S OLU Ç Õ E S INOVA D ORA S

Avaliando pavimentos
Conceito de Irregularidade seus usuários, além de acelerar a degradação
A irregularidade longitudinal de uma via do pavimento.
pode ser entendida como o resultado da soma
das diferenças entre a superfície do pavimento Importância da irregularidade
RUBENS VIEIRA em estudo e aquela que seria a superfície plana Os métodos de avaliação e gerência de
é tecnólogo civil com do projeto geométrico. manutenção de pavimentos estão baseados
cursos de pós-graduação O DNIT define no Glossário de termos em avaliações funcionais e estruturais que
em Transportes na Poli-
USP, integrante do corpo técnicos rodoviários, Publicação IPR 700, o identificam o estado atual e a vida útil do
técnico de nível superior termo irregularidade de superfície como sendo: pavimento.
do IPT desde 1985 e 1) Totalidade das diferenças de configu- A irregularidade tem importância rele-
pesquisador da Área de ração (estado) da superfície real com respeito vante na manutenção de pavimentos, primeiro
Pavimentos da Seção de
Geotecnia do CT-Obras à superfície ideal geométrica correspondente, pelos aspectos econômicos. É o principal
do IPT sejam estas devidas a danificações ou intro- fator de influência na opinião pública sobre
duzidas durante o processo de construção ou a qualidade da via. A AASTHO (American
produção. Association of State Highway and Transpor-
2) Desvio da superfície real da superfície tation Officials) criou em meados do século
técnica. passado o fator serventia do pavimento (PSR
3) Desvio da superfície real de uma su- – Present Serviceability Rating), desenvolvido
perfície de referência. para avaliar a condição do pavimento. O PSR
4) Desvio da superfície de rodovia em é altamente correlacionado com a irregulari-
relação a um plano de referência, que afete a dade que era, então, medida pela opinião de
dinâmica dos veículos, a qualidade de rolamen- usuário.
to e as cargas dinâmicas sobre a via. A irregularidade é fator preponderante
A ASTM E 867 utiliza o termo roughness atualmente na gerência de pavimentos de
e o define como sendo (numa tradução livre) rodovias e aeroportos em inúmeros órgãos
ELAINE MARIA SOARES “os desvios de uma superfície a partir de uma de diversos países, sendo adotados valores
é tecnóloga civil, superfície plana verdadeira com dimensões ca- limites aceitáveis para a manutenção de
integrante do corpo
racterísticas que afetam a dinâmica do veículo pavimentos. É o caso da Artesp – Agência
técnico de nível superior
do IPT desde 2009 e e da qualidade do passeio”. Reguladora de Serviços Públicos Delegados
pesquisadora da Área de Segundo Barella (2008), a irregularida- de Transporte do Estado de São Paulo, a qual
Pavimentos da Seção de de longitudinal de um pavimento representa estabelece que as concessionárias devem
Geotecnia do CT-Obras
o conjunto dos desvios indesejáveis de sua manter as vias em condições para garantir que,
do IPT
superfície, que atrapalha o rolamento rápido e durante a vida útil do pavimento, o valor de
suave dos veículos, gera insegurança e onera irregularidade fique abaixo de 35 contagens/
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Tabela 1. Classificação funcional para rodovias pavimentadas (OCDE)
rvieira@ipt.br
elainems@ipt.br IRI (m/km) QI (cont/ km) V (a) (km/h) Condição funcional Categoria OCDE
≤ 3 ≤ 39 >120 Excelente 1
>3 e ≤ 6,5 > 39 e ≤ 84,5 100-120 Aceitável 2
>6,5 e ≤8,5 > 84,5 e ≤ 110,5 70-90 Tolerável 3
>8,5 e ≤10,5 >110,5 e ≤136,5 50-60 Intolerável 4
>10,5 >136,5 < 50 Péssima 5
V (a) = velocidade de tráfego “confortável”
km, quociente de irregularidade (QI) ou In-
ternational Roughness Index (IRI) ≤ 2,69 m/
km o recebimento.
Métodos de avaliação e índices que
representam a irregularidade longitudinal
de pavimentos
Para quantificar irregularidades, foram
desenvolvidos diversos métodos, podendo ser
classificados inicialmente em dois tipos: um
por meio de avaliadores e outro por meio de
equipamentos de medida.
No primeiro método, tomam-se como
medida notas de um grupo de avaliadores
atribuídas à irregularidade pela percepção ao
transitar com um veículo pela via. No segundo,
utilizam-se equipamentos, “perfilômetros”,
construídos para medir os desvios da superfície
e, por meio de tratamento estatístico, expressar
as irregularidades.
Dois índices são frequentemente utiliza-
dos no Brasil, o QI, quociente de irregularida-
de, expresso em contagens/
Quantificação das irregularidades
km, e o IRI, expresso em
m/km.
A OCDE (Organiza-
ção de Cooperação e Desen-
pode ser feita por vários métodos
volvimento Econômicos)
padronizou uma classificação com valores
atribuídos para as rodovias pavimentadas, em
função da irregularidade observada, conforme
apresentado na Tabela 1 (página anterior).
Equipamentos de medida da irregu-
laridade
O primeiro perfilômetro conhecido
internacionalmente foi o da então AASHO,
hoje AASHTO. Consistia de uma carretinha
rebocada instrumentada para medir as irre-
gularidades durante o percurso pela via. O
resultado final era dado após um tratamento
estatístico dos dados.
O TRL (Transportation Researh Labo-
ratory) na Inglaterra desenvolveu um equipa-
mento simples chamado Merlin (Machine for
Evaluating Roughness using Low-cost Instru-
mentation) que mede também a irregularidade
em trechos de 400m (foto acima).
Equipamento do IPT tipo
O equipamento consiste de uma estrutura Merlin, utilizado para
medir irregularidade em
metálica de 1,80 m de comprimento, tendo
trechos de 400 metros
três apoios, um numa roda dianteira, outro na
traseira. Há uma barra auxiliar junto à perna
traseira (para estabilizar o conjunto), além de
uma ponta de prova articulada situada exata-
mente no ponto médio dos dois apoios.
Este equipamento, devido à facilidade de
operação e o baixo custo, é bastante utilizado
pelas pavimentadoras no controle tecnológico
das obras para verificar a irregularidade de
trechos recentemente construídos.
Outros equipamentos foram desen-
volvidos com diversas tecnologias com o
mesmo objetivo de medir a irregularidade de
pavimento. Um equipamento em especial foi
construído utilizando tecnologia de acelerôme-
tros e sensores laser. É um dos mais utilizados
como ferramenta importante para avaliação e
gerência de manutenção de pavimentos.
Conforme Barella (2008), até o ano de
2002 os equipamentos utilizados no Brasil para
efetuar os trabalhos de levantamento dos perfis
longitudinais dos pavimentos eram do tipo
resposta. Atribui-se como justificativa para esse
fato o alto custo para importar equipamentos
do exterior, falta de informação etc.
A partir de 2005, o edital do DNIT para
a contratação de serviços de coleta e medida
de irregularidade longitudinal de pavimentos
exigiu que os trabalhos fossem feitos com
equipamentos do tipo inerciais.
revista notícias da construção / dezembro 2012 43
SOLUÇÕES INOVADORAS

