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Curso: Reabilitação Urbana com foco em Áreas Centrais

Experiências internacionais de intervenção em centros urbanos

ITÁLIA- BOLONHA

A partir dos anos de 1960, Bolonha utilizou uma estratégia que ainda hoje é conhecida como
Conservação Integrada, que visa potencializar ações locais de transformação urbana qualitativa,
atuando de forma a redesenhar a economia da cidade por meio de pactos com diversos atores. A
idéia inicial era permitir que a área fosse recuperada em termos da sua estrutura física,
econômica e social, mantendo os antigos habitantes nos edifícios recuperados. Foi uma
importante experiência pioneira de participação popular no processo decisório municipal, e
priorizou a manutenção do uso residencial aliado à permanência das populações originais.

Aspectos positivos: A primeira experiência expressiva com preocupação da manutenção da


população local.

Aspectos negativos: A partir da década de 1980 a experiência sofreu transformações,


favorecendo a especulação imobiliária e a gentrificação. O objetivo maior passou a ser a
recuperação econômica e do valor imobiliário das construções, especialmente as tombadas, cuja
prática esteve associada à conversão aos usos do terciário moderno.

Fonte:
http://www.archi.fr/SIRCHAL/seminair/sirchal4/ZanchetiVPT.htm
http://www.forumpatrimonio.com.br/view_full.php?articleID=92&modo=1
http://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.034/700

EUA - NOVA YORK

Em Nova York, o processo de reapropriação de antigas estruturas urbanas ocorreu a partir dos
anos de 1960, com a ocupação dos bairros de Greenwich Village, Soho e Upper West Side por
artistas e intelectuais. Usos foram alterados e edifícios foram reabilitados, mas ainda com
pequena expressão frente à expansão da classe média para as periferias.

Na década de 1980 promotores imobiliários e estabelecimentos financeiros investiram no


mercado da classe média no centro, expulsando a população de menor poder aquisitivo. A
terceira onda na década de 1990 proporcionou uma gentrificação generalizada nos bairros
limítrofes de Manhathan, Brooklin e Queens.

Como este exemplo trata de um país com um Estado liberal, as ações foram prioritariamente
feitas pela iniciativa privada.
Aspectos positivos: O uso do retrofit1 (postura de reforma na qual se conserva a estrutura
original do prédio modernizando-o com equipamentos de tecnologia avançada), o
aproveitamento do potencial edilício das antigas construções e o fato de ser uma iniciativa livre
de recursos do Estado.

Aspectos negativos: Foi um processo pontual e de pequenas proporções, sem impacto


considerável para a expansão horizontal da metrópole. Acarretou na expulsão de parcela da
população residente devido à decorrente valorização dos imóveis.

Fonte:http://sindiconet.com.br/1807/informese/dicas-uteis/retrofit/introdu%E7ao

ESPANHA – SEVILHA

A Junta de Andalucia vem, desde 1984, administrando a cidade de Sevilha, que apresenta
resquícios da ocupação medieval e uma grande diversidade econômica e social. O trabalho da
Junta vai além da recuperação do patrimônio arquitetônico e urbanístico. Foram realizadas
ações de reabilitação abrangendo a conservação edilícia vinculada à melhoria das condições de
habitabilidade dos imóveis, sempre com a preocupação de manter as comunidades no local.

Aspectos positivos: Foram realizadas oficinas para envolver a população nos trabalhos, gerando
emprego e renda. Há uma rica experiência de locação social, que promove a requalificação de
edifícios que integram o patrimônio do Estado.

Aspectos negativos: A dependência do capital estatal para as intervenções.

