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CADERNO DE RESUMos

latinidades afro-ameríndias
19 a 22 de setembro de 2023
Faculdade de Comunicação
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Salvador - Bahia

www.cocaal.com | coloquiococaal@gmail.com
TEMA DO COCAAL 2023
LATINIDADES AFRO-AMERÍNDIAS
O que está em jogo quando se designa a América Latina, seja para reivindicá-la ou
recusá-la? A América Latina é uma fantasia ou um fantasma: não existe como presença
plena ou projeto acabado, como identidade dada e território unificado; e é mais de uma,
nos múltiplos tempos em que se desdobra, sem conjunção possível, como identidade
fugidia ou terra dispersa, alheia a toda territorialização, isto é, a toda tentativa de
apropriação e de instauração de um domínio unitário. América, em geral, e América Latina,
em particular, se inscreveram na imaginação política global – naquilo que Walter Mignolo
(2003) denomina “sistema mundial colonial/moderno” – como um campo de disputa. Dessa
forma, a assinatura colonial inscrita na noção de América Latina deve ser reconhecida por
qualquer reivindicação do termo e de suas derivações.

Ao mesmo tempo, sem apagar a assinatura colonial que a inaugura, a história da América
Latina deve ser lida a contrapelo, para que seja possível saber as realidades que a
constituem, as disputas que a atravessam, os horizontes e as vertigens que a jogam para
fora de si mesma. É preciso reconhecer, ao lado dos fantasmas coloniais cuja aparição
permanece visível desde o nome, a sucessão múltipla de fantasmas cuja desaparição deve
ser confrontada, mesmo que faltem nomes próprios suficientes para essa confrontação (e
que esses nomes também procedam de uma genealogia colonial): os fantasmas de todas
as pessoas que, sob o regime colonial de distribuição da violência, foram forçadas a
desaparecer, no processo histórico de construção da experiência latino-americana.

Reivindicar as latinidades afro-ameríndias, como faz esta nona edição do Colóquio de


Cinema e Arte na América Latina, implica reconhecer a violência da nomeação colonial das
gentes colonizadas e a assinatura colonial que aspira a unificar, assim, a noção de América
Latina (como uma herança comum). Ao mesmo tempo, ao apontar para as latinidades
afro-ameríndias, trata-se de repensar a América Latina a partir da relação e do diálogo
entre culturas e perspectivas coletivas, por meio da abertura e da escuta às vozes e aos
traços da multiplicidade de experiências das gentes que o projeto colonial pretendeu reunir
de forma generalizada, sob signos de africanidade e amerindianidade, cujas designações
genéricas uma série de movimentos posteriores buscaram e buscam transformar em
alavancas estratégicas de intervenção social e política.

Diante disso, impossível não salientarmos que iniciamos o ano de 2023 com a posse
histórica de Sônia Guajajara, à frente do Ministério dos Povos Indígenas, do professor,
jurista e filósofo Silvio Almeida, no Ministério de Direitos Humanos com a recriação do
Ministério da Igualdade Racial, a cargo de Anielle Franco, três instâncias fundamentais
para implementação de políticas públicas voltadas para o enfrentamento da violência
colonial atualizada constantemente por sistemas de policiamento e governo, e
efetivamente de governo como policiamento, que persistem como norma em todo o
continente. “Nunca mais o Brasil sem nós”, disse em seu discurso de posse Sônia
Guajajara. “Não recuaremos, não retrocederemos, não vamos abaixar a cabeça mais, não
sairemos daqui”, afirmou Anielle Franco. “Homens e mulheres pretos e pretas do Brasil,
vocês existem e são valiosos para nós”, disse Silvio Almeida ao assumir a pasta. Falas que
estão imbuídas de toda uma longa trajetória de movimentos e organização política de
gentes negras e indígenas que têm buscado, desde o início, contestar as denominações
coloniais a partir da reivindicação estratégica de seus termos, o que está presente ainda
em outra fala de Guajajara: “Esse ministério é novo, mas na verdade esse ministério é
ancestral”.

Nesse sentido, além de pensar a América Latina no plural, por meio da noção de
latinidades, se trata de reivindicar, por meio do adjetivo afro-ameríndias, a possibilidade de
multiplicação de perspectivas para reinventar a vida em comum no continente, nos campos
do cinema e da arte. As latinidades afro-ameríndias são uma abertura para as formas
alternativas de vida em comum que Lélia Gonzalez designou por meio da noção de
“Améfrica Ladina”, para as práticas de contra-colonização do que Antonio Bispo dos
Santos chamou de “povos afro-pindorâmicos” e para as memórias e projeções que tanto
Ailton Krenak quanto Davi Kopenawa, entre outros, têm encontrado no tempo do sonho,
resistindo à colonização, às suas heranças e às suas formas de tentar impor o fim do
mundo. Latinidades afro-ameríndias, portanto, são também ladinidades
améfrico-pindorâmicas, e quantos outros nomes será preciso desarticular e rearticular,
desmontar e remontar, para começar a reconhecer e a inventar a multiplicidade de suas
figuras mundanas e fantasmas extra-mundanos.

Em articulação com as ideias aqui expostas, foi incentivado o envio de propostas de mesas
e comunicações que transitassem nos seguintes eixos temáticos:

Histórias, memórias, fabulações e arquivos


Perspectivas teóricas e metodológicas
Estudos de recepção
Cinema, arte e educação
Corpos, gêneros e sexualidades
Poéticas sonoras e musicais
Linguagem: reconfigurações, experimentações, transgressões
Militâncias e ativismos
Representações, contra-representações e representatividade
Afetos, emoções, sentimentos
Bordas, margens, periferias
Coletivo, comunal, comunitário
Meio-ambiente e ecologias decoloniais
Audiovisualidades insurgentes
Artes e hibridismos

Comissão Organizadora
PROGRAMAÇÃO COCAAL 2023
DIA 20/09, QUARTA, 14H
Sessão
Cinema, arte e educação: brincar, improvisar e intercambiar
SALA 12 | Dia 20/09 às 14h

Brincar de cinema: ludicidade e experimentação dos brinquedos ópticos


Ludmila Moreira Macedo de Carvalho (UFRB)

Partindo do interesse de pesquisa em verificar as intersecções entre cinema e infância,


neste trabalho propomos uma investigação a respeito dos aparatos ópticos que
precederam a criação do cinematógrafo, tais como a lanterna mágica, o folioscópio, o
traumatopo, o zootrópio, o fenaquitoscópio, o praxinoscópio, entre outros. Tais
experimentos tecnológicos, nos quais um dos objetivos principais era demonstrar e
explorar manualmente os princípios de percepção visual e reprodução das imagens,
situam-se numa interessante encruzilhada entre objetos científicos, atrações populares de
entretenimento, tecnologias educacionais e brinquedos. É especialmente curioso perceber
que, no vasto campo de estudos de história de cinema, pouca atenção tenha sido dada a
esta última denominação. Em suas recordações, Walter Benjamin diz que foi através de
brinquedos como as câmeras ópticas, dioramas e panoramas que muitas crianças foram
introduzidas “nos mistérios do mundo lúdico” (2009, p. 84). Com essa perspectiva,
propomos uma investigação a respeito das propriedades que fizeram o cinema ser um
brinquedo antes de se tornar uma instituição. O que nos interessa é compreender como o
uso da categoria brinquedo reforça sobremaneira o caráter de experimentação lúdica
destes dispositivos através de sua mecânica interativa e repetitiva. Em suma: o que ganha
o cinema ao considerarmos seu parentesco com o brinquedo e a brincadeira infantil?

O improviso na escrita e no ensino do roteiro audiovisual


Fidelis Fraga da Costa (UFF)

A pesquisa se debruça sobre uma metodologia de escrita e ensino de roteiro de ficção


baseada em técnicas de improvisação. O trabalho do dramaturgo espanhol José Sanchis
Sinisterra, que incorpora a improvisação na construção de uma dramaturgia da
fragmentação, serve como ponto de partida. As técnicas de improvisação de escrita
permitem uma fuga do pensamento cartesiano, trabalhando com elementos variáveis e
inconstantes na escrita síncrona. Os textos produzidos através dessas técnicas, nascem
da tensão entre arbitrariedade das diretrizes recebidas do dinamizador e a necessidade
subjetiva de cada um dos autores de preservar alguma lógica no encadeamento de ações
que vão surgindo. Para transpor as técnicas de escrita teatral de Sinisterra para uma
metodologia de escrita audiovisual baseada em improvisação, utilizo princípios da
pedagogia do dispositivo desenvolvida pelo programa Inventar com a Diferença, iniciado
em 2013 pelo Laboratório Kumã do departamento de cinema da Universidade Federal
Fluminense e do qual faço parte como coordenador desde 2022. Em linhas gerais, o
“dispositivo” é uma ferramenta composta por linhas ativadoras em um universo escolhido,
por um lado obedece a um extremo controle e por outro, permite uma absoluta abertura
diante de ações imprevisíveis dos participantes. A Pedagogia do Dispositivo e a
metodologia de Sinisterra têm em comum uma prática que abdica de formação prévia e
lançam mão de restrições criativas para os exercícios propostos.

“Entre Linguagens”: o audiovisual e o espanhol no intercâmbio entre linguagens.


Gregorio Albuquerque, Andrea Antunes e Nuria Lamfir

A palavra “linguagem” tem como significado a “faculdade que têm as pessoas de se


comunicar umas com as outras, exprimindo pensamentos e sentimentos por palavras, que
podem ser escritas, quando necessário”. Através da linguagem que ocorre a interação
entre as pessoas, podendo ser textual ou imagética. Na mostra “Entre Linguagens”, a
palavra “entre” estabelece uma forma de interação e interseção, estabelecendo o lugar
entre as linguagens do audiovisual, espanhol e inglês. Esse lugar “entre” é realizado,
principalmente, na Mostra Audiovisual Estudantil Joaquim Venâncio que no ano de 2022,
na 10ª Edição da Mostra, na mostra Internacional proporcionou a criação desse lugar de
intercâmbio cultural e linguístico. Foram inscritos 510 vídeos de várias nacionalidades que
representavam não só a língua dos países produtores mas também a representação
imagética da cultura de cada um. A mostra “Entre Linguagem” visa o intercâmbio entre as
linguagens do audiovisual, do espanhol e do inglês através não somente dos vídeos de
realização de reuniões online com entre os alunos produtores dos diversos países, com a
mediação dos professores das linguagens. Um dos países parceiros da América Latina é a
Argentina, em Buenos Aires, com o Taller de cine “El Mate”. Um espaço gratuito de criação
audiovisual para as crianças e adolescentes. Um espaço de criação e experimentação
audiovisual argentino.

Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: ancestralidades
SALA 10 | Dia 20/09 às 14h

Jodorowsky e o olhar surrealista sobre a cultura ancestral mexicana


Estevão de Pinho Garcia (IFG)
Ao longo do século XX diversos artistas surrealistas europeus passaram ou residiram no
México: Leonora Carrigton, Remedios Varo, Alice Rahon, André Breton, Benjamin Péret,
Antonin Artaud e Luís Buñuel são apenas alguns nomes que compõem essa extensa lista. A
interpretação que esses criadores vão fazer do país ou de sua cultura ancestral indígena
vai variar de acordo com cada caso específico e não haverá um olhar surrealista
homogêneo sobre o México antigo ou moderno. Uma das particularidades de Alejandro
Jodorowsky em relação a esses artistas mencionados será o fato de que ele não é
europeu, embora tenha tido uma passagem pela França antes de iniciar sua carreira como
encenador teatral e cineasta no México. Ele, que teve contato direto com o surrealismo
“oficial” e com sua herança absorvida e reinterpretada no meio vanguardista parisiense,
agora se depara com uma vertente espalhada quase que secretamente pelos círculos
artísticos mexicanos. O cineasta chileno vai estar justamente situado entre o surrealismo
que conheceu na França e o surrealismo que encontrará no México. Este grande interesse
pela cultura ancestral mexicana, muito forte nos surrealistas europeus, não estará presente
nas primeiras encenações de Jodorowsky mas virá à tona quando ele começa a dirigir
filmes. O objetivo de nossa comunicação residirá em, através da análise de El topo e La
montaña sagrada, interpretar a maneira como o México pré-colombiano foi representado.

“Despertai-vos!”: ancestralidade e luta na canção “Faraó – Divindade do Egito”


Carlos Humberto de Albuquerque Spinelli (UFBA)

A comunicação tem como objetivo apresentar os elementos ancestrais para destacar as


semelhanças e diferenças ou a ligação entre a cultura diaspórica brasileira e africana como
forma de resistência, luta política e em como isso se reverbera através das redes. Será
utilizada a canção "Faraó - Divindade do Egito", do álbum "Brasileira - Ao vivo",
interpretada por Margareth Menezes, disponível em seu canal, no Youtube. A contribuição
teórico-metodológica será através da análise de conteúdo, bem como a perspectiva do
chamado “Audiovisual em Rede”, de Gutmann (2021), em que, através da interpretação da
letra, bem como também de algumas músicas do álbum, serão trazidos: a) elementos da
ancestralidade, b) notas do passado e do presente que representam a luta do povo negro
na manutenção de sua cultura, e o c) reconhecimento através das interações digitais. O
arcabouço teórico-reflexivo ficará por conta de: Lelia Gonzales (1988; 2020), Dove (1995;
1998), Hall (2003; 2016), Fanon (1980), entre outros. Foi possível verificar, como resultado,
que o canto é uma forma de conexão com o passado para reafirmação da luta contra o
racismo e o preconceito, bem como o perpetuamento de uma tradição e reconexão de
memória e identidade, a “amefricanidade” como dispositivo de luta contra a perspectiva
colonial.

Tecnologia e Ancestralidade: como tecer redes de conexões entre mundos diversos?


Fernanda Martins de Araujo (UFRB)
O presente artigo busca refletir sobre os encontros e desencontros sobre a relação
complexa entre ancestralidade e tecnologia no desenvolvimento do aplicativo Kéko, criado
como parte do Projeto Impactos em parceria com as universidades federais do Fluminense
e do Pará, para o curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia. A partir de uma perspectiva crítica, busca-se uma análise da relação entre o
aplicativo, o território, a cultura e a história local do Recôncavo Baiano, estabelecendo uma
rede de reflexões sobre a natureza da tecnologia e sua relação com a cultura e a
diversidade. A análise é fundamentada em teorias de autores como Bruno Latour, Donna
Haraway, Ailton Krenak, Bell Hooks e Muniz Sodré. A teoria do ator-rede de Latour enfatiza
a interconexão entre humanos e não-humanos na criação de redes sociais e tecnológicas.
Haraway desafia as noções tradicionais de identidade com sua teoria do cyborg. Krenak
defende a diversidade cultural como fundamental para a sobrevivência do planeta. Hooks
denuncia a cultura do racismo, sexismo e opressão. Sodré busca compreender as
complexas relações entre tecnologia, cultura e poder. A partir dessas perspectivas e suas
conexões, reflete-se a importância da necessidade de um desenvolvimento tecnológico
que seja sensível às complexas relações entre cultura, afetos, meio ambiente e sociedade,
implementando esses pilares filosóficos desde a programação até a recepção do
aplicativo.

Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: horror, medo e relações sociais
SALA 11 | Dia 20/09 às 14h

Horror social e privatização nas relações entre espaço urbano e cinema argentino
Suelen Caldas de Sousa Simião (Unicamp)

Os countries – denominação dada a condomínios fechados na Argentina -, surgidos a partir


dos anos 1970 e com seu ápice nos anos 1980 e 1990 através da construção de autopistas,
e atestado pelas análises de urbanistas, geógrafos, sociólogos e psicólogos que buscam
compreender o impacto urbano (humano) e cultural dessas construções, aparecem de
maneira recorrente como pano de fundo ou personagem principal na literatura e
cinematografia argentina. Não são exclusivos desse país, mas a intensidade e a captura
pelas telas, faz deles um fenômeno social e cultural significativo para a análise histórica.
Assim, enquanto o mercado imobiliário e a publicidade propagandeiam e vendem um modo
de vida mais seguro nesses enclaves fortificados, especialmente na Região Metropolitana
de Buenos Aires, uma série de filmes procura quebrar a aparente perfeição dessas
chamadas “bolhas urbanas”. Tais narrativas se apropriam de elementos do horror film na
construção de suas histórias perpassadas por conflitos de classe, evidenciando uma nova
categoria, a de “horror social”. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é pensar as
relações entre cidade e cinema de horror e os filmes não apenas como expressão do
urbano, mas sintomas de uma espécie de cidade (des)encontrada configurada no âmbito
de políticas neoliberais, mudanças culturais e do aumento do discurso sobre a violência
urbana, instituída numa nova lógica espacial.

Pós-morto: o corpo como assombro do passado no tempo presente em LaLlorona


Guilherme Reis (UFF)

A Chorona, como narrativa lendária ou mítica e em processo de construção desde os


tempos primordiais,contada, recontada,ressignificada, escrita, reescrita e representada
pictoricamente, gerou uma galeria de personagens fantásticos que aterrorizam os
vivos.Consoante o contexto histórico e as peculiaridades de cada lugar a Chorona
ressurge. O trabalho explora a gramática do horror destacando o papel do corpo que
assombra no cinema e, simbolicamente, chancela o papel político de corpos, torturados,
eliminados e desaparecidos na gestão ditatorial do general guatemalteco Enrico
Monteverde,na narrativa fílmica de LaLlorona (2019), produto cultural híbrido de horror
político, dirigido por Jayro Bustamante.

A Construção do Conceito de Pós-Horror no Brasil: Um estudo comparado


Marco Antônio Bonatelli Torres (UFF)

A apresentação da pesquisa "A Construção do Conceito de Pós-Horror no Brasil: Um


estudo comparado" tem como objetivo levar ao IX Colóquio de Cinema e Artes da América
Latina um referencial bibliográfico que, conforme o título sugere, ajude a compreender as
proximidades e os afastamentos entre textos de nosso país em relação a escritos
australianos/estadunidenses/ingleses, que se detêm sobre o conceito de pós-horror.
Partindo dessa premissa, busca-se também refletir acerca das diferenças de conteúdo de
tais produções com relação a espaços de veiculação distintos: os acadêmicos, os críticos e
a internet, com publicações em blogs e jornais sendo trazidos para a discussão. Nesse
sentido e perpassando os outros dois pontos, o objetivo é expor o trabalho de catalogação
e tradução de textos internacionais, ambos desenvolvidos tendo como base o objeto de
pesquisa em pauta – proposta inédita em território nacional. Ademais, a influência direta de
um cidadão brasileiro na consolidação do termo, Rodrigo Teixeira, a partir do marketing
massivo voltado para o conceito de pós-horror e que diz respeito aos filmes produzidos na
empresa da qual é sócio e está sediada nos Estados Unidos da América, a RT Features,
bem como o desenvolvimento de um mercado autossuficiente no Brasil que envolve
centenas de profissionais, de autores literários a empresários e técnicos de cinema, reflete
a pertinência deste trabalho, visto que diversos dos registros se debruçam sobre esse
ponto.
Sessão
Corpos, gêneros e sexualidades: cinemas de mulheres
SALA 6B | Dia 20/09 às 14h

Autorepresentación cinematográfica de mujeres mayas peninsulares


Sofía Castillo Galindo (Universidad Autónoma de Yucatán, México)

El cine, como un medio estrechamente vinculado a los procesos sociales, influye en los
procesos de redefinición cultural y transformación identitaria. En México, la gradual
expansión de la práctica cinematográfica en las localidades, supone una ampliación de
posibilidades para dar lugar a la diversidad de miradas y rehacer los imaginarios sobre las
culturas e identidades. Para el caso de las mujeres de pueblos originarios, desde hace
aproximadamente tres décadas se presentan como sujetos activos de su propia
representación a través del cine. Actualmente, sus miradas, narrativas, formas de producir
y concebir el cine no solamente rehacen el imaginario sobre su propia identidad, sino que
también renuevan las formas del quehacer cinematográfico.
Mirar hacia las autorepresentaciones de cine hechas por mujeres “indígenas” implica dar
cuenta de su complejidad. Esta aproximación toma en cuenta que en el acto sucede un
proceso dialógico con los discursos e imaginarios ya construidos sobre las identidades, así
como una articulación y negociación con las estructuras de poder del ámbito cultural y
cinematográfico. El cine, para las mujeres de pueblos originarios en México ha sido una
herramienta de poder para reafirmar su identidad y revertir muchas estructuras, tanto
culturales, sociales, estéticas, mediáticas, políticas e institucionales. Para abordar lo
anterior, hago un acercamiento al cine hecho por Yaremi Chan, cineasta maya, de
Seybaplaya, Campeche.

Cinema de mulheres durante a Unidad Popular (Chile, 1970-1973)


Marina Cavalcanti Tedesco (UFF)

Em 11 de setembro de 2023, o golpe militar que depôs o então presidente chileno Salvador
Allende, legitimamente eleito através da coalizão Unidad Popular (UP), completa 50 anos.
O período em que a UP esteve no poder foi curto (1970-1973), porém transformador. Não
por acaso, setores conservadores nacionais e estrangeiros se uniram para interrompê-lo.
Muito já se escreveu sobre o cinema feito durante estes anos. No entanto, avaliamos que
ainda é preciso refletir sobre a produção das mulheres cineastas no período. Pretendemos
compreender algumas características dessa filmografia, como, por exemplo, seus
principais temas e relações com o momento histórico em que foram realizados, através da
análise das seguintes obras: ¿Qué hacer? (Nina Serrano, Raúl Ruiz, Saúl Landau, 1970),
Flores S.A (Angelina Vázquez/Carmen Bueno/Cecilia Martorell et al, 1971), Crónica del
Salitre (Angelina Vázquez, 1971), Amuhuelai-mi (Marilú Mallet, 1972), A tiempo (Cecilia
Martorell, 1972), Kardex 341 (Cecilia Ramírez, 1972), Salto de Rapel (María Teresa Guzmán,
1972), A, E, I (Marilú Mallet, 1972), La explotación del hombre por el hombre (Gustavo
Moris/Kristiane Gagnon/Olinto Taverna, 1972), Vamos viendo (Antonio Montero/Jacqueline
Mouesca/Wolfgang Tirado, 1972), Poesía popular, la teoría y la práctica (Raúl Ruiz, Valeria
Sarmiento, 1972), Los minuteros (Raúl Ruiz, Valeria Sarmiento, 1972), Un sueño como de
colores (Valeria Sarmiento, 1973) e Nueva Canción Chilena (Raúl Ruiz, Valeria Sarmiento,
1973).

Cinema de Mulheres e lutas sociais em Brasil e Angola: um olhar sobre as obras de Adélia
Sampaio e Sarah Maldoror
Tacilla da Costa e Sá Siqueira Santos (UNILAB) e Marcelina Muhongo (UNILAB)

O audiovisual de um modo geral e o cinema, particularmente, tem sido ao longo da história


instrumento e arena de lutas sociais. As obras mais difundidas, no entanto, emergem,
majoritariamente, a partir de narrativas masculinas e localizadas no Norte do mundo. As
“vozes” femininas reverberadas através das obras fílmicas, particularmente, das produções
femininas em países africanos e/ou da América Latina, trazem, entretanto, um rico escopo
que refletem lutas e problemáticas sociais diversas. Neste sentido, salientamos em
especial as décadas de 1960 e 1970, como anos de luta em diferentes partes do mundo, e
período no qual Angola vivenciava a luta pelo processo de descolonização, ao tempo em
que o Brasil vivia a luta contra a ditadura militar. O presente trabalho, tem como objetivo
principal compreender o papel do cinema de Sarah Maldoror e de Adélia Sampaio nas lutas
sociais em Angola e no Brasil, analisando suas aproximações e diferenças. O trabalho é
parte de uma pesquisa em andamento, que para atender aos objetivos elencados tem se
valido de metodologia prioritariamente qualitativa envolvendo análise de conteúdo e
análise fílmica em uma perspectiva de estudos de casos comparativos.

Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos
SALA 03 | Dia 20/09 às 14h

Cuatreros - Arquivos, memória e ausências no cinema latino-americano


Sabrina Tenório Luna da Silva (UFMT)

O uso do arquivo no documentário pode ocorrer de diversas formas, sendo a citação a


mais comum. Nela, o arquivo assume um lugar de autoridade, de referência e de elogio a
obras anteriores (WEINRICHTER, 2009, p. 12). Mas o que ocorre quando esse referente não
está disponível? Como ilustrar um discurso onde o diálogo direto com os arquivos é
fundamental, mas este se encontra ausente? Na tentativa de dialogar sobre essas
questões, pretendemos analisar o filme "Cuatreros" (Argentina, 2016, Dir. Albertina Carri,
85’), passando também por parte da obra da autora, filha de militantes desaparecidos na
ditadura argentina.
"Cuatreros" é um filme verborrágico em primeira pessoa de viés ensaístico, sendo marcado
pela subjetividade e explicitação do sujeito que fala (MACHADO, 2009: 21). Ao analisar a
obra do seu pai sobre o cuatrero Isidro Velazquez, anti-herói popular morto pelas
autoridades, Carri busca os arquivos perdidos da sua história pessoal e da história coletiva
latino-americana. Nessa busca, investiga obras realizadas por militantes, em sua maioria,
jamais encontradas. Algumas poucas, localizadas em latas com nomes distintos dos
originais enviadas ao ICAIC - Instituto de Cinema de Cuba, para preservação. As imagens
de arquivo que compõem o filme provém de fontes diversas e atestam muito mais a
ausência do que corroboram a presença. Nessa busca ela constrói a sua obra. Começa
onde o documento termina. Parte de onde ele não está para construir a si mesma e
reivindicar respostas.

Documentários durante Golpes: A Batalha do Chile e quatro filmes brasileiros


Daniel Velasco Leão (UFSC)

Propomos analisar de forma dialética dois conjuntos de obras documentárias: (1) A trilogia
da Batalha de Chile de Guzmán (1973 a 1979) realizada durante o Golpe sofrido por
Salvador Allende e (2) a produção a respeito do Golpe que resultou na destituição da
presidenta Dilma Rousseff no Brasil em 2016, especialmente quatro filmes dirigidos por
cineastas mulheres: Filme manifesto (Fabiana, 2016), O Processo (Ramos, 2018),
Democracia em vertigem (Costa, 2019) e Alvorada (Muylaert e Politi, 2020).
Nosso objetivo é aproximar esses conjuntos de documentários a partir da relações que
suas imagens buscam ter com a realidade imediata (aquilo e aqueles que são efetivamente
registrados), com a realidade social e macropolítica (as narrativas que se tecem e a
influência que buscam ter no curso dos eventos e na disputa por seu significado), em suas
formas de produção e nos procedimentos estéticos utilizados para representar eventos de
distintas especificidades (buscando perceber mudanças na política das imagens).
Em nossa contextualização e ao longo de nossa abordagem, situaremos estes eventos (a
fisionomia dos golpes) e essas produções ao contexto latino-americano, destacando, com
Avellar, como o cinema latino-americano surgido nos anos 1960 foi uma expressão de
“vontades de se descolonizar culturalmente que ocorreram aqui mesmo e que foram
sufocadas por seguidos golpes de Estado” e, com Sarlo, a importância do giro subjetivo
para a constituição das imagens documentárias contemporâneas.

Entre a resistência socioambiental e o sonho: reflexões em um cine-labirinto


Adriano Medeiros da Rocha (UFOP)

Esta pesquisa investiga elementos narrativos e estéticos de uma vertente do cinema


decolonial latino americano contemporâneo. O recorte da pesquisa é dado através do
estudo de caso e da análise fílmica do longa metragem Entre la niebla (2021), dirigido por
Augusto Sandino. Com esta película, filmada na Colômbia, busca-se refletir sobre um
cinema que se propõe à conscientização socioambiental a partir de um caminho tortuoso,
que mescla elementos do realismo mágico a uma diferente forma de sensibilidade e
postura crítica-política a respeito dos agentes capitalistas neocolonizadores. Dessa análise
eclode o protagonismo de um representante de grupos até então sub representados na
sétima arte colombiana e, com ele, a fissura em alguns paradigmas dominantes. F.
apresenta no próprio corpo uma forma narrativa que contribui para romper com tabus
ligados à definição daquilo que é belo ou estranho. Neste ambiente misterioso e fantástico,
quase tudo pode acontecer. Assim, a partir desta investigação e análise, busca-se
entender como o realismo mágico empregado no cinema de crítica decolonial também
pode contribuir para a conscientização socioambiental tão importante em nossos dias.
Além disso, serão evidenciados os elementos diferenciais que a referida obra e seu
protagonista apresentam nesta grande jornada de sonhos e fantasias em meio a uma dura
realidade.

Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: poéticas do desvio
SALA 04 | Dia 20/09 às 14h

O Remix no Cinema Negro de arquivo como desvio contra-hemônico


Lucas Honorato Cordeiro Contreiras Teles (UFRJ)

O trabalho relaciona a técnica de détournement (desvio), do movimento Internacional


Situacionista, a filmes de arquivo expropriados no campo do Cinema Negro com as noções
de remix da cibercultura e da cultura copyleft. A expropriação dos arquivos dos
"filmes-remix" pode ser vista como um dispositivo contra-hegemônico, tanto pelo roubo
como procedimento e sua "estética do desvio", vista nas colagens e nas variadas texturas
e qualidades dos vídeos. A ação de disputa contra-hegemonica do desvio digital encontra
ecos na filosofia Ubuntu — "ser-com-os-outros", onde indivíduo e coletivo são
dialéticamente amarrados — e aos conceitos bantu-kongu sobre a comunidade, em uma
medida reapropriativa de cultura pela partilha que, visa atribuir o conhecimento como
"inteligência coletiva”, cultura comum (SANTINI e DE LIMA, 2008). Assim, busca-se utilizar
no dispositivo dos "filmes-remix" uma contraposição epistemológica das ideias totalizantes
de ficção, linguagem e produção audiovisual que engendram noções de propriedade
intelectual, produzida pelo capitalismo (LEMOS, 2005) e se originam na colonialidade e
modernidade ocidental que criaram o negro enquanto ficção subalterna, pela diferença do
sujeito hegemônico. Portanto, localizar o "filme-remix" do Cinema Negro como uma
"estética do desvio", serve para extrapolar algumas morais impostas da ficção racial, ligada
à propriedade intelectua, através da ressignificação ética e estética da mesma.

A montagem e imagens de arquivo em Serras da Desordem e Quilombo Rio dos Macacos


Patrícia Moreira Santos (UESB) e Milene de Cássia Silveira Gusmão (UESB)
O estudo discute como o cinema documentário opera diferentes representações políticas e
sociais mediante o uso de imagens de arquivo. Partindo do questionamento acerca da
maneira como imagens de origens diversas foram mobilizadas nos filmes Serras da
Desordem (2006) e Quilombo Rio dos macacos (2017), montado por Cristina Amaral,
objetivamos compreender como o processo de montagem que viabilizou a produção de
imagens mediante organização e valores diversos, contribuiu para o surgimento de uma
outra narrativa audiovisual, vinculada a ideias politicamente diversas e realizada em
tempos distintos. Sendo assim, o que propomos neste trabalho é discutir a montagem para
a construção de múltiplas narrativas e seu papel no espaço de disputas de representações.
Para isto, tomamos como referência teórico-analítica as discussões conceituais realizadas
por Georges Didi-Huberman sobre de imagens de arquivo, o que torna possível analisar
três operações fílmicas especificas: enquadramento, fora de campo e montagem. Dentre
essas, a montagem é compreendida como a operação central, por revelar o trabalho de
Cristina Amaral, envolvido na escritura dos filmes e reescrita das imagens.

Visualidades em Trânsito: Apropriação e reemprego em Ressurreição


Mariana Duccini

A apropriação e o reemprego de fragmentos imagéticos próprios às produções midiáticas


dos domínios da informação e do entretenimento em outras modalidades de expressão
viabilizam a investigação de aspectos que mobilizam a produção de sentidos em
determinados contextos históricos e conformações sociais. Em uma dinâmica complexa, o
estatuto da ressignificação de imagens responde aos processos de produção, circulação e
coenunciação desses discursos e, concomitantemente, à reordenação de uma práxis de
percepção que permeia o corpo social. Nessa perspectiva, os enunciados corporificam
significados mais (ou menos) estabilizados, mas não são unívocos nem inalteráveis. Da
ordem da história, constroem a realidade dos acontecimentos.
Esta comunicação propõe uma análise do documentário Ressurreição (1987), de Arthur
Omar, com o intuito de refletir sobre o processo de subversão/reordenação de sentidos
quando fragmentos audiovisuais são deslocados de seu contexto “original” de produção
para engendrar outras materialidades enunciativas. Composto a partir de fotografias
publicadas em reportagens policiais de jornais de viés sensacionalista, o curta-metragem
de Omar propõe um desvio no caráter referencial ou informativo das imagens, suscitando
uma crítica contundente aos protocolos de violência da abordagem policial em relação às
populações periféricas dos centros urbanos brasileiros, comumente naturalizadas pelos
meios de comunicação hegemônicos.
Sessão
Linguagem: reconfigurações e experimentações em narrativas
de gênero
SALA 7B | Dia 20/09 às 14h

Fantasmas do medo: construção narrativa em Noche de Fuego (Tatiana Huezo, 2021)


Lara Freitas de Carvalho

Desde os tempos mais primórdios até a agoridade, a violência, sobretudo a de gênero,


habita nossa realidade e nossos imaginários coletivos. Como marca e herança do
colonialismo, a violência persegue as mulheres de identidades latinas como um fantasma,
deixando latente o medo que pervade todas as esferas de suas vidas. O presente trabalho
objetiva discutir Noche de Fuego (2021), obra cinematográfica dirigida por Tatiana Huezo,
salvadorenha radicada no México, e baseada no livro Ladydi (traduzido no Brasil pela
Editora Rocco, como Reze pelas mulheres roubadas), de Jennifer Clement. O
longa-metragem acompanha Ana, uma menina que adolesce nas montanhas de Guerrero,
uma zona controlada por cartéis onde narcotraficantes podem sequestrar garotas de suas
famílias a qualquer momento. Através do olhar de Ana e suas duas melhores amigas,
Tatiana Huezo constrói uma narrativa dicotômica entre medo e afeto, colocando em pauta
a insegurança das mulheres da região e a inanição do Estado mexicano no combate contra
o crime organizado e a violência de gênero. Articulando os trabalhos de Lélia Gonzalez,
Ursula Le Guin, Beatriz Sarlo, Gloria Anzaldúa e María Lugones, analisaremos a construção
narrativa em Noche de Fuego e como a violência, o medo e o silêncio se inscrevem na obra
como uma continuação do projeto colonial de dominação e exploração.

