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Primeiros registros da
resistência negra são de 1575
No Paço da Cidade, senadores e outras autoridades observam D. Isabel assinar a Lei Áurea
Edição comemorativa dos 120 anos da Lei Áurea – Jornal do Senado – 13 de maio de 2009 – Ano XIV – Nº 2.801/172
2 Jornal do Senado Uma reconstituição histórica Rio de Janeiro, segunda-feira, 14 de maio de 1888
Com poucos efeitos práticos, a Lei Eusébio de Queiroz, a do erceira dita da proposta
da Câmara dos Deputados
Ventre Livre e a dos Sexagenários antecederam a Lei Áurea n. 42 de 1887, aprovando
a pensão de 1$4000 diá-
rios aos menores irmãos
E
m 7 de novembro de José Bonifácio de Andrada mo em águas territoriais Para burlar a lei, fa- do 2º sargento do Corpo
1831, a Câmara dos e Silva chamou de “cancro brasileiras, e julgar seus zendeiros incentivaram o Militar da Polícia da Corte
Deputados promul- mortal que ameaçava os comandantes. tráfico interno, tirando es- Antonio Nery de Oliveira
gou uma lei que proibia fundamentos da Nação”. O O governo brasileiro não cravos de áreas em que a Araújo, para que votou-se
o tráfico de escravos afri- ato de 1831 foi o primeiro resistiu à pressão e o mi- agricultura decaía, como dispensa de interstício.
canos. O texto, resultado passo, mas ineficaz. A tur- nistro da Justiça de Dom os engenhos de açúcar do
de acordo do Brasil com a bulência política em várias Pedro II, Eusébio de Quei- Nordeste, para as lavouras egunda dita do proje-
Inglaterra, estabelecia que províncias impediu que roz, enviou projeto ao Par- de café no Centro-Sul. Mas to do Senado letra S de
todos os escravos que en- o governo central fizesse lamento que determinava foi aprovada, em 1854, 1887, determinando que
trassem no território ou cumprir a lei durante as a apreensão de navios que a Lei Nabuco de Araújo a disposição do parágrafo
portos do Brasil vindos de duas décadas seguintes. traficassem escravos. A Lei (ministro da Justiça), que 1º do artigo 1º do Decreto
fora ficariam livres. Porém, Só com a pressão política nº 581, de 4 de setembro previa sanções para as au- nº 3.300, de 9 de outubro,
o último desembarque de e militar inglesa o cenário de 1850, conhecida como toridades que encobrissem não é aplicável ao minis-
escravos africanos no país se modificou. Em 1845, o Lei Eusébio de Queiroz, o contrabando de escravos. tro do Supremo Tribunal
só ocorreria em 1855, no Parlamento em Londres considerava criminosos o Com o fim do tráfico, de Justiça que exercesse já
litoral de Pernambuco. aprovou lei (o Bill Aber- dono do navio, o capitão e progressivamente os imi- semelhante cargo e tivesse
O período decorrido en- deen) que dava à Marinha seus subordinados, além do grantes europeus começa- mais de 72 anos de idade.
tre a intenção e a realidade inglesa o direito de aprisio- pessoal em terra que parti- ram a substituir a mão-de-
foi a sobrevida daquilo que nar navios negreiros, mes- cipasse do comércio ilegal. -obra servil. egunda dita da proposta
da Câmara dos Deputados
nº 40 de 1887 determinan-
do que nos oficiais do exér-
cito promovidos em comis-
são por atos de bravura
se contará antiguidade de
posto desde a data das res-
pectivas comissões.
Expediente
Esta edição especial reproduz os
principais episódios relacionados à
abolição da escravatura no Brasil. O
formato adotado simula o que pode-
ria ser uma edição do Jornal do Se-
nado publicada em 14 de maio de
Ao chegarem ao Brasil, os negros ficavam em depósitos à espera dos leilões e onde eram inspecionados por compradores 1888, dia seguinte ao da assinatura
da Lei Áurea. Na época, o Senado
não possuía nenhuma publicação
Lei dos Sexagenários foi jornalística. Os textos foram elabo-
rados com base nos Anais do Senado
fruto de acordo político e da Câmara dos Deputados, jornais
e revistas do período e livros de estu-
Muita negociação políti-
ca entre liberais e conser-
o escravo, não prevendo
qualquer tipo de indeni-
Dom Pedro II defendeu diosos do movimento abolicionista.
