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latinidades afro-ameríndias
19 a 22 de setembro de 2023
Faculdade de Comunicação
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Salvador - Bahia
www.cocaal.com | coloquiococaal@gmail.com
TEMA DO COCAAL 2023
LATINIDADES AFRO-AMERÍNDIAS
O que está em jogo quando se designa a América Latina, seja para reivindicá-la ou
recusá-la? A América Latina é uma fantasia ou um fantasma: não existe como presença
plena ou projeto acabado, como identidade dada e território unificado; e é mais de uma,
nos múltiplos tempos em que se desdobra, sem conjunção possível, como identidade
fugidia ou terra dispersa, alheia a toda territorialização, isto é, a toda tentativa de
apropriação e de instauração de um domínio unitário. América, em geral, e América Latina,
em particular, se inscreveram na imaginação política global – naquilo que Walter Mignolo
(2003) denomina “sistema mundial colonial/moderno” – como um campo de disputa. Dessa
forma, a assinatura colonial inscrita na noção de América Latina deve ser reconhecida por
qualquer reivindicação do termo e de suas derivações.
Ao mesmo tempo, sem apagar a assinatura colonial que a inaugura, a história da América
Latina deve ser lida a contrapelo, para que seja possível saber as realidades que a
constituem, as disputas que a atravessam, os horizontes e as vertigens que a jogam para
fora de si mesma. É preciso reconhecer, ao lado dos fantasmas coloniais cuja aparição
permanece visível desde o nome, a sucessão múltipla de fantasmas cuja desaparição deve
ser confrontada, mesmo que faltem nomes próprios suficientes para essa confrontação (e
que esses nomes também procedam de uma genealogia colonial): os fantasmas de todas
as pessoas que, sob o regime colonial de distribuição da violência, foram forçadas a
desaparecer, no processo histórico de construção da experiência latino-americana.
Diante disso, impossível não salientarmos que iniciamos o ano de 2023 com a posse
histórica de Sônia Guajajara, à frente do Ministério dos Povos Indígenas, do professor,
jurista e filósofo Silvio Almeida, no Ministério de Direitos Humanos com a recriação do
Ministério da Igualdade Racial, a cargo de Anielle Franco, três instâncias fundamentais
para implementação de políticas públicas voltadas para o enfrentamento da violência
colonial atualizada constantemente por sistemas de policiamento e governo, e
efetivamente de governo como policiamento, que persistem como norma em todo o
continente. “Nunca mais o Brasil sem nós”, disse em seu discurso de posse Sônia
Guajajara. “Não recuaremos, não retrocederemos, não vamos abaixar a cabeça mais, não
sairemos daqui”, afirmou Anielle Franco. “Homens e mulheres pretos e pretas do Brasil,
vocês existem e são valiosos para nós”, disse Silvio Almeida ao assumir a pasta. Falas que
estão imbuídas de toda uma longa trajetória de movimentos e organização política de
gentes negras e indígenas que têm buscado, desde o início, contestar as denominações
coloniais a partir da reivindicação estratégica de seus termos, o que está presente ainda
em outra fala de Guajajara: “Esse ministério é novo, mas na verdade esse ministério é
ancestral”.
Nesse sentido, além de pensar a América Latina no plural, por meio da noção de
latinidades, se trata de reivindicar, por meio do adjetivo afro-ameríndias, a possibilidade de
multiplicação de perspectivas para reinventar a vida em comum no continente, nos campos
do cinema e da arte. As latinidades afro-ameríndias são uma abertura para as formas
alternativas de vida em comum que Lélia Gonzalez designou por meio da noção de
“Améfrica Ladina”, para as práticas de contra-colonização do que Antonio Bispo dos
Santos chamou de “povos afro-pindorâmicos” e para as memórias e projeções que tanto
Ailton Krenak quanto Davi Kopenawa, entre outros, têm encontrado no tempo do sonho,
resistindo à colonização, às suas heranças e às suas formas de tentar impor o fim do
mundo. Latinidades afro-ameríndias, portanto, são também ladinidades
améfrico-pindorâmicas, e quantos outros nomes será preciso desarticular e rearticular,
desmontar e remontar, para começar a reconhecer e a inventar a multiplicidade de suas
figuras mundanas e fantasmas extra-mundanos.
Em articulação com as ideias aqui expostas, foi incentivado o envio de propostas de mesas
e comunicações que transitassem nos seguintes eixos temáticos:
Comissão Organizadora
PROGRAMAÇÃO COCAAL 2023
DIA 20/09, QUARTA, 14H
Sessão
Cinema, arte e educação: brincar, improvisar e intercambiar
SALA 12 | Dia 20/09 às 14h
Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: ancestralidades
SALA 10 | Dia 20/09 às 14h
Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: horror, medo e relações sociais
SALA 11 | Dia 20/09 às 14h
Horror social e privatização nas relações entre espaço urbano e cinema argentino
Suelen Caldas de Sousa Simião (Unicamp)
El cine, como un medio estrechamente vinculado a los procesos sociales, influye en los
procesos de redefinición cultural y transformación identitaria. En México, la gradual
expansión de la práctica cinematográfica en las localidades, supone una ampliación de
posibilidades para dar lugar a la diversidad de miradas y rehacer los imaginarios sobre las
culturas e identidades. Para el caso de las mujeres de pueblos originarios, desde hace
aproximadamente tres décadas se presentan como sujetos activos de su propia
representación a través del cine. Actualmente, sus miradas, narrativas, formas de producir
y concebir el cine no solamente rehacen el imaginario sobre su propia identidad, sino que
también renuevan las formas del quehacer cinematográfico.
Mirar hacia las autorepresentaciones de cine hechas por mujeres “indígenas” implica dar
cuenta de su complejidad. Esta aproximación toma en cuenta que en el acto sucede un
proceso dialógico con los discursos e imaginarios ya construidos sobre las identidades, así
como una articulación y negociación con las estructuras de poder del ámbito cultural y
cinematográfico. El cine, para las mujeres de pueblos originarios en México ha sido una
herramienta de poder para reafirmar su identidad y revertir muchas estructuras, tanto
culturales, sociales, estéticas, mediáticas, políticas e institucionales. Para abordar lo
anterior, hago un acercamiento al cine hecho por Yaremi Chan, cineasta maya, de
Seybaplaya, Campeche.
Em 11 de setembro de 2023, o golpe militar que depôs o então presidente chileno Salvador
Allende, legitimamente eleito através da coalizão Unidad Popular (UP), completa 50 anos.
O período em que a UP esteve no poder foi curto (1970-1973), porém transformador. Não
por acaso, setores conservadores nacionais e estrangeiros se uniram para interrompê-lo.
Muito já se escreveu sobre o cinema feito durante estes anos. No entanto, avaliamos que
ainda é preciso refletir sobre a produção das mulheres cineastas no período. Pretendemos
compreender algumas características dessa filmografia, como, por exemplo, seus
principais temas e relações com o momento histórico em que foram realizados, através da
análise das seguintes obras: ¿Qué hacer? (Nina Serrano, Raúl Ruiz, Saúl Landau, 1970),
Flores S.A (Angelina Vázquez/Carmen Bueno/Cecilia Martorell et al, 1971), Crónica del
Salitre (Angelina Vázquez, 1971), Amuhuelai-mi (Marilú Mallet, 1972), A tiempo (Cecilia
Martorell, 1972), Kardex 341 (Cecilia Ramírez, 1972), Salto de Rapel (María Teresa Guzmán,
1972), A, E, I (Marilú Mallet, 1972), La explotación del hombre por el hombre (Gustavo
Moris/Kristiane Gagnon/Olinto Taverna, 1972), Vamos viendo (Antonio Montero/Jacqueline
Mouesca/Wolfgang Tirado, 1972), Poesía popular, la teoría y la práctica (Raúl Ruiz, Valeria
Sarmiento, 1972), Los minuteros (Raúl Ruiz, Valeria Sarmiento, 1972), Un sueño como de
colores (Valeria Sarmiento, 1973) e Nueva Canción Chilena (Raúl Ruiz, Valeria Sarmiento,
1973).
Cinema de Mulheres e lutas sociais em Brasil e Angola: um olhar sobre as obras de Adélia
Sampaio e Sarah Maldoror
Tacilla da Costa e Sá Siqueira Santos (UNILAB) e Marcelina Muhongo (UNILAB)
Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos
SALA 03 | Dia 20/09 às 14h
Propomos analisar de forma dialética dois conjuntos de obras documentárias: (1) A trilogia
da Batalha de Chile de Guzmán (1973 a 1979) realizada durante o Golpe sofrido por
Salvador Allende e (2) a produção a respeito do Golpe que resultou na destituição da
presidenta Dilma Rousseff no Brasil em 2016, especialmente quatro filmes dirigidos por
cineastas mulheres: Filme manifesto (Fabiana, 2016), O Processo (Ramos, 2018),
Democracia em vertigem (Costa, 2019) e Alvorada (Muylaert e Politi, 2020).
Nosso objetivo é aproximar esses conjuntos de documentários a partir da relações que
suas imagens buscam ter com a realidade imediata (aquilo e aqueles que são efetivamente
registrados), com a realidade social e macropolítica (as narrativas que se tecem e a
influência que buscam ter no curso dos eventos e na disputa por seu significado), em suas
formas de produção e nos procedimentos estéticos utilizados para representar eventos de
distintas especificidades (buscando perceber mudanças na política das imagens).
Em nossa contextualização e ao longo de nossa abordagem, situaremos estes eventos (a
fisionomia dos golpes) e essas produções ao contexto latino-americano, destacando, com
Avellar, como o cinema latino-americano surgido nos anos 1960 foi uma expressão de
“vontades de se descolonizar culturalmente que ocorreram aqui mesmo e que foram
sufocadas por seguidos golpes de Estado” e, com Sarlo, a importância do giro subjetivo
para a constituição das imagens documentárias contemporâneas.
Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: poéticas do desvio
SALA 04 | Dia 20/09 às 14h
O presente trabalho visa analisar o filme Tese Sobre um Homicídio (2013) e o modo como
apresenta uma trama que dialoga com as tradições comuns da narrativa policial para ir à
contramão desses elementos. O trabalho parte de considerações de uma série de
referenciais para definir as narrativas policiais como um gênero calcado na exaltação da
racionalidade de seus protagonistas investigadores e na defesa de como esse pensamento
racional seria capaz de explicar qualquer fenômeno do mundo. A partir disso o trabalho
discutirá o contexto da produção de narrativas criminais na América Latina e as
especificidades dessa produção audiovisual e também como a Argentina tem cânones
literários próprios da narrativa policial, como a literatura de Jorge Luis Borges, que
oferecem perspectivas diferentes das obras anglófonas em que o gênero comumente se
baseia. Em seguida a pesquisa irá analisar a construção narrativa do filme Tese Sobre um
Homicídio focando no desenvolvimento e no desenlace do mistério principal de modo a
demonstrar como a série caminha na em oposição a elementos típicos do gênero, deixando
os personagens mergulhados no tormento da incerteza ao invés de oferecer uma
explicação definitiva, se encaixando em uma tendência contemporânea, de produções
audiovisuais do gênero que reforçam o desconforto da indeterminação ao invés do
conforto de uma solução.
Nos últimos anos, há uma produção acadêmica sobre a personagem das empregadas
domésticas no cinema latino-americano. Souto (2019) levanta a hipótese de que “os
empregos domésticos aparecem como o principal reduto das relações de classe no cinema
brasileiro contemporâneo”. Assim, Souto identifica que o operário, que adquiriu uma forte
relevância no cinema brasileiro dos anos 1970 e começo dos 1980, perdeu o seu
protagonismo, sendo substituído pela figura do empregado doméstico.
O mesmo podemos afirmar em relação ao cinema latino-americano em geral. Ferraz (2021)
sublinha que desde o começo do corrente século, as empregadas domésticas saíram das
margens para o centro da tela. Essa centralidade deu a oportunidade de abordar as
relações entre patrões e empregados por outros vieses, como as ambiguidades afetivas,
que tanto caracterizam o trabalho doméstico remunerado, e aspectos étnico-raciais e de
gênero.
Nosso propósito, em diálogo com esta recente produção acadêmica, é estudar a
personagem das empregadas domésticas, mas em outro período histórico das
cinematografias do nosso continente: dos anos 1930 aos 50. Assim, voltamo-nos as
comédias protagonizadas por atrizes que se especializaram neste papel. Portanto, nos
propomos a estudar os filmes 'Cándida' (Argentina, 1939, Luis Bayón Herrera)
protagonizado por Niní Marshall , 'P’al otro lao' (Chile/Argentina, 1942, José Bohr), estrelada
por Ana González e 'Minervina vem aí!' (Brasil, 1959, Eurides Ramos), com Dercy
Gonçalves.
Sessão
Perspectivas teóricas e metodológicas
SALA 05 (Pós) | Dia 20/09 às 14h
Esta pesquisa tem como intuito analisar, à luz das noções de “tecnostalgia” (John
Campopiano, Manuel Menke, Talitha Ferraz, e Tim van der Heijden) e “descartabilidade das
mídias” (Dominik Schrey), as recentes interações entre colecionadores/consumidores e o
mercado de distribuição de filmes disponibilizados em mídias físicas (DVD e Blu-ray).
A partir da análise das postagens de cinéfilos e colecionadores nas páginas dos grupos de
colecionismo de filmes em mídia física do Facebook: Fora de Catálogo, Curtindo filmes
adoidado e Blog do Jotacê, a pesquisa busca descobrir como práticas de compra e
discursos colecionistas em torno de DVDs e Blu-rays são atravessados pela tecnostalgia,
que atua como um fenômeno mediador entre o preservado/reintegrado e o
descartado/perdido.
O trabalho irá ressaltar a “Festa do Catálogo”, episódio iniciado no Brasil, em 2020 e que,
devido ao seu sucesso, perdura até o ano corrente, resultado do engajamento e da
pressão dos fãs/colecionadores de mídia física junto às distribuidoras nichadas e lojistas. A
“Festa do Catálogo” possibilitou lançamentos de filmes inéditos no país e relançamentos de
títulos esgotados, em meio a processos de obsolescência tecnológica e do surgimento de
várias plataformas de streaming.
Sessão
Representações, contra-representações e representatividade
SALA 09 | Dia 20/09 às 14h
Apesar de ser mais conhecida pelo seu extenso trabalho na Cinemateca Brasileira, Olga
Futemma atuou como cineasta entre as décadas de 1970 e 1980, período em que dirigiu
cinco curtas-metragens, sendo quatro deles documentários. Filha de imigrantes
okinawanos, Futemma dedicou quase todos os seus filmes às questões da imigração
japonesa e aos desdobramentos identitários e culturais que emergem a partir da
experiência do deslocamento, utilizando de elementos autobiográficos e ensaísticos para
discutir a própria identidade nissei, a memória migratória e a relação por vezes conflituosa
que marca a diferença geracional. Considerando a consistência dos temas e da abordagem
cinematográfica de sua obra, propomos investigar um conjunto de materiais encontrado no
acervo da Cinemateca Brasileira, composto por cinco argumentos de filmes não realizados
de autoria de Futemma: “Humphrey Bogart e eu” (curta-metragem documentário, 1981),
“Yonosuke: um samurai em chamas” (curta-metragem documentário, 1982)”, “De corpo e
alma” (curta-metragem documentário, 1982), “Diretores de fotografia” (curta-metragem
documentário, 1982) e “O retorno do samurai” (longa-metragem de ficção, 1983). O
objetivo da análise é entender de que forma essa produção escrita dialoga com o restante
da sua obra e como ela pode ser incorporada no escopo de análise da filmografia da
diretora.
Ficções turísticas em Havana e no Rio: Construção de um olhar erótico
Justo Planas (LeMoyne College, Nova York)
Mesa
A geopolítica do Noticiero ICAIC e suas sonoridades
AUDITÓRIO | Dia 20/09 às 14h
Dos diversos temas abordados nas 1.493 edições do Noticiero ICAIC Latinoamericano,
destaca-se a cobertura de pautas políticas internacionais sobre dezenas de países, como
os golpes militares em países latino-americanos. Especificamente sobre o Brasil, foram
levantadas sete edições que abordam a ditadura militar brasileira (1964-1985). Nestas
reportagens, nota-se a presença de alguns elementos que se repetem, como o uso de
trilhas sonoras como dispositivo narrativo, arquivos que denunciam a situação política no
país e a presença do que denomino voz militante, esta que apresenta uma tese por meio
de dados estatísticos e elementos teóricos, com uma diferença fundamental: a presença
de uma visão ideológica assumida, que se utiliza, por exemplo, de palavras pejorativas para
se referir ao inimigo político. O caráter denunciativo destes Noticieros vem à tona por meio
de uma linguagem experimental, em que a colagem audiovisual mescla diferentes materiais
imagéticos e sonoros, como fotos de repressão, utilização de intertítulos informativos,
imagens televisivas, manchetes de jornal, músicas brasileiras e utilização de metáforas e
sobreposição de imagens como recurso discursivo. Estas vozes do Noticiero visibilizam
temas proibidos pelo regime militar, como as canções censuradas e os depoimentos de
exilados políticos em Cuba que denunciam a tortura no Brasil, construindo uma narrativa “a
contrapelo” da história oficial brasileira do período.