Tese Sobre um Homicídio e a indeterminação na narrativa policial


Lucas Ravazzano (UniFTC Salvador)

O presente trabalho visa analisar o filme Tese Sobre um Homicídio (2013) e o modo como
apresenta uma trama que dialoga com as tradições comuns da narrativa policial para ir à
contramão desses elementos. O trabalho parte de considerações de uma série de
referenciais para definir as narrativas policiais como um gênero calcado na exaltação da
racionalidade de seus protagonistas investigadores e na defesa de como esse pensamento
racional seria capaz de explicar qualquer fenômeno do mundo. A partir disso o trabalho
discutirá o contexto da produção de narrativas criminais na América Latina e as
especificidades dessa produção audiovisual e também como a Argentina tem cânones
literários próprios da narrativa policial, como a literatura de Jorge Luis Borges, que
oferecem perspectivas diferentes das obras anglófonas em que o gênero comumente se
baseia. Em seguida a pesquisa irá analisar a construção narrativa do filme Tese Sobre um
Homicídio focando no desenvolvimento e no desenlace do mistério principal de modo a
demonstrar como a série caminha na em oposição a elementos típicos do gênero, deixando
os personagens mergulhados no tormento da incerteza ao invés de oferecer uma
explicação definitiva, se encaixando em uma tendência contemporânea, de produções
audiovisuais do gênero que reforçam o desconforto da indeterminação ao invés do
conforto de uma solução.

Empregadas domésticas na comédia do cinema clássico latino-americano


Fabián Rodrigo Magioli Núñez (UFF)

Nos últimos anos, há uma produção acadêmica sobre a personagem das empregadas
domésticas no cinema latino-americano. Souto (2019) levanta a hipótese de que “os
empregos domésticos aparecem como o principal reduto das relações de classe no cinema
brasileiro contemporâneo”. Assim, Souto identifica que o operário, que adquiriu uma forte
relevância no cinema brasileiro dos anos 1970 e começo dos 1980, perdeu o seu
protagonismo, sendo substituído pela figura do empregado doméstico.
O mesmo podemos afirmar em relação ao cinema latino-americano em geral. Ferraz (2021)
sublinha que desde o começo do corrente século, as empregadas domésticas saíram das
margens para o centro da tela. Essa centralidade deu a oportunidade de abordar as
relações entre patrões e empregados por outros vieses, como as ambiguidades afetivas,
que tanto caracterizam o trabalho doméstico remunerado, e aspectos étnico-raciais e de
gênero.
Nosso propósito, em diálogo com esta recente produção acadêmica, é estudar a
personagem das empregadas domésticas, mas em outro período histórico das
cinematografias do nosso continente: dos anos 1930 aos 50. Assim, voltamo-nos as
comédias protagonizadas por atrizes que se especializaram neste papel. Portanto, nos
propomos a estudar os filmes 'Cándida' (Argentina, 1939, Luis Bayón Herrera)
protagonizado por Niní Marshall , 'P’al otro lao' (Chile/Argentina, 1942, José Bohr), estrelada
por Ana González e 'Minervina vem aí!' (Brasil, 1959, Eurides Ramos), com Dercy
Gonçalves.

Sessão
Perspectivas teóricas e metodológicas
SALA 05 (Pós) | Dia 20/09 às 14h

Inscrição da pandemia: dois filmes produzidos na quarentena em 2020 no Brasil


Eduarda de Oliveira Figueiredo (UFMT)

O objetivo é contemplar dois modos de representar a pandemia de Covid-19 realizados no


Brasil na quarentena de 2020 pelos filmes República, de Grace Passô, e Voltei!, de Ary
Rosa e Glenda Nicácio. Nesses casos, a pandemia é tanto um indício de processo
contextual de realização dos dois filmes quanto um dispositivo de criação, de inspiração e
de compartilhamento, permitindo notar que o Brasil e seus processos históricos são
tratados de diferentes maneiras. Este estudo é com base nas considerações
metodológicas sobre a atividade de análise fílmica, propostas por Nicole Brenez (2014) e
Manuela Penafria (2009), de modo a determinar em que proporção esses filmes, em suas
construções ficcionais, respondem na pandemia a ela. República se organiza em torno de
diferentes personagens imaginando a inexistência do Brasil que, na narrativa, é um sonho
ambíguo. Por outro lado Voltei!, mostra a história de três personagens irmãs, vivendo num
Brasil do ano de 2030, sob o Regime do Disparate que, na diegese, é uma espécie de
síntese da extrema-direita. Durante as suas realizações, na pandemia, o que os filmes
puderam filmar e como os filmes puderam filmar se inscreve nessas histórias da pandemia
de Covid-19, em 2020, sob a sua condição. Assim, se a pandemia se impõe como um
dispositivo contingencial e mediado desses dois filmes, eles também impõem uma
resposta a ela, seja pelo que mostram, seja pelo como mostram e representam. Ela se
inscreve nesses filmes e eles se inscrevem nela.

O espectador de Moscou: uma nova perspectiva da obra de Eduardo Coutinho


Helena Oliveira Teixeira de Carvalho (UFMG)

Um dos principais nomes do cinema documentário da América Latina, Eduardo Coutinho já


foi amplamente discutido e estudado por pesquisadores e cinéfilos. Contudo, Consuelo
Lins (2013) destaca que boa parte desse pensamento crítico se concentrou nas escolhas
formais que o diretor fazia para construir o encontro com os personagens diante da
câmera, deixando o espectador em segundo plano, como efeito de certas formulações
críticas. Nesse contexto, o presente artigo propõe trazer o espectador para o centro da
reflexão crítica sob a luz de uma de suas obras mais emblemáticas: Moscou. O longa de
2009 rompe com qualquer referencial de documentário ao trazer fragmentos de ensaios da
peça As Três Irmãs, de Anton Tchekhov, interpretados pelo grupo de teatro Galpão, de Belo
Horizonte, sem de fato concluir a peça. A partir dos conceitos de autores como Gilles
Deleuze, Michel Foucault, André Bazin e Ismail Xavier, o artigo trabalhará com a
perspectiva de que ao quebrar as expectativas e concepções predeterminadas do
observador e explorar sua zona de indeterminação, o filme abre condições de
possibilidade de experiência para que este entre em um processo de subjetivação,
interpretado por Deleuze (1992) como a constituição de novos modos de existência. Dessa
forma, o filme criará seu próprio espectador, que não é nem o sujeito preexistente nem a
materialidade do filme, mas um processo em formação dado no encontro com o filme. Sem
esse encontro, ele não existe.

Festa do Catálogo: consumo tecnostálgico de DVDs e Blu-Rays na era do streaming


Sabrina dos Santos Monteiro (UFF)

Esta pesquisa tem como intuito analisar, à luz das noções de “tecnostalgia” (John
Campopiano, Manuel Menke, Talitha Ferraz, e Tim van der Heijden) e “descartabilidade das
mídias” (Dominik Schrey), as recentes interações entre colecionadores/consumidores e o
mercado de distribuição de filmes disponibilizados em mídias físicas (DVD e Blu-ray).
A partir da análise das postagens de cinéfilos e colecionadores nas páginas dos grupos de
colecionismo de filmes em mídia física do Facebook: Fora de Catálogo, Curtindo filmes
adoidado e Blog do Jotacê, a pesquisa busca descobrir como práticas de compra e
discursos colecionistas em torno de DVDs e Blu-rays são atravessados pela tecnostalgia,
que atua como um fenômeno mediador entre o preservado/reintegrado e o
descartado/perdido.
O trabalho irá ressaltar a “Festa do Catálogo”, episódio iniciado no Brasil, em 2020 e que,
devido ao seu sucesso, perdura até o ano corrente, resultado do engajamento e da
pressão dos fãs/colecionadores de mídia física junto às distribuidoras nichadas e lojistas. A
“Festa do Catálogo” possibilitou lançamentos de filmes inéditos no país e relançamentos de
títulos esgotados, em meio a processos de obsolescência tecnológica e do surgimento de
várias plataformas de streaming.

Sessão
Representações, contra-representações e representatividade
SALA 09 | Dia 20/09 às 14h

Uma análise dos filmes não realizados de Olga Futemma


Hanna Henck Dias Esperança (USP)

Apesar de ser mais conhecida pelo seu extenso trabalho na Cinemateca Brasileira, Olga
Futemma atuou como cineasta entre as décadas de 1970 e 1980, período em que dirigiu
cinco curtas-metragens, sendo quatro deles documentários. Filha de imigrantes
okinawanos, Futemma dedicou quase todos os seus filmes às questões da imigração
japonesa e aos desdobramentos identitários e culturais que emergem a partir da
experiência do deslocamento, utilizando de elementos autobiográficos e ensaísticos para
discutir a própria identidade nissei, a memória migratória e a relação por vezes conflituosa
que marca a diferença geracional. Considerando a consistência dos temas e da abordagem
cinematográfica de sua obra, propomos investigar um conjunto de materiais encontrado no
acervo da Cinemateca Brasileira, composto por cinco argumentos de filmes não realizados
de autoria de Futemma: “Humphrey Bogart e eu” (curta-metragem documentário, 1981),
“Yonosuke: um samurai em chamas” (curta-metragem documentário, 1982)”, “De corpo e
alma” (curta-metragem documentário, 1982), “Diretores de fotografia” (curta-metragem
documentário, 1982) e “O retorno do samurai” (longa-metragem de ficção, 1983). O
objetivo da análise é entender de que forma essa produção escrita dialoga com o restante
da sua obra e como ela pode ser incorporada no escopo de análise da filmografia da
diretora.
Ficções turísticas em Havana e no Rio: Construção de um olhar erótico
Justo Planas (LeMoyne College, Nova York)

Havana e o Rio de Janeiro recebem milhões de visitantes estrangeiros a cada ano e o


turismo é um setor fundamental para economia cubana e brasileira. Mesmo assim, a
experiência turística não começa com a chegada do viajante, mas o consumo prévio de
produtos comunicativos formula expectativas sobre o contato com estas cidades
latino-americanas que muitos turistas procuram recriar durante sua estada.
Com base na análise do longa-metragem de ficção francês Salsa (Joyce Buñuel, 2000) e o
filme de animação estadunidense Rio (Carlos Saldanha, 2011), este trabalho apresenta
reflexões sobre o cinema primeiro-mundista e a construção de uma experiência turística a
priori sobre o Terceiro Mundo. As narrativas turísticas, incluindo aquelas do cinema
europeu e norte-americano, baseiam-se com frequência em estereótipos de gênero, raça e
classe social que modelam a experiência de estrangeiros e locais.
Além das suas diferenças, Salsa e Rio convidam o espectador global a vivenciar Havana e o
Rio, respectivamente, a partir do olhar turístico do seus protagonistas. As duas cidades
emergem como cenários da experimentação erótica e organoléptica dos personagens
estrangeiros, enquanto as complexidades sociais da favela brasileira e o solar cubano são
desproblematizadas. Ainda que esses estereótipos turísticos sobre Havana e o Rio são
idealizações ou significantes vazios, eles têm implicações reais pelos indivíduos mais
vulneráveis da sociedade, particularmente as mulheres e os afro-latinos.

Mesa
A geopolítica do Noticiero ICAIC e suas sonoridades
AUDITÓRIO | Dia 20/09 às 14h

Sonoridades de resistência à ditadura militar brasileira no Noticiero ICAIC Latinoamericano


Cristina Alvares Beskow (USP)

Dos diversos temas abordados nas 1.493 edições do Noticiero ICAIC Latinoamericano,
destaca-se a cobertura de pautas políticas internacionais sobre dezenas de países, como
os golpes militares em países latino-americanos. Especificamente sobre o Brasil, foram
levantadas sete edições que abordam a ditadura militar brasileira (1964-1985). Nestas
reportagens, nota-se a presença de alguns elementos que se repetem, como o uso de
trilhas sonoras como dispositivo narrativo, arquivos que denunciam a situação política no
país e a presença do que denomino voz militante, esta que apresenta uma tese por meio
de dados estatísticos e elementos teóricos, com uma diferença fundamental: a presença
de uma visão ideológica assumida, que se utiliza, por exemplo, de palavras pejorativas para
se referir ao inimigo político. O caráter denunciativo destes Noticieros vem à tona por meio
de uma linguagem experimental, em que a colagem audiovisual mescla diferentes materiais
imagéticos e sonoros, como fotos de repressão, utilização de intertítulos informativos,
imagens televisivas, manchetes de jornal, músicas brasileiras e utilização de metáforas e
sobreposição de imagens como recurso discursivo. Estas vozes do Noticiero visibilizam
temas proibidos pelo regime militar, como as canções censuradas e os depoimentos de
exilados políticos em Cuba que denunciam a tortura no Brasil, construindo uma narrativa “a
contrapelo” da história oficial brasileira do período.

Duas, Três, muitas canções para Ho Chi Minh


Glauber Brito Matos Lacerda (UESB)

A inserção de músicas como estratégia de agregar significados a reportagens


cinematográficas já era uma prática recorrente no cinema silencioso. O Noticiero ICAIC
Latinoamericano (1960-1990), por sua vez, se valeu das canções como recurso narrativo e
as utilizou como um artifício de mobilização popular frente ao desafio de construção de
uma nova sociedade apresentada pelo projeto revolucionário vigente. O triunfo da
Revolução cubana e o rompimento das relações diplomáticas com os EUA coincidiram com
a escalada da ingerência estadunidense no Vietnã, resultando em anos de conflito. Assim,
entre 1966 e 1976, em plena Guerra do Vietnã, Ho Chi Minh, líder comunista vietnamita, é
representado nas reportagens como um herói da resistência terceiro-mundista contra o
imperialismo. No cinejornal, o processo de iconificação do líder vietnamita é reforçado com
a presença de parte de um vasto cancioneiro popular - com temas assinados por Ivan Della
Mea, Pablo Milanés e Ewan Maccoll - que louvam seus feitos, sua liderança e sua
sabedoria. A presente comunicação analisa as implicações poéticas das canções nas
reportagens dedicadas a "Tio Ho". A junção das canções com as imagens de Ho Chi Minh,
para além do seu caráter laudatório, monumentaliza o homem que ficou conhecido por
comandar os triunfos de um povo terceiro-mundista frente aos imperialismos japonês,
francês e estadunidense.

O Hip Hop e a juventude cubana no ocaso do Noticeiro ICAIC latinoamericano


Marcelo Vieira Prioste (PUC-SP)

Discutiremos uma edição do Noticiero ICAIC latinoamericano realizada em 1989, já no


ocaso do cinejornal, cujo encerramento ocorreu no ano seguinte, marcando o início de uma
fase árdua para a sociedade cubana. Conhecida como “período especial” ao longo dos
anos 1990, é lembrada pela penúria econômica decorrente de progressivo desmonte do
bloco socialista com a queda do muro de Berlim e a posterior dissolução da União
Soviética. Ali observamos, sob a direção de Santiago Álvarez, uma narrativa que começa
com a inauguração do espaço “La madriguera”, uma casa de cultura voltada ao ensino e
difusão de literatura e artes plásticas para jovens artistas, promovida pela Associação
Hermanos Saíz a partir de uma iniciativa da União de Escritores e Artistas de Cuba
(Uneac). Logo em seguida, uma série de relatos diante da câmera abordam a insatisfação
dos jovens pela ausência de espaços para entretenimento e cultura, não apenas na capital
Havana, mas principalmente nas províncias. Então, curiosamente, apesar da ausência
daquela inventiva montagem que consagrou os noticieros na década de 1960, observamos
aqui uma interferência na construção de sentido, em que o mal estar proveniente das falas
vão sendo entremeados por manifestações do então “ianque” hip hop, fazendo com que
trechos de rap e break dance, recentemente conhecidos na ilha por transmissões de TV
clandestinas vindas de Miami, se apresentem como algum contraponto criativo àquelas
insatisfações da juventude cubana.

Mesa
Memórias, histórias e representatividade nas cidades
Sala de reuniões do INCTDD | Dia 20/09 às 14h

A reconfiguração do espaço citadino a partir dos pensamentos decoloniais e a sua


representação cinematográfica
Elis Crokidakis Castro

Este artigo pretende discutir ou apontar para alguns movimentos cinematográficos que
visam a ocupação de um espaço que constrói uma nova representatividade dos grupos
que habitam a cidade. Ou seja, partindo do espaço citadino de Ceilândia mergulharemos
numa forma de fazer cinema que ganhou notoriedade em 2005, quando o filme “Rap, o
canto da Ceilândia” foi lançado. Nosso objetivo é ler o espaço (território/paisagem e
sociedade), onde se encontram os personagens, a partir do filme de Adirley Queiros, que
traz para a tela a cidade satélite de Brasília com sua forma singular de representar-se e
representar seus moradores. Mesmo sabendo que muita coisa mudou desde 2005, este
filme em foco ainda continua dialogando com os muitos que foram feitos pelo mesmo
diretor e por outros, tentando dar conta da realidade do lugar, que fica a margem da sede
do poder do Brasil.

Recordações, fantasias ou presságios? O sonho e o despertar em dois episódios da série


documental “Fronteiras fluidas”
Ivana Grehs (UFF)

Na série documental “Fronteiras fluidas” (2018), podemos ouvir dos próprios indígenas
brasileiros as histórias sobre as demarcações de suas terras; traços limítrofes desenhados
pelos ‘Brancos’ (napë) ; e já aí, na escolha da palavra narrada do protagonista narrador,
vislumbramos o que propõe Walter Benjamin sobre tentar entender o passado
debruçando-nos sobre os escombros e os relatos dos que foram vencidos. Com este pano
de fundo, porém, buscando interpretar outras fronteiras igualmente importantes, tanto
para as lideranças indígenas como Krenac e Kopenawa, quanto para Benjamin e Freud,
este artigo intenta investigar a relação do sonho com a fantasia e o despertar; ao entender
como fronteira também fluida, a passagem do estado onírico para o estado de vigília e de
alerta; e sem perder de vista o caráter ambivalente do sonho em uma comunidade que, por
um lado pode representar um estar no mundo anestesiado, e por outro - quando elaborado
e interpretado - pode também levar ao despertar e ao agir. A partir de dois episódios dessa
série: “A palavra sonhada” e “Lá tem outras flores”, adentraremos na mata, nos sons da
língua yanomami e nas imagens do povo originário dessas terras para investigar os
possíveis caminhos dos sonhos.

Câmeras de vigilância, indivíduos e cidades: o lado sombrio das imagens


Eliana Monteiro (FACHA)

O modo de uso do dispositivo e suas afixações nos espaços públicos da cidade serão
observados sob a perspectiva cultural, social e política na América latina. As câmeras de
vigilância reconfiguram hábitos, costumes e a mobilidade de seus habitantes; “pois a
cidade já será outra e nós mesmos já não seremos os mesmos”. Tomemos como ponto de
partida o “olhar” do anjo Dammiel no filme “Asas do Desejo”, 1987 de Wim Wenders e a
“visão” do dispositivo ambos, o ser celestial e os dispositivos, olham a cidade “de cima
para baixo”. Diante deles, uma cidade fantasmagórica: para o anjo o estranhamento do
espaço territorial, para o indivíduo uma cidade que submerge, sob o olhar de vigilância,
suas histórias e memórias. A arquitetura clássica da cidade é impregnada pela sua própria
imagem, uma está na outra, alterando a percepção do indivíduo e suas experiências nestes
espaços. Para Dammiel, que desce a cidade, convinha-lhe mover-se com cautela na
desconhecida relação tempo/espaço. Para o indivíduo, habitante da cidade, a cautela se
configura em não incorrer em transgressões no espaço-tempo-tecnológico gerido pelo
dispositivo, inibidor de seu uso.
PROGRAMAÇÃO COCAAL 2023
DIA 20/09, QUARTA, 16H
Sessão
Cinema, arte e educação: na escola
SALA 12 | Dia 20/09 às 16h

Rochas moventes, pluralidades e partilhas do cinema na escola


Marina Mayumi Bartalini

A oficina Para além da sala escura para professoras/es da rede municipal de Campinas -
SP, contemplaram metodologias que consistem em ver uma produção cinematográfica
nacional, produzir um vídeo a partir de dispositivos de criação disparados pela obra
assistida e conversar coletivamente sobre as produções realizadas. A composição de uma
coletividade de sensibilidades heterogêneas, repleta de divergências de maneiras de ser,
enriquece as práticas que se dão tanto no âmbito do cinema quanto da educação. Atuar a
partir da pluralidade e da ideia da soma de presenças pela singularidade, em que toda e
qualquer pessoa compõe uma constelação de trajetórias, é uma maneira de desarmar o
individualismo e a ideia de autoria tão presente no cinema e na escola. Outras perspectivas
se fazem então importantes para que tenhamos mais versões que nos permitam fabular o
mundo e toda sua diversidade de elementos humanos e não-humanos. Mesmo aquilo que
nos pareça inerte, como, por exemplo, elementos do reino mineral, estão em interação,
possuem presença e encontram-se em movimento contínuo. Ao acessarmos outras
cosmologias, damo-nos conta de uma gama de visões que compreende a existência
dentro de uma grande constelação de trajetórias simultâneas, sempre se entrecruzando no
mesmo tempo e espaço.

Experiências de criação com o cinema e o audiovisual no bairro de Santa Cruz-RJ


Leonardo Cesar Alves Moreira (UFRJ), Caroline Montezi de Castro Chamusca (UFRJ) e
Pedro Cupolillo de Almeida

O REALIZACINE desenvolve experiências de iniciação ao cinema e ao audiovisual com


crianças e jovens do bairro de Santa Cruz-RJ, periferia carioca. Em 2021, pelo Prêmio Arte
e Escola (SMC-RJ/ Lei Aldir Blanc), o projeto foi iniciado com o investimento em
equipamentos de cinema e realização de oficinas em duas escolas municipais. Práticas que
vêm se ampliando ao público jovem, com o apoio dos seguintes editais em vigência:
JUVRIO - Juventudes Inovadoras; Edital de Ações Locais RIOFILME; e Edital de Fomento à
Cultura Carioca - FOCA. Que vêm possibilitando, ao longo de 2023, ampliar as ações no
bairro produzindo experiências formativas com o cinema e o audiovisual. Ao apostar na
formação audiovisual, desde o subúrbio carioca, o REALIZACINE busca fomentar práticas
de Arte Educação, centradas no tripé - formação - produção - difusão dos filmes
produzidos pelos crias do bairro. Isto é, descentralizar o acesso a equipamentos e
repertórios de criação cinematográfica com crianças e jovens periféricos. Em contexto
escolar, produz experiências complementares ao currículo escolar, com crianças entre 8 e
14 anos; e, propostas de capacitação técnica voltadas à produção de curta-metragens
locais, com o público jovem, entre 15 e 29 anos. Nesta comunicação, apresentamos a
metodologia do projeto que se concentra nos gestos de ver e fazer filmes, discutindo
exercícios teóricos e práticos, que colaboram para ampliar a cinematografia local do
histórico bairro de Santa Cruz.

Diários Escolares: Interfaces Audiovisuais


Ramon Mota Coutinho

Como a criação coletiva de filmes pode elaborar outros modos da escola acontecer?
Quando o cinema vai para escola, é a partir dele mesmo que podemos ensaiar o papel
político nesse novo espaço? A pesquisa Diários Escolares: Interfaces Audiovisuais,
pretende elaborar reflexões em torno de processos criativos em ambiente escolar. A
investigação parte de vivências audiovisuais em colégios públicos estaduais e escolas
particulares baianas entre 2022 e 2023. A partir dessas experiências do chão de distintas
salas, o projeto pretende articular um debate sobre os modos de produção, invenção e
crítica de imagem, assim como o uso das novas tecnologias e mídias. A existência do
cinema em uma comunidade afeta a própria comunidade; não porque narra seu cotidiano,
mas porque há uma forma do cinema mobilizar que afeta o próprio real. Os diários
audiovisuais como um diálogo comunitário em um espaço cada vez mais marcado por
novos desafios: entre formar trabalhadores precarizados e a violência que coloca a escola
como alvo de práticas de ódio. Por isso investigar e elaborar métodos que potencializem os
processos emancipatórios dos alunos para além dos muros, inventando com a diferença
uma escola guiada por novas estéticas democráticas e transformadoras.

Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: autorias femininas
SALA 11 | Dia 20/09 às 16h

Reflexões sobre coletivos de mulheres e dissidências de gênero do audiovisual


Danielle Parfentieff de Noronha (UFF)

Sob perspectivas decoloniais e feministas, esta comunicação busca refletir sobre a


organização dos coletivos contemporâneos de trabalhadoras mulheres e dissidências de
gênero do cinema e do audiovisual brasileiros, principalmente a partir do desenvolvimento
de redes virtuais, e refletir sobre os modos como estão tensionando para reconfigurar as
equipes e a produção das imagens e dos sons que são produzidos no país. A partir da
premissa que o cinema e audiovisual comerciais são majoritariamente produzidos por
homens brancos, localizados no eixo Rio-São Paulo, e, nesse sentido, grande parte das
imagens que são (re)produzidas parte desse ponto de vista, busca-se compreender por
meio do diálogo transdisciplinar entre a antropologia e a comunicação como a lógica
coletiva fomenta os debates sobre a importância da pluralidade na produção
cinematográfica, bem como entender como essa estratégia do coletivo possibilita
mudanças práticas nas vidas das profissionais, compreendendo o coletivo na sua
dimensão artística, política e estratégica. Para isso, num primeiro momento, foi realizado
um mapeamento dos coletivos de mulheres do cinema e do audiovisual em atividade no
país. Na sequência, seis coletivos que reúnem profissionais de diferentes áreas com
abrangência nacional foram selecionados para serem analisados por meio de uma
etnografia virtual, que contou com o envio de formulário para as pessoas integrantes,
acompanhamento de atividades e entrevistas em profundidade.

Pasajeras: território, paisagem e cotidiano de mujeres no cinema fronteirizo


Fran Rebelatto (Unila)

O longa-metragem Pasajeras (2021), de minha autoria, foi realizado em 2019 na fronteira


entre Argentina, Brasil e Paraguai e traz para o centro do quadro cinematográfico a
realidade das mulheres trabalhadoras da região que, em seus deslocamentos cotidianos
por este território e paisagens específicas, carregam mercadorias, arte e sonhos. Neste
ensaio buscamos refletir sobre o fazer cinematográfico: as escolhas técnicas, estéticas e
políticas que nos permitem defender que está obra se localiza entre aquelas que temos
denominado como ‘cinema fronteirizo’, ou seja, um cinema não só produzido nestes lugares
à margem, mas que movem em seu relato o pensamento sobre as especificidades
territoriais, paisagísticas e, neste caso, ainda, questões de gênero e suas relações com as
fronteiras do nosso país e suas distintas realidades. O filme é definido como um
documentário, no entanto, os dispositivos estéticos escolhidos para a narrativa mobilizam
diferentes expressões da encenação e da performance. Realizamos esta reflexão a partir
do aporte do trabalho da direção, da direção de fotografia, da direção de arte e da
construção da trilha sonora no sentido de analisarmos como se conformou na narrativa do
filme o que reconhecemos como método “ñanduti fronteirizo” (REBELATTO, 2021) de fazer
cinema.

Compositoras no audiovisual: caminhos para a visibilidade no Brasil e no mundo


Debora Regina Taño (Unicep), Geórgia Cynara Coelho de Souza (UEG)
e Suzana Reck Miranda (UFSCar)
Nos últimos anos tem crescido o interesse por pesquisas acerca da presença feminina na
produção cinematográfica e a percepção da desigualdade de gênero no setor. Tais
pesquisas demonstram as consequências da estrutura patriarcal na invisibilização das
mulheres e apontam possíveis caminhos, como a identificação e valorização de seus
trabalhos. Neste cenário, dentre as diferentes atuações profissionais da área, os estudos
sobre a presença feminina na composição de trilhas originais ainda são raros, no Brasil e no
mundo. Entre os existentes, o estudo da espanhola Martínez (2009) estima a presença de
58 compositoras de música de cinema, televisão e games de maior reconhecimento
mundial, com maior recorrência a partir da década de 1950. Já a pesquisa de Strong e
Cannizzo (2017) evidencia a desigualdade de oportunidades entre os gêneros na atividade
de composição no audiovisual australiano como consequência de um fenômeno social mais
amplo, que envolve desde uma sensação de necessidade de maior qualificação por parte
das mulheres para entrar num espaço majoritariamente masculino, até a escolha pela
maternidade. Considerando tal cenário, a presente comunicação apresenta resultados
parciais sobre a realidade brasileira em relação à autoria de trilhas musicais
cinematográficas. A investigação objetiva identificar e dar visibilidade às compositoras
brasileiras, a fim de produzir dados que subsidiem reflexões futuras e a promoção de
políticas e práticas de combate à desigualdade.

Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: latinidades afro-ameríndias
SALA 10 | Dia 20/09 às 16h

Defensor da Fauna: as descendências afroameríndias no cinema de Gaguinho


Paolo Ricardo Gutiérrez Solis (UESB) e Milene de Cássia Silveira Gusmão (UESB)

Idalino Lima, conhecido como Gaguinho, nasceu em Tremedal (Ba), em 02 de janeiro de


1943. Com 5 anos de idade, sua família se mudou para Vitória da Conquista, tendo
começado a trabalhar como ajudante de açougueiro aos 8 anos, para ajudar no sustento
da família. Com 15 anos, se casou e viveu um matrimônio que durou 35 anos. Com o fim da
relação, ficou 4 anos recluso em um pequeno sítio de sua propriedade e foi quando decidiu
que queria trabalhar com cinema, mesmo sem ser alfabetizado e com 54 anos de idade.
Sua experiência com a sétima arte produziu 4 curta-metragens, dentro da enorme
dificuldade financeira, dispondo apenas de uma câmera alugada a 50 reais o dia. Em seus
filmes, interpretou o personagem Tonis Lima, um herói baseado no faroeste italiano,
improvisando atores amadores nas comunidades pobres onde residiu. Enquanto expressão
dessas minorias, em que abundam as descendências afroameríndias, sob o epíteto do
IBGE de “negros e pardos”, o filme “Tonis Lima, o Defensor da Fauna” pode ter se tornado
acidentalmente uma obra com linguagem de arte menor, no sentido dos filósofos Gilles
Deleuze e Félix Guattari, o que proporciona uma imagem capaz de revelar caminhos de
pensamento a respeito da realidade social das populações pobres.
El candombe en el cine uruguayo de los 50: identidad, territorio, y estereotipos
Mariana Amieva (Udelar, Uruguai)

El siguiente trabajo abordará un conjunto de cortometrajes que se produjeron en Uruguay


por parte del conjunto de realizadores independientes/amateur que participaron de los
concursos de cine del período, y las formas particulares que adoptaron las
representaciones de las comunidades afromontevideanas. Los filmes a analizar serán:
Fiestas criollas (Saderman, 1951), Primer festival de cine de Punta del Este (Musitelli, 1951),
Panorama (Capozzolli,1956), Carnaval en Montevideo (Gascue, 1957) y Como el Uruguay
no hay (Ulive, 1960). El conjunto de estos materiales tiene en común una de las pocas
escenas en las que aparecen representados las poblaciones afrouruguayas en el cine
nacional. Lo destacable de todas estas apariciones es que se centran en la relación entre
esta comunicad y el candombe y las figuras tradicionales ligadas a esta expresión cultura.
Estas apariciones que forman parte de uno de los estereotipos más arraigados en relación
a la cultura afro local nos permiten presenta un conjunto de problemas para comenzar a
pensar este vínculo que casi no ha sido abordado por la bibliografía de los estudios sobre
cine. Los núcleos son: las representaciones visuales como construcción de un legado
ausente; la consolidación del candombe como representación de identidad cultural
nacional; el proceso de institucionalización y posterior patrimonialización del candombe;
las relaciones entre expresión cultura, identidad y territorialidad en el contexto
montevideano.

Reivindicaciones y tensiones de lo indígena en el cine argentino de los años sesenta


Lucía Rodríguez Riva (Universidad de Buenos Aires, Argentina)

En los años sesenta se produjo un movimiento que renovó el cine argentino, denominado
“Generación del 60”. En ese amplio espectro de producciones, hubo una línea que presentó
una preocupación por la situación social y que funcionaría como antecedente del cine
explícitamente político de los años sesenta. Algunas de esas producciones fueron Tiredié
(Fernando Birri, 1958), Shunko (Lautaro Murúa, 1960) y Los inundados (Fernando Birri,
1962). En este caso, me interesa indagar en un largometraje cercano al nuevo cine, pero
enmarcado dentro de parámetros industriales, que es Convención de vagabundos (Rubén
Cavallotti, 1965), puesto que allí se incorporan imágenes y representaciones del interior
–particularmente, del norte de la Argentina– y de sus habitantes, con la intención de
reivindicar esa zonas del país, que habían tenido hasta entonces escasa presencia en la
pantalla. En función de esto, me interesa problematizar cuáles son las tensiones que se
generan en la incorporación al discurso cinematográfico de estos sectores, desde una
mirada todavía centrada en la capital del país y asentada en una ideología
predominantemente liberal. El trabajo de esta ponencia consistirá, entonces, en la
inscripción en su tiempo político-histórico de estas producciones, a la vez que en el
análisis discursivo y de puesta en escena para el abordaje del problema señalado.

Sessão
Corpos, gêneros e sexualidades: corpos e pertencimentos
SALA 6B | Dia 20/09 às 16h

Exu e o riso carnavalesco debochado e a identidade afro-brasileiras no cinema


Guryva Cordeiro Portela (Unicamp)

Pretendo discutir alguns traços das entidades Exu, na umbanda e no candomblé, os dois
modelos mais conhecidos das religiões afro-brasileira. O argumento que esta divindade
permite uma leitura cultural brasileira. Exu permite uma leitura de caráter “mediador
cultural”, o que o torna um princípio para pensarmos alguns temas da identidade nacional.
Proponho a análise do filme Madame Satã (Karim Aïnouz 2002), através do personagem
central. Um aprofundamento no “tropo” da identidade do corpo brasileiro, analisado a partir
de suas experiências e vivencias, enraizadas nos gestos, movimentos, tendo as entidades
como base de paralelo. O desafio que proponho é pensar e imaginar cartografias a partir
de análise de corpos dissidentes, camadas de mundos, nas quais as narrativas sejam tão
plurais que não precisamos entrar em conflito ao evocar diferentes formas de ver o mundo
e principalmente corpos diversos, que suas narrativas são presentes que nosso cotidiano
popular, nas ruas das cidades, quilombos, aldeias, nas esquinas das periferias e nas
encruzilhadas dos saberes populares. Como processo de ‘re-existência’, analiso, como
ponto de convergência, os corpos que movimenta o enredo, o enquadramento, apreendido
como moldura do olhar, fugidia, relacional, inevitável (BUTLER, 2015). Analiso este
personagem a partir de um olhar do corpo carnavalizado (Bakhtin, 1999) e das relações do
masculino e feminino nas entidades da Exu e Pomba gira no entendimento na construção
de cada personagem.