Fonte:http://www.juntadeandalucia.es/viviendayordenaciondelterritorio/www/jsp/estatica.jsp?p
ma=4&ct=5&e=vivienda/rehabilitar_vivienda.html

1
Retrofit é uma estratégia de reforma na qual se conserva a estrutura original do edifício modernizando-o com
equipamentos de tecnologia avançada. Difere da restauração, que consiste na restituição do imóvel à sua condição
original, ou da reforma tradicional que visa à introdução de melhorias, sem compromisso com suas características
anteriores. Surgido na Europa e nos Estados Unidos, o Retrofit tem o objetivo de reabilitar antigos edifícios,
aumentando sua vida útil, por meio da incorporação de tecnologias modernas e utilização de materiais avançados.
Na Europa e nos Estados Unidos a legislação não permitiu que o acervo arquitetônico fosse substituído e isso abriu
espaço para o surgimento do Retrofit, que preserva o patrimônio histórico, ao mesmo tempo em que permite a
utilização adequada do imóvel. No Brasil, a demanda para o Retrofit aumentou nos últimos anos não apenas por
causa da preocupação crescente com o patrimônio histórico, mas por ser uma opção de conservação e melhoria do
patrimônio em áreas de potencial construtivo esgotado, como as regiões centrais de algumas metrópoles. Por outro
lado, além de ter custos mais atraentes em relação à construção, na maioria dos casos, o Retrofit também apresenta
vantagens em relação à reforma ou restauração, pois combina características destes dois, trazendo avanços
tecnológicos sem desfigurar os projetos arquitetônicos originais.
fonte:http://www.sindiconet.com.br/1807/informese/dicas-uteis/retrofit/introdu%E7ao
ESPANHA – BARCELONA

A cidade de Barcelona, com o intuito de ser escolhida para ser sede das Olimpíadas de 1992,
adotou o planejamento estratégico como modelo para a conquista de sua posição no cenário
internacional. Com o desafio de um planejamento urbano competitivo, o objetivo previsto com a
utilização desta metodologia de planejamento era que as cidades respondessem às demandas
globais e atraíssem recursos humanos e financeiros internacionais para seus processos de
reestruturação urbana. As estratégias visaram solucionar questões atuais concentrando-se na
criação de redes de articulações de atores com o objetivo de explorar as potencialidades da
cidade.

Aspectos positivos: Conseguiu viabilizar economicamente os projetos por meio de


financiamento. A cidade funcionou como alavanca de um processo de crescimento econômico
no nível regional que impactou na geração de emprego e renda para a população.

Aspectos negativos: A priorização da competitividade econômica foi preponderante sobre os


aspectos sociais e de sustentabilidade ambiental. Estes devem ser incorporados ao plano para
que lhes sejam asseguradas unidade e coerência.

Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.025/773

CUBA – HAVANA

Em Havana foi criado o Escritório do Historiador de Havana em 1938 como organismo


municipal autônomo para fomentar a cultura e preservar o patrimônio cultural da cidade.
Havana é Patrimônio da Humanidade pela Unesco desde 1982 e o Escritório é uma das poucas
instituições que o regime manteve após a revolução.

O Escritório atua por meio do Plano Especial de Desenvolvimento Integral que abrange uma
gestão participativa e instrumentos de planejamento que permitem viabilizar os objetivos do
Escritório. Um dos objetivos é a não expulsão da população carente residente e a melhoria de
sua qualidade de vida. Além da preservação, o plano visa também modernizar a infraestrutura
física e o acréscimo de prestação de serviços no local, o que assegura seu funcionamento
correspondendo às necessidades da população.

Há sempre a preocupação de que o desenvolvimento seja integral e auto-sustentável e que


possibilite recuperar o investimento feito no patrimônio.

O Plano Diretor de Revitalização Integral da Velha Havana estabelece o padrão para a


restauração e garante a continuidade deste processo e a operação dos investimentos. Ele baseia a
sua missão na participação dos cidadãos e entidades envolvidas no território para a tomada de
decisões, e este consenso é a ferramenta principal para a efetivação do plano. Conceitualmente,
o modelo de gestão aplicado desde 1993, vê a cultura como o principal eixo de
desenvolvimento, aliado sempre ao desenvolvimento humano e também à rentabilidade para
garantir a sustentabilidade. Sempre utilizando as três dimensões, com uma abordagem inclusiva
e garantindo a participação dos cidadãos no processo.

