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MODELO MULTICRITÉRIO DE AVALIAÇÃO DE

CAPACIDADE EMPREENDEDORA
EM EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA

Carlos António Bana e Costa1


Maria Bernadette Frota Amora Silva2

Resumo: Este artigo descreve o processo de construção de um modelo de avaliação de


capacidade empreendedora, a ser utilizado na seleção de candidatos a programas de
incubação de empresas de base tecnológica. O modelo foi desenvolvido em interação com
os responsáveis da IncubaSOFT, Incubadora de Software do Instituto de Software do
Ceará, seguindo a abordagem multicritério MACBETH e usando o sistema de apoio à
decisão M-MACBETH. A estruturação do modelo resultou na identificação de sete
critérios de avaliação, com base nos quais foi criado um índice de capacidade
empreendedora (Icape) e foram definidas regras de seleção de candidatos à incubação. Para
analisar a consistência do modelo, o Icape foi aplicado a nove empreendedores,
proprietários de empresas anteriormente incubadas. Embora desenvolvido num contexto
específico, o Icape pode ser aplicado, com os devidos ajustamentos, em outras incubadoras
de empresas de base tecnológica.

Palavras chave: Capacidade empreendedora. Empresas de base tecnológica. Análise


Multicritério. Abordagem MACBETH.

Abstract: This paper describes the construction of an evaluation model of


entrepreneurship capacity to be used in the process of selecting candidates for incubation
programmes in technological-based firms. The model was developed in interaction with
the managers of the incubator IncubaSOFT, following the multicriteria approach
MACBETH and using the decision support system M-MACBETH. In structuring the
model, seven evaluation criteria were identified, based on which an index of
entrepreneurship capacity (Icape) was created and selection rules were defined. To analyse
the consistency of the model, it was applied to nine entrepreneurs, whose firms were
already incubated. Although developed for a specific context, Icape can be applied, with
the necessary adjustments, to other incubators of technological-based firms.

Key-words: Entrepreneur capacity.Technological-based firms. Multicriteria Analysis.


MACBETH approach.