Potencial estéticopolítico e cosmopoéticas gays em Madame Satã e Praia do Futuro


Everaldo Asevedo (UFBA)

A presente comunicação propõe o reconhecimento do potencial estético-político do


cinema como instrumento de espelho e reflexão sobre o mundo em que se vive. A partir do
manejo desse potencial, realizadores audiovisuais podem, então, produzir imagens e
contar histórias que não apenas retratam as estruturas existentes, mas induzem a
viabilidade da existência de outros mundos possíveis, servindo-se do cinema como meio
de construção de peculiares cosmopoéticas (ANDRADE; ALVES, 2020; RIBEIRO, 2016a,
2016b). Neste contexto, a partir da análise de cenas dos filmes Madame Satã (2002) e
Praia do Futuro (2014), dirigidos por Karim Aïnouz e protagonizados por homens gays,
pretende-se suscitar a possibilidade de construção de cosmopoéticas gays no cinema,
focadas na resistência contra as violências decorrentes da homofobia (COLLING;
NOGUEIRA, 2015), da heteronormatividade (MISKOLCI, 2017) e da heterossexualidade
compulsória (RICH, 2010) e na autoaceitação de sua homossexualidade. Para tanto,
propõe-se apresentar um breve histórico da representação de personagens homossexuais
no cinema brasileiro (MORENO, 2001; LACERDA JÚNIOR, 2015) a fim de se poder
demonstrar, com a análise das cenas dos filmes acima referidos, o potencial
estético-político de construção de outras representações e cosmopoéticas gays no século
XXI, como reflexo das propostas e ensinamentos oriundos dos estudos queer (BUTLER,
2008; MISKOLCI, 2017) e do New Queer Cinema (RICH, 2015).

Corpo linguarudo: diálogos entre Vento Seco e o lugar de pertencimento


Anna Carolline Brizola Bolba de Oliveira (UFRB)

Este trabalho busca pensar o lugar do corpo aplicado ao diálogo das teorias relacionadas
às culturas da imagem no cinema, em interlocução com o território. Para isso, será utilizado
como objeto de pesquisa e análise o longa-metragem goiano “Vento Seco” (2020), dirigido
por Daniel Nolasco. O intuito é abordar a obra enquanto representatividade imagética de
corpos que se expressam não só pela palavra, mas também pela experiência estética, uma
vez que o vivenciar do interior goiano traz efeitos nas narrativas cinematográficas ali
desenvolvidas. O filme escolhido é o primeiro longa de ficção do diretor e a ideia é
apreender o olhar sobre os personagens ali retratados, fundamentando o modo com que o
corpo é engajado na obra do diretor, através dos conceitos de performance, teorias de
gênero e o corpo cuir, além da concepção de territorialidade como forma de
pertencimento. Portanto, aqui peço licença para intitular nossos corpos de “linguarudos”,
uma vez que a fala é expressão motora do corpo, e o experienciar a história e suas
consequências é estar diante do corpo próprio.

Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: águas do tempo
SALA 04 | Dia 20/09 às 16h

Corpos D’Água: etnografia de uma ação artística


Priscila Cabral Almeida (UFBA), Karla Schuch Brunet (UFBA), Tânia Maria do Nascimento
Bispo (UFBA)

Propomos um artigo etnográfico sobre o processo de construção da ação artística


interdisciplinar Corpos D’Água onde apresentaremos uma vídeo-arte resultante desta
ação/colaboração. A ação artística - desenvolvida a partir de pesquisa e escuta ativa com
a dançarina e coreógrafa Tânia Bispo, egbomi do Ilê Axé Kalé Bokun, de nação ijexá – é o
ponto de partida para a criação da peça audiovisual. Nossa pesquisa mapeia - através da
linguagem da dança (Tânia Bispo), do audiovisual (Karla Brunet) e da música (Priscila
Cabral Almeida) - os sentidos das águas para o sistema ijexá e, mais especificamente,
como esta cosmologia atravessa e se corporifica através da fala e dos movimentos de
Tânia Bispo. Compreendemos o sistema ijexá (Wilson Caetano) enquanto a cultura trazida
pelos povos da diáspora, em Ijexá (Nigéria) e no seu entorno, desaguando na cultura
afro-brasileira a partir da conformação de candomblés de nação ijexá, de seus símbolos,
cânticos, entidades e afoxés, e, contemporaneamente, presença rítmica e temática no
cancioneiro popular brasileiro. Neste sentido, a ação artística tem inspiração e fundamento
no processo artístico interdisciplinar contemporâneo, desenvolvido no grupo de pesquisa
Ecoarte (IHAC-UFBA), dialogando diretamente com as duas linhas de pesquisa do grupo -
“Poética das Águas” e “Descolonizar a natureza: arte e saberes ancestrais” – que
compreendem as artes e as relações sociais como parte indissociável da natureza e da
justiça social-ambiental.

A cosmopoética da água em El Botón de Nácar


Raquel Salama Martins (UFBA)

Este artigo tem como objetivo contribuir com os estudos da mise en scène no contexto do
cinema político latino-americano contemporâneo a partir da análise do documentário El
botón de nácar (2015), de Patrício Guzmán. Compreendendo o cinema como um “aparelho
cosmopoético” (RIBEIRO, 2019), e pressupondo que o diretor busca com a obra "escovar a
história a contrapelo" (BENJAMIN, 1987), interessa-nos saber como os sons, assim como
as imagens, são encenados de modo a promover essa releitura histórica. Nossa hipótese é
que o diretor se serve de um projeto ou “escritura sonora” (DESHAYS, 2006) para produzir,
na montagem, “efeitos audiovisógenos” (CHION, 2009), constituindo assim uma mise en
scène poética, onde os sons tecem sensações, sentimentos e sentidos em relações
dialéticas com as imagens, de modo a reforçar as asserções ensaísticas do diretor sobre a
geografia insular do país, a cosmologia universal e a cosmologia indígena, profundamente
vinculadas com as águas marinhas. Tendo como metodologia a "análise interna" e
"externa" da imagem e do som (AUMONT e MARIE, 2009), o resultado do estudo confirma
a relevância do som na mise en scène do filme, especialmente os “sons fundamentais” e
"arquetípicos" (SCHAFER, 2001) das águas do Chile, encenados na obra enquanto “efeitos
de significado” (CHION, 2009, p. 468) de memória e resistência às violências e mortes
perpetradas pelos governos coloniais e ditatoriais que marcaram a história chilena,
deixando reflexos no presente.

A forma da água: perspectivismo ameríndio e extrativismo cognitivo e ontológico


Cláudia Maria Guimarães Lopes de Castro (UFMT) e Maristela Carneiro (UFMT)

O filme A Forma da Água (Guillermo del Toro, 2017) ganhou quatro das treze indicações ao
Oscar que concorreu: melhor filme, melhor direção, melhor direção de arte e melhor trilha
sonora. Para pensarmos em sua narrativa, faz-se pertinente observar que em vários povos
amazônicos existem histórias de seres encantados aquáticos, da terra e do ar que são
divindades, sendo muito recorrentes nas narrativas tradicionais, seres que são
metamorfos, como meio humanos, meio peixes, etc. No referido filme a “criatura” é oriunda
da Amazônia e que era reverenciado como uma divindade para os povos originários da
região. Isto posto, propomos um exercício reflexivo e analítico a partir de A Forma da Água,
fazendo uma aproximação com os conceitos do Perspectivismo Ameríndio, Extrativismo
Cognitivo e Extrativismo Ontológico. Apesar do filme ser uma ficção, traz temas
contemporâneos, como a possibilidade de se ter uma compreensão diferente da ocidental
a respeito da natureza e da cultura; discute interseccionalmente relações étnico-raciais, de
gênero e de classe social, deixando em primeiro plano uma história de amor entre
espécies, ou entre humano e não humano. Ao raptar o Encantado de seu ambiente,
inicialmente sua existência é negada, mas a possibilidade de existir nas suas diferenças e
particularidades por meio do amor, como diz a canção de Caetano Veloso “Narciso acha
feio o que não é espelho”. A Forma da Água tensiona a incapacidade de respeito,
consideração e empatia ao diferente.

Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: Sara Gómez
SALA 03 | Dia 20/09 às 16h

De Cierta Manera um manifesto: uma proposta de análise fílmica.


Renata Masini Hein (UFF)

Esta comunicação procura apresentar o gênero discursivo manifesto, o qual apresenta


como característica fundamental a experiência de ruptura e é produzido pela necessidade
de intervenção a partir de uma luta pública, como um potente meio de compreensão do
longa-metragem híbrido “De cierta manera” (1974) de Sara Gómez, sobretudo no que
tange as discussões sobre gênero e raça em Cuba: no filme, são as mulheres negras quem
mais sofrem com a marginalização e com as subjetividades entranhadas de machismo e
racismo. Ao intercalar dialeticamente ficção e documentário e apontar as contradições das
personagens e do presente cubano, o filme traça reflexões e/ou inflexões do próprio
processo revolucionário, defendendo que o socialismo só se sustenta se as mudanças
materiais acompanharem as mudanças de subjetividade e de inter-relações pessoais e
vice-versa. As contradições são mostradas como sondagem e problematização da
realidade cubana, possivelmente visando à superação desses impasses como forma de, aí
sim, impulsionar todo o potencial revolucionário. Assim, ao expressar as diversas
opressões e contradições do período histórico no qual está inserido, o filme se posiciona
frente ao debate público, questionando os próprios limites entre a arte e a vida.

A afrodiáspora musical de Sara Gómez


Jusciele Conceição Almeida de Oliveira
Ritmos, músicas, instrumentos, melodias, corpos e sabores cubanos são acionados para
narrar os documentários Iré a Santiago (1964, 15min) e Y tenemos sabor (1967, 30min) de
Sara Gómez (1942-1974), nos quais o povo cubano entra em cena representando seus
próprios valores culturais individuais e coletivos, a diversidade de tendências musicais,
instrumentais, estéticas e as tradições orais de Cuba, apresentando os elementos
artísticos, culturais, sociais, históricos e políticos em seus próprios contextos, em
realidades visíveis e palpáveis. Há ainda uma preocupação em demonstrar a conexão de
Cuba com a diáspora africana, bem como ressaltar a beleza e o poder artístico dos
afro-cubanos, principalmente, no que concerne ao ato de narrar as suas próprias histórias
musicais, que destacam suas complexidades distintivas, encantos singulares e
necessidades particulares e representativas. São filmes curtos e intensos de música,
dança e história, que nos fazem mover o corpo, sacodir os braços, sentir os ritmos
musicais e da cineasta nos levando para outros espaços, tempos e ritmos, impregnados de
memória do passado e do presente. Assim, o presente resumo pretende analisar e
demonstrar como as memórias, as histórias e as identidades afrodiaspóricas musicais de
Cuba são representadas nos documentários de Sara Gómez, através das músicas e das
histórias dos ritmos e dos instrumentais dos/pelos sujeitos retratados (inclusive da própria
cineasta).

Sessão
Linguagem: reconfigurações e experimentações na
contemporaneidade
SALA 7B | Dia 20/09 às 16h

As imagens e a poética ardente de Deisiane Barbosa


Rubens da Cunha (UFRB)

Este trabalho pretende fazer uma reflexão sobre a obra literária e visual da poeta,
performer, videomaker e editora Deisiane Barbosa. Nascida no Recôncavo, Deisiane faz
das viagens, das idas e vindas, matéria prima para seus poemas e suas imagens. Autora de
Desavesso (ed. da autora e 2016), Refugos (Segundo Selo, 2019); Cartas a Tereza (2021,
Andarilha Edições) e casamendoeira (Andarilha Edições, 2023). Para refletir sobre essa
obra, por um lado, pensamos na imagem que, apesar das cinzas, dos obscurantismos, dos
apagamentos, arde como memória, como rememoração, enfrentamento e imaginação
criativa (DIDI-HUBERMAN, 2018). Por outro, pensamos essa produção artística
contemporânea fora dos eixos hegemônicos, sob a perspectiva de que é preciso tencionar
e alargar os limites do que é o contemporâneo para além da noção temporal, mas pensá-lo
como uma noção territorial (AUGUSTO, 2018). Assim, essa leitura do contemporâneo como
algo temporal e territorial e essa perspectiva de uma imagem crítica, que vá além do
semiótico e do sensorial, mas que seja uma incisão, um corte, uma ruptura no espaço e no
tempo nos dão instrumental teórico para refletir sobre o processo criativo e estético de
Deisiane Barbosa.

Estratégias de Produção do Documentário AmarElo: É tudo pra ontem


Matheus José Vieira (UFSCar)

Este estudo analisa o documentário "AmarElo: é tudo pra ontem", dirigido por Fred Ouro
Preto em 2020, pretende contribuir para uma história do “cinema negro brasileiro”
(CARVALHO, 2022. O filme é protagonizado pelo rapper Emicida, que conduz uma narrativa
estruturada em torno do seu álbum musical AmarElo e da história da negritude no Brasil,
com destaque para São Paulo. O show de Emicida no Theatro Municipal de São Paulo em
2019 é o eixo da produção, assim como a ocupação das escadarias do teatro pelo
Movimento Negro Unificado em 1978 e a filosofia de alguns fundadores do movimento,
como Lélia Gonzalez. Para compreender a história dessa produção, partimos de um ponto
de interseção entre o referido álbum musical e o filme, ou seja, a produtora Laboratório
Fantasma, fundamental na gênese de AmarElo tanto enquanto projeto musical como
também cinematográfico. Portanto, de antemão, está dada uma dimensão intermidiática
que envolve sobretudo música e cinema e, diante de tal horizonte, o foco maior de nosso
interesse é o documentário, a ser observado na perspectiva indicada por Lúcia Nagib e
Anne Jerslev (2014), que compreendem a intermidialidade como um método crítico
interessado em reconhecer a natureza híbrida do cinema como sua condição fundante.
Interessa-nos por fim elaborar um mapa de produção deduzido do próprio texto fílmico, a
partir de suas “referências intermidiáticas” (GHIRARDI, RAJEWSKY, DINIZ, 2020).

Percepções e disputas narrativas em De como se devasta um Éden, de A. Alcântara


Luiz Fernando Villalba Santos (UFF) e Denise Tavares (UFF)

Se é inesquecível que o ano de 2020 no Brasil foi marcado pelos números assombrosos da
pandemia de Covid-19, também é inevitável lembrar que no mesmo período ocorreram as
maiores queimadas da história do Pantanal. Araquém Alcântara, renomado fotógrafo
brasileiro de natureza, destaca tais destruições em “De como se devasta um Éden”,
articulando às imagens que registra a um contundente e embargado áudio de denúncia. O
vídeo, disponível no canal do YouTube Documenta Pantanal, constrói uma narrativa que a
despeito de enfatizar a posição crítica do fotógrafo ao processo de devastação do local,
não deixa de destacar/projetar imagens que transbordam escolhas estéticas e estilísticas
do autor afinadas à sua visão paradisíaca do lugar, como o título do vídeo explicita.
Configura-se, deste modo, uma dupla inquietude nesta narrativa que se vale de uma
“estética da devastação” cujos riscos, a nosso ver, embutem uma tensão contínua entre a
adesão maravilhada à obra e a repulsa ao que o vídeo denuncia. Esta e outras questões
que pretendemos discutir aqui, se valem da intersecção de dois projetos de pesquisa em
andamento. Um, que cerca as discussões sobre as potencialidades artísticas da fotografia
da natureza considerando as diversas trilhas de banalização que a envolvem (por exemplo,
via redes sociais) e, também, as possibilidades (ou não), de um regime de autoria. E, outro,
que busca construir uma cartografia dos documentários de temática ambiental nos
diversos formatos e narrativas.

Sessão
Perspectivas teóricas e metodológicas: estudos de mercado
AUDITÓRIO | Dia 20/09 às 16h

Curta-metragem como “abre alas” de novos realizadores


Antonio Carlos (Tunico) Amancio da Silva (UFF) e Hadija Chalupe da Silva (UFF/ ESPM RJ)

A presente pesquisa pretende compreender quais foram os desdobramentos que o 1º


Edital de fomento ao audiovisual de Niterói (03/2018) - em especial a Categoria IV de
fomento à produção de de curta-metragem - provocou para o mercado audiovisual
fluminense nos últimos 5 anos. Partimos da hipótese que o fortalecimento das instituições
de ensino e a manutenção de políticas públicas culturais são fundamentais para o
estabelecimento de um ecossistema audiovisual salutar.
A chamada pública foi lançada em 2018, pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal
das Culturas (SMC) e da Fundação de Arte de Niterói (FAN). Podemos perceber que a
SMC/FAN procurou elaborar uma chamada que incorporasse diferentes eixos, tipos de
obras e agentes (pessoas físicas e jurídicas) do campo audiovisual. Ao todo foram
investidos R$ 5,7 milhões. A ação pulverizada só foi possível a partir do trabalho conjunto
entre município e federação através do FSA/PRODAV.
As ações foram divididas em 12 categorias, no entanto a investigação será direcionada a
categoria de curta-metragem que selecionou 10 projetos, entre ficção, documentário e
animação.
Buscaremos compreender as diferentes estruturas de realização de cada projeto. Como
organizaram suas produções, desde o desenvolvimento do projeto e elaboração do roteiro,
passando pelo gerenciamento do aporte, organização da equipe, gravações e finalização
da obra, às trajetórias de difusão e os desdobramentos profissionais a partir da
concretização deste projeto.

Profissionais de som direto no cinema feito em Goiás


Thais Rodrigues Oliveira (UEG)

Esta comunicação tem como objetivo apresentar dados coletados de uma investigação
realizada sobre filmes feitos em Goiás de 2000 a 2020. O recorte aqui apresentado elenca
os profissionais de som que atuaram/atuam no cinema feito em Goiás neste período. Os
dados foram coletados a partir da década de 2000 por este ser um período no qual o
mercado cinematográfico em Goiás passou por uma crescente produção de
curtas-metragens impulsionados por cursos profissionalizantes, cursos de graduação e
pós-graduação, festivais e editais. Para estabelecer quais filmes entrariam no
levantamento, foi realizada uma revisão bibliográfica (LEÃO;1999, 2003; ALCANTARA,
2012; BENFICA; LEÃO, 1995; LEVY, 2012; QUEIROZ E SILVA, 2018; OLIVEIRA, 2022; VALE,
2013) aliada com a coleta de dados sobre filmes e séries que participaram de pelo menos
um festival de cinema ou que tiveram exibição no YouTube com mais de cinco mil
visualizações. Nesse sentido, essa pesquisa visa contribuir com estudos sobre som no
audiovisual, principalmente sobre o reconhecimento desses profissionais. Em Goiás há
poucos livros que contam sobre a história do cinema e audiovisual regional e não há um
registro específico a respeito de profissionais de som atuantes no mercado audiovisual,
bem como um registro organizado contando com os filmes executados. Nesse sentido,
essa pesquisa busca auxiliar na construção de uma memória e história recente do
audiovisual feito no Brasil Central.

A representação LGBTA nos Originais Netflix da década de 2010


Kaippe Arnon Silva Reis (UFRB)

A expansão internacional do serviço de streaming Netflix se iniciou em 2011, com a


disponibilização da plataforma no Canadá, e se concretizou em 2016 quando a empresa já
atuava em praticamente todo o mundo. Concomitante à ampliação de mercados, em 2013,
passou-se a produzir conteúdos que teriam a Netflix como sua primeira janela de exibição,
algo novo para este tipo de plataforma. Logo, filmes, séries e outras produções passaram a
ser realizadas nos EUA e nos outros territórios em que a empresa atuava.
Tal conteúdo original possibilitou que a Netflix tivesse controle sobre títulos de seu
catálogo e como seriam codificados certos temas, como a pauta da comunidade LGBTA.
Em suas primeiras séries, “House of Cards” (2013-2018) e “Orange is The New Black”
(2013-2019), a empresa emitia um sinal de aceitação a esta comunidade com
protagonistas bissexuais, mas tal diversidade não chegou da mesma forma nas produções
subsequentes. Quando observamos as 81 séries cômicas lançadas pela plataforma entre
2013 e 2019, apenas 35 tiveram algum personagem LGBTA.
Neste estudo, dentre as 35 séries, selecionamos como corpus de análise as 10 sitcoms
localizadas a fim de identificar o perfil representacional das personagens LGBTAs neste
gênero. São nove produções estadunidenses e uma única brasileira –"Samantha!"
(2018-2019)– que nos mostram a discrepância entre produções dentro da própria Netflix e
como as lógicas culturais do país de origem podem afetar o desenvolvimento de conteúdos
audiovisuais.

Sessão
Representações, contra-representações e representatividade:
questões afro-ameríndias
SALA 09 | Dia 20/09 às 16h
Abaixo e à margem: a construção visual dos indígenas no filme Rio Escondido
Andréa Helena Puydinger De Fazio (UNIMONTES)

Objetivamos, nesta proposta de comunicação, refletir sobre as representações dos


indígenas no filme mexicano Rio Escondido (1947). Com direção de Emílio Fernández e
fotografia de Gabriel Figueroa, Rio Escondido narra a trajetória de Rosaura, professora rural
que atende ao chamado presidencial para levar a educação a um longínquo povoado
indígena. Produzida e lançada no início do mandato presidencial de Miguel Alemán Valdés,
a obra retrata a situação de pobreza e exploração na qual viviam os moradores da cidade,
explorados pelo caciquismo e ambição de Don Regino Sandoval. Na narrativa, levar a
educação e saúde ao povoado faz parte dos projetos prioritários do governo mexicano. O
próprio Miguel Alemán teria composto o elenco, representando a ele mesmo e seus
esforços para a modernização nacional. Em meio a estes empreendimentos e
protagonistas, os indígenas são representados à margem, como coadjuvantes passivos.
Outro aspecto relevante na narrativa é o intenso diálogo com as artes e história mexicanas,
por meio do resgate de heróis e símbolos nacionais, pintura de tela e murais. No tocante à
representação dos indígenas, nos interessa a pintura mural de Diego Rivera, Epopeya del
pueblo mexicano, presente na narrativa, que será alvo de nossas reflexões. Realizaremos o
proposto por meio de abordagens teórico-metodológicas voltadas para a identidade
nacional, em especial a identidade mexicana, e para a análise da linguagem
cinematográfica.

Representações indígenas e afro-brasileiras em A Bandeira do Elefante e da Arara


Lincoln Aguiar Santos (UESB) e Marília Flores Seixas de Oliveira (UESB)

O contato com narrativas, simbologias e representações vinculadas aos grupos étnicos não
hegemônicos (originários e afro-brasileiros), desde que pautados pela ética com a
alteridade, podem ser caminhos para se conhecer, compreender e respeitar suas histórias,
ethos e sociabilidades. O Roleplaying Game (RPG) é um jogo coletivo de interpretação e de
produção de ficção que se ancora em narrativas lúdicas e na oralidade, construídas a partir
de um livro base (com regras e textos para compor cenários). Acionam, na práxis criativa, a
capacidade humana de gerar mundos fantásticos e palpáveis graças à suspensão da
realidade, a partir da imaginação. Aqui, discutimos a questão das representações e
identidades apresentadas no livro de RPG A Bandeira do Elefante e da Arara: Livro de
interpretação de papéis (KASTENSMIDT, 2018), ambientado em contextos históricos do
Brasil colonial. Com personagens como povos originários, colonizadores, guerreiros
africanos e seres encantados do folclore brasileiro, apresenta aspectos da diversidade
cultural e das relações interétnicas. Analisamos tais representações, partindo de
elementos, categorizações e classificações do livro, discutindo ainda o uso deste em
espaços de educação, considerando que interações e experiências decorrentes dos RPGs,
podem apresentar potencialidades pedagógicas, não apenas como prática lúdica que
incentiva a leitura, mas também no que concerne a conteúdos e narrativas dos livros que
lhes dão suporte.

Modernidade e (re)africanização em Vadiação (1954), de Alexandre Robatto


Cyntia Araújo Nogueira (UFRB)

Em Salvador, a afirmação do modernismo nas artes visuais, vinculado a uma perspectiva


de construção de uma identidade nacional e regional, é acompanhada pela formação de
uma cultura cinematográfica que terá impactos também na realização de filmes. Uma parte
importante dessa produção irá dialogar com uma iconografia visual e um repertório de
temas fortemente ancorados nas relações, quase sempre assimétricas, entre modernismo
artístico e culturas afro-atlânticas. Esse momento, nos parece, será atravessado pelas
relações e tensões entre modernidade e (re)africanização, com a luta pelo reconhecimento
de uma matriz cultural afrodescendente e sua diluição em uma cultura mestiça, que ancora
um projeto de nacionalidade excludente. Tendo em vista lugar central ocupado por
Salvador e pelo Recôncavo da Bahia nos trânsitos e trocas transatlânticas resultantes da
diáspora africana, proponho analisar de que maneira o curta-metragem Vadiação (1954),
realizado por Alexandre Robatto Filho, a partir de storyboard de Carybé, com participação
de grandes mestres da capoeira como Waldemar, Bimba, Nagé, Traíra e Curió Velho, entre
outros, incorpora em sua própria forma as relações e as tensões entre modernidade e
(re)africanização, produzindo, a partir do cruzamento entre cinema, corpo e performance,
bem como da agência afrodescendente, rasuras nas representações hegemônicas do
negro no âmbito das relações que serão estabelecidas entre modernismo nas artes,
cinema e culturas de matriz africana.

Mesa
A recepção da crítica de filmes premiados em festivais
brasileiros (2020-2022)
Sala de reuniões do INCTDD | Dia 20/09 às 16h

Os filmes premiados na Mostra Tiradentes (2020-2022): a recepção da crítica


Regina Gomes (UFBA)

A Mostra de Cinema Tiradentes se constitui como um dos maiores festivais de difusão e


reflexão da produção audiovisual brasileira contemporânea. A Mostra “que é a cara do
Brasil”, conforme publicado no site do evento, está na estrada há 26 anos e tem sido um
dos mais celebrados espaços de novos lançamentos do cinema nacional. Sua importância
para as jovens produções do Brasil transita pela legitimação deste cinema recente calcado
na diversidade temática.
Ainda que seja um espaço de confluência entre atividades artísticas, educativas e de
articulação política, os festivais de cinema são parte integrante da lógica do mercado e
têm intenso poder de mobilização da mídia, suscitando ampla cobertura jornalística e a
produção de textos críticos avaliativos acerca das obras, sobretudo as premiadas.
A proposta desta comunicação se fundamenta na análise da recepção da crítica de três
filmes premiados na mostra principal do evento, a Mostra Aurora, no período atravessado
pela pandemia de Covid-19, ou seja, de 2020 a 2022. Baseado nos estudos históricos
contextuais de Janet Staiger (1992), que considera os textos críticos como marcas
recepção dos filmes, examinaremos como ocorreu o processo de recepção da crítica dos
longas Canto dos Ossos (Jorge Polo e Petrus de Bairros, 2020), Acucena (Isaac Donato,
2021) e Sessão bruta (Coletivo As Talavistas, 2022).

O Festival de Brasília através do olhar da crítica especializada: um estudo


de recepção dos filmes premiados (2020-2022)
Rafael Carvalho (UNEB)

O Festival de Brasília de Cinema é o mais antigo evento do gênero no Brasil, dedicado a


apresentar e destacar a produção cinematográfica nacional – surgiu por iniciativa do crítico
de cinema Paulo Emílio Sales Gomes em 1965. Desde então, o festival evidencia a safra
recente de cada ano do cinema nacional, promovendo discussões diversas que colocam
em questão os rumos do cinema brasileiro. Historicamente, os críticos e jornalistas
culturais se fazem presentes tanto às sessões quanto aos debates dos filmes, muitos
destes bastante acalorados, promovendo repercussão em torno daquilo que o festival
mobiliza em termos de debate a partir do cinema. A fim de entender como tais sujeitos
críticos enxergam os caminhos propostos pela curadoria do festival e pelo júri que escolhe
os premiados, queremos propor o estudo do Festival de Brasília a partir da recepção crítica
dos filmes de longa-metragem vencedores na categoria principal nos últimos três anos.
São eles: A invenção do outro (2022), de Bruno Jorge; Saudade do futuro (2021), de Anna
Azevedo; e Por onde anda Makunaíma? (2020), de Rodrigo Séllos. Nossa pesquisa utiliza
como norte teórico-metodológico os estudos de Janet Staiger (1992; 2000) e David
Bordwell (1991), que entendem os textos críticos como vestígios de recepção potentes na
sua dimensão discursiva e interpretativa.

Mesa
Experiências de Educação e Cinema no Brasil, na Argentina e no
Chile
SALA 05 (Pós) | Dia 20/09 às 16h

Educação e Cinema no Brasil e na Argentina: políticas públicas para a educação audiovisual


(1990-2010)
Ana Lúcia de Faria e Azevedo

Este trabalho examina as relações entre educação e cinema no Brasil e na Argentina, no


período de 1990-2010. Fruto de uma pesquisa de doutorado realizada na Faculdade de
Educação da UFMG, o texto explora alguns projetos de educação audiovisual
desenvolvidos em redes públicas de educação dos dois países. Tais projetos são fruto de
políticas implementadas com o propósito de auxiliar no ensino das disciplinas, sensibilizar
os alunos para certos temas de interesse social, discutir elementos próprios à condição
docente, formação de um repertório cinematográfico mais amplo, promover a apropriação
da linguagem audiovisual como forma de expressão, contribuindo para a formação ética,
crítica e estética de docentes e discentes por meio de atividades com cinema. As
discussões apresentadas poderão favorecer a ampliação dos conhecimentos sobre os
processos de integração do cinema aos currículos escolares, considerando o crescimento
e a diversificação dos fóruns em que se discute esse assunto, assim como a disseminação
das práticas educativas relativas à educação e cinema na escola e fora dela.

Grupo Mutum: educação, cinema e docência


Maria Jaqueline Grammont (UFSJ)

O trabalho apresenta e analisa as atividades do grupo de pesquisa e extensão, que desde


sua criação,realizou atividades coordenadas pela professora Inês Teixeira. As atividades de
extensão no campo da formação de professores, se articulavam em torno das relações
entre educação, docência e possibilidades de formação docente e discente por meio do
cinema. As propostas de formação docente visavam desenvolver junto a professores de
escolas públicas de Educação Básica, atividades e reflexões no âmbito da educação e
cinema, que poderiam contribuir para o aprimoramento das práticas pedagógicas dos
professores e das experiências e formação estética e intelectual dos estudantes.
Sobretudo buscava-se aprimorar a formação dos professores desenvolvendo atividades e
experiências de formação continuada que expandissem suas capacidades e sensibilidades
para o exercício junto a crianças, adolescentes, jovens e adultos.

O taller de cine para niños: experiência de educação e cinema no Chile


Verônica Pacheco de Oliveira Azeredo

O trabalho apresenta a pesquisa, realizada entre março de 2017 e maio de 2021, no Chile,
descreve e registra alguns elementos que caracterizaram o “Taller de Cine para Niños”,
criado e desenvolvido por Alicia Vega entre 1985 a 2015, indagando se nele está contida
uma “Pedagogia Alicia” considerando, sobretudo, as concepções e princípios que o
inspiram e as atividades realizadas. Alicia faz parte de uma história de mulheres chilenas,
especialmente, aquelas que trabalham com cinema e educação na América Latina. Durante
30 anos, essa professora de linguagem cinematográfica, pesquisadora e autora de livros,
ensinou cinema para 6378 crianças pobres de periferias do Chile. O desenho metodológico
da pesquisa deu-se por três vias: entrevistas narrativas presenciais realizadas com Alícia
Vega, com monitores e profissionais que participaram dos Talleres; pesquisa documental
em várias fontes, arquivos e acervos de documentação escrita e visual, documentário,
vídeos, acervos fotográficos, relatórios, livros e outros do Chile e do Brasil; observação
direta em Santiago do Chile. Inspirada na metáfora do vagalume, de Didi Huberman (2011),
na ideia de suspender o céu da tradição de povos originários, retomada por Ailton Krenak
(2019) e do trem do cinema que chega, do documentário de Ignácio Agüero (1987).
PROGRAMAÇÃO COCAAL 2023
DIA 21/09, QUINTA, 14H
Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: cidades cinematográficas
SALA 11 | Dia 21/09 às 14h

A cidade que me faz


Ana Rosa Marques Araújo Teixeira (UFRB)

Diante do muro de uma antiga casa abandonada na cidade de Cachoeira, interior da Bahia,
Leandro Rodrigues, aluno do curso de cinema da Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia, nos traz suas recordações familiares no curta Eu, travesti?(2014). Em El árbol (2015),
Roya Eshraghi, aluna da Escuela Internacional de Cine y Televisión, encontra uma árvore no
último andar de um prédio em ruínas em Havana e nela vê a sua própria história. A partir da
análise desses dois filmes, pretendemos pensar como Cachoeira e Havana, dois lugares
tão distantes na geografia, mas próximos em seus passados coloniais, afetam e são
afetados pelas experiências vividas nesses espaços.
O encontro com esses lugares de tantas camadas de significados vai atravessar esses
jovens que, nesse momento, estão numa circunstância de vida permeada por rupturas e
mudanças significativas: a formação profissional em instituições de ensino distantes de
suas origens e familiares. Na relação com a cidade e suas imagens, ativam experiências
que são transformadas em narrativas. Narrar é, portanto, também elaborar a si mesmo.
Ao mesmo tempo, realizar filmes também é construir um lugar porque ao conjugar
percepções, memórias e afetos com as imagens e sons da cidade, o cinema também
interfere nos modos de percebê-la, tanto de quem faz o filme, como de quem o assiste. De
que modo, então, esses estudantes-cineastas estão trazendo, com seus filmes, uma
diversificação dos imaginários sobre esses lugares?

Brasília em chamas: outras imagens da cidade modernista


João Paulo de Freitas Campos (USP)

Brasília chamou a atenção de cineastas desde sua construção nos anos 1950. Podemos
destacar duas vertentes de produção imagética da cidade modernista. Em primeiro lugar,
encontramos imagens que reproduzem o ponto de vista do poder e do progresso num tom
propagandístico da nova capital federal e sua utopia modernista, como é o caso das
imagens de Jean Manzon e Fernando Cony Campos. Perspectivas críticas de Brasília
surgem em documentários do Cinema Novo, gesto que se desdobrou na obra de Vladimir
Carvalho. São filmes que procuram escutar as vozes dos trabalhadores que construíram a
cidade e foram expulsos para o que se tornou a periferia de Brasília, por exemplo Ceilândia.
No século XXI surgiu no Brasil um novo cinema autoral com forte participação de cineastas
de Brasília e Ceilândia. Este trabalho analisa as aparições dos espaços urbanos nos filmes
de duas cineastas que protagonizam esse campo emergente: Dácia Ibiapina e Adirley
Queirós. São obras que mostram a face distópica do Distrito Federal (DF) a partir de um
corpo a corpo expressivo com a história em curso e as cidades que formam o tecido
urbano do DF: Entorno da beleza (2012), Ressurgentes: um filme de ação direta (2014) e
Cadê Edson? (2020), de Dácia Ibiapina; e A cidade é uma só? (2011), Era uma vez Brasília
(2017) e Mato seco em chamas (2022, em co-direção com Joana Pimenta), de Adirley
Queirós. Uma de nossas perguntas: como o centro encontra a periferia nessa filmografia?

Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: moradas
SALA 05 (Pós) | Dia 21/09 às 14h

Luta por moradia, no documentário “George Américo: líder ou bandido?”


André Luiz Bastos de Freitas (UNEB)

Na composição de um documentário o roteiro é tão necessário como na construção de


uma narrativa ficcional, com desenvolvimento e desfecho, com protagonistas e
antagonistas. Em “George Américo: líder ou bandido?” (2008), filme experimental
produzido por estudantes do Curso de Graduação em Comunicação Social, da Unidade de
Ensino Superior de Feira de Santana – UNEF, torna-se um registro audiovisual relevante
quando as imagens gravadas remontam a realidade conflitante de excluídos da sociedade
na luta pela moradia em Feira de Santana, em fins da década de 1980.

Práticas moradoras e novas epistemes no cinema brasileiro contemporâneo


Érico Oliveira de Araújo Lima (CCBJ)

A presente comunicação busca contribuir para um debate que liga cinema e território no
Brasil, segundo um desdobramento específico dessa questão: as relações entre formas
audiovisuais e práticas moradoras. Partiremos de um conjunto de filmes que, nas suas
singularidades, permitem tecer análises comparadas, sobretudo por serem feitos desde um
engajamento (social, histórico e estético) das equipes realizadoras em seus próprios
lugares de morada. A investigação tem o intuito de elaborar conceitos e metodologias junto
à cena atual da produção audiovisual brasileira, com ênfase na tomada de palavra e de
visibilidade por sujeitos historicamente invisibilizados pelos processos de violência
colonial. Faremos um esforço em aproximar conjunturas diferentes de realização, que
envolvem aldeias, quilombos e ocupações urbanas, com aposta no seguinte: o laço
solidário entre as obras permite enfatizar os modos pelos quais a própria formação social
brasileira é indagada por epistemologias moradoras. Na apresentação, colocaremos em
cotejo os seguintes filmes: Ava Yvy Vera – A Terra Do Povo Do Raio (Genito Gomes, Valmir
Gonçalves Cabreira, Jhonn Nara Gomes, Jhonatan Gomes, Edina Ximenez, Dulcídio Gomes,
Sarah Brites, Joilson Brites, 2016); Nove Águas (Gabriel Martins e Quilombo dos Marques,
2019); Nũhũ Yãg Mũ Yõg Hãm: Essa Terra É Nossa! (Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina
Canguçu, Roberto Romero, 2020) e Entre nós talvez estejam multidões (Aiano Bemfica e
Pedro Maia de Brito, 2020).

Fábulas da Árvore: moradas comunitárias de ancestralidade amefricana


Scheilla Franca de Souza (UFRB), Gustavo de Oliveira Brandão (UFRB) e Jorge Cardoso
Filho (UFRB)

Com este trabalho ensejamos desenvolver uma análise entre narrativas, a audiovisual,
Pretos Ganhando Dinheiro Incomoda Demais (Criolo, 2023), ramificada na narrativa
gamificada, Fábula da árvore (www.fabuladaarvore.com), ambas em parceira com jovens
negros do projeto SOMA+. As duas experiências em rede têm a árvore como morada da
ancestralidade amefricana (GONZALEZ, 1988), imaginadas em coletividade. Trazemos uma
análise do fluxo da experiência estética/política/histórica a partir da relação entre formas
narrativas enraizadas e germinadas em uma sociedade em rede, que mobiliza
materialidades desta própria rede. Este gesto colhe frutos ao propor reestabelecimento de
fluxos interrompidos (DEWEY, 2010) da vida/arte/história sob os riscos do extrativismo
colonial, e propõe formas de narrar/habitar o mundo ramificadas em frutos e raízes
ancestrais (MARTINS, 2022). São experiências e performances (CARDOSO FILHO e
GUTMANN, 2019) que se arvoram e atravessam a figura da rede (online) tendo-a como
terra fértil, tanto na conexão hipermidiática e entre narrativas, como na figura da rede
comunitária, que se fazem presentes nos corpos em cena/da cena (BOGADO e SOUZA,
2022) humanos e não-humanos (HARAWAY, 2016).

Sessão
Corpos, gêneros e sexualidades: espaços e práticas no cinema
de mulheres
SALA 6B | Dia 21/09 às 14h

O cinema e outros regimes de visualidades: uma experiência localizada


Yanara Cavalcanti Galvão (UFF)

Esta comunicação, é um recorte do recorte de uma pesquisa em curso, a qual volta-se às


experiências cinematográficas atravessadas por diferentes modos de produção e dirigidas
por mulheres, na dimensão territorial de Pernambuco. Visamos, desse modo, pensar
especificidades geopolíticas de um Estado, situado no Nordeste do Brasil, pela sua
constituição afro-latino-americana. Para tanto, trabalharemos com o curta-metragem
experimental, Thinya (Lia Letícia, 2019), o qual se insere em um corpus mais amplo do
estudo, que tem em comum o recorte de gênero na intersecção com marcadores sociais,
tais como raça, etnia, classe, território. O filme em questão, provoca os modos tradicionais
de narrar, produzir, ver e experimentar o cinema. Refletiremos com Thinya, que não por
acaso é o nome da narradora do filme, uma mulher indígena da etnia Fulni-ô –, as
possibilidades do cinema enquanto um gesto de intervenção estético-política. Portanto,
interessa-nos pensar o agenciamento de outros regimes de visualidades, que desafiam a
lógica universalizante da produção de imagens e sons na modernidade/ colonialidade,
desde os seus processos de realização. Nesse contexto apresentado, aproximamo-nos e
traçamos diálogos mais diretamente com as autoras Lelia Gonzalez (2020), bell hooks
(2019), Marina Tedesco (2019), María Lugones (2014), Donna Haraway (1995).

Mulheres, espaços e ocupação no cinema nacional


Luísa Antonitsch Mansilha Mello

Nesse artigo retomo a pauta trabalhada pelas mulheres nas cidades do Brasil no intuito de
identificar as questões que surgem no cinema nacional, partindo das movimentações de
seus corpos nas ruas e da criação de hashtags, através do compartilhamento de histórias
pelas mulheres que se movimentam e lutam. Diante das dissidências políticas de gênero,
dos feminismos e lutas pelos direitos das mulheres amplificado pelas redes sociais e pelas
ruas do Brasil, analiso no presente artigo o surgimento e as narrativas trazidas nos filmes
Café com Rebu, de Danny Barbosa; Mais que um corpo, de Ana Squilanti e TEKO HAXY –
ser imperfeita, de Sophia Pinheiro e Patrícia Ferreira. Filmes de realizadoras mulheres, que
trazem uma pauta trans, indígena, feminista e que discutem seus corpos diversos e a
ocupação dessas mulheres nos espaços públicos e privados. Tendo como ponto de partida
a participação das diretoras Danny Barbosa, Ana Squilanti e Sophia Pinheiro, no debate
online com mediação minha, dentro do evento A Palavra Líquida 2021, que teve a temática:
“Feminismos: Corpos múltiplos”, do Sesc RJ. A partir daí entender como os corpos
femininos em aliança se colocam em uma luta política para além das ruas, movimentando a
produção de imagens que se concretizam em filmes e funcionam como parte de um
mecanismo de busca pelo espaço da mulher, denúncia e insurgência.

Mulheres ressurgentes - cinema dirigido por mulheres negras


Janaína Santos Oliveira

Esta pesquisa analisa as construções das narrativas do cinema dirigido por mulheres
negras no estado do Rio de Janeiro, representada por estas cineastas entre os anos de
2007 e 2020. Utilizando uma abordagem qualitativa, através dos discursos produzidos
pelas realizadoras que tiveram seus filmes exibidos no Encontro de Cinema Negro Zózimo
Bulbul-Brasil, África, Caribe e outras Diásporas entre os anos de 2007 e 2020, serão
analisados e evidenciados.

Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: análise de caso
SALA 03 | Dia 21/09 às 14h

Uma análise comparada entre testemunhos e arquivos no cinema de Patricio Guzmán


Fabio Monteiro

O cinema de Patricio Guzmán tem, dentre seus dispositivos narrativos fundamentais, o uso
de entrevistas tendo em vista a coleta de testemunhos sobre eventos significativos da
história recente do Chile. O golpe de 11/09, a institucionalização da violência pinochetista,
o avanço do neoliberalismo, seus impactos no sistema educacional e os desdobramentos
do “estalido” de 2019 formam uma espécie de linha de continuidade em sua cinematografia
que denunciam a permanência do estado de exceção que estrutura a democracia liberal
chilena desde os anos setenta. A presente comunicação pretende fazer um balanço de
quem são as pessoas transformadas em personagens ao longo das chamadas “três
trilogias” de Guzmán, como são estruturadas as abordagens das entrevistas, que
recorrências e diferenças podem ser identificadas desde o registro fílmico dos 1970 à
década de 2020 e, por fim, o que os seus testemunhos revelam e ocultam quando
comparados com os discursos oficializados em documentos institucionais e outras fontes
midiáticas. A comunicação, portanto, apresenta um recorte da tese de doutorado
defendida na PUC/SP intitulada “O cinema de Patricio Guzmán: história e memória entre as
imagens políticas e a poética das imagens”, pioneira ao oferecer uma análise fílmica,
histórica e filosófica do conjunto da obra deste chileno.

Memórias africanas de um haitiano em “Lumumba, a morte de um profeta” (1991)


Morgana Gama de Lima (UFBA)

“Lumumba, a morte do profeta” (1991) é o primeiro documentário realizado por Raoul Peck,
realizador natural do Haiti, mais conhecido por “Eu não sou seu negro” (2016). Embora o
título da obra seja uma referência direta à Patrice Lumumba (1925-1961) – líder que lutou
contra a dominação belga no Congo e que foi assassinado em um golpe de Estado, poucas
semanas após assumir o cargo de primeiro-ministro – a narrativa do documentário,
conduzida pela voz do próprio diretor, vai além da mera exposição de evidências do
passado histórico relacionado ao líder africano. Juntamente com os registros fotográficos e
a apresentação de entrevistas com jornalistas europeus que cobriram os acontecimentos
políticos, Peck insere arquivos pessoais que remetem à sua infância naquele país africano e
mostra como a trajetória de sua própria família, do Haiti, se cruza com a história do
“profeta”. Entre imagens cotidianas do presente, na Bélgica, e arquivos históricos do
passado, no Congo; a narrativa é um misto de biografia e autobiografia que parece
questionar as próprias convenções documentário na medida em que realiza uma
reconstituição histórica por meio de recursos tão subjetivos quanto o uso da voz-over e a
partilha de memórias da vida pessoal do diretor. Na busca por estabelecer conexões entre
essas diferentes camadas de história, a presente comunicação propõe uma análise sobre o
uso da voz-over e a sua compreensão enquanto recurso retórico na narrativa documental.

Sarah Maldoror, recepção no Brasil


Leticia Santinon (UFRB)

O cinema de Sarah Maldoror surge em um contexto de lutas pela independência dos países
africanos, demonstrando o engajamento da diretora por meio da expressão audiovisual e
da utilização de sua arte como uma ferramenta de combate ao colonialismo e à opressão.
Em seus três primeiros filmes, Sarah destaca o papel das mulheres nas lutas anticoloniais e
revolucionárias. Esta pesquisa concentra-se em dois deles, "Monangambé" (1969) e
"Sambizanga" (1972), que abordam a luta pela independência de Angola (1961-1974). O
caráter pioneiro de Sarah Maldoror se manifesta não apenas por ser a primeira cineasta
negra a filmar no continente africano, mas também por ser a primeira a retratar, na ficção,
a luta pela libertação de um país africano do domínio colonial português. Mahomed Bamba
(1966-2015), pesquisador dedicado aos cinemas africanos, às análises cinematográficas e
aos estudos de recepção, enfatiza a importância de compreender as particularidades dos
cinemas africanos, que não podem ser analisados com as mesmas lentes dos cinemas
hegemônicos. É fundamental considerar o contexto histórico, político e social em que
esses filmes foram produzidos, bem como suas próprias referências culturais e estéticas.
Adotamos a perspectiva que através de uma análise cuidadosa dos filmes de Sarah
Maldoror é possível desvendar as estruturas internas do conteúdo cinematográfico e obter
uma compreensão das influências que moldam a interpretação e seu impacto na recepção
de seus filmes no Brasil.

Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: traumas e cinzas da
história
SALA 04 | Dia 21/09 às 14h

Imagens do futuro-passado: Vestígios do tempo em Cinzas Digitais


Arthur Ribeiro Frazão (UFRJ)

Em 2021 o incêndio da Cinemateca Brasileira transformou rolos de filmes e diversos


documentos em vestígios materiais de outra natureza. O trágico evento serviu como
motivo para Bruno Christofoletti Barrenhas realizar Cinzas Digitais (2022). O curta é
montado com fotografias, frames, áudios e vídeos apropriados de filmes e acervos
encontrados na internet. O acúmulo de imagens de incêndios em diversos acervos
cinematográficos - que não são identificados no filme - e a repetição destes eventos na
história da própria Cinemateca revelam as ruínas de um projeto de modernidade
fracassado. Cinzas Digitais incorpora planos de filmes que foram dados como perdidos
como Revezes (1927) de Chagas Ribeiros ou Imagens (1973) de Luiz Rosemberg Filho,
recuperado integralmente no caso deste ou apenas em fragmentos no caso daquele. Na
montagem lacunar do curta, os filmes perdidos piscam como um alerta de incêndio. Nos
incêndios da Cinemateca, queimam todos os outros arquivos e filmes desaparecidos. São
imagens que relampejam a história de repetidos abandonos e destruições de acervos e
arquivos da arte brasileira. Nesta comunicação, propomos seguir o caminho de algumas
destas imagens para pensar sobre a repetição de incêndios, seus rastros e as imagens
sobreviventes como uma outra possibilidade de entendimento do tempo. Uma filosofia do
tempo organizada pela operação de montagem de vestígios (Horne, 2021) que reelabora e
modifica o passado, apresentando uma imagem do futuro como passado.

Cinzas de Makunaima: derivas em torno de um paradigma anarquívico


Marcelo Rodrigues Souza Ribeiro (UFBA)

Referindo-me a trabalhos em que Denilson Baniwa e Jaider Esbell retomam a imagem de


Makunaimî/Macunaíma, procuro situá-los no que denomino paradigma anarquívico, que se
configura em abordagens críticas do arquivo colonial-moderno, perturbando sua ordem,
questionando seus sentidos sedimentados e desintegrando suas formas, para tornar
possível o reconhecimento, a imaginação e a fabulação de histórias silenciadas, rasuradas
ou excluídas da possibilidade de arquivamento. Diferenciando-o do que Carlo Ginzburg
denomina paradigma indiciário, como “uma constelação de disciplinas centrada na
decifração de signos de vários tipos, dos sintomas às escritas”, argumento que no
paradigma anarquívico está em jogo uma nebulosa de saberes indisciplinares, que
assumem os riscos de interrogar rastros que restam como cinzas – no que Édouard
Glissant denomina “visão profética do passado” ou Saidiya Hartman chama de “fabulação
crítica”. Por meio de uma anarqueologia do sensível, considero alguns dos modos como as
experiências de reantropofagia ou antropofagia reversa, que estão em jogo em
mobilizações anarquívicas de Makunaimî/Macunaíma, retomam a herança do modernismo
em parte de seus gestos e processos poéticos, ao mesmo tempo em que são atravessadas
por – e se abrem para – potências cosmopoéticas que perturbam aquela herança e
insinuam outros sentidos de mundo comum.

Extermínio indígena como evidência do trauma no documentário brasileiro


Gustavo Souza da Silva
Esta comunicação pretende debater como o documentário brasileiro recente retrata
acontecimentos traumáticos que se desenrolam na história do país. Para isso, partiremos
dos documentários que abordam o extermínio dos povos indígenas e de suas tradições:
Ex-pajé (Luiz Bolognesi, 2018) e Martírio (Vincent Carelli, 2016). O impacto das religiões
cristãs em aldeias indígenas é o tema de Ex-pajé. A posse de terras é o ponto central em
Martírio e, para tratar dessa questão, o filme se concentra nos povos Guarani-Kaiowá. A
concentração em documentários sobre comunidades indígenas se dá porque sobre esse
grupo recai o ônus de processos históricos desumanos e traumáticos. Em meio à
diversidade de abordagens teóricas sobre o trauma, partiremos das pistas fornecidas pelo
corpus para encontrar uma perspectiva teórica a ele correlata. A que se anuncia mais
prontamente é a de cultural trauma (Alexander, 2012; Smelser, 2004), que concebe o
trauma como uma atribuição mediada e circunscrita socialmente. Essa dimensão social do
trauma é útil para testarmos a seguinte hipótese: esses documentários são concebidos a
partir de materiais imagético-sonoros em que ausência (de direitos, de humanidade, da
vida) e resistência (uma luta contínua por revisões do passado e por demandas de
reparação no presente) se articulam de forma dialética para sublinhar a dimensão política
da vida, assim como o dever da política de preservá-la.

Sessão
Linguagem: reconfigurações e experimentações no cinema
brasileiro
SALA 7B | Dia 21/09 às 14h

Bacurau: ressignificando a estética da fome


Jacqueline Gama de Jesus (UFBA)

Em 1965, Glauber Rocha publicou o manifesto Uma Estética da fome, no qual expunha a
fome latino-americana em seu sentido literal e literário. No âmbito nacional brasileiro essas
mazelas atingiram o corpo político e estético, além do corpo físico dos cidadãos. Em 2019,
mais de 50 anos após a publicação do manifesto glauberiano, Bacurau, de Kleber
Mendonça Filho e Juliano Dornelles, retomou em tela a temática da miséria nordestina, mas
de forma a subverter a exotização e romantização estrangeira. Na narrativa, uma pequena
cidade fictícia de Pernambuco, Bacurau, sofre por falta de água e recursos em meio a um
momento de crise política e social, quando é ameaçada por “Bandoleiro Shocks”, grupo de
extermínio estadunidense que pretende aniquilar os habitantes, entretanto, os
“bacurauenses” se insurgem contra esse grupo para garantir a sobrevivência. A partir
desse fato, serão analisadas cenas do filme dialogando com a teoria de Aquilombamento,
de Lelia Gonzalez, reflexões sobre as questões do Bem-Viver, de Ailton Krenak e a teoria
acerca do Global/Local, de Walter Mignolo, objetivando tecer reflexões sobre o decolonial e
outras ideias de imaginar a Nação. Nessa mirada, também será feita a comparação dos
dois contextos históricos ― de Kleber Mendonça Filho e de Glauber Rocha, além da
releitura para o contemporâneo do manifesto do cineasta cinema novista.

A dramaturgia Namíbia, não! no trajeto do cinema


Macivaldo Silva Santos (UESB) e Milene de Cássia Silveira Gusmão (UFBA)

Este trabalho é resultado de algumas discussões, realizadas na pesquisa de mestrado,


sobre o trajeto artístico engajado de Aldri Anunciação, refletido em suas obras
dramatúrgicas, destacando a presença da abordagem distópica em sua peça teatral
Namíbia, não!. Consideramos que o referido dramaturgo, ao tomar a realidade brasileira
como fonte para sua criação fictícia, faz com que essa realidade não apenas se reproduza
de outro modo, mas investe seu potencial reflexivo e artístico para que seja recriada num
campo artístico específico. Dado isso, a pesquisa trata da peça teatral, Namíbia, não!, e da
sua adaptação para o filme, Medida Provisória. Evidencia o uso do intertexto por Aldri
Anunciação na dramaturgia, que articulou linguagens e estéticas capazes de tornar seu
texto dramatúrgico rico em poética e atravessado por referências da linguagem
cinematográfica e audiovisual. Aferiu-se que o modo de composição dramatúrgica do autor
alcança diversas linguagens e públicos, fator observado por Lázaro Ramos, que também
dirigiu a versão cinematográfica da peça teatral, realizada em 2020 e lançada no Brasil em
abril de 2022, fator que potencializou a dramaturgia fazendo com que ampliasse sua força
mobilizadora.

As margens da distopia: a ficção fraturada em Tremor Iê e Mato seco em chamas


Arthur Fernandes Andrade Lins (UFPB)

Se a distopia é um lugar ruim, o pior cenário imaginado, como seriam as suas margens, as
suas periferias? Ao invés do hiper controle e vigilância, haveria lugar para as falhas
criativas, os curtos-circuitos inventivos e o pendor de liberdade que viria dessa condição
marginal, periférica? Haveria resistência ou resignação? Calma ou tremor? Seriam os vivos
ou os mortos os mais aptos a reivindicar qualquer possibilidade de Justiça?
Em diálogo com estas reflexões, propomos uma abordagem aos filmes Tremor Iê (2019), de
Lívia de Paula e Elena Meirelles e Mato Seco em Chamas (2022), de Joana Pimenta e
Adirlei Queiróz, na busca por ampliar uma zona crítica onde as questões inerentes ao
gênero de ficção científica em sua condição periférica possam apontar para o seu
potencial político e revelar o gesto inventivo e provocador em suas camadas
estético/narrativas.
Vinculamos então os filmes à três perspectivas: 1) Ficção Visionária, termo cunhado pela
educadora e poeta norte-americana Walidah Imarisha; 2) Ficção Científica na relação com
o Cinema de Invenção, buscando um diálogo histórico com os filmes brasileiros dos anos
60/70 (Jairo Ferreira); e 3) Perspectiva anti-distópica do gênero (Frederic Jameson;
Jessica Langer).
A partir desta posição, os filmes agem como espaço possível de transgressão e o gênero
se torna um laboratório de experimentação de ideias capaz de influenciar a prática das
lutas sociais e apontar para a descolonização dos imaginários acerca da vivência
periférica.

Sessão
Perspectivas teóricas e metodológicas: estudos de recepção
SALA 6A | Dia 21/09 às 14h

“Não dei o gostinho àquela gente”, Também somos irmãos e a recepção crítica
Raisha Conceição Silva (UFMT) e Leonardo Gomes Esteves (UFMT)

O filme Também somos irmãos (1949), dirigido por José Carlos Burle para a Atlântida, é
possivelmente o primeiro longa-metragem brasileiro a tornar pública a denúncia sobre o
racismo (MELO, 2022), com "surpreendente coragem para a época” (RODRIGUES, 2011, p.
107). No enredo, os irmãos negros Miro (Grande Otelo) e Renato (Aguinaldo Camargo)
foram criados por uma família branca. Com o modo de criação sendo baseado na cor da
pele, as diferenças de tratamento e a revolta de Miro com elas, mesmo depois de adulto,
embasam o debate racial que orientará o filme. No fim dos anos 40, a crítica do Rio de
Janeiro faz apontamentos sobre a produção, descrita por jornais como o Careta (1949)
como um filme que obriga o público à raciocinar e prende a atenção desde a primeira cena;
enquanto também recebe críticas negativas que citam, dentre outros possíveis problemas,
o filme ser mais do mesmo em um contexto nacional, como ocorrido em Diário de notícias
(1949); outras críticas, mais equilibradas, como a do Jornal do Brasil (1949), considerando
à parte as questões de infraestrutura de produção, afirmam que o filme foi um passo
seguro dentro de sua consolidação no cinema nacional. Essa comunicação visa fazer uma
análise das críticas de Também somos irmãos a partir de cinco periódicos: Careta, Diário
de notícias, Gazeta de notícias, Jornal do Brasil e Scena Muda, tomando como base a
discussão racial e a forma como ela foi referenciada por essas análises.

A estreia da Brasil Vita Filmes no circuito comercial do Rio de Janeiro


Lívia Maria Gonçalves Cabrera (UFF)

A Brasil Vita Filme, empresa idealizada e dirigida por Carmen Santos, fundada em 1934,
estreou nos circuitos brasileiros com dois filmes de ficção, dois musicais: Favela dos meus
amores, em 1935, e Cidade Mulher, em 1936, ambos dirigidos por Humberto Mauro. A
proposta de comunicação irá traçar o circuito em que os filmes foram lançados no Rio de
Janeiro e percorreram nas semanas que sucederam o lançamento, refletindo sobre seus
sucessos e fracassos ao levantar vestígios das recepções de ambas produções na
imprensa. As duas obras escolhidas para esta comunicação podem ser consideradas
“irmãs”, pois tentaram repetir uma fórmula de produção parecida, no entanto, tiveram
trajetórias distintas. Também buscaremos analisar o trabalho de Carmen na circulação dos
filmes e os conflitos desses lançamentos com a Distribuidora de Filmes do Brasil, órgão
criado por intermédio da Associação Cinematográfica de Produtores Brasileiros, uma das
primeiras entidades da classe cinematográfica surgida nos anos 1930.
A empresa de Carmen é considerada uma das primeiras iniciativas brasileiras de
construção de um estúdio de cinema seguindo o padrão hollywoodiano de industrialização
da atividade cinematográfica. Carmen, assim como outros empresários, estava otimista
com o momento político e econômico promovido pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas
e enxergou o momento como uma oportunidade de colocar em prática suas ideias sobre o
tipo e a maneira como os filmes deveriam ser feitos no Brasil.

Recepción en Chile a la Muestra de Cine Brasileño, 1978. Imaginarios y censura


Jorge Iturriaga Echeverría (Universidad de Chile)

En marzo de 1978 la Embajada de Brasil en Chile organizó una muestra de cine brasileño en
dos importantes salas de Santiago. El país vivía los años más duros de la dictadura militar:
el Estado de sitio regía desde 1973, con períodos de toque de queda. El evento generó alta
expectativa en prensa y entre el público cinéfilo, en parte porque las cintas brasileñas no
eran frecuentes en la cartelera local. La muestra estaba compuesta por diez largometrajes
muy diversos entre sí: Dona Flor e Seus Dois Maridos; Xica Da Silva; Vai trabalhar,
vagabundo; Tenda dos milagros; Ajuricaba; Guerra conjugal; Marília e Marina; Barra Pesada;
Ladroes de cinema y O Crime do Zé Bigorna. El impacto de la muestra fue considerable:
Dona Flor… llegaría a ser la película más vista de 1979 (primera película latinoamericana en
lograrlo); en cambio, Barra Pesada fue prohibida por la censura oficial. El presente trabajo
busca analizar la recepción que generó la muestra en la prensa masiva chilena. En general
hubo un elogio unánime a la calidad artística de la muestra y a la idea de nacionalismo
cultural que la encuadraba, incluso con cierta admiración por las temáticas libertarias
narradas. Sin embargo es claro cómo gran parte de las reseñas se articulaban en torno a la
clave civilización/barbarie, asignándole invariablemente a la cinematografía y a la sociedad
brasileñas etiquetas como “exuberancia”, “sensualidad”, “vitalismo”, “barroco”, “folklore” o
“pintoresco”.

Sessão
Representações, contra-representações e representatividade:
cinema negro brasileiro
SALA 09 | Dia 21/09 às 14h

Cinema Afirmativo Brasileiro: uma reflexão sobre Marte 1 e Medida Provisória


Alexandre Silva Guerreiro (UERJ)

O cinema e a arte promovem experiências estéticas que se abrem a possibilidades de


sensibilizações e de transformação social. Quando pensamos no enfrentamento das
desigualdades sociais, as ações afirmativas são uma ferramenta de valorização de grupos
historicamente discriminados. É nesse sentido que aproximamos o cinema de uma
dimensão afirmativa na medida em que representar determinados grupos dentro de uma
perspectiva de engajamento com os direitos humanos pressupõe respeitar esses grupos
dando a eles um tratamento audiovisual afirmativo. Assim, representação e
representatividade são fundamentais para estabelecer um encontro entre cinema e direitos
humanos. O cinema e o audiovisual reproduzem formas de dominação, mas também de
valorização das diferenças, como possibilidade de conscientização e como experiência
libertadora. Os filmes Marte 1, de Gabriel Martins, e Medida Provisória, de Lázaro Ramos,
são produções recentes do cinema brasileiro que estabelecem uma relação direta com a
afirmação das diferenças e com a representatividade, tão importante na luta pela
efetivação dos direitos humanos. É a partir desta relação que propomos uma discussão
sobre os caminhos traçados por cada uma dessas obras, desde o enfrentamento de um
cenário conservador, que marca o primeiro, até a distopia imaginada do segundo,
mantendo, em ambos os casos, uma perspectiva afirmativa.

Retina Negra: Observações sobre a formação do espectador negro


Evelyn dos Santos Sacramento (UFBA)

O cinema brasileiro tem revelado importantes experiências de realizadores negros e


negras, que nos últimos anos tem crescido em visibilidade e quantidade, um espaço que se
abre em mostras e festivais, e amplia-se nas salas de cinema. Nesse sentido, busca-se
compreender, a partir da dimensão do campo audiovisual brasileiro, uma produção artística
que se configura como Cinema Negro, filmes onde negros e negras são protagonistas e
autores das narrativas. Partindo da análise dos longas-metragens Café com Canela (Ari
Rosa e Glenda Nicácio, Brasil, 2017) e Marte Um (Gabriel Martins, Brasil, 2022),
observando os contextos de lançamento destas obras, que foram acompanhados de
grande movimentação por parte dos espectadores e artistas para ocupar as salas de
cinema, demonstrando um apoio não só aquelas obras, como também ao cinema nacional.
Essas manifestações foram realizadas principalmente por parte da comunidade negra,
destacando a importância em se verem representados nas telas de cinema, o contexto
simbólico que esses filmes reproduzem na sociedade, evidenciando uma tentativa de
diminuição das desigualdades raciais através do cinema. Deste modo, a presente proposta
de apresentação formula observações acerca da importância simbólica do cinema negro
no imaginário da população negra que consome bens artísticos e culturais e questionam
sobre essa presença/ausência, num interesse em se reconhecer nas imagens que
consomem e como isso dialoga com a identidade nacional.
Representações das Dissidências de Gênero e Sexualidade em Negrum3 (2018)
Thaís Vieira Costa (UFBA)

A proposta do presente trabalho é analisar como são construídas as representações de


gênero e sexualidade no documentário – ensaio Negrum3 (2018) de Diego Paulino.
Levando em consideração que as representações são fenômenos construídos social e
culturalmente, segundo o autor Stuart Hall, percebe-se como filme traz as ideias de
desconstrução e existência de corpos negros dissidentes de gênero e sexualidade. Pensar
em como as performances dos atores sociais são construídas a partir de suas realidades e
principalmente da territorialidade cuir preta. Esta proposta visa compreender como as
representações se relacionam com o contexto social, cultural e política das dissidências
apresentadas e mais, como o curta torna-se um manifesto de questionamento da
normatividade, com concepções acerca de identidades, ancestralidades e juventude.
Tem-se como embasamento teórico os autores Stuart Hall, Guacira Louro, Leandro Colling
e Dieison Marconi.

Mesa
Bordas, margens, periferias: trânsitos pelos nossos muitos
outros centros
AUDITÓRIO | Dia 21/09 às 14h

No miúdo e “bajo radar”: periferias e pedagogia de vagalumes


Carlos Bonfim (UFBA)

No miúdo, nas brechas, nas frestas do mundo-uno praticam-se há tempos modos outros
de viver, fazer, sentipensar os rumos de nossas existências: dribles, gingas, artimanhas
sudacas, aquilombamentos são algumas das táticas de re-existência praticadas pelos
abajos destas nossas latitudes. No miúdo, nas brechas, nas frestas do mundo-uno
ensaiam-se, praticam-se há tempos insurgências diversas: éticas, estéticas,
onto-epistemológicas. E, para além de resistências, de insurgências, o que há sobretudo
são ofensivas culturais emancipadoras - que dão forma a pedagogias outras, tecidas nas
tramas do cotidiano, ao rés do chão, contracolonizando-se e aprendendo a ler pra ensinar
os camaradas. Que táticas, que astúcias, que contrabandos vêm praticando artivistas
negras/os, indígenas, LGBTTQIAP+ que há bem pouco tempo eram não apenas
invisibilizados/as, mas sobretudo produzidos/as a partir de uma visibilidade negativa,
nutrida pelo racismo, pela misoginia e pela homolesbotransfobia? Trago neste trabalho
notícias sobre o que vem se tecendo nestes tantos outros centros que são nossas
periferias. A partir de um mapeamento de iniciativas juvenis em arte e comunicação nas
periferias, vislumbro movimentos que vêm ganhando contornos de pedagogias (de
vagalumes, proponho, inspirado em Pasolini, Didi Huberman e Emicida).

