reproduzir movimentos aleatoriamente, ainda não é propriamente
uma dança.
As regras
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Temos que assimilar noções de música árabe, noções de comportamen-
to em cena, noções de comunicação com o público, noções da estrutura
de cada tipo de dança (folclórica, moderna, clássica etc...), de estrutura de
show e outras coisas. Não nos aprofundaremos nelas neste momento,
mas é muito importante destacar o quanto são fundamentais.
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Traduzindo
osom e a
velocidade
da tradução
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Trabalho técnico, embasamento teórico, regras, prática, amadurecimen-
to e muito conhecimento. Nosso desenvolvimento com a dança nos traz
uma grande bagagem.
Toda essa bagagem será associada às experiências da nossa vida pesso-
al e resultarão na nossa criação para o improviso.
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Para esse começo, sugiro uma dinâmica bem simples:
Esquematize uma coluna com o nome dos movimentos que você costu-
ma usar no seu improviso ou que você gostaria de incluir nele.
Ouça a música que pretende improvisar, ainda sem dançar, e perceba
quais emoções e sensações ela desperta em você como: se é uma música
rápida ou lenta, calma, agitada, alegre, despojada, batidas fortes, introspecti-
va, charmosa, misteriosa, leve, pesada, sensual, grandiosa e assim por diante.
Escreva esses itens numa coluna ao lado da coluna n.1 e procure ligar
com um traço os movimentos que combinem com as características da
coluna n.2.
Um mesmo item poderá se ligar com vários itens da outra coluna. Como
se tivéssemos vários movimentos para traduzir uma sensação e vice versa.
Exemplo: batidas fortes ligadas com batida lateral.
misterioso ligado com camelo
Você perceberá que essas associações poderão sofrer mudanças com o
tempo. Como no caso do camelo, que pode ser usado quando temos essa
sensação de mistério, mas podemos de repente aprender depois a fazê-lo
de maneira a expressar alegria.
Depois das ligações feitas, temos uma ideia de quais movimentos farão
melhor a composição das emoções e sensações que gostaríamos de usar
na música escolhida.
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Novamente com o treino e amadurecimento, aperfeiçoamos essas liga-
ções e ficamos cada vez mais certeiras e velozes pra escolher o movimen-
to que seja mais adequado a cada momento da música.
Por ser um trabalho tão pessoal de escolhas e ligações, imagine o quan-
to de nossa personalidade não demonstraremos.
Imagine duas pessoas falando sobre o mesmo assunto.
Cada uma delas tem um jeito de usar as palavras, formar frases, tom de
voz e assim por diante, e nenhuma está mais certa que a outra. São apenas
maneiras diferentes de se expressar.
Assim, além de perceber e desenvolver nossas associações, podemos,
como inspiração para novas possibilidades, assistir a outras bailarinas dan-
çando, percebendo quais as ligações que ela faz.
Ao assistirmos as danças aprendemos muito apenas pelo visual. Só de
vê-las muita informação já ficará gravada.
Como o objetivo não é copiá-las e sim inspirar-se, não é preciso co-
piar mecanicamente os movimentos. Apenas assistir e apreciar vídeos ou
apresentações ao vivo.
As informações adquiridas serão processadas e aparecerão no nosso
corpo já codificado com nosso jeito de dançar.
Veja, há muitos anos os vídeos de bailarinas antigas inspiram danças
bem modernas.
Assistir vídeos de bailarinas antigas não significa que você vai dançar
como antigamente. Significa que você vai assimilar ideias e depois incluí
-las no seu contexto de dança.
Posso então sugerir uma outra dinâmica:
Junte-se em dupla, no máximo trio, de preferência com outra aluna do
mesmo nível técnico.
Fique uma de frente para a outra e coloque uma música.
A ideia é que uma improvise e a outra siga copiando.
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É como se a aluna que copiasse estivesse experimentando as esco-
lhas da outra colega.