Mesa
Memórias, histórias e representatividade nas cidades
Sala de reuniões do INCTDD | Dia 20/09 às 14h
Este artigo pretende discutir ou apontar para alguns movimentos cinematográficos que
visam a ocupação de um espaço que constrói uma nova representatividade dos grupos
que habitam a cidade. Ou seja, partindo do espaço citadino de Ceilândia mergulharemos
numa forma de fazer cinema que ganhou notoriedade em 2005, quando o filme “Rap, o
canto da Ceilândia” foi lançado. Nosso objetivo é ler o espaço (território/paisagem e
sociedade), onde se encontram os personagens, a partir do filme de Adirley Queiros, que
traz para a tela a cidade satélite de Brasília com sua forma singular de representar-se e
representar seus moradores. Mesmo sabendo que muita coisa mudou desde 2005, este
filme em foco ainda continua dialogando com os muitos que foram feitos pelo mesmo
diretor e por outros, tentando dar conta da realidade do lugar, que fica a margem da sede
do poder do Brasil.
Na série documental “Fronteiras fluidas” (2018), podemos ouvir dos próprios indígenas
brasileiros as histórias sobre as demarcações de suas terras; traços limítrofes desenhados
pelos ‘Brancos’ (napë) ; e já aí, na escolha da palavra narrada do protagonista narrador,
vislumbramos o que propõe Walter Benjamin sobre tentar entender o passado
debruçando-nos sobre os escombros e os relatos dos que foram vencidos. Com este pano
de fundo, porém, buscando interpretar outras fronteiras igualmente importantes, tanto
para as lideranças indígenas como Krenac e Kopenawa, quanto para Benjamin e Freud,
este artigo intenta investigar a relação do sonho com a fantasia e o despertar; ao entender
como fronteira também fluida, a passagem do estado onírico para o estado de vigília e de
alerta; e sem perder de vista o caráter ambivalente do sonho em uma comunidade que, por
um lado pode representar um estar no mundo anestesiado, e por outro - quando elaborado
e interpretado - pode também levar ao despertar e ao agir. A partir de dois episódios dessa
série: “A palavra sonhada” e “Lá tem outras flores”, adentraremos na mata, nos sons da
língua yanomami e nas imagens do povo originário dessas terras para investigar os
possíveis caminhos dos sonhos.
O modo de uso do dispositivo e suas afixações nos espaços públicos da cidade serão
observados sob a perspectiva cultural, social e política na América latina. As câmeras de
vigilância reconfiguram hábitos, costumes e a mobilidade de seus habitantes; “pois a
cidade já será outra e nós mesmos já não seremos os mesmos”. Tomemos como ponto de
partida o “olhar” do anjo Dammiel no filme “Asas do Desejo”, 1987 de Wim Wenders e a
“visão” do dispositivo ambos, o ser celestial e os dispositivos, olham a cidade “de cima
para baixo”. Diante deles, uma cidade fantasmagórica: para o anjo o estranhamento do
espaço territorial, para o indivíduo uma cidade que submerge, sob o olhar de vigilância,
suas histórias e memórias. A arquitetura clássica da cidade é impregnada pela sua própria
imagem, uma está na outra, alterando a percepção do indivíduo e suas experiências nestes
espaços. Para Dammiel, que desce a cidade, convinha-lhe mover-se com cautela na
desconhecida relação tempo/espaço. Para o indivíduo, habitante da cidade, a cautela se
configura em não incorrer em transgressões no espaço-tempo-tecnológico gerido pelo
dispositivo, inibidor de seu uso.
PROGRAMAÇÃO COCAAL 2023
DIA 20/09, QUARTA, 16H
Sessão
Cinema, arte e educação: na escola
SALA 12 | Dia 20/09 às 16h
A oficina Para além da sala escura para professoras/es da rede municipal de Campinas -
SP, contemplaram metodologias que consistem em ver uma produção cinematográfica
nacional, produzir um vídeo a partir de dispositivos de criação disparados pela obra
assistida e conversar coletivamente sobre as produções realizadas. A composição de uma
coletividade de sensibilidades heterogêneas, repleta de divergências de maneiras de ser,
enriquece as práticas que se dão tanto no âmbito do cinema quanto da educação. Atuar a
partir da pluralidade e da ideia da soma de presenças pela singularidade, em que toda e
qualquer pessoa compõe uma constelação de trajetórias, é uma maneira de desarmar o
individualismo e a ideia de autoria tão presente no cinema e na escola. Outras perspectivas
se fazem então importantes para que tenhamos mais versões que nos permitam fabular o
mundo e toda sua diversidade de elementos humanos e não-humanos. Mesmo aquilo que
nos pareça inerte, como, por exemplo, elementos do reino mineral, estão em interação,
possuem presença e encontram-se em movimento contínuo. Ao acessarmos outras
cosmologias, damo-nos conta de uma gama de visões que compreende a existência
dentro de uma grande constelação de trajetórias simultâneas, sempre se entrecruzando no
mesmo tempo e espaço.
Como a criação coletiva de filmes pode elaborar outros modos da escola acontecer?
Quando o cinema vai para escola, é a partir dele mesmo que podemos ensaiar o papel
político nesse novo espaço? A pesquisa Diários Escolares: Interfaces Audiovisuais,
pretende elaborar reflexões em torno de processos criativos em ambiente escolar. A
investigação parte de vivências audiovisuais em colégios públicos estaduais e escolas
particulares baianas entre 2022 e 2023. A partir dessas experiências do chão de distintas
salas, o projeto pretende articular um debate sobre os modos de produção, invenção e
crítica de imagem, assim como o uso das novas tecnologias e mídias. A existência do
cinema em uma comunidade afeta a própria comunidade; não porque narra seu cotidiano,
mas porque há uma forma do cinema mobilizar que afeta o próprio real. Os diários
audiovisuais como um diálogo comunitário em um espaço cada vez mais marcado por
novos desafios: entre formar trabalhadores precarizados e a violência que coloca a escola
como alvo de práticas de ódio. Por isso investigar e elaborar métodos que potencializem os
processos emancipatórios dos alunos para além dos muros, inventando com a diferença
uma escola guiada por novas estéticas democráticas e transformadoras.
Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: autorias femininas
SALA 11 | Dia 20/09 às 16h
Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: latinidades afro-ameríndias
SALA 10 | Dia 20/09 às 16h
En los años sesenta se produjo un movimiento que renovó el cine argentino, denominado
“Generación del 60”. En ese amplio espectro de producciones, hubo una línea que presentó
una preocupación por la situación social y que funcionaría como antecedente del cine
explícitamente político de los años sesenta. Algunas de esas producciones fueron Tiredié
(Fernando Birri, 1958), Shunko (Lautaro Murúa, 1960) y Los inundados (Fernando Birri,
1962). En este caso, me interesa indagar en un largometraje cercano al nuevo cine, pero
enmarcado dentro de parámetros industriales, que es Convención de vagabundos (Rubén
Cavallotti, 1965), puesto que allí se incorporan imágenes y representaciones del interior
–particularmente, del norte de la Argentina– y de sus habitantes, con la intención de
reivindicar esa zonas del país, que habían tenido hasta entonces escasa presencia en la
pantalla. En función de esto, me interesa problematizar cuáles son las tensiones que se
generan en la incorporación al discurso cinematográfico de estos sectores, desde una
mirada todavía centrada en la capital del país y asentada en una ideología
predominantemente liberal. El trabajo de esta ponencia consistirá, entonces, en la
inscripción en su tiempo político-histórico de estas producciones, a la vez que en el
análisis discursivo y de puesta en escena para el abordaje del problema señalado.
Sessão
Corpos, gêneros e sexualidades: corpos e pertencimentos
SALA 6B | Dia 20/09 às 16h
Pretendo discutir alguns traços das entidades Exu, na umbanda e no candomblé, os dois
modelos mais conhecidos das religiões afro-brasileira. O argumento que esta divindade
permite uma leitura cultural brasileira. Exu permite uma leitura de caráter “mediador
cultural”, o que o torna um princípio para pensarmos alguns temas da identidade nacional.
Proponho a análise do filme Madame Satã (Karim Aïnouz 2002), através do personagem
central. Um aprofundamento no “tropo” da identidade do corpo brasileiro, analisado a partir
de suas experiências e vivencias, enraizadas nos gestos, movimentos, tendo as entidades
como base de paralelo. O desafio que proponho é pensar e imaginar cartografias a partir
de análise de corpos dissidentes, camadas de mundos, nas quais as narrativas sejam tão
plurais que não precisamos entrar em conflito ao evocar diferentes formas de ver o mundo
e principalmente corpos diversos, que suas narrativas são presentes que nosso cotidiano
popular, nas ruas das cidades, quilombos, aldeias, nas esquinas das periferias e nas
encruzilhadas dos saberes populares. Como processo de ‘re-existência’, analiso, como
ponto de convergência, os corpos que movimenta o enredo, o enquadramento, apreendido
como moldura do olhar, fugidia, relacional, inevitável (BUTLER, 2015). Analiso este
personagem a partir de um olhar do corpo carnavalizado (Bakhtin, 1999) e das relações do
masculino e feminino nas entidades da Exu e Pomba gira no entendimento na construção
de cada personagem.
Este trabalho busca pensar o lugar do corpo aplicado ao diálogo das teorias relacionadas
às culturas da imagem no cinema, em interlocução com o território. Para isso, será utilizado
como objeto de pesquisa e análise o longa-metragem goiano “Vento Seco” (2020), dirigido
por Daniel Nolasco. O intuito é abordar a obra enquanto representatividade imagética de
corpos que se expressam não só pela palavra, mas também pela experiência estética, uma
vez que o vivenciar do interior goiano traz efeitos nas narrativas cinematográficas ali
desenvolvidas. O filme escolhido é o primeiro longa de ficção do diretor e a ideia é
apreender o olhar sobre os personagens ali retratados, fundamentando o modo com que o
corpo é engajado na obra do diretor, através dos conceitos de performance, teorias de
gênero e o corpo cuir, além da concepção de territorialidade como forma de
pertencimento. Portanto, aqui peço licença para intitular nossos corpos de “linguarudos”,
uma vez que a fala é expressão motora do corpo, e o experienciar a história e suas
consequências é estar diante do corpo próprio.
Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: águas do tempo
SALA 04 | Dia 20/09 às 16h
Este artigo tem como objetivo contribuir com os estudos da mise en scène no contexto do
cinema político latino-americano contemporâneo a partir da análise do documentário El
botón de nácar (2015), de Patrício Guzmán. Compreendendo o cinema como um “aparelho
cosmopoético” (RIBEIRO, 2019), e pressupondo que o diretor busca com a obra "escovar a
história a contrapelo" (BENJAMIN, 1987), interessa-nos saber como os sons, assim como
as imagens, são encenados de modo a promover essa releitura histórica. Nossa hipótese é
que o diretor se serve de um projeto ou “escritura sonora” (DESHAYS, 2006) para produzir,
na montagem, “efeitos audiovisógenos” (CHION, 2009), constituindo assim uma mise en
scène poética, onde os sons tecem sensações, sentimentos e sentidos em relações
dialéticas com as imagens, de modo a reforçar as asserções ensaísticas do diretor sobre a
geografia insular do país, a cosmologia universal e a cosmologia indígena, profundamente
vinculadas com as águas marinhas. Tendo como metodologia a "análise interna" e
"externa" da imagem e do som (AUMONT e MARIE, 2009), o resultado do estudo confirma
a relevância do som na mise en scène do filme, especialmente os “sons fundamentais” e
"arquetípicos" (SCHAFER, 2001) das águas do Chile, encenados na obra enquanto “efeitos
de significado” (CHION, 2009, p. 468) de memória e resistência às violências e mortes
perpetradas pelos governos coloniais e ditatoriais que marcaram a história chilena,
deixando reflexos no presente.
O filme A Forma da Água (Guillermo del Toro, 2017) ganhou quatro das treze indicações ao
Oscar que concorreu: melhor filme, melhor direção, melhor direção de arte e melhor trilha
sonora. Para pensarmos em sua narrativa, faz-se pertinente observar que em vários povos
amazônicos existem histórias de seres encantados aquáticos, da terra e do ar que são
divindades, sendo muito recorrentes nas narrativas tradicionais, seres que são
metamorfos, como meio humanos, meio peixes, etc. No referido filme a “criatura” é oriunda
da Amazônia e que era reverenciado como uma divindade para os povos originários da
região. Isto posto, propomos um exercício reflexivo e analítico a partir de A Forma da Água,
fazendo uma aproximação com os conceitos do Perspectivismo Ameríndio, Extrativismo
Cognitivo e Extrativismo Ontológico. Apesar do filme ser uma ficção, traz temas
contemporâneos, como a possibilidade de se ter uma compreensão diferente da ocidental
a respeito da natureza e da cultura; discute interseccionalmente relações étnico-raciais, de
gênero e de classe social, deixando em primeiro plano uma história de amor entre
espécies, ou entre humano e não humano. Ao raptar o Encantado de seu ambiente,
inicialmente sua existência é negada, mas a possibilidade de existir nas suas diferenças e
particularidades por meio do amor, como diz a canção de Caetano Veloso “Narciso acha
feio o que não é espelho”. A Forma da Água tensiona a incapacidade de respeito,
consideração e empatia ao diferente.
Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: Sara Gómez
SALA 03 | Dia 20/09 às 16h
Sessão
Linguagem: reconfigurações e experimentações na
contemporaneidade
SALA 7B | Dia 20/09 às 16h
Este trabalho pretende fazer uma reflexão sobre a obra literária e visual da poeta,
performer, videomaker e editora Deisiane Barbosa. Nascida no Recôncavo, Deisiane faz
das viagens, das idas e vindas, matéria prima para seus poemas e suas imagens. Autora de
Desavesso (ed. da autora e 2016), Refugos (Segundo Selo, 2019); Cartas a Tereza (2021,
Andarilha Edições) e casamendoeira (Andarilha Edições, 2023). Para refletir sobre essa
obra, por um lado, pensamos na imagem que, apesar das cinzas, dos obscurantismos, dos
apagamentos, arde como memória, como rememoração, enfrentamento e imaginação
criativa (DIDI-HUBERMAN, 2018). Por outro, pensamos essa produção artística
contemporânea fora dos eixos hegemônicos, sob a perspectiva de que é preciso tencionar
e alargar os limites do que é o contemporâneo para além da noção temporal, mas pensá-lo
como uma noção territorial (AUGUSTO, 2018). Assim, essa leitura do contemporâneo como
algo temporal e territorial e essa perspectiva de uma imagem crítica, que vá além do
semiótico e do sensorial, mas que seja uma incisão, um corte, uma ruptura no espaço e no
tempo nos dão instrumental teórico para refletir sobre o processo criativo e estético de
Deisiane Barbosa.
Este estudo analisa o documentário "AmarElo: é tudo pra ontem", dirigido por Fred Ouro
Preto em 2020, pretende contribuir para uma história do “cinema negro brasileiro”
(CARVALHO, 2022. O filme é protagonizado pelo rapper Emicida, que conduz uma narrativa
estruturada em torno do seu álbum musical AmarElo e da história da negritude no Brasil,
com destaque para São Paulo. O show de Emicida no Theatro Municipal de São Paulo em
2019 é o eixo da produção, assim como a ocupação das escadarias do teatro pelo
Movimento Negro Unificado em 1978 e a filosofia de alguns fundadores do movimento,
como Lélia Gonzalez. Para compreender a história dessa produção, partimos de um ponto
de interseção entre o referido álbum musical e o filme, ou seja, a produtora Laboratório
Fantasma, fundamental na gênese de AmarElo tanto enquanto projeto musical como
também cinematográfico. Portanto, de antemão, está dada uma dimensão intermidiática
que envolve sobretudo música e cinema e, diante de tal horizonte, o foco maior de nosso
interesse é o documentário, a ser observado na perspectiva indicada por Lúcia Nagib e
Anne Jerslev (2014), que compreendem a intermidialidade como um método crítico
interessado em reconhecer a natureza híbrida do cinema como sua condição fundante.
Interessa-nos por fim elaborar um mapa de produção deduzido do próprio texto fílmico, a
partir de suas “referências intermidiáticas” (GHIRARDI, RAJEWSKY, DINIZ, 2020).