A partir de 1981, com um fundo anual do governo de US$ 6 milhões, surgiu também a missão
de restaurar o centro histórico, conhecido como Havana Velha.

Com a crise após a derrocada da União Soviética, o país perdeu a ajuda financeira e o Escritório
ganhou autonomia e teve que procurar recursos por conta própria. A coordenação ficou por
conta de Leal, historiador cubano. Leal multiplicou os recursos, a partir de um primeiro
empréstimo do governo. Vários edifícios decrépitos de Havana Velha foram transferidos para o
Escritório. O historiador conseguiu fundos de cooperação internacional, da Unesco, e passou a
investir na vocação turística do belo conjunto arquitetônico. Em apenas 13 anos, o Escritório
criou e administra 16 hotéis, 100 lojas, pousadas e edifícios de locação para empresas
estrangeiras e um faturamento de US$ 200 milhões, quase o mesmo valor das exportações de
açúcar ou de tabaco.

O Escritório possui também editora, uma emissora de rádio e uma revista, e ainda fez parcerias
com multinacionais para transformar alguns dos prédios mais emblemáticos de Havana em
sedes de empresas estrangeiras que se instalam na ilha.

Mesmo com toda a valorização gerada, a população de baixa renda continua vivendo na área.
Há 97 mil moradores em Havana Velha. Os pavimentos térreos dos edifícios foram adaptados
para as funções comerciais, e os andares superiores conservam as moradias. Há cursos de
capacitação para que os moradores sejam empregados pela indústria turística. Atualmente há 40
quarteirões e quase 400 edifícios recuperados.

Fonte: http://www.habananuestra.cu/index.php

MEDELIN – COLÔMBIA

Há pouco mais de uma década a Colômbia passou a pensar seu planejamento e gestão urbana
com base nos Planos de Ordenamento Territorial (POT). Este plano tem por objetivo
transformar uma determinada porção de solo urbano e para alcançar sua efetiva gestão.

O instrumento para implementação do POT é o Plano Parcial, uma ferramenta de planejamento


para áreas de expansão ou renovação urbana. Trata-se de um projeto urbano ou de um conjunto
de projetos que abrange infraestrutura viária e de serviços públicos e espaços e equipamento
públicos. Na zona urbana possibilita que uma área deteriorada ou subutilizada seja renovada
para fomentar seu uso e desenvolvimento da cidade como um todo. Na zona rural o processo
implanta infraestrutura e serviços urbanos, possibilitando seu adequado desenvolvimento.

A iniciativa e a gestão do Plano, em sua maioria, são privadas ou comunitárias e o poder público
é responsável pela regulamentação através de decretos e normas urbanísticas, de cumprimento
obrigatório.
Em Medellín foi implantado o “Simesa” Trata-se de um Plano Parcial voltado para a renovação
urbana da antiga zona industrial da cidade, composta por uma siderúrgica desativada e mais três
grandes indústrias e outras treze menores (que deverão ser transferidas para outro local). Para
que não houvesse demissões e perdas produtivas na etapa ainda inicial do plano, foi acordado
um planejamento que possibilitou a manutenção das indústrias e a implementação de novos usos
(residencial, comercial, cultural e institucional) nas áreas desocupadas da Siderúrgica “Simesa”.

Um objetivo comum a todos os planos neste país é o compartilhamento eqüitativo de custos e


benefícios a todos os envolvidos. Houve a implementação de parques que atuam como barreiras
de mitigação ambiental aos impactos industriais e possibilitam a aplicação de estratégias de
convivência, autonomia e flexibilidade.

Fonte: MINISTÉRIO das Cidades; MONTANDON, Daniel Todtmann (coord.). Seminário


Internacional Instrumentos Urbanísticos de Gestão da Valorização da Terra e de Indução do
Desenvolvimento Urbano: um diálogo Brasil-Japão-Colômbia. Brasília: Ministério das Cidades,
2010.

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