Os olhares e as escutas para o/do/no Cinema de Periferia


Marise Urbano (UFBA)

O cinema tem sido um lugar cada vez mais apropriado por narrativas onde prevalece a
representação das identidades, seja pela construção narrativa, pelos corpos, pela
fotografia, pelo som e pelo território. Em festivais, mostras, cineclubes e em outros
espaços, percebo um aumento no número de produções desenvolvidas a partir do olhar e
da escuta de realizadores periféricos, o que aciona o uso do termo “Cinema de Periferia”. O
Cinema de Periferia pode ser compreendido como um fenômeno do reflexo do acesso às
tecnologias digitais, da participação em oficinas e cursos de cinema e audiovisual acessível
à população periférica; além de discussões políticas em torno do território e revisão dos
termos periferia e favela. Nesse sentido, o território atua como personagem desse tipo de
cinema, em que a narrativa apresenta uma tentativa de ocupação do espaço periférico com
projeção de si para o mundo. Esta ocupação tem ocorrido tanto pela realização, em suas
diversas áreas, quanto pela difusão e distribuição. São múltiplos os olhares e escutas.
Apresento neste trabalho algumas destas produções e algumas das janelas de exibições,
como mostras, festivais e cineclubes periféricos, que reforçam a imagem e a sonoridade do
território como marcadores no Cinema de Periferia.

hecho por elas


Silvana Rezende (UFBA)

A América Latina são várias. Um espaço geográfico vasto, “uma acumulação desigual do
tempo” como aponta Milton Santos, um espaço cultural diverso e plural como defende Lélia
Gonzalez, e “composto por certos ritos históricos”, segundo Manuel Garretón. Nesta
direção, as poéticas apresentadas por artistas que fazem filmes, não apresentam outros
caminhos que não os da liberdade na exposição de realidades e subjetividades, que
aglutinam essas tantas espacialidades. Os filmes, muitos feitos por mulheres originárias de
seus espaços, se apresentam em forma de relato pessoal, outros são resultados de
pesquisas desenvolvidas e devidamente fundamentadas historicamente, e ainda, alguns
são realizações de mulheres estrangeiras que fabulam e re-inventam esses espaços a
partir de suas experiências. Ao certo, os filmes se apresentam diversos e plurais, tanto em
suas narrativas poéticas quanto em suas formas, exposição e rigor técnico-tecnológico.
O trabalho busca um encontro com as poéticas contidas nos filmes “Fecho de Pasto de
Vereda da Felicidade” de Amanda Alves, 7’49, (Brasil, 2021) e “Terminal norte” de Lucrecia
Martel, 37’, (Argentina, 2021). Em diálogo, os dois filmes nos ajudam a realizar e a fabular,
ao mesmo tempo, esses espaços que nos cercam e nos habitam e também por onde
caminhamos, ‘caminhos de pensamento e pensamentos de caminho’.
PROGRAMAÇÃO COCAAL 2023
DIA 21/09, QUINTA, 16H
Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: escrevivências
Sala 05 (Pós) | Dia 21/09 às 16h

Vou passar perfume antes da foto: álbum de família e a autoestima feminina negra
Tamara Lopes de Sousa (UFC)

A fotografia analógica e os álbuns de família fazem parte da infância de pessoas que


nasceram até a metade da década de 1990 no Brasil. Entretanto, o acesso à produção
dessas imagens era mais difícil para famílias da periferia, como a minha, uma vez que
existiam os custos com o equipamento fotográfico, a aquisição dos filmes e a revelação
das fotografias. Existiam, portanto, critérios na hora de levar a câmera a algum lugar e
fazer os registros. Na minha família, por exemplo, a maioria das imagens dos álbuns eram
feitas em junho, mês do meu aniversário. O momento de fotografar era um verdadeiro
evento que reunia toda a família e existia toda uma preparação para ser eternizada em
imagem. Uma tia-avó, por exemplo, sempre passava perfume antes dos registros, apesar
do equipamento não ser capaz de registrar aromas. Neste trabalho, através do conceito de
escrevivência de Conceição Evaristo, me proponho a analisar imagens de álbuns da minha
família, percebendo as roupas, os cortes de cabelo e os adereços das mulheres negras que
compõe esse meu universo tão particular e ao mesmo tempo tão amplo. Relaciono essas
impressões visuais com o pensamento de autoras negras como bell hooks, Giovana Xavier,
Neusa Santos Souza, Beatriz Nascimento e Lélia González.

Fluxo neuromuscular
Kennyo Severa (UFRN)

Este trabalho investiga a possibilidade de utilizar a única materialidade que o processo


violento epistemicogenocida de colonização não consegue arrancar dos povos
inferiorizados (originários e negros em diáspora), ao radicalizar o corpo para dimensões
deslocadas do que as filosofias e as ciências coloniais anunciam que é uma configuração
corpórea. Fluxo neuromuscular surgiu preocupado em abandonar tecnologias narrativas
modernas que aprisionam as indeterminadas e múltiplas expressões. Essa pesquisa
emergiu para incorporar heranças anticoloniais nas conjurações de fazeres performáticos.
Por desejar efetuar um contato com a dimensão da alma, como percebe-se, também, nas
propostas conceituais “escrevivências” da intelectual Conceição Evaristo e na “escrita de
si” do filósofo Michel Foucault; “transtornou-se” algumas tecnologias, como convida fazer a
pensadora Leda Maria Martins. O Fluxo neuromuscular pretende servir como método
possível e impossível para informar materialidades performáticas ao cruzar linguagens
consolidadas com outras inúmeras técnicas, manifestações artísticas e irrupções
afro-diaspóricas que constrangem a concepção material e corporal colonizadora.

Cinema é travessia: escrevivências de mulheres negras no curta metragem


Quézia Maria Lopes Gomes da Silva Ribeiro (UFF)

No esforço de decolonizar a prática da pesquisa acadêmica a partir do lugar que exerço


como pesquisadora, traço um percurso de escrevivência cinematográfica e acadêmica, no
qual dialogarei com as obras e suas realizadoras a partir de uma perspectiva
autoetnográfica, inserindo na pesquisa acadêmica as “narrativas de si”, em primeira
pessoa. Para analisar a construção de subjetividades de mulheres negras a partir de suas
escrevivências em primeira pessoa, mergulho no oceano curta-metragista, onde
encontramos mais realizadoras negras. Debruço-me, principalmente, sobre as narrativas
documentais, numa abordagem interseccional, que leva em consideração raça, gênero,
sexualidade, a partir de obras de três realizadoras negras contemporâneas, entre elas:
Travessia (2017), de Safira Moreira; NoirBlue – Deslocamentos de uma dança (2018), de
Ana Pi; (Outros) Fundamentos (2019) e Pontes sobre Abismos (2018), ambas de Aline
Motta. Como fundamentação teórica para discutir identidade, mobilizarei os conceitos de
amefricanidade, de Lélia Gonzalez, e o de identidade atlântica (em travessia), de Beatriz
Nascimento. Além dos textos das autoras, interessa articular também as leituras possíveis
do texto fílmico com o documentário Ôrí (1989), roteirizado por Beatriz Nascimento e
dirigido por Raquel Gerber. Pensando o conflito entre corpo colonial, trauma e corpo
decolonial, o “ser-se negra numa sociedade branca”, mobilizo conceitos de Frantz Fanon,
Grada Kilomba, Neusa Santos Souza, entre outros.

Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: territórios em reinvenção
Sala 11 | Dia 21/09 às 14h

Produção de singularidades com os territórios nos cinemas afro-ameríndios


Gustavo da Rocha Jardim (UFMG)

A comunicação propõe discutir a captura e produção de singularidades com os territórios


no audiovisual como um meio para o desenvolvimento de pedagogias críticas com filmes e
práticas cinematográficas nas escolas e fora delas. Por meio de mecanismos que operam
com a alteração das sensibilidades e dos sentidos do mundo, algumas obras dos cinemas
latinos e afro-ameríndios nos aproximam desses mecanismos de resistência. Através de
uma análise pragmática, examinaremos a criação de percursos formativos aliados a uma
cartografia de acontecimentos na linguagem fílmica, envolvendo o tempo presente e os
espaços vividos na criação de proposições que desestabilizam o tempo linear. Queremos
explorar como os percursos de experimentação a partir desses procedimentos podem
colaborar com o desenvolvimento de temas geradores, curadorias e investigações que
coloquem as questões e contradições específicas de cada contexto como elementos de
mediação em processos de crítica e realização audiovisual com estudantes. Defendemos
que a linguagem cinematográfica pode ser tomada como um plano de resistência e
invenção baseado em reciprocidades dissonantes, conectando os territórios (corpos,
saúde e sagrado) à produção de singularidades, capazes de tensionar os tempos
dominantes nas esferas da vida e do cinema, fomentando confluências, co-presenças e
uma emancipação relacional nas relações de ensino-aprendizagem.

Banzo e Celebração na experiência audiovisual afro-diaspórica contemporânea


Vilma Carla Martins Silva

O título descreve este estudo em andamento, que se refere a projeto de curadoria de


artistas negros contemporâneos (atuais) da diáspora que trabalham com questões como:
banzo, luto, melancolia, depressão e/ou sobre rituais de celebração e festividades que
vieram da África, principalmente Candomblé e Santeria, e perderam sua finalidade, ou
sobrevivem dentro do processo de sincretismo. Esta gama ou espectro de obras são
pensadas na perspectiva da “imaginação radical”, ou seja, artes não industriais, contrárias
ao modelo de mercado, marcadamente críticas e políticas. O presente trabalho parte de
um lugar pessoal, do eu, autora, programadora, crítica e cineasta negra brasileira, e se
expande para um processo coletivo e intercontinental buscando apresentar e ao mesmo
tempo criar e experimentar esses vídeos, filmes, poemas e canções.

Cosmopoéticas caboclas como práticas de desvio pela imagem


Tenille Queiroz Bezerra

Afirmação da relação contínua entre os seres, ecologia dos sentidos, potência de


reinvenção e multiplicação da vida, a "cosmopoética cabocla" consiste na articulação de
modos de existência que fazem frente ao cosmocídio implementado pelo projeto colonial
cujos efeitos e práticas de aniquilamento persistem nos dias de hoje. Engendrada a partir
do cruzamento de cosmovisões ameríndias e bantus, e em relação constante com a
cosmovisão européia, ela faz convergir práticas e sabedorias milenares que atuam no
trânsito de forças vitais sendo também manifestação das astúcias necessárias para a
manutenção de tais valores no ambiente cruzado da relação. Convocando as potências
poéticas próprias ao universo sincrético dos caboclos adentramos o campo da imagem
para pensar de que modo as relações tecidas nesse campo convergem para o
delineamento de outros modos de conhecer e agir sobre o mundo. Nem dentro nem fora
do mundo, na intersecção entre percepção e gesto, as imagens modulam estados
intensivos que foram desconsiderados pelo campo epistemológico do Ocidente. Pela
ambiguidade própria ao universo dos caboclos, por situar-se em relação à história de modo
transversal esquivando-se do projeto de morte do colonialismo e sobretudo por fazer
emergir um mundo pleno de vida onde avistávamos campo devastado, a cosmopoética
cabocla nos convida a pensar de que forma a imagem pode atuar como prática de desvio
ao logos hegemônico racional imposto ao imaginar do mundo.

Sessão
Corpos, gêneros e sexualidades: significações da mulher
Sala 6B | Dia 21/09 às 16h

Mulher Protótipo e a Estética da Fome


Andrea Rosas de Almeida (UFSCar)

A mulher protótipo do cinema novo é concebida por Glauber Rocha no manifesto estética
da fome, que situa a sociedade latina face à centralidade do cinema industrial, perspectiva
também presente em seu filme Deus e o diabo na terra do sol. Quando Glauber Rocha
assume a potência social, política e criativa da fome, a violência torna-se sua força
expressiva: confronta e, também, assente a realidade do faminto, a situação marginal dos
cineastas e a configuração colonial da sociedade latina. Em Deus e o diabo, uma atmosfera
de crise gera tensões que intentam a revolução popular pela inversão da ordem vigente, tal
como na trilha sonora original: “o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”. Tanto no
manifesto quanto na materialidade do filme, o amor é relacionado à vislumbrada revolução,
sendo conduzido pelas personagens mulheres. Sendo assim, no sentido questionador da
ordem, o amor é a desordem vigente, na medida em que os estados de consciência política
são acionados por personagens femininas. Logo, considerando a potência do feminino no
cenário exposto, este estudo objetiva analisar a elaboração da mulher protótipo no
mencionado filme.

Ressignificações do feminino enquanto signo da cultura


Denise Firmo Rodrigues Marinho (UFC)

Este artigo visa investigar os diálogos presentes na relação entre o signo do feminino
construído a partir da protagonista do filme “Paloma” (2022), enquanto uma representação
de caráter cultural contra-hegemônico em relação com o conceito de rizoma. Para tanto, o
filme será investigado a partir de trajetória de observação baseada nos conceitos do signo,
em Peirce, e de rizoma, em Deleuze e Guatarri. Esses, sendo os meios a partir do qual nos
orientaremos para demonstrar as construções sígnicas presentes no filme que rompem
com representações de um feminino estruturado sob uma ótica
hegemônica\histórica\patriarcal. E, dessa forma, verificar o feminino representado pela
protagonista do filme funcionando como fomentador de outras formas de representar e
existir como feminino na cultura, uma vez que, a partir do imaginário da obra, é possível
alimentar o tecido cultural com ressignificações para o feminino enquanto signo. Tendo
esse horizonte, iremos relacionar as ressignificações encontradas no filme com o conceito
de rizoma, entendendo que a promoção de outras representações do feminino têm o
potencial de criar o que aqui chamaremos de territórios subjetivos rizomáticos na cultura.
Ou seja, espaços representativos que não estão comprometidos com a reprodução de
“raízes” ou\e padrões hegemônicos para o feminino, mas, em criar outras ressignificações
do feminino e assim fomentar transformações nas experiências com o real.

Me chamem de mulher madura, as Influencers da meia idade no contexto Brasil


Tatiana Levin (UFRJ)

A proposta da comunicação é fazer uma cartografia de perfis do Instagram de influencers


da meia idade, as mulheres 45+ influenciadoras brasileiras. Elas combatem uma hierarquia
das idades, no sentido de uma enaltação da juventude e rejeição da velhice. Para elas, a
passagem do tempo marcada no corpo feminino não é elaborada como algo negativo, mas
antes como processo de vida. "Só não envelhece quem está morto", essa é uma das
máximas que organizam os discursos territoriais nessa rede comunicativa. Tais perfis nos
ajudam a mapear aquilo que pode ser entendido como um dos diversos feminismos
contemporâneos, quando o imaginário em torno do que é ser uma mulher na meia idade é
redefinido em audiovisualidades que mostram corpos, rugas, cabelos e outros sinais da
passagem do tempo. Entra em questão a interseccionalidade no acúmulo de opressões, a
partir de gênero e idade. O que querem as mulheres que se identificam como mulheres
maduras e que estão presentes no Instagram reivindicando uma mudança de imaginário
em relação ao corpo feminino que envelhece? Que audiovisualidades trazem nos seus
autorretratos? Trabalhamos com a ideia de uma territorialização em torno de corpos que se
autorizam a envelhecer no contexto midiático brasileiro. O corpus analítico inclui alguns
perfis como @she_t, @cool50s e @silviaruiz_ageless, @vivaacoroa. Em pauta entram
temas como etarismo, menopausa, sexualidade, autoimagem, trajetória de vida e inserção
social.

Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: arte, política e
autoritarismo
AUDITÓRIO | Dia 21/09 às 16h

Gravura antifascista nos anos 30: Brasil, Argentina e Uruguai


Ângela Meirelles de Oliveira (Unioste)

Esta comunicação pretende debruçar-se sobre a produção artística de gravuristas que foi
disseminada pelos periódicos antifascistas surgidos no Brasil, na Argentina e no Uruguai
entre os anos de 1933 e 1939. No período entre guerras na América Latina desenvolveu-se
uma ampla resistência ao fascismo, sobretudo após a ascensão de Hitler ao poder. Entre
os atores desta resistência, os intelectuais tiveram um papel fundamental por terem se
dedicado à difusão de ideias, à proteção das ações culturais – em torno do ideal de
“defesa da cultura” - e à produção teórica e plástica. Motivados por um movimento
internacional de mobilização de intelectuais, organizaram-se em associações como a
Agrupação de Intelectuais, Artistas, Periodistas e Escritores – AIAPE, surgidas na Argentina
e no Uruguai, o Clube de Cultura Moderna e a Liga de Defesa da Cultura Popular, no Brasil.
Tais agrupamentos produziram revistas nas quais a participação dos gravuristas foi
fundamental, com destaque para nomes como Santa Rosa e Di Cavalcanti no Brasil,
Pompeo Audivert e Lino Enea Spilinbergo, na Argentina, Rafael Barradas e Leandro
Castellanos Balparda, no Uruguai. A produção plástica destes artistas carrega o forte tom
de crítica social e compõe, ao lado da produção textual destes periódicos, um relevante e
pouco estudado aspecto da luta antifascista no Cone Sul.

O Cine Jornal Brasileiro e O Autoritarismo (1937-1945)


Sofia Figueira de Siqueira (UFSCar)

O cinema como meio de propaganda e educação foi e é utilizado por diferentes contextos,
para esta proposta irá ser considerado o caráter político e propagandístico desta arte. O
Estado Novo compreende a importância do cinema e entende o cinema como um
mecanismo de unificação e manipulação da sociedade Brasileira. José Inácio de Melo e
Souza possui uma extensa produção acadêmica acerca do CJB, segundo ele, os objetivos
- após a reestruturação do DPDC e com o surgimento do DIP, eram de controlar a
propaganda nacional, de forma que esta servisse de parte fundamental o governo e as
entidades públicas e privadas (2003). O CJB trata-se de um dos braços do DIP, produzido
pelo DCT – Divisão de Cinema e Teatro. As produções cobriam principalmente eventos que
colocavam o governo em destaque. Estas produções eram carregadas de simbolismos,
como forma de difusão da ideologia do Estado Novo e era imprescindível que a unificação
do país fosse destaque nas apresentações das edições do CJB. Além da forte
representação do Estado, existia também a ameaça comunista em curso, inimigo declarado
do Estado Novo. O Cine Jornal Brasileiro não foi apenas uma produção governamental, ao
se tratar de uma ditadura autoritária, o Estado Novo utiliza do cinema para promover a sua
imagem, do presidente da república e dos militares.

O projeto fascista no audiovisual brasileiro


Karla Holanda (UFF)
É notória a proliferação de obras audiovisuais alinhadas à extrema direita nos últimos anos
no Brasil. O campo estava fértil para que brotassem e se disseminassem, afinal, o
comportamento do governo brasileiro de 2019 a 2022 parecia estimular que cidadãos
comuns se sentissem seguros e protegidos na manifestação de seu racismo, misoginia,
homofobia, negacionismo e desprezo à preservação ambiental e às posturas civilizatórias,
tudo sob ímpetos bastante violentos. Que obras são essas? A quais interesses buscam
atender? Como se disseminam? O que as caracteriza? Que estratégias utilizam para que
sejam legitimadas? Esses são alguns pontos de partida que vão orientar esta
apresentação. O repertório dos enunciados extremistas é árido, eles são movidos pela
paixão, o que é próprio da propaganda. No entanto, acredito que deva ser inevitável falar
de tema tão impalatável, se queremos impedir que esse projeto retorne ao poder e se
queremos que suas forças minguem. O tema não é dos mais digestos, mas, se por um lado,
falar de tais obras audiovisuais pode contribuir para ecoar suas intenções nefastas, por
outro, não se pode fingir que elas não existem e que estão bem vivas entre nós,
propagando-se vertiginosamente e ocupando novos espaços, virtuais e também físicos.
Ignorar essas obras só tardará o desenvolvimento de instrumentos para combatê-las. Não
falar delas é naturalizar que elas não são aberrações, que está tudo bem conviver com elas
lado a lado.

Sessão
Linguagem: reconfigurações e experimentações territoriais
Sala 7B | Dia 21/09 às 16h

Cinema, sertão e memória: os diferentes sertões na cinematografia brasileira


Ronny Vieira Brayner (UESB) e Milene de Cássia Silveira Gusmão (UESB)

Na história do cinema brasileiro é possível observar que uma região em particular foi
escolhida por diferentes autores/diretores para encenarem aspectos relacionados à
identidade nacional brasileira, às questões políticas, sociais e culturais do país. O espaço
citado é o sertão. Este estudo busca compreender e discutir as diversas construções
simbólicas em relação ao sertão no cinema brasileiro, tomando como análise os filmes “O
cangaceiro” (1953, Lima Barreto), “Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964, Glauber Rocha) e
“Baile Perfumado” (1997, Lírio Ferreira e Paulo Caldas). Estes três filmes fazem parte de
movimentos cinematográficos diferentes, o primeiro corresponde ao que veio a ser
conhecido como Nordestern, o segundo é um dos três filmes da trilogia do sertão do
Cinema Novo, enquanto o Baile Perfumado remete ao período da Retomada. Cabe citar que
este estudo faz parte do meu projeto de mestrado que está em vias de conclusão e que
utilizaremos como referências teórico analíticas autores do campo da memória e da
historiografia e crítica cinematográfica. Pela análise dos três filmes iremos apontar e
debater as características construídas em relação ao sertão nestas cinematografias. Neste
aspecto, buscamos trazer as similaridades e diferenças em relação às formações
simbólicas que foram realizadas para o mesmo espaço durante décadas, contextos
históricos e movimentos cinematográficos diferentes.

Os retirantes do Sertão: territorialidades nordestinas em deslocamento


Matheus Vianna Matos (UFBA)

Neste trabalho, propomos articular a discussão realizada por André Brasil (2014) em torno
da performance, a proposta metodológica das constelações fílmicas, discutida por Mariana
Souto (2019), e os trabalhos de Rogério Haesbaert (2014) em torno das múltiplas
territorialidades, de forma a discutir as possibilidades de fabulação sobre o território
Sertão a partir da sobrevivência da imagem dos retirantes. Para isso, buscamos constelar
três obras que contribuem para esse espaço-problema: a pintura Retirantes (1944), de
Candido Portinari, a animação Vida Maria (2007), dirigida por Márcio Ramos, e o
curta-metragem Nova Iorque (2018), dirigido por Léo Tabosa. Ao convocar esses materiais,
discutimos a constante tensão estabelecida entre o ficar e o fugir para outro território e os
engajamentos afetivos (GROSSBERG, 2010) envolvidos nessas movimentações. Território
que marca as formas de compreender o retirante nordestino, o Sertão engloba elementos
geográficos, linguísticos e culturais, que acabam por povoar e ambientar obras artísticas
de distintas temporalidades, como apresentado neste trabalho. O Sertão está presente
tanto nos gestos quanto na mise-en-scène, ele se faz presente nos próprios personagens,
se configura como uma imagem-força (ALBUQUERQUE JR., 2011). Ampliaremos essa
proposição ao compreender também como uma força ‘gravitacional’, um lócus imagético e
discursivo que atrai os mais diversos elementos em torno das suas territorialidades e
visibilidades possíveis.

A experiência processual artística na realização do filme Temporada (2019)


Eduardo Tulio Baggio (Unespar)

Para Rosa Maria Bueno Fischer “as experiências processuais de artistas” podem “colocar
em dúvida a facilidade inconsistente e apressada com que lemos e interpretamos imagens
e depoimentos, apoiados quase que exclusivamente na ideia de linguagem como
representação.” (FISCHER, 2021:05). A autora trata da experiência não como fenômeno ou
como hábito, mas como relação processual, no que converge com outras pesquisadoras,
como Lúcia Gouvêa Pimentel, que afirma: “O processo artístico está ligado intrinsecamente
à experiência, uma vez que trabalha com emoção e razão, que são processos vitais
profundamente imbricados.” (PIMENTEL, 2015:96)
Esse caráter processual da experiência encontra abrigo desde definições clássicas, como
as de John Dewey, que dizia que “o princípio de continuidade de experiência significa que
toda e qualquer experiência toma algo das experiências passadas e modifica de algum
modo as experiências subseqüentes” (DEWEY, 1976:26).
A partir dessas bases sobre experiências processuais, o objetivo da comunicação é
apresentar considerações sobre a observação lógico-racional empreendida no livro Roteiro
e diário de produção de um filme chamado Temporada, escrito por André Novais Oliveira,
que aborda, como o título indica, experiências processuais da realização do filme
Temporada (2019), roteirizado e dirigido pelo mesmo André Novais Oliveira. A intenção é
abordar o fazer artístico via uma tentativa do próprio cineasta de compreender a
experiência processual do filme.

Sessão
Perspectivas teóricas e metodológicas: televisão e redes
Sala 6A | Dia 21/09 às 16h

A decupagem clássica e o humor nos vídeos curtíssimos de Rapha Vicente no TikTok


Adil Giovanni Lepri (UFBA)

Esta comunicação pretende analisar a produção audiovisual do criador de conteúdo Rapha


Vicente, que possui perfis em diversas redes sociais, embora seu principal canal seja o
TikTok. Para a investigação esta rede social foi escolhida como espaço de análise e, devido
ao seu caráter menos aberto a pesquisa, a escolha do corpus foi feita de maneira
exploratória, como um primeiro contato com a obra de Vicente. A obra em questão
consiste em vídeos curtíssimos de cunho humorístico realizados de maneira caseira pelo
criador, utilizando não-atores de sua família e com foco no uso da decupagem clássica
(Xavier, 2005). Foram escolhidos 5 vídeos para análise fílmica detalhada de inspiração
neoformalista (Thompson, 1988; Bordwell, 2012) e a articulação da linguagem
cinematográfica aparece claramente nos trabalhos sobretudo na construção do espaço
cênico – frequentemente obedecendo normas e princípios narrativos do cinema clássico
narrativo – mas também como apoio para o humor com o uso de cortes estrategicamente
colocados e do zoom. Ainda chama atenção o domínio do criador sobre a linguagem,
mesmo sem estudo formal na área, apontando para a hipótese de uma geração de artistas
que – ao conviver cotidianamente no ambiente das plataformas de conteúdo audiovisual –
articulam de maneira intuitiva uma certa gramática audiovisual.

Uma proposição metodológica para análise de narrativas seriadas de ficção


Macelle Khouri Santos (UESB)

O texto visa apresentar uma proposta metodológica a ser aplicada na análise de materiais
audiovisuais de natureza ficcional, especialmente aqueles que possuem estrutura seriada.
A experiência com a pesquisa realizada durante o mestrado em Jornalismo (PPGJor/UFSC,
2009) demonstrou a viabilidade do uso da análise de conteúdo qualitativa em estudos com
obras cinematográficas. No caso das narrativas seriadas, cuja complexidade estrutural
dá-se em função de temáticas abordadas, da presença de um maior número de
personagens, bem como pelo entrelaçamento de tramas principais e secundárias, faz-se
necessário uma organização metodológica que melhor atenda a essa conjuntura de
análise. A proposta aqui apresentada assenta-se, portanto, na utilização da análise de
conteúdo qualitativa estruturada a partir de eixos temáticos, que, por sua vez, tomam
como referência para ordenar o estudo, quatro constructos que organizam os mundos
ficcionais, a saber: a composição das personagens; a construção de ambientes que
compõem a narrativa; o enredamento das histórias; e a evocação de atmosferas. Essa
composição metodológica mostrou-se assertiva, pois permitiu atingir os objetivos
propostos, bem como responder à questão que direcionou a pesquisa realizada no âmbito
do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH/UFSC, 2022), que teve como
objeto de estudo a série de ficção infantil Escola de Gênios (2018-2021).

Do governo Bolsonaro à posse de Lula: a telenovela como campo do sintoma


Aline Vaz (UTP) e Sandra Fischer (UTP)

O estudo propõe refletir sobre a forma como a narrativa das telenovelas da Rede Globo de
Televisão, com recorte em Nos Tempos do Imperador (criada por Thereza Falcão e
Alessandro Marson; 2021/2022) e Mar do Sertão (criada por Mário Teixeira; 2022/2023),
exibidas na faixa das 18h, sofrem uma espécie de contágio entre a ficção e o espaço físico
e social em que se inserem. Em Nos Tempos do Imperador, entre alguns exemplos, a
personagem Tonico Rocha estabelece diálogos intertextuais com a realidade do tempo
vivido pelo espectador, inclusive por meio da inserção de bordões reiterados no âmbito
político brasileiro ou mencionando a instituição das “rachadinhas”; outra personagem,
Clemência, protesta contra o marido utilizando-se da expressão “ele não”, alusiva à
hashtag originada durante as campanhas eleitorais de 2018. Em Mar do Sertão, a partir de
personagens corruptas e da destituição de uma prefeita eleita democraticamente, o tema
da política aparece do início até o final, quando Xaviera elege-se prefeita na cidade de
Canta Pedra e assume o cargo em cena inspirada na posse, em 2023, do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Considerando arranjos estéticos e efeitos de sentido da telenovela
tomada como campo do sintoma, a análise será conduzida a partir de preceitos da
sociossemiótica, considerando uma seleção de cenas que em certa medida funcionam
como metáfora e metonímia de contextos sociais e políticos do Brasil, remetendo a
personalidades políticas atuantes no país.

Sessão
Representações, contra-representações e representatividade:
território e pertencimento
Sala 09 | Dia 21/09 às 16h
Territórios e pertencimento em documentários brasileiros sobre futebol
Francisco Alves dos Santos Junior ( UFRB) e Angelita Bogado (UFRB)

O que nos interessa nesta comunicação é compreender como os documentários brasileiros


sobre futebol ao colocar em campo as relações entre as práticas performáticas do jogo e
as experiências cotidianas fazem brotar o sentimento de pertencimento. Para refletir sobre
o lugar de pertencimento (hooks, 2022), vamos cruzar as imagens dos documentários
Preto contra branco (Vagner Morales, 2004), Copa Vidigal (Luciano Vidigal, 2010) e Do
mesmo lado (Diogo Nunes e Ana Rosa Marques, 2010). São narrativas fílmicas periféricas –
Recôncavo da Bahia, São João Clímaco-SP e Morro do Vidigal-RJ – que dão a ver o
embaralhamento das linhas que separam (marcações de raça, classe e gênero) e das
linhas que agregam (o comunitário, o familiar e o afeto). Da disputa entre os jogadores e
das relações entre os corpos em cena/da cena (BOGADO; ALVES JUNIOR e SOUZA)
assombros, sonhos, rivalidades e o comum se entrelaçam. Entendemos que documentários
que têm o futebol como tema podem ser lidos como produções estético-políticas, já que
trazem para a margem questões presentes na vida cotidiana, especialmente atreladas a
experiência do habitar. Deste modo, podemos inferir que as produções documentais sobre
o futebol que dialogam com o território são atravessadas por relações de poder, dentro e
fora do campo do visível (MONDZAIN, 2013), na qual seus participantes ao se colocarem
em cena provocam rasuras sobre o sensível (RANCIÈRE, 1996), produzindo novas formas
de experienciar o mundo.

Pedagogia das Margens (A)Mostra: um relato


Gisele Motta Ferreira

O evento "Pedagogia das Margens: (A)mostra" ocorreu nos dias 17 a 19 de março de 2023,
no cinema Estação Net Rio, em Botafogo, Rio de Janeiro/RJ. Foi idealizado pelo coletivo
Zona de Cinema, da zona oeste carioca, com o objetivo de criar uma formação de público
especial que atraísse pessoas das margens. Com foco na produção audiovisual de impacto
social na zona oeste desde 2016, esse foi nosso primeiro evento na zona sul, fora de áreas
periféricas. O evento foi patrocinado depois de ganharmos o edital Juntes pela Cultura do
Goethe-Institut e do Serviço de Cooperação e Ação Cultural do Consulado Geral da França
no Rio de Janeiro. Foram três dias de evento, cada um com sessão de cinema seguidas de
debates e oficinas de cinema. Participaram pessoas que nunca haviam assistido a um filme
no cinema, através de mobilização especial junto com o projeto Ler, Viver, Existir, Bem TV,
Mídia Independente Coletiva e Associação Cristã de Moços (AMC). A Pedagogia das
Margens é uma versão decolonizada da Pedagogia do Cinema, desenvolvida por Alain
Bergala, metodologia pedagógica que envolve a produção de filmes em ambientes
escolarizados. A Pedagogia das Margens foi desenvolvida pelo coletivo Zona de Cinema,
que subverteu paradigmas da Pedagogia do Cinema. A metodologia da Pedagogia das
Margens usa apenas filmes brasileiros, curtas-metragens completos, foca em temas
sugeridos pelos alunos, e atua em ações em territórios periféricos, dentro e fora de sala de
aula.

Festival Kilombinho: audiovisual negro em diálogo com infâncias e territórios


Melina Mello Chagas Bomfim (UFRB)

Este resumo descreve o desenvolvimento de uma metodologia de abordagem curatorial


materna e sua dimensão performática (MARTINS, 2021) com cinemas negros. Como mulher
negra e mãe de menino negro, me preocupo com o impacto que as imagens e sons têm
nos comportamentos, sotaques, e mundos de pesquisa domésticos ou infraordinários
(CAMPT, 2017) que se abrem a partir dos conteúdos visionados e vividos por ele. A
presente pesquisa relata os processos de mapeamento domésticos e a experiência de uso
de obras audiovisuais a partir de uma "curadoria materna". Em seguida, descreve o
movimento de ampliação da abordagem conceitual com a proposição e realização da 1a
edição do Festival Internacional Kilombinho - audiovisual negro com crianças, crias e
comunidades. Ele nasce com o objetivo de visualizar e fabular infâncias e juventudes
negras livres por meio de imagens. Ao construí-lo me inspiro e analiso abordagens de dois
festivais: o Festival Internacional de Cinema Comunitário Afro Kunta Kinte da Colômbia e o
projeto "Cinema em Vizinhança" executado dentro do Festival de Documentários de
Cachoeira, o CachoeiraDoc. Para pensar a "curadoria materna" como um gesto
participativo, ou de impacto, que se propõe a fazer uma leitura das demandas das
infâncias e dos territórios (a que se dedica), vislumbro "O giro do erê" que é resistência a
toda e qualquer prefiguração de papéis e representação estática de vida. No erê, e com
ele, a vida é liberalidade plena." (SOUZA; CARVALHO, 2021).

Sessão
Meio-ambiente e ecologias decoloniais
Sala 03 | Dia 21/09 às 16h

Modelização de espaços de fronteiras na geopolítica colonial


Irene de Araújo Machado (USP)

Tendo como objeto do estudo as relações de fronteiras culturais e (geo)políticas da


ocupação no território brasileiro acompanhamos as transformações do espaço nativo dos
habitantes originários em espaço de poder colonial de cultivo de riquezas produzidas pelo
trabalho escravo. O objetivo é menos a circunscrição do poder que o ecossistema das
formas e forças vivas nas quais os humanos se desenvolveram com suas civilizações.
Argumenta-se que, embora ignore, o Estado colonial esteve subsumido a esse ecossistema
ambiental. Todas as medidas de dominação apenas tensionaram fronteiras em outras
formas de espaços nascidas ali, no convívio de comunidades, nas práticas produtivas e
religiosas, comprometidas com o respeito às dinâmicas das forças ambientais. Tal é o
quadro produzido no documentário de Juana Elbein Santos Orixá Ninú Ile (1978). Com ele
espera-se alcançar a dinâmica cosmopolítica das forças que, durante um século, tornou
possível a constituição de um Estado ecológico – o Quilombo dos Palmares – no interior do
Estado colonial, à revelia dos antagonismos geopolíticos instituídos. Um Estado que,
alimentando utopias para delas divergir, construiu um legado de luta pela resistência
prenunciando formas de (re)existência em ecossistemas cosmopolíticos. Nele, interações
constituídas em senzalas sustentaram terreiros e roçados de aldeias, mocambos e
quilombos, desenhando fronteiras fluidas nas quais nenhuma forma de segregação e
servidão possa encontrar alimentos de sobrevivência.