RSP Mark IV (Road Surface Profiler)

Em janeiro de 2011, foi adquirido pelo
Centro de Tecnologia de Obras do IPT o RSP
Mark IV (Road Surface Profiler), conforme
apresentado na foto ao lado, desenvolvido
pela Dynatest em 2004.
Trata-se de um equipamento que tem
por finalidade a obtenção de parâmetros
referentes à caracterização e avaliação fun-
cional do pavimento (macrotextura e perfil
longitudinal).
O RSP Mark IV trabalha com um
sistema composto por até dois acelerôme-
tros que medem a aceleração vertical, dois
sensores de altura, que medem a distância
­(veículo-pavimento) sem contato e, o DMI
(Distance Measure System), componente Perfilômetro laser do IPT
responsável por medir a distância longitudi- Considerações Finais para medir irregularidade
A irregularidade é o principal parâme- pelo método RSP (Road
nal registrada com o movimento do veículo.
Surface Profiler) Mark IV
Os dados obtidos em tempo real por tro considerado na avaliação funcional dos
meio do software de aquisição de dados pavimentos e ferramenta dentro dos SGPs
RSPwin são gerados diretamente em IRI, utilizados pelas concessionárias de rodovias
calculados conforme as especificações do para a tomada de decisão, para otimizar in-
Banco Mundial. vestimentos e maximizar a vida útil de projeto
Estes parâmetros assumem importância dos pavimentos, sejam de concreto de cimento
na avaliação e caracterização das condições portland ou asfáltico.
de superfície do pavimen-
to ligadas à segurança
e conforto do usuário, Metas são otimizar investimentos e
servindo também, de fer-
ramenta útil para os SGPs
maximizar vida útil dos pavimentos
(Sistemas de Gerência de
Pavimentos) Com investimentos previstos pelo go-
Entre as características técnicas do RSP verno federal para o modal rodoviário até
Mark IV, podem-se citar: 2020, somados aos investimentos privados
• portátil, permite a montagem em di- no setor, espera-se um aumento também nas
versos veículos; pesquisas em novos equipamentos, normas
• os perfis longitudinais obtidos se ba- e procedimentos como também aumento no
seiam no Método de Dakota do Sul; padrão de exigência na qualidade, conforto e
• sistema de aquisição de dados efetuado segurança das rodovias brasileiras.
pelo software RSPwin, permitindo a verifi- O conceito de aumento de qualidade
cação dos dados em tempo real; neste caso se traduz pela diminuição de
• sistema composto por dois acelerôme- custos para os usuários, concessionárias de
tros, dois sensores laser; e DMI; rodovias e da administração pública e au-
• não necessita de interdição da via para mento da eficiência no sistema de logística
coletar os dados em campo; e distribuição de mercadorias e serviços,
• equipamento Classe I, atende a norma gerando maior competitividade e produtivi-
ASTM E 950-98. dade para o país.

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