Créditos das fotos:
vadores foi necessária para
que a Câmara dos Deputa-
zação aos proprietários, o
projeto foi violentamente
a Lei do Ventre Livre Pág. 1: Victor Meirelles/Acervo do Grupo
Itaú; Rugendas/Fund. J. Nabuco; Pág. 2:
Rugendas/Fund. J. Nabuco; Pág. 3: Museu
dos aprovasse outro proje- torpedeado pelos escravo- Nasceu da vontade de vam o governo de que-
Imperial; Reprod./Geraldo Magela; Pág.
to antiescravagista enviado cratas no Parlamento, a Dom Pedro II o projeto rer provocar uma crise 4: Cedi/Câmaras; Pág. 5: Flickr; Arquivo
pelo governo imperial à ponto de causar a queda da Lei do Ventre Livre, econômica. SF; Reprod./Arquivo JS; Pág. 6: Fund. J.
Assembleia Geral. Sancio- do gabinete e a dissolução elaborado pelo gabinete As controvérsias fo- Nabuco; ABL; Repr./Arquivo JS; Pág.
nada pelo Imperador Dom da Assembleia Geral. conservador do Viscon- ram desproporcionais 7: Rugendas/Fund. J. Nabuco; Pág. 8:
Pedro II com o nº 3.270, A lei sancionada no ano de do Rio Branco em aos seus efeitos práticos. Rugendas/Fund. J. Nabuco; Christiano Jr.
em 28 de setembro de seguinte continha diversas 27 de maio de 1871. A lei dava liberdade aos Jornal do Senado
1885, a Lei dos Sexagená- normas para regular a ex- Em sua Fala do Trono, filhos de escravos nas- Praça dos Três Poderes – Ed. Anexo I
rios também ficou conheci- tinção gradual do elemento dias antes, na abertura cidos a partir daquela do Senado Federal, 20º andar – 70165-
da como Saraiva-Cotegipe, servil. Eram libertados os do ano legislativo, o Im- data, mas os mantinha 920 Brasília (DF)
em referência aos dois che- escravos que completassem perador antecipara que sob a tutela dos seus se- www.senado.gov.br/jornal
fes do gabinete ministerial 60 anos, com a obrigação “considerações da maior nhores até os 21 anos. jornal@senado.gov.br
do Império, o liberal con- de prestar serviços, a título importância aconse- Segundo essa norma, Tel.: 0800 61-2211
selheiro Saraiva e o conser- de indenização ao senhor, lham que a reformada os filhos menores fica- Fax (61) 3311-3137
vador (e mulato) Barão de pelo prazo de três anos. O legislação sobre o estado riam “em poder e sob a Diretor: Davi Emerich
Cotegipe, que deram apoio maior de 65 anos ficava li- servil não continue a ser autoridade dos senhores Edição: Eduardo Leão
à medida. berado de tais trabalhos. uma aspiração nacional de suas mães”, os quais Coordenação de texto: José do Carmo
Na verdade, a iniciativa é A crítica dos abolicionis- indefinida e incerta”. deveriam criá-los até Andrade
do ano anterior, 1884, pro- tas à lei era aos limitados Por vários meses, de- os 8 anos. Nessa idade, Redação: Janaína Araújo, Paula
posta pelo senador Sousa efeitos práticos, pois os putados dos partidos o senhor optava entre Pimenta, Sylvio Guedes, José do Carmo
Dantas, então chefe de ga- poucos que chegavam a Conservador e Liberal receber do Estado in- Andrade
binete. Muito mais abran- essa idade já não tinham discutiram a proposta. denização de 600 mil Pesquisa: José do Carmo Andrade e
gente, ao fixar os 60 anos condições de garantir seu Quatro meses depois, réis ou de utilizar-se dos Eliana Lucena
como idade limite para sustento. em 28 de setembro, serviços do menor até Diagramação: Bruno Bazílio, Henrique
transformou-se na Lei 21 anos. E. Araújo, Iracema F. da Silva e Sérgio L.
nº 2.040, assinada por – A verdade é que a Gomes da Silva
Dona Isabel. Os defen- lei, ao libertar os bebês,
FESTEJOS POPULARES sores dessa lei afirma- estabeleceu ao mesmo
Revisão: Eny Junia Carvalho e Lindolfo
do A. Almeida
vam que ela, juntamen- tempo que até os 21 anos
COMEMORATIVOS DA ABOLIÇÃO te com a proibição do
tráfico negreiro, assegu-
eles permaneceriam em
poder do senhor. Na prá-
Tratamento de imagem: Edmilson
Figueiredo e Humberto S. Lima
Arquivo fotográfico: Ana Volpe, Laiane
rava a extinção gradual tica, até essa data, conti-
DERBY - CLUB
Borges e Elida Costa
da escravidão. Já os do- nuavam escravos – ana-
Impresso pela Secretaria Especial de
nos de escravos acusa- lisou Joaquim Nabuco.