_________________________________________________________________________

1
CEG-IST, Centro de Estudos de Gestão do Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, e-
mail: carlosbana@ist.utl.pt.
Department of Management (Operational Research Group), London School of Economics
and Political Science (LSE), e-mail: c.bana@lse.ac.uk.
2
UECE, Universidade Estadual do Ceará, Campus do Itaperi, Faculdade Christus, e-mail:
bernadetteamora@terra.com.br.
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1. INTRODUÇÃO características psicológicas dos
empreendedores (McClelland, 1987;
O Instituto de Software do Ceará McClelland e Burham, 1987); e a
(INSOFT), com o objetivo de tornar o perspectiva sociocultural adota a origem
Ceará um centro de excelência em cultural e social do indivíduo como
pesquisa, desenvolvimento e produção de referência para a análise da figura do
software, abriga uma incubadora de empreendedor (Young, 1971; Filion,
empresas de base tecnológica, a 1991; Bygrave et al., 1996). Embora não
IncubaSOFT – Incubadora de Software. se possa afirmar que uma pessoa que
A cada dois anos, a IncubaSOFT possua uma determinada característica
seleciona candidaturas submetidas ao seu terá sucesso em seu empreendimento, ela
programa de incubação de empresas, com terá seguramente mais chances de ser
base na avaliação, não só dos planos de bem sucedida do que outra que a não
negócios respectivos, mas também da possua (Carton et al., 1998). Em qualquer
capacidade empreendedora dos daquelas três abordagens, o
proponentes. De fato, os diretores da empreendedor é considerado um
IncubaSOFT, responsáveis pela elemento vital, principalmente quando se
avaliação, sabem, por experiência, que a trata da criação de empresas de base
capacidade empreendedora potencia o tecnológica. Ao contrário das empresas
sucesso empresarial. convencionais de capital centrado nas
Esta constatação vai ao encontro de instalações e na infra-estrutura e/ou
muitos estudos: por exemplo, Luczkiw equipamentos, as empresas de base
(1997) afirma que o êxito de um tecnológica, por serem detentores de
empreendimento não advém conhecimento, exigem um capital
exclusivamente do mercado, da orientado na qualificação humana.
tecnologia, ou do capital, mas sim da Entretanto, o processo de avaliação
agregação destes fatores com as atitudes de capacidade empreendedora realizado
e comportamento do empreendedor; e, pela IncubaSOFT, essencialmente
segundo Bygrave et al. (1996), “o baseado em entrevistas, não satisfaz os
ingrediente chave” na consolidação de seus responsáveis. De 15 empresas
um empreendimento é, precisamente, o incubadas, todas com planos de negócios
empreendedor. De acordo com Sexton e à partida promissores, 6 não tiveram
Bowman (1985), para além de serem sucesso (3 não completaram o período de
gestores capazes, os bons incubação de 2 anos e outras 3
empreendedores devem possuir um encerraram após a conclusão da
conjunto de características psicológicas incubação). Para os diretores da
que os diferenciam dos executivos IncubaSOFT, esta elevada taxa de
empresariais. Estudos recentes encontram insucesso resultou da incapacidade
uma relação positiva entre o capital empreendedora dos proprietários, e,
humano dos fundadores e o sucesso da conseqüentemente, a avaliação falhou,
nova empresa (Baptista, Karaöz e por não detectar, a priori, essas
Mendonça, 2007). insuficiências.
As características e as habilidades Frente a esta realidade, emergiu a
empreendedoras têm sido estudadas sob decisão de desenvolver um modelo de
três perspectivas distintas: econômica, avaliação adequado, a ser utilizado, no
comportamental e sociocultural futuro, para avaliar a capacidade
(Guimarães, 2002; Oliveira et al., 2003). empreendedora dos inscritos no programa
A perspectiva econômica vincula o de incubação. Este artigo aborda as fases
empreendedor à característica da principais do processo sócio-técnico
inovação, associando-o ao desenvolvido para construir o modelo,
desenvolvimento econômico e ao descrito em detalhe por Amora Silva
aproveitamento de oportunidades (2003).
(Schumpeter, 1985; Shane, 2000); a
perspectiva comportamental detém-se nas
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2. METODOLOGIA Na perspectiva do
empreendedorismo, o modelo de Filion
O estudo da literatura forneceu o (1991, 1999a, 1999b) foi adotado como
fundamento teórico para a estruturação referencial teórico. Este modelo,
do modelo, revelando que múltiplas apresentado na Figura 1, integra as
perspectivas deveriam ser consideradas. propriedades de modelos sistêmicos de
A adoção de uma metodologia atividades humanas e incorpora quatro
multicritério (Belton e Stewart, 2002) elementos que se influenciam
tornou-se assim clara. E, porque o reciprocamente e funcionam como
modelo a construir deveria refletir, suporte à formação da visão do
essencialmente, a experiência e juízos de empreendedor: Relações,
valor dos agentes de decisão no contexto Wetanschauung, Energia e Liderança. A
específico da IncubaSOFT, palavra alemã Wetanschauung, traduzida
incorporando-os de forma interativa na por Dolabela (1999) para a expressão
construção do modelo, impôs-se o “conceito de si”, designa os valores do
recurso à abordagem MACBETH (Bana e indivíduo, sua forma de ver o mundo, a
Costa et al., 2003 e 2005a). A distinção motivação. Este conceito está quase
fundamental entre MACBETH e outros sempre vinculado a modelos, ou seja, as
métodos multicritério é que este requer pessoas com as quais o indivíduo se
apenas julgamentos qualitativos sobre as identifica. Segundo Dolabela (1999,
diferenças de atratividade entre p.77), as pessoas só realizam algo quando
elementos, para gerar pontuações para as se julgam capazes de fazê-lo, portanto o
opções em cada critério e para ponderar “conceito de si” configura-se como a
os critérios (Bana e Costa e Chagas, principal fonte de criação: “Projetamos o
2004). O processo de construção do futuro com base no que somos. A
modelo envolveu uma componente empresa é a exteriorização da nossa
qualitativa, de caráter exploratório, que personalidade, do que se passa em nosso
visou identificar os fatores essenciais à íntimo (...) nossas características pessoais
avaliação da capacidade empreendedora, irão influenciar a nossa empresa”.
e uma componente quantitativa que visou “Conceito de si” foi utilizado nesta
a definição de um “índice de capacidade perspectiva como critério de avaliação no
empreendedora” (Icape), usando o modelo proposto.
sistema de apoio à decisão M-
MACBETH (Bana e Costa et al., 2005b)
que implementa a metodologia
MACBETH.

Wetanschauung
Visão

Relações Energia

Liderança

Figura 1: Processo de criação de uma visão (Filion, 1991).