Procure esperar em torno de 1 minuto, mas não preocupe-se com o
tempo, e mude os papéis: quem copiava agora passará a sugerir os movi-
mentos para que a outra a copie. E repita essa troca algumas vezes.
Não podemos dar explicações nenhuma sobre o movimento sugerido!
Esse exercício é muito bom para experimentarmos o universo de
escolhas do outro. Mas trabalhamos muitas outras questões também,
como:
• Responsabilidade de liderar e generosidade com a outra, já que a bai-
larina que sugere os movimentos deve lembrar que possui outra em
sua dependência. Se fizer algum movimento brusco ou sugerir virar de
costas, por exemplo, a outra colega terá muita dificuldade em copiá-la;
• Limpeza dos movimentos, para quem o está sugerindo, e identifica-
ção dos mesmos para quem está copiando;
• Trabalho em equipe;
• Sorrir enquanto dança. Geralmente as alunas sorriem muito por esta-
rem uma de frente para a outra;
• Seu comportamento quando sua dança está sob o olhar de outra
pessoa;
• e muitos outros.
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Possibilidades de
improviso
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Com um pouco mais de informação sobre música e dança, começa-
mos a ampliar nossas possibilidades de improvisar.
Vamos separar três possibilidades: o improviso com uma música co-
nhecida, improviso com uma música completamente desconhecida e
o improviso como um estudo de novas ideias.
Quando o improviso é feito com uma música que já foi estudada an-
teriormente, aumentamos muito o nosso aproveitamento em relação
à música. Já sabemos seus pontos fortes, seus momentos que seriam
imprevisíveis, momentos para respirar e todas as suas mudanças e as
sensações que ela nos passa: se é grandiosa, tranquila, rápida, animada,
introspectiva...
Com isso, criamos nosso improviso já deduzindo o que vai acontecer
com a música.
A imprevisibilidade fica apenas na composição do que diz respeito à
criação dos passos pela bailarina. A música já foi desvendada anterior-
mente.
O lado negativo de já se conhecer a música é que podemos nos con-
fundir quando dançarmos uma outra versão dela ou quando, com um
pouquinho de ansiedade, adiantarmos os movimentos, ficando fora da
música.
A outra possibilidade é a de dançarmos uma música completamente
desconhecida.
Isso é possível pois com estudos sobre música, conseguimos enten-
der algumas estruturas de base e códigos das músicas árabes, que nos
possibilita prever algumas mudanças e intenções. Porém, isso é limita-
do. Mesmo com estruturas semelhantes, cada música possui seu uni-
verso particular. É aí o lugar onde trabalharemos o improviso com a
maior imprevisibilidade. Imprevisibilidade do que vamos ouvir e do que
vamos escolher para interpretar e traduzir a música.
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O último seria usar o improviso para trabalhar e desenvolver a criatividade
e todos os seus aspectos, mas não com a intenção de apresentar-se, mas de
observar os momentos dessa dança e extrair deles objetos para outras dan-
ças ou até mesmo para montar uma coreografia. Nesse caso o improviso
seria usado para estudo e não para apresentação.
Em qualquer que seja a situação, trata-se de um momento de criação
espontânea e imediata da bailarina.
A chance dela produzir algo não condizente existe e não é tão pequena.
Várias regras conhecidas podem ser violadas como sair do ritmo, perder
finalizações de frases, perder um break, produzir uma dança linear com o
receio de ousar e ultrapassar algum limite estético.
Mas por outro lado,
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Lidando
com os
erros
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Com o estabelecimento de regras, aumenta nossa possibilidade de criar
algo inadequado: o erro.
A inadequação seria a criação de algo que não condiz com as regras
aprendidas ou com algo que não satisfaça a dona da dança.
Uma chance muito grande, levando em conta que estamos impro-
visando.
Assim, é preciso que a bailarina e até mesmo o público tenham um outro
olhar sobre esse modo de se fazer dança.