Editoração e Publicação (SEEP)
SEXTA-FEIRA – 18 DO CORRENTE
3 Jornal do Senado Uma reconstituição histórica Rio de Janeiro, segunda-feira, 14 de maio de 1888
D
esde a tarde de on- nefanda mácula da escra-
tem, dia 13, está vidão, como já lhe coube
extinto em todo o a de confirmar o decreto
Brasil o trabalho escravo, que não permitiu nascerem
prática das mais cruéis e mais cativos no Império (a
condenáveis que foi per- Lei do Ventre Livre)”.
mitida legalmente no país Falando em seguida, sem
por mais de 300 anos. Me- conter as lágrimas, Dona
nos de três horas depois da Isabel declarou:
aprovação do projeto pelo – Seria o dia de hoje um
Senado do Império, a Prin- dos mais belos de minha
cesa Regente Dona Isabel, vida se não fosse saber es-
com uma pena de ouro tar meu pai enfermo. Deus
ofertada pelo povo, san- permitirá que ele nos volte
cionava em solenidade no para tornar-se, como sem-
Paço da Cidade a já cha- pre, útil à nossa Pátria.
mada Lei Áurea. Participaram da ceri-
É opinião generalizada mônia, na Sala do Trono,
que a Pátria se tornou real- senadores, deputados, mi-
mente livre com o ato que nistros, magistrados, em-
retirou o Brasil da condi- baixadores e outras perso-
ção de única nação do Oci- nalidades, além de gente
dente que ainda explorava Sua Alteza Dona Isabel sancionou em nome de seu augusto pai a lei que acaba com a do povo que, em verdadei-
o elemento servil. Estima- escravidão, prática das mais cruéis que foi permitida no Brasil por mais de 300 anos ro delírio, invadiu o palá-
se que mais de 600 mil cio. Em frente ao edifício,
negros foram beneficiados no Senado se enfrentaram, sob os cuidados de três dos volta das 14 horas, rece- na Praça Dom Pedro 2º,
pela lei. quer defendendo, quer ata- melhores médicos euro- bendo demorados aplausos cerca de 5 mil pessoas se
Poucas vezes nos seus 62 cando o projeto, alguns dos peus. do público. aglomeravam. A multi-
anos de funcionamento a maiores tribunos do país. Confiante em que o Se- Coube a uma comissão dão irrompeu em ruidosas
Assembléia Geral produziu nado aprovaria a propos- de senadores, tendo à fren- aclamações quando o de-
uma lei com extraordinária Sorriso e lágrimas ta nesse domingo, Dona te Sousa Dantas, entregar putado Joaquim Nabuco,
rapidez como a que acaba A fisionomia da Princesa Isabel, que se encontrava à Princesa Regente o autó- de uma sacada do Paço,
de emancipar os escravos. Regente, sempre expres- em Petrópolis, dirigiu-se grafo do projeto, cujo tex- comunicou ao povo que
Foram só seis dias de tra- sando contentamento pelo de trem de ferro logo após to foi transformado numa não havia mais escravos
mitação da mensagem, ato que acabava de assi- o meio-dia para o Rio de verdadeira peça de arte no Brasil. Chamada pelos
não obstante a tentativa nar, às vezes dava ares de Janeiro. Acompanhada de pelo conhecido calígrafo cidadãos que se concen-
dos parlamentares antia- preocupação, em virtude seu esposo, o Conde d’Eu, Leopoldo Heck. Na opor- travam diante do palácio,
bolicionistas de imporem da gravidade do estado de e dos ministros do Império, tunidade, Dantas felicitou Dona Isabel surgiu numa
obstáculos à adoção de saúde de seu augusto pai, Costa Pereira, e da Agri- Dona Isabel “por caber-lhe janela, sendo mais uma
urgência para a matéria. que está em tratamento na cultura, Rodrigo Silva, Sua a glória de assinar a lei que vez aclamada pelos mani-
Nos debates na Câmara e cidade italiana de Milão, Alteza chegou ao Paço por apaga dos nossos códigos a festantes.