Cosmologias e sensibilidades não humanas no cinema de realizadoras latinas


Manuela Bezerra Gouveia de Andrade (UFF)

A cosmologia dos povos indígenas presentes nos filmes objetos deste trabalho: Tio Yim
(2019) da zapoteca Luna Máran, Mala Junta (2016) da mapuche Claudia Huaquimila, Rama
Pankararu (2022) roteirizado por Bia Pankararu, Luz nos trópicos (2020) da
colombiano-brasileira Paula Gaitán e El Verano de los peces voladores (2014) da chilena
Marcela Said tem em comum uma visão sobre a paisagem que descentraliza o homem
como centro semântico. Ao transpor os territórios para o cinema, os longas apresentam
paisagens múltiplas em formas de vida e de narrativas, além disso, os seres inanimados
são observados de maneira transcendental. A terra, os animais, os rios e as plantas desses
lugares são únicos, são sagrados. Para os Pankararu, os Kuikuro, os Mapuche e os
Zapoteca não há uma percepção da terra como zona extrativa visando o lucro. O território
em si é vida em sua mais preciosa manifestação. Ao definir o recorte bibliográfico, o
latente diálogo dos filmes para com os elementos não-humanos convocados em tela
levaram a tecer uma linha de confluências entre autores interessados em partir para uma
percepção do mundo que propõem uma visão crítica ao antropocentrismo e que enunciam
desvendar caminhos em busca de uma sensibilidade multiespécie e pesquisadores
indígenas. Desta forma as pesquisas Donna Haraway, Anna Tsing, e Carola Saavedra são
postos ao lado do trabalho de intelectuais indígenas como Ailton Krenak, Juan Ñanculef
Huaiquinao, Célia Xakriabá e Silvia Rivera Cusicanqui.

Imagens, formigas e os cantos que vêm da terra


Emaxsuel Roger Rodrigues (UFBA)

A proposta desse trabalho é apresentar uma escuta sensível do filme Nũhũ Yãgmu Yõg
Hãm: Essa Terra é Nossa! (2021, direção coletiva de Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina
Canguçu e Roberto Romero). Partimos de uma leitura das imagens como espaço de
disputa por narrativas contra colonialidade e, assim, tentamos compreender como a
presença do cinema pode servir como espaço de reinvenção da vida e de proposição de
rupturas com práticas etnocidas reiteradas por mais de quinhentos anos. Ao longo do
filme, que também pode ser lido como um exercício de reconstrução e destruição de
fronteiras (humanas, políticas, espaço-temporais), alguns representantes do povo Maxacali
(ou, como se autodenominam, os Tikmũ’ũn) entoam cânticos em terras que continuam a
ser invadidas por fazendeiros. Seus cantos tentam comunicar aos espíritos daquele lugar
que os Tikmũ’ũn ainda estão vivos e que ainda pedem e precisam de sua proteção contra o
povo-formiga. As discussões apontadas a partir do filme têm como embasamento ideias e
pensares de Ailton Krenak, Sidarta Ribeiro, Emanuelle Coccia, Malcon Ferdinand e Davi
Kopenawa.

Mesa
Formas de inventar a si e ao outro na filmografia de Olney São
Paulo
Sala 04 | Dia 21/09 às 16h

Imagens de Ciganos no documentário de Olney São Paulo


Francisco Gabriel de Almeida Rêgo (UNIFASF)

No documentário Ciganos do Nordeste (1976), o cineasta Olney São Paulo reconstitui os


dilemas e as vidas dos ciganos que nos anos de1970 estiveram presente na paisagem, na
cultura e na sociedade de Feira de Santana. Marcado por uma proposta estilística
constituída entre a objetividade do documentário clássico e o caráter ensaístico, o
documentário se estabelece como um marco para compreensão do papel representativo
que o cigano adquiriu no processo de construção de temas centrais como a cultura
nacional, as identidades e a representação de comunidades invisibilizadas, diante da
construção desses macrodiscursos como o de nacionalidade. Para além de uma
apresentação do pioneirismo desse documentário, buscaremos apresentar uma dimensão
metafórica presente nesse documentário e que se associa a outras propostas presente na
filmografia do cineasta feirense, compreendida na constituição de uma representação do
cigano em confluência com características inerentes à vida do sertanejo, em uma
problematização e tensionamentos das características historicamente construída acerca
do sertanejo, do feirense e do nordestino. Para Olney São Paulo, no documentário, a
representação dos ciganos e dos feirenses, muito mais do que uma construção acabada e
fechada, se estabelece pela ordem da invenção, uma forma de repensar a transitoriedade e
a dinâmica das tradições.

O cinema de Olney São Paulo em busca de uma epistemologia descolonial


Yves São Paulo (UEFS)

Em Manhã cinzenta (1969), Olney São Paulo apresenta a história de líderes estudantis
lutando contra um governo ditatorial que reprime manifestações opositoras, torturando e
executando seus rivais. O filme possui toques de ficção-científica: o julgamento dos líderes
estudantis é feito por um robô. A obra rompe com certas imposições do fazer
cinematográfico ao não apresentar narrativa linear ou fazer uso puro do discurso ficcional,
misturando diferentes mídias como a fotografia, manchetes de jornais, filmagens de TV e
charges para compor seu todo. Olney advogava pela mistura do ficcional com o
documental, enxergando em ambos os fazeres uma encenação de compreensão do mundo
que os cerca. Com a perseguição empreendida pela ditadura contra o filme mencionado e
seu realizador, a compreensão de cinema de Olney não se modifica, mas seu senso de
descolonizar seu fazer fílmico se aguça. Anos após sua realização, Olney retorna à sua
Riachão do Jacuípe natal para filmar um documentário baseado em crônica de Eurico
Boaventura, editada por ele, em que filmará o sertanejo demonstrando suas técnicas de
leitura da paisagem para prever as chuvas. Filma o sertanejo encenando seus próprios
saberes perante sua câmera, descrevendo formas de prever os períodos da chuva,
demonstrando a capacidade de criação de saberes fundados em seu quinhão de terra.

Olney Alberto São Paulo e os filmes sobre Feira de Santana


Bruno de Jesus Leite (UFBA)

O cinema é um dos suportes possíveis de interpretação do espaço, uma vez que os filmes
podem ser desdobramentos do entrelaçamento simbiótico entre o espaço urbano e a
cultura. Para tanto, propomos um debate que trate sobre a representação de Feira de
Santana, suas dinâmicas e seus atores sociais nos filmes do cineasta baiano Olney São
Paulo (1936-1978) realizados na urbe do interior nordestino. Busca-se com essa proposta
ampliar uma discussão já tocada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia
(PósCom/UFBA) através da pesquisa intitulada "O cinema e o Sertão: a memória rural e a
noção de urbanidade da Feira de Santana na obra de Olney São Paulo", que busca
justamente investigar como estão formatadas no repertório imagético do realizador em
questão as noções de apagamento ou de evidenciação da ruralidade feirense durante o
processo de franca industrialização vista no interior nordestino nesta época, dando
importância ao aspecto da construção da memória coletiva. Nossa exposição se arvora em
uma dimensão recente no campo das Ciências da Comunicação, trabalhada por autores e
autoras que se ancoram na ideia de meio desenvolvida por Marshall McLuhan, pelas
escritas de Walter Benjamin acerca da vida citadina.
PROGRAMAÇÃO COCAAL 2023
DIA 22/09, SEXTA, 14H

Sessão
Cinema, arte e educação: práticas de cuidado
Sala 12 | Dia 22/09 às 14h

Memória e autoconhecimento em Samadhi Road (2020)


Sérgio de Oliveira Silva (UESB) e Milene de Cássia Silveira Gusmão (UESB)

Esta comunicação apresenta uma análise do documentário Samadhi Road (2020), dirigido
pelos Irmãos Ahimsa (Daniel e Júlio Hey). O foco é a discussão da temática do
autoconhecimento e sua relação com a memória e com a espiritualidade, temas presentes
na obra. O filme utiliza entrevistas com personalidades que têm uma forte familiaridade
com a transmissão de conhecimentos, e em cada narrativa, comparecem relatos de
vivências, experiências de aprendizados, que por sua vez se tornam acervos, saberes
adquiridos ao longo da trajetória. Nesta perspectiva, o trabalho analítico visa compreender
como os diretores exploram, no filme, essas práticas de autoconhecimento e sugerir, a
partir das trajetórias das pessoas entrevistadas, as conexões que permitam trazer
reflexões que respondam à pergunta fundamental: “Quem sou eu?”.

Nó(s), corpos, performatividades, vivências emaranhadas no cotidiano escolar


Leonardo Santos de Albuquerque Junior (UERJ)

Essa comunicação se faz por nós, pelo enlaçamento de fios, de linhas, de histórias
autoficcionais. A ficção é performativamente compreendida como ampliação do corpo no
real e não como, falso, contraponto ao real. A performance subverte a lógica dos corpos
dóceis produzidos pelo currículo para o cotidiano escolar, pois produz presença
performatizando a vida de outras maneiras, performatizando seus corpos, burlando
desigualdades corporificadas em relações hierárquicas. problematizo o que desclassificam
tudo que não é enquadrado como normal, os porquês de uma visão de escola que se
impõe e busca acreditar na ideia de ordem verticalizada de cima para baixo, a forma
correta de se existir. Todos os corpos que se apresentam fora da forma no cotidiano
escolar, os nós, por uma visão dualista são classificadas como confusos, devendo ser
postos em seus lugares. No entanto, defendo que os que parecem confusos, se entrelaçam
de outras formas. Sendo assim, busco apresentar que as performances acontecem
enquanto emaranhados de narrativas autoficcionais, produzidas por corpos que se
constituem por múltiplas trajetórias que atravessam o cotidiano escolar. Desse modo, ao
ficcionar as narrativas buscam-se performar a vida como um exercício estético, por meio
da criação, criando ação ao produzir um espaçotempo de (r)existência ao se permitir
sensações que afetam o próprio corpo como um convite às vivências do mundo
transbordante, de sensações que dão vitalidade aos seus próprios corpos.

Aproximações entre Cinema e Cuidado a partir do Cinema de Grupo


Maria Clara Montalvão de Oliveira (UFF)

A partir de experiências no que vem sendo chamado de “cinema de grupo e práticas de


cuidado” (Migliorin, C.; Resende, D.; Cid, V.; Medrado, A.; 2022), essa comunicação tenta
traçar aproximações feitas entre os grupos de cinema e a noção de cuidado. Retirando a
finalidade “filme” do cinema, o objeto grupo e o objeto cinema se relacionam em suas
dimensões criativas, processuais. Segundo Benevides, os grupos não são objetos dados e
são as práticas dos sujeitos que “objetivam o próprio objeto” (Benevides, R.; 2017), assim
podendo fazer surgir novas formas de subjetivação. Para aproximação com as práticas de
cuidado é preciso decompor o conjunto prático-metodológico presente nos encontros do
cinema do grupo, reunidos na “pedagogia do dispositivo” (Migliorin, C., Garcia, L., Pipano,
Resende, D. ; 2021). Num caminho em que o cinema se propõe como meio de
experimentação, como processo criativo, atenção a escuta e circulação de afetos,
experimenta-se também a noção de cuidado. Desse modo, pretende-se articular o
funcionamento da pedagogia do dispositivo no cinema de grupo e procurar pistas em torno
das práticas de cuidado nessa relação cinema-grupo.

Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: figuras da insurgência
Sala 10 | Dia 22/09 às 14h

Insurgências poéticas: cartografia do coletivo artístico Frente 3 de Fevereiro


Iulo Almeida Alves (UESB) e Marília Flores Seixas de Oliveira (UESB)

Neste trabalho, apresentamos o coletivo paulista de arte Frente 3 de Fevereiro (F3F), suas
proposições na arte e na dimensão política, através da discussão de algumas de suas
obras. A F3F é um grupo multidisciplinar e diverso em sua composição que se dedica a
pesquisar e intervir artisticamente sobre o racismo na sociedade brasileira. O Grupo surgiu
no ano de 2004 e tem se organizado a fim de associar o legado artístico à luta contra a
discriminação racial a partir de novas estratégias de resistência e de interação com o
espaço urbano. Para tanto, a F3F tem utilizado objetos, imagens, registro fonográfico e
intervenções urbanas, entre outros elementos, em prol da função política que o Grupo
assume. Suas ações circulam pelas noções de monumento e de intervenção midiática que
surgem de condições sociais da própria cidade. O uso do espaço público para realização
de suas manifestações artísticas denota intenso diálogo com as questões raciais e sociais
que se desenvolvem na cidade. Dito de outra forma, as ações do coletivo transitam entre
manifestos sociais e ações artísticas de temática contra o racismo com o foco direcionado
para o espaço urbano justamente por se relacionar com ele e questioná-lo, bem como às
relações sociais ali estabelecidas.

Militância desviada: imagens do início dos grupos LGBT+ no Brasil e na Argentina


Emília Silveira Silberstein (UnB)

Os primeiros grupos LGBTI+ organizados na Argentina e no Brasil surgem com uma década
de diferença; ao final dos anos 60 e ao final dos 70, respectivamente. Ainda que os países
estivessem em momentos distintos de relação entre sociedade civil e regime autoritário,
ambos movimentos iniciam a sua atuação em períodos ditatoriais e, mesmo com a
repressão, traçam o surgimento de um sujeito militante inédito. Esta nova subjetividade
militante desviada expande as zonas de interrogação dentro das esquerdas e alarga o que
é concebido como política, instigando reflexões sobre os possíveis contatos entre política
sexual e transformação democrática. São poucas as fotografias difundidas publicamente
que retratam estes primeiros passos da militância. Nas pesquisas sobre o início do
movimento LGBTI+ dos dois países, as imagens, quando acionadas, geralmente aparecem
em caráter acessório, não como objeto de pesquisa ou em seu potencial de contribuição
metodológica. A partir de uma análise comparativa de algumas fotografias da época, esta
comunicação busca investigar aportes da linguagem fotográfica, em seu lugar simultâneo
de fabulação e documento, para o campo da memória LGBTI+ latino-americana.
Procuramos costurar aqui um exercício de montagem visual que marca aproximações,
trazendo à tona possíveis fissuras e conexões, tendo como base o potencial heurístico da
visualidade para o campo dos estudos comparativos.

Cinema da insubordinação: imagens de levantes no filme Cavalo (2020)


Ana Flávia de Andrade Ferraz (UFAL)

“No gesto do levante, cada corpo protesta por meio de todos os seus membros, cada boca
se abre e exclama o não da recusa e o sim do desejo” (DIDI-HUBERMAN, 2017)
O trabalho pretende falar da política das imagens a partir das obras do filósofo Georges
Didi-Huberman e lançar o olhar para o gesto do levante e da insubordinação no filme
alagoano Cavalo (2020). Nos propomos a estudar as imagens provocadas pelo filme
através de questões que nos atravessam na contemporaneidade, analisando,
especialmente, sua perspectiva política e sua natureza insurgente. Cavalo, primeiro filme
alagoano realizado através de edital de fomento, é uma produção híbrida que convoca sete
dançarinos/as a um mergulho nos seus corpos e em suas ancestralidades. “Cavalo é
também o termo usado nas religiões afro-diaspóricas, como a Umbanda e o Candomblé,
para denominar os praticantes que são capazes de receber entidades em seus corpos. A
incorporação no cavalo não é apenas mental ou espiritual – ela passa por todo o corpo”
(BARBOSA; BAGETTI, 2020). Através das reflexões promovidas por Didi-Huberman (2017) e
Butller (2027) sobre o termo levantes e da ontologia positiva proposta por Negri (2017),
analisaremos a potência das imagens dos corpos, as possibilidades de insubordinação
narrativa e as resistências dos desejos incontornáveis.

Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: contra-histórias da
colonização
Sala 03 | Dia 22/09 às 14h

Deformações e desencontros: visionando outras histórias da colonização em Zama


Diego Martin Haase (UFBA)

Nesta comunicação propomos analisar o olhar visionário sobre o passado colonial e suas
persistências contemporâneas em Zama (2017) da diretora argentina Lucrecia Martel,
dentro de uma perspectiva espaço-temporal que propõe uma narrativa não linear de ficção
como cesta (Le Guin, 1997). Ao criar um passado sem fatos históricos nem narrações
épicas, analisamos o uso recorrente de recursos estéticos e artifícios como a música extra
diegética (Índios tabajaras) e tom de Shepard (efeito de som). Esses elementos criam um
distanciamento paródico da realidade colonial de forma crítica, incorporando a fantasia
sem abrir mão da proposta realista do filme, manifestada também em cena por objetos de
arte e figurino, que desestabilizam a visão única de um passado estereotipado. De que
maneira as estratégias estilísticas do filme buscam ressignificar nosso olhar sobre o
passado colonial? De que forma as canções e efeitos contribuem para este fim? O conceito
de estilo, no âmbito dessa comunicação, é entendido como um uso sistemático e
significativo (David Bordwell) de recursos estéticos no filme.

O horizonte girou: contra-histórias-visualidades em Amérika: bahía de las flechas


Guilherme Barbosa Ferreira (UFRJ) e João Marcos Latgé (UFRJ)

O filme Amérika: bahía de las flechas (2016), da artista e cineasta brasileira Ana Vaz,
apresenta questões pertinentes a determinados processos latino-americanos. Em primeiro
lugar, abordamos o gesto de girar a câmera do filme, e de sua ligação com a tradição do
cinema experimental, em geral, e ao chamado Novo Cinema Latino-Americano, em
particular. Ao produzir figuras de rotação, através de uma câmera que atua como extensão
de seu corpo, Vaz desestabiliza o horizonte para a criação de paisagens vertiginosas. Com
isso, tensiona os sistemas convencionais de representação que implicam corpo e mente,
sujeito e objeto, natureza e cultura. Em segundo plano, a dimensão histórica do filme pensa
sobre o conflito ocorrido em 1492 no lago Enriquillo – situado na atual República
Dominicana – entre o povo ameríndio Taíno e os invasores espanhóis. Remetendo ao
evento que ficou conhecido como a primeira tentativa de assentamento europeu na
América, o filme revisita o território do lago, abrindo a possibilidade de conjurar fantasmas
coloniais através da prática artística. Sob uma abordagem metodológica que privilegia os
fios estéticos e históricos das imagens em movimento, pensamos o objeto de estudo como
capaz de multiplicar, reorganizar, ressituar, modos de ver e estar na Terra.

Dos patriarcas aos herdeiros: figurações da branquitude no cinema brasileiro


Leon Orlanno Lôbo Sampaio (UFPE)

No cinema brasileiro contemporâneo, inúmeros filmes se voltaram para o universo da


branquitude, desde O som ao redor (2012), de Kleber Mendonça Filho até Vazante (2017),
de Daniela Thomas. Entre os personagens brancos que protagonizaram as obras,
basicamente dois grupos: patriarcas e herdeiros. A comunicação pretende fazer um breve
mapeamento destes personagens, comentando acerca dos tipos de mando, além das
redes de proteção e afeto que se observam em torno deles. Se, entre as figuras patriarcais,
o jeito autoritário e a soberba são as características que predominam, entre as figuras
herdeiras, o que parece sobressair-se é uma espécie de cordialidade e mansidão. Os
primeiros aparecem de forma mais destacada nos contextos rurais, e são caracterizados
por certa vilania, expressando de forma notória um sentimento de superioridade moral e
racial. Já os herdeiros encontram-se em paisagens urbanas, nas quais estabelece um trato
manso e, por vezes, caloroso com os seus subordinados, que, de alguma maneira, encobre
hierarquias e segregações. Muda-se a paisagem, o comportamento, mas conserva-se
muitas das relações de poder. Até que ponto os filmes aderem ou põem em crise estes
personagens?

Sessão
Linguagem: reconfigurações, experimentações, transgressões
Sala 7B | Dia 22/09 às 14h

A reterritorialização de pessoas refugiadas no cinema latino-americano


Rafael Beck Andrade (UFS) e Marta Costa Beck (UFMS)

Esta pesquisa investiga os processos de reterritorialização e insurgências de


subjetividades latino americanas através da invenção audiovisual, tendo como objetos de
estudo os longas-metragens brasileiros Era o Hotel Cambridge (Eliane Caffé, 2016) e Los
silencios (Beatriz Seigner, 2017). A partir desses filmes e da escavação teórica ligada a
movimentações territoriais – tema caro para o autor -, buscamos observar as ocupações
apresentadas nos filmes sob a ótica da reterritorialização pulsante nesses locais. Nesse
contexto, observamos os movimentos de ocupação como ações micropolíticas que se
dedicam a inventar as heterotopias que garantem segurança, dignidade, afeto e
coletividade entre as personagens de ambos os filmes. Por meio dessa análise, delira-se a
germinação de territórios, a insurgência de subjetividades, os processos de invenção reais
suscitados por esses filmes: reterritorialização de indivíduos na construção de
subjetividades, insurreição de esferas em reações micropolíticas ativas de insurgência,
criação de lugares heterotópicos para a vivência de corpos dissidentes, performatização
de feridas abertas através de corpos marginais, retomada da memória ancestral para se
fazer corpo ocupante/ocupado presente, descolonização do desejo criado pelo sistema
colonial capitalístico.

Documentário do eu: adentrando um espaço de inteligibilidade


Laís de Lorenço Teixeira (Unicamp)

Busco estabelecer a reflexão sobre o documentário do eu como um horizonte de


inteligibilidade para produções audiovisuais no campo de produção latino-americano. Ele
se baseia em três compreensões de cinema: documentário autobiográfico, em primeira
pessoa e filme-ensaio. Através da relação entre essas formas de construção fílmica, busco
abrir caminho para compreender a produção a partir de um eu, construído e construtor do
objeto audiovisual, também como forma de análise fílmica.
A não necessidade de identificação entre eu narrativo e direção da obra, corrobora no
objetivo de pensar o eu como organizador, centralizador e ponto de validade do que é
narrado, sem uma ancoragem na figura da direção. Desse modo, o eu se sustenta
enquanto ação e efeito do filme, como recurso narrativo e construtor.
O campo de produção latino-americano demonstra uma profícua produção em que as
memórias de eventos políticos e pessoais são debatidas por eus narrativos. Assim, me
atento ao modo como o uso de um outro, presente no filme, vivo ou morto, é colocado em
relação ao eu narrativo. Nas obras Con mi corazón en Yambo (María Fernanda Restrepo,
2011, Equador) e Hija (María Paz González, 2011, Chile) é o pai e a mãe, respectivamente,
que ganham esse destaque. A partir de conversas, encontros, depoimentos, se constrói a
base dos eventos para que se estabeleçam as construções dos eu. Assim, pela construção
em conjunto se cria o filme ao passo que se estabelece o eu narrativo.

“Línguas Desatadas” e o acolhimento da mise-en-scène para além da voz


Erik Ely da Cunha Prado (UFG)

O presente trabalho visa analisar a representação da auto-mise-en-scène no documentário


Línguas Desatadas (Marlon Riggs, 1989). Utilizando a análise fílmica aliada à pesquisa
bibliográfica e considerando autores que trabalham os conceitos de performance,
encenação e mise-en-scène documentária (César Guimarães e Jean-Louis Comolli),
busca-se propor uma reflexão sobre o acolhimento da mise-en-scène pelo
documentarista, que também é o ator do filme. Essa é uma performance para e pelo filme:
provocada e controlada pelos desejos do sujeito que filma, apesar de executada pelos
desejos do sujeito filmado. Assim, a encenação do corpo-relato - que pertence ao ator e
não ao personagem - se torna um elemento da mise-en-scène documentária que pode, ou
não, ser construída em um espaço que propicie essa liberdade cênica, o que acontece no
documentário. Na sequência analisada, o corpo do ator (também diretor do filme) se
esquiva do olhar da câmera. Enquanto isso, a narração de um outro ator, que declama um
poema e a trilha sonora que remete a batidas de um coração, completam a cena. Com isso,
é possível supor que além de completar o que a narração está nos transmitindo, mesmo
que sem falas, aquele corpo está se expressando e dizendo algo, através de sua
auto-mise-scène. Nesse caso, acolher a mise-en-scène não é ouvir, pelo menos não da
forma com que o espectador está acostumado, mas, ao invés de escutar uma voz, se trata
de acolher uma expressão física proposta a partir da encenação.

Sessão
Poéticas sonoras e musicais
Sala 04 | Dia 22/09 às 14h

Censura à Geléia Geral (Torquato Neto/ Gilberto Gil) em 1975


Orlando José Ribeiro de Oliveira (UESB)

No Arquivo Nacional há insólito processo de censura à música Geleia Geral de Torquato/Gil


(BR_RJANRIO_TN_CPR_LMU_06222), em 1975, sete anos após a gravação no LP Tropicália
ou Panis et Circencis. O processo, oriundo do Serviço de Censura de Diversões Públicas do
Estado do Rio de Janeiro, atribui a autoria apenas a Gil e sublinha os versos brutalidade
jardim, salve o lindo pendão dos seus olhos e pego um jato, viajo, arrebento / com roteiro
do sexto sentido. Os grifos sugerem a causa provável do veto, “visto suas conotações
enfrigirem (sic) o dispositivo do art. 41 alinea (sic) ‘d” do Dec. 20.493 de 24/01/946”. A
alínea “d” do artigo 41 negava a autorização de representação, exibição ou transmissão de
obra “capaz de provocar incitamento contra o regime vigente, a ordem pública, as
autoridades constituídas e seus agentes”. O argumento da Censura realçando o exame
censório “em revisão” traz a questão: se à época do lançamento do LP Tropicália... (1968),
não houve veto às músicas, inclusive Geleia Geral, por que a censura em revisão? Esse
mesmo LP fora relançado com o selo “Edição Histórica”, em 1972, sem que as músicas
fossem submetidas à censura, por tratar-se de nova prensagem de material já gravado.
Entretanto, em 1975, ao enfocar o exame em revisão o processo tornaria as obras artísticas
passíveis de veto censório a posteriori ou a qualquer tempo? A pedido de quem? Quais os
atos decorrentes do veto? Os LPs foram apreendidos? Houve comunicado da proibição de
sua execução?
Sete Anos em Maio: Filme sem música
Ricardo Tsutomu Matsuzawa (USP/UAM)

O filme Sete Anos em Maio (2019) de Affonso Uchoa apresenta o estado de exceção
presente na periferia em um duplo ético da impossibilidade da representação e uma
experiência de exposição direta, em fabular o irrepresentável. A obra audiovisual navega
contra a quimera construída de uma pacificação vista de cima para baixo, controladora e
mantenedora da desigualdade, impositiva à naturalidade e aceitação passiva. Destacando
o personagem principal, Rafael dos Santos Rocha, não apenas como vítima com a sua mera
presença de corpo e visibilidade, mas o aparta com uma voz participativa, potente e ativa
de suas experiências. Na figura de um narrador como transmissor da memória em sua
oralidade, Rafael se auto representa no duplo personagem/ator. O estudo pretende analisar
o filme Sete Anos em Maio em suas escolhas e aplicações técnicas no campo da linguagem
sonora. Metodologicamente para a reflexão sobre a utilização do som e a ausência de uma
trilha sonora musical no filme, o texto será guiado pelas obras: Cenografia Sonora,
paisagem e produção de presença em Lisandro Alonso da autora Virginia Osório Flôres que
parte a questão da produção de presença concebida por Hans Ulrich Gumbrescht;
Montagem e som no cinema Artesanal Brasileiro: Gambiarras e experimentalismo de Kira
Pereira que destaca a criativa relação da montagem e som em suas condições de
produção e aplicações estéticas.

Sessão
Afetos, emoções, sentimentos: desejos e anseios
Sala 6A | Dia 22/09 às 14h

Abrir a Porta Não é Sair do Armário: a busca pelo “ser homem” em representações de
infâncias no cinema
Charles Morais de Souza (UFRB)

Na infância, a masculinidade é um tema complexo e multifacetado influenciado por


diversos fatores como cultura, história, economia, política e instituições sociais. De acordo
com a teoria do desenvolvimento de Erikson (1963), a identidade de gênero é uma questão
central a ser resolvida durante a infância e a adolescência, quando os indivíduos buscam a
compreensão de si mesmos e de seu papel na sociedade. Segundo Butler (1990), a
identidade de gênero é um construto performativo que é repetido e reforçado através de
atos cotidianos e culturais. A construção da masculinidade no cinema tem se pautado em
estereótipos. No entanto, alguns filmes também têm explorado a possibilidade de uma
masculinidade mais livre e diversa, destacando-a como um processo em constante
transformação. Este artigo analisa a busca pelo "ser homem" no cinema feito com crianças,
através da relação entre os personagens e os diferentes contextos culturais e sociais, em
uma constelação fílmica com: Billy Elliot (Stephen Daldry, 2000), Tomboy (Céline Sciamma,
2011) e Close (2022, Lukas Dhont). Trabalhando com Rancière (2009) para analisar como
os personagens buscam redefinir as fronteiras do que é permitido e interdito em relação ao
gênero masculino, entendendo como os filmes exploram a dimensão estética e afetiva da
construção da masculinidade, contribuindo para uma reflexão crítica sobre a relação entre
política, arte, sensibilidade, gênero, subversão e a construção de identidades masculinas.

Pessoas que vivem com HIV no cinema latino-americano contemporâneo


Nathália Antonio de Oliveira Velasco (Unicamp) e Daniel Velasco Leão (UFSC)

Esta comunicação tem o objetivo de discutir a representação das PVHIV (Pessoas que
vivem com HIV) no cinema latino-americano contemporâneo, por meio da análise da
caracterização dramática e simbólica de seus Corpos, gêneros e sexualidades nos filmes
Cazuza — o tempo não para (Sandra Werneck e Walter Carvalho, 2004), Un año sin amor
(Anahí Berneri, 2005), El charro de Toluquilla (José Villalobos, 2016), El acompañante (Pavel
Giroud, 2019). Estes quatro filmes, respectivamente realizados no Brasil, na Argentina, no
México e em Cuba, são centrados em protagonistas únicos. Interessa-nos delinear as
relações subjetivas e sociais que estes protagonistas desenvolvem consigo mesmo e com
seu meio social, buscando ressaltar a influência de aspectos (distintos ou compartilhados)
da realidade latino-americana nestas relações. Tanto para estas delineamento identitário
quanto para a compreensão das especificidades estéticas e narrativas destas obras
(advindas de matrizes romanescas, biográficas e documentárias do cinema), situaremos
estes filmes na tradição cinematográfica da representação das enfermidades, discutindo o
estigma e a culpabilização moral e social das PVHIV em diálogo com obras de outros
continentes como os precursores Parting Glances (Bill Sherwood, 1986) e United tongues
(Marlon T. Riggs, 1989) e os mais recentes As horas (Stephen Daldry, 2003), Yesterday
(Darrell James Roodt, 2004), Sida de Gaspar Noé (2005), Clube de compras Dallas
(Jean-Marc Vallée, 2016).

Além da saudade: política e desejo em forma de filme


Mauro Trindade Nogueira da Silva (UFRJ/UERJ)

Saudade do Futuro, filme da cineasta Anna Azevedo, funde documentário e ficção numa
obra poética realizada em três países e com a participação de povos lusitanos, originários
do Brasil e cabo-verdianos, que discutem a saudade a partir de suas próprias experiências
de luto, ausência e melancolia. O filme segue além das tradicionais discussões
psicanalíticas e contextualiza a saudade dentro dos acontecimentos históricos em três
continentes, com a vida pesqueira em Portugal, as forças militares deste país na África, a
independência das colônias portuguesas, a invasão europeia no Brasil e a persistência
secular dos atritos contra as nações indígenas no Brasil. É uma obra que conjuga de forma
sensível política e subjetivação, ao discutir o fascismo, a escravidão, as ditaduras e a
violência do Estado e do capitalismo, em sociedades fendidas entre ricos e pobres e aqui
apresentadas numa contranarrativa do poder hegemônico. Grandes artistas como
Martinho da Vila e Marco Lucchesi (Brasil), Valter Hugo Mãe (Portugal) e Elida Almeida
(Cabo Verde) participam do filme.

Sessão
Militâncias e ativismos indígenas no audiovisual
Sala 11 | Dia 22/09 às 14h

A política da nomeação de termos cinematográficos Kayapó como prática decolonial


Brener Neves Silva (UFF)

Os Mebêngôkre-Kayapó, do Pará, começaram a ter suas primeiras experiências com a


câmera a partir de 1985, quando se apropriaram dela para registros imagéticos da própria
cultura. Desde então, passaram a atribuir significados às produções audiovisuais e
fotográficas, como o termo “mekaron”, que significa “filmagem, fotografia, alma e espírito”,
além da nomeação de diversos outros termos cinematográficos na própria língua materna.
Nesta pesquisa pretende-se investigar a apropriação e ressignificação de termos
cinematográficos pelos Kayapó como forma de lidar com o próprio cinema e como forma
de resistência e luta contra-hegemônica. Discute-se esta prática a partir de reflexões e
entrevistas com cineastas Kayapó acerca do uso dessas palavras no ato das filmagens e
nas oficinas de formação audiovisual realizadas pelos próprios cineastas. Isso levanta o
questionamento acerca da reprodução de uma colonialidade do saber no cinema que não
contextualiza as realidades dos povos indígenas, como, por exemplo, os nomes de
técnicas cinematográficas que vêm de realidades do Norte Global: plano americano,
plongée, entre outros. A prática realizada pelos Kayapó, e por alguns outros povos
também, como os Mbyá-Guarani, parece contribuir com um processo de decolonização
como uma forma de ruptura com os padrões de colonialidade do saber estabelecidos pelos
países do Norte global, uma vez que parte de suas realidades e saberes para designar
nomes e repassar os conhecimentos aos mais jovens.

Cinema dos cineastas Mebêngôkre-Kayapó articulando uma nova cena de resistência


Angela Nelly dos Santos Gomes (UFPA)

Propomos uma reflexão acerca da experiência de cinema dos cineastas


Mebêngôkre-Kayapó do Pará, a partir do Coletivo Beture, considerando suas obras e fazer
cinematográfico como um todo que age para além da visualidade como figuração de
singularidades socioculturais, mas como operadores para a construção de uma “cena
estético-política” que questiona a ordem dominante (RANCIÈRE, 2009, 2012, 2021), pois
cinema e imagem desvelam uma perspectiva outra sobre si, os povos originários e a
própria Amazônia. O povo Mebêngôkre-Kayapó é pioneiro na Amazônia no uso das
imagens, do cinema e das tecnologias de comunicação como aliado na reivindicação de
direitos, sendo um dos primeiros povos da região a fazer “uso político” do audiovisual na
década de 1980 (TURNER, 1993). Hoje uma nova geração de cineastas se organiza para se
fortalecer e estabelecer como realizadores, sujeitos e protagonistas de suas próprias
imagens e narrativas. A despeito de viverem sob intensa pressão sobre seu território e
modo de vida numa das regiões mais ameaçadas do país, o sul do Pará, parte de uma
região da Amazônia conhecida como “cinturão do fogo” por estar na linha da devastação e
destruição ambiental, os cineastas Mebêngôkre-Kayapó vêm utilizando a imagem
cinematográfica como “mecanismo articulador para a resistência” (TERENA DE JESUS,
2023) para forjar novas percepções de si, refazer conexões com o território, modo de vida
e saberes, para si e para a sociedade não indígena.