O processo decorreu de junho a foram alguns agentes de decisão das três


outubro de 2003 e seguiu os princípios incubadoras de empresas existentes no
construtivistas de apoio à decisão Estado do Ceará (IncubaSOFT, PARTEC
enunciados por Bana e Costa (1993). Os - Parque Tecnológico da Fundação
interlocutores envolvidos no processo Núcleo de Tecnologia Industrial e
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PADETEC - Parque de Desenvolvimento 3. CONSTRUÇÃO DO MODELO
Tecnológico), e proprietários de empresas
de sucesso anteriormente incubadas na 3.1. ESTRUTURAÇÃO
IncubaSOFT.
A informação necessária foi obtida A fase de estruturação teve em vista a
por análise documental, entrevistas de identificação e discussão dos aspectos
profundidade individuais aos diretores considerados pelos interlocutores como
das três incubadoras, conferências de importantes para avaliar os
decisão com os diretores da IncubaSOFT empreendedores. Esses aspectos foram
e questionário aos empreendedores. Uma estruturados em forma de árvore, como
“conferência de decisão” – decision mostra a Figura 2, e de entre eles foram
conference (Phillips e Bana e Costa, selecionados os sete critérios de avaliação
2007) – é uma reunião entre atores-chave definidos no Quadro 1, respeitando as
que desejam resolver assuntos propriedades básicas de isolabilidade,
importantes para a organização, assistidos inteligibilidade e operacionalidade. À
por um facilitador imparcial, especialista primeira vista, esta estrutura parece ser
em análise de decisão, que actua como não exaustiva, por não considerar a
um “consultor de processo” – process inovação, aspecto fundamental ao
consultant (Schein, 1999) – utilizando empreendedorismo. Contudo, a
um modelo com a informação relevante e capacidade inovadora não é uma
juízos de valor, criado durante a característica única dos empreendedores.
conferência, para ajudar o grupo a ver A capacidade para reconhecer e
mais claro sobre o problema. aproveitar oportunidades a partir do
Para testar a validade do modelo, conhecimento tecnológico gerado pode
foram selecionados nove também surgir nas grandes empresas
empreendedores, proprietários de (Busenitz e Barney, 1997). Assim, a
empresas anteriormente incubadas na capacidade inovadora foi considerada um
IncubaSOFT. requisito prévio de admissibilidade (ou
rejeição) e não um critério de avaliação
da capacidade empreendedora.

Figura 2: Árvore de aspectos de avaliação de capacidade empreendedora.

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Quadro 1: Critérios de avaliação de capacidade empreendedora.
Critérios Definição
Capacidade de agir diante de dificuldades relevantes, repetindo
C1 - Persistência
ou mudando de estratégia a fim de enfrentá-las ou superá-las
C2 - Motivação Motivação das pessoas para iniciar uma empresa
C3 - Disposição ao risco Capacidade de enfrentar riscos
Adoção de uma postura favorável em relação às parcerias de
C4 - Compartilhamento
natureza técnica, financeira e ou gerencial
Know-how tecnológico. Aptidão em desempenhar uma tarefa
C5 - Habilidade técnica
especializada que envolve certo método ou processo
“Maneira pela qual o indivíduo vê o mundo real” (Filion, 1991);
“auto-imagem” (Dolabela, 1999). Tem a ver com o fato de o
C6 -Conceito de si
empreendedor ser ou não influenciado por um modelo de
referência para o desenvolvimento do seu projeto de negócio
C7 - Liderança Iniciativa, aptidão em convencer e obter colaboração de pessoas

Para operacionalizar os critérios, relacionados entre si. Note-se que, em


associou-se a cada um deles um descritor cada descritor, foi identificado um nível
de performances, isto é, um conjunto “bom” de performance e um nível
ordenado de níveis de performance, “neutro” de performance. Estas duas
quantitativos ou qualitativos. O Quadro 2 referências servirão para decidir sobre o
mostra o descritor construído para o valor intrínseco de cada candidato que
critério “Compartilhamento”, que venha a ser avaliado pelo modelo e assim
combina três aspectos mais elementares e balizar o processo de seleção.

Quadro 2: Descritor do critério C4- Compartilhamento.