A
Princesa Im- ter em lei a pro-
perial Regente posta do governo,
Isabel enviara acho que é preciso No século 16 já
à Assembléia Geral, na
terça-feira 8 de maio
colocar acima de
tudo a legalidade
havia escravos
de 1888, a proposta dos atos do Parla- no Brasil
determinando o fim mento – argumen-
da escravidão no País. tou o representan- Há quem diga que os
Dois dias depois, o pro- te dos fazendeiros primeiros negros foram
jeto já estava aprovado fluminenses, acu- trazidos ao Brasil en-
em segundo turno, e sando os abolicio- tre os anos de 1516 e
seguia para o Senado. nistas de rasgar o 1526, mas somente com
A aprovação se deu Regimento da Câ- o desenvolvimento do
em tempo recorde, mara. cultivo da cana no Nor-
graças ao esforço da O Barão de Lu- deste cresceu significati-
bancada antiescrava- cena submeteu à vamente a demanda por
gista – liderada pelo votação o requeri- negros escravos. É difícil
pernambucano Joa- mento, aprovado avaliar com precisão o
quim Nabuco – e com Na Câmara, 83 deputados votaram a favor da abolição; apenas nove, contra pelo Plenário da volume do tráfico exter-
a ajuda do presidente Câmara, por am- no para o Brasil duran-
da Casa, Henrique Perei- do pelas galerias. Joaquim de uma comissão especial e pla maioria. Dispensados te os três séculos e meio
ra de Lucena, o Barão de Nabuco era um dos mais a dispensa de todos os pra- diversos prazos e exigên- de duração do trabalho
Lucena (PE). O ministro emocionados. zos e interstícios para que a cias regimentais, menos de escravo. A maioria dos
da Agricultura, deputado – A escravidão ocupa o lei pudesse ser votada pela três horas após a leitura do estudiosos estima a vin-
Rodrigo Augusto da Silva, nosso território, oprime a Câmara no dia seguinte. projeto a comissão especial da de aproximadamente
que foi o portador da men- consciência nacional e é Andrade Figueira, depu- criada para analisar o as- 3,5 milhões.
sagem, leu o sucinto texto pior do que o estrangeiro tado pelo Rio de Janeiro e sunto já apresentava pare- Os escravos trazidos
de apenas dois artigos. pisando no território da líder da bancada antiabo- cer favorável em Plenário. ao Brasil pertenciam a
Pátria. Precisamos apres- lição, protestou, sem su- Na quinta-feira, dia 10, dois grupos de língua e
Urgência sar a passagem do projeto, cesso, contra a tentativa de com 83 votos favoráveis e cultura distintas: o dos
Terminada a leitura, o de modo que a libertação acelerar a tramitação. apenas 9 contrários, o pro- sudaneses, encontrados
Plenário irrompeu em rui- seja imediata – propôs Na- – Quaisquer que sejam as jeto recebeu aprovação fi- nas regiões mais ao nor-
dosas manifestações, segui- buco, sugerindo a criação impaciências para conver- nal dos deputados. te do litoral africano, e
os bantos, nas áreas ao
sul do Equador.
Rodrigo Silva: Uma pequena, mas crucial, O Gabinete Dantas,
Figueira acusa que esteve no poder de
toda a sociedade emenda de redação 6 de junho 1884 a 5 de
governo de ceder maio de 1885, e levan-
a “apopléticos” quer a abolição Graças ao zelo legislativo da extinta a escravidão no tamento realizado em
e à experiência de minis- Brasil”, o deputado acres- 1887 forneceram dados
O deputado Andrade O portador do projeto de tro do Supremo Tribunal centou “desde a data desta estatísticos sobre a po-
Figueira, da Província do lei que acabou com a es- de Justiça (STJ) do de- lei”. O deputado contestou pulação escrava no Bra-
Rio de Janeiro, apontou cravidão no Brasil, depu- putado baiano Barão de as acusações de que a alte- sil nos últimos anos:
a “intervenção dos pode- tado e ministro da Agricul- Araújo Góes, o projeto de ração seria “inútil”.