Olhar do público sim!
o improviso trata-se de um
momento de criação espontânea
e imediata da bailarina.
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É claro que com o treino e dedicação, conseguimos deslocar essa
equação para o lado dos grandes acertos, mas nunca conseguiremos
zerar o lado dos erros.
A imprevisibilidade e a criação imediata sempre proporcionarão es-
ses momentos de sensação de ausência de controle. Mas lembre-se de
que seus estudos foram assimilados pela sua mente e seu corpo.
É preciso confiar na sua bagagem de estudo e não confundir isso
com incapacidade.
Aprender a aceitar os erros e a usá-los em benefício, é desde o início dos
estudos, uma maneira sábia de assegurar o desenvolvimento da dança.
Existem erros que servirão para nos ensinar: ensinar sobre o que não
fazer, ensinar que temos que buscar outros caminhos e também que
temos que continuar a estudar e praticar.
Outros erros só devem ser esquecidos. Fazem parte daqueles erros
que não teríamos como evitá-los devido ao improviso.
Não saber lidar com os erros é tão nocivo que pode afetar desde o
início do aprendizado até uma dança já bem estruturada.
Às vezes, o medo de errar pode afetar a criatividade e a ousadia, fa-
zendo com que a bailarina recorra sempre àquelas fórmulas que ela
sabe que darão certo, ou a uma dança confortável a qual ela já está
acostumada, sem deixá-la criar novas possibilidades e sem deixá-la ir
além dos limites de costume.
O medo do erro pode até fazer com que algumas criações sejam
anuladas, colocando-se em seu lugar criações de outras pessoas que
já alcançaram um bom amadurecimento.
Seria a bailarina abrir mão de uma de suas criações em prol de se
inspirar em outra bailarina de sua admiração.
Inspirar-se em outras bailarinas é sempre bom. Mas que isso não pas-
se de inspiração. Criar algo pessoal é sem dúvida, muito importante e
prazeroso, mesmo correndo alguns riscos de cometer erros...
Dançar de improviso sem dúvidas nos traz autoconhecimento. Não
tenha medo. Teste.
Sinta para onde seu corpo quer ir... ele foi ensinado para isso.
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A busca pela aceitação,
exposição e o
julgamento do outro
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Podemos dançar pra nós mesmas, mas e quando nosso improviso pas-
sa a ser para o outro?
Pode ser para o professor e os colegas de sala de aula ou para o gran-
de público.
Erros, momentos, trejeitos, estilo próprio, interpretação pessoal, dificul-
dades, limites... toda a nossa criação num momento de exposição.
É preciso entender o que acontece quando estamos sob esse novo olhar.
Uma das primeiras coisas que temos que aprender a lidar é com o
julgamento.
Ah, o julgamento...
Nesse momento, temos que lembrar de uma lição que geralmente apren-
demos durante nossa vida: é muito difícil, pra não dizer impossível, agradar-
mos a todos.
Durante o estudo da dança vamos exercitando e desenvolvendo os reais
objetivos que queremos com ela.
Agradar a todo mundo e a si mesma ao mesmo tempo é uma tarefa que
não deve ser o objetivo final simplesmente por ser uma tarefa inalcançável.
Se tivermos essa pretensão, o fracasso será eminente e com ele virá a
frustração.
Costumamos avaliar o quão boa está nossa dança através da resposta do
público. Mas temos que tomar muito cuidado pra não dançarmos apenas
em função disso.
Por muitas vezes podemos nos questionar sobre se preferimos elaborar
um trabalho que o público goste ou um que nos traga prazer. Nem sempre
poderemos ter os dois.
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Existem vários tipos de público, passamos por vários momentos em
nossa dança... Nem sempre ela nos agradará ou agradará a outras pessoas.
Pare e pense a respeito de onde você quer chegar.