Níveis de Níveis de
Descrição
impacto referência
O empreendedor aceita parcerias financeiras, técnicas e
N5 Bom
gerenciais
O empreendedor aceita parcerias financeiras e gerenciais, mas
não aceita parcerias técnicas; ou o empreendedor aceita
N4 parcerias financeiras e técnicas, mas não aceita parcerias
gerenciais
N3 O empreendedor só aceita parcerias financeiras.
O empreendedor não aceita parcerias financeiras nem
gerencias, mas aceita parcerias técnicas; ou o empreendedor
N2 não aceita parcerias financeiras nem técnicas, mas aceita Neutro
parcerias gerenciais; ou o empreendedor não aceita parcerias
financeiras, mas aceita parcerias técnicas e gerenciais
N1 O empreendedor não aceita nenhum tipo de parceria.

A Figura 3 mostra as performances de um nível de performance de cada


dos nove empreendedores de teste, descritor de cada critério.
definidas pela associação a cada um deles

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Figura 3: Performances dos empreendedores.

3.2. ÍNDICE DE CAPACIDADE A pontuação de um empreendedor


EMPREENDEDORA num dado critério é determinada através
de uma função de valor, construída pela
O modelo multicritério de avaliação aplicação do método MACBETH,
construído é do tipo aditivo, permitindo comparando qualitativamente, dois a
definir um “índice de capacidade dois, os níveis de performance do
empreendedora” (ICAPE) pela expressão descritor respectivo. Uma função de valor
seguinte: permite converter as performances dos
empreendedores em pontuações, sendo
7
∑ p j .v j ( a ) ,
100 a pontuação do nível de referência
Icape(a) =
j =1
“bom” e 0 a pontuação de “neutro”. A
Figura 4 mostra a matriz de julgamentos
sendo vj(a) a pontuação do empreendedor qualitativos efetuados pelos avaliadores,
a segundo o critério Cj e pj o coeficiente para o critério Compartilhamento, e a
de ponderação do Cj (j = 1, …, 7). respectiva função de valor determinada
pelo software M-MACBETH.

Figura 4: Aplicação do MACBETH para construir a função de valor do critério


“Compartilhamento”.

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Os coeficientes de ponderação dos ‘muito forte’ ou ‘extrema?”. Este
critérios também foram determinados questionamento foi realizado para cada
aplicando o MACBETH, com base na um dos critérios e os julgamentos
comparação, dois a dois, de oito efetuados permitiram ordenar os
empreendedores fictícios de referência empreendedores fictícios e,
definidos com base nos níveis de conseqüentemente, definir e validar a
referência (ver Figura 5). Sete deles ordenação dos coeficientes de
foram definidos ao nível “bom” em um ponderação. Em seguida, foi requisitado
critério e ao nível “neutro” em cada um aos decisores que respondessem a um
dos restantes e o oitavo ao nível “neutro” outro tipo de questão: “A diferença entre
em todos os critérios. Inicialmente foi melhorar de ‘neutro’ para ‘bom’ num
solicitado aos decisores que critério em vez de melhorar de ‘neutro’
respondessem a seguinte pergunta: para ‘bom’ noutro critério (de menor
“Imaginem que existe um empreendedor coeficiente de ponderação) é: ‘muito
“neutro” em todos os critérios. O fraca’ ‘fraca’, ‘moderada’, ‘forte’, ‘muito
acréscimo de capacidade empreendedora forte’ ou ‘extrema?”. A aplicação do
deste indivíduo, se melhorar a sua MACBETH para o conjunto de todos os
performance do nível ‘neutro’ para o julgamentos obtidos permitiu determinar
nível ‘bom’ em apenas um dos critérios é: os valores a atribuir aos coeficientes de
‘muito fraca’ ‘fraca’, ‘moderada’, ‘forte’, ponderação (Figura 5).

Figura 5: Ponderação dos critérios.