Se é inesquecível que o ano de 2020 no Brasil foi marcado pelos números assombrosos da
pandemia de Covid-19, também é inevitável lembrar que no mesmo período ocorreram as
maiores queimadas da história do Pantanal. Araquém Alcântara, renomado fotógrafo
brasileiro de natureza, destaca tais destruições em “De como se devasta um Éden”,
articulando às imagens que registra a um contundente e embargado áudio de denúncia. O
vídeo, disponível no canal do YouTube Documenta Pantanal, constrói uma narrativa que a
despeito de enfatizar a posição crítica do fotógrafo ao processo de devastação do local,
não deixa de destacar/projetar imagens que transbordam escolhas estéticas e estilísticas
do autor afinadas à sua visão paradisíaca do lugar, como o título do vídeo explicita.
Configura-se, deste modo, uma dupla inquietude nesta narrativa que se vale de uma
“estética da devastação” cujos riscos, a nosso ver, embutem uma tensão contínua entre a
adesão maravilhada à obra e a repulsa ao que o vídeo denuncia. Esta e outras questões
que pretendemos discutir aqui, se valem da intersecção de dois projetos de pesquisa em
andamento. Um, que cerca as discussões sobre as potencialidades artísticas da fotografia
da natureza considerando as diversas trilhas de banalização que a envolvem (por exemplo,
via redes sociais) e, também, as possibilidades (ou não), de um regime de autoria. E, outro,
que busca construir uma cartografia dos documentários de temática ambiental nos
diversos formatos e narrativas.
Sessão
Perspectivas teóricas e metodológicas: estudos de mercado
AUDITÓRIO | Dia 20/09 às 16h
Esta comunicação tem como objetivo apresentar dados coletados de uma investigação
realizada sobre filmes feitos em Goiás de 2000 a 2020. O recorte aqui apresentado elenca
os profissionais de som que atuaram/atuam no cinema feito em Goiás neste período. Os
dados foram coletados a partir da década de 2000 por este ser um período no qual o
mercado cinematográfico em Goiás passou por uma crescente produção de
curtas-metragens impulsionados por cursos profissionalizantes, cursos de graduação e
pós-graduação, festivais e editais. Para estabelecer quais filmes entrariam no
levantamento, foi realizada uma revisão bibliográfica (LEÃO;1999, 2003; ALCANTARA,
2012; BENFICA; LEÃO, 1995; LEVY, 2012; QUEIROZ E SILVA, 2018; OLIVEIRA, 2022; VALE,
2013) aliada com a coleta de dados sobre filmes e séries que participaram de pelo menos
um festival de cinema ou que tiveram exibição no YouTube com mais de cinco mil
visualizações. Nesse sentido, essa pesquisa visa contribuir com estudos sobre som no
audiovisual, principalmente sobre o reconhecimento desses profissionais. Em Goiás há
poucos livros que contam sobre a história do cinema e audiovisual regional e não há um
registro específico a respeito de profissionais de som atuantes no mercado audiovisual,
bem como um registro organizado contando com os filmes executados. Nesse sentido,
essa pesquisa busca auxiliar na construção de uma memória e história recente do
audiovisual feito no Brasil Central.
Sessão
Representações, contra-representações e representatividade:
questões afro-ameríndias
SALA 09 | Dia 20/09 às 16h
Abaixo e à margem: a construção visual dos indígenas no filme Rio Escondido
Andréa Helena Puydinger De Fazio (UNIMONTES)
O contato com narrativas, simbologias e representações vinculadas aos grupos étnicos não
hegemônicos (originários e afro-brasileiros), desde que pautados pela ética com a
alteridade, podem ser caminhos para se conhecer, compreender e respeitar suas histórias,
ethos e sociabilidades. O Roleplaying Game (RPG) é um jogo coletivo de interpretação e de
produção de ficção que se ancora em narrativas lúdicas e na oralidade, construídas a partir
de um livro base (com regras e textos para compor cenários). Acionam, na práxis criativa, a
capacidade humana de gerar mundos fantásticos e palpáveis graças à suspensão da
realidade, a partir da imaginação. Aqui, discutimos a questão das representações e
identidades apresentadas no livro de RPG A Bandeira do Elefante e da Arara: Livro de
interpretação de papéis (KASTENSMIDT, 2018), ambientado em contextos históricos do
Brasil colonial. Com personagens como povos originários, colonizadores, guerreiros
africanos e seres encantados do folclore brasileiro, apresenta aspectos da diversidade
cultural e das relações interétnicas. Analisamos tais representações, partindo de
elementos, categorizações e classificações do livro, discutindo ainda o uso deste em
espaços de educação, considerando que interações e experiências decorrentes dos RPGs,
podem apresentar potencialidades pedagógicas, não apenas como prática lúdica que
incentiva a leitura, mas também no que concerne a conteúdos e narrativas dos livros que
lhes dão suporte.
Mesa
A recepção da crítica de filmes premiados em festivais
brasileiros (2020-2022)
Sala de reuniões do INCTDD | Dia 20/09 às 16h
Mesa
Experiências de Educação e Cinema no Brasil, na Argentina e no
Chile
SALA 05 (Pós) | Dia 20/09 às 16h
O trabalho apresenta a pesquisa, realizada entre março de 2017 e maio de 2021, no Chile,
descreve e registra alguns elementos que caracterizaram o “Taller de Cine para Niños”,
criado e desenvolvido por Alicia Vega entre 1985 a 2015, indagando se nele está contida
uma “Pedagogia Alicia” considerando, sobretudo, as concepções e princípios que o
inspiram e as atividades realizadas. Alicia faz parte de uma história de mulheres chilenas,
especialmente, aquelas que trabalham com cinema e educação na América Latina. Durante
30 anos, essa professora de linguagem cinematográfica, pesquisadora e autora de livros,
ensinou cinema para 6378 crianças pobres de periferias do Chile. O desenho metodológico
da pesquisa deu-se por três vias: entrevistas narrativas presenciais realizadas com Alícia
Vega, com monitores e profissionais que participaram dos Talleres; pesquisa documental
em várias fontes, arquivos e acervos de documentação escrita e visual, documentário,
vídeos, acervos fotográficos, relatórios, livros e outros do Chile e do Brasil; observação
direta em Santiago do Chile. Inspirada na metáfora do vagalume, de Didi Huberman (2011),
na ideia de suspender o céu da tradição de povos originários, retomada por Ailton Krenak
(2019) e do trem do cinema que chega, do documentário de Ignácio Agüero (1987).
PROGRAMAÇÃO COCAAL 2023
DIA 21/09, QUINTA, 14H
Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: cidades cinematográficas
SALA 11 | Dia 21/09 às 14h
Diante do muro de uma antiga casa abandonada na cidade de Cachoeira, interior da Bahia,
Leandro Rodrigues, aluno do curso de cinema da Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia, nos traz suas recordações familiares no curta Eu, travesti?(2014). Em El árbol (2015),
Roya Eshraghi, aluna da Escuela Internacional de Cine y Televisión, encontra uma árvore no
último andar de um prédio em ruínas em Havana e nela vê a sua própria história. A partir da
análise desses dois filmes, pretendemos pensar como Cachoeira e Havana, dois lugares
tão distantes na geografia, mas próximos em seus passados coloniais, afetam e são
afetados pelas experiências vividas nesses espaços.
O encontro com esses lugares de tantas camadas de significados vai atravessar esses
jovens que, nesse momento, estão numa circunstância de vida permeada por rupturas e
mudanças significativas: a formação profissional em instituições de ensino distantes de
suas origens e familiares. Na relação com a cidade e suas imagens, ativam experiências
que são transformadas em narrativas. Narrar é, portanto, também elaborar a si mesmo.
Ao mesmo tempo, realizar filmes também é construir um lugar porque ao conjugar
percepções, memórias e afetos com as imagens e sons da cidade, o cinema também
interfere nos modos de percebê-la, tanto de quem faz o filme, como de quem o assiste. De
que modo, então, esses estudantes-cineastas estão trazendo, com seus filmes, uma
diversificação dos imaginários sobre esses lugares?
Brasília chamou a atenção de cineastas desde sua construção nos anos 1950. Podemos
destacar duas vertentes de produção imagética da cidade modernista. Em primeiro lugar,
encontramos imagens que reproduzem o ponto de vista do poder e do progresso num tom
propagandístico da nova capital federal e sua utopia modernista, como é o caso das
imagens de Jean Manzon e Fernando Cony Campos. Perspectivas críticas de Brasília
surgem em documentários do Cinema Novo, gesto que se desdobrou na obra de Vladimir
Carvalho. São filmes que procuram escutar as vozes dos trabalhadores que construíram a
cidade e foram expulsos para o que se tornou a periferia de Brasília, por exemplo Ceilândia.
No século XXI surgiu no Brasil um novo cinema autoral com forte participação de cineastas
de Brasília e Ceilândia. Este trabalho analisa as aparições dos espaços urbanos nos filmes
de duas cineastas que protagonizam esse campo emergente: Dácia Ibiapina e Adirley
Queirós. São obras que mostram a face distópica do Distrito Federal (DF) a partir de um
corpo a corpo expressivo com a história em curso e as cidades que formam o tecido
urbano do DF: Entorno da beleza (2012), Ressurgentes: um filme de ação direta (2014) e
Cadê Edson? (2020), de Dácia Ibiapina; e A cidade é uma só? (2011), Era uma vez Brasília
(2017) e Mato seco em chamas (2022, em co-direção com Joana Pimenta), de Adirley
Queirós. Uma de nossas perguntas: como o centro encontra a periferia nessa filmografia?
Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: moradas
SALA 05 (Pós) | Dia 21/09 às 14h
A presente comunicação busca contribuir para um debate que liga cinema e território no
Brasil, segundo um desdobramento específico dessa questão: as relações entre formas
audiovisuais e práticas moradoras. Partiremos de um conjunto de filmes que, nas suas
singularidades, permitem tecer análises comparadas, sobretudo por serem feitos desde um
engajamento (social, histórico e estético) das equipes realizadoras em seus próprios
lugares de morada. A investigação tem o intuito de elaborar conceitos e metodologias junto
à cena atual da produção audiovisual brasileira, com ênfase na tomada de palavra e de
visibilidade por sujeitos historicamente invisibilizados pelos processos de violência
colonial. Faremos um esforço em aproximar conjunturas diferentes de realização, que
envolvem aldeias, quilombos e ocupações urbanas, com aposta no seguinte: o laço
solidário entre as obras permite enfatizar os modos pelos quais a própria formação social
brasileira é indagada por epistemologias moradoras. Na apresentação, colocaremos em
cotejo os seguintes filmes: Ava Yvy Vera – A Terra Do Povo Do Raio (Genito Gomes, Valmir
Gonçalves Cabreira, Jhonn Nara Gomes, Jhonatan Gomes, Edina Ximenez, Dulcídio Gomes,
Sarah Brites, Joilson Brites, 2016); Nove Águas (Gabriel Martins e Quilombo dos Marques,
2019); Nũhũ Yãg Mũ Yõg Hãm: Essa Terra É Nossa! (Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina
Canguçu, Roberto Romero, 2020) e Entre nós talvez estejam multidões (Aiano Bemfica e
Pedro Maia de Brito, 2020).
Com este trabalho ensejamos desenvolver uma análise entre narrativas, a audiovisual,
Pretos Ganhando Dinheiro Incomoda Demais (Criolo, 2023), ramificada na narrativa
gamificada, Fábula da árvore (www.fabuladaarvore.com), ambas em parceira com jovens
negros do projeto SOMA+. As duas experiências em rede têm a árvore como morada da
ancestralidade amefricana (GONZALEZ, 1988), imaginadas em coletividade. Trazemos uma
análise do fluxo da experiência estética/política/histórica a partir da relação entre formas
narrativas enraizadas e germinadas em uma sociedade em rede, que mobiliza
materialidades desta própria rede. Este gesto colhe frutos ao propor reestabelecimento de
fluxos interrompidos (DEWEY, 2010) da vida/arte/história sob os riscos do extrativismo
colonial, e propõe formas de narrar/habitar o mundo ramificadas em frutos e raízes
ancestrais (MARTINS, 2022). São experiências e performances (CARDOSO FILHO e
GUTMANN, 2019) que se arvoram e atravessam a figura da rede (online) tendo-a como
terra fértil, tanto na conexão hipermidiática e entre narrativas, como na figura da rede
comunitária, que se fazem presentes nos corpos em cena/da cena (BOGADO e SOUZA,
2022) humanos e não-humanos (HARAWAY, 2016).
Sessão
Corpos, gêneros e sexualidades: espaços e práticas no cinema
de mulheres
SALA 6B | Dia 21/09 às 14h
Nesse artigo retomo a pauta trabalhada pelas mulheres nas cidades do Brasil no intuito de
identificar as questões que surgem no cinema nacional, partindo das movimentações de
seus corpos nas ruas e da criação de hashtags, através do compartilhamento de histórias
pelas mulheres que se movimentam e lutam. Diante das dissidências políticas de gênero,
dos feminismos e lutas pelos direitos das mulheres amplificado pelas redes sociais e pelas
ruas do Brasil, analiso no presente artigo o surgimento e as narrativas trazidas nos filmes
Café com Rebu, de Danny Barbosa; Mais que um corpo, de Ana Squilanti e TEKO HAXY –
ser imperfeita, de Sophia Pinheiro e Patrícia Ferreira. Filmes de realizadoras mulheres, que
trazem uma pauta trans, indígena, feminista e que discutem seus corpos diversos e a
ocupação dessas mulheres nos espaços públicos e privados. Tendo como ponto de partida
a participação das diretoras Danny Barbosa, Ana Squilanti e Sophia Pinheiro, no debate
online com mediação minha, dentro do evento A Palavra Líquida 2021, que teve a temática:
“Feminismos: Corpos múltiplos”, do Sesc RJ. A partir daí entender como os corpos
femininos em aliança se colocam em uma luta política para além das ruas, movimentando a
produção de imagens que se concretizam em filmes e funcionam como parte de um
mecanismo de busca pelo espaço da mulher, denúncia e insurgência.
Esta pesquisa analisa as construções das narrativas do cinema dirigido por mulheres
negras no estado do Rio de Janeiro, representada por estas cineastas entre os anos de
2007 e 2020. Utilizando uma abordagem qualitativa, através dos discursos produzidos
pelas realizadoras que tiveram seus filmes exibidos no Encontro de Cinema Negro Zózimo
Bulbul-Brasil, África, Caribe e outras Diásporas entre os anos de 2007 e 2020, serão
analisados e evidenciados.
Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: análise de caso
SALA 03 | Dia 21/09 às 14h
O cinema de Patricio Guzmán tem, dentre seus dispositivos narrativos fundamentais, o uso
de entrevistas tendo em vista a coleta de testemunhos sobre eventos significativos da
história recente do Chile. O golpe de 11/09, a institucionalização da violência pinochetista,
o avanço do neoliberalismo, seus impactos no sistema educacional e os desdobramentos
do “estalido” de 2019 formam uma espécie de linha de continuidade em sua cinematografia
que denunciam a permanência do estado de exceção que estrutura a democracia liberal
chilena desde os anos setenta. A presente comunicação pretende fazer um balanço de
quem são as pessoas transformadas em personagens ao longo das chamadas “três
trilogias” de Guzmán, como são estruturadas as abordagens das entrevistas, que
recorrências e diferenças podem ser identificadas desde o registro fílmico dos 1970 à
década de 2020 e, por fim, o que os seus testemunhos revelam e ocultam quando
comparados com os discursos oficializados em documentos institucionais e outras fontes
midiáticas. A comunicação, portanto, apresenta um recorte da tese de doutorado
defendida na PUC/SP intitulada “O cinema de Patricio Guzmán: história e memória entre as
imagens políticas e a poética das imagens”, pioneira ao oferecer uma análise fílmica,
histórica e filosófica do conjunto da obra deste chileno.
“Lumumba, a morte do profeta” (1991) é o primeiro documentário realizado por Raoul Peck,
realizador natural do Haiti, mais conhecido por “Eu não sou seu negro” (2016). Embora o
título da obra seja uma referência direta à Patrice Lumumba (1925-1961) – líder que lutou
contra a dominação belga no Congo e que foi assassinado em um golpe de Estado, poucas
semanas após assumir o cargo de primeiro-ministro – a narrativa do documentário,
conduzida pela voz do próprio diretor, vai além da mera exposição de evidências do
passado histórico relacionado ao líder africano. Juntamente com os registros fotográficos e
a apresentação de entrevistas com jornalistas europeus que cobriram os acontecimentos
políticos, Peck insere arquivos pessoais que remetem à sua infância naquele país africano e
mostra como a trajetória de sua própria família, do Haiti, se cruza com a história do
“profeta”. Entre imagens cotidianas do presente, na Bélgica, e arquivos históricos do
passado, no Congo; a narrativa é um misto de biografia e autobiografia que parece
questionar as próprias convenções documentário na medida em que realiza uma
reconstituição histórica por meio de recursos tão subjetivos quanto o uso da voz-over e a
partilha de memórias da vida pessoal do diretor. Na busca por estabelecer conexões entre
essas diferentes camadas de história, a presente comunicação propõe uma análise sobre o
uso da voz-over e a sua compreensão enquanto recurso retórico na narrativa documental.