Se de repente, ser uma bailarina profissional nunca foi seu objetivo de
vida, não tem porque você mudar bruscamente seu caminho a partir do
julgamento do público. Você só muda se quiser.
Mas se você pretende profissionalizar-se, aí temos que fazer escolhas.
Pois, a não aceitação da maioria do público pode significar menos traba-
lho para você. Nessa hora, terá que decidir entre apostar no trabalho que
acredita, ou fazer mudanças pra adequar-se ao mercado e às necessida-
des desse público.
Cada um tem seus objetivos e seus limites.
Não existe o caminho certo. Existe o caminho melhor pra cada um.
Encararmos a rejeição não é tarefa fácil. Mas faz parte do nosso amadu-
recimento.
Quanto mais sólidas forem nossas reflexões, mais força teremos pra fa-
zer escolhas e mantê-las.
Já vi muitas bailarinas largarem suas carreiras por não saberem lidar
com suas emoções e por acumularem tantas frustrações.
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Esteja aberta a criticas, mas
desenvolva uma forma de separar
as críticas que você levará em
consideração das que são
apenas opinião pessoal.
Isso fará você enxergar que mesmo algumas pessoas não gostando de
alguma parte da sua dança, não significa que você está fazendo algo erra-
do ou que você precise tomar alguma atitude pra mudá-la.
E, principalmente, se o receio da exposição for tão grande a ponto de
você não ter coragem de tentar, nunca conseguirá melhorar, já que a me-
lhora vem com a experiência.
Nessa hora lembre-se de que todos erram... em algum momento da
vida, todos erram. Não temos porque deixar de viver com medo dos erros
ou da rejeição. No final eles até nos ajudarão.
31
A Nascente e
o improviso
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Ao olharmos uma grande cachoeira esbanjando força, poder e beleza,
não podemos esquecer que toda aquela água, que parece ser infinita em
sua força, na verdade brota delicada e gentilmente em uma nascente pe-
quenina e suave.
O mesmo acontece com uma grande árvore frondosa que veio de uma
sementinha e não passava de um centímetro ou de uma mudinha com
apenas algumas folhinhas.
Na nascente, tão vulnerável, a água brota cristalina, mas ainda tem de
se moldar aos caminhos que ela consegue se adaptar. É preciso contornar
uma pedrinha porque, ainda mesmo que pequena, não é possível arrastá
-la ou passar sobre ela.
Mas é com o desenrolar das águas que ela vai se transformado, toman-
do corpo, força, velocidade e vai aumentando de tamanho.
É um ciclo da natureza.
O fiozinho segue seu caminho apenas carregando a si mesmo. Um
pouco mais à frente e mais desenvolvido, já consegue dar espaço e abri-
gar plantinhas e pequenos peixes. Mais à diante, seu leito passa a irrigar e
alimentar até mesmo quem está às suas margens. Consegue ter água para
si e ainda para os outros.
Se o fiozinho de água resolver cair de um grande abismo, as gotinhas
não conseguirão nem manter-se juntas durante a queda. Mas se o fiozi-
nho for paciente, continuar em frente, em busca do seu caminho e tomar
corpo, aí sim, no seu tempo, quando resolver atirar-se do abismo, esse
será preenchido por toda sua água e teremos um grande espetáculo.
É preciso percorrer o caminho como um fiozinho para depois tornar-se
um rio e somente depois a cachoeira.
Somos parte dessa natureza. Então é preciso respeitar esse ciclo.
A cachoeira não seria quem é se não tivesse respeitado e acolhido seu
momento de fiozinho singelo e iniciante.
Arriscar alguns simples passinhos nada mais é do que o início de uma
grande cachoeira ou de uma grande árvore cheia de frutos.
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Assistir a uma grande bailarina e basear-se por essa apresentação para
construir um improviso iniciante é como o fiozinho que se joga do abismo.