res públicos na solução tura Rodrigo Silva, reagiu lei que acaba com a es- – É uma necessidade in- 1873:
de um assunto eminente- da tribuna às críticas de cravidão pôde entrar em declinável em face da legis- 1.541.348 escravos
mente social”, ao acusar o Andrade Figueira à deci- vigor imediatamente após lação, porque a lei não pode 1883:
governo imperial de ceder são do governo imperial ser sancionado pela Prin- vigorar na Corte senão oito 1.211.946 escravos
às pressões da imprensa e de apresentar a proposta. cesa Isabel. Araújo Góes dias e nas províncias senão
dos “apopléticos” da abo- Segundo o ministro, em to- conseguiu apoio do Plená- três meses depois de pu- 1887:
lição ao enviar o projeto das as democracias o poder rio para inserir pequena e blicada. É necessário que 723.419 escravos
de lei. público tem o dever de in- crucial emenda de redação o prazo que se exige para
Entre poucos aplausos terferir na solução de pro- ao Artigo 1º do texto origi- a Corte seja o mesmo para A classificação, por
e seguidos gritos de “não blemas sociais como o do nal. Onde se lia “é declara- todo o Império. idade, dos 723.419 es-
apoiado”, Andrade Fi- elemento servil. cravos matriculados no
gueira reverberou o sen- – Não havia um só órgão levantamento de 1887 é
timento da bancada de respeitável, desses que for- a seguinte:
proprietários rurais de seu mam o sentimento de um
estado. povo e a opinião de uma Menores de 30 anos:
– Que necessidade tão
urgente é esta quando o
nação, que não estivesse
empenhado nesta cruza-
Projeto é ameaça à ordem 195.726 escravos
De 30 a 40 anos:
problema tem sua solução da. Se observamos esta
agitação pacifista por toda
pública, diz Alfredo Chaves 336.174 escravos
natural nas leis de 1871
[Ventre Livre] e 1885 a parte, poderíamos, acei- Um dos nove deputados sequer, de proverem a sua De 40 a 50 anos:
[Sexagenários]? Com a tando o poder, cruzar os que votaram contra a extin- subsistência – disse o de- 122.097 escravos
sua intervenção, os pode- braços e deixar que a revo- ção da escravatura, Alfredo putado escravagista, em re-
res públicos não fizeram lução decretasse a liberta- Chaves dirigiu seus ataques ferência ao número de 600 De 50 a 55 anos:
mais do que comprometer ção dos escravos? – ques- ao ministro Rodrigo Silva, mil escravos que ainda exis- 40.600 escravos
a marcha do problema, tionou o deputado. que para ele apresentou o tiam no país.
produzindo uma agitação Rodrigo Silva citou a de- projeto “sem nenhuma razão Para o deputado, o go- De 55 a 60 anos:
estéril, promessas engana- fesa da abolição pela Igre- de estado”, cedendo a pres- verno imperial caiu em 28.822 escravos
doras, pesares dolorosos ja, academias, tribunais e sões e ignorando os direitos contradição ao apresentar
– acusou o deputado, em famílias. Até mesmo, disse, dos proprietários rurais. o projeto em plena vigên-
referência à expectativa “os próprios interessados – O projeto é uma amea- cia da Lei do Ventre Livre, BACHAREL DUPONCHEL
de emancipação de escra- na manutenção da proprie- ça iminente à ordem públi- que já fixava critérios de LECCIONA
vos criada pelas leis an- dade escrava davam dia- ca, porque não se tomaram reparação aos senhores de todas as materias do curso
teriores. Para Figueira, a riamente exemplos os mais precauções para garantir a escravos, além de estabe- preparatorio.
estratégia governamental admiráveis de abnegação, lecer as condições em que Cartas no escriptorio desta re
sociedade contra essa classe
dacção
de emancipação gradual libertando os seus escravos de cidadãos novos que a ela o fim completo do regime RESIDENCIA EM NITHEROY
enganou os proprietários. incondicionalmente”. são atirados, sem os meios, servil se daria no país. 93 RUA NOVA 93
5 Jornal do Senado Uma reconstituição histórica Rio de Janeiro, segunda-feira, 14 de maio de 1888
A
s atenções da Cor- e mais veemente aspiração
te se voltaram, no nacional”.
sábado e no do-
mingo, 13 de maio, para o Aprovação
Senado do Império, onde No sábado dia 12, du-
se processava a discussão rante a segunda discussão,
final do Projeto de Lei nº Cotegipe fez longo pro-
1 da Câmara dos Deputa- nunciamento contrário à
dos, que baniu de forma proposta, que foi aprovada
imediata e incondicional domingo, dia 13, em sessão
a escravidão no território extraordinária.
brasileiro. A proposta foi Na direção dos traba-
aprovada sem dificuldades lhos da Casa, o senador
pela Casa. Apenas dois se- Cruz Machado designou
nadores, os conservadores, a comissão que levaria o
João Maurício Wanderley, projeto ao Paço e que foi
o Barão de Cotegipe (BA), composta pelos membros
e Paulino de Sousa (RJ), o da comissão especial que
Segundo Visconde do Uru- ofereceu o parecer e ainda
guai (RJ), se posicionaram por outros nove senadores.