O cinema de Sarah Maldoror surge em um contexto de lutas pela independência dos países
africanos, demonstrando o engajamento da diretora por meio da expressão audiovisual e
da utilização de sua arte como uma ferramenta de combate ao colonialismo e à opressão.
Em seus três primeiros filmes, Sarah destaca o papel das mulheres nas lutas anticoloniais e
revolucionárias. Esta pesquisa concentra-se em dois deles, "Monangambé" (1969) e
"Sambizanga" (1972), que abordam a luta pela independência de Angola (1961-1974). O
caráter pioneiro de Sarah Maldoror se manifesta não apenas por ser a primeira cineasta
negra a filmar no continente africano, mas também por ser a primeira a retratar, na ficção,
a luta pela libertação de um país africano do domínio colonial português. Mahomed Bamba
(1966-2015), pesquisador dedicado aos cinemas africanos, às análises cinematográficas e
aos estudos de recepção, enfatiza a importância de compreender as particularidades dos
cinemas africanos, que não podem ser analisados com as mesmas lentes dos cinemas
hegemônicos. É fundamental considerar o contexto histórico, político e social em que
esses filmes foram produzidos, bem como suas próprias referências culturais e estéticas.
Adotamos a perspectiva que através de uma análise cuidadosa dos filmes de Sarah
Maldoror é possível desvendar as estruturas internas do conteúdo cinematográfico e obter
uma compreensão das influências que moldam a interpretação e seu impacto na recepção
de seus filmes no Brasil.
Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: traumas e cinzas da
história
SALA 04 | Dia 21/09 às 14h
Sessão
Linguagem: reconfigurações e experimentações no cinema
brasileiro
SALA 7B | Dia 21/09 às 14h
Em 1965, Glauber Rocha publicou o manifesto Uma Estética da fome, no qual expunha a
fome latino-americana em seu sentido literal e literário. No âmbito nacional brasileiro essas
mazelas atingiram o corpo político e estético, além do corpo físico dos cidadãos. Em 2019,
mais de 50 anos após a publicação do manifesto glauberiano, Bacurau, de Kleber
Mendonça Filho e Juliano Dornelles, retomou em tela a temática da miséria nordestina, mas
de forma a subverter a exotização e romantização estrangeira. Na narrativa, uma pequena
cidade fictícia de Pernambuco, Bacurau, sofre por falta de água e recursos em meio a um
momento de crise política e social, quando é ameaçada por “Bandoleiro Shocks”, grupo de
extermínio estadunidense que pretende aniquilar os habitantes, entretanto, os
“bacurauenses” se insurgem contra esse grupo para garantir a sobrevivência. A partir
desse fato, serão analisadas cenas do filme dialogando com a teoria de Aquilombamento,
de Lelia Gonzalez, reflexões sobre as questões do Bem-Viver, de Ailton Krenak e a teoria
acerca do Global/Local, de Walter Mignolo, objetivando tecer reflexões sobre o decolonial e
outras ideias de imaginar a Nação. Nessa mirada, também será feita a comparação dos
dois contextos históricos ― de Kleber Mendonça Filho e de Glauber Rocha, além da
releitura para o contemporâneo do manifesto do cineasta cinema novista.
Se a distopia é um lugar ruim, o pior cenário imaginado, como seriam as suas margens, as
suas periferias? Ao invés do hiper controle e vigilância, haveria lugar para as falhas
criativas, os curtos-circuitos inventivos e o pendor de liberdade que viria dessa condição
marginal, periférica? Haveria resistência ou resignação? Calma ou tremor? Seriam os vivos
ou os mortos os mais aptos a reivindicar qualquer possibilidade de Justiça?
Em diálogo com estas reflexões, propomos uma abordagem aos filmes Tremor Iê (2019), de
Lívia de Paula e Elena Meirelles e Mato Seco em Chamas (2022), de Joana Pimenta e
Adirlei Queiróz, na busca por ampliar uma zona crítica onde as questões inerentes ao
gênero de ficção científica em sua condição periférica possam apontar para o seu
potencial político e revelar o gesto inventivo e provocador em suas camadas
estético/narrativas.
Vinculamos então os filmes à três perspectivas: 1) Ficção Visionária, termo cunhado pela
educadora e poeta norte-americana Walidah Imarisha; 2) Ficção Científica na relação com
o Cinema de Invenção, buscando um diálogo histórico com os filmes brasileiros dos anos
60/70 (Jairo Ferreira); e 3) Perspectiva anti-distópica do gênero (Frederic Jameson;
Jessica Langer).
A partir desta posição, os filmes agem como espaço possível de transgressão e o gênero
se torna um laboratório de experimentação de ideias capaz de influenciar a prática das
lutas sociais e apontar para a descolonização dos imaginários acerca da vivência
periférica.
Sessão
Perspectivas teóricas e metodológicas: estudos de recepção
SALA 6A | Dia 21/09 às 14h
“Não dei o gostinho àquela gente”, Também somos irmãos e a recepção crítica
Raisha Conceição Silva (UFMT) e Leonardo Gomes Esteves (UFMT)
O filme Também somos irmãos (1949), dirigido por José Carlos Burle para a Atlântida, é
possivelmente o primeiro longa-metragem brasileiro a tornar pública a denúncia sobre o
racismo (MELO, 2022), com "surpreendente coragem para a época” (RODRIGUES, 2011, p.
107). No enredo, os irmãos negros Miro (Grande Otelo) e Renato (Aguinaldo Camargo)
foram criados por uma família branca. Com o modo de criação sendo baseado na cor da
pele, as diferenças de tratamento e a revolta de Miro com elas, mesmo depois de adulto,
embasam o debate racial que orientará o filme. No fim dos anos 40, a crítica do Rio de
Janeiro faz apontamentos sobre a produção, descrita por jornais como o Careta (1949)
como um filme que obriga o público à raciocinar e prende a atenção desde a primeira cena;
enquanto também recebe críticas negativas que citam, dentre outros possíveis problemas,
o filme ser mais do mesmo em um contexto nacional, como ocorrido em Diário de notícias
(1949); outras críticas, mais equilibradas, como a do Jornal do Brasil (1949), considerando
à parte as questões de infraestrutura de produção, afirmam que o filme foi um passo
seguro dentro de sua consolidação no cinema nacional. Essa comunicação visa fazer uma
análise das críticas de Também somos irmãos a partir de cinco periódicos: Careta, Diário
de notícias, Gazeta de notícias, Jornal do Brasil e Scena Muda, tomando como base a
discussão racial e a forma como ela foi referenciada por essas análises.
A Brasil Vita Filme, empresa idealizada e dirigida por Carmen Santos, fundada em 1934,
estreou nos circuitos brasileiros com dois filmes de ficção, dois musicais: Favela dos meus
amores, em 1935, e Cidade Mulher, em 1936, ambos dirigidos por Humberto Mauro. A
proposta de comunicação irá traçar o circuito em que os filmes foram lançados no Rio de
Janeiro e percorreram nas semanas que sucederam o lançamento, refletindo sobre seus
sucessos e fracassos ao levantar vestígios das recepções de ambas produções na
imprensa. As duas obras escolhidas para esta comunicação podem ser consideradas
“irmãs”, pois tentaram repetir uma fórmula de produção parecida, no entanto, tiveram
trajetórias distintas. Também buscaremos analisar o trabalho de Carmen na circulação dos
filmes e os conflitos desses lançamentos com a Distribuidora de Filmes do Brasil, órgão
criado por intermédio da Associação Cinematográfica de Produtores Brasileiros, uma das
primeiras entidades da classe cinematográfica surgida nos anos 1930.
A empresa de Carmen é considerada uma das primeiras iniciativas brasileiras de
construção de um estúdio de cinema seguindo o padrão hollywoodiano de industrialização
da atividade cinematográfica. Carmen, assim como outros empresários, estava otimista
com o momento político e econômico promovido pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas
e enxergou o momento como uma oportunidade de colocar em prática suas ideias sobre o
tipo e a maneira como os filmes deveriam ser feitos no Brasil.
En marzo de 1978 la Embajada de Brasil en Chile organizó una muestra de cine brasileño en
dos importantes salas de Santiago. El país vivía los años más duros de la dictadura militar:
el Estado de sitio regía desde 1973, con períodos de toque de queda. El evento generó alta
expectativa en prensa y entre el público cinéfilo, en parte porque las cintas brasileñas no
eran frecuentes en la cartelera local. La muestra estaba compuesta por diez largometrajes
muy diversos entre sí: Dona Flor e Seus Dois Maridos; Xica Da Silva; Vai trabalhar,
vagabundo; Tenda dos milagros; Ajuricaba; Guerra conjugal; Marília e Marina; Barra Pesada;
Ladroes de cinema y O Crime do Zé Bigorna. El impacto de la muestra fue considerable:
Dona Flor… llegaría a ser la película más vista de 1979 (primera película latinoamericana en
lograrlo); en cambio, Barra Pesada fue prohibida por la censura oficial. El presente trabajo
busca analizar la recepción que generó la muestra en la prensa masiva chilena. En general
hubo un elogio unánime a la calidad artística de la muestra y a la idea de nacionalismo
cultural que la encuadraba, incluso con cierta admiración por las temáticas libertarias
narradas. Sin embargo es claro cómo gran parte de las reseñas se articulaban en torno a la
clave civilización/barbarie, asignándole invariablemente a la cinematografía y a la sociedad
brasileñas etiquetas como “exuberancia”, “sensualidad”, “vitalismo”, “barroco”, “folklore” o
“pintoresco”.
Sessão
Representações, contra-representações e representatividade:
cinema negro brasileiro
SALA 09 | Dia 21/09 às 14h
Mesa
Bordas, margens, periferias: trânsitos pelos nossos muitos
outros centros
AUDITÓRIO | Dia 21/09 às 14h
No miúdo, nas brechas, nas frestas do mundo-uno praticam-se há tempos modos outros
de viver, fazer, sentipensar os rumos de nossas existências: dribles, gingas, artimanhas
sudacas, aquilombamentos são algumas das táticas de re-existência praticadas pelos
abajos destas nossas latitudes. No miúdo, nas brechas, nas frestas do mundo-uno
ensaiam-se, praticam-se há tempos insurgências diversas: éticas, estéticas,
onto-epistemológicas. E, para além de resistências, de insurgências, o que há sobretudo
são ofensivas culturais emancipadoras - que dão forma a pedagogias outras, tecidas nas
tramas do cotidiano, ao rés do chão, contracolonizando-se e aprendendo a ler pra ensinar
os camaradas. Que táticas, que astúcias, que contrabandos vêm praticando artivistas
negras/os, indígenas, LGBTTQIAP+ que há bem pouco tempo eram não apenas
invisibilizados/as, mas sobretudo produzidos/as a partir de uma visibilidade negativa,
nutrida pelo racismo, pela misoginia e pela homolesbotransfobia? Trago neste trabalho
notícias sobre o que vem se tecendo nestes tantos outros centros que são nossas
periferias. A partir de um mapeamento de iniciativas juvenis em arte e comunicação nas
periferias, vislumbro movimentos que vêm ganhando contornos de pedagogias (de
vagalumes, proponho, inspirado em Pasolini, Didi Huberman e Emicida).
O cinema tem sido um lugar cada vez mais apropriado por narrativas onde prevalece a
representação das identidades, seja pela construção narrativa, pelos corpos, pela
fotografia, pelo som e pelo território. Em festivais, mostras, cineclubes e em outros
espaços, percebo um aumento no número de produções desenvolvidas a partir do olhar e
da escuta de realizadores periféricos, o que aciona o uso do termo “Cinema de Periferia”. O
Cinema de Periferia pode ser compreendido como um fenômeno do reflexo do acesso às
tecnologias digitais, da participação em oficinas e cursos de cinema e audiovisual acessível
à população periférica; além de discussões políticas em torno do território e revisão dos
termos periferia e favela. Nesse sentido, o território atua como personagem desse tipo de
cinema, em que a narrativa apresenta uma tentativa de ocupação do espaço periférico com
projeção de si para o mundo. Esta ocupação tem ocorrido tanto pela realização, em suas
diversas áreas, quanto pela difusão e distribuição. São múltiplos os olhares e escutas.
Apresento neste trabalho algumas destas produções e algumas das janelas de exibições,
como mostras, festivais e cineclubes periféricos, que reforçam a imagem e a sonoridade do
território como marcadores no Cinema de Periferia.
A América Latina são várias. Um espaço geográfico vasto, “uma acumulação desigual do
tempo” como aponta Milton Santos, um espaço cultural diverso e plural como defende Lélia
Gonzalez, e “composto por certos ritos históricos”, segundo Manuel Garretón. Nesta
direção, as poéticas apresentadas por artistas que fazem filmes, não apresentam outros
caminhos que não os da liberdade na exposição de realidades e subjetividades, que
aglutinam essas tantas espacialidades. Os filmes, muitos feitos por mulheres originárias de
seus espaços, se apresentam em forma de relato pessoal, outros são resultados de
pesquisas desenvolvidas e devidamente fundamentadas historicamente, e ainda, alguns
são realizações de mulheres estrangeiras que fabulam e re-inventam esses espaços a
partir de suas experiências. Ao certo, os filmes se apresentam diversos e plurais, tanto em
suas narrativas poéticas quanto em suas formas, exposição e rigor técnico-tecnológico.
O trabalho busca um encontro com as poéticas contidas nos filmes “Fecho de Pasto de
Vereda da Felicidade” de Amanda Alves, 7’49, (Brasil, 2021) e “Terminal norte” de Lucrecia
Martel, 37’, (Argentina, 2021). Em diálogo, os dois filmes nos ajudam a realizar e a fabular,
ao mesmo tempo, esses espaços que nos cercam e nos habitam e também por onde
caminhamos, ‘caminhos de pensamento e pensamentos de caminho’.
PROGRAMAÇÃO COCAAL 2023
DIA 21/09, QUINTA, 16H
Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: escrevivências
Sala 05 (Pós) | Dia 21/09 às 16h
Vou passar perfume antes da foto: álbum de família e a autoestima feminina negra
Tamara Lopes de Sousa (UFC)
Fluxo neuromuscular
Kennyo Severa (UFRN)
Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: territórios em reinvenção
Sala 11 | Dia 21/09 às 14h
Sessão
Corpos, gêneros e sexualidades: significações da mulher
Sala 6B | Dia 21/09 às 16h
A mulher protótipo do cinema novo é concebida por Glauber Rocha no manifesto estética
da fome, que situa a sociedade latina face à centralidade do cinema industrial, perspectiva
também presente em seu filme Deus e o diabo na terra do sol. Quando Glauber Rocha
assume a potência social, política e criativa da fome, a violência torna-se sua força
expressiva: confronta e, também, assente a realidade do faminto, a situação marginal dos
cineastas e a configuração colonial da sociedade latina. Em Deus e o diabo, uma atmosfera
de crise gera tensões que intentam a revolução popular pela inversão da ordem vigente, tal
como na trilha sonora original: “o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”. Tanto no
manifesto quanto na materialidade do filme, o amor é relacionado à vislumbrada revolução,
sendo conduzido pelas personagens mulheres. Sendo assim, no sentido questionador da
ordem, o amor é a desordem vigente, na medida em que os estados de consciência política
são acionados por personagens femininas. Logo, considerando a potência do feminino no
cenário exposto, este estudo objetiva analisar a elaboração da mulher protótipo no
mencionado filme.
Este artigo visa investigar os diálogos presentes na relação entre o signo do feminino
construído a partir da protagonista do filme “Paloma” (2022), enquanto uma representação
de caráter cultural contra-hegemônico em relação com o conceito de rizoma. Para tanto, o
filme será investigado a partir de trajetória de observação baseada nos conceitos do signo,
em Peirce, e de rizoma, em Deleuze e Guatarri. Esses, sendo os meios a partir do qual nos
orientaremos para demonstrar as construções sígnicas presentes no filme que rompem
com representações de um feminino estruturado sob uma ótica
hegemônica\histórica\patriarcal. E, dessa forma, verificar o feminino representado pela
protagonista do filme funcionando como fomentador de outras formas de representar e
existir como feminino na cultura, uma vez que, a partir do imaginário da obra, é possível
alimentar o tecido cultural com ressignificações para o feminino enquanto signo. Tendo
esse horizonte, iremos relacionar as ressignificações encontradas no filme com o conceito
de rizoma, entendendo que a promoção de outras representações do feminino têm o
potencial de criar o que aqui chamaremos de territórios subjetivos rizomáticos na cultura.
