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A hegemonia do ocidente
A ideia de que o ocidente seja gravemente culpável, moral e
ideologicamente, é para muitos difícil até de compreender,
imaginem se é ideia que o ocidente consiga abraçar. Não é tarefa
fácil perguntar se essa geografia imaginada chamada "ocidente"
seria realmente excepcional, ou se o mundo dito "livre" ou
"civilizado" seria realmente civilizado, principalmente quando a
terceira feiticeira de Shakespeare – orientais
orientalizados, sahibs [senhores, patrões] de pele escura,[2] os
"tocados pelo Ocidente" e os "negros de casa"[3] – reage com
fúria ainda maior que a fúria de suas horrendas irmãs, o
neoconservador e o neoliberal humanitário intervencionista.
É ideia generalizada que, apesar das falhas e fracassos, a
civilização ocidental defenderia ideias, ideais e padrões que
seriam componentes indispensáveis de qualquer bússola moral
legítima. E assim, nessa narrativa, a hegemonia e a hierarquia
ocidentais acabam moralizadas e legitimadas.
Raríssimos intelectuais hegemônicos são preparados sequer
para analisar a ideia de que talvez as estruturas sociais
ocidentais e a epistemologia de valores que lhes subjaz sejam
irremediavelmente imprestáveis.
Apoiando sempre os atores mais brutais e genocidas, "choque e
pavor", ocupação, tortura, subjugação, aquecimento global, a
sexualização e a conversão da mulher em mercadoria, a injustiça
social crescente, Barack Obama diz que essas coisas não são
"quem nós somos" – quando isso é precisamente o que são.
A dissonância na cognição é flagrante – valores e ações deixam-
se ver completamente divorciados, e desculpas magras fazem
sumir o fato de que jamais algum valor elevado ou sublime dirigiu
o motor de destruição, o único que anima a "civilização"
ocidental.
Anticolonial, antiapartheid
Desde o primeiro dia, a República Islâmica do Irã aplica seu peso
como apoio a dois objetivos morais e políticos chaves: aos
movimentos de resistência contra o colonialismo e aos
movimentos de resistência antiapartheid na África do Sul e na
Palestina.
Fato hoje apagado magicamente dos discursos públicos no
ocidente, o Congresso Nacional Africano e Nelson Mandela, ao
seu tempo, foram declarados terroristas por líderes ocidentais e
assim classificados pela lei dos EUA.
Liberais e esquerdistas ansiosos e gaguejantes tolerados
pelo establishment – como seus contrapartes contemporâneos
hipócritas e oportunistas – jamais "aprovariam" a violência e a
"brutalidade" da resistência, e esses, abrigados em suas torres
de marfim prodigamente pagas, lá de longe, daquele ponto de
vista "moral" privilegiado e seguro, declararam todos os lados
igualmente corruptos.
Foram então, e continuam até hoje, acolhidos pelo establishment,
frequentemente defensores premiadíssimos de "direitos
humanos". Mas na verdade, como autoelogiadores de "mãos
limpas", regularmente impediram que se constituísse qualquer
resistência efetiva contra um império poderoso. Leões de chácara
da probidade, digamos assim.
Contudo, graças à resistência e aos "apologistas" da resistência,
o apartheid institucional foi derrubado na África do Sul, e o campo
dessa batalha moral vital mudou-se, inteiro, para a Palestina.
Apesar de anos de propaganda ocidental, desinformação
jornalística e repetidas ameaças dos israelenses, o Irã jamais
ameaçou iniciar confronto militar com Israel.
Por causa dessa independência, e do apoio aos que resistem
contra a ocupação na Palestina e no Líbano – chamados de
"antissemitismo" e "terrorismo" na metrópole que controla as
narrativas –, os iranianos comuns viveram décadas sob
interferência ocidental, demonização, sanções, guerra, ataques
químicos massivos repetidos organizados e pagos pelo ocidente,
e ataques e derrubada de aviões civis, pela Marinha dos EUA e
pela Força Aérea de Saddam Hussein.
Think tanks, a mídia-empresa e seus veículos controlados pelo
estado no ocidente podem caricaturar e demonizar sem parar o
Irã e a República Islâmica. Os iranianos sabem ver, em vasta
maioria, que sua independência, sua dignidade e sua segurança
dependem de impedir que as impiedosas potências hegemônicas
consigam ocupar os postos de controle em nossa região.
Apologistas do império
O apoio a extremistas no Afeganistão, depois invadir o
Afeganistão, o apoio a Saddam, depois destruir o Iraque e
adiante também a Líbia, matar de fome o Iêmen e Gaza,
esmagar o Bahrain, repetir na Síria a mesma política dos anos
1980s contra a Nicarágua, apenas inventando extremismo
religioso, onde antes inventaram os Contras, e o golpe na
Turquia, todos esses passos são conectados à meta de chegar
aos pontos de mando nessa parte do mundo.
Bem depois de organizações estrangeiras de inteligência
terem facilitado o surgimento de dezenas de milhares de
combatentes estrangeiros na Síria, forças do Hezbollah (2013) e
iranianas (2015) entraram na Síria em números significativos, a
pedido do governo sírio.
Ignorando os apologistas do Império e também os liberais que se
autopromovem e autoelogiam-se, os iranianos compreenderam
que o objetivo dos EUA na Síria não é "liberdade e democracia",
mas minar a Síria para ferir o Irã e assim ajudar o regime
israelense.
Quando o diretor da inteligência militar israelense declara que
seu país prefere o Estado Islâmico ao presidente sírio Bashar al-
Assad; quando o ex-diretor do Mossad admite tratar militantes da
Frente Al-Nusra feridos, porque seu governo não é "alvo
específico da Al Qaeda"; e quando o ex-ministro da Defesa de
Israel explica como os combatentes do Estado Islâmico que
ocupam a fronteira com a Síria tiveram a gentileza de "pedir
desculpas" aos israelenses... é claro que Israel escolheu entre a
bandeira síria e a bandeira do terror.
Desinformação jornalística
Semelhante ao ataque ilegal dos mísseis de EUA, Reino Unido e
França contra a Síria, também o ataque israelense contra a base
aérea T4 da Síria e o assassinato de sete soldados iranianos
estão conectados à mesma política de fortalecer os extremistas.
Os iranianos estavam legalmente onde estavam, para ajudar o
Exército Árabe Sírio a liberar os últimos bolsões onde ainda havia
terroristas.
Apesar de anos de propaganda ocidental, desinformação
jornalística e repetidas ameaças israelenses, o Irã jamais
ameaçou iniciar conflito militar com Israel. Mas agora o primeiro-
ministro israelense, cercado, desgastado e autoindulgente
Benjamin Netanyahu errou a dose e cometeu erro grave.
Os EUA acusam sem apresentar motivo ou qualquer prova,
atacam antes de qualquer inspeção por especialistas, destroem
sem qualquer explicaçãotodas as provas de que jamais houve
naquele local qualquer arma química. Empurrada pelo
excepcionalismo ocidental, a lei da selva avança, sem deixar
esperanças para qualquer justiça institucional [isso também é a
caaaaaaaaaaaara do golpe no Brasil, hoje (NTs)].
Qualquer adiamento ou contenção que evite resposta à agressão
cometida por Israel só encorajaria mais crimes e mais violações
contra o Irã e os iranianos. O Irã retaliará como ação de
autodefesa.
Orientalismo à parte, Voltaire sabia e disse corretamente: "Deus
não ajuda grandes batalhões. Deus ajuda quem não perde
tiro."[4] *******