contra a iniciativa. O senador e presidente do
Logo após a leitura da Conselho de Ministros João
proposta na sessão do últi- Alfredo (PE) comunicou,
mo dia 11, pelo 1º vice-pre- Em frente ao Palácio dos Arcos, populares aguardam aprovação do projeto pelos senadores então, ao Plenário da Casa
sidente do Senado, Antônio que Sua Alteza a Prince-
Cândido da Cruz Machado, especial de cinco membros Sousa Dantas, Affonso A comissão apresentou sa Regente receberia às 3
que exercia a Presidência destinada a dar o parecer Celso (pai), o Visconde de imediatamente o parecer, horas da tarde, no Paço
da Casa, o líder do libera- sobre o projeto. Ouro Preto (MG), Jerô- destacando que a proposta da Cidade, a comissão de
lismo abolicionista, sena- A solicitação foi acolhida nimo José Teixeira Júnior continha “providência ur- senadores que levaria o de-
dor Manuel Pinto de Sousa sem debate e Cruz Macha- (RJ), José Antônio Correia gente, por inspirar-se nos creto da Assembléia Geral
Dantas (BA), solicitou que do nomeou para compor da Câmara (RS) e Alfredo mais justos e imperiosos in- declarando extinta a escra-
fosse nomeada a comissão o colegiado os senadores Escragnolle Taunay (SC). tuitos” e satisfazia “a mais vidão no Brasil.
A
abolição da escravatura ta Joaquim Nabuco, a primeira como defensores ferrenhos da Mas a forte pressão social e mo-
foi um processo secular fase do movimento pelo fim da mesma causa, entre eles Ruy Bar- ral e a redução do interesse eco-
resultante de mobilizações escravidão, entre 1879 a 1884, bosa, José do Patrocínio e Tobias nômico pelo negro, que com o
sociais – inclusive dos próprios quando “os abolicionistas com- Barreto. Já falecidos, Luís Gama tempo passou a apresentar custo
negros –, morais, políticas e eco- bateram sós, entregues aos seus e Castro Alves não podem ser es- maior que a mão-de-obra livre
nômicas. Da assinatura da Lei próprios recursos”. quecidos nessa batalha. competitiva, culminaram com a
Eusébio de Queiroz, que reforçou Mais tarde, discursos nas tribu- Mesmo os republicanos tiveram aceitação dos parlamentares pela
a proibição do tráfico negreiro, já nas, artigos e poemas em jornais maneiras diferentes de pensar a abolição total do regime escrava-
se passaram 38 anos de intensa brasileiros e estrangeiros e a forte abolição. A Assembléia Geral ex- gista.
campanha abolicionista que se pressão sobre o Império fizeram primiu por um bom tempo o pen- Um pouco antes da proibição
finda agora com a Lei Áurea. ruir de vez a escravidão. sar dos paulistas que não adota- do tráfico negreiro, o preço do es-
Com exemplos europeus de abo- No geral, todos os republica- vam a solução geral e totalmente cravo já subia no mercado com a
lição da mão-de-obra escrava, nos mostravam-se abolicionistas, libertadora. previsão de que não seriam mais
por um bom tempo o processo mas nem todos os que lutaram A proposta era que o proble- trazidos negros para o Brasil.
da crítica abolicionista no Brasil pela libertação dos escravos pre- ma fosse resolvido gradualmente, Essa alta manteve-se até 1880,
concentrou-se em espaços como ferem a República. Monarquistas conforme o interesse de cada pro- em especial pela forte demanda
clubes, lojas maçônicas, associa- como André Rebouças e Joaquim víncia, aceitando o princípio da da lavoura cafeeira. Agora, quan-
ções, cafés e jornais e, aos poucos, Nabuco foram incansáveis nessa indenização, reconhecendo o que do se assina a Lei Áurea, boa par-
estendeu-se à população. luta pelo fim da escravidão. Mui- alguns chamavam de “o direito te da mão-de-obra escrava já foi
Essa foi, segundo o abolicionis- tos outros também se destacaram do homem sobre o homem”. substituída.
O
s africanos escravi- tavam com o trabalho dos Nas capitanias do Rio Ne-
zados no Brasil não capitães-do-mato. gro e do Grão-Pará, as co-
demoraram muito As capitanias de Sergipe munidades negras também
para dar início aos movi- e da Bahia foram tomadas recebiam militares deserto-
mentos de fuga e formação por mocambos no início do res e índios. Há registros de
de acampamentos arma- século 17. Na Paraíba, em fugitivos em outras regiões
dos, que, além de servirem 1691, se formou o Quilom- da Floresta Amazônica, as-
de moradias, eram princi- bo do Cumbe, combatido sim como nas capitanias
palmente centros de resis- em 1731. do Espírito Santo e de Mi-
tência e contribuíram para No Rio de Janeiro, os nas Gerais.
o fi m do trabalho escravo primeiros registros são de Na segunda metade do
no país. 1625. No século seguin- século 18, surgem denún-
Ainda no século 16, por te, os mocambos surgiram cias contra quilombos no
volta de 1575, já se regis- em Cabo Frio, Campos dos Rio Grande do Sul, em
travam movimentos de Goitacazes e Saquarema. Mato Grosso e Goiás.