Ou seja, espaços representativos que não estão comprometidos com a reprodução de
“raízes” ou\e padrões hegemônicos para o feminino, mas, em criar outras ressignificações
do feminino e assim fomentar transformações nas experiências com o real.
Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: arte, política e
autoritarismo
AUDITÓRIO | Dia 21/09 às 16h
Esta comunicação pretende debruçar-se sobre a produção artística de gravuristas que foi
disseminada pelos periódicos antifascistas surgidos no Brasil, na Argentina e no Uruguai
entre os anos de 1933 e 1939. No período entre guerras na América Latina desenvolveu-se
uma ampla resistência ao fascismo, sobretudo após a ascensão de Hitler ao poder. Entre
os atores desta resistência, os intelectuais tiveram um papel fundamental por terem se
dedicado à difusão de ideias, à proteção das ações culturais – em torno do ideal de
“defesa da cultura” - e à produção teórica e plástica. Motivados por um movimento
internacional de mobilização de intelectuais, organizaram-se em associações como a
Agrupação de Intelectuais, Artistas, Periodistas e Escritores – AIAPE, surgidas na Argentina
e no Uruguai, o Clube de Cultura Moderna e a Liga de Defesa da Cultura Popular, no Brasil.
Tais agrupamentos produziram revistas nas quais a participação dos gravuristas foi
fundamental, com destaque para nomes como Santa Rosa e Di Cavalcanti no Brasil,
Pompeo Audivert e Lino Enea Spilinbergo, na Argentina, Rafael Barradas e Leandro
Castellanos Balparda, no Uruguai. A produção plástica destes artistas carrega o forte tom
de crítica social e compõe, ao lado da produção textual destes periódicos, um relevante e
pouco estudado aspecto da luta antifascista no Cone Sul.
O cinema como meio de propaganda e educação foi e é utilizado por diferentes contextos,
para esta proposta irá ser considerado o caráter político e propagandístico desta arte. O
Estado Novo compreende a importância do cinema e entende o cinema como um
mecanismo de unificação e manipulação da sociedade Brasileira. José Inácio de Melo e
Souza possui uma extensa produção acadêmica acerca do CJB, segundo ele, os objetivos
- após a reestruturação do DPDC e com o surgimento do DIP, eram de controlar a
propaganda nacional, de forma que esta servisse de parte fundamental o governo e as
entidades públicas e privadas (2003). O CJB trata-se de um dos braços do DIP, produzido
pelo DCT – Divisão de Cinema e Teatro. As produções cobriam principalmente eventos que
colocavam o governo em destaque. Estas produções eram carregadas de simbolismos,
como forma de difusão da ideologia do Estado Novo e era imprescindível que a unificação
do país fosse destaque nas apresentações das edições do CJB. Além da forte
representação do Estado, existia também a ameaça comunista em curso, inimigo declarado
do Estado Novo. O Cine Jornal Brasileiro não foi apenas uma produção governamental, ao
se tratar de uma ditadura autoritária, o Estado Novo utiliza do cinema para promover a sua
imagem, do presidente da república e dos militares.
Sessão
Linguagem: reconfigurações e experimentações territoriais
Sala 7B | Dia 21/09 às 16h
Na história do cinema brasileiro é possível observar que uma região em particular foi
escolhida por diferentes autores/diretores para encenarem aspectos relacionados à
identidade nacional brasileira, às questões políticas, sociais e culturais do país. O espaço
citado é o sertão. Este estudo busca compreender e discutir as diversas construções
simbólicas em relação ao sertão no cinema brasileiro, tomando como análise os filmes “O
cangaceiro” (1953, Lima Barreto), “Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964, Glauber Rocha) e
“Baile Perfumado” (1997, Lírio Ferreira e Paulo Caldas). Estes três filmes fazem parte de
movimentos cinematográficos diferentes, o primeiro corresponde ao que veio a ser
conhecido como Nordestern, o segundo é um dos três filmes da trilogia do sertão do
Cinema Novo, enquanto o Baile Perfumado remete ao período da Retomada. Cabe citar que
este estudo faz parte do meu projeto de mestrado que está em vias de conclusão e que
utilizaremos como referências teórico analíticas autores do campo da memória e da
historiografia e crítica cinematográfica. Pela análise dos três filmes iremos apontar e
debater as características construídas em relação ao sertão nestas cinematografias. Neste
aspecto, buscamos trazer as similaridades e diferenças em relação às formações
simbólicas que foram realizadas para o mesmo espaço durante décadas, contextos
históricos e movimentos cinematográficos diferentes.
Neste trabalho, propomos articular a discussão realizada por André Brasil (2014) em torno
da performance, a proposta metodológica das constelações fílmicas, discutida por Mariana
Souto (2019), e os trabalhos de Rogério Haesbaert (2014) em torno das múltiplas
territorialidades, de forma a discutir as possibilidades de fabulação sobre o território
Sertão a partir da sobrevivência da imagem dos retirantes. Para isso, buscamos constelar
três obras que contribuem para esse espaço-problema: a pintura Retirantes (1944), de
Candido Portinari, a animação Vida Maria (2007), dirigida por Márcio Ramos, e o
curta-metragem Nova Iorque (2018), dirigido por Léo Tabosa. Ao convocar esses materiais,
discutimos a constante tensão estabelecida entre o ficar e o fugir para outro território e os
engajamentos afetivos (GROSSBERG, 2010) envolvidos nessas movimentações. Território
que marca as formas de compreender o retirante nordestino, o Sertão engloba elementos
geográficos, linguísticos e culturais, que acabam por povoar e ambientar obras artísticas
de distintas temporalidades, como apresentado neste trabalho. O Sertão está presente
tanto nos gestos quanto na mise-en-scène, ele se faz presente nos próprios personagens,
se configura como uma imagem-força (ALBUQUERQUE JR., 2011). Ampliaremos essa
proposição ao compreender também como uma força ‘gravitacional’, um lócus imagético e
discursivo que atrai os mais diversos elementos em torno das suas territorialidades e
visibilidades possíveis.
Para Rosa Maria Bueno Fischer “as experiências processuais de artistas” podem “colocar
em dúvida a facilidade inconsistente e apressada com que lemos e interpretamos imagens
e depoimentos, apoiados quase que exclusivamente na ideia de linguagem como
representação.” (FISCHER, 2021:05). A autora trata da experiência não como fenômeno ou
como hábito, mas como relação processual, no que converge com outras pesquisadoras,
como Lúcia Gouvêa Pimentel, que afirma: “O processo artístico está ligado intrinsecamente
à experiência, uma vez que trabalha com emoção e razão, que são processos vitais
profundamente imbricados.” (PIMENTEL, 2015:96)
Esse caráter processual da experiência encontra abrigo desde definições clássicas, como
as de John Dewey, que dizia que “o princípio de continuidade de experiência significa que
toda e qualquer experiência toma algo das experiências passadas e modifica de algum
modo as experiências subseqüentes” (DEWEY, 1976:26).
A partir dessas bases sobre experiências processuais, o objetivo da comunicação é
apresentar considerações sobre a observação lógico-racional empreendida no livro Roteiro
e diário de produção de um filme chamado Temporada, escrito por André Novais Oliveira,
que aborda, como o título indica, experiências processuais da realização do filme
Temporada (2019), roteirizado e dirigido pelo mesmo André Novais Oliveira. A intenção é
abordar o fazer artístico via uma tentativa do próprio cineasta de compreender a
experiência processual do filme.
Sessão
Perspectivas teóricas e metodológicas: televisão e redes
Sala 6A | Dia 21/09 às 16h
O texto visa apresentar uma proposta metodológica a ser aplicada na análise de materiais
audiovisuais de natureza ficcional, especialmente aqueles que possuem estrutura seriada.
A experiência com a pesquisa realizada durante o mestrado em Jornalismo (PPGJor/UFSC,
2009) demonstrou a viabilidade do uso da análise de conteúdo qualitativa em estudos com
obras cinematográficas. No caso das narrativas seriadas, cuja complexidade estrutural
dá-se em função de temáticas abordadas, da presença de um maior número de
personagens, bem como pelo entrelaçamento de tramas principais e secundárias, faz-se
necessário uma organização metodológica que melhor atenda a essa conjuntura de
análise. A proposta aqui apresentada assenta-se, portanto, na utilização da análise de
conteúdo qualitativa estruturada a partir de eixos temáticos, que, por sua vez, tomam
como referência para ordenar o estudo, quatro constructos que organizam os mundos
ficcionais, a saber: a composição das personagens; a construção de ambientes que
compõem a narrativa; o enredamento das histórias; e a evocação de atmosferas. Essa
composição metodológica mostrou-se assertiva, pois permitiu atingir os objetivos
propostos, bem como responder à questão que direcionou a pesquisa realizada no âmbito
do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH/UFSC, 2022), que teve como
objeto de estudo a série de ficção infantil Escola de Gênios (2018-2021).
O estudo propõe refletir sobre a forma como a narrativa das telenovelas da Rede Globo de
Televisão, com recorte em Nos Tempos do Imperador (criada por Thereza Falcão e
Alessandro Marson; 2021/2022) e Mar do Sertão (criada por Mário Teixeira; 2022/2023),
exibidas na faixa das 18h, sofrem uma espécie de contágio entre a ficção e o espaço físico
e social em que se inserem. Em Nos Tempos do Imperador, entre alguns exemplos, a
personagem Tonico Rocha estabelece diálogos intertextuais com a realidade do tempo
vivido pelo espectador, inclusive por meio da inserção de bordões reiterados no âmbito
político brasileiro ou mencionando a instituição das “rachadinhas”; outra personagem,
Clemência, protesta contra o marido utilizando-se da expressão “ele não”, alusiva à
hashtag originada durante as campanhas eleitorais de 2018. Em Mar do Sertão, a partir de
personagens corruptas e da destituição de uma prefeita eleita democraticamente, o tema
da política aparece do início até o final, quando Xaviera elege-se prefeita na cidade de
Canta Pedra e assume o cargo em cena inspirada na posse, em 2023, do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Considerando arranjos estéticos e efeitos de sentido da telenovela
tomada como campo do sintoma, a análise será conduzida a partir de preceitos da
sociossemiótica, considerando uma seleção de cenas que em certa medida funcionam
como metáfora e metonímia de contextos sociais e políticos do Brasil, remetendo a
personalidades políticas atuantes no país.
Sessão
Representações, contra-representações e representatividade:
território e pertencimento
Sala 09 | Dia 21/09 às 16h
Territórios e pertencimento em documentários brasileiros sobre futebol
Francisco Alves dos Santos Junior ( UFRB) e Angelita Bogado (UFRB)
O evento "Pedagogia das Margens: (A)mostra" ocorreu nos dias 17 a 19 de março de 2023,
no cinema Estação Net Rio, em Botafogo, Rio de Janeiro/RJ. Foi idealizado pelo coletivo
Zona de Cinema, da zona oeste carioca, com o objetivo de criar uma formação de público
especial que atraísse pessoas das margens. Com foco na produção audiovisual de impacto
social na zona oeste desde 2016, esse foi nosso primeiro evento na zona sul, fora de áreas
periféricas. O evento foi patrocinado depois de ganharmos o edital Juntes pela Cultura do
Goethe-Institut e do Serviço de Cooperação e Ação Cultural do Consulado Geral da França
no Rio de Janeiro. Foram três dias de evento, cada um com sessão de cinema seguidas de
debates e oficinas de cinema. Participaram pessoas que nunca haviam assistido a um filme
no cinema, através de mobilização especial junto com o projeto Ler, Viver, Existir, Bem TV,
Mídia Independente Coletiva e Associação Cristã de Moços (AMC). A Pedagogia das
Margens é uma versão decolonizada da Pedagogia do Cinema, desenvolvida por Alain
Bergala, metodologia pedagógica que envolve a produção de filmes em ambientes
escolarizados. A Pedagogia das Margens foi desenvolvida pelo coletivo Zona de Cinema,
que subverteu paradigmas da Pedagogia do Cinema. A metodologia da Pedagogia das
Margens usa apenas filmes brasileiros, curtas-metragens completos, foca em temas
sugeridos pelos alunos, e atua em ações em territórios periféricos, dentro e fora de sala de
aula.
Sessão
Meio-ambiente e ecologias decoloniais
Sala 03 | Dia 21/09 às 16h
A cosmologia dos povos indígenas presentes nos filmes objetos deste trabalho: Tio Yim
(2019) da zapoteca Luna Máran, Mala Junta (2016) da mapuche Claudia Huaquimila, Rama
Pankararu (2022) roteirizado por Bia Pankararu, Luz nos trópicos (2020) da
colombiano-brasileira Paula Gaitán e El Verano de los peces voladores (2014) da chilena
Marcela Said tem em comum uma visão sobre a paisagem que descentraliza o homem
como centro semântico. Ao transpor os territórios para o cinema, os longas apresentam
paisagens múltiplas em formas de vida e de narrativas, além disso, os seres inanimados
são observados de maneira transcendental. A terra, os animais, os rios e as plantas desses
lugares são únicos, são sagrados. Para os Pankararu, os Kuikuro, os Mapuche e os
Zapoteca não há uma percepção da terra como zona extrativa visando o lucro. O território
em si é vida em sua mais preciosa manifestação. Ao definir o recorte bibliográfico, o
latente diálogo dos filmes para com os elementos não-humanos convocados em tela
levaram a tecer uma linha de confluências entre autores interessados em partir para uma
percepção do mundo que propõem uma visão crítica ao antropocentrismo e que enunciam
desvendar caminhos em busca de uma sensibilidade multiespécie e pesquisadores
indígenas. Desta forma as pesquisas Donna Haraway, Anna Tsing, e Carola Saavedra são
postos ao lado do trabalho de intelectuais indígenas como Ailton Krenak, Juan Ñanculef
Huaiquinao, Célia Xakriabá e Silvia Rivera Cusicanqui.
A proposta desse trabalho é apresentar uma escuta sensível do filme Nũhũ Yãgmu Yõg
Hãm: Essa Terra é Nossa! (2021, direção coletiva de Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina
Canguçu e Roberto Romero). Partimos de uma leitura das imagens como espaço de
disputa por narrativas contra colonialidade e, assim, tentamos compreender como a
presença do cinema pode servir como espaço de reinvenção da vida e de proposição de
rupturas com práticas etnocidas reiteradas por mais de quinhentos anos. Ao longo do
filme, que também pode ser lido como um exercício de reconstrução e destruição de
fronteiras (humanas, políticas, espaço-temporais), alguns representantes do povo Maxacali
(ou, como se autodenominam, os Tikmũ’ũn) entoam cânticos em terras que continuam a
ser invadidas por fazendeiros. Seus cantos tentam comunicar aos espíritos daquele lugar
que os Tikmũ’ũn ainda estão vivos e que ainda pedem e precisam de sua proteção contra o
povo-formiga. As discussões apontadas a partir do filme têm como embasamento ideias e
pensares de Ailton Krenak, Sidarta Ribeiro, Emanuelle Coccia, Malcon Ferdinand e Davi
Kopenawa.
Mesa
Formas de inventar a si e ao outro na filmografia de Olney São
Paulo
Sala 04 | Dia 21/09 às 16h
Em Manhã cinzenta (1969), Olney São Paulo apresenta a história de líderes estudantis
lutando contra um governo ditatorial que reprime manifestações opositoras, torturando e
executando seus rivais. O filme possui toques de ficção-científica: o julgamento dos líderes
estudantis é feito por um robô. A obra rompe com certas imposições do fazer
cinematográfico ao não apresentar narrativa linear ou fazer uso puro do discurso ficcional,
misturando diferentes mídias como a fotografia, manchetes de jornais, filmagens de TV e
charges para compor seu todo. Olney advogava pela mistura do ficcional com o
documental, enxergando em ambos os fazeres uma encenação de compreensão do mundo
que os cerca. Com a perseguição empreendida pela ditadura contra o filme mencionado e
seu realizador, a compreensão de cinema de Olney não se modifica, mas seu senso de
descolonizar seu fazer fílmico se aguça. Anos após sua realização, Olney retorna à sua
Riachão do Jacuípe natal para filmar um documentário baseado em crônica de Eurico
Boaventura, editada por ele, em que filmará o sertanejo demonstrando suas técnicas de
leitura da paisagem para prever as chuvas. Filma o sertanejo encenando seus próprios
saberes perante sua câmera, descrevendo formas de prever os períodos da chuva,
demonstrando a capacidade de criação de saberes fundados em seu quinhão de terra.