Com câmera, corpo e alma: lutas e realizações Ashaninka no filme Antônio & Piti
Kim Mello Queiroz (UFF)

O presente trabalho busca revelar a importância do Cinema como um instrumento de


registro, representação e divulgação das lutas e realizações do povo Ashaninka. Por meio
de uma análise do filme Antônio & Piti, documentário dirigido por um cineasta ashaninka
em parceria com um cineasta não indígena, o trabalho aborda as origens da produção
audiovisual desse povo, iniciada com as oficinas da ONG Vídeo nas Aldeias em 1998; a
história de perseverança da família Silva Piyãko, líderes ashaninkas que protagonizam o
filme e diversas ações empreendidas pelo grupo; e as consequências já tão relevantes dos
trabalhos desenvolvidos por esses cineastas para a sua aldeia, para outros povos
indígenas e, também, para todo o Brasil. A pesquisa se baseia em estudos que analisam a
produção cinematográfica dos povos originários no Brasil, pesquisas históricas e
antropológicas a respeito dos Ashaninka do Rio Amônia, reportagens sobre
acontecimentos ligados aos personagens do filme e depoimentos dos próprios cineastas e
seus familiares.

Mesa
Corpos em afirmações, trânsitos e fabulações no cinema e na
arte contemporânea
Sala 09 | Dia 22/09 às 14h

Pintura, fotografia e vídeo em Tem um monte de Oxum no SUS, de Aline Bruni


Priscila Miraz de Freitas Grecco (UFRB)

A artista visual, pesquisadora e atriz Aline Brune tensiona a fotografia em suas produções,
tanto nas escolhas de suportes para a imagem fotográfica e posteriormente sua quase ou
total dissolução pela pintura, pelo vídeo, pelo bordado, quanto na mobilização teórica que
conduz sua pesquisa a partir da ficcionalização do real, criando camadas e dobras em uma
mesma imagem. No díptico Tem um monte de Oxum no SUS (2019), a visualização de outro
mundo através dos sonhos inseridos/propiciados pelas fissuras de sedução da imagem
fotográfica que impulsiona a trama poética, é explorada na variedade de técnicas e
suportes que dão à duas imagens camadas sensoriais distintas, que podem ser
complementares ou não, dependendo do acesso que o observador terá à elas. As duas
fotografias que passaram por uma série de processos como impressão em tecido, pintura e
bordado, também foram utilizadas na videoarte selecionada para a Mostra Competitiva
Baiana do XV Panorama Internacional Coisa de Cinema, realizada em Salvador e Cachoeira
em 2021. Buscaremos abordar a criação dessa imagem que parte da fotografia, mas que é
atravessada por várias formas de intervenção orientadas pela relação entre o real e onírico,
em que os sonhos, fora da perspectiva ocidental, possui a função política de possibilitar a
coletividade e com ela, a resistência, um forte argumento presente no pensamento de
Ailton Krenak e Davi Kopenawa, por exemplo, acessado pela poética da artista.

Ética da reparação em tempos de cuidado: corpo, dança e cidade em fabulação para ficção
visionária
Milene Migliano (UFRB)

Desde três filmes com protagonistas mulheres cis e trans, negras e indígenas que
reinventam seus corpos em espaços urbanos, explorando liminaridades criativas
(MIGLIANO, 2021) entre documentário, experimental e ficção, ficções visionárias
(IMARISHA, 2016) gerando espacialidades nas cidades que habitam. As fabulações se
realizam desde o que venho chamando de uma ética da reparação (KILOMBA, 2019)
reinscrevendo o lugar das personagens em um protagonismo que atualiza a potência de
seus corpos, há tanto subalternizados e violentados. Compreendo que a ética da
reparação faz parte dos cuidados em viver “segundo uma ética amorosa” (hooks, 2021),
“desapego do modo da obsessão pelo poder e pela dominação”(Idem, p.123),
proporcionando a composição de uma estética que costura a vivência e experiência
cultural com o desejo de mudança e realização no território de realidades diferenciadas.
Em Amarela, de BSartori (2023), produzido em componente curricular em cinema, a dor do
corpo protagonista, travesti, ultrapassa a solidão e confusão em um encontro com Orixá
Oxum. Em Abjetas 288, Júlia da Costa e Renata Mourão (2018) dirigem criativamente com
a cidade, em movimentos de (re)apresentação como uma dança de contato no beco de
casa, com os grafittis e vertigem labiríntica, mixada no musical. Em Heróica Dreams (2022),
Marvin Pereira orquestra uma ode aos corpos jovens de Cachoeira, mobilizando-a a sonhar
e se realizar, com a ancestralidade presente na música, na dança, nas paredes e no rio.
Onde estão as artistas visuais negras do recôncavo da Bahia? Uma discussão sobre
ausências
Ana Thais Oliveira da Costa Santos (UFRB)

O presente trabalho propõe debruçar-se em questionamentos a respeito das ausências de


artistas mulheres negras nos catálogos das Bienais do Recôncavo da Bahia (1991-2012). A
discussão busca compreender as causas possíveis da não presença das mulheres que são
maioria numérica no território de identidade onde ocorreram as bienais. Uma vez que, o
mundo das artes é um espaço de livre expressão e ainda assim revela-se uma das áreas
mais complexas em termos de representatividade (mulheres, negros, pessoas com
deficiência e LGBTQIAP+). A presença feminina na arte contemporânea é, por si só, uma
pauta importante, contudo, é preciso aprofundar a discussão e, neste trabalho, será feito
um recorte que possibilite falar da falta dessas mulheres nos espaços artísticos, em
específico, as Bienais do Recôncavo da Bahia. Como arcabouço teórico, foram trazidos
para a discussão Aníbal Quijano e sua perspectiva de Colonialidade do Poder; Suely Rolnik
que irá abordar as Esferas da Insurreição e as sugestões de como não levar uma vida
cafetinada; Patricia Hill Collins na discussão das imagens de controle e bell hooks que será
utilizada para tratar do processo criativo das mulheres. O breve esmiuçar dessas teorias
visa convocar o leitor a refletir a respeito da invisibilidade sofrida pelas artistas negras e
cujo resultado acaba por refletir numa sociedade que historicamente as marginaliza e as
coloca em segundo plano dentro de sua própria comunidade.

Mesa
Emoção e Sensação: desafiando estruturas narrativas no
audiovisual brasileiro
AUDITÓRIO | Dia 22/09 às 14h

De boca a boca: o excesso como agregador dos arcos narrativos


Mariana Baltar (UFF)

Esta comunicação foca no processo de construção de arcos narrativos de séries brasileiras


que dialogam com o modo melodramático a fim de pensar como o excesso, enquanto
elemento estético que expressa sentimentos e sensações corporificados, é agregador
destes arcos. Nosso estudo de caso é a série Boca a Boca (Netflix, 2020), criada por Esmir
Filho e escrita por ele, Juliana Rojas, Marcelo Marchi, Jaqueline Souza e Thais Guisasola.
Por seu vínculo com o fluxo sensacional, mas também pelo seu potencial disruptivo e
crítico a esse mesmo fluxo, o excesso parece ser um dos elementos chave para analisar as
narrativas e discursos que circulam na cultura audiovisual contemporânea. Conforme
argumentamos (Baltar, 2019), a construção de uma expressividade visual forte é uma das
características fundamentais desse sistema, elemento que se consolida como estratégico
para a articulação, no contexto de formação da subjetividade moderna, da pedagogia das
sensações. Tal sentido pedagógico se afirma em dois movimentos: de um lado, o
“ensinamento” através de um regime que privilegia o envolvimento sensório-sentimental e,
de outro, um sentido de pedagogia que por vezes se confunde com a domesticação das
sensações e sentimentos na experiência moderna. Desse modo, no contexto da ficção
seriada, demonstraremos como o excesso convida a um engajamento que não apenas
fideliza o público, mas sedimenta os arcos narrativos a partir de sentimentos e sensações
agregadoras.

A trajetória emocional de Sol em "Vai na fé"


Carolina Amaral (UFF/PUC-RJ)

Tenho investigado um método de escrita de histórias que vê as personagens em suas


trajetórias emocionais, mais que em arcos narrativos. Nesta comunicação, pretendo testar
tal método numa análise da novela das sete “Vai na fé”, exibida em 2023 pela Rede Globo.
“Vai na fé” é uma novela sobre Sol, uma mulher preta do subúrbio do Rio de Janeiro, que
tem sua vida cindida em duas: quando era jovem e frequentava os bailes funks de seu
bairro, e atualmente, mãe de duas filhas, cuidando da família e frequentando a igreja
evangélica. A personagem é interpretada por duas atrizes: Sheron Menezes no momento
atual e Jê Soares, na juventude. O que pontua a mudança de fase é um estupro que Sol
sofre.
Tal evento tem força de início de ciclo e final de jornada. Neste trabalho, vou analisar o
percurso de Sol enquanto uma trajetória emocional partindo do entusiasmo inicial,
passando pelo trauma, e seguindo um caminho de culpa, superação, luto e até, quem sabe,
final feliz. A ideia é argumentar que mudanças emocionais são caras ao desenvolvimento
das personagens, e portanto, ao roteiro, assim como temas mais debatidos no campo
como estrutura, ações e viradas narrativas.

Sensações, sons e o monstruoso no roteiro de horror brasileiro contemporâneo


Érica Sarmet (USP)

Inspirada pela teoria do drama e pela teoria literária, Claudia Sternberg (1997) identifica
quatro modos de apresentação do roteiro audiovisual: descrição, relatório, discurso e
comentário. Apesar do princípio "não conte, mostre" fortemente presente nos manuais de
roteiro, a autora argumenta que a maioria dos roteiros faz uso do modo comentário, que diz
respeito a informações que "não podem ser transmitidas audiovisualmente ou fazem uso
de figuras de linguagem que contribuem apenas indiretamente ao som e à imagem" (p. 73).
Por meio dele, roteiristas podem explicar, interpretar ou qualificar ações, personagens,
lugares, objetos - e, argumento, também convocar sensações, emoções e construir
atmosferas.
A partir da análise de trechos do roteiro do longa-metragem de drama/horror "A Sombra do
Pai" (2018), escrito e dirigido por Gabriela Amaral Almeida, pretendo demonstrar como o
excesso se manifesta no texto de narrativas audiovisuais que dialogam com o universo do
horror. Através do uso de elementos provocadores do corpo e dos sentidos, argumento
também que esse tipo de escrita fílmica pode nos instigar mais intensamente a refletir
sobre os medos e anseios sociais, culturais e psíquicos trabalhados pelos filmes. Em "A
Sombra do Pai", nosso estudo de caso, zumbis, fantasmas, bruxarias e mulheres-plantas
ilustram as angústias, dificuldades e a solidão da infância e da classe operária, tecidas na
delicada relação entre a menina Dalva, órfã de mãe, e seu pai, o pedreiro Jorge.

Mesa
Resistência e decolonialidade no cinema brasileiro recente
Sala 6B | Dia 22/09 às 14h

Espaços e (des)encontros queer no cinema brasileiro recente


Alessandra Brandão (UFSC) e Ramayana Lira de Sousa (UNISUL)

Esta apresentação enfoca a construção de espaços queer que desafiam a normatividade


do estado-nação, bem como a (re)configuração da exclusão no espaço urbano, diante da
emergência de figuras como a bixa-travesti e a sapatão de terreiro, entendidas como
epítome da resistência queer no cinema brasileiro contemporâneo. Tem como objetivo
investigar como os filmes mobilizam multidões queer (Preciado) que reinventam os
espaços em cidades e suas periferias. Filmes como Bixa Travesty (2018), Perifericu (2019)
e Tremor Iê (2020) promovem encontros queer apesar do contexto de opressão que tornou
significativamente mais difícil para as pessoas queer periféricas sobreviverem. De
diferentes formas reimaginam a cidade, a casa, o campo, até o próprio espaço fílmico,
desafiando a normatização/normalização destes espaços. Porque a reconfiguração dos
espaços significa também uma reconfiguração do tempo, pensamos esses filmes pelo viés
de um espaço/tempo sobredeterminado (re)imaginado para dar conta de processos de
exclusão e tornar visíveis vidas queer em trânsito.

Beleza, caracterização e imagens de controle em KBELA - reflexões sobre


(re)(des)construção de corpos de mulheres negras no cinema
Luciana Soares de Medeiros

Que belezas nossos olhos se acostumaram a ver representadas e encenadas diante de nós
nas telas, grandes e pequenas? Que padrões estéticos validamos, enquanto profissionais,
ao reproduzirmos essas belezas nas produções? Como podemos repensar as belezas que
criamos, reproduzimos e incorporamos em nossas vivências, de forma a torná-las mais
representativas das variedades de corpos existentes? Com essas perguntas iniciais em
mente, busco estabelecer um diálogo entre o curta-metragem KBELA, dirigido por Yasmin
Thayná, e o conceito de Imagens de Controle, desenvolvido por Patricia Hill Collins, a partir
da observação e análise da caracterização das personagens - em especial a beleza
(composição de maquiagem e cabelo). Compreendendo as múltiplas produções do campo
audiovisual como partes importantes para a construção de imaginário social e reforço de
imagens de corpos compreendidos como relevantes, aceitos e desejáveis, destaca-se em
KBELA a força de representatividade negra feminina com corpos diversos e belezas
destacadas positivamente. Contextualizando a produção analisada em um sistema mais
amplo de construção de país, com uma estrutura social sustentada em bases racistas de
resquício colonial, discuto se, e de que forma, a visualidade negra representada no filme
como desejável e empoderadora, reforça a beleza negra como padrão de si mesma ao
recusar imposições estéticas da branquitude, e, por conseguinte, desafia imagens de
controle que incidem sobre mulheres negras.

“O bonde das rejeitadas”: Fracasso, coletividade e resistência.


Reflexões sobre outros futuros a partir da vivência cuír no cinema brasileiro
Emy Lobo (UFSC)

Este estudo pretende construir um paralelo entre reflexões sobre resistência de corpos
marginalizados feitas por personagens queer no cinema brasileiro, em especial a cantora
travesti preta periférica Linn da Quebrada, no documentário Bixa Travesty (2018), e a
personagem ficcional transexual Rose, vivida pela atriz travesti Renata Carvalho em Os
Primeiros Soldados (Oliveira, 2022). A proposta é tensionar a lógica cisheteronormativa tão
reiterada nos cânones do cinema europeu e estadunidense a partir de reflexões, afetos e
vivências das margens, em especial de corpos abjetos (Butler, 2019) particulares do Sul
Global. Para isso, destacamos duas produções cinematográficas com protagonismo
transvestigênere (palavra derivada de travestigênere, termo criado no brasil que conjuga
as identidades transexual e travesti), lembrando que a identidade travesti, que nasceu no
Brasil, é necessariamente latinoamericana e atravessada por marcadores de
vulnerabilidade social como classe e raça. A partir dessas considerações, pretende-se
vislumbrar possibilidades de construção de um futuro decolonial que não cabe na lógica de
sucesso ou fracasso da cisheteronormatividade capitalista vigente (Halberstam, 2020) e
que seja bordada de forma artesanal e coletiva, em um cenário em que as diversas
vivências são consideradas.

Mesa
Sob as camadas da direção de arte: cores, ruínas e memória no
cinema brasileiro
Sala 05 (Pós) | Dia 22/09 às 14h

O pensamento da cor na direção de arte: um estudo cromático no centro antigo de


Salvador
Milena Leite Paiva

Como pensar a cor nos processos de direção de arte? Desta questão se originou o
presente trabalho que tem como objeto de análise o cromatismo da materialidade
arruinada do casario da Ladeira da Soledade, no centro antigo da cidade de Salvador, na
Bahia. Partindo-se do roteiro intitulado Sanjo (PAIVA, 2021), cuja narrativa é
contextualizada no referido espaço, realizamos um mapeamento das camadas de cores
nos espaços em ruínas do casario e construímos um estudo de paletas de cores, tendo
como base uma metodologia desenvolvida pela pesquisadora. Nesse processo de direção
de arte, foram consideradas a estrutura narrativa e as demarcações espaciais e cromáticas
do roteiro; assim como uma pesquisa histórica e iconográfica acerca do referido contexto
material. Sanjo é um roteiro escrito no percurso desta investigação a partir da perspectiva
da direção de arte e nasceu em um momento em que testemunhamos a desvalorização, a
degradação e o abandono de inúmeros casarões seculares do centro antigo de Salvador,
evidenciado em sucessivos desabamentos ocorridos nas últimas décadas. A trajetória
assíncrona da personagem principal de Sanjo na visualidade do Solar Bandeira, na
Soledade, representa a esperança de um futuro em que a nossa cultura material, em toda a
sua imaterialidade, seja respeitada, preservada e valorizada.

A figura da ruína na obra de Marília Hughes e Cláudio Marques


Tainá Xavier (UFF/ESPM-Rio)

Marília Hughes e Cláudio Marques são profissionais do audiovisual que transitam entre a
realização, a crítica e a difusão cinematográficas. A trajetória rica e diversa da dupla é
marcada pelo tema da memória que marca, tanto produções audiovisuais quanto a
militância em defesa de salas de cinema, como se verifica no filme da dupla O Guarani
(2008), documentário sobre a histórica sala de cinema de Salvador que amplificou um
discurso em defesa da reabertura da sala. A condição arruinada, que marcava o espaço do
cinema no documentário, aparece em muitos espaços retratados pela produção dos
realizadores, como o curta Loná de Asfalto (Marília Hughes e Aline Frey, 2002), o vídeo
documentário Pelores (Marília Hughes e Aline Frey, 2004), o filme ensaístico Cidades
Invisíveis (Marília Hughes, 2006), o curta Desterro, que documenta o retorno a áreas
inundadas para a construção da barragem de Sobradinho, dirigido pela dupla em 2012. No
primeiro longa de Hughes e Marques, Depois da Chuva, de 2013, o espaço arruinado
igualmente se faz presente e adiciona à obra de ficção aberturas semânticas, dada a
conexão da figura da ruína a tempos-espaços exteriores à diegese. Buscando a ontologia
da ruína na arte e na filosofia, encontra-se um debate que a localiza no alvorecer da
modernidade e na separabilidade que constituiu o sistema-mundo moderno-colonial e
reverbera até hoje nos modos de viver e criar em territórios pós-coloniais.
Memória e subjetividade em imagens do presente: a presença da direção de arte em Torre
das Donzelas (2019)
Theresa Medeiros (UFRN)

Esta comunicação tem como objetivo discutir o papel da direção de arte na construção da
narrativa visual do documentário Torre das Donzelas (Susanna Lira) problematizando
questões como a presença de uma equipe dessa natureza na criação de uma obra
documental e o processo de criação baseado na rememoração e no relato de fontes
testemunhais. Halbwachs (1994) vê a rememoração como uma reflexão e defende que é
essa medida que dá o caráter social à nossa memória. Neste documentário, que teve como
motivação "promover um reencontro do Brasil com seu passado subvertendo o senso
comum da anistia enquanto esquecimento" (ANCINE), para além da encenação, o exercício
de rememoração de mulheres que foram presas pela ditadura militar do Brasil, são o fio
condutor da construção do espaço pela diretora de arte Glauce Queiroz. Desta forma, esta
análise, que se alicerça metodologicamente nos estudos sobre a crítica do processo
(SALLES, 2006) e análise fílmica, observa como o processo de criação é traduzido na
linguagem cinematográfica, como a dimensão atmosférica foi estruturada, sendo
permeada de subjetividades e enriquecida com as emoções de quem a conta em espaços
da recordação (ASSMANN, 2011). A presença de uma equipe de direção de arte desperta
um interesse de análise pois, embora não seja incomum, dados de um levantamento feito
pela autora, a partir da listagem de documentários lançados no Brasil de 2018 a 2021
(ANCINE), aponta que apenas 12% das obras têm creditação para direção de arte.
PROGRAMAÇÃO COCAAL 2023
DIA 22/09, SEXTA, 16H

Sessão
Cinema, arte e educação: relações étnico raciais
Sala 12 | Dia 22/09 às 16h

Cine Brasil-África: identidades e questões sócio-políticas


Tacilla da Costa e Sá Siqueira Santos (Unilab)

Realizado no âmbito da extensão na Universidade da Integração da Lusofonia


Afro-brasileira (Unilab-campus dos Malês), o “Cine Brasil-África” utiliza o cinema e o
audiovisual como meio para sensibilizar e colocar em discussão questões de cunho
identitário e sócio-político referentes ao Brasil e países africanos de língua portuguesa, ao
tempo em que socializa conhecimento acerca das diversas áreas do “fazer audiovisual”. Ao
utilizar como instrumentos de sensibilização, produções audiovisuais dos países africanos
lusófonos e do Brasil, em especial da Bahia, busca pautar temáticas históricas e
emergentes do cenário social e político que colocam em diálogos estes países, analisando
suas especificidades, aproximações e diferenças. O projeto reúne obras do cinema
brasileiro-diásporico e dos países africanos de língua portuguesa, realizadas e
protagonizadas, prioritariamente, por pessoas negras. Para além da exibição de filmes, o
objetivo principal é ampliar o debate e a análise crítica sobre temáticas relacionadas aos
países envolvidos. Não menos importante, o projeto socializa conhecimento acerca das
diversas áreas da produção audiovisual, atua em redes sociais com divulgação, indicação e
análises referentes ao audiovisual; organiza eventos com realizadores e pesquisadores do
audiovisual; realiza oficinas de escrita para audiovisual; realiza rodas de conversa com
realizadores/as do Brasil e de países africanos.

Educação para as relações étnico raciais: filmes e mídias na universidade


Josaniel Vieira da Silva (UPE)

Sendo as mídias e o cinema meios de disseminação de conhecimentos, ideologias etc., e


que fazem parte de cultura de massa importante, o objetivo de trazer a representatividade
dos negros e indígenas através delas podem corroborar no avanço da projeção dos
diversos grupos étnicos. A fim de colaborar com isso, o trabalho apresenta um pouco das
discussões, na universidade, de como filmes e mídias podem colaborar no processo de
formação docente e no entendimento da importância da educação para as relações étnico
raciais proposta nas DCN Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (BRASIL, 2004). Tais discussões foram
vivenciadas nos últimos 03 anos nas disciplinas de Educação e Relações étnico-raciais
(nas licenciaturas) e Educação, mídias e relações étnico raciais (Mestrado Profissional), da
Universidade de Pernambuco/Campus Garanhuns. Metodologicamente, articulado com
textos (FONSECA, 2018; GOMES, 2012, etc), houve exibição de filmes, curtas,
propagandas, trechos de novelas que pudessem nos fazer refletir sobre as questões do
negro e do indígena nesses veículos. Os resultados das atividades puderam contribuir em
propostas educativas que colaborassem para o fazer pedagógico e o exercício de uma
educação mais coerente com a diversidade cultural.

Cinema de Pedreiro - BaixadaCine e o novo movimento cinematográfico Belforroxense


Cíntia de Aguiar Lima (UFF)

Essa pesquisa é para falar sobre o cinema feito na periferia pelo coletivo BaixadaCine, feito
na Baixada Fluminense, mais, especificamente, em Belford Roxo, cidade com população
estimada em 510.906 pessoas e com 78.985 km² de território segundo IBGE, é a maior
cidade do Brasil e não tem nenhuma sala de cinema. E para falar sobre esse tema trabalho
conceitos como identidade, memória, território, interseccionalidade e feminismo negro. O
coletivo é composto por 10 pessoas de maioria preta e LGBTQIA+, residentes na região da
Baixada Fluminense que movimentam a cena cinematográfica local, seja produzindo filmes
ou seja ensinando através das oficinas ministradas e distribuindo através do cineclube. É
visível a importância de um coletivo como o BaixadaCine numa cidade periférica como
Belford Roxo, uma equipe diversa em funções, territórios e condições sociais, com
conhecimento de território, metodologia própria, com produtos cinematográficos originais
e muita experiência com baixos orçamentos, isso é bem característico do cinema
independente feito pelo coletivo. Essa pesquisa também cria e mostra como a luta da
periferia para sobreviver ao caos urbano é feita através de olhos, principalmente, olhos
negros e femininos.

Sessão
Coletivo, comunal, comunitário: flechas, cestas, mísseis
Sala 10 | Dia 22/09 às 16h

Ficção como cesta e a Flecha Selvagem


Patrícia Araujo Vasconcelos (USP)

A comunicação pretende relacionar e investigar como o texto "A ficção como cesta: um
teoria" de Ursula Le Guin e a websérie "Flecha selvagem" produzida pelo Ciclo Selvagem -
concebido por Anna Dantes e Ailton Krenak - funcionam como ferramentas conceituais e
políticas para refundar modos e meios de produzir cinema hoje. No texto, Le Guin relaciona
seu modo de fazer literatura com a imagem da cesta como uma estratégia
contra-hegemônica às narrativas eurocentradas de contar histórias - que, segundo a
autora, estariam vinculadas a uma teoria da flecha, da guerra, da chegada no objetivo final.
Ela propõe que contemos outras histórias a partir de perspectivas circulares, em que o
Herói (hétero/cis/branco) deixa o centro das narrativas, abrindo espaço para que outres
seres viventes, sistematicamente silenciades e marginalizades, ocupem esses
protagonismos. Também defende que o propósito das histórias não é a resolução ou o
êxtase, mas sim um processo contínuo e que fazer ficção seria abandonar o humano e
vincular-se a um tipo de olhar não-humano e mais monstruoso, espiralado e cósmico, em
que os protagonismos são múltiplos e muitos, abandonando a ideia de unidade e
dissolvendo-se em coletividade. De que modo essa teoria e a websérie "Flecha Selvagem"
podem ser aplicadas em contextos de ensino do audiovisual no Brasil? Que obras do
cinema contemporâneo brasileiro podemos relacionar com esse modo de fazer?

Se lançar como míssel


Talita do Amaral Arruda (UFRB)

A partir de uma perspectiva múltipla – pesquisadora, profissional e público, a pesquisa


reflete sobre narrativas imagéticas, midiáticas e tecnológicas da distribuição dos cinemas
negros contemporâneos. Por debruçar-se no mercado - espaço de disputa, estruturado
num sistema capitalista, patriarcal e racista, as contradições aqui importam. É possível
tensionarmos tais estruturas através das tecnologias da distribuição e, assim, potencializar
a presença e permanência dos cinemas negros? A exemplo prático, analiso a distribuição
dos três filmes aprovados no edital afirmativo para longas-metragens brasileiros do
Ministério da Cultura (2016): “Cabeça de Nêgo”, “Um Dia com Jerusa” e “Marte Um”. Filmes,
que através de suas estratégias de realização e de distribuição, estabeleceram “práticas
de recusa” (CAMPT) e driblaram os “cárceres estéticos” (GUEDES). Lançaram-se como
mísseis, parafraseando Linn da Quebrada. Abraçaram as contradições mercadológicas e
permaneceram atentos e “armados” às armadilhas. O objetivo é realizar um estudo não
centrado nos filmes, que olhe também para suas práticas e para as relações vivas
implicadas nos processos de distribuição. Propor a investigação crítica, política e engajada,
que questionará se é possível atuar no espaço mercadológico e se desvencilhar de suas
capturas. No intuito de ampliar as presenças e permanências dos nossos cinemas negros,
sem refinar os controles sobre eles, permitindo-os em suas potências de expansão infinita
(FREITAS).

Uma assembleia de imagens multiespécies para novas imagens da América Latina


Frederico Canuto (UFMG)
A partir de quatro conjuntos de imagens advindas do cinema, literatura, antropologia e
artes visuais pretendo discutir as imagens multiespécies produzidas a partir da posição
latino americana visto seus modos de construção narrativos moldados através da relação
junto aos desumanizados pela exploração territorial, colonização e racialização. O objetivo
é pensar quais imagens outras de América Latina emergem a partir da ideia do continente
como habitat multiespécie tendo como diplomatas, mediadores e articuladores os povos
originários, negros e periféricos. Tais conjuntos imagéticos a serem analisados - Trípticos
ou Dípticos - serão estratégia metodológica textual na medida em que servem de exercício
comparativo / complementar SUL-SUL - as vezes filmes e obras de um mesmo autor mas
feito em / que produz geografias diversas; ou filmes de uma mesma nacionalidade mas
com questões que colocam em xeque a própria idéia de nação - gerando assim
reconhecimentos (in)comuns críticos em contexto tão diversos como os que compõem a
America Latina. Pretendemos explorar o Atlas Feral da antropóloga sino-americana Anna
Tsing como base para uma idéia de multiespécie e daí, articular tais imagens junto aos
filmes Lavra de Lucas Bambozzi, A Rainha Nzinga chegou de Junia Torres e Isabel
Casimira, Xupaponyãg e Nũhũ yãgmũ yõg hãm: Essa terra é nossa! de Isael Maxakali,
Brooklin do Coletivo Cine Leblon e (outros) Fundamentos da artista visual Aline Motta.

Sessão
Histórias, memórias, fabulações e arquivos: denúncias e
resistências
Sala 03 | Dia 22/09 às 16h

Olhares femininos negros e fabulação crítica no curta-metragem Descompostura


Alline Torres Dias da Cruz (UFBA)

Descompostura (Rio de Janeiro, 2020) é um curta experimental com fotografias e imagens


em movimento de mulheres e jovens negras registradas, enquanto trabalhavam, sob uma
estética da fratura. Seus corpos foram enquadrados pelas câmeras, manuseadas por
homens brancos das classes médias, como se fossem partes que serviam de escora,
suporte e espectadoras das vidas que dependiam delas. O curta desarranja esta estética
visual das filmagens caseiras e arquivos de família dos anos 1920-30, do acervo do
Arquivo Nacional. Faz ver que, entre quem registrava e entrava, marginalmente, em foco,
se encontravam os olhares femininos negros (Hooks, 2019). Que encaravam, numa afronta,
a câmera, demonstrando afirmação, contestação e constrangimento. Discutirei os modos
pelos quais o curta perturba, por meio de sua montagem, espectadoras/es
contemporâneos. Ao buscar centralizar as personagens negras em sua construção
imagética e narrativa audiovisual, o curta incita fabulações críticas (Hartman, 2020) acerca
dos agenciamentos possíveis na relação das personagens com as câmeras e com o público
hoje. Para isso, foi realizado com movimentos de edição (aproximações, repetições e
destaque), fragmentação e sobreposição de imagens, textualidades e índices sonoros,
numa composição de temporalidades, espacialidades públicas e domésticas, histórias
pessoais e coletivas, e modos de apropriação urbana.

La denuncia al racismo en El negro (1960) documental de Eduard Manet


Erian Peña Pupo (ISA, Cuba) e Vanessa de la Caridad Pernía Arias (Cuba)

El cine cubano ha abordado la raza, el racismo, los prejuicios y la discriminación racial,


desde las características étnico-raciales hasta estereotipos como la marginalidad y la
sumisión. El director cubano Eduardo Manet (1930) realizó para el Instituto Cubano del Arte
e Industria Cinematográficos (Icaic) el documental El negro (1960), considerado la primera
producción del Icaic que denuncia, de forma explícita, el tema de la discriminación racial en
Cuba “desde la época colonial hasta el triunfo de la Revolución en 1959 y la persistencia de
esta injusticia en algunas regiones como el sur de los Estados Unidos”. A través del
fotomontaje y la ficción recorre la historia del racismo desde la trata de africanos de
múltiples culturas. Además, le interesa cómo el racismo está presente hasta el momento de
la realización del documental. Para Manet el racismo es histórico y cultural, al estar inmerso
en el lenguaje cotidiano y su complejidad en Cuba queda reflejada a través de un análisis
(cultural, laboral, histórico) más allá de la clase social. Aunque el documental tiene como
objetivo acreditar al gobierno cubano como capaz de acabar con las injusticias cometidas
históricamente contra las minorías raciales, incorpora una secuencia que permite crear un
atisbo de duda respecto a las posibilidades de cambio en los inicios de la década.

I am Joaquín (1969) e o cinema chicano radical de Luis Valdez


Marcella Rego Lins Barbosa (USP)

A década de 1960 foi caracterizada por uma série de protestos e insurgências mundo afora
- geralmente liderados por estudantes - contra a ordem política e econômica dominante.
Seguindo esta atmosfera de luta pelos direitos civis das minorias, os chicanos, nos Estados
Unidos, deram voz a diversos problemas e demandas da população norte-americana de
ascendência mexicana. O Cinema Chicano serviu, então, como ferramenta para a
divulgação de uma mensagem que enfatizava o orgulho étnico, condenava a discriminação
e demandava igualdade. Por meio da análise do filme I am Joaquín (1969), de Luis Valdez,
o presente artigo tem por objetivo demonstrar a relevância do Cinema Chicano dentro do
panorama de lutas sociais do final dos anos 1960 nos Estados Unidos. Nesta perspectiva,
foram exploradas as formas com que Valdez logrou sintetizar a história e cultura
mexicanoamericana de uma forma didática e ilustrativa, assim como, ajudou a modificar as
percepções dos mexicanos residentes nos Estados Unidos e mexicano-americanos sobre
seu passado, pela criação de raízes históricas e espirituais, pela celebração do orgulho
étnico e pelo auxílio na definição da identidade e ideologia chicanas como um todo dentro
da comunidade.
Sessão
Poéticas sonoras e musicais: amefricanidades
Sala 04 | Dia 22/09 às 16h

Fabulação crítica e linguagem proverbial na obra Corpos em Filosofia


Felipe Merker Castellani (UFPel)

O presente trabalho propõe uma leitura reflexiva e analítica do filme Corpos em Filosofia
(2021) de autoria de Tiganá Santana, Moisés Victório e Jéssica Santos. A obra é parte do
trabalho desenvolvido por Santana em sua residência na discoteca Oneyda Alvarenga,
situada no Centro Cultural São Paulo, na qual encontram-se os fonogramas originais das
Missões Folclóricas, idealizadas e organizadas em 1938, por Mario de Andrade. Partimos
dos conceitos de fabulação crítica, desenvolvido por Saidiya Hartman e de ficção sônica,
desenvolvido por Kodwo Eshun, para compreender como os artistas constroem uma
contra-narrativa que ressignifica os arquivos sonoros coletados por Andrade. Ao
recontextualizar tal arquivo, os artistas ampliam os horizontes de compreensão das
epistemologias que alicerçam as musicalidades afrobrasileiras e diluem os ideais
folcloristas nacionalistas, projetados no acervo em questão pela intelectualidade brasileira
da primeira metade do século XX. Além do acervo das Missões folclóricas, nos debruçamos
em outro arquivo utilizado pelos artistas: as gravações do linguista estadunidense Lorenzo
Dow Tuner, realizadas na Bahia entre 1940 e 1941, em especial as gravações do babalorixá
Martiniano Eliseu do Bonfim. Por fim, tomamos como chave de leitura os estudos de
Santana acerca das sentenças proverbiais africanas para compreender a função da
palavra, enquanto força acionadora de saberes estético-filosóficos performativos
afrodiaspóricos na obra Corpos em filosofia.