fuga de escravos na Capi- O escravo que se insurgisse contra o trabalho servil e a
O século 18 foi de ex- Muitos desses grupos fo-
tania da Bahia. repressão era violentamente punido, sem direito a defesa pansão dos grupos negros, ram desenvolvendo ao lon-
Inicialmente eles se reu- quando a denominação go dos anos relações com
niram no que se chamou mocambo foi substituída as comunidades locais. A
de mocambo, espécie de Em 1588 foi publicado dão no Brasil, houve gran- por quilombo. No Mara- própria Princesa Isabel, às
acampamento militar e regimento que estabelecia de enfrentamento de tropas nhão, as tropas atacaram vésperas de assinar a Lei
moradia dos negros de lín- “punição exemplar” para do governo e perseguições grupos que se reuniam en- Áurea, já havia acolhido e
gua bantu da África Cen- os fugitivos. Nos quase determinadas pelos senho- tre os rios Gurupi e Turiaçu hospedado mais de mil fu-
tral e Centro-Ocidental. quatro séculos de escravi- res dos escravos, que con- no início dos anos 1700. gitivos.
CASA DO ALMEIDA
FAZENDAS, MODAS E ARMARINHO
Grande sortimento de voile de pura lã, metro 600 réis Nos porões dos navios, os negros eram amontoados, comprimidos uns contra os outros
N
as duas últimas dé- caram. Um grande desfile barbárie recua e a civiliza- populações negras, e que
cadas, a idéia de atravessou a cidade antiga, ção avança”. não foram contempladas
libertação dos es- desde a Rua 1º de Março Embora a luta final te- com nenhum tipo de com-
cravos foi aos poucos se ir- até o passeio público. nha se dado na cidade de pensação.
radiando para o interior do Fortaleza, foi no interior Em razão disso, é lícito
Brasil, motivando vários Victor Hugo da província, na pequena prever que a pauta de de-
segmentos da sociedade, Em meio às manifesta- vila de Aracape, que logo bates do Parlamento, neste
desde simples jangadeiros e ções, o presidente da Pro- depois se chamaria Reden- final do século 19, deverá
donos de barcaças no Nor- víncia, Sátiro de Oliveira ção, que a Sociedade Cea- incluir propostas visan-
deste, que se recusavam a Dias, declarou em tom so- rense Libertadora liderou a do contemplar, de alguma
participar do transporte lene: “Para a glória imor- primeira grande campanha forma, os ex-escravos e
de cativos, a jornalistas, tal do povo cearense e em pela abolição. seus descendentes. É possí-
maçons, poetas, escritores nome e pela vontade desse Os jangadeiros também vel até que essa discussão
e políticos que abraçaram mesmo povo, proclamo ao tiveram papel decisivo no não tenha fim na próxima
a causa com entusiasmo. país e ao mundo que a pro- processo cearense de abo- década e termine se esten-
A criação de trabalho para os
Na Província cearense, o víncia do Ceará não possui lição da escravatura. Em libertos é uma preocupação dendo pelo século 20, mas
fi m da escravidão foi pro- mais escravos”. 27 de janeiro de 1881, ten- deve-se ter em vista que a
clamado há quatro anos. O abolicionista José do do à frente Francisco José reparação que precisa ser
O Ceará assumiu, no dia Patrocínio, que se encon- do Nascimento, conhecido Não faltaram discursos atribuída aos ex-escravos e
25 de março de 1884, a trava em Paris dias antes do como “Dragão do Mar”, de abolicionistas como Joa- sua gente não se confunde
responsabilidade histórica banimento da escravidão os jangadeiros firmaram quim Nabuco, José do Pa- com qualquer tipo de dá-
de decretar a extinção do no Ceará, enviou carta ao sua posição: “No porto do trocínio, Luís Gama e Ruy vida, por representar, isto
trabalho escravo em todo escritor Victor Hugo comu- Ceará não se embarcam Barbosa defendendo a ne- sim, um legítimo direito.