O cinema é um dos suportes possíveis de interpretação do espaço, uma vez que os filmes
podem ser desdobramentos do entrelaçamento simbiótico entre o espaço urbano e a
cultura. Para tanto, propomos um debate que trate sobre a representação de Feira de
Santana, suas dinâmicas e seus atores sociais nos filmes do cineasta baiano Olney São
Paulo (1936-1978) realizados na urbe do interior nordestino. Busca-se com essa proposta
ampliar uma discussão já tocada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia
(PósCom/UFBA) através da pesquisa intitulada "O cinema e o Sertão: a memória rural e a
noção de urbanidade da Feira de Santana na obra de Olney São Paulo", que busca
justamente investigar como estão formatadas no repertório imagético do realizador em
questão as noções de apagamento ou de evidenciação da ruralidade feirense durante o
processo de franca industrialização vista no interior nordestino nesta época, dando
importância ao aspecto da construção da memória coletiva. Nossa exposição se arvora em
uma dimensão recente no campo das Ciências da Comunicação, trabalhada por autores e
autoras que se ancoram na ideia de meio desenvolvida por Marshall McLuhan, pelas
escritas de Walter Benjamin acerca da vida citadina.
PROGRAMAÇÃO COCAAL 2023
DIA 22/09, SEXTA, 14H
Sessão
Cinema, arte e educação: práticas de cuidado
Sala 12 | Dia 22/09 às 14h
Esta comunicação apresenta uma análise do documentário Samadhi Road (2020), dirigido
pelos Irmãos Ahimsa (Daniel e Júlio Hey). O foco é a discussão da temática do
autoconhecimento e sua relação com a memória e com a espiritualidade, temas presentes
na obra. O filme utiliza entrevistas com personalidades que têm uma forte familiaridade
com a transmissão de conhecimentos, e em cada narrativa, comparecem relatos de
vivências, experiências de aprendizados, que por sua vez se tornam acervos, saberes
adquiridos ao longo da trajetória. Nesta perspectiva, o trabalho analítico visa compreender
como os diretores exploram, no filme, essas práticas de autoconhecimento e sugerir, a
partir das trajetórias das pessoas entrevistadas, as conexões que permitam trazer
reflexões que respondam à pergunta fundamental: “Quem sou eu?”.
Essa comunicação se faz por nós, pelo enlaçamento de fios, de linhas, de histórias
autoficcionais. A ficção é performativamente compreendida como ampliação do corpo no
real e não como, falso, contraponto ao real. A performance subverte a lógica dos corpos
dóceis produzidos pelo currículo para o cotidiano escolar, pois produz presença
performatizando a vida de outras maneiras, performatizando seus corpos, burlando
desigualdades corporificadas em relações hierárquicas. problematizo o que desclassificam
tudo que não é enquadrado como normal, os porquês de uma visão de escola que se
impõe e busca acreditar na ideia de ordem verticalizada de cima para baixo, a forma
correta de se existir. Todos os corpos que se apresentam fora da forma no cotidiano
escolar, os nós, por uma visão dualista são classificadas como confusos, devendo ser
postos em seus lugares. No entanto, defendo que os que parecem confusos, se entrelaçam
de outras formas. Sendo assim, busco apresentar que as performances acontecem
enquanto emaranhados de narrativas autoficcionais, produzidas por corpos que se
constituem por múltiplas trajetórias que atravessam o cotidiano escolar. Desse modo, ao
ficcionar as narrativas buscam-se performar a vida como um exercício estético, por meio
da criação, criando ação ao produzir um espaçotempo de (r)existência ao se permitir
sensações que afetam o próprio corpo como um convite às vivências do mundo
transbordante, de sensações que dão vitalidade aos seus próprios corpos.
Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: figuras da insurgência
Sala 10 | Dia 22/09 às 14h
Neste trabalho, apresentamos o coletivo paulista de arte Frente 3 de Fevereiro (F3F), suas
proposições na arte e na dimensão política, através da discussão de algumas de suas
obras. A F3F é um grupo multidisciplinar e diverso em sua composição que se dedica a
pesquisar e intervir artisticamente sobre o racismo na sociedade brasileira. O Grupo surgiu
no ano de 2004 e tem se organizado a fim de associar o legado artístico à luta contra a
discriminação racial a partir de novas estratégias de resistência e de interação com o
espaço urbano. Para tanto, a F3F tem utilizado objetos, imagens, registro fonográfico e
intervenções urbanas, entre outros elementos, em prol da função política que o Grupo
assume. Suas ações circulam pelas noções de monumento e de intervenção midiática que
surgem de condições sociais da própria cidade. O uso do espaço público para realização
de suas manifestações artísticas denota intenso diálogo com as questões raciais e sociais
que se desenvolvem na cidade. Dito de outra forma, as ações do coletivo transitam entre
manifestos sociais e ações artísticas de temática contra o racismo com o foco direcionado
para o espaço urbano justamente por se relacionar com ele e questioná-lo, bem como às
relações sociais ali estabelecidas.
Os primeiros grupos LGBTI+ organizados na Argentina e no Brasil surgem com uma década
de diferença; ao final dos anos 60 e ao final dos 70, respectivamente. Ainda que os países
estivessem em momentos distintos de relação entre sociedade civil e regime autoritário,
ambos movimentos iniciam a sua atuação em períodos ditatoriais e, mesmo com a
repressão, traçam o surgimento de um sujeito militante inédito. Esta nova subjetividade
militante desviada expande as zonas de interrogação dentro das esquerdas e alarga o que
é concebido como política, instigando reflexões sobre os possíveis contatos entre política
sexual e transformação democrática. São poucas as fotografias difundidas publicamente
que retratam estes primeiros passos da militância. Nas pesquisas sobre o início do
movimento LGBTI+ dos dois países, as imagens, quando acionadas, geralmente aparecem
em caráter acessório, não como objeto de pesquisa ou em seu potencial de contribuição
metodológica. A partir de uma análise comparativa de algumas fotografias da época, esta
comunicação busca investigar aportes da linguagem fotográfica, em seu lugar simultâneo
de fabulação e documento, para o campo da memória LGBTI+ latino-americana.
Procuramos costurar aqui um exercício de montagem visual que marca aproximações,
trazendo à tona possíveis fissuras e conexões, tendo como base o potencial heurístico da
visualidade para o campo dos estudos comparativos.
“No gesto do levante, cada corpo protesta por meio de todos os seus membros, cada boca
se abre e exclama o não da recusa e o sim do desejo” (DIDI-HUBERMAN, 2017)
O trabalho pretende falar da política das imagens a partir das obras do filósofo Georges
Didi-Huberman e lançar o olhar para o gesto do levante e da insubordinação no filme
alagoano Cavalo (2020). Nos propomos a estudar as imagens provocadas pelo filme
através de questões que nos atravessam na contemporaneidade, analisando,
especialmente, sua perspectiva política e sua natureza insurgente. Cavalo, primeiro filme
alagoano realizado através de edital de fomento, é uma produção híbrida que convoca sete
dançarinos/as a um mergulho nos seus corpos e em suas ancestralidades. “Cavalo é
também o termo usado nas religiões afro-diaspóricas, como a Umbanda e o Candomblé,
para denominar os praticantes que são capazes de receber entidades em seus corpos. A
incorporação no cavalo não é apenas mental ou espiritual – ela passa por todo o corpo”
(BARBOSA; BAGETTI, 2020). Através das reflexões promovidas por Didi-Huberman (2017) e
Butller (2027) sobre o termo levantes e da ontologia positiva proposta por Negri (2017),
analisaremos a potência das imagens dos corpos, as possibilidades de insubordinação
narrativa e as resistências dos desejos incontornáveis.
Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: contra-histórias da
colonização
Sala 03 | Dia 22/09 às 14h
Nesta comunicação propomos analisar o olhar visionário sobre o passado colonial e suas
persistências contemporâneas em Zama (2017) da diretora argentina Lucrecia Martel,
dentro de uma perspectiva espaço-temporal que propõe uma narrativa não linear de ficção
como cesta (Le Guin, 1997). Ao criar um passado sem fatos históricos nem narrações
épicas, analisamos o uso recorrente de recursos estéticos e artifícios como a música extra
diegética (Índios tabajaras) e tom de Shepard (efeito de som). Esses elementos criam um
distanciamento paródico da realidade colonial de forma crítica, incorporando a fantasia
sem abrir mão da proposta realista do filme, manifestada também em cena por objetos de
arte e figurino, que desestabilizam a visão única de um passado estereotipado. De que
maneira as estratégias estilísticas do filme buscam ressignificar nosso olhar sobre o
passado colonial? De que forma as canções e efeitos contribuem para este fim? O conceito
de estilo, no âmbito dessa comunicação, é entendido como um uso sistemático e
significativo (David Bordwell) de recursos estéticos no filme.
O filme Amérika: bahía de las flechas (2016), da artista e cineasta brasileira Ana Vaz,
apresenta questões pertinentes a determinados processos latino-americanos. Em primeiro
lugar, abordamos o gesto de girar a câmera do filme, e de sua ligação com a tradição do
cinema experimental, em geral, e ao chamado Novo Cinema Latino-Americano, em
particular. Ao produzir figuras de rotação, através de uma câmera que atua como extensão
de seu corpo, Vaz desestabiliza o horizonte para a criação de paisagens vertiginosas. Com
isso, tensiona os sistemas convencionais de representação que implicam corpo e mente,
sujeito e objeto, natureza e cultura. Em segundo plano, a dimensão histórica do filme pensa
sobre o conflito ocorrido em 1492 no lago Enriquillo – situado na atual República
Dominicana – entre o povo ameríndio Taíno e os invasores espanhóis. Remetendo ao
evento que ficou conhecido como a primeira tentativa de assentamento europeu na
América, o filme revisita o território do lago, abrindo a possibilidade de conjurar fantasmas
coloniais através da prática artística. Sob uma abordagem metodológica que privilegia os
fios estéticos e históricos das imagens em movimento, pensamos o objeto de estudo como
capaz de multiplicar, reorganizar, ressituar, modos de ver e estar na Terra.
Sessão
Linguagem: reconfigurações, experimentações, transgressões
Sala 7B | Dia 22/09 às 14h
Sessão
Poéticas sonoras e musicais
Sala 04 | Dia 22/09 às 14h
O filme Sete Anos em Maio (2019) de Affonso Uchoa apresenta o estado de exceção
presente na periferia em um duplo ético da impossibilidade da representação e uma
experiência de exposição direta, em fabular o irrepresentável. A obra audiovisual navega
contra a quimera construída de uma pacificação vista de cima para baixo, controladora e
mantenedora da desigualdade, impositiva à naturalidade e aceitação passiva. Destacando
o personagem principal, Rafael dos Santos Rocha, não apenas como vítima com a sua mera
presença de corpo e visibilidade, mas o aparta com uma voz participativa, potente e ativa
de suas experiências. Na figura de um narrador como transmissor da memória em sua
oralidade, Rafael se auto representa no duplo personagem/ator. O estudo pretende analisar
o filme Sete Anos em Maio em suas escolhas e aplicações técnicas no campo da linguagem
sonora. Metodologicamente para a reflexão sobre a utilização do som e a ausência de uma
trilha sonora musical no filme, o texto será guiado pelas obras: Cenografia Sonora,
paisagem e produção de presença em Lisandro Alonso da autora Virginia Osório Flôres que
parte a questão da produção de presença concebida por Hans Ulrich Gumbrescht;
Montagem e som no cinema Artesanal Brasileiro: Gambiarras e experimentalismo de Kira
Pereira que destaca a criativa relação da montagem e som em suas condições de
produção e aplicações estéticas.
Sessão
Afetos, emoções, sentimentos: desejos e anseios
Sala 6A | Dia 22/09 às 14h
Abrir a Porta Não é Sair do Armário: a busca pelo “ser homem” em representações de
infâncias no cinema
Charles Morais de Souza (UFRB)
Esta comunicação tem o objetivo de discutir a representação das PVHIV (Pessoas que
vivem com HIV) no cinema latino-americano contemporâneo, por meio da análise da
caracterização dramática e simbólica de seus Corpos, gêneros e sexualidades nos filmes
Cazuza — o tempo não para (Sandra Werneck e Walter Carvalho, 2004), Un año sin amor
(Anahí Berneri, 2005), El charro de Toluquilla (José Villalobos, 2016), El acompañante (Pavel
Giroud, 2019). Estes quatro filmes, respectivamente realizados no Brasil, na Argentina, no
México e em Cuba, são centrados em protagonistas únicos. Interessa-nos delinear as
relações subjetivas e sociais que estes protagonistas desenvolvem consigo mesmo e com
seu meio social, buscando ressaltar a influência de aspectos (distintos ou compartilhados)
da realidade latino-americana nestas relações. Tanto para estas delineamento identitário
quanto para a compreensão das especificidades estéticas e narrativas destas obras
(advindas de matrizes romanescas, biográficas e documentárias do cinema), situaremos
estes filmes na tradição cinematográfica da representação das enfermidades, discutindo o
estigma e a culpabilização moral e social das PVHIV em diálogo com obras de outros
continentes como os precursores Parting Glances (Bill Sherwood, 1986) e United tongues
(Marlon T. Riggs, 1989) e os mais recentes As horas (Stephen Daldry, 2003), Yesterday
(Darrell James Roodt, 2004), Sida de Gaspar Noé (2005), Clube de compras Dallas
(Jean-Marc Vallée, 2016).
Saudade do Futuro, filme da cineasta Anna Azevedo, funde documentário e ficção numa
obra poética realizada em três países e com a participação de povos lusitanos, originários
do Brasil e cabo-verdianos, que discutem a saudade a partir de suas próprias experiências
de luto, ausência e melancolia. O filme segue além das tradicionais discussões
psicanalíticas e contextualiza a saudade dentro dos acontecimentos históricos em três
continentes, com a vida pesqueira em Portugal, as forças militares deste país na África, a
independência das colônias portuguesas, a invasão europeia no Brasil e a persistência
secular dos atritos contra as nações indígenas no Brasil. É uma obra que conjuga de forma
sensível política e subjetivação, ao discutir o fascismo, a escravidão, as ditaduras e a
violência do Estado e do capitalismo, em sociedades fendidas entre ricos e pobres e aqui
apresentadas numa contranarrativa do poder hegemônico. Grandes artistas como
Martinho da Vila e Marco Lucchesi (Brasil), Valter Hugo Mãe (Portugal) e Elida Almeida
(Cabo Verde) participam do filme.
Sessão
Militâncias e ativismos indígenas no audiovisual
Sala 11 | Dia 22/09 às 14h
Com câmera, corpo e alma: lutas e realizações Ashaninka no filme Antônio & Piti
Kim Mello Queiroz (UFF)
Mesa
Corpos em afirmações, trânsitos e fabulações no cinema e na
arte contemporânea
Sala 09 | Dia 22/09 às 14h
A artista visual, pesquisadora e atriz Aline Brune tensiona a fotografia em suas produções,
tanto nas escolhas de suportes para a imagem fotográfica e posteriormente sua quase ou
total dissolução pela pintura, pelo vídeo, pelo bordado, quanto na mobilização teórica que
conduz sua pesquisa a partir da ficcionalização do real, criando camadas e dobras em uma
mesma imagem. No díptico Tem um monte de Oxum no SUS (2019), a visualização de outro
mundo através dos sonhos inseridos/propiciados pelas fissuras de sedução da imagem
fotográfica que impulsiona a trama poética, é explorada na variedade de técnicas e
suportes que dão à duas imagens camadas sensoriais distintas, que podem ser
complementares ou não, dependendo do acesso que o observador terá à elas. As duas
fotografias que passaram por uma série de processos como impressão em tecido, pintura e
bordado, também foram utilizadas na videoarte selecionada para a Mostra Competitiva
Baiana do XV Panorama Internacional Coisa de Cinema, realizada em Salvador e Cachoeira
em 2021. Buscaremos abordar a criação dessa imagem que parte da fotografia, mas que é
atravessada por várias formas de intervenção orientadas pela relação entre o real e onírico,
em que os sonhos, fora da perspectiva ocidental, possui a função política de possibilitar a
coletividade e com ela, a resistência, um forte argumento presente no pensamento de
Ailton Krenak e Davi Kopenawa, por exemplo, acessado pela poética da artista.
Ética da reparação em tempos de cuidado: corpo, dança e cidade em fabulação para ficção
visionária
Milene Migliano (UFRB)
Desde três filmes com protagonistas mulheres cis e trans, negras e indígenas que
reinventam seus corpos em espaços urbanos, explorando liminaridades criativas
(MIGLIANO, 2021) entre documentário, experimental e ficção, ficções visionárias
(IMARISHA, 2016) gerando espacialidades nas cidades que habitam. As fabulações se
realizam desde o que venho chamando de uma ética da reparação (KILOMBA, 2019)
reinscrevendo o lugar das personagens em um protagonismo que atualiza a potência de
seus corpos, há tanto subalternizados e violentados. Compreendo que a ética da
reparação faz parte dos cuidados em viver “segundo uma ética amorosa” (hooks, 2021),
“desapego do modo da obsessão pelo poder e pela dominação”(Idem, p.123),
proporcionando a composição de uma estética que costura a vivência e experiência
cultural com o desejo de mudança e realização no território de realidades diferenciadas.