A cena musical afrolatina/ladina de Salvador


Nadja Vladi Cardoso Gumes (UFRB)

Will Straw trouxe para os estudos acadêmicos a noção de cena musical em 1991 e
atualizou o conceito em 2006 no qual coloca a cidade como um ambiente de processos
comunicacionais para práticas culturais, possibilitando reflexões sobre identidades e
sociabilidades que estão relacionadas com espaços urbanos específicos. Em 2014, Straw
aponta que a espacialidade está implícita na ideia de cena que agrega coletividades
marcadas por proximidades, espaços que engajam fenômenos culturais dotados de
determinadas coerências, visibilidades e invisibilidades da vida cultural urbana. Em nossas
pesquisas recentes sobre práticas musicais e urbe, temos usado o conceito como uma
forma de cartografar fenômenos culturais para compreender práticas musicais
significativas organizadas territorialmente e reconhecidas como significantes de um
determinado discurso. Nosso desafio é pensar o conceito de cena musical afrolatina de
forma que nos possibilite compreender as práticas musicais forjadas em cidades da
América Latina que apresentam uma geografia de experiências engendradas em questões
étnico-raciais e de opressão. Lançamos mão da categoria político-cultural
“amefricanidade”, de Lélia Gonzalez (2020), com o propósito de expandir os caminhos
metodológicos e nos possibilita compreender experiências proporcionadas por práticas
musicais encenadas em cidades formadas majoritariamente por uma população negra,
resultantes de um processo histórico de colonização e escravização.

Na cadência bonita do samba


José Valter Pereira (Valter Filé) (UFF) e Leidiane Macambira (IEPIC)

Este texto é sobre experiências do samba. Sobre as astúcias de sambistas e as formas que
estes foram produzindo para equilibrarem-se entre miséria e festa. O samba assumido
como um circuito comunicativo que possibilitou aos negros conversas e sincronização de
significativos elementos da vida cultural numa sociedade produzida para os brancos. O
texto está organizado em duas partes: a primeira, recupera elementos importantes do
samba: o encontro para as dinâmicas das parcerias, das com-vivências que levam às
composições e estas às maneiras de lidar com as memórias e com as relações entre
presente e passado da diáspora africana; a segunda parte dedica-se a buscar em Michel
de Certeau modelos para pensar as formulações das práticas: os relatos, os atos de
palavras, as enunciações. O trabalho está baseado no projeto Puxando conversa que
produziu vinte e sete documentários sobre compositores de samba.

Sessão
Afetos, emoções, sentimentos: corpos territorializados
Sala 6A | Dia 22/09 às 16h

PURUÍBÔBOÌ: Quando o mundo foi sonhado


Betânia Maria Zarzuela Alves de Avelar (UFPB), Débora Caroline Viana Almeida (UDESC) e
Lorena Silva Marques (UFRN)

O Rio Madeira é o cenário, conexão e caminho conceitual dessa imersão, atravessando a


compreensão de corpos diaspóricos, memória de dispersões e ocupação territorial. Nesse
sentido, essa imersão tratou-se de uma pesquisa de caráter híbrido, numa triangulação
entre Artes Visuais, Arqueologia e Audiovisual. Protagonizado por quatro pesquisadoras:
Déba Tacana – mulher indígena, Betânia Avelar- mulher afroameríndia, Alyne Mayra –
mulher negra e Lorena Silva – mulher sertaneja. A pesquisa empreendeu deslocamentos de
barco entre o médio Madeira (Porto Velho-RO) e o baixo Madeira (Nazaré, distrito de Porto
Velho-RO), onde foram coletadas as matérias poéticas: barro e narrativas diversas junto às
populações originárias, tradicionais e diaspóricas. O resultado da imersão se desdobrou em
vivência pelo Rio Madeira junto ao povo Mura e em roda de conversa com as mulheres
ribeirinhas no período de verão Amazônico, dessas experiências, ativações e “revivências”
coletamos e cruzamos dados que se desdobraram em conteúdo de criação ficcional, no
formato audiovisual em estilo animação stop motion - PURUÍBÔBOÌ: Quando o mundo foi
sonhado. Elaborado com modelagem por meio das argilas coletadas entre baixo e médio
Madeira (pontos do rio) a partir da criação de personagens e histórias ficcionais com base
nas pesquisas desenvolvidas.

À sombra do Guapo’y: chagas vivas da ditadura paraguaia


Andréa C. Scansani (UFSC)

O Paraguai padeceu da mais longa ditadura das Américas cujos fantasmas insistem em
habitar os palácios dos mais altos escalões políticos atuais. Como é o caso do presente
governo conhecido como Marito por carregar exatamente o mesmo nome de seu pai, Mario
Abdo Benítez, o secretario pessoal de Alfredo Stroessner durante os 35 anos de seu
governo tirânico. Dentro desse contexto, o cinema paraguaio toma um novo fôlego após
anos de sufocamento, quando muitas de suas produções voltam-se para a sua história
recente e mostram feridas impossíveis de serem curadas. Esta proposta aqui apresentada
tem como ponto de partida o delicado documentário paraguaio Guapo’y (2022) da cineasta
Sofía Paoli Thorne que acompanha a vida de Celsa Ramírez, detida pela Polícia Política de
Stroessner, grávida de seu primeiro filho que, ao nascer, se torna o preso político mais
jovem do Paraguay. Ambos vivem no Campo de Concentração da Emboscada junto à sua
mãe e muitos outros militantes que à sombra do guapo’y (uma espécie de figueira)
resistem. Como filmar as chagas de uma história perversa e dolorosa? Como tocar em um
passado repugnante sem cair nas armadilhas do drama inoperante? Como refletir sobre o
presente de nossa condição política junto a uma mulher comum que pratica diariamente a
cura dos golpes vividos? Esses e outros desafios são enfrentados por Sofía Paoli que ao
longo de onze anos constrói seu primeiro longa-metragem que guiará nossos
pensamentos.

Memória e cinema: modos e resistir e recontar as narrativas femininas indígenas


Ana Carolina de Assis Marinho da Silva (UFS)

A imagem não apenas registra, mas também constrói, por si só, narrativa e memória. Para
Elisa Ramos Pankararu, “o cinema, como expressão de uma linguagem ocidental, seria a
maneira mais próxima de uma tradução da oralidade indígena”. A presença do dispositivo
em campo dispara modos de narrar. Entre as mulheres Xokó, por exemplo, localizadas no
semiárido sergipano, a vergonha diante da câmera foi perdendo espaço para a apropriação
do dispositivo como ferramenta de construção da memória, não apenas coletiva, mas
articulada e produzida pelas mulheres. O material audiovisual entra como suporte de uma
retomada da narrativa feminina, na própria história das lutas pela terra. “A narração da
própria vida é o testemunho mais eloqüente dos modos que a pessoa tem de lembrar. É a
sua memória.” (Bosi 1979, 29). Se “memória é trabalho” (Bosi, 1979, 17), para Silvia
Cusicanqui, o cinema é um diálogo. O exercício da história oral é ativo e não passivo. O
cinema escancara a utilidade e inutilidade das palavras e os limites da escrita. O processo
de montagem dos testemunhos acaba se tornando uma criação que descobre histórias. A
montagem criativa, assim, se torna também uma experiência oral, afinal “se pensarmos na
poética da terra com as mulheres, acionamos a potência dos corpos e das políticas desse
imaginário. A relação mulher, terra e imagem, revela memórias vivas e apreensões
cosmológicas de suas alteridades." (Pinheiro 2020, 164).

Sessão
Artes e hibridismos
Sala 09 | Dia 22/09 às 16h

Arte Viva - imersão e experiência na obra "Caipira picando fumo"


Cristina Barretto de Menezes Lopes (UFS)

Este artigo propõe uma reflexão sobre o pensamento da direção de arte no processo de
releitura da obra bidimensional "Caipira Picando Fumo" (1893), do artista ituano Almeida
Júnior, para o processo tridimensional em Realidade Virtual no projeto Arte Viva - uma
experiência imersiva live action; a partir da perspectiva da visualidade e do espaço, com
ênfase na paisagem e na recriação de figurinos e objetos de cena. A transposição de uma
obra bidimensional para tridimensional pressupõe repensar o papel da direção de arte. O
projeto Arte Viva, realizado em espaço aberto no interior do estado de São Paulo, ampliou
a paisagem da obra e incluiu outros e outras personagens presentes na produção artística
de Almeida Júnior: além de Quatro Paus, o caipira; também foram inseridos, nessa
experiência imersiva, Nhá Chica (1885), o Derrubador Brasileiro (1875), Saudade (1899) e
Violeiro (1899). A proposta foi realizar uma abordagem sensorial, criando uma situação de
dramatização imersiva, onde esses personagens se movimentam e interagem com a
câmera. Ao portar os óculos e fones de ouvido de realidade virtual, o usuário é colocado no
centro da situação a partir do ponto de vista da câmera e pode explorar o ambiente com
360 graus de visibilidade.

Os estúdios brasileiros e a direção de arte cinematográfica no berçário


Benedito Ferreira (UERJ)

No Brasil, a aparição da direção de arte ocorre no cinema moderno de Nelson Pereira dos
Santos, responsável por acolher e estimular o talento e a perspicácia de Luiz Carlos Ripper,
e no achegamento da metrópole paulistana de Luiz Sérgio Person, por meio da criatividade
de Jean Laffront nos décors e indumentárias. É possível, todavia, antever o nascedouro de
uma direção de arte em filmes como Destino em Apuros (Ernesto Remani, 1953) e Mulher
de Verdade (Alberto Cavalcanti, 1954)? O que a primeira cidade cenográfica da América
Latina, projetada por Pierino Massenzi em Tico-tico no fubá (Aldolfo Celi, 1952), nos conta
sobre os capítulos iniciais da história da direção de arte no cinema brasileiro? Afora
analisar um conjunto de produções que antecedem o crédito de diretor de arte atribuído a
Ripper, em 1967, esta pesquisa objetiva revisitar técnicas e processos criativos que
caracterizam os princípios do trabalho em estúdio, com interesse pela articulação dos
componentes que formam a base das visualidades cênicas — concepção e execução de
cenários, objetos, figurinos, adereços, maquiagem e penteados.

A resistência da cor e da forma em A Prata e a Cruz de Harun Farocki


Khadyg Leite Fares Cavalheiro (Unifesp)

Exibido pela primeira vez em 2010, o vídeo A Prata e Cruz se trata de um projeto
comissionado criado pelo cineasta tcheco-alemão Harun Farocki para exposição Princípio
Potosí. Filmado em dois canais, apresenta planos-detalhes da tela Descripción del Cerro
Rico y Imperial Villa de Potosí, do pintor Gaspar Miguel de Berrío. A montagem inclui ainda,
ora no canal da direita, ora no da esquerda uma sobreposição de tela preta e/ou imagens
recentes de região de mineração de Potosí. Quanto ao som, esse se dá pela presença de
uma voz off que narra um texto com carácter denúncia das ações dos colonizadores sobre
indígenas que viviam em Potosí. Texto e imagem estruturam no vídeo de Farocki uma
relação bastante complexa, que entretanto parecem seguir caminhos completamente
opostos. É a partir disso que buscarei analisar como já no primeiro frame com imagens do
vídeo, vemos uma profusão de elementos por meio das cores e das formas de Berrio que
parecem nos apresentar modos bastante elaborados de resistência e não apenas as ações
abusivas dos invasores ressaltadas no texto em voz off. Averiguar o rigor do uso desses
elementos e sua disposição compositiva (nada aleatória) foi possível porque justamente
Farocki, ao mesmo tempo, conseguiu dar destaque por de seus planos detalhes às forças
que pareciam estar escondidas no quadro de Berrío.

Sessão
Práticas de distribuição e exibição
AUDITÓRIO | Dia 22/09 às 16h

As estratégias de divulgação da comédia “Augusto Annibal quer casar” em 1923


Sancler Ebert (UFF)

Nesta comunicação investigamos as estratégias de divulgação utilizadas para promover a


comédia muda “Augusto Annibal quer casar” de Luiz de Barros, em 1923. A obra é o nono
filme de enredo lançado comercialmente pelo diretor e produzido pela Guanabara Film,
empresa criada por Barros uma década antes. De acordo com Araújo (2015), Barros aciona
artistas de diferentes artes para a película, como o comediante Augusto Annibal, que
lotava teatros com a revista “Aguenta Felippe!”; as girls do Ba-ta-clan, que estavam em
turnê pelo país; Yara Jordão, vencedora de um concurso de beleza de Copacabana e o
transformista Darwin, famoso por se apresentar nos palcos dos cineteatros cariocas. Ao
realizarmos uma investigação em periódicos da época na Hemeroteca Digital da Biblioteca
Nacional, utilizando o título do filme na busca, encontramos diversas estratégias
publicitárias em relação ao filme. Primeira, a utilização do nome do artista protagonista no
título, algo comum no cinema de Hollywood. Segunda, a referência ao gênero fílmico,
comédia de estilo Sunshine Comedy, se referindo ao tipo de filme produzido por uma das
unidades do estúdio estadunidense Fox. Terceira, a cobertura de bastidores das filmagens.
Quarta, o uso de nota em tom de fofoca relacionando artistas ao enredo do filme. E por
último, a utilização de cartazes com as bailarinas do Ba-ta-clan com roupas curtas,
provocando polêmica junto aos setores conservadores.

A exibição na Bahia nos anos 1910: as salas fixas e os exibidores itinerantes


Filipe Brito Gama (UESB/UFF)

A presente comunicação tem como proposta apresentar um panorama sobre a exibição


cinematográfica na Bahia, na década de 1910, tanto na capital quanto em outras cidades
do vasto território do estado. A escolha por essa década não é por acaso: é justamente
nesse período que se consolidam em Salvador as primeiras salas fixas, ou seja, espaços
voltados exclusivamente (ou prioritariamente) para exibição regular de filmes, em um
período de intensas transformações estruturais na cidade. Também é nesse momento
histórico que é possível observar a atuação cada vez mais reduzida de exibidores
itinerantes na capital, bem como a presença de alguns desses exibidores circulando por
cidades do interior. O marco inicial de nossa análise será a inauguração do Cinema Bahia,
em setembro de 1909, em Salvador, considerado o primeiro espaço comercial destinado
exclusivamente a exibições cinematográficas. Nos anos subsequentes, observamos o lento
crescimento de salas fixas na capital, em especial na região central, bem como a presença
de agentes/empresas de distribuição de filmes, favorecendo o fortalecimento gradual do
comércio cinematográfico. É durante a década de 1910 que surgem, em algumas cidades
do interior da Bahia, os primeiros espaços comerciais voltados prioritariamente para
exibição cinematográfica. Tentaremos, portanto, apresentar o mapeamento preliminar
desse circuito exibidor, refletindo sobre as possíveis conexões entre esses territórios e a
capital do estado.

Um estudo sobre a introdução do cinema em Feira de Santana, Bahia (1910-1950)


Alisson Oliveira Soares de Santana (UFF)

Este trabalho se constitui como um recorte de uma pesquisa mais abrangente


desenvolvida na dissertação de Mestrado. Buscou-se pensar aqui uma articulação entre
História, historiografia do cinema e novas acepções teórico-metodológicas sobre os
estudos de cinema. Tomou-se como caso específico as primeiras experiências sociais e
urbanas do cinema na cidade de Feira de Santana, Bahia. Daniel Biltereyst e Philippe Meers
(2019) observam que um vasto campo de métodos e debates teóricos atuais têm
contribuído para pensar a construção de uma “Nova História do Cinema” que envolva tanto
as questões comerciais dos filmes e os padrões de distribuições, quanto a uma
micro-história do cinema em nível local integrada precisamente às experiências das
instituições. Embora as primeiras experiências de exibição cinematográfica se
concentrassem na capital Salvador, as cidades do interior da Bahia não ficaram fora desse
processo. Contudo, ainda há poucos estudos que direcionam a pensar o processo de
interiorização das atividades cinematográficas no Brasil. Este trabalho encarrega-se em
traçar algumas considerações acerca da introdução e o desenvolvimento do cinema em
Feira de Santana, com o intuito não apenas de mostrar o significado social das práticas
relacionadas a espectatorialidade, mas igualmente constituir um passo seminal para o
incentivo de novas pesquisas locais sobre os espaços de diversão e sociabilidade que
surgiram na cidade.

Mesa
De telas e flechas - Cinema Indígena, Circulação e
Interculturalidade
Sala 05 (Pós) | Dia 22/09 às 16h

Uma Janela para o Cinema Indígena


Thais Brito (UFBA)

Abordagem sobre o universo da circulação e exibição de filmes indígenas em circuitos de


mostras e festivais de cinema e audiovisual, além de citar produções veiculadas em redes
de televisão e tecer comentários sobre a interação do público com as produções
indígenas. Impressões compartilhadas a partir de uma experiência como coordenadora e
curadora de um festival de cinema indígena, o Cine Kurumin. O Cine Kurumin é um dos
primeiros festivais dedicados exclusivamente à exibição de produções audiovisuais com
temática indígena no Brasil. O festival surge num contexto marcado pela ampliação das
políticas culturais promovidas pelo Ministério da Cultura — algumas delas direcionadas aos
povos indígenas —, que possibilitou tanto um significativo aumento da produção
audiovisual dos realizadores indígenas, como a ampliação dos espaços de circulação das
produções do cinema indígena.

Cine Kurumin - um diálogo com o cinema indígena e suas memórias


Renata Lourenço (UNEB)
Compartilhar os processos de produção e realização do Cine Kurumin, trazendo um
percurso de aprendizado e conquistas iniciados em 2010, quando o coletivo Espalha
Semente realiza o Festival de Cinema Indígena Cine Kurumin com exibição de filmes e
oficinas de produção e edições nas aldeias Tupinambá, Pataxó, Tumbalalá, Yawalapiti e
Kiriri. Até a última sessão foram mais de 500 filmes indígenas exibidos e 15 produções
realizadas. Os povos indígenas, ignorados ou deformados em formas narrativas de massa,
diante das novas tecnologias da comunicação, colocam-se ativos para o processo de
produção de conteúdo, demandando novas exigências de método e de escuta das suas
memórias. Portanto se torna importante possibilitar a comunicação feita dos povos
indígenas para os povos indígenas, que se apropriam das formas de comunicação para
construir alternativas e contrapontos a uma visão centralizada. Os meios de comunicação
alternativos em geral, e o cinema indígena em particular, comprovam que outras vozes e
cosmologias são possíveis e importantes como ferramentas de preservação e manutenção
da memória.

Mesa
O ensino de cinematografia em universidades públicas do
Nordeste brasileiro
Sala 6B | Dia 22/09 às 16h

Três cinematografias para o conto No seu pescoço, de Chimamanda Adichie


Julianna Nascimento Torezani (UESC)

O ensino da cinematografia visa proporcionar o conhecimento técnico e estético para


elaboração audiovisual, através da utilização da câmera e técnicas de iluminação. Na
disciplina Fotografia e Iluminação II do Curso de Rádio, TV e Internet, da UESC, em 2022,
os discentes elaboraram produções audiovisuais, com adaptação livre, do conto No seu
pescoço, da escritora nigeriana Chimamanda Adichie (2009), para colocar em prática o
estudo sobre direção de fotografia. Tendo por objetivo desenvolver um projeto de
cinematografia contemplando diferentes enquadramentos, angulações, cores, luzes e
sombras. A abordagem teórica tratou sobre iluminação de Moletta (2009), direção de
fotografia de Carreiro (2009), imagem cinematográfica de Scansani (2019) e trabalho de
câmera de Bordwell e Thompson (2013). Após as aulas teórico-práticas, a turma
desenvolveu roteiro, produção, direção e edição dos vídeos. O conto de Adichie narra a
história de Akunna, que parte da Nigéria com 22 anos para morar nos Estados Unidos e se
depara com as grandes diferenças culturais. Cada equipe elaborou um roteiro e plano de
produção com diferentes cinematografias, destacam-se os trabalhos Devaneio, Além das
Raízes e No seu pescoço. Como resultado, observa-se que o exercício permitiu colocar em
prática a criação de um roteiro sobre diáspora, violência sexual e preconceito, e a
produção de cinematografias diferentes para indicar distintas possibilidades dramáticas a
partir do conto.

O ensino de cinematografia: memórias e objetos transformados em imagens


Rogério Luiz Silva de Oliveira (UESB)

O objetivo é compartilhar uma experiência de ensino de cinematografia desenvolvida no


Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. O
exercício foi desenvolvido a partir da aproximação entre princípios técnicos/tecnológicos e
memórias individuais em torno de fotografias e objetos pessoais de estudantes da
graduação. A ideia consistia em solicitar às pessoas que cursaram a disciplina, a
construção de um primeiro filme-minuto a partir de uma imagem fotográfica e, daí, a
definição de dois objetos que deveriam ser utilizados para dar continuidade à história
iniciada com a fotografia estática. A partir de então, os objetos passaram a acompanhar
as/os estudantes em todas as aulas práticas, espaço de experimentação e construção de
imagens a partir dos objetos escolhidos individualmente. A sala de aula, desse modo, foi
transformada num estúdio de filmagem no qual, semanalmente, propunha-se o manuseio
de câmeras e equipamentos de luz, numa experimentação de técnicas de cinematografia
para o registro desses objetos. O recurso pedagógico parte de provocações teóricas do
campo de estudos da imagem e da memória, além de oferecer caminhos e possibilidades
reflexivas em torno do sistema dos objetos como dispositivo de criação. Soma-se a isso a
inspiração no trabalho do cineasta Patrício Guzmán. A proposta deste trabalho é oferecer
ao debate um experimento que possibilite uma discussão sobre metodologias específicas
de ensino em direção de fotografia.

O ensino de direção de fotografia nos bacharelados em cinema e audiovisual das IES


públicas do Nordeste brasileiro
Aline de Caldas Costa (UFOB) e Matheus José Pessoa de Andrade (UFPB)

O trabalho aborda o tratamento dado ao ensino de direção de fotografia nos fluxogramas


dos bacharelados em cinema e audiovisual das IES públicas do Nordeste brasileiro. O
estudo observa o contexto em que surgem os respectivos cursos inseridos nessa
georreferência, os quais foram criados no período de ações políticas de reestruturação e
expansão das Instituições de Ensino Superior públicas do Brasil, implantadas pelas gestões
federais do Partido dos Trabalhadores (2003-2015). Com o mapeamento dos cursos na
região, entende-se que o campo do cinema e audiovisual no Nordeste brasileiro cresceu,
bem como a área de direção de fotografia. Com base nos documentos reguladores dos
bacharelados, observados também a partir de uma análise comparativa, identificou-se
particularidades na forma de abordagem da área de direção de fotografia na grade
curricular de cada uma das graduações. Com esse balanço, o panorama apresentado tem a
intenção de nortear os que fazem e os que buscam a formação em cinematografia no
Nordeste brasileiro.

Mesa
Roteiro audiovisual – processos de criação, escrita, autoria e
comercialização
Sala 7B | Dia 22/09 às 16h

Movimento criador e cinema decolonial - sobre a potência do roteiro-implicado


Ana Ângela Farias Gomes (UFS) e Angela Silva de Jesus (UFS)

No contexto de cinemas de ficção que se mobilizam em torno de expressões decoloniais,


investiga-se a potência do conceito de implicação – colocado em jogo pela esquizoanálise
e a análise institucional – nas investigações sobre processos de criação que se dão a partir
da invenção/escrita de roteiros cinematográficos. O mergulho investigativo por nós
realizado estabelece inicialmente um diálogo junto ao trabalho de Salles (1998, 2006, 2010)
com a crítica de processos. E, indo além, exploramos os modos de criar de alguns
roteiristas latinos, chegando a duas experiências relevantes e diversas, mas com um ponto
em comum: roteiros ficcionais profundamente ressignificados (e por isso, reescritos) a
partir do contato das roteiristas com a realidade que pretendiam abordar. Diante disso,
este trabalho propõe trazer para as investigações sobre processos de criação a ideia do
artista implicado, onde a construção da obra é atravessada pelas lógicas de sentido do
tema, dos sujeitos, dos territórios e toda a sorte de elementos encontrados no trajeto de
invenção. Nesse sentido, o momento da pesquisa de conteúdo na criação de um roteiro
permite trocas, desestabilizações, e ressignifica o posicionamento distante do roteirista
que estaria ali para extrair conteúdo para a sua história. No lugar disso, indagamos sobre a
existência de um roteiro implicado, potente em desenhar linhas de fuga como uma
resposta decolonial, que inspira/demanda novas situações de invenção da escrita para o
cinema.

Vivência negra encenada – Construção de autoria compartilhada nas telenovelas Bom


sucesso e Vai na fé
Victor Adriano Ramos (UFBA)

A televisão no Brasil é marcada pela histórica ausência de profissionais negros. No produto


audiovisual de maior alcance comercial e cultural, as telenovelas, essa ausência é marcada
desde suas primeiras produções. Em frente às telas restam personagens estereotipados,
até mesmo quando ocupam a posição de protagonismo. Atrás das telas, esta ainda é uma
posição pouco explorada dentro da configuração das telenovelas. Ao compreender as
instâncias de autoria desse produto, concentradas nas ocupações do autor-roteirista e do
diretor-geral, levantamos a hipótese de que as telenovelas Bom sucesso e Vai na fé
apresentam padrões de construção coletiva inéditos ao introduzir profissionais negros em
sua equipe de roteiristas colaboradores e diretores de núcleos, funções que não são
comumente associadas às tomadas de decisões, mas que modificam a forma de construir
visões diversificadas, resultando em uma narrativa com número recorde de personagens
negros e diversidade de temas relacionados à perspectiva racial. Partimos dos estudos do
sociólogo Pierre Bourdieu, principalmente o que concerne aos conceitos de campo, habitus
e trajetória, de modo que possamos traçar as posições ocupadas pelos agentes
responsáveis pela obra audiovisual. Em consonância iremos abordar o paradigma
problema-solução, proposto por Michael Baxandal e David Bordwell, de modo a
compreender, a partir da análise dos capítulos da telenovela, as soluções encontradas
pelos agentes autores.

Roteiro de conteúdo infantil – saberes e competências essenciais à escrita e


comercialização
Arthur Felipe de Oliveira Fiel (UFES)

Cada vez mais presentes nos eventos audiovisuais, sejam eles de mercado ou de teor
laboratoriais, as sessões de pitching são um dos principais modos de apresentação e
venda de ideias e projetos audiovisuais. Essa nova dinâmica exige, particularmente dos
roteiristas, habilidades outras que não aquelas exclusivamente dedicadas à competência
de escrita dramatúrgica de suas narrativas (SERRANO, 2009). Isto porque, destes
profissionais passou-se a exigir uma certa competência gerencial para que, acompanhados
ou não de uma empresa ou persona produtora, possam apresentar suas ideias em tais
eventos audiovisuais. Quando se trata, especialmente, de conteúdos infantis, há ainda uma
série de outras competências e saberes essenciais aos roteiristas, como, por exemplo, um
vasto conhecimento das janelas de exibição e/ou canais nas quais suas obras podem ser
exibidas/veiculadas; um preciso recorte e segmento de público-alvo; além de saberes
basais relacionados ao desenvolvimento infantil que lhe permitem uma criação mais
adequada e melhor direcionada ao seu público-alvo primário (FIEL, 2023). Considerando
este novo cenário, e, sendo resultado direto da tese de Doutorado em Comunicação,
apresentada ao PPGCOM/UFF, sob o título de “O Mônicaverso e diretrizes criativas para o
audiovisual infantil”, esta comunicação tem por objetivo a apresentação de algumas dos
saberes e competências esperados e exigidos para roteiristas que desejam dedicar-se ao
público infantil.

Mesa
Tecer passado.presente.futuro: ancestralidade, cinema negro e
políticas culturais
Sala 11 | Dia 22/09 às 16h
Reconstruções da/na Cultura brasileira: Mulheres negras, cinema e políticas culturais
Yérsia Souza de Assis (UFRB)

Até 2022 vivemos sob a égide do controle ideológico no âmbito da Secretaria Especial de
Cultura promovido pela dimensão persecutória do governo Bolsonaro aos artistas e
agentes culturais de espectro político diverso do seu. Hoje, temos o restabelecimento das
relações institucionais da Cultura promovidos/recuperados: reconstituição do Ministério da
Cultura e reelaboração das políticas culturais nacionais. Nessa perspectiva, nos deparamos
com um panorama que possibilita, por exemplo, a chegada de um novo conjunto de ações
feitas pelo maior órgão de gerência da cultura brasileira. É a partir desse cenário que se
torna possível uma nova articulação institucional. Articulação que tem promovido ações
que buscam estimular formas para que se alcance equidade de gênero, raça e
regionalidades na aplicação de políticas públicas culturais no contexto brasileiro. Diante
dessa nova conjuntura, concentramos atenção na inédita ação do Edital Ruth de Souza
para cineastas mulheres e seu recorte afirmativo para mulheres negras. Considerando essa
ação institucional uma ilustração da reconstrução da/na cultura brasileira na sua dimensão
de investimentos, recursos e direcionamentos. Neste sentido, essa comunicação objetiva
discutir quais os impactos que se evidenciam ou que se apresentam no horizonte da
formulação de políticas culturais nacionais. E, o quanto dessas remodelagens são
proporcionadas pela chegada de agentes culturais negras nesses espaços de poder e
decisão.

Cinema de mulheres negras, aquilombamentos e políticas da coletividade


Luciana Oliveira Vieira (UFS)

É certo que mulheres negras assumiram as câmeras muito recentemente, reflexo dos
processos de exclusão de gênero e raça que constituem a sociedade brasileira. Com a
implementação de políticas públicas e ações afirmativas nos últimos anos, que possibilitou
o acesso de pessoas negras às universidades, como também permitiu o acesso ao
conhecimento da linguagem cinematográfica por meio informal, através de cursos e
oficinas de curtos prazos em pontos de cultura, dentre outros espaços, esse movimento foi
combustível impulsionador para o aumento de narrativas dirigidas por diretoras negras no
circuito independente, estas ainda permanecendo excluídas do circuito comercial, como
demonstram os números de pesquisas recentes do Grupo GEMAA (2022) e da Ancine
(2018). O cenário atual, também vem revelando a partir de desabafos em redes sociais,
processos judiciais, e a procura por assessoria jurídica em associações de audiovisual, que
profissionais negros e negras estão sofrendo violências em sets de filmagens, como
assédio moral, racismo e misoginia. É nesta perspectiva que levanto as seguintes
questões: é possível existir relações de set sem opressões de gênero e raça? É possível
que a ancestralidade seja uma fonte de saber para a construção de uma ética aquilombada
de vivenciar o cinema? Com base nessas hipóteses, analisamos os modos de pensar e
fazer cinema de diretoras negras brasileiras

Em busca de nós: (re)construção de memórias através do cinema negro brasileiro


contemporâneo
Naira Évine Pereira Soares (UNEB)

Para entender como realizadores negros brasileiros tem utilizado o cinema como
ferramenta de (re)construção e manutenção de memórias negras na contemporaneidade, é
necessário perceber a pesquisa e o cinema como espaços de poder (KILOMBA, 2019) que
tem sido construídos por perspectivas hegemônicas e imperialistas. O Cinema Negro é um
conceito guarda-chuva que abarca uma diversidade de gêneros e metodologias em
narrativas e equipes com protagonismos negros. Este trabalho parte do pressuposto que
existem muitas memórias negras que foram apagadas, embranquecidas, substituídas e
dizimadas da história brasileira, seja no âmbito pessoal e familiar como social. Ainda assim,
como Leda Maria Martins (2021) nos lembra, os colonizadores não foram capazes de
apagar do corpo/corpus africano e afrodiaspórico toda a sua oralitura da memória. No filme
Filha Natural (15:52 min, 2019), a artista visual Aline Motta busca por hipóteses possíveis
sobre as origens de sua tataravó. Através dessa obra, será feita uma análise acerca da
importância da construção de afetos e de tempo espiralar (MARTINS, 2021) no cinema
negro brasileiro contemporâneo para famílias e comunidades negras e racializadas. Para
tanto contamos com o diálogo entre Mbembe (2018), Bamba (2008), Leda Maria Martins
(2021), Ferreira (2004), Ayoh’omidire (2005), Hampaté Bâ (2010), Oyěwùmí (2021), Kilomba
(2019), entre outros.
COMITÊ ORGANIZADOR PRODUÇÃO
Guilherme Maia – UFBA (Presidente) Inara Rosas
Ana Paula Nunes – UFRB Everaldo Asevedo
Glauber Lacerda – UESB
COMUNICAÇÃO
Marcelo Ribeiro – UFBA
Adriana Teles de Souza
Morgana Gama – UFBA
João Pedro Magalhães Macedo
Priscila Miraz – UFRB
Pamela Ane Melo Souza
Regina Gomes – UFBA
Renato Meira dos Santos Filho
Rosângela Fachel – UFPel
Talita Ramos Rodrigues Bastos

COMITÊ CIENTÍFICO
Álvaro Vázquez Mantecón (Universidad Autónoma Metropolitana – México)
Ana Laura Lusnich (Universidad de Buenos Aires – Argentina)
Ana M. López (Tulane University – EUA) (In memoriam)
Ângela Freire Prysthon (Universidade Federal de Pernambuco – Brasil)
Antonio Carlos Amancio da Silva (Universidade Federal Fluminense – Brasil)
Bertold Salas Murillo (Universidad de Costa Rica)
Clara Krieger (Universidad de Buenos Aires – Argentina)
Claritza Peña Zerpa (Universidad Católica Andrés Bello – Venezuela)
Eduardo Victorio Morettin (Universidade de São Paulo – Brasil)
Geovanny Narváez (Universidad de Cuenca – Equador)
Isaac León Frías (Universidad Católica del Peru – Peru)
Izabel de Fátima Cruz Melo (Universidade do Estado da Bahia – Brasil)
Jerónimo Rivera (Universidad La Sabana – Colômbia)
Mónica Villarroel M. (Universidad Católica de Chile e Universidad de Santiago de Chile – Chile)
Laura Bezerra (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – Brasil)
Mariana Amieva (Universidad de la República – Uruguai)
Nilda Jacks (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil)
Ronald Antonio Ramírez (Universidad de La Habana – Cuba)
Yanet Aguilera (Universidade Federal de São Paulo – Brasil)
Yobenj Aucardo Chicangana Bayona (Universidad Nacional de Colombia – Colômbia)

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