No início, improvisar uma dança nada mais é do que você ouvir a música,
identificar o seu tempo, lembrar-se dos movimentos já aprendidos e fazê
-los. Mesmo ainda com poucos movimentos.
Sem regras. Sem pressões.
Seria quase um absurdo nós querermos impor regras ainda tão cedo:
executar os movimentos corretamente, não repeti-los, mostrar um grande
repertório, leitura musical, expressão, movimentação em cena entre outros
não são regras de um início de improviso. Essas são regras de uma apre-
sentação de dança adiantada. Vale lembrar que desenvolver todos esses
quesitos seria praticamente impossível sem aquele improviso inicial ainda
repetitivo e com poucos movimentos.
Quando assistir a uma grandiosa apresentação de dança improvisada,
lembre-se de que ela foi fruto do desenvolvimento de uma outra dança,
anterior, simples, inocente e cheia de desafios.
É preciso respeitar a natureza.
Aceitar e acolher seu momento iniciante significa permitir-se treinar de
maneira tranquila e sem pressões. Dessa forma você se desenvolve mais
rápido e consegue seguir em frente sem maiores problemas.
A autocrítica, que geralmente avalia nossas apresentações como se fôs-
semos concorrer ao “Oscar da dança do ventre”, somente é saudável se ela
for sensata.
Avaliar severamente uma aluna que está iniciando seus estudos não é
sensato. Pense nisso e use e abuse de suas vantagens de poder errar, repetir,
se enganar, testar e treinar.
Isso lhe trará segurança, amadurecimento, prazer, autoconfiança e ainda
um estilo só seu.
Improvisar uma música é um dos exercícios mais completos que existe.
Poderia listar um número infinito de benefícios.
Respeite.
Permita-se ser uma nascente.
E dance.
Porque é bom. 34
Considerações
finais
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O improviso deve ser um instrumento
para criarmos arte, deixá-la expandir
e tomar conta do nosso corpo,
do nosso pensamento e do público
36
Assim, para desmistificá-lo, precisamos
trazer esses temas para a aula, para
que sejam treinados e desenvolvidos.
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Nesrine Bellydance
Iniciou seus estudos em dança do
ventre em 1994 e desde então, nunca
parou de estudar essa dança. Estudou
Ballet Clássico por 14 anos e Bharatha-
natyan, dança clássica indiana, por 1 ano,
que trouxeram experiência e maturidade
ao físico e intelecto.
Em 2005 e 2007 participou de cursos
de aperfeiçoamento no Egito com pro-
fessores egípcios como Randa Kamel,
Dina, Mahmud Reda, Aida Nur, entre
outros. Um mergulho cultural que sedi-
mentou e ampliou todo o aprendizado.
Ministra aulas de dança do ventre desde 2000. Nesse tempo, desenvolveu
uma didática inspirada em mesclar o lúdico com a boa técnica, desmistifi-
cando as dificuldades e tornando a aula um momento para se desenvolver
dignamente e ainda ser feliz.
Em 2003, entrou para o grupo de bailarinas da casa de chá Khan el Khalili,
sendo que desde 2005 pertence à categoria Bailarina de Noites no Harém e
participa da comissão julgadora da banca da pré-seleção.
Seu estilo é valorizar os movimentos de base da dança, investindo na
qualidade de execução, e na busca pela individualidade e personalidade.
Atualmente, pensa a dança desenvolvendo um trabalho teórico e refle-
xivo sobre o decorrer do aprendizado das alunas e o caminho a percorrer
daquelas que optaram por se profissionalizar. Apresenta-se na casa de chá
Khan el Khalili e é professora da Centro Cultural Shangrilá, referências dessa
arte milenar em todo o Brasil.
Site: www.nesrine.com.br
Email: nesrine@nesrine.com.br
Blog: www.danceporqueebom.com.br
Facebook: www.facebook.com/nesrine.bellydance
YouTube: www.youtube.com/user/carolnesrine
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