Em Amarela, de BSartori (2023), produzido em componente curricular em cinema, a dor do
corpo protagonista, travesti, ultrapassa a solidão e confusão em um encontro com Orixá
Oxum. Em Abjetas 288, Júlia da Costa e Renata Mourão (2018) dirigem criativamente com
a cidade, em movimentos de (re)apresentação como uma dança de contato no beco de
casa, com os grafittis e vertigem labiríntica, mixada no musical. Em Heróica Dreams (2022),
Marvin Pereira orquestra uma ode aos corpos jovens de Cachoeira, mobilizando-a a sonhar
e se realizar, com a ancestralidade presente na música, na dança, nas paredes e no rio.
Onde estão as artistas visuais negras do recôncavo da Bahia? Uma discussão sobre
ausências
Ana Thais Oliveira da Costa Santos (UFRB)
Mesa
Emoção e Sensação: desafiando estruturas narrativas no
audiovisual brasileiro
AUDITÓRIO | Dia 22/09 às 14h
Inspirada pela teoria do drama e pela teoria literária, Claudia Sternberg (1997) identifica
quatro modos de apresentação do roteiro audiovisual: descrição, relatório, discurso e
comentário. Apesar do princípio "não conte, mostre" fortemente presente nos manuais de
roteiro, a autora argumenta que a maioria dos roteiros faz uso do modo comentário, que diz
respeito a informações que "não podem ser transmitidas audiovisualmente ou fazem uso
de figuras de linguagem que contribuem apenas indiretamente ao som e à imagem" (p. 73).
Por meio dele, roteiristas podem explicar, interpretar ou qualificar ações, personagens,
lugares, objetos - e, argumento, também convocar sensações, emoções e construir
atmosferas.
A partir da análise de trechos do roteiro do longa-metragem de drama/horror "A Sombra do
Pai" (2018), escrito e dirigido por Gabriela Amaral Almeida, pretendo demonstrar como o
excesso se manifesta no texto de narrativas audiovisuais que dialogam com o universo do
horror. Através do uso de elementos provocadores do corpo e dos sentidos, argumento
também que esse tipo de escrita fílmica pode nos instigar mais intensamente a refletir
sobre os medos e anseios sociais, culturais e psíquicos trabalhados pelos filmes. Em "A
Sombra do Pai", nosso estudo de caso, zumbis, fantasmas, bruxarias e mulheres-plantas
ilustram as angústias, dificuldades e a solidão da infância e da classe operária, tecidas na
delicada relação entre a menina Dalva, órfã de mãe, e seu pai, o pedreiro Jorge.
Mesa
Resistência e decolonialidade no cinema brasileiro recente
Sala 6B | Dia 22/09 às 14h
Que belezas nossos olhos se acostumaram a ver representadas e encenadas diante de nós
nas telas, grandes e pequenas? Que padrões estéticos validamos, enquanto profissionais,
ao reproduzirmos essas belezas nas produções? Como podemos repensar as belezas que
criamos, reproduzimos e incorporamos em nossas vivências, de forma a torná-las mais
representativas das variedades de corpos existentes? Com essas perguntas iniciais em
mente, busco estabelecer um diálogo entre o curta-metragem KBELA, dirigido por Yasmin
Thayná, e o conceito de Imagens de Controle, desenvolvido por Patricia Hill Collins, a partir
da observação e análise da caracterização das personagens - em especial a beleza
(composição de maquiagem e cabelo). Compreendendo as múltiplas produções do campo
audiovisual como partes importantes para a construção de imaginário social e reforço de
imagens de corpos compreendidos como relevantes, aceitos e desejáveis, destaca-se em
KBELA a força de representatividade negra feminina com corpos diversos e belezas
destacadas positivamente. Contextualizando a produção analisada em um sistema mais
amplo de construção de país, com uma estrutura social sustentada em bases racistas de
resquício colonial, discuto se, e de que forma, a visualidade negra representada no filme
como desejável e empoderadora, reforça a beleza negra como padrão de si mesma ao
recusar imposições estéticas da branquitude, e, por conseguinte, desafia imagens de
controle que incidem sobre mulheres negras.
Este estudo pretende construir um paralelo entre reflexões sobre resistência de corpos
marginalizados feitas por personagens queer no cinema brasileiro, em especial a cantora
travesti preta periférica Linn da Quebrada, no documentário Bixa Travesty (2018), e a
personagem ficcional transexual Rose, vivida pela atriz travesti Renata Carvalho em Os
Primeiros Soldados (Oliveira, 2022). A proposta é tensionar a lógica cisheteronormativa tão
reiterada nos cânones do cinema europeu e estadunidense a partir de reflexões, afetos e
vivências das margens, em especial de corpos abjetos (Butler, 2019) particulares do Sul
Global. Para isso, destacamos duas produções cinematográficas com protagonismo
transvestigênere (palavra derivada de travestigênere, termo criado no brasil que conjuga
as identidades transexual e travesti), lembrando que a identidade travesti, que nasceu no
Brasil, é necessariamente latinoamericana e atravessada por marcadores de
vulnerabilidade social como classe e raça. A partir dessas considerações, pretende-se
vislumbrar possibilidades de construção de um futuro decolonial que não cabe na lógica de
sucesso ou fracasso da cisheteronormatividade capitalista vigente (Halberstam, 2020) e
que seja bordada de forma artesanal e coletiva, em um cenário em que as diversas
vivências são consideradas.
Mesa
Sob as camadas da direção de arte: cores, ruínas e memória no
cinema brasileiro
Sala 05 (Pós) | Dia 22/09 às 14h
Como pensar a cor nos processos de direção de arte? Desta questão se originou o
presente trabalho que tem como objeto de análise o cromatismo da materialidade
arruinada do casario da Ladeira da Soledade, no centro antigo da cidade de Salvador, na
Bahia. Partindo-se do roteiro intitulado Sanjo (PAIVA, 2021), cuja narrativa é
contextualizada no referido espaço, realizamos um mapeamento das camadas de cores
nos espaços em ruínas do casario e construímos um estudo de paletas de cores, tendo
como base uma metodologia desenvolvida pela pesquisadora. Nesse processo de direção
de arte, foram consideradas a estrutura narrativa e as demarcações espaciais e cromáticas
do roteiro; assim como uma pesquisa histórica e iconográfica acerca do referido contexto
material. Sanjo é um roteiro escrito no percurso desta investigação a partir da perspectiva
da direção de arte e nasceu em um momento em que testemunhamos a desvalorização, a
degradação e o abandono de inúmeros casarões seculares do centro antigo de Salvador,
evidenciado em sucessivos desabamentos ocorridos nas últimas décadas. A trajetória
assíncrona da personagem principal de Sanjo na visualidade do Solar Bandeira, na
Soledade, representa a esperança de um futuro em que a nossa cultura material, em toda a
sua imaterialidade, seja respeitada, preservada e valorizada.
Marília Hughes e Cláudio Marques são profissionais do audiovisual que transitam entre a
realização, a crítica e a difusão cinematográficas. A trajetória rica e diversa da dupla é
marcada pelo tema da memória que marca, tanto produções audiovisuais quanto a
militância em defesa de salas de cinema, como se verifica no filme da dupla O Guarani
(2008), documentário sobre a histórica sala de cinema de Salvador que amplificou um
discurso em defesa da reabertura da sala. A condição arruinada, que marcava o espaço do
cinema no documentário, aparece em muitos espaços retratados pela produção dos
realizadores, como o curta Loná de Asfalto (Marília Hughes e Aline Frey, 2002), o vídeo
documentário Pelores (Marília Hughes e Aline Frey, 2004), o filme ensaístico Cidades
Invisíveis (Marília Hughes, 2006), o curta Desterro, que documenta o retorno a áreas
inundadas para a construção da barragem de Sobradinho, dirigido pela dupla em 2012. No
primeiro longa de Hughes e Marques, Depois da Chuva, de 2013, o espaço arruinado
igualmente se faz presente e adiciona à obra de ficção aberturas semânticas, dada a
conexão da figura da ruína a tempos-espaços exteriores à diegese. Buscando a ontologia
da ruína na arte e na filosofia, encontra-se um debate que a localiza no alvorecer da
modernidade e na separabilidade que constituiu o sistema-mundo moderno-colonial e
reverbera até hoje nos modos de viver e criar em territórios pós-coloniais.
Memória e subjetividade em imagens do presente: a presença da direção de arte em Torre
das Donzelas (2019)
Theresa Medeiros (UFRN)
Esta comunicação tem como objetivo discutir o papel da direção de arte na construção da
narrativa visual do documentário Torre das Donzelas (Susanna Lira) problematizando
questões como a presença de uma equipe dessa natureza na criação de uma obra
documental e o processo de criação baseado na rememoração e no relato de fontes
testemunhais. Halbwachs (1994) vê a rememoração como uma reflexão e defende que é
essa medida que dá o caráter social à nossa memória. Neste documentário, que teve como
motivação "promover um reencontro do Brasil com seu passado subvertendo o senso
comum da anistia enquanto esquecimento" (ANCINE), para além da encenação, o exercício
de rememoração de mulheres que foram presas pela ditadura militar do Brasil, são o fio
condutor da construção do espaço pela diretora de arte Glauce Queiroz. Desta forma, esta
análise, que se alicerça metodologicamente nos estudos sobre a crítica do processo
(SALLES, 2006) e análise fílmica, observa como o processo de criação é traduzido na
linguagem cinematográfica, como a dimensão atmosférica foi estruturada, sendo
permeada de subjetividades e enriquecida com as emoções de quem a conta em espaços
da recordação (ASSMANN, 2011). A presença de uma equipe de direção de arte desperta
um interesse de análise pois, embora não seja incomum, dados de um levantamento feito
pela autora, a partir da listagem de documentários lançados no Brasil de 2018 a 2021
(ANCINE), aponta que apenas 12% das obras têm creditação para direção de arte.
PROGRAMAÇÃO COCAAL 2023
DIA 22/09, SEXTA, 16H
Sessão
Cinema, arte e educação: relações étnico raciais
Sala 12 | Dia 22/09 às 16h
Essa pesquisa é para falar sobre o cinema feito na periferia pelo coletivo BaixadaCine, feito
na Baixada Fluminense, mais, especificamente, em Belford Roxo, cidade com população
estimada em 510.906 pessoas e com 78.985 km² de território segundo IBGE, é a maior
cidade do Brasil e não tem nenhuma sala de cinema. E para falar sobre esse tema trabalho
conceitos como identidade, memória, território, interseccionalidade e feminismo negro. O
coletivo é composto por 10 pessoas de maioria preta e LGBTQIA+, residentes na região da
Baixada Fluminense que movimentam a cena cinematográfica local, seja produzindo filmes
ou seja ensinando através das oficinas ministradas e distribuindo através do cineclube. É
visível a importância de um coletivo como o BaixadaCine numa cidade periférica como
Belford Roxo, uma equipe diversa em funções, territórios e condições sociais, com
conhecimento de território, metodologia própria, com produtos cinematográficos originais
e muita experiência com baixos orçamentos, isso é bem característico do cinema
independente feito pelo coletivo. Essa pesquisa também cria e mostra como a luta da
periferia para sobreviver ao caos urbano é feita através de olhos, principalmente, olhos
negros e femininos.
Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: flechas, cestas, mísseis
Sala 10 | Dia 22/09 às 16h
A comunicação pretende relacionar e investigar como o texto "A ficção como cesta: um
teoria" de Ursula Le Guin e a websérie "Flecha selvagem" produzida pelo Ciclo Selvagem -
concebido por Anna Dantes e Ailton Krenak - funcionam como ferramentas conceituais e
políticas para refundar modos e meios de produzir cinema hoje. No texto, Le Guin relaciona
seu modo de fazer literatura com a imagem da cesta como uma estratégia
contra-hegemônica às narrativas eurocentradas de contar histórias - que, segundo a
autora, estariam vinculadas a uma teoria da flecha, da guerra, da chegada no objetivo final.
Ela propõe que contemos outras histórias a partir de perspectivas circulares, em que o
Herói (hétero/cis/branco) deixa o centro das narrativas, abrindo espaço para que outres
seres viventes, sistematicamente silenciades e marginalizades, ocupem esses
protagonismos. Também defende que o propósito das histórias não é a resolução ou o
êxtase, mas sim um processo contínuo e que fazer ficção seria abandonar o humano e
vincular-se a um tipo de olhar não-humano e mais monstruoso, espiralado e cósmico, em
que os protagonismos são múltiplos e muitos, abandonando a ideia de unidade e
dissolvendo-se em coletividade. De que modo essa teoria e a websérie "Flecha Selvagem"
podem ser aplicadas em contextos de ensino do audiovisual no Brasil? Que obras do
cinema contemporâneo brasileiro podemos relacionar com esse modo de fazer?
Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: denúncias e
resistências
Sala 03 | Dia 22/09 às 16h
A década de 1960 foi caracterizada por uma série de protestos e insurgências mundo afora
- geralmente liderados por estudantes - contra a ordem política e econômica dominante.
Seguindo esta atmosfera de luta pelos direitos civis das minorias, os chicanos, nos Estados
Unidos, deram voz a diversos problemas e demandas da população norte-americana de
ascendência mexicana. O Cinema Chicano serviu, então, como ferramenta para a
divulgação de uma mensagem que enfatizava o orgulho étnico, condenava a discriminação
e demandava igualdade. Por meio da análise do filme I am Joaquín (1969), de Luis Valdez,
o presente artigo tem por objetivo demonstrar a relevância do Cinema Chicano dentro do
panorama de lutas sociais do final dos anos 1960 nos Estados Unidos. Nesta perspectiva,
foram exploradas as formas com que Valdez logrou sintetizar a história e cultura
mexicanoamericana de uma forma didática e ilustrativa, assim como, ajudou a modificar as
percepções dos mexicanos residentes nos Estados Unidos e mexicano-americanos sobre
seu passado, pela criação de raízes históricas e espirituais, pela celebração do orgulho
étnico e pelo auxílio na definição da identidade e ideologia chicanas como um todo dentro
da comunidade.
Sessão
Poéticas sonoras e musicais: amefricanidades
Sala 04 | Dia 22/09 às 16h
O presente trabalho propõe uma leitura reflexiva e analítica do filme Corpos em Filosofia
(2021) de autoria de Tiganá Santana, Moisés Victório e Jéssica Santos. A obra é parte do
trabalho desenvolvido por Santana em sua residência na discoteca Oneyda Alvarenga,
situada no Centro Cultural São Paulo, na qual encontram-se os fonogramas originais das
Missões Folclóricas, idealizadas e organizadas em 1938, por Mario de Andrade. Partimos
dos conceitos de fabulação crítica, desenvolvido por Saidiya Hartman e de ficção sônica,
desenvolvido por Kodwo Eshun, para compreender como os artistas constroem uma
contra-narrativa que ressignifica os arquivos sonoros coletados por Andrade. Ao
recontextualizar tal arquivo, os artistas ampliam os horizontes de compreensão das
epistemologias que alicerçam as musicalidades afrobrasileiras e diluem os ideais
folcloristas nacionalistas, projetados no acervo em questão pela intelectualidade brasileira
da primeira metade do século XX. Além do acervo das Missões folclóricas, nos debruçamos
em outro arquivo utilizado pelos artistas: as gravações do linguista estadunidense Lorenzo
Dow Tuner, realizadas na Bahia entre 1940 e 1941, em especial as gravações do babalorixá
Martiniano Eliseu do Bonfim. Por fim, tomamos como chave de leitura os estudos de
Santana acerca das sentenças proverbiais africanas para compreender a função da
palavra, enquanto força acionadora de saberes estético-filosóficos performativos
afrodiaspóricos na obra Corpos em filosofia.
Will Straw trouxe para os estudos acadêmicos a noção de cena musical em 1991 e
atualizou o conceito em 2006 no qual coloca a cidade como um ambiente de processos
comunicacionais para práticas culturais, possibilitando reflexões sobre identidades e
sociabilidades que estão relacionadas com espaços urbanos específicos. Em 2014, Straw
aponta que a espacialidade está implícita na ideia de cena que agrega coletividades
marcadas por proximidades, espaços que engajam fenômenos culturais dotados de
determinadas coerências, visibilidades e invisibilidades da vida cultural urbana. Em nossas
pesquisas recentes sobre práticas musicais e urbe, temos usado o conceito como uma
forma de cartografar fenômenos culturais para compreender práticas musicais
significativas organizadas territorialmente e reconhecidas como significantes de um
determinado discurso. Nosso desafio é pensar o conceito de cena musical afrolatina de
forma que nos possibilite compreender as práticas musicais forjadas em cidades da
América Latina que apresentam uma geografia de experiências engendradas em questões
étnico-raciais e de opressão. Lançamos mão da categoria político-cultural
“amefricanidade”, de Lélia Gonzalez (2020), com o propósito de expandir os caminhos
metodológicos e nos possibilita compreender experiências proporcionadas por práticas
musicais encenadas em cidades formadas majoritariamente por uma população negra,
resultantes de um processo histórico de colonização e escravização.