o seu território. A iniciati- nicando que uma província mais escravos!”. Com esta cessidade de oferecer opor- Ao longo da luta pela abo-
va pioneira repercutiu in- brasileira estava prestes a atitude, eles conseguiram tunidades para integrar os lição foram discutidas pro-
tensamente na Corte e nas ser considerada liberta do de fato abolir o tráfico de ex-escravos à sociedade. postas nesse sentido, como
províncias, reforçando os cativeiro. Ele pedia ao po- escravos na província. A grande dívida com os a criação de colônias agrí-
movimentos que já come- eta uma palavra de anima- Assim como ocorria no escravos libertos deve ser colas para os libertos, a de-
çavam a tomar corpo em ção, um conselho, que ser- Ceará, a luta pela abolição saldada, para que se possa sapropriação de terras não
outras partes do país, como visse de encorajamento ao agregou não apenas figuras construir uma sociedade exploradas e o desenvol-
Amazonas, Bahia e Paraí- Imperador Dom Pedro 2°, de expressão nas provín- justa e igualitária. vimento da agricultura. É
ba. no sentido de engajar-se na cias e na Corte. Militares Neste momento em que o mister que se estudem ain-
A grande festa da abo- campanha pela abolição. recusavam-se a perseguir Brasil comemora a assina- da outras formas de repara-
lição no Ceará reuniu a O grande pensador fran- escravos fugidos; mascates tura da Lei Áurea, alguns ção, como oportunidade de
população da capital, na cês, na resposta a Patro- ajudavam na distribuição abolicionistas colocam em emprego na cidade e acesso
Praça Castro Carreira. Ca- cínio, considerou “grande dos panfletos a favor da foco a preocupação diante à educação, conferindo dig-
nhões da Fortaleza de Nos- novidade” o gesto dos ce- abolição; ferroviários es- do quadro ainda nebuloso nidade ao indivíduo.
sa Senhora de Assunção arenses e reforçou que com condiam negros nos trens
reboaram e os sinos repi- a iniciativa libertadora “a ajudando-os nas fugas.
Movimento abolicionista se
espalhou pelas províncias
A Sociedade Emancipa- lar em 1870.
dora Amazonense, funda- Em Goiás, o movimento
da em 1870, cumpriu pa- chegou a causar conflitos,
pel decisivo na campanha mas nos meses que antece-
libertadora da Província deram a assinatura da Lei
do Amazonas. A 24 de Áurea a escravidão estava
abril de 1884, a Assem- quase extinta em toda a
bléia Provincial autorizou província. No Rio de Janei-
o governo a despender 300 ro, houve embates violen-
contos com alforrias. A 24 tos, em especial em áreas
de maio foi reconhecido onde a lavoura cafeeira
oficialmente que Manaus se expandiu. A mobiliza-
não tinha mais escravos. ção cresceu em meados de
Em Pernambuco, a luta 1870. Nesse ano, um grupo
contou com os nomes de de parlamentares lançou
José Mariano, João Ramos, campanha pela abolição
Gomes de Matos e outros da escravatura. No final de
Os negros mantiveram tradições do continente africano, como o jogo da capoeira que criaram o Clube do 1887, já ocorriam alfor-
Cupim. O movimento con- rias espontâneas em toda a
seguiu minar a força dos província.
escravocratas. As barcaças Em São Paulo, diversas
Mossoró se destaca como cidade pioneira pernambucanas também cidades libertaram seus es-
A força do movimento – Mossoró está livre: início desse ano. apoiaram a fuga de escra- cravos no ano passado. Em
abolicionista logo atingiu aqui não há mais escra- No Piauí, em 1870, o vos. São Carlos, o fim do cati-
Mossoró, que abraçou a vos! jornalista David Moreira Na Província da Bahia, o veiro foi proclamado em
causa com entusiasmo O exemplo dessa cida- Caldas iniciou ardorosa movimento ganhou a ade- dezembro. No Rio Grande
– especialmente a Loja de passou a ser seguido campanha abolicionista são da imprensa de Salva- do Sul, o movimento co-
Maçônica 24 de Junho. por comunidades do in- pela imprensa, fundando dor, que decidiu não mais memorou a libertação na
A cidade comemorou em terior da Província do Rio o jornal Oitenta e Nove, publicar anúncios de fuga, capital em 1884. Com um
grande evento, no dia 30 Grande do Norte. Açu li- que em sua primeira edi- compra e venda de escra- número menor de escravos,
de setembro de 1883, o bertou seus escravos em ção, de 1º de fevereiro de vos. Pessoas simples, como em relação às demais pro-
fim da escravidão. Naque- 24 de junho de 1885; de- 1873, “profetizou” a pro- Manoel Roque, negro e víncias, o Paraná também
la ocasião, o líder da So- pois Carnaúba, em 3 de clamação da república operário, e personalidades, se engajou na luta, e antes
ciedade Libertadora Mos- março de 1887; e, logo a brasileira no centenário como Castro Alves, deram da lei, cidades como Porto
soroense, Joaquim Bezerra seguir, Triunfo, em 25 de da Revolução Francesa, grande força ao movimen- de Cima já estavam livres
da Costa Mendes, fez uma maio de 1887. Natal não no próximo ano, ou seja, to que começou a se articu- da escravidão.
declaração histórica. possuía mais escravos no em 1889.