Importa notar que é usual ver definir 4. ANÁLISE DO MODELO


coeficientes de ponderação (“pesos”)
com base na noção intuitiva de A aplicação do modelo para os nove
importância relativa dos critérios. Este empreendedores resultou nas pontuações
tipo de procedimento é incorreto e é mostradas na Figura 6. Note-se que os
considerado na literatura da Análise de cinco empreendedores cujas empresas
Decisão como o “erro crítico mais estão consolidadas no mercado (emp. 1 a
comum” (Keeney, 1992). emp. 5) apresentam uma pontuação
global (Icape) superior a 50. No entanto,
nenhum empreendedor tem pontuação
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global superior a 100, o que significa que encerraram as suas empresas
não há na amostra empreendedores de apresentaram um resultado negativo, mas
excelência. No entanto, a maior sim um Icape abaixo de 50.
pontuação global (85.25) é a do Emp. 1, Em conclusão, foram definidas as
que era considerado pelos avaliadores seguintes regras de seleção: a) Icape(a) ≥
como um empreendedor ‘modelo’. Este 50 - o candidato a apresenta um índice de
fato denota que o nível de exigência na capacidade empreendedora que
identificação dos níveis “bom” foi recomenda a incubação da sua empresa;
eventualmente elevado. Adicionalmente, b) Icape(a) < 50 – o candidato a
observou-se a inexistência de apresenta um índice de capacidade
empreendedores com pontuação global empreendedora que não recomenda a
negativa. Nem mesmo os que já incubação da sua empresa.

Figura 6: Pontuações dos empreendedores.

Uma das maiores vantagens do uso entanto tem uma apreciação


do software M-MACBETH é que, além significativamente negativa no critério
de permitir uma avaliação global, permite “Risco”. Este tipo de análise é vantajoso
analisar quanto cada candidato é fraco ou em termos práticos, pois permite
forte em cada critério. Por exemplo, o recomendar ações corretivas específicas
perfil de pontuações do Emp. 5, mostrado para melhorar a capacidade
na Figura 7, mostra que este indivíduo, empreendedora.
embora seja bom em alguns critérios, no

Figura 7: Perfil do empreendedor Emp.5.

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O modelo foi considerado válido e critério. A Figura 8 mostra o gráfico
robusto, depois de terem sido efetuadas respectivo para o critério
diversas análises de sensibilidade e de “Compartilhamento”, que permitiu
robustez dos seus resultados, utilizando concluir que as recomendações do
as funcionalidades do M-MACBETH. modelo só seriam alteradas se o valor do
Em particular, analisou-se a sensibilidade coeficiente de ponderação do critério
dos resultados do modelo fazendo variar fosse no mínimo o dobro do definido.
o coeficiente de ponderação de cada

Figura 8: Análise de sensibilidade num coeficiente de ponderação.

5. CONCLUSÃO participativo da abordagem MACBETH e


declararam que o índice de capacidade
No Brasil, o empreendedorismo empreendedora deveria passar a ser
começa a ser tratado com o grau de utilizado sistematicamente nos processos
importância que lhe é devido, seguindo o de seleção. No que se refere ao software
exemplo do que ocorreu em países mais M-MACBETH, pode-se afirmar que a
desenvolvidos. De entre as políticas sua utilização exaustiva gerou confiança
públicas propostas ou em implementação no modelo construído. É importante
destaca-se a promoção e fomento à ressaltar que as discussões sobre os
cultura empreendedora, a partir de diversos pontos de vista e, em especial, as
programas de ensino de ocorridas durante a construção dos
empreendedorismo, bem como de uma descritores, resultaram num acréscimo
ampla reforma tributária, fiscal e legal, significativo de conhecimento,
cujo objetivo é a simplificação de propiciando uma compreensão global do
abertura de novas empresas. problema por parte dos intervenientes.
Na IncubaSOFT, a avaliação da Embora o modelo tenha sido
capacidade empreendedora era realizada construído para o contexto específico da
de forma eminentemente intuitiva. Este IncubaSOFT, ele poderá ser aplicado nas
artigo mostra que, com recurso à Análise incubadoras integradas ao Sistema
de Decisão e sem necessidade de SOFTEX, de âmbito nacional, mediante
substituir os processos intuitivos por os devidos ajustamentos, em particular
processos puramente analíticos, é nos coeficientes de ponderação.
possível construir um modelo estruturado
e integrado de apoio à seleção de 6. AGRADECIMENTOS
candidatos a empreendedores.
Todos os intervenientes enalteceram Os autores agradecem as sugestões
o caráter construtivo, recursivo e dos colegas Sérgio Forte da UNIFOR de
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Fortaleza e Rui Baptista do Instituto making. Journal of Business Venturing,
Superior Técnico de Lisboa. Para a n.1, p.9-30, 1997.
realização deste trabalho, o primeiro BYGRAVE, W., D’HEILLY, D.,
autor contou com o apoio do CNPq e da MCMULLEN, M., TAYLOR, N. (1996),
FCT (Fundação para a Ciência e Toward a not-for-profit analytical
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