Este texto é sobre experiências do samba. Sobre as astúcias de sambistas e as formas que
estes foram produzindo para equilibrarem-se entre miséria e festa. O samba assumido
como um circuito comunicativo que possibilitou aos negros conversas e sincronização de
significativos elementos da vida cultural numa sociedade produzida para os brancos. O
texto está organizado em duas partes: a primeira, recupera elementos importantes do
samba: o encontro para as dinâmicas das parcerias, das com-vivências que levam às
composições e estas às maneiras de lidar com as memórias e com as relações entre
presente e passado da diáspora africana; a segunda parte dedica-se a buscar em Michel
de Certeau modelos para pensar as formulações das práticas: os relatos, os atos de
palavras, as enunciações. O trabalho está baseado no projeto Puxando conversa que
produziu vinte e sete documentários sobre compositores de samba.
Sessão
Afetos, emoções, sentimentos: corpos territorializados
Sala 6A | Dia 22/09 às 16h
O Paraguai padeceu da mais longa ditadura das Américas cujos fantasmas insistem em
habitar os palácios dos mais altos escalões políticos atuais. Como é o caso do presente
governo conhecido como Marito por carregar exatamente o mesmo nome de seu pai, Mario
Abdo Benítez, o secretario pessoal de Alfredo Stroessner durante os 35 anos de seu
governo tirânico. Dentro desse contexto, o cinema paraguaio toma um novo fôlego após
anos de sufocamento, quando muitas de suas produções voltam-se para a sua história
recente e mostram feridas impossíveis de serem curadas. Esta proposta aqui apresentada
tem como ponto de partida o delicado documentário paraguaio Guapo’y (2022) da cineasta
Sofía Paoli Thorne que acompanha a vida de Celsa Ramírez, detida pela Polícia Política de
Stroessner, grávida de seu primeiro filho que, ao nascer, se torna o preso político mais
jovem do Paraguay. Ambos vivem no Campo de Concentração da Emboscada junto à sua
mãe e muitos outros militantes que à sombra do guapo’y (uma espécie de figueira)
resistem. Como filmar as chagas de uma história perversa e dolorosa? Como tocar em um
passado repugnante sem cair nas armadilhas do drama inoperante? Como refletir sobre o
presente de nossa condição política junto a uma mulher comum que pratica diariamente a
cura dos golpes vividos? Esses e outros desafios são enfrentados por Sofía Paoli que ao
longo de onze anos constrói seu primeiro longa-metragem que guiará nossos
pensamentos.
A imagem não apenas registra, mas também constrói, por si só, narrativa e memória. Para
Elisa Ramos Pankararu, “o cinema, como expressão de uma linguagem ocidental, seria a
maneira mais próxima de uma tradução da oralidade indígena”. A presença do dispositivo
em campo dispara modos de narrar. Entre as mulheres Xokó, por exemplo, localizadas no
semiárido sergipano, a vergonha diante da câmera foi perdendo espaço para a apropriação
do dispositivo como ferramenta de construção da memória, não apenas coletiva, mas
articulada e produzida pelas mulheres. O material audiovisual entra como suporte de uma
retomada da narrativa feminina, na própria história das lutas pela terra. “A narração da
própria vida é o testemunho mais eloqüente dos modos que a pessoa tem de lembrar. É a
sua memória.” (Bosi 1979, 29). Se “memória é trabalho” (Bosi, 1979, 17), para Silvia
Cusicanqui, o cinema é um diálogo. O exercício da história oral é ativo e não passivo. O
cinema escancara a utilidade e inutilidade das palavras e os limites da escrita. O processo
de montagem dos testemunhos acaba se tornando uma criação que descobre histórias. A
montagem criativa, assim, se torna também uma experiência oral, afinal “se pensarmos na
poética da terra com as mulheres, acionamos a potência dos corpos e das políticas desse
imaginário. A relação mulher, terra e imagem, revela memórias vivas e apreensões
cosmológicas de suas alteridades." (Pinheiro 2020, 164).
Sessão
Artes e hibridismos
Sala 09 | Dia 22/09 às 16h
Este artigo propõe uma reflexão sobre o pensamento da direção de arte no processo de
releitura da obra bidimensional "Caipira Picando Fumo" (1893), do artista ituano Almeida
Júnior, para o processo tridimensional em Realidade Virtual no projeto Arte Viva - uma
experiência imersiva live action; a partir da perspectiva da visualidade e do espaço, com
ênfase na paisagem e na recriação de figurinos e objetos de cena. A transposição de uma
obra bidimensional para tridimensional pressupõe repensar o papel da direção de arte. O
projeto Arte Viva, realizado em espaço aberto no interior do estado de São Paulo, ampliou
a paisagem da obra e incluiu outros e outras personagens presentes na produção artística
de Almeida Júnior: além de Quatro Paus, o caipira; também foram inseridos, nessa
experiência imersiva, Nhá Chica (1885), o Derrubador Brasileiro (1875), Saudade (1899) e
Violeiro (1899). A proposta foi realizar uma abordagem sensorial, criando uma situação de
dramatização imersiva, onde esses personagens se movimentam e interagem com a
câmera. Ao portar os óculos e fones de ouvido de realidade virtual, o usuário é colocado no
centro da situação a partir do ponto de vista da câmera e pode explorar o ambiente com
360 graus de visibilidade.
No Brasil, a aparição da direção de arte ocorre no cinema moderno de Nelson Pereira dos
Santos, responsável por acolher e estimular o talento e a perspicácia de Luiz Carlos Ripper,
e no achegamento da metrópole paulistana de Luiz Sérgio Person, por meio da criatividade
de Jean Laffront nos décors e indumentárias. É possível, todavia, antever o nascedouro de
uma direção de arte em filmes como Destino em Apuros (Ernesto Remani, 1953) e Mulher
de Verdade (Alberto Cavalcanti, 1954)? O que a primeira cidade cenográfica da América
Latina, projetada por Pierino Massenzi em Tico-tico no fubá (Aldolfo Celi, 1952), nos conta
sobre os capítulos iniciais da história da direção de arte no cinema brasileiro? Afora
analisar um conjunto de produções que antecedem o crédito de diretor de arte atribuído a
Ripper, em 1967, esta pesquisa objetiva revisitar técnicas e processos criativos que
caracterizam os princípios do trabalho em estúdio, com interesse pela articulação dos
componentes que formam a base das visualidades cênicas — concepção e execução de
cenários, objetos, figurinos, adereços, maquiagem e penteados.
Exibido pela primeira vez em 2010, o vídeo A Prata e Cruz se trata de um projeto
comissionado criado pelo cineasta tcheco-alemão Harun Farocki para exposição Princípio
Potosí. Filmado em dois canais, apresenta planos-detalhes da tela Descripción del Cerro
Rico y Imperial Villa de Potosí, do pintor Gaspar Miguel de Berrío. A montagem inclui ainda,
ora no canal da direita, ora no da esquerda uma sobreposição de tela preta e/ou imagens
recentes de região de mineração de Potosí. Quanto ao som, esse se dá pela presença de
uma voz off que narra um texto com carácter denúncia das ações dos colonizadores sobre
indígenas que viviam em Potosí. Texto e imagem estruturam no vídeo de Farocki uma
relação bastante complexa, que entretanto parecem seguir caminhos completamente
opostos. É a partir disso que buscarei analisar como já no primeiro frame com imagens do
vídeo, vemos uma profusão de elementos por meio das cores e das formas de Berrio que
parecem nos apresentar modos bastante elaborados de resistência e não apenas as ações
abusivas dos invasores ressaltadas no texto em voz off. Averiguar o rigor do uso desses
elementos e sua disposição compositiva (nada aleatória) foi possível porque justamente
Farocki, ao mesmo tempo, conseguiu dar destaque por de seus planos detalhes às forças
que pareciam estar escondidas no quadro de Berrío.
Sessão
Práticas de distribuição e exibição
AUDITÓRIO | Dia 22/09 às 16h
Mesa
De telas e flechas - Cinema Indígena, Circulação e
Interculturalidade
Sala 05 (Pós) | Dia 22/09 às 16h
Mesa
O ensino de cinematografia em universidades públicas do
Nordeste brasileiro
Sala 6B | Dia 22/09 às 16h
Mesa
Roteiro audiovisual – processos de criação, escrita, autoria e
comercialização
Sala 7B | Dia 22/09 às 16h
Cada vez mais presentes nos eventos audiovisuais, sejam eles de mercado ou de teor
laboratoriais, as sessões de pitching são um dos principais modos de apresentação e
venda de ideias e projetos audiovisuais. Essa nova dinâmica exige, particularmente dos
roteiristas, habilidades outras que não aquelas exclusivamente dedicadas à competência
de escrita dramatúrgica de suas narrativas (SERRANO, 2009). Isto porque, destes
profissionais passou-se a exigir uma certa competência gerencial para que, acompanhados
ou não de uma empresa ou persona produtora, possam apresentar suas ideias em tais
eventos audiovisuais. Quando se trata, especialmente, de conteúdos infantis, há ainda uma
série de outras competências e saberes essenciais aos roteiristas, como, por exemplo, um
vasto conhecimento das janelas de exibição e/ou canais nas quais suas obras podem ser
exibidas/veiculadas; um preciso recorte e segmento de público-alvo; além de saberes
basais relacionados ao desenvolvimento infantil que lhe permitem uma criação mais
adequada e melhor direcionada ao seu público-alvo primário (FIEL, 2023). Considerando
este novo cenário, e, sendo resultado direto da tese de Doutorado em Comunicação,
apresentada ao PPGCOM/UFF, sob o título de “O Mônicaverso e diretrizes criativas para o
audiovisual infantil”, esta comunicação tem por objetivo a apresentação de algumas dos
saberes e competências esperados e exigidos para roteiristas que desejam dedicar-se ao
público infantil.
Mesa
Tecer passado.presente.futuro: ancestralidade, cinema negro e
políticas culturais
Sala 11 | Dia 22/09 às 16h
Reconstruções da/na Cultura brasileira: Mulheres negras, cinema e políticas culturais
Yérsia Souza de Assis (UFRB)
Até 2022 vivemos sob a égide do controle ideológico no âmbito da Secretaria Especial de
Cultura promovido pela dimensão persecutória do governo Bolsonaro aos artistas e
agentes culturais de espectro político diverso do seu. Hoje, temos o restabelecimento das
relações institucionais da Cultura promovidos/recuperados: reconstituição do Ministério da
Cultura e reelaboração das políticas culturais nacionais. Nessa perspectiva, nos deparamos
com um panorama que possibilita, por exemplo, a chegada de um novo conjunto de ações
feitas pelo maior órgão de gerência da cultura brasileira. É a partir desse cenário que se
torna possível uma nova articulação institucional. Articulação que tem promovido ações
que buscam estimular formas para que se alcance equidade de gênero, raça e
regionalidades na aplicação de políticas públicas culturais no contexto brasileiro. Diante
dessa nova conjuntura, concentramos atenção na inédita ação do Edital Ruth de Souza
para cineastas mulheres e seu recorte afirmativo para mulheres negras. Considerando essa
ação institucional uma ilustração da reconstrução da/na cultura brasileira na sua dimensão
de investimentos, recursos e direcionamentos. Neste sentido, essa comunicação objetiva
discutir quais os impactos que se evidenciam ou que se apresentam no horizonte da
formulação de políticas culturais nacionais. E, o quanto dessas remodelagens são
proporcionadas pela chegada de agentes culturais negras nesses espaços de poder e
decisão.
É certo que mulheres negras assumiram as câmeras muito recentemente, reflexo dos
processos de exclusão de gênero e raça que constituem a sociedade brasileira. Com a
implementação de políticas públicas e ações afirmativas nos últimos anos, que possibilitou
o acesso de pessoas negras às universidades, como também permitiu o acesso ao
conhecimento da linguagem cinematográfica por meio informal, através de cursos e
oficinas de curtos prazos em pontos de cultura, dentre outros espaços, esse movimento foi
combustível impulsionador para o aumento de narrativas dirigidas por diretoras negras no
circuito independente, estas ainda permanecendo excluídas do circuito comercial, como
demonstram os números de pesquisas recentes do Grupo GEMAA (2022) e da Ancine
(2018). O cenário atual, também vem revelando a partir de desabafos em redes sociais,
processos judiciais, e a procura por assessoria jurídica em associações de audiovisual, que
profissionais negros e negras estão sofrendo violências em sets de filmagens, como
assédio moral, racismo e misoginia. É nesta perspectiva que levanto as seguintes
questões: é possível existir relações de set sem opressões de gênero e raça? É possível
que a ancestralidade seja uma fonte de saber para a construção de uma ética aquilombada
de vivenciar o cinema? Com base nessas hipóteses, analisamos os modos de pensar e
fazer cinema de diretoras negras brasileiras
Para entender como realizadores negros brasileiros tem utilizado o cinema como
ferramenta de (re)construção e manutenção de memórias negras na contemporaneidade, é
necessário perceber a pesquisa e o cinema como espaços de poder (KILOMBA, 2019) que
tem sido construídos por perspectivas hegemônicas e imperialistas. O Cinema Negro é um
conceito guarda-chuva que abarca uma diversidade de gêneros e metodologias em
narrativas e equipes com protagonismos negros. Este trabalho parte do pressuposto que
existem muitas memórias negras que foram apagadas, embranquecidas, substituídas e
dizimadas da história brasileira, seja no âmbito pessoal e familiar como social. Ainda assim,
como Leda Maria Martins (2021) nos lembra, os colonizadores não foram capazes de
apagar do corpo/corpus africano e afrodiaspórico toda a sua oralitura da memória. No filme
Filha Natural (15:52 min, 2019), a artista visual Aline Motta busca por hipóteses possíveis
sobre as origens de sua tataravó. Através dessa obra, será feita uma análise acerca da
importância da construção de afetos e de tempo espiralar (MARTINS, 2021) no cinema
negro brasileiro contemporâneo para famílias e comunidades negras e racializadas. Para
tanto contamos com o diálogo entre Mbembe (2018), Bamba (2008), Leda Maria Martins
(2021), Ferreira (2004), Ayoh’omidire (2005), Hampaté Bâ (2010), Oyěwùmí (2021), Kilomba
(2019), entre outros.
COMITÊ ORGANIZADOR PRODUÇÃO
Guilherme Maia – UFBA (Presidente) Inara Rosas
Ana Paula Nunes – UFRB Everaldo Asevedo
Glauber Lacerda – UESB
COMUNICAÇÃO
Marcelo Ribeiro – UFBA
Adriana Teles de Souza
Morgana Gama – UFBA
João Pedro Magalhães Macedo
Priscila Miraz – UFRB
Pamela Ane Melo Souza
Regina Gomes – UFBA
Renato Meira dos Santos Filho
Rosângela Fachel – UFPel
Talita Ramos Rodrigues Bastos
COMITÊ CIENTÍFICO
Álvaro Vázquez Mantecón (Universidad Autónoma Metropolitana – México)
Ana Laura Lusnich (Universidad de Buenos Aires – Argentina)
Ana M. López (Tulane University – EUA) (In memoriam)
Ângela Freire Prysthon (Universidade Federal de Pernambuco – Brasil)
Antonio Carlos Amancio da Silva (Universidade Federal Fluminense – Brasil)
Bertold Salas Murillo (Universidad de Costa Rica)
Clara Krieger (Universidad de Buenos Aires – Argentina)
Claritza Peña Zerpa (Universidad Católica Andrés Bello – Venezuela)
Eduardo Victorio Morettin (Universidade de São Paulo – Brasil)
Geovanny Narváez (Universidad de Cuenca – Equador)
Isaac León Frías (Universidad Católica del Peru – Peru)
Izabel de Fátima Cruz Melo (Universidade do Estado da Bahia – Brasil)
Jerónimo Rivera (Universidad La Sabana – Colômbia)
Mónica Villarroel M. (Universidad Católica de Chile e Universidad de Santiago de Chile – Chile)
Laura Bezerra (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – Brasil)
Mariana Amieva (Universidad de la República – Uruguai)
Nilda Jacks (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil)
Ronald Antonio Ramírez (Universidad de La Habana – Cuba)
Yanet Aguilera (Universidade Federal de São Paulo – Brasil)
Yobenj Aucardo Chicangana Bayona (Universidad Nacional de Colombia